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EURÍPEDES PEREIRA DE BRITO

TEOLOGIA PASTORAL

POIMÊNICA E ACONSELHAMENTO BÍBLICO

GOIÂNIA

2013

EURÍPEDES PEREIRA DE BRITO


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RESUMO:

Com o propósito de ajudar o ser humano nos seus problemas


existenciais, emocionais e relacionais e espirituais, muitas propostas, de várias
linhas têm surgido. Algumas dessas propostas são muito integradas com linhas
da Psicologia, às vezes sobressaindo mais os próprios aspectos da linha de
Psicologia escolhida, abandonando-se os aspectos tão ricos revelados por
Deus em sua Palavra. Este livro, portanto, não trata de um curso sobre
psicologia, ou psicanálise, e sim, um curso específico de aconselhamento
bíblico. Um estudo básico dos fundamentos bíblicos e teológicos do
aconselhamento, bem como seu propósito, métodos e sua prática. O
aconselhamento bíblico faz parte do trabalho poimênico (cuidado pastoral) da
Igreja como um todo, e exige capacitação para o seu exercício, é necessário
que busquemos a Palavra de Deus para habitar ricamente em nossas vidas,
antes de ensinarmos e aconselharmos (Cl 3.16). Busca-se oferecer, portanto
qualificações bíblicas para as ações de ajuda às pessoas com o propósito de
fortalece-las para uma vida que glorifica a Deus em todas as suas dimensões,
contribuir para o crescimento do corpo de Cristo em santidade e maturidade
cristãs (Ef. 4.13), e experimentar curas da graça de Deus(Tg 5.16).

PALAVAS CHAVE: Aconselhamento, bíblico, qualificação, santidade,


maturidade, cura.

ABSTRACT

In order to help the human being in its existential , emotional and relational and
spiritual problems , many proposals , several lines have emerged. Some of
these proposals are very integrated with the Psychology lines , sometimes more
protruding the specific aspects of the chosen line Psychology , abandoning
aspects as rich revealed by God in his Word . This book , therefore , is not a
course on psychology, or psychoanalysis , and yes, a specific course of biblical
counseling . A basic study of biblical and theological foundations of counseling ,
as well as its purpose, methods and practice. Biblical counseling is part of the
pastoral care work ( pastoral care ) of the Church as a whole, and requires
training to your exercise , it is necessary to seek the Word of God to dwell richly
in our lives before we teach and counsel (Col 3:16) . We seek to offer , so
biblical qualifications for aid actions to people in order to strengthen them to a
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life that glorifies God in all its dimensions , contribute to the growth of Christ's
body in holiness and Christian maturity ( Eph . 4.13) , and experience healing
grace of God ( James 5:16 ) .

PALAVAS KEY : counseling , biblical, qualification, holiness , maturity, healing


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ÍNDICE

Introdução........................................................................................................05

Capítulo1: DESAFIOS E FUNDAMENTOS DA POIMÊNICA E


ACONSELHAMENTO BÍBLICO.......................................................................07

CAPÍTULO 2: PROPÓSITOS DA POIMÊNICA E DO ACONSELHAMENTO


BÍBLICO...........................................................................................................19

CAPÍTULO 3: A POIMÊNICA E O ACONSELHAMENTO BÍBLICO COMO


TAREFA DA IGREJA........................................................................................26

CAPÍTULO 4: ANTROPOLOGIA BÍBLICA A POIMÊNICA E O


ACONSELHAMENTO.......................................................................................29

CAPÍTULO 5: TEORIAS DO ACONSELHAMENTO........................................36

CAPÍTULO 6: O PERFIL DO CONSELHEIRO BÍBLICO.................................48


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INTRODUÇÃO

Com o propósito de ajudar o ser humano nos seus problemas


existenciais, emocionais e relacionais e espirituais, muitas propostas, de várias
linhas têm surgido. Algumas dessas propostas são muito integradas com linhas
da Psicologia, às vezes sobressaindo mais os próprios aspectos da linha de
Psicologia escolhida, abandonando-se os aspectos tão ricos revelados por
Deus em sua Palavra. Este livro, portanto, não trata de um curso sobre
psicologia, ou psicanálise, e sim, um curso específico de aconselhamento
bíblico. Um estudo básico dos fundamentos bíblicos e teológicos do
aconselhamento, bem como seu propósito, métodos e sua prática. O
aconselhamento bíblico faz parte do trabalho poimênico (palavra grega usada
no Novo Testamento para o cuidado pastoral) da Igreja como um todo, e exige
capacitação para o seu exercício, é necessário que busquemos a Palavra de
Deus para habitar ricamente em nossas vidas, antes de ensinarmos e
aconselharmos (Cl 3.16).

O livro busca oferecer qualificações bíblicas para as ações amorosas de


ajuda às pessoas, com o propósito de que os conselheiros capacitados,
possam fortalecer as pessoas que acompanham em aconselhamento, para um
viver que glorifica a Deus em todas as suas dimensões, e contribuir para o
crescimento dos membros do corpo de Cristo em santidade e maturidade
cristãs. (Ef. 4.13). A capacitação proposta aos conselheiros bíblicos, firma-se
na compreensão dos fundamentos bíblicos e teológicos do aconselhamento;
tem como maior alvo a busca de um viver para a glória de Deus, firmados em
sua Palavra, numa busca continua de crescimento em maturidade e santidade
cristãs, à semelhança de Cristo. Apresentam-se também, orientações para se
desenvolver um processo de aconselhamento bíblico que eficientemente
produzirá ajuda transformadora na vida das pessoas que procuram por apoio
cristão em sua jornada. Estes objetivos serão apresentados por meio de seis
capítulos: 1: Desafios e fundamentos do aconselhamento bíblico; capítulo 2:
Propósitos do aconselhamento bíblico; capítulo 3: O aconselhamento bíblico
como tarefa da igreja; capítulo 4: Antropologia bíblica e o aconselhamento;
6

capítulo 5: Teorias do aconselhamento; capítulo 6: Aspectos práticos do


aconselhamento pastoral.

A pesquisa foi desenvolvida com base no método de análise teológica,


bíblica e exegética. A linha de aconselhamento bíblico que se adota nesta obra,
firma-se na Suficiência e inerrância das Escrituras Sagradas. Quando se
assumir alguma contribuições das ciências humanas, por honestidade
acadêmica, as fontes serão citadas, não numa perspectiva integracionista, e
sim acadêmica. Havendo alguma contribuição dessas pesquisas cientificas, o
ponto de contribuição, só será referido quando julgado pelo crivo das Escrituras
Sagradas, numa perspectiva teológica conservadora. Espera-se que o leitor,
líder cristão, possa aproveitar a leitura, aprofundar-se na sua capacitação
ministerial de aconselhamento e cuidado pastoral, aplicando os princípios aqui
expostos com o sincero temor do Senhor.
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Capítulo 1: DESAFIOS E FUNDAMENTOS DA POIMÊNICA E DO


ACONSELHAMENTO BÍBLICO

1.1 DESAFIOS DA POIMÊNICA E DO ACONSELHAMENTO BÍBLICO

“Como águas profundas são os propósitos do coração, mas o homem de inteligência


sabe descobri-los.”Pv. 20.5.

Os propósitos do coração nem sempre estão na superfície, e precisam


ser reconhecidos como grandes desafios ao aconselhamento. É preciso captar
a revelação aqui exposta, por detrás de ações, atitudes, posturas, sentimentos,
comportamentos, há propósitos enraizados nas profundezas dos corações
humanos. Eles são considerados neste texto como águas profundas. Vejam-se,
portanto, alguns desafios urgentes que exigem nossa capacitação para o
exercício do aconselhamento bíblico:

1.1.1 Resistir à tentação de lidar apenas com aspectos superficiais da


vida cristã

Há um tipo de atitude sorrateira e antibíblica que necessita de confronto


por cristãos maduros. Essa atitude, muitas vezes não é afirmada de forma
clara, mas aparece muitas vezes, no contexto da reflexão sobre o
aconselhamento, a atitude de que o aconselhamento bíblico seria um tipo de
ajuda para aspectos superficiais da vida cristã. Apenas ligados aos aspectos
espirituais, por assim dizer, o relacionamento do homem com Deus. Diante de
qualquer indicação de necessidades mais profundas, os conselheiros bíblicos
deveriam encaminhar as pessoas para profissionais qualificados e
reconhecidos pela sociedade cientifica como aqueles que, de fato, estão
autorizados a lidar com esses tipos de exigências de cuidado. Isso é tão sério
que MacArthur (204) expõe no seu livro que sua igreja foi processada nos
Estados Unidos por “imperícia clerical”. O processo foi imposto por que os
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pastores foram acusados de serem negligentes, quando ajudaram um jovem


com tendências suicidas, membro da igreja deles, com aconselhamento bíblico.
Ele destaca que este foi o primeiro caso desse tipo, no sistema judiciário norte-
americano. Foram expostos pela mídia, chegando-se a serem difamados como
tendo sugerido o suicídio do rapaz. Eles na verdade insistiam com o rapaz de
que o suicídio era grave erro diante de Deus. O que se pretendia era negar à
igreja o direito de aconselhar pessoas em conflitos e tribulações com base nas
Escrituras Sagradas. Para os acusadores, o uso da Bíblia para aconselhar
pessoas deprimidas, deveria ser rejeitado, pois:

Seria uma abordagem simplista e irresponsável de aconselhamento. Eles


trouxeram inúmeros experts que testemunharam que o aconselhamento
espiritual não é adequado para pessoas possuidoras de problemas reais.
Vítimas de depressão crônica, de tendências suicidas, e problemas emocionais
e mentais similares deveriam ser encaminhadas a um especialista em
psicologia, alegavam eles. Deveria ser exigido de pastores e conselheiros das
igrejas que encaminhassem essas pessoas a profissionais de saúde mental,
dizia o processo. A acusação básica era que a tentativa de aconselhar pessoas
com problemas, utilizando a Bíblia, não passa de imprudência e negligência
pelas quais conselheiros da igreja, deveriam ser moral e legalmente
responsabilizados. (MACARTHUR JR. 2004, p. 23,24)

Os tribunais deram ganho de causa à igreja, pois verificaram que o


rapaz estava também sendo acompanhado por psiquiatras bem como por
outros médicos que atestaram não haver causa orgânica e química de sua
depressão, mas infelizmente resolveu, ainda assim dar cabo de sua vida. E
registraram nos tribunais que a igreja não havia falhado em sua
responsabilidade de fornecer o cuidado necessário.

A metáfora usada por Salomão é muito rica e provocativa. Ela indica que
os propósitos do coração são como águas profundas, estão nas profundidades
do coração e indicam que muitos problemas, conflitos, distúrbios,
desencontros, doenças, culpas, medos, depressões, angústias, iras, estão
ligados à realidade emocional espiritual do ser humano muito mais do que
podemos imaginar e às vezes aceitar. Conselheiros cristãos não deveriam
negligenciar e rejeitar a contribuição de profissionais da saúde. Mas, é uma
profunda incoerência pensar que a igreja cuida apenas de realidades
superficiais, como, por exemplo, alguns pequenos sentimentos de culpa que
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poderiam ser considerados espirituais, exigindo-se, talvez uma indicação de


alguma atitude religiosa como fazer algumas orações para a solução do
problema.

No entanto, o texto nos afirma que os propósitos não estão na


superfície, e o aconselhamento bíblico não trata apenas de realidades
superficiais como alguns parecem indicar, mas trata de propósitos que são
como “águas profundas.” O que desafia conselheiros à capacitação bíblica para
o exercício do cuidado pastoral, sendo amorosos, pacientes, insistentes e
perseverantes no acompanhamento de pessoas, crendo na graça e no poder
de Deus que atinge com a sua Palavra, de forma transformadora, as
profundidas da existência.

1.1.2. Buscar por uma abordagem que visa a mudança do coração

O aconselhamento cristão, com base neste texto de Provérbios, e em


outros ricos e profundos textos da Bíblia, tem o desafio de buscar por uma
abordagem que visa a mudança do coração, nosso ser essencial. O
aconselhamento cristão bíblico procura, portanto, ajudar as pessoas em suas
necessidades mais profundas. Isso não significa dizer que se rejeitam outros
tipos de ajuda, mas sim, que a igreja com seus ajudadores, têm um papel
extremamente relevante na sociedade. Precisamos assumir o desafio da
necessidade de uma compreensão mais aprofundada das atividades
interventivas da igreja em situações de conflitos humanos, quer sejam conflitos
pessoais internos, ou conflitos envolvendo a família e a sociedade na qual o
sujeito está inserido.

Tratar do coração, buscando-se ajudada transformadora em profundida


é um desafio que exige capacitação para o seu exercício. Lidar com realidades
profundamente desafiadoras para as pessoas em conflitos, não é situação
simples, “descer em águas profundas”, examinar e reconhecer propósitos do
coração, muitas vezes, envolve mexer em situações dolorosas. Sabemos que o
aconselhamento bíblico, em muito discorda das conclusões e propostas de
Freud, mas é preciso admitir a sua contribuição quando afirmou que os
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problemas do ser humano não estão na superfície. Para Freud os problemas


não só estão debaixo da superfície, como também são muito difíceis de serem
trazidos a tona pela pessoa que oferece resistência a este fato, pois isso é uma
situação muito complicada, trazer dores profundas para a superfície certamente
continuará sendo um dos maiores desafios para conselheiros e terapeutas.

Será feita uma análise, bíblica e teológica mais aprofundada, em outro


capítulo, sobre o que é chamado nas Escrituras Sagradas de coração. Aqui
basta-se assumir que o aconselhamento bíblico, é desafiado a buscar por uma
abordagem que tem como objetivo mudanças a partir da realidade profunda do
coração humano.

1.1.3. Desenvolver com sabedoria, ações diagnósticas

Desponta-se como promessa alvissareira para os servos do Senhor


(homens e mulheres) que procuram ajudar com o aconselhamento bíblico, a
firmação de Provérbios de que é possível trazer a tona os propósitos de
coração. É possível descobrir as intenções do coração e intervir nelas com a
graça de Deus, “O homem de inteligência sabe descobri-los.” É uma afirmação
tremenda e surpreendente a pessoa que teme ao Senhor, tem dele a sabedoria
para entrar nas “águas profundas” e descobrir os desejos mais profundos e
escondidos no ser.

Sabemos que, na verdade só o Senhor por sua graça, sonda os


corações (Jer. 17. 9,10). Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas,
e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu o Senhor, esquadrinho
o coração, eu provo os pensamentos.”. É com isso em mente que Davi
clamava: “Sonda-me ó Deus, e conhece o me coração, prova-me e conhece os
meus pensamentos.” (Sl 139.23). O Senhor é aquele que vê, conhece, sonda e
tem poder para nos guiar por caminhos mais altos, mais sublimes, mais dignos,
mais saudáveis, ele pode nos guiar pelo: “Caminho eterno”. (Sl. 139. 24).
Powlisson refletindo sobre se é certo falar de coração, já que a Bíblia ensina
que o coração pode ser conhecido, exceto por Deus. Para ele:
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Ninguém, a não ser Deus, pode ver, explicar, controlar ou transformar o


coração e as escolhas de uma pessoa. Não há razão por trás de uma pessoa
servir a determinada cobiça em lugar de Deus; o pecado é irracional e insano.
Também não existe nenhuma técnica terapêutica que possa mudar o coração.
Mas a Bíblia ensina que podemos descrever aquilo que rege o coração, falando
a verdade que convence e liberta. Um ministério bíblico efetivo examina e trata
da razão pelas quais as pessoas fazem o que fazem e também aquilo que elas
fazem. O ministério de Jesus continuamente expunha e desafiava aquilo pelo
qual viviam as pessoas, oferecendo a si mesmo como único governador digno
para o coração. (POWLISON, 2010, p. 145).

O texto de Provérbios, 5.20, no entanto, revela-nos, que, o Senhor, nos


capacita como homens e mulheres de Deus, com sua sabedoria “inteligência”
(sabedoria espiritual), por meio de sua Palavra, numa vida de oração e
dependência do Espírito Santo, a entrar em águas profundas com as pessoas,
e, firmados no poder da sua graça, interpretar e descobrir, os propósitos (as
intenções) do coração. “Águas profundas” podem se referir a alguma verdade
profundamente escondida no “coração”, e declara-se que, a pessoa sábia é
vista, como alguém que é capaz de trazer para superfície essa verdade.
(BÍBLIA DE GENEBRA, p. 762).

Isso nos conduz, para a compreensão, de que, o aconselhamento bíblico


tem em sua abordagem o propósito da mudança. Isso é necessário porque o
ministério do evangelho proclama que em Cristo existe uma esperança futura e
uma realidade presente que pode experimentar renovação. O evangelho tem
como um de seus principais temas a mudança das pessoas e de seus
relacionamentos pela graça de Deus manifesta em Cristo e operada em nós
pelo Espírito Santo.

O conselheiro, como aquele que ministra o evangelho da graça


empenha-se em conduzir o aconselhado na direção divina e assume algumas
pressuposições básicas: 1. Deus criou cada pessoa. 2) o pecado prejudicou
cada pessoa. 3. Deus fez provisão para que houvesse mudança (POWLISON
2004).

A igreja, para isso, precisa crer e assumir atitudes diante das fontes
espirituais providas por Deus. Paulo nos ensina que “Toda Escritura é
inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
parra a edificação na justiça.” (2 Tm 3.16). É urgente a necessidade de
redescobrimos o aconselhamento bíblico e recolocarmos a Palavra de Deus
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em seu lugar de direito como o supremo árbitro e reparador dos pensamentos


e intenções do coração (Hb 4.12).

1.2. FUNDAMENTOS DA POIMÊNICA E DO ACONSELHAMENTO BÍBLICO

A busca por uma definição de aconselhamento bíblico exige a


compreensão do que o próprio Deus chama de aconselhamento em sua
Palavra. Quando buscamos desenvolver essa tarefa, primeiramente nos
deparamos com o fato de que não há apenas um termo usado no grego para
aconselhamento, há alguns termos importantes utilizados pelos autores
bíblicos que nos ajudam nessa caminhada. Os termos mais conhecidos são
Parakaléio que aparece 109 vezes no Novo Testamento e Noutetéo.

1.2.1 Aspectos noutéticos da poimênica e do aconselhamento bíblico

A palavra νουθεσία (noutecia), aparece na bíblia com o sentido de


chamar a atenção para (por implicação), leve repreensão ou advertência [a
partir de ‘nous’, "intelecto, mente"' e um derivado de 'tithemi’, "colocar"'] Raízes:
'nous (G3563), "intelecto, mente"', 'tithemi, "colocar"'- Colocar na mente. Assim
verifica-se que noutetheo deriva-se de duas palavras nous (mente) e tithemi
(“colocar”) , e descrevem o exercer influência sobre a nous, dando a entender
que há resistência. Através da admoestação, conselho, advertência,
lembranças, ensino e incitação, uma pessoa pode ser corrigida para longe dos
seus caminhos errados, e seu comportamento pode ser corrigido. Noutetheo
tem a ver com a vontade e os sentimentos dos homens. É significativo que
noutetheo não traz a ideia de punição, menos ainda de castigo.

Na LXX o emprego de noutetheo aparece com o sentido de “corrigir,


repreender”, somente na Literatura Sapincial: Sab. 11:10, 12.2, 26, “advertir”. O
termo é encontrado apenas nas epístolas de Paulo e em At 20.31, onde Lucas
relata um discurso, também de Paulo; o substantivo aconselhamento. Observe
o uso de Noutetheo e suas variações na teologia paulina. O apóstolo trabalhou
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em Éfeso como um líder eclesiástico exemplar, com zelo constante para a vida
continuada da igreja, tomando cuidado com cada discípulo individualmente e
“admoestando-o com lágrimas” (At 20.31). Da mesma forma, “admoesta” os
líderes da Igreja de Corinto como seus “filhos amados” (1 Co 4.14). Ainda que
precise lhes escrever com correção e crítica, isto se faz por causa do seu amor
por eles e para o próprio bem deles.

Em Cl 1.28 e 3.16, nouteteo junta com didasko, com referência à


proclamação de Cristo. A advertência e o ensino andam inseparavelmente
juntos, como contra-partida constante do conhecimento e da ação. O alvo
deste ministério de ensinar e advertir é a maturidade em Cristo (1.28). É uma
tarefa importante, dos apóstolos, líderes da igreja e anciãos admoestam os
membros da igreja.

A igreja deve aceitar e reconhecer este ministério, com amor (1 Ts 5.12).


A admoestação como uma forma de aconselhamento espiritual também é a
tarefa de cada membro da igreja, um para com o outro (Cl 3.16), na condição
de ser espiritualmente apto para assim fazer, como a igreja de Roma (Rm
15.14). Os membros individuais da igreja também, quando são desobedientes,
precisam ser corrigidos pela igreja, a fim de que possam se tornar conscientes
do mal que estão praticando e serem ganhos de volta (1 Ts 5.14ç 2 Ts 3.15). A
falta de corresponder a semelhante admoestação pode, em certas
circunstâncias, levar à rejeição total daquele que foi admoestado (Tt 3.10).

Noutetheo, portanto, traz a ideia do aconselhamento pela palavra, no


qual procura-se orientar, colocando na mente das pessoas a própria Palavra de
Deus por meio da confrontação amorosa que busca o bem do aconselhado.

1.2.2. Aspectos da paraclesis na poimênica e no aconselhamento bíblico

A palavra παρακαλέω: parakaleo, chamar próximo (a receber ou dar


ajuda) implorar, suplicar (urgentemente pedir (por misericórdia ou ajuda)
exortar (aconselhar com urgência, encorajar ou admoestar), confortar [a partir
de 'para "ao lado, próximo, junto"' e 'kaleo , "chamar"'] Raízes: 'para "ao lado,
próximo, junto"' e 'kaleo, "chamar".
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Na LXX parakaleo se emprega normalmente para o Heb. Naham


(especialmente o sentido (cf. Sl 119.50, haute me parekalesen em te
tapeinosein mou, “isto me consolou na minha humilhação” Gn 37.35, a respeito
do lamentar dos mortos, kai elthon parakalesai auton, kai ouk ethelen
parakalesthai, “e vieram consolá-lo, mas não quis ser consolado”.
Observa-se que esta ação de trazer consolo, era uma tarefa do profeta, e não
apenas do sacerdote, (Is. 40.1, parakaleo, parakaleo ton laon mou. “consolai,
consolai o meu povo”.

Parakaleo também é usado para traduzir naham com o sentido de


“sentir compaixão.” Sl 135.14. “O Senhor tem compaixão por seus servos.” (Cf.
Dt 32.36), e Jz 2.18 (“o Senhor se compecia deles ante os seus gemidos”).
Este emprego da palavra se acha somente na LXX.

Parakaleo aparece 109 vezes no Novo Testamento com o significado de


a) “conclamar”, “convidar”, “pedir”, “implorar”; b) “exortar”, c) “consolar”,
“encorajar”. O substantivo paraklesis significa “exortação”, “encorajamento”,
“apelo”, “pedido”, “conforto”, “consolo”. Encontramos essas palavras nos textos
de João, Tiago, e 2 Pedro. Os crentes são desafiados a se exortarem
mutuamente (fp. 2.1). Paulo envia Timóteo para, entre outras coisas, exortar a
igreja (1 Ts 3.2; cf. Rm 12.8). O ministério da exortação, atestado desde o
período cristão mais antigo, é provavelmente a situação histórica da igreja (Sitz
im Leben) das passagens parenéticas que se acham especialmente no fim das
Epístolas de Paulo. Ele não dá aos seus leitores uma instrução moral direta,
mas dirige-se a eles “através de” (dia) Deus ou Cristo, de tal modo que o
apóstolo considera que sua admoestação é administrada “pela misericórdia de
Deus” (Rm 12.1; cf. v.3), “por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor
do Espírito” (rm 15.30). Um encorajamento firme para um viver cristão firmado
na graça de Deus. (BROWN, 1989).

Aconselhar, exortar, advertir, consolar, repreender, encorajar, no geral,


portanto, podemos concluir que implica exercer influência sobre a vontade e as
decisões de outra pessoa, com o objetivo de direcionar a pessoa para a
Palavra de Deus, como um código de comportamento, e de encorajá-la a
observar e guardar as instruções recebidas da parte do Senhor e do seus
apóstolos. Essa exortação, sempre pressupõe conhecimento prévio e consiste
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em lembrar os aconselhados desse fato, com o propósito claro de que se leve


a efeito as instruções dadas. Pode se afirmar, com base nos escritos do Novo
Testamento, que essa a exortação bíblica pela Palavra, deve ser dirigida ao
homem, como uma pessoa integral. A ação exortativa é abrangente,
envolvendo o conhecimento (parte cognitiva do ser humano), as emoções
(sentimentos) e a vontade (o volitivo, as atitudes, e escolhas), (BROW, 1985,p.
174), bem como os desejos mais profundos do coração.

No grego do Novo Testamento, com uma só exceção, é somente Paulo que


emprega o vb. Noutetheo (8 vezes ao todo, o sub. 9 vezes), para expressar o
conceito de exortar. Noutros trechos, o termo mais largo parakaleo se emprega
com os seus significados variando com a ideia desde uma pressão urgente até
o consolo e o encorajamento. O conselheiro bíblico qualificado, precisa
compreender com profundidade esses termos de onde vem a ação de
aconselhar (BROW, 1985, p. 174).

1.2.3. Deus nos fala, cura-nos, edifica-nos e transforma-nos à semelhança


de Cristo, por meio de sua Palavra aplicada

Podermos definir o aconselhamento bíblico, portanto, como uma postura


de ajuda às pessoas, com base na sabedoria da Palavra de Deus, com vistas
ao seu crescimento espiritual e relacional, e envolve um compromisso
confidencial, num contexto de confrontação amorosa que visa o bem do
aconselhado, exortações, apoio e encorajamento para o enfrentamento dos
embates contra a carne, o mundo e o diabo. Não é uma onda passageira, pelo
contrário,

Ele teve início com Deus falando ao seu povo; mais tarde, firmou-se por meio
dos reis, profetas, sacerdotes e apóstolos à medida que aplicavam a
mensagem de Deus a situações específicas. Ao longo da história, o
aconselhamento bíblico tem sido praticado por pastores, amigos, irmãos e pais
sábios. Ele tem continuidade em nossos dias com homens e mulheres, que
tendo estudado o que Deus diz em sua Palavra, recebem conselhos bíblicos e
também oferecem outros. (WELCH, 2000, p. 116)

O aconselhamento bíblico pode ser uma caminhada específica com


alguém da igreja ou de fora dela, com um propósito objetivo de ajudar alguém a
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lidar com uma situação focal, possibilitando a pessoa a encontrar o sentido da


vida em Cristo e ter sua vida transformada quando não for um cristão, e uma
ajuda direcionada para a situação específica trazida pelo cristão. Mas também
pode ser um processo que envolve tanto o discipulado como uma amizade
sincera com propósitos de ajuda transformadora que visa o crescimento e a
santificação do aconselhado.

O aconselhamento bíblico fundamenta-se no fato de que Deus nos fala,


cura-nos, edifica-nos e transforma-nos à semelhança de Cristo, por meio de
sua Palavra. A palavra que nos fala com grande profundidade e atinge a raiz
dos problemas, ela não somente é viva e eficaz, ela é também, “mais cortante
do que qualquer espada dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos
do coração” Hb. 4.12. Conselheiros bíblicos precisam apropriar-se dessa
revelação tão profunda sobre o poder e a eficácia da Palavra do Senhor para
as intervenções da graça de Deus em processos de ajuda por meio do
aconselhamento em todas as áreas da vida.

Você já notou que as Escrituras assumem que todos os aspectos da vida estão
de alguma forma relacionados com Deus? Na verdade, todos os problemas da
vida são ‘religiosos’ ou ‘espirituais’, seja a maneira de expressar o louvor na
igreja, de pensar sobre os desequilíbrios químicos ou de levar o lixo para fora
de casa. Todos os aspectos da vida são vividos diante da face de
Deus.(WELCH, 2000, 117).

Tudo que somos, tudo que vivemos, sentimos, experimentamos,


tememos, tudo está patente aos olhos de Deus, e, por sua Palavra, tudo pode
ser atingido com graça, misericórdia e amor. Há esperança, pois as realidades
mais profundas e complexas do ser humano podem ser atingidas pelo poder da
Palavra e por sua graça transformadora.
17

1.3. Outros aspectos fundamentais da poimênica e do aconselhamento


bíblico

Jay Adams apresentou sete aspectos teológicos fundamentais e


indispensáveis ao aconselhamento bíblico. Estes aspectos fundamentais não
podem ser negligenciados por aqueles que procurar exercer o aconselhamento
que se firma nos pressupostos bíblicos revelados na Palavra do Senhor.

1. Deus está no centro do aconselhamento: Deus é soberano,


está ativo, está falando, é misericordioso, é imperativo e é
poderoso. O Senhor o Salvador, Jesus Cristo, é o foco central do
aconselhamento e o exemplo de Maravilhoso Conselheiro. A
Palavra de Deus e a obra do Espírito Santo são fundamentais
para qualquer mudança significativa e duradoura. [...] 2. O
compromisso com Deus traz consigo consequências
epistemológicas. Outras fontes de conhecimento devem ser
submetidas à autoridade das Escrituras. As ciências, as
experiências pessoais, a literatura e assim por diante, precisam
ser úteis, mas não devem exercer função essencial no
aconselhamento. 3. O pecado, em todas as suas dimensões [...]
constitui-se no problema primordial com o qual os conselheiros
precisam lidar. 4. O evangelho de Jesus Cristo é a resposta.
Perdão dos pecados e poder para mudar à semelhança de Cristo
são as maiores necessidades da humanidade. 5. O processo de
mudança que o aconselhamento deve visar é a santificação
progressiva. [...] 6. As dificuldades situacionais que as pessoas
enfrentam operam dentro do plano soberano de Deus. 7. O
aconselhamento é uma atividade eminentemente pastoral e deve
ser ministrado pela igreja. (ADAMS apud POWLISON, 2004,
79,80)

Portanto, conselheiros cristãos devem se firmar na pessoa de Deus


revelada na Palavra, crer na sua soberania e graça manifestos de forma
misericordiosa aos pecadores, reconhecer que o pecado tanto de Adão como
os nossos próprios pecados afetam de forma profunda nossas vidas e nossos
relacionamentos, às vezes somos afetados pelos pecados de outras pessoas,
e precisamos aprender a lidar com essa realidade ainda que vitimados,
assumindo a graça de Deus que nos capacita a reagir com perdão, amor e
esperança.
18

Às vezes nossas atitudes, pensamentos, ações e omissões, estão


ligados tão profundamente à realidade do pecado que não percebemos este
fato é real até que alguém firmado nas Escrituras nos ajude a uma nova
perspectiva, a perspectiva da justiça e da graça de Deus revelado em Jesus
Cristo que nos proporciona rica e maravilhosamente a possibilidade de uma
nova vida em santidade, movidos pelo poder do Espírito, tanto para
compreender as verdades reveladas, como para experimentá-las de forma
transformadora e libertadora em nossas realidades existenciais.

Dessa forma somos desafiados a refletir de forma mais aprofundada


sobre os propósitos do coração o que faremos no próximo capítulo.
19

CAPÍTULO 2: PROPÓSITOS DA POIMÊNICA E DO ACONSELHAMENTO


BÍBLICO:

2.1 Capacitar os crentes para viverem para a glória de Deus.

O principal alvo do aconselhamento bíblico é a glória de Deus, assim


como o propósito principal de todo o crente é viver para a glória de Deus. Isso
implica, portanto que nem sempre o Senhor vai glorificar o nome dele em
nossas vidas resolvendo nossos problemas. Quem busca viver para a glória de
Deus, não tem como maior propósito também, apenas sentir-se bem, dessa
forma, o aconselhamento bíblico, tem como propósito maior promover ajuda
para o fortalecimento dos servos e servas de Deus, para que, em todas as
circunstâncias, possam, acima de tudo, glorificar o Senhor, seja num tempo de
grandes provações e perdas, ou num tempo de grande bonança, segurança,
conforto, e prosperidade. É claro, que uma vida, que é experimentada numa
busca constante de glorificar a Deus, de alguma forma, vai experimentar a
felicidade, o bem estar, o conforto da graça de Deus, nos dias mais difíceis.

O alvo do aconselhamento, portanto, acima de qualquer aspecto, é


ajudar os cristãos, para que fortalecidos, mesmo que diante de circunstâncias
extremamente adversas, possam glorificar a Deus por meio de suas vidas.
Como Paulo que, mesmo diante da possibilidade de perder a própria vida,
afirmava, “para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro [...] o Senhor será
glorificado em meu corpo, quer seja pela vida quer seja pela morte” Fp 1.20ss.

2.2 Capacitar os crentes para a maturidade

Paulo escrevendo aos Efésios afirma-nos que o principal ministério de


líderes na Igreja, é capacitar os crentes para crescendo em maturidade,
possam desenvolver os seus ministérios de forma mais segura. Paulo
demonstra que a maturidade para o crente, significa ser mais parecido com
Jesus a cada dia. “Até à medida da estrutura, da medida de Cristo.” Ef. 4.13ss.
20

Por meio de ajuda transformadora, no discipulado e no aconselhamento,


líderes são capacitados pelo próprio Senhor, nesse crescimento à semelhança
de Cristo, em santidade e vida.

Enquanto existem várias formas de mudar as pessoas, o aconselhamento


bíblico visa nada menos que a transformação à imagem de Jesus Cristo em
meio à dureza e aos tropeços da vida. A mudança não é instantânea, mas
progride com o decorrer do tempo. Essa visão progressiva da santificação
(crescimento à semelhança de Cristo), possuí várias implicações.
Arrependimento contínuo, renovação da mente rumo à verdade bíblica, e a
obediência no poder do Espírito. (ADAMS, apud POWLISON)

A expectativa da Palavra de Deus é que é possível chegarmos ao nível


de santidade e maturidade, na qual deixamos de ser levados por todo vento de
doutrina, como crianças na vida da fé e das emoções.

2.3. Capacitar os crentes em seus relacionamentos

Numa busca pessoal e comunitária, somos exortados a, por meio do


aconselhamento, a trabalhar com os aconselhados para que procurem ajuda.
Uma comunidade, por si própria, pode ser sadia (facilitadora de integralidade)
ou doente. Essas percepções estão implícitas no conceito hebraico shalom e
no conceito neostestamentário koinonia. Shalom, significa sadio, inteiro ou
saudável (bem como paz), é alimentado numa comunidade de shalom. Numa
tal comunidade centralizada no Espírito, a qualidade dos relacionamentos
proporciona um meio ambiente dentro do qual as pessoas são encorajadas a
desenvolver sua personalidade única. No Novo Testamento, a palavra grega
koinonia é usada para descrever a igreja como uma compreensão sistêmica de
relacionamentos mutuamente nutrientes. A koinonia ocorre dentro de um
compromisso religioso integrador e, é comunicada no conceito de uma só
corpo Rm 12:5.
21

2.4. Capacitar os crentes para uma vida frutífera.

O Senhor Jesus nos afirma que se permanecer nele, numa vida de


dependência e maturidade, glorificando o seu nome e divulgando seu
evangelho, seremos pessoas frutíferas. Uma vida que dá muitos frutos, que
glorificam o nome do Senhor, traz muita alegria para os aconselhados e para a
vida da Igreja,

Quando olhamos para a vida de José, no texto de Gênesis, vemos ali


um homem que enfrentou grandes tribulações desde a sua vida adolescente,
rejeição, traição, abandono, perdas imensuráveis em relação à impossibilidade
de crescer na presença de seus pais e de seu próprio povo. Conhecemos a
história, vendido como um escravo, depois de anos frutíferos e abençoados na
casa de Potifar, comandante da guarda real, foi novamente provado, jogado
numa cadeia suja, com prisioneiros da pior estirpe, e ainda assim, afirma-nos a
Palavra que ele ali, tinha uma vida frutífera e abençoada, pois fez o que tinha
que ser feito naquele lugar, cada de outros prisioneiros, cuidar daquele lugar
sujo, triste e tenebroso, ao ponto do carcereiro ficar encantado com José, e
confiar nele, pois tudo que ele fazia era abençoado pelo Senhor, “Em tudo o
Senhor fazia prosperar.”

No final da vida de seu pai, quando Jacó já estava bem velho, tendo já
visto José e colhido bênçãos imensuráveis da graça de Deus, Jacó chama os
seus filhos para abençoá-los e, nas suas palavras proferidas a José, ele
declara que José “Era um ramo frutífero, os seus galhos estão sobre os
muros...” José, em tudo que passou e enfrentou em sua vida, repete-se, em
tudo, foi um homem frutífero. Dando frutos além dos muros, abençoando não
somente o povo de Deus, mas abençoando nações com sua vida fiel, diante
dos dias de grandes tribulações, e diante dos dias de grandes bênçãos,
quando inclusive, tornou-se com Faraó, o homem mais poderoso do Egito,
nação Império, mas poderoso dos seus dias.

Uma vida frutífera, não é uma vida sem batalhas, rejeições, abandonos,
traições e incompreensões na vida, é sim, uma vida que persevera diante de
Deus, faz o que tem que ser feito onde está plantado, e com a graça de Deus,
22

será fortalecido, e bem sucedido, seja numa cadeia, seja nos palácio dos
grandes impérios do mundo. O aconselhamento bíblico, deve procurar
fortalecer os crentes para que experimentem uma vida frutífera, sendo
capacitados para dar frutos em dias difíceis, ou dias de segurança e conforto.
“A missão do aconselhamento é, no contexto da igreja, buscar com as
pessoas, libertação que, sustenta e potencializa a vida doada por Deus em
toda a sua plenitude.” Clinebeel (2.000).

A essência da libertação é a liberdade de tornar-se tudo aquilo que a


gente tem possibilidade de ser nas mãos de Deus (João 8:31,32). Uma vida
frutífera, é uma vida que experimenta crescimento e multiplicação. A parábola
dos talentos desafia-nos a uma vida frutífera, uma vida que procura glorificar a
Deus por meio de uma mordomia focada em excelência. A parábola nos
convida a pensar em fidelidade na mordomia, gerenciando bem aquilo que o
Senhor nos confiou em nossas mãos, tudo vem de Deus, e torna para ele,
dessa forma, esse texto tira-nos das pretensões humanas de crescer e
multiplicar para nossa própria vaidade e glória. Antes o cuidado do evangelho,
o cuidado com os bens e com as pessoas nos tem confiado, está num contexto
no qual não somente as potencialidades vêm de Deus, mas também, a
revelação de que, o senhor da parábola não se agradou apenas do que
multiplicou os cinco por outros cinco, mas também naquele que de dois
multiplicou outros dois. Não é tanto o número, mais que a fidelidade, a honra e
a dignidade daquilo que está ligado à obra de Deus e ao próprio senhor. “Existe
em toda a Bíblia, uma aguda consciência de que a realização de nossas
potencialidades dadas por Deus é apoiada e vitalizada pelo poder do Senhor
do universo. (I Co. 3:6).”

Isso observado, podemos compreender que é importante para o


aconselhamento bíblico perceber que há um potencial doado por Deus, e pode
ser desenvolvido, ao ponto da pessoa, mais amadurecida e capacitada em
discipulado e aconselhamento, poder viver de forma frutífera, multiplicando-se
na presença de Deus.
23

2.5. Capacitar os crentes para as experiências de curas que procedem da


graça de Deus.

O aconselhamento bíblico é uma experiência profunda, rica e que


experimenta da graça sobrenatural do Senhor. Tiago, em sua carta, convida-os
crentes, a confessarem os seus pecados uns para outros e a orarem uns pelos
outros, afirmando pelo Espírito de Deus, que haverá manifestação da graça de
Deus trazendo curas no meio da Igreja “Confessai os vossos pecados uns aos
outros, e orai uns pelos outros para serdes curados.” (Tiago 5.16).

Esse texto faz primeiramente uma denúncia, a denúncia de que muitas


vezes, há sérias enfermidades no meio da própria comunidade cristã,
enfermidades físicas, emocionais, relacionais e espirituais. Essas enfermidades
afetam o ministério, a vida da pessoa na sociedade, e de várias formas
também, a própria vida financeira. Problemas pessoais e relacionais não
tratados podem corroer as nossas energias e nos trazer várias doenças.

Mas, graças a Deus, de forma muito direta, e enfática, Tiago afirma que
podemos experimentar a cura no meio do corpo de Cristo. Quando encaramos
nossos problemas pessoais e relacionais, por meio do aconselhamento bíblico,
num ambiente de confiança, cuidado, confidência e muita oração, podemos
experimentas cura na presença de Deus.

Devemos recuperar a força dessa promessa na vida da Igreja. Isso


começa por uma série de orientações em relação à maturidade para ouvir e
para compartilhar os pecados uns com os outros. Pecados ocultos, não
confessados, não tratados, trazem, portanto, muitas enfermidades na vida das
pessoas e seus relacionamentos. Pecados cometidos contra si mesmo,
pecados cometidos contra o Senhor e a sua Palavra, pecados cometidos
contra os outros, bem como pecados guardados por não perdoar agressões
sofridas por terceiros, pecados de desconfiança, pecados de idolatria, pecados
de vários tipos de vícios e dependências. Tudo não confessado pode afetar
direta e profundamente o ser humano e suas realidades sociais.

Mas, por outro lado, precisamos recuperar a fé, na promessa do texto,


quando nos afirma de forma muito ampla, o poder da graça de Deus, disponível
24

à Igreja, e que se manifesta em ambiente de amor e cuidado, no qual as dores,


temores, desvios mais profundos da alma, são colocados diante do Senhor e
dos irmãos, recebendo-se orientação segura da Palavra de Deus, declaração
do perdão da graça, coberto com muita oração e fé. “A oração da fé.” É a
oração simples do povo de Deus, uma oração que não se firma em si mesma,
não se firma em homens, ou mesmo em rituais treinados religiosos. A “oração
da fé” de acordo com Tiago, não é um poder que se manifesta por meio de
uma elite espiritual, é o poder da graça de Deus, que se manifesta na vida de
oração simples e sincera do povo de Deus, dirigidas ao Pai que graciosamente
atende ao clamor de seus filhos.

A oração da fé é a uma busca sincera e simples da graça de Deus,


quando o povo do Senhor, se coloca em sinceridade com esperança no próprio
Deus. A oração da fé, não é algo mágico, antes é a oração se firma na graça
do bondoso Deus. Isso é tão sério, que Tiago, desafia-nos a olhar para Elias,
que foi um dos profetas que desenvolveu o seu ministério de forma tão rica e
intensa, cheio de manifestação de fé e da graça de Deus, mas que ao mesmo
tempo, nos mostra a Palavra, ele era um homem semelhante a nós.
Semelhante mesmo, homem, também inseguro, que passa por momentos
difíceis. Elias, depois de um tempo tão grande de gasto intenso de energias
numa batalha física, emocional e espiritual, encontrou-se fugindo de Jezabel,
aquela mulher maligna, esposa de Acaba, que prometeu mata-lo por ele ter
destruído os profetas de Baal. Elias chega ao esgotamento, em sua depressão
espiritual profunda ele pede a morte para si. O Senhor cuida de Elias,
enviando-lhes anjos, e a sua própria presença por meio daquele vento calmo e
tranquilo.

É isso que Tiago está dizendo, Elias era semelhante a nós, e Deus o
ouviu, a nossa fé, não deve estar firmada em nós mesmo, mas na graça e no
poder do Senhor. Se assim procedermos no nosso ministério cristão de
aconselhamento, promete-nos o Senhor em sua Palavra, experimentaremos do
poder de cura da graça. Curas físicas, emocionais, relacionais e inclusive
financeiras em alguns casos. Sendo assim, o aconselhamento bíblico deve
orar com fé, e esperança na graça de Deus que se manifesta conforme sua
promessa e graça, isso retira de nós a pressão da necessidade que alguém
25

entendem de forma imatura que nós precisamos decretar, ou exigir qualquer


aspecto da graça de Deus. Graça é graça, não pode ser manipulada, cobrada,
exigida, decretada. A graça pode e deve ser crida, buscada, firmados nela
podemos orar uns pelos outros crendo no poder de Deus que cura de acordo
com os seus eternos propósitos revelados.

Este texto traz uma revelação de extrema relevância para conselheiros


bíblicos, o segredo não está numa fórmula de oração ou trejeitos evangélicos,
nos quais mudamos a voz, para uma voz mais parecida com voz “espiritual”, ou
palavras mágicas “segredos” que emitimos, antes é necessário reafirmar, o
segredo está na simplicidade da confissão sincera, diante uns dos outros,
todos pecamos, todos precisamos uns dos outros. O segredo está numa
atitude de oração e fé, dirigidos à graça de Deus nosso Pai, que com o seu
grande amor nos revela em Cristo e sua obra, que, pelo sangue derramado,
por seu filho, podemos experimentar, perdão, arrependimento e cura.
26

CAPÍTULO 3: A POIMÊNICA E O ACONSELHAMENTO BÍBLICO COMO


TAREFAS DA IGREJA.

Biblicamente não é possível se referir ao exercício do aconselhamento


como sendo uma tarefa apenas de uma classe de profissionais na igreja. O
aconselhamento que se firma na Palavra de Deus é uma tarefa de todo o
Corpo de Cristo. O aconselhamento bíblico é uma tarefa da igreja, com
propósitos definidos: “Habite ricamente em voz a Palavra de Cristo, instrui-vos
e aconselhai-vos mutuamente” (Cl 3.16).

Desde os tempos apostólicos, o aconselhamento tem ocorrido na Igreja


como função natural da vida espiritual de corpo. Afinal, o próprio Novo
Testamento ordena aos crentes a se admoestarem Rm 15.14, a se exortarem
Hb 3.13, a se consolarem 1 Ts 4.18, a confessarem os pecados uns aos outros
para serem curados (Tg 5.16), corrigirem-se uns aos outros com espírito de
brandura (Gl 6 1,2), e deveriam ser habitados ricamente pela palavra e se
instruírem e se aconselharem mutuamente (Cl 3.16). (MACARTHUR)

Significa dizer que todos os membros do corpo de Cristo poderiam


aconselhar, desde que todos estejam sendo habitados ricamente pela Palavra
de Cristo. É, portanto, o conhecimento e a vivência profunda da Palavra do
Senhor, que nos faz pessoas habilitadas para o aconselhamento mútuo no seio
da Igreja. Paulo falando também aos Gálatas afirma o aconselhamento como
tarefa da igreja: “Se alguém for pego em alguma falha, vós que sois espirituais,
exortai-o com brandura.”(6.1,2).

3.1 A POIMÊNICA E O ACONSELHAMENTO BÍBLICO COMO TAREFAS DA


IGREJA DESAFIAM A COMUNIDADE DIANTE DE TENDÊNCIAS DE
SOLIDÃO DO AFLITO.

“Levai as cargas uns dos outros”. (Gls 6). Há pessoas com o dom de
exortação Rm 12. 8 (exortar, encorajar). Assim, como todos podemos e
devemos evangelizar, há pessoas com o dom específico de evangelismo (Ef.
27

4.11). É importante entender-se que a orientação bíblica nos leva a reconhecer


também, que dentro do corpo de Cristo essas pessoas com dons específicos,
exercem seus ministérios. O ministério está ligado aos dons de forma mais
direta. Essas pessoas deveriam desenvolver os seus dons por meio de
orientações de pessoas mais experientes e desenvolver um ministério mais
direcionado e qualificado de aconselhamento no contexto da Igreja. Os
pastores têm de Deus a autoridade para aconselhar e treinar pessoas para o
ministério em diversas áreas e, deveriam na área do aconselhamento
capacitar, portanto, as pessoas com este dom, e formar um centro de
aconselhamento em suas comunidades. Não com a ideia de que somente
essas pessoas com o pastor aconselham, mas que, estão disponíveis e
claramente identificadas e qualificadas para os casos que exigem um
acompanhamento mais específico.

3.2 A cura que se experimenta no contexto da poimênica e do


aconselhamento acontece no contexto da koinonia.

Vimos no capítulo anterior que um dos propósitos do aconselhamento é,


na prática bíblica da confissão, experimentar cura por meio da intercessão de
uns para com os outros. Destaca-se aqui novamente o aspecto comunitário da
confissão. A koinonia, comunhão dos santos, deveria proporcionar o ambiente
para o compartilhar das dores e opções erradas que nos levam a sofrer, ou
fazer outros sofrerem, ou mesmo os erros de outros que nos fazem sofrer. A
confissão, conforme Tiago deve acontecer nesse ambiente. “Confessai, uns
aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados.” É necessário e
urgente a busca pela recuperação de uma koinonia centrada na confiança que
possibilita a confissão para a cura. Isso não dispensa treinamento e
qualificação, antes desafia-nos a compreender os desafios de levarmos a
comunidade à maturidade até à varonilidade de Cristo.

A compreensão aprofundada, da necessidade de maturidade cristã para


ouvir, e experimentar cura por meio da intercessão seguidas da confissão, é
um desafio urgente para a igreja, visto que necessita compreender mais
28

objetivamente a afirmação de Jesus de que muitos problemas poderiam ser


resolvidos no contexto dos relacionamentos em comunhão espiritual. Isso é tão
sério que se um irmão viesse a pecar, e outro irmão, na base da comunhão
espiritual o procurasse em amor e o exortasse ao arrependimento e mudança,
a pessoa em foco, seria perdoada e haveria um ganho extraordinário para o
evangelho. Tudo seria resolvido ali mesmo, “se ele te ouvir, ganhaste o teu
irmão.” (Mt. 18). Mesmo que a pessoa resistisse o assunto ainda não deveria
ser levado a público, expondo a pessoa, seus conflitos, pecados, e fracassos.
Agora uma pessoa deveria ser convidada a ir com o que foi primeiro, uma
testemunha, um irmão conselheiro que pudesse ajudar na busca da solução
dos conflitos. Jesus é enfático em dizer, que, se agora essa pessoa ouvisse a
exortação de amor, tudo estaria resolvido e a pessoa ganha para a vida da
comunhão, sendo uma grande vitória do evangelho. É interessante, que se for
necessário levar a pessoa à liderança da Igreja, o alvo ainda é ganhar a
pessoa. Se historicamente a Igreja tivesse levado mais a sério estas palavras
de Cristo, assumindo o seu papel, como comunidade terapêutica, muitos
problemas de exposição pública, separações, desencontros, feridas expostas
teriam sido evitadas, pela força do amor e da graça de Deus na vida da
comunidade.
29

CAPÍTULO 4: ANTROPOLOGIA BÍBLICA PARA A POIMÊNICA E O


ACONSELHAMENTO

4.1. O SER HUMANO COMO IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS. GN.


1:26,27.

As Escrituras Sagradas nos revelam que o homem foi criado em


perfeição, para ter um relacionamento rico e perfeito com Deus, consigo
mesmo e com seus semelhantes. No entanto, o Senhor nos revela que o
homem caiu em pecados e ficamos todos “..destituídos da glória de Deus.” (Rm
6.23). Dessa forma, o ser humano busca por glórias efêmeras para de alguma
forma, tentar inutilmente suprir a verdadeira glória que, só é encontrada em
Deus. Combatendo a ideia de que temos necessidades psicológicas como
imagem e semelhança de Deus, Powlison nos adverte que não se encontra nas
Escrituras Sagradas alguma orientação no sentido de que necessitamos de
significado e valor dados por Deus. O que as Escrituras nos mostram é que
precisamos do próprio Deus “necessitamos dEle como imagem que devemos
refletir, necessitamos dEle porque temos necessidades espirituais, e
necessitamos dEle para o próprio fôlego de vida.” (POWLISON, 2004, p. 64).
Necessitamos também uns dos outros, não para preencher os nossos
“tanques” de necessidades emocionais, mas para refletir a glória de Deus. Mas
a pergunta permanecesse, porque muitas vezes nos sentimos vazios? Estas
necessidades têm sua origem onde? Necessidades e anseios, principalmente
os psicológicos, podem ser um eufemismo para paixões e idolatria, pois
revelam uma preocupação demasiada com o eu e seus desejos (POWLISSON
2004).

Necessitamos de Deus e de sua glória, é possível, portanto, esteja


ligado ao “sensos divinitatis”, o sentimento de que Deus existe, e que de
alguma forma, nossa alma só encontrará descanso nele. O senso comum de
que temos um coração com a forma exata de Deus, que pode ser saciado
apenas por Deus, é uma verdade que deve ser compreendida como o vazio
sendo uma expressão de que necessitamos da justiça, que é Cristo, Deus para
30

substituir nossa condição espiritual deficitária, visto que sem a justiça de Cristo,
estamos destituídos da glória do Senhor. Este vazio e o sentimento de
necessidade psicológica podem ser um grito da alma, diante do conhecimento
universal de Deus e de Sua santidade com base em Rm 1. Powlisson
compreende neste sentido, que,

Nós de fato estamos vazios diante de Deus, mas visto se tratar de uma
verdade tão assustadora, preferimos que ela seja repimida e experimentada
como uma necessidade de relacionamento com pessoas (necessidade
psicológica) e não com Deus (necessidade espiritual). De acordo com esta
perspectiva, a preocupação com a baixa auto-estima é mais precisamente um
eco distante da lei de Deus que diz que nós por nós mesmo, não estamos à
altura da lei de Deus. (PAWLISON, 2004, p. 64).

Podemos nos sentir vazios também, pelo fato de que estamos num
mundo afetado pelo pecado onde sofremos várias expressões de violência da
parte de outras pessoas. Traição, abandono, humilhação, rejeição, agressões,
físicas, verbais, morais, ou espirituais. Tudo isso é pecado contra a nossa
própria existência e nos faz sofrer. Também sofremos quando enfrentamos
perdas relevantes para nós. Dessa forma, quando perdemos um parente muito
próximo, o sentimento de vazio é uma reação que encontra base bíblica e
apropriada. “Há um grande senso de perda. Esse vazio, todavia, é
consequência da maldição estampando-se em nossa psique, e não resultado
de termos sido criados com anseios psicológicos.” (PAWLISON, 2004, p. 64).

Neste senso de vazio somos lembrados de que não podemos por


nossas próprias condições e capacidades reparar nossos pecados. Mais do
que o preenchimento do tanque emocional, quando somos alcançados pelo
poder do Evangelho, a graça de Deus nos inunda e transbordamos em sua
presença quando abraçamos a glória de Cristo. Concluindo-se, dessa forma
que, a verdadeira necessidade que temos é a de sermos atingidos pela glória
de Deus, cativados por seu amor, e ser fiéis em nossa peregrinação, como
disse Paulo, “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” (Fl
1.21).
31

4.2 A IMAGEM DE DEUS NO HOMEM EXPRESSA-SE POR


GLORIFICARMOS A ELE EFETIVAMENTE

Essa verdade teológica traz alguns aspectos teológicos práticos e


urgentes para a igreja. Na educação e no discipulado de nossos filhos, por
exemplo, essa verdade deve se expressar por nos dirigirmos à consciência da
criança (o conhecimento inato de Deus do certo e errado), mais que a um
senso de anseios insatisfeitos. Quando chamamos nossos filhos à obediência,
o nosso objetivo deve ser o de atingir o mais profundo do coração deles e
lembrar-lhes que estão servindo a Cristo e não a si mesmos. Quando eles
estão na adolescência, devemos apontar para a grandeza de Deus e suas
necessidades espirituais, e devemos resistir à ideia de ensinar-lhes que Jesus
pode satisfazer a cobiça por significado. Segundo Pawlison, (2004, p. 65) “No
aconselhamento, levamos as pessoas a necessitar menos e amar mais. Em
lugar de identificar os anseios e esperar que Cristo os satisfaça, alguns desses
anseios são mortificados.” A despeito de reforçarmos carências, reforçamos a
carência da graça de Deus, que nos liberta de nós mesmo, de nossos vazios,
medos, rejeições e toda tendência de vitimação, para uma jornada de
crescimento em maturidade para servi-lo e amá-lo em nossa caminhada.

4.3 O CRISTÃO ENCONTRA SUA IDENTIDADE INTIMAMENTE LIGADA A


JESUS

A imagem do “tanque vazio” propalada por alguns psicólogos cristãos


dos nossos dias, enfatizando as necessidades psicológicas que precisam ser
supridas para a nossa completude, precisa ser eliminada e substituída pelas
figuras bíblicas. Anseio por amor provavelmente venham à tona, muitas vezes,
mas precisamos insistir que nossas carências são espirituais e não emocionais,
e são supridas pela graça de Deus. Nós, nas Escrituras temos outras figuras
que nos caracterizam, mais do que seres psicologicamente carentes. Somos
chamados de, amigo de Deus, sábio, profeta, sacerdote, rei, cônjuge,
príncipes, princesas, servos, servas, santos. Essas figuras estão nas Escrituras
32

e contam algo de nós mesmo, assim, devemos tomar posse delas e substituir
por rótulos que não expressam quem de fato somos. Principalmente somos
chamados de “cristãos”,

Um símbolo para ‘filho de Deus’. [...] Sua identidade está intimamente ligada à
de Jesus, e Seu propósito é fazer o nome de Cristo afamado. (Este era o
propósito da adoção entre os romanos). À medida que Deus adota Seus filhos
e eles passam a levar Seu nome, não há razão para se orgulhar de si mesmo,
mas há plena razão para se orgulhar e encontrar grande prazer no amor
dAquele que deu a nós o seu nome. (POWLISON, 2004, p. 66).

Somos filhos e também servos, amados e libertos, não para vivermos


para nós mesmos e sim para a glória de Deus. Temos em Cristo a liberdade de
podermos dizer não ao Diabo e ao pecado. Somos livres para servir e amar.

4.4. O SER HUMANO COMO RECIPIENTE COM NECESSIDADES


ESPIRITUAIS E NÃO PSICOLÓGICAS

Para Powlison, um dos maiores privilégios de um conselheiro bíblico é


poder dizer com segurança, aos aconselhados, filhos do Senhor, em seus
sofrimentos, abençoando-os em nome de Cristo, que “o amor de Deus é
derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm
5.5). Parece contraditório diante do que vimos observando em sua teologia do
aconselhamento em relação ao ser humano e suas necessidades. Até agora,
falamos da necessidade de se rejeitar com firmeza a noção de tanque de amor
sustentada pela psicologia das necessidades. Para Powlison, é simples,
embora Paulo tivesse em vista a metáfora de um recipiente, estamos diante de
um recipiente com necessidades espirituais e não psicológicas.

No contexto de Rm 5, Paulo esclarece a natureza específica do amor


aqui referido: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de
ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Nossa
atitude, como conselheiros bíblicos, quando pessoas chegam diante de nós na
forma de pecadores necessitados desesperadamente da graça do Senhor,
deve ser a de quem procura “inundar” o aconselhado com o amor de Cristo.
33

Assim, portanto, a maior alegria, portanto, do conselheiro bíblico, é


poder derramar o amor de Deus sobre os que estão sedentos espiritualmente.
Com isso, daremos glórias a Deus. “.fazei tudo para a glória de Deus” (1 Co
10.31). Dessa forma, aqueles que recebem do amor de Deus em suas aflições,
abraçando a glória de Cristo, são fortalecidos e renovados em seu amor, e
responderão certamente, glorificando o Senhor em suas vidas, mesmo que
tendo que continuar sua jornada diante de aflições e perdas.

4.6. O SER HUMANO E SEU COMPORTAMENTO

Powlison (2004) escreve sobre as Perguntas Raios-X: Descobrindo as


causas e razões do comportamento humano, na revista Coletânia do
Aconselhamento Bíblico. Ele observa algumas perguntas importante que nos
ajudam a pensar no comportamento humano:

Porque eu fiz isso?” Porque você reage desta forma? Porque usar essas
palavras nesse tom de voz? Porque pensar nessas coisas? Porque sentir
desse modo? Porque recordar essa faceta de algo já acontecido? Porque optar
desse modo nesta situação? Antecipar esses possíveis resultados? (Powlison,
2004, p. 3)

Para ele, a pergunta “POR QUÊ?” tem provocado milhares de teorias


sobre a natureza humana e revelam sobre o que as pessoas fazem. Uma
“resposta” ancora cada análise da personalidade humana e cada esforço para
resolver aquilo que aflige a raça humana. Uma visão sobre da motivação,
coloca em perspectiva e realça cada detalhe da teoria e da prática.

Você ficou preso em algum ponto na hierarquia da necessidade? Você é


geneticamente ligado à agressão? Será que as terríveis hormonas são as
culpadas? Será que os seus impulsos psíquicos instintivos estão em conflito
com as regras da sociedade? Será que os seus impulsos foram reforçados por
estímulos de compensação? Será que você é um Áries com um Júpiter em
crescimento? Será que você é um Adulto Criança com uma experiência infeliz
e de determinativa traumática ? Será que você está buscando compensar-se
por causa de inferioridades que você mesmo tem percebido em si, e está
procurando, por esta razão, adquirir uma melhor auto-estima? Será que o
demónio chamado de Dependência Química infiltrou-se em seu ser por uma
brecha encontrada em sua personalidade? Você teve uma falha de força de
34

vontade? Você desconhece a boa doutrina? Você é temperamentalmente


melancólico ou sanguíneo, pessimista ou optimista, introvertido ou
extrovertido? Você está mergulhado numa falsa consciência ideológica que
caracteriza a sua classe social? Seu diálogo consigo próprio deturpa as bases
da sua identidade e auto-estima? “Eu fiz isso, pensei naquilo, senti aquilo
porque...” Aquilo que agrada, tem razões.

A proposta de Powlison é extremamente relevante para o


aconselhamento bíblico, pois, apresenta um caminho consistente para um
levantamento do comportamento humano a partir das Escrituras, ele levanta
uma lista de “perguntas Raios-X” que, provê ajuda numa análise diagnóstica
que nos tira de tendências psicologizantes e nos impulsiona para o
discernimento de padrões encontrados nas motivações dos indivíduos a partir
de uma perspectiva bíblica. As perguntas são levantadas a partir das Escrituras
e intencionam ajudar as pessoas a identificar, e a revelar, os principais
mestres maus que ocupam as posições de autoridade nos corações. Estas
perguntas revelam “deuses funcionais”, isto é, aquilo, ou quem controla, na
verdade, certas ações, pensamentos, emoções, atitudes, memórias e
expectativas. Note-se que “deuses funcionais” numa situação particular, muitas
vezes estão diametralmente opostos ao “Deus professado.”

Sem o entendimento do pecado que habita em nós e da luta que o acompanha,


e sem compreender a presença, caráter e atividade de Deus e seu processo
santificador, a vida não faz sentido. O aconselhamento fica confuso porque lhe
falta sabedoria, discernimento e entendimento prático para estabelecer
propósitos que resultam de uma visão de si mesmo e das circunstâncias do
ponto de vista do evangelho. (TRIPP, 2004, p. 29).

Confessamos que Deus controla todas as coisas para a Sua glória e


para o seu maior bem. Professamos também que Deus é nossa rocha e
refúgio, uma ajuda sempre presente em qualquer problema. Professamos
adora-Lo, confiar n’Ele, e amá-LO e obedecer. Mas naquele momento – hora,
dia, época – de ansiedade, de escape ou de ação, você vive como se
precisasse controlar todas as coisas. Vive como se o dinheiro, ou a aprovação
de alguém, ou um sermão “bem-sucedido”, ou a sua graduação num exame, ou
boa saúde, ou evitar um conflito, ou fazer as coisas à sua maneira, ou... é mais
35

importante do que confiar e amar a Deus. Você vive como que sentir-se bem
temporariamente, pudesse agraciar-lhe algum refúgio ou como se a sua ação
pudesse endireitar o mundo. Deuses funcionais competem com o seu Deus
professado. Os incrédulos são completamente possuídos por motivos ímpios.
Os verdadeiros crentes estão muitas vezes gravemente comprometidos,
distraídos e divididos. Mas a graça reorienta-nos, purifica-nos, e faz-nos
regressar ao nosso Senhor.
36

CAPÍTULO 5: TEORIAS DA POIMÊNICA E DO ACONSELHAMENTO

5.1 JAY ADAMS E O ACONSELHAMENTO NOUTÉTICO

Jay Adams o maior representante do Aconselhamento Noutético, é um


teólogo relevante para a história e o processo do aconselhamento bíblico. Num
tempo em que as ações pastorais de aconselhamento bíblico foi muito
questionada e criticada, ao ponto de pastores abandonarem a confrontação do
pecado no aconselhamento, ele se levantou com firmeza e segurança
afirmando que a maioria dos problemas que temos está relacionado ao
problema do pecado. Nem todos os conselheiros concordam com ele em tudo,
principalmente na maneira se colocou rejeitando completamente as
contribuições das pesquisas da área da Psicologia.

Aconselhamento Noutético tem sua origem nas Escrituras, o termo vem


da palavra de origem grega nouthesia, que literalmente significa “ O ato de pôr
em mente” (formado de nous, “mente”, e tithemi, “por”). Nouthesia é “O
treinamento pela palavra”, quer por incentivo, ou, se necessário, por
reprovação ou reclamação.

O aconselhamento Noutético é um tipo de admoestação cujo objetivo é


proporcionar orientação para uma vida correta diante de Deus. O que
subentende também correção e a denúncia a qualquer padrão que seja
incoerente com o viver cristão. O termo envolve a ideia de uma exortação
amorosa que busca o bem e a transformação do aconselhado.

Verificam-se três elementos importantes para confrontação noutética:

5.1.1 A ação noutética e o ensino

Didaskõ é uma palavra grega e significa “Dar instrução” “ Ensino” (Cl


3.16). O ensino, neste caso, pressupõe a necessidade que se verifique
mudança na pessoa que esta sendo aconselhada. A orientação bíblica, traz a
37

ideia de que alguma coisa precisa ser revista, alguma necessidade a se ser
reconhecida e tratada. O propósito básico da noutece com didasko é o de
efetuar mudança de mente que conduz a personalidade à vontade revelada do
Senhor.

5.1.2 A ação noutética e o diálogo

O aconselhamento noutético não deve ser entendido com um tipo de


aconselhamento diretivo no qual somente o conselheiro faz uso da palavra.
Antes, exige-se desenvolver a exortação amorosa, num contexto também de
diálogo, nutrindo com a palavra de encorajamento, de admoestação, e até
confrontação amorosa. Ao conceito de noutese, portanto, acrescenta-se a
dimensão dialógica, com o objetivo de conquistar junto com o aconselhado,
mudanças que se iniciam no coração, e atingem o comportamento e o caráter.
Na perspectiva da noutesia a mudança de personalidade, segundo as
Escrituras, envolve confissão, arrependimento e o desenvolvimento de novos
padrões de conduta.

5.1.3. A ação noutética e a ajuda transformadora

O que motiva o aconselhamento noutético é o beneficio ao aconselhado.


O fim é glorificar a Deus abençoando as pessoas. A motivação, portanto não é
a punição, nem mesmo a confrontação em si, mas trazer ajuda transformadora
para o crescimento à semelhança de Cristo. O que motiva e sustenta a ação o
noutética é o amor revelado nas Escrituras que atinja o ser humano com a
graça de Deus para a glória do próprio Senhor.

A atitude de Adams em relação ao uso de alguma contribuição da


Psicologia tem sido compreendida como a de “exclusão”, e rejeita qualquer
ideia ligada ao conceito de doença mental. Para ele, não temos permissão de
traçar um paralelo com a enfermidade física, em que a causa não se deve
necessariamente ao pecado pessoal, portanto, de acordo com Adams, não
38

existe nenhuma área psicológica comparável a considerar. A analogia, ele


insiste, só pode ser feita entre o corpo e a nossa natureza interior, e esta última
está tão corrompida, que só podemos falar de sua pecaminosidade, não de sua
enfermidade. Hurding (2013, p.328) considera que este seria o ponto principal
no qual Adams simplifica bastante a perspectiva das Escrituras, de forma que o
leva a certa incoerência ao lidar com nossas naturezas interior e exterior.
Temos uma unidade intrínseca, mas, numa aparente discordância em relação
ao Adamns Hurding sugere que precisamos admitir ainda mais que temos
múltiplos aspectos, sendo que a Bíblia emprega ampla e rica série de palavras
e ilustrações em referência a nós.

Precisamos confirmar, junto com Adams, a “corrupção total da humanidade” –


sua condição decaída em todo aspecto do ser – mas igualmente precisamos
anunciar que ainda que somos com existência “à imagem e semelhança de
Deus! Dentro dessa corrupção e que vislumbres da glória ainda se fazem ver.
Deus é um Deus que outorga dádivas à humanidade, fala com sua criação e
por meio dela e tem interesse pela justiça e pela misericórdia na vida de todas
as pessoas. Adams tem uma visão muito limitada da natureza humana, o que o
leva a rejeitar a validade da psiquiatria, psicólogos clínicos e outros que
trabalham na esfera dos problemas psicológicos e emocionais. (HURDING,
2013, p. 328).

Somos desafiados portanto, a observar as grandes contribuições de Jay


Adams para o aconselhamento bíblico, principalmente no que diz respeito à
sua firmeza na luta contra o pecado e suas consequências. Mas, concordamos
com Hurding que seria importante ter uma visão mais ampla da graça comum
de Deus, em sua revelação geral, a partir da qual pessoas não cristãs, em
várias áreas das ciências humanas, não somente da Psicologia, tem
contribuições a serem consideradas a partir do crivo das Escrituras, como
contribuições que podem ser somadas às ações de ajuda da igreja. Nossa
aproximação da Psicologia deve ser bastante cautelosa, no entanto, nem
excludente e nem beligerante.
39

5.2. COLLINS, Gary R. Aconselhamento cristão

Gary Collins é outro conselheiro cristão americano que trouxe uma


contribuição relevante para aqueles que têm procurado ajudar pessoas em
suas lutas existenciais. O material exposto compreende os temas necessários
para um texto sobre introdução ao aconselhamento: aconselhamento cristão,
problemas mais frequentes, definições, explicações, aplicações e sugestões.

No entanto, Gary Collins tem sido criticado por uma ausência clara de
pressuposições. Gomes (2013) observa, por exemplo, quase que uma
aprovação da proposta de um aconselhamento eclético por parte de Collins (p.
54). Ele estaria expressando lealdade à Bíblia e à teologia (p. 18, 23, 24), mas
não labora até as últimas consequências sobre suas bases principais, e não
cuida de diferenciar as cosmovisões, Bíblia e pensamento secular. Em sua
crítica a Collins, Gomes observa que a Bíblia mesma estabelece que nenhuma
teoria humana é neutra, e que todas elas tendem à rebeldia do coração, isto é,
na mente e nos atos do corpo (ver Rm 1.18-32; 1Cr 28.9).

A falha em considerar que as diferenças de cosmovisões brotam do coração e


não da observação científica ou da intuição do senso comum, leva o autor a
alguns usos de teorias menos acuradas. De fato, são conceitos que fazem
parte da ideia da plausibilidade que sempre tem dominado as visões da cultura
secular. As diferenças entre o pensamento decaído e o pensamento cristão, e
as diferenças entre cosmovisões internas do pensamento secular e da
cristandade – tanto as irreconciliáveis quando as universais – existem porque o
coração do homem é enganoso e corrupto (cf. Jr 17.9). Assim, quando defende
um ecletismo psicológico e bíblico/psicológico, mesmo que argumente em favor
da supremacia da Escritura e da influência do Espírito Santo (condição sine
qua non para o aconselhamento cristão), Collins deixa de discernir alguns
pontos básicos. (GOMES, 2010, p. 119,120)

Outro aspecto nessa crítica é que Collins identifica termos bíblicos


teológicos com termos das psicologias, quando seus significados não são
correspondentes. Por exemplo, exortando os conselheiros a suprir suas
necessidades em Deus e a não agir “por necessidade” (p. 28), ele não leva em
conta que a totalidade do sistema de Freud é baseada no conflito da
necessidade instintiva de gratificação interna e de aprovação externa. O
40

mesmo é verdadeiro em relação a termos como autoconhecimento,


autorrealização e auto-estima (p. 40, 92s).

Assim, os princípios de hermenêutica – conhecimento do contexto


passado e aplicação presente – asseguram, em toda a Escritura, uma diretriz
sobre esse assunto. Finalmente, a Parte 4, cap. 21 (p. 371-384), e a Parte 8 (p.
658-695), respectivamente sobre inferioridade e auto-estima e sobre questões
espirituais, não apresentam problemas no tratamento interno e se mostram
confortáveis com o tratamento do assunto na Bíblia. O único problema é a
colocação dessas seções primordiais no meio e no final do volume (não pela
colocação em si, mas pelo tom geral do livro à luz das primeiras colocações).
De fato, esses assuntos deveriam ser as bases para o tratamento geral do
livro. Da maneira como está, perpetua a dicotomia entre questões da vida e
vida espiritual.

Gomes é conselheiro cristão, professor de teologia, escritor e teólogo


abalizado para a crítica apresentada aos trabalhos de Gary Collins, no entanto,
ele mesmo considera que uma aproximação cuidadosa de seu material pode
ser importante para o aconselhamento bíblico. De fato, observados os aspectos
necessários em relação aos cuidados, em termos de tendências
integracionistas da Psicologia com a Bíblia, cremos que Collins traz uma
grande contribuição ao aconselhamento e que não deve ser menosprezada
pelo estudioso da teologia no campo do aconselhamento.

5.3. ACONSELHAMENTO BÍBLICO EFETIVO: LARRY CRABB

5.3.1 Um modelo de comportamento humano

O ser humano é impulsionado para o alvo que ele presume, de forma


errada, que supriria o vazio da glória de Deus. Segurança e significado
passaram a ser as necessidades mais profundas do ser humano e só podem
ser satisfeitas em Deus. O Ser humano tinha antes da queda, segurança e
significado como atributos. Com a queda estes atributos passaram a ser
41

necessidades. O Alvo do aconselhamento Bíblico Efetivo é a Glória de Deus.


CRENÇA BÁSICA: Uma falsa suposição básica sobre como suprir as
necessidades mais profundas. Em geral as pessoas desenvolvem uma ideia
amplamente geral, que as dirige; MOTIVAÇÃO: O comportamento motivado é
dirigido sempre para um alvo. Se creio que algo suprirá a minha necessidade,
este algo torna-se meu alvo. O comportamento orientado por um alvo pode ser
inteligente, realista e razoável, ou pode ser ignorante, irrealista e totalmente
sem efeito. Assim, o alvo pode não ser atingido e a pessoa sentir-se ameaçada
porque as necessidades permanecem não supridas, tornando-se ansiosa ou
ressentida. Quando os alvos errados são atingidos: As pessoas podem se
mover efetivamente ou inefetivamente em direção aos seus alvos.
SATISFAÇÃO PARCIAL, TEMPORÁRIA; A maioria das pessoas “bem-
ajustadas” vive. Elas determinam alvos para suas vidas de acordo com suas
posições não bíblicas de como suprir sua carência da glória de Deus. Através
de trabalho ou “pura sorte” elas alcançaram seus alvos, têm dinheiro, bons
filhos, boa saúde, prestígios nos negócios. Algumas pessoas não têm
necessidade de Deus. SATISFAÇÃO PARCIAL, TEMPORÁRIA: É difícil
convencer essas pessoas de que o final desse caminho é morte pessoal;
DESESPERO EXISTENCIAL: Algumas pessoas, quando atingem todos os
seus alvos, enfrentam cara a cara o fato terrível de que a realização dos
sonhos realmente não trouxe satisfação. Ex. Marilyn Monroe. OBSTÁCULOS:
QUANDO OS ALVOS PROPOSTOS NÃO SÃO ATINGIDOS: O elemento
chave por trás da maioria dos sintomas é um obstáculo que interfere na
tentativa de obtenção do alvo escolhido pelo indivíduo. “não consigo fazer com
que meu marido me ame”; “Por mais que eu tente acertar, contínuo errando” A
frustração advinda de um alvo não alcançado gera diferentes formas (sintomas)
SINTOMAS: As três emoções problemáticas por trás da maioria de nossas
dificuldades são culpa, ansiedade e ressentimento. Os obstáculos obstinados
que permanecem apesar dos melhores esforços de pessoas frustradas, caem
com maior frequência dentro de uma destas três categorias:
42

5.3.2 As principais críticas que Crabb tem recebido

As críticas também estão relacionadas às tendências de integracionismo


de princípios bíblicos com teorias psicológicas, com tendências às propostas
de ajuda que procuram responder às necessidades psicológicas humanas. O
aconselhamento de necessidades psicológicas é criticado por não se verificar
nas Escrituras qualquer ênfase a este tipo de proposta. O aconselhamento
busca sim, a glória de Deus, neste sentido, o ser humano deve ser ajudado não
a buscar suprir necessidades psicológicas e sim a viver de tal forma que
glorifique ao Senhor, respondendo à sua vontade revelada em sua Palavra. De
fato, as tendências de percepção de necessidades psicológicas tende a ser
bastante influenciada pelo pensamento secular, e muitas vezes, as pessoas
assumem posição de vítimas, possibilitando, quem aceita esta proposta a
trabalhar com o ser humano na perspectiva antropocêntrica. Dessa forma,
cremos que com os cuidados indicados, uma aproximação das contribuições
de Crabb, para o aconselhamento, é importante e deve se levar em conta na
construção de uma abordagem bíblica de aconselhamento de ajuda.

5.4. Howard Clinebell: Aconselhamento Pastoral: Centrado em libertação


e crescimento

Os pressupostos de Clinbell são revelados sem dificuldade. Ele parte de


uma perspectiva integracionista. O comprometimento de Clinebell com a ideia
de crescimento psicológico significa que está aberto para aprender com todo o
elenco de ideias do movimento secular de Psicologia. Para Roger Hurding,
Clinebell tem a Bíblia em alta estima, sem considerar necessário apresentar
uma visão pormenorizada acerca de sua inspiração e confiabilidade.
o humanista do crescimento e também com várias terapias "

As Escrituras proporcionam um insight único e abrangente da natureza


humana. São como fonte essencial de cura, de ensino e de consolo no
aconselhamento. Clinebell entende que a dimensão de crescimento está
profundamente arraigada no registro bíblico. Ele cita, por exemplo, a palavra
sobre o justo como uma “árvore plantada junto a corrente de águas”
43

( Sl. 1), a orientação de nosso Senhor para nos tornarmos “como uma criança
com o propósito de entrar no reino de Deus (Lc 18.17), e o quadro que Paulo
apresentou do crescimento rumo à semelhança de Cristo (Ef 4.11-16). 0
impulso de crescimento é considerado uma “dádiva de Deus” e parte
fundamental de nossa natureza criada.

Ele encara essa “potencialização” sob o aspecto de certa forma


rogeriano quando escreve “que os homens possuem uma enorme e
inaproveitada criatividade, inteligência e capacidade para vidas socialmente
úteis e pessoalmente realizadas...”. Contudo ele tem consciência do “otimismo
superficial de alguns aspectos do movimento do potencial humano, e sustenta
que “insights bíblicos sobre a natureza da vida humana e do crescimento”
podem enriquecer, informar e corrigir essas ideias erradas.

Ele questiona a “interpretação teológica clássica da ‘queda’ como a


descrição de algum defeito irreparável em nossa humanidade”, e rejeita a idéia
de que o mal humano é “inerente e inevitável.” Contudo, a compreensão de
Clinebell acerca da nossa condição decaída não nega a prevalência e o
potencial destruidor de nossos caminhos ímpios, pelo contrário, afirma a
necessidade de não sermos passivos e de termos uma reação positiva perante
Deus, em face de nossa pecaminosidade.

Os objetivos do aconselhamento de crescimento postulado por Clinebell


são descritos sob o aspecto de crescimento, libertação e integralidade. O
“núcleo integracional” de todo desenvolvimento pessoal, é um “crescimento
espiritual” do indivíduo um crescimento que inclui “consciência, decisão,
liberdade, significado, compromisso e a qualidade da vida espiritual da pessoa
e de sua relação com Deus”. A libertação pessoal e a libertação social são
temas importantes.

Ele defende que um aspecto crucial da revelação bíblica é mostrar a


necessidade que a humanidade tem de se libertar de toda forma de opressão.
No aconselhamento de crescimento, os processos de “crescimento e
libertação” ajudam o cliente a avançar em direção ao “alvo unificador que é a
“integridade”. Clinebell vê esse objetivo como uma “caminhada de
crescimento”, e não como um “alvo imutável”. Ele iguala “integridade” com o ter
“vida em abundância”, que Jesus ofereceu (Jo 10.10).
44

O “crescimento rumo à integridade” é buscado em seis “aspectos


interdependentes”: O despertamento da mente, que tem por objetivo uma
consciência, uma percepção e uma criatividade cada vez maiores;

o revigoramento do corpo, até mesmo “aprendendo a experimentar e a


aproveitar mais plenamente o próprio corpo” A renovação e o enriquecimento
de relacionamentos íntimos; a interação crescente com o ambiente e um
cuidado por ele; o progresso em relação às instituições e melhoria no trabalho
com outros; e como fator unificador de todas as áreas, o aprimoramento de um
relacionamento pessoal com Deus

Ele estabelece firmemente seu aconselhamento de crescimento no do


cuidado pastoral como a “utilização de uma variedade de métodos de cura
(terapêuticos), para ajudar as pessoas a lidar com seus problemas e crises de
forma mais madura e, assim, experimentar a cura da condição alquebrada”. O
conselheiro pastoral é alguém capaz de frequentemente abrir mão da
formalidade do ambiente do gabinete pastoral, saindo para alcançar os outros
nas ruas, em seus lares ou no trabalho.

O chamado significa que se podem tomar iniciativas bem incabíveis ao


aconselhamento “Secular”. Clinebell considera fundamental a importância do
relacionamento do terapeuta e paciente, entre conselheiro e cliente.

Ele descreve sua abordagem como um “novo paradigma centrado no


crescimento e na libertação holistas, uma estrutura para o cuidado para o
aconselhamento de libertação com a integridade ética e ética em seu centro”.
O holismo, termo derivado do grego holos chegou até nós por meio do inglês
holism e cunhado pelo Marechal-de-Campo Smuts, na década de vinte, é
definido como “a tendência na natureza de produzir totalidades a partir dos
grupos ordenados de unidades”.

Elenco de atitudes encontradas entre os conselheiros perante seus


clientes:

1. Avaliação, que encerra tanto o julgamento quanto a implicação que o cliente


“pode ou deve fazer”. Aqui, um conselheiro poderá dizer: “Parece-me que
nessa situação você é o responsável”. 2. Interpretação, em que existe um
45

elemento de explicação e ensino que poderia levar a uma afirmação do tipo: “O


que você acabou de dizer tem que ver com sua desconfiança de seu pai”

3. Apoio, em que o conselheiro procura reanimar e reforçar a estrutura do


cliente, dizendo, por exemplo: terei condições de vê-lo regularmente, de
maneira que, se surgirem dificuldades, poderemos discuti-las imediatamente” 4
. Investigação, em que existe um espírito de pesquisa e exploração que suscita
perguntas como: “Parece que você se perturba, sempre que menciono seu
patrão; você pode me dizer exatamente como se sente quanto à maneira como
ele o trata?”. 5. Compreensão, em que o conselheiro mostra seu entendimento
da situação do cliente, o que é indicado por palavras como: Tudo bem.
Obrigado por explicar o que aconteceu ontem à noite. Pelo que posso
perceber, você tem a sensação de estar sendo enganado. Será que eu entendi
direito? 6. Recomendação, em que se fazem sugestões construtivas, como por
exemplo: ‘Proponho que você e sua esposa passem meia hora juntos todas as
noites — ouvindo de verdade um ao outro”.

A crítica ao integracionismo de Clinebell não é exagerada, ele é muito


eclético, o que pode trazer prejuízos sérios para o aconselhamento bíblico, se
pessoas desavisadas aplicarem sem críticas o seu material. No entanto, com
uma análise crítica de seu integracionismo, cremos que há algumas pérolas no
trabalho de Clinebell que não podemos desprezar. O uso das Escrituras, a
ênfase na autoridade pastoral, o aconselhamento no contexto da comunidade,
a visão de crescimento e libertação, desde que se compreenda a sua proposta
de forma mais aproximada do que as Escrituras chama de crescimento e
libertação. Possivelmente, neste sentido, o maior problema esteja na influência
tão grande recebida de Carl Rogers, ainda que ele resista às tendências
rogerianas em relação à bondade intrínseca no ser humano, ainda assim, sua
visão da queda está prejudicada teologicamente.
46

5.5. David Powlison. Uma nova visão

Resenha por Robert Kellemen

“Um modelo abrangente e centrado em Cristo para a construção de uma


teologia bíblica do aconselhamento com base em uma psicologia bíblica da
natureza humana.” Com estas palavras Bob Kellemen dá início à resenha de
Uma Nova Visão publicada em português pela Editora Cultura Cristã.

Pensar os pensamentos de Deus à maneira de Deus: Powlison define o


aconselhamento de maneira muito prática como “conversas que têm a intenção
de ajudar”. Seu objetivo em Uma Nova Visão é equipar os leitores para que
olhem para estas conversas espirituais pela perspectiva de Deus − a “nova
visão” do título. Passamos a ver cada aspecto da vida e do ministério de forma
inteiramente diferente quando os olhos de Deus se tornam nossa lente. O
modelo comum e muito útil da criação, queda e redenção é utilizado por
Powlison para expor a visão bíblica acerca das pessoas, dos problemas e das
soluções. É por meio desta estrutura conceitual tríplice que Uma Nova Visão
procura ajudar a Igreja no cuidado e cura das almas. A premissa é simples e
profunda: Deus tem algo a dizer sobre o aconselhamento? A resposta de
Powlison é afirmativa: o olhar de Deus apreende as milhares de questões
ligadas ao aconselhamento. Uma Nova Visão aspira a escutar bem, olhar com
atenção, pensar com afinco dentro do modelo do olhar de Deus.

Por vezes, o aconselhamento bíblico tem sido lento no enfatizar o


sofrimento, concentrando-se quase que exclusivamente no pecado. É
encorajador, portanto, ver Powlison investir dois capítulos importantes para
trabalhar o porquê e o como do sofrimento, utilizando os Salmos como seu
guia. Estes capítulos estabelecem uma teologia bíblica do sofrimento, útil tanto
para quem passa pelo sofrimento como para quem é chamado a se colocar ao
lado do sofredor e ajudá-lo.
47

Qual é a essência da natureza humana: por que fazemos o que fazemos?

Após compartilhar um modelo básico para a construção de uma teologia


bíblica do aconselhamento, Powlison mostra agora como construir uma
psicologia bíblica − uma visão bíblica da “teoria da personalidade”. Na prática,
ele faz e responde, a partir da perspectiva do Criador, a pergunta “O que nos
motiva?” O valor desta seção consiste em Powlison insistir na construção de
uma visão da natureza humana não coram anthropos (pela perspectiva da
humanidade), mas coram Theos (pela perspectiva de Deus). Podemos
entender as pessoas por meio de pessoas ou podemos entender as pessoas
por meio de Deus. Powlison escolhe justamente compreender a criatura não
através da criatura, mas através do Criador.

Estes nove capítulos abordam, de forma panorâmica, quase todas as


questões nas quais o conselheiro bíblico precisa refletir para o
desenvolvimento de uma abordagem cristã da natureza humana. Em cada
caso, Powlison mostra as explicações de acordo com a visão do mundo e
então compartilha a visão de Deus, sempre com um olhar perspicaz para
aplicações práticas e implicações ministeriais.
48

CAPÍTULO 6. O PERFIL DO CONSELHEIRO BÍBLICO

O perfil do conselheiro bíblico precisa ser definido em vários aspectos


como o perfil do próprio pastor, pois estas demonstram as qualidades do
cristão maduro e capacitado para o aconselhamento que envolve o cuidado
espiritual de pessoas.

6.1. Alguém que ama a Palavra de Deus sendo nela instruído para o
ministério.

Se alguém espera ajudar pessoas no aconselhamento, não precisa de


cargo, ou mesmo de função reconhecidamente pública por parte da liderança
da igreja. Como já foi observado, o aconselhamento pode e deve ser uma
prática de toda a igreja, mas é imprescindível, que se busque pela instrução da
Palavra, que deve habitar ricamente na vida do conselheiro. Por isso, cristãos
devem ser inseridos, todos, no processo de discipulado. O discipulado proposto
por Cristo não envolve apenas lições iniciais para a fé e a vida cristã.
Discipulado no modelo de Cristo, envolve uma longa caminhada até que a
pessoa seja capacitada para liderar e discipular outras. Jesus afirmou que no
processo do discipulado o ensino deveria envolver uma caminhada relacional,
na qual as verdades do evangelho, de forma ampla deveriam ser transmitidas
pessoa a pessoa. “Ide fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-lhes a guardar todas as
coisas que lhes tenho ordenado.”(Mt. 18.19).

Certamente que a razão de não termos uma comunidade rica em


conselheiros maduros, é porque não temos cumprido a ordem de Cristo. Não
fazemos discipulado, fazemos às vezes alguns treinamentos para as pessoas,
mas longe do modelo de Cristo. Jesus discipulou aqueles primeiros crentes,
caminhando com eles, gastando sua própria vida em favor deles. Comiam
juntos, experimentaram lutas, provações, tristezas e vitórias juntos numa
caminhada íntima. Porto, é urgente que voltemos a cumprir a ordem de Cristo
de fazer discípulos no modelo que ele mesmo nos ofereceu. Quando pessoas
49

em processo de discipulado, forem ensinadas em amor, a guardar e praticar os


ensinamentos de Cristo, teremos muito mais pessoas nas quais a Palavra de
Deus estará habitando ricamente, sendo pois aptas a ensinar e aconselhar de
acordo com o coração do Senhor.

6.2. Alguém que está crescendo em integridade

Collins (2000), fala de auto coerência e afirma:

O conselheiro deve ser essencialmente coerente como indivíduo, com


suficiente consciência para enxergar as próprias fraquezas Precisa ser
suficientemente seguro em sua personalidade, a fim de suportar as
tempestades em potencial, resultante de ajudar alguém em dificuldades.
Não apenas sentir interesse e respeito para com o aconselhado, mas
também ser capaz de expressar aquela “consideração
positiva.(COLLINS,

Integridade ou autocoerência, implica a perspectiva de Paulo em relação


à pessoa que está procurando ser mais parecida com Cristo a cada dia de sua
vida. Ele fala do alvo da “perfeita varolidade de Cristo Jesus”, que deve ser
compreendido como maturidade cristã, que é desenvolvida em um processo, o
processo da jornada da vida cristã. Não tem a ideia de um lugar que se chega,
e sim de uma jornada de crescimento Cleinebell (2.000, p. 52), observa que:
“As imagens de crescimento na Bíblia demonstram inequivocamente que a
integralidade era compreendida como um processo contínuo, não como um
alvo estático a ser alcançado de uma vez para sempre.”

Somos obras inacabadas de Deus, ele está trabalhando em nossas


vidas e para glória dele mesmo, vai completar esse trabalho em nossas vidas
até o dia de Cristo. (Fl 1.6).Nesse nosso inacabamento, somos desafiados a
este crescimento até a maturidade, uma jornada de crescimento segura, mas
que envolve nossas lutas e crises em direção ao alvo proposto. Essa
consciência nos ajuda a voltar constantemente ao próprio evangelho e receber
forças, para diante do arrependimento quando de nossas falhas, não ficarmos
prostrados, mas também seguir em crer e obedecer ao Senhor que está
50

trabalhando em nossas vidas. Da mesma forma, fomos desafiados, pois os


médicos precisam cuidar de si mesmos. Precisamos fugir da hipocrisia
farisaica, bem como da autocomplacência derrotista. Uma pessoa que busca
crescer em integridade, é alguém, como observamos nas palavras de Collins já
citadas, coerente consigo mesmo e com os outros, que reconhece suas lutas e
limitações, mas está lidando de forma coerente com suas próprias tentações e
lutas e ser capaz de suportar as tempestades com outras pessoas, fugindo da
liderança firmada apenas em aparência, por isso envolve a ideia também de
autenticidade.

6.3. Alguém que desenvolve compaixão

O termo bíblico que caracteriza os sentimentos de Cristo diante das


pessoas em grandes sofrimentos é compaixão. A expressão grega
esplagcnisth), compaixão, profunda compaixão, envolve a ideia
de que o próprio ser foi atingido pela dor do outro, promovendo uma atitude de
busca para que alguma coisa seja feita pelo ferido. Jesus estava ensinando as
multidões, pregando e curando suas feridas, neste processo ele estava em
contato pessoal com as multidões, com suas feridas abertas e clamores, diz-
nos a Palavra que ele foi afetado pelo que via, “Vendo Jesus as multidões
aflitas e exaustas como ovelhas sem pastor, compadeceu-se delas”. Mack
afirma que “Jesus sofria com as necessidades das multidões. Ele sentia algo
profundo por elas e se preocupava com elas. A compaixão de jesus(Mateus
9.35,37,38). Longe de ser um conselheiro frio e mecânico, que simplesmente
atacava os problemas das pessoas e tratava as pessoas como estatísticas,
Jesus era motivado pela compaixão que sentia por elas. Outro conselheiro
bíblico que era cheio de compaixão foi Paulo. Ele era um homem que se
preocupava com as pessoas e sofria com as dores delas. Mesmo quando
Paulo as exortava observa Mack (2004, p. 207) “suas lágrimas comunicaram
um coração compassivo, cuidadoso e amoroso. “...Noite e dia, não cessei de
admoestar, com lágrimas, a cada um”. (At. 20.31).
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Uma pessoa que pretende ser conselheiro, não pode ser uma pessoa
indiferente, sabemos que essa deve ser uma atitude e sentimentos que
deveriam ser vistos em todos os cristãos indistintamente, mas nem sempre é
assim, no entanto, de forma bem direta e específica, conselheiros precisam ter
isso tipo de amor e sentimento expressos em atitudes de busca em direção ao
que sofrem. De acordo com Mack (2004, p. 205), é necessário um vínculo por
meio da compaixão, e, para ele, “O vínculo se estabelece quando as pessoas
sabem que você se preocupa sinceramente com elas.”

Já mencionamos a história do leproso que chegou para Jesus, clamando


por cura. Marcos nos diz que Jesus ficou “profundamente compadecido”. Em
todas as ocasiões somos desafiados pelo amor que envolvia o coração e as
atitudes de Jesus.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ADAMS Jay E. Conselheiro Capaz, São Paulo, Editora Fiel, 1970.18.

--------------------O Manual do Conselheiro Cristão. São Paulo, Editora Fiel,


1982.

COLLINS, R. Gary, Aconselhamento Cristão. São Paulo: Sociedade Religiosa e


Edições Vida Nova, 1980.

CRABB, Lawrence J. Jr. Aconselhamento Bíblico Efetivo, Refúgio Editora,


Brasília, 1985.

MACK, A Wayne. O processo do aconselhamento bíblico: In: MACARTHUR,


John. Jr. Introdução ao aconselhamento bíblico. São Paulo: Hagnos, 2004.

POWLISON, David. O aconselhamento bíblico no século 20. In: MACARTHUR,


John. Jr. Introdução ao aconselhamento bíblico. São Paulo: Hagnos, 2004.

_______________. Uma nova visão. São Paulo: Editora cultura cristã, 2010.

TRIPP, Paul, David. Abrindo olhos vedados: outra visão da coleta de dados.
Aconselhamento Bíblico, coletânea, volume 2. Atibaia: Seminário Bíblico
Palavra da Vida, 2000.

WELCH, Edward. T, Mas afinal, o que é aconselhamento bíblico?


Aconselhamento Bíblico, coletânea, volume 2. Atibaia: Seminário Bíblico
Palavra da Vida, 2000.

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