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COMPÊNDIO DE CIRURGIA

VETERINÁRIA
Rafael Festugatto

1 Adaptado do Manual de Cirurgia


Veterinária. Alceu Gaspar
Raiser, Ney Luis Pippi, Claudio
Edição 2023
Tiellet. 2001.
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CIRURGIA VETERINÁRIA

DEFINIÇÃO DE CIRURGIA VETERINÁRIA

É o ramo da Medicina Veterinária que trata total ou parcialmente as moléstias por processos
manuais com a finalidade de produzir modificações úteis ao organismo animal, ou ainda, para um
propósito específico:

1. Aumento do valor econômico dos pacientes: Ex: orquiectomia em equinos, descorna em


bovinos;
2. Prevenção de doenças em animais de estimação, por meio de operações como
ovariohisterectomia (OH) e orquiectomia;
3. Diagnóstico de doenças através de cirurgias exploratórias: celiotomia exploratória;
4. Abordagem com objetivos pré-determinados ou para o tratamento de afecções cirúrgicas:
introdução de cateteres para a verificação da pressão sanguínea, cistorrafia nas perfurações
traumáticas de bexiga;
5. Tratamento de doenças como a reparação de ossos fraturados (aplicação direta da cirurgia) ou
como numa neurectomia digital posterior no equino, para aliviar a dor secundária a um
processo patológico (aplicação indireta da cirurgia);
6. Cirurgia cosmética ou plástica - nem sempre necessária e regida por legislação específica;
7. Pesquisar através da cirurgia experimental - oferece um importante recurso na pesquisa
biomédica.

ETMOLOGIA

A palavra cirurgia origina-se do grego, onde: Cheir: mão; Ergon: trabalho

CLASSIFICAÇÃO DAS CIRURGIAS


1. conforme a técnica empregada
2. conforme a finalidade (resultado)
3. quanto ao tempo até a realização da cirurgia
4. quanto ao porte (dificuldade)
5. quanto ao risco de morte
6. quanto a presença de microrganismos
7. quanto a hemorragia
8. quanto ao tipo de cirurgia
9. quanto a especialidade
10. quanto a necessidade

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1. Conforme a técnica:
Conservadora - manutenção do tecido ou órgão afetado. Ex: nodulectomia – med. humana;
Extirpativa - remoção de órgãos ou tecidos doentes, total ou parcialmente. Ex: amputação, OH
Reconstrutiva - reconstrói órgãos ou tecidos. Ex: osteossíntese.

2. Conforme a finalidade (resultado):

Curativa - Elimina a causa da doença. Salvar a vida. Ex: traqueostomia


Paliativa - Melhorar qualidade de vida. Ex: tumor com metástase em outro órgão

3. Quanto ao tempo até a realização da cirurgia:

Programada ou eletiva- a espera não compromete a saúde do paciente


Emergência - exige ação imediata. Risco de morte iminente. Ex: parada cardiorrespiratória
Urgência - espera provoca danos à saúde do paciente, mas pode ser adiada por alguns dias. Ex: fratura
exposta

4. Quanto ao porte (dificuldade):

Pequeno - simples, estruturas externas – flap de pele


Médio - simples, com abertura de cavidades, curta duração - OH
Grande - complexas, várias estruturas, equipamentos especializados, longa duração – laparotomia
exploratória.

5. Quanto ao risco de morte:

Leve - baixo risco (eletivas, pequeno e médio porte) - abscessos


Moderado - requer medidas para evitar a morte (piometra, torção gástrica)
Grave - funções vitais comprometidas (contusão pulmonar, torção gástrica)

6. Quanto à presença de microrganismos:

Asséptica - ausência ou presença mínima de bactérias


Séptica - locais com presença ativa de microrganismos
Potencialmente Séptica - locais com microbiota

7. Quanto à hemorragia:

Cruenta - excessiva perda sanguínea


Incruenta - pouca hemorragia

8. Quanto ao tipo de cirurgia:

Regular – planejada. Ex: OH


Irregular - sem plano – complicada. Ex: perfuração intestinal
Experimentais – pesquisas. Ex: rumenostomia

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9. Quanto à especialidade:

Cardiovascular
Torácica
Abdominal
Neurocirurgia

10. Quanto à necessidade:

Necessária - único meio de tratamento e/ou diagnóstico


Eletiva – é um procedimento cirúrgico planejado, onde os pacientes são avaliados e estabilizados antes
da cirurgia
Utilidade Zootécnica - facilitar manejo ou aumentar valor econômico
Reconstrutiva ou plástica - restabelece função de órgão ou estrutura
Estéticas - desnecessárias, proibidas ou não recomendadas

Procedimentos proibidos ou não recomendados:

Pequenos animais:
São considerados procedimentos proibidos na prática médico-veterinária: caudectomia,
conchectomia e cordectomia em cães e onicectomia em felinos.

Animais de produção:
São considerados procedimentos proibidos na prática médico-veterinária: castração
utilizando anéis de borracha, caudectomia em ruminantes (a caudectomia é permitida
apenas em ovinos de raças lanadas, desde que previamente submetidos à anestesia e
analgesia).

Suínos:
Corte de dentes e caudectomia em neonatos – não recomendados

Aves domésticas:
Debicagem- não recomendado

Animais silvestres:
As cirurgias realizadas em animais silvestres devem ser executadas de preferência em
salas cirúrgicas ou em ambientes controlados e específicos para este fim. Fica proibida a
realização de cirurgias consideradas mutilantes, tais como: amputação de artelhos e
amputação parcial ou total das asas (a amputação parcial ou total das asas, pode ser
realizada em famílias de aves cujo comportamento reprodutivo dispensa o voo ou que
passam boa parte do tempo em atividade no solo e/ou na água, desde que mantidas em
instituições credenciadas pelo IBAMA ou órgão de competência similar, e que sejam
previamente submetidas à anestesia e analgesia).

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TÉCNICA CIRÚRGICA
Resulta da reunião e classificação de muitas manobras gerais, ordenadas e executadas em uma
determinada região anatômica, com finalidade didática, descritiva e de estudo. A Técnica Cirúrgica
Geral estuda as manobras cirúrgicas básicas, como a ligadura de vasos, empunhadura de instrumentos.
A Técnica Cirúrgica Especial estuda os tempos operatórios: diérese, hemostasia e síntese.

FINALIDADE

- Cirurgia humana: salvar ou manter a vida dos pacientes a qualquer custo, muitas vezes exigindo
mutilações.
- Cirurgia veterinária:
- Pequenos animais: apresenta-se da mesma forma que a humana, pois existe envolvimento
afetivo entre paciente e cliente.
- Grandes animais: geralmente ocorrem limitações de ordem econômica, cujo principal objetivo
passa a ser a qualidade de produção e trabalho do paciente.

PRÉ, TRANS E PÓS-OPERATÓRIO

O período pré-operatório envolve desde as manobras gerais, como a preparação do local da


cirurgia, esterilização dos instrumentos, coleta de material para exames laboratoriais, banho do
paciente, jejum, preparação do campo operatório, aplicação de soro, antibiótico profilático (se
necessário), contenção do paciente, anestesia, tricotomia, posicionamento na mesa e anti-sepsia.
O período trans-operatório compreende manobras como a diérese, hemostasia, procedimentos
especiais e síntese.
O período pós-operatório, que passa pela remoção das suturas, inclui a limpeza da ferida,
colocação de bandagens, administração de medicamentos e procedimentos de monitoração sistêmica.
O período do pós-operatório imediato vai até a recuperação do paciente da anestesia.

TERMINOLOGIA
Algumas cirurgias são nomeadas por um ou por combinação dos seguintes métodos:

- nome de uma pessoa credenciada após ter desenvolvido ou modificado um procedimento. Como
exemplo temos a operação de Zeep, ou a modificação de Zeep para a cirurgia de Lacroix, ambos
procedimentos para a ressecção lateral do conduto auditivo externo do cão.

- nomes descritivos, formados por uma combinação de sufixos gregos ou latinos com termos
anatômicos. O radical ou prefixo indica o órgão em referência e o sufixo indica o procedimento
cirúrgico. Segundo a etimologia, os seguintes prefixos e sufixos são mais usados:

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PREFIXOS ÓRGÃO SUFIXOS (indica o tipo)
ADENO - glândula TOMIA - secção, abertura
CISTO - bexiga ECTOMIA - retirada, remoção
COLE - vesícula OSTOMIA - ligação, abertura de boca, comunicação
COLO - cólon RAFIA - sutura
COLPO - vagina PEXIA - fixação
ENTERO - intestino PLASTIA - plástica, dar nova forma
ESPLENO - baço PUNCTURA - perfuração
GASTRO - estômago CENTESE - punção
HISTERO - útero CELE - hérnia
MIO - músculo
NEFRO - rim
NEURO - nervo
OFTALMO - olho
OVÁRIO - ovário
ORQUI - testículo
OSTEO - osso
OTO - ouvido
PNEUMO - pulmão
PROCTO - reto
RINO - nariz
SALPINGO -trompa
TENO - tendão
TRAQUEO - traquéia
VENO - veia

Da junção dos prefixos com os sufixos resultam as várias palavras em cirurgias, com diferentes
significados, como:

Adrenalectomia = remoção de uma ou ambas as glândulas adrenais


Anastomose = comunicação entre duas estruturas (órgãos, vasos)
Artrodese = tratamento cirúrgico que promove a fusão articular
Artrotomia = exposição cirúrgica de uma articulação
Cauterização = destruição tecidual com eletricidade
Celiotomia = abertura cirúrgica da cavidade abdominal
Cistorrafia = sutura da bexiga
Cistotomia = abertura cirúrgica da bexiga
Colecistectomia = remoção da vesícula biliar
Colocefalectomia = remoção cirúrgica da cabeça e colo femorais
Colostomia = exteriorização cutânea de uma parte do intestino grosso
Deiscência = abertura espontânea de suturas cirúrgicas
Dermorrafia = sutura da derme
Divertículo = cavidade patológica terminada em fundo de saco e que se comunica com um conduto natural
Enterectomia = remoção (ressecção) de uma parte do intestino
Enteroanastomose término-terminal = ressecção intestinal e reestabelecimento das extremidades divididas
Enterorrafia = sutura do intestino
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Enucleação = remoção do globo ocular, membrana nictitante, glândulas orbitais
Enxerto = transplante de tecidos sem nutrição sanguínea
Episioplastia = cirurgia plástica da vulva
Esofagectomia parcial = remoção (ressecção) de uma parte do esôfago
Esofagotomia = abertura cirúrgica do esôfago
Esplenectomia = remoção cirúrgica do baço
Eventração = saída de órgãos/tecidos abdominais para fora da cavidade e sob a pele
Evisceração = saída de vísceras abdominais para fora da cavidade e sobre a pele
Exérese = Remoção diagnóstica e/ou terapêutica de tecidos
Fístula = comunicação anormal entre dois órgãos, entre um órgão e a superfície do corpo, entre regiões
corporais.
Gastrectomia parcial = remoção (ressecção) cirúrgica de uma porção do estômago
Gastrojejunostomia = formação de uma comunicação entre estômago e jejuno
Gastropexia = fixação cirúrgica do estômago
Gastrotomia = abertura cirúrgica do estômago
Hemoperitônio = acúmulo anormal de sangue na cavidade peritoneal
Hepatectomia parcial = remoção de uma parte do fígado
Higroma = qualquer edema do tecido crônico que contém fluido sérico que se desenvolve como um resultado de
trauma compressivo crônico sobre uma proeminência óssea
Histerotomia = abertura cirúrgica do útero
Jejunostomia = exteriorização cutânea do jejuno
Linfadenectomia = remoção (ressecção) de um linfonodo
Lumpectomia – remoção cirúrgica de uma massa ou parte de uma mama
Mandibulectomia parcial = remoção de uma parte da mandíbula
Mastectomia = remoção cirúrgica da glândula mamária
Maxilectomia parcial = remoção de uma parte da maxila
Mucocele salivar = coleção de saliva secretada por uma glândula ou ducto salivar lesionado que é envolvida por
tecido de granulação
Nefrectomia parcial = ressecção cirúrgica de uma porção do rim
Nefrotomia = abertura cirúrgica do rim
Neogastroduodenostomia = criação de uma nova conexão entre o estômago e o duodeno
Omentopexia = fixação do omento
Onicectomia = remoção da 3ª falange digital
Ostectomia = remoção cirúrgica de um segmento ósseo
Osteotomia = procedimento em que o osso é seccionado em dois segmentos
Ovariohisterectomia = remoção dos ovários e útero
Pancreatectomia parcial = remoção (ressecção) de uma parte do pâncreas
Paracentese = abertura de uma cavidade corporal para aspiração
Pericardiectomia subtotal = remoção cirúrgica de uma porção do pericárdio
Piloroplastia = incisão em toda espessura e reorientação do tecido para aumentar o diâmetro da região da
válvula gástrica
Piotórax = acúmulo anormal de pus na cavidade torácica
Queiloplastia =cirurgia corretiva dos lábios
Ressecção = retirada parcial (extremidades) ou total de um órgão
Retalho pediculado = são flaps de epiderme e derme com inserção vascular, retirados de um local doador e
utilizados no reparo da ferida
Tarsorrafia = fechamento temporário das pálpebras
Tiflectomia – remoção (ressecção) cirúrgica do ceco

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Tireoidectomia = remoção (ressecção) da tireóide
Toracocentese = punção do tórax
Toracorrafia = sutura do tórax
Toracotomia = abertura cirúrgica do tórax
Traqueostomia = abertura temporária ou definitiva da traqueia
Traqueotomia = abertura cirúrgica da traqueia
Ureteroneocistostomia = implantação de um ureter na bexiga
Ureterorrafia = sutura do ureter
Ureterotomia = abertura cirúrgica do ureter
Uretrostomia = criação de uma fistula permanente na uretra
Venopunctura = perfuração de uma veia

PRINCÍPIOS DA TÉCNICA CIRÚRGICA ATRAUMÁTICA E ASSÉPTICA

(Doutrina de HALSTED)

Baseada no conceito histológico em que os tecidos vivos são formados por células unidas por
tecido elástico fino e com fibrilas nervosas, capilares, vasos linfáticos e sanguíneos. O rompimento
destas células pelo trauma cirúrgico propicia a liberação de enzimas que retardam a cicatrização. Por
este motivo deve-se minimizar o traumatismo cirúrgico.
A prevenção do trauma faz-se através de um bom planejamento da cirurgia, trabalho em
conjunto, boa iluminação, controle da força, conhecimento da anatomia topográfica, controle dos
movimentos e gestos, busca de um ponto de apoio para diminuir o tremor e da diminuição do tempo de
cirurgia.
As regras básicas que norteiam a doutrina da técnica cirúrgica atraumática são:
 cirurgião deve permanecer calmo durante os tempos operatórios;
 movimentos mínimos e precisos;
 dissecar somente o indispensável;
 reduzir a exposição de tecidos ao mínimo;
 manipulação suave;
 uso de instrumentos e técnicas corretas;
 evitar o ressecamento tecidual.

CIRURGIA E CONTAMINAÇÃO

O conceito do controle da infecção de uma ferida cirúrgica tornou-se um preceito dentro da


cirurgia no final do século XIX, quando Lister descreveu o “Princípio Antisséptico da Prática
Cirúrgica”. A introdução da utilização de luvas cirúrgicas foi feita por Halsted, em 1913, sendo
incluída na prática rotineira da assepsia e da técnica cirúrgica meticulosa. A compreensão das
bactérias, bem como de seu papel na ferida cirúrgica, associando-se ao desenvolvimento dos
antibióticos contribuíram significativamente para a redução da contaminação bacteriana. A despeito
destes avanços, entretanto, a infecção e a septicemia pós-operatórias continuam entre as causas
importantes de morbidade e de mortalidade em pacientes cirúrgicos.

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INFECÇÃO DAS FERIDAS CIRÚRGICAS

Segue-se à invasão bacteriana a interação entre hospedeiro e bactérias, que irá determinar se o
tecido sofrerá infecção ou não. Os fatores determinantes para uma infecção são os microrganismos, o
ambiente tecidual local e os mecanismos de defesa sistêmica e local. A redução da defesa do tecido
hospedeiro, ou um maior número de bactérias e maior virulência das mesmas, predispõem a infecção.
A contaminação bacteriana da ferida cirúrgica é o maior determinante da infecção. O tempo de
exposição tecidual também interfere na infecção cirúrgica. Para uma cirurgia “limpa”, o risco de
infecção dobra a cada hora em que a ferida fica exposta na sala cirúrgica. Em seres humanos
demonstrou-se que transcorreu um período de 3 horas após a realização de uma ferida traumática para
que pudessem ser cultivados mais de 105 microrganismos/g tecido da ferida. A partir daí, firmou-se o
“período áureo” de cerca de 3 horas após a produção da ferida, durante o qual o inoculo bacteriano é
pequeno, e permite a oclusão segura da mesma. Entretanto, a virulência bacteriana, o ambiente tecidual
local e os mecanismos de defesa do hospedeiro devem ser considerados.
A flora bacteriana normal ou endógena geralmente é menos virulenta, mas tais bactérias podem
causar infecção em local que não o de origem. Microrganismos anaeróbios e entéricos Gram-negativos
são contaminantes comuns, quando ocorre exposição ao trato gastrintestinal distal. Quase todas as
membranas mucosas são habitadas por bactérias anaeróbias. Infecções que as envolvem são severas,
por causa das exotoxinas. Infecções mistas (aeróbias e anaeróbias) podem potencializar a virulência
das bactérias.

FONTES DE CONTAMINAÇÃO DA FERIDA

O ambiente cirúrgico é importante fonte de bactérias, mormente as aerógenas, que se depositam


sobre a ferida aberta. Igualmente, o número e o movimento de pessoas dentro do centro cirúrgico
afetam a quantidade de bactérias circulantes no ar. Quando há várias cirurgias marcadas para um
mesmo dia, as percentagens de infecção são mais baixas para o primeiro procedimento.
Os microrganismos que invadem uma ferida podem ser classificados como exógenos ou
endógenos. As fontes exógenas são o ar, instrumentos e fômites cirúrgicos, e o pessoal que transita no
ambiente cirúrgico. As bactérias endógenas provêm dos tratos respiratório, gastrintestinal, urogenital, e
da pele. Tais microrganismos respondem pela maioria das infecções pós-operatórias e septicemias. A
disseminação hematógena ou linfática é outra fonte menos comum de infecção endógena. As bactérias
exógenas e a flora cutânea endógena respondem pela maior parte das infecções nos procedimentos
cirúrgicos limpos.
A classificação das feridas em limpa, limpa-contaminada, contaminada e “suja” ou
infeccionada data de 1964, baseada no nível de contaminação. Entretanto, esta classificação tem sido
questionada por não considerar o ambiente tecidual local e as defesas do hospedeiro.
As bactérias endógenas podem colonizar o tecido através de contato direto, também chamada
de “instalação primária”. As infecções produzidas em cirurgias limpas -contaminadas ou contaminadas
geralmente são provenientes de invasão direta até o intestino ou, do trato urinário ou biliar
infeccionado.

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AMBIENTE TECIDUAL DA FERIDA

A quantidade de bactérias necessárias para a produção de infecção numa ferida varia com o
ambiente local. Há necessidade de tecido viável e sadio para que se estabeleça uma defesa contra as
bactérias invasoras. Lesão tecidual, redução da irrigação sanguínea local e a presença de material
estranho inibem os mecanismos locais de defesa e são fatores que contribuem para o desenvolvimento
de uma infecção. A vascularização e a perfusão tecidual adequada são necessárias para que ocorra a
emigração e exsudação de leucócitos. A isquemia tecidual reduz a resposta inflamatória. Alterações no
fluxo sanguíneo tecidual, causado por bisturi elétrico ou laser, tornam a ferida mais susceptível à
infecção, assim como o choque ou a epinefrina, por causa da vasoconstricção e isquemia tecidual. A
redução do oxigênio tecidual também interfere com a atividade dos leucócitos, porque estes capturam o
oxigênio molecular e o convertem em radicais de alta energia, que são tóxicos às bactérias.
Corpos estranhos como material de sutura, drenos e implantes ortopédicos potencializam as
infecções. Alguns materiais de sutura possuem capilaridade e aderência bacteriana. Implantes
metálicos facilitam o crescimento bacteriano através da formação de uma biopelícula bacteriana
(glicocálix) sobre os mesmos. Esta película dificulta a ação dos anticorpos sobre as bactérias, inibe a
fagocitose dos leucócitos e reduz a eficácia dos antibióticos.
A manipulação traumática dos tecidos, e a tensão da sutura comprometem a irrigação tecidual
favorecendo a infecção. O hematoma libera íons férricos da hemoglobina, que inibem o efeito
bacteriostático do soro assim como a morte intrafagocitária das bactérias. Traumatismos, espaços
mortos e variações de perfusão tecidual produzem hipóxia, reduzindo a ação leucocitária.

PREVENÇÃO DA INFECÇÃO DA FERIDA CIRÚRGICA

O ambiente operatório, a preparação do paciente, o local (campo) e a técnica cirúrgica merecem


especial atenção. A necessidade de profilaxia adicional, na forma de antibióticos sistêmicos ou locais,
antissépticos, ou oxigeno terapia, deverá ser avaliada no pós-operatório, em todos os pacientes. A
avaliação das defesas do hospedeiro (estado geral) é o primeiro passo para a prevenção da infecção.
Infecções concomitantes, como aquelas do trato respiratório, orelha, pele e cavidade oral, são razões
suficientes para adiar um procedimento cirúrgico não emergencial. Deve-se, ainda, sempre que
possível, evitar internações pré-operatórias prolongadas, solicitar banho prévio do animal com sabão
antisséptico e tricotomia momentos antes da intervenção cirúrgica. A desinfecção da pele pode ser feita
com álcool etílico ou isopropílico (70 ou 95%), a tintura de clorexidina, tintura de iodo, solução
detergente de clorexidina e soluções de iodo-povidona.
A técnica cirúrgica influencia as condições do ambiente tecidual local. Corpos estranhos,
material necrótico, tecido isquêmico, sutura sob tensão, hematoma, espaço morto e suturas podem
influenciar na percentagem de infecções das feridas. Os antibióticos peri-operatórios não compensam a
técnica cirúrgica ou a técnica asséptica inadequadas. Feridas contaminadas deverão ser tratadas por
lavagem abundante, produzida em jato, com solução salina e auxílio de uma seringa agulhada.
A profilaxia antibiótica é recomendada em cirurgias consideradas limpas contaminadas e
contaminadas, não sendo necessária em operações limpas, exceto quando o risco de infecção, mesmo
baixo, é devastador (ex: cirurgias ortopédicas) ou se a cirurgia demorar mais que 90 minutos. Os
antibióticos profiláticos devem ser administrados trinta minutos antes da incisão, por via intravenosa.
Passadas três horas da realização da ferida, forma-se um coágulo que irá proteger as bactérias dos
antibióticos. A administração do antibiótico profilático não precisa ter continuidade por mais de 24
horas após o procedimento cirúrgico. O rompimento da integridade dérmica, como acontece nas
cirurgias, propicia o acesso de microrganismos aos tecidos internos. As bactérias que contaminam os
ferimentos cirúrgicos originam-se, geralmente, da flora endógena do paciente, da equipe e sala

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cirúrgicas, e do ambiente. Para evitar que a contaminação ocorra, devem-se seguir regras de técnica
asséptica, consideradas “leis” da sala de cirurgia. O não cumprimento destas leis sujeita o paciente ao
risco de uma infecção cirúrgica. A prevenção ou profilaxia da infecção baseia-se em dois grandes
métodos: antissepsia e assepsia. Quando obedecemos aos métodos de assepsia e antissepsia, estaremos
diante de uma condição asséptica. Ao contrário, poderemos operar em condição ou cirurgia sépticas.
Na prática, porém, existem situações em que um ato operatório não pode ser asséptico. É o caso
de algumas afecções que envolvam contaminação (ex: piometra, drenagem de abscesso, cirurgias da
cavidade oral) e algumas cirurgia em grandes animais. Ainda, cirurgias realizadas em estábulos ou a
campo não são consideradas assépticas.

CLASSIFICAÇÃO DAS CIRURGIAS E USO DE ATB

USO DE ATB
Exceções: tempo de cirurgia maior que 90 min. / cirurgias
1- LIMPA NÃO com implantes ortopédicos

2- LIMPA/CONTAMINADA SIM

3- CONTAMINADA SIM

4- SUJA SIM

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DEFINIÇÕES

Esterilização
Refere-se à destruição de todos os microrganismos patogênicos ou não (bactérias, vírus,
esporos) sobre alguma coisa. Refere-se, geralmente, a objetos que entram em contato com tecidos
estéreis, ou entram no sistema vascular (ex: instrumentos, campos estéreis, cateteres, agulhas).

Desinfecção
Refere-se à destruição da maior parte de microrganismos patogênicos presentes em objetos
inanimados (não vivos), como instalação, pisos, blocos cirúrgicos.

Antissepsia
Corresponde à destruição da maioria dos microrganismos patogênicos em objetos animados
(vivos). Usam-se antissépticos para eliminar microrganismos presentes na pele e mucosa do paciente.

Assepsia
É o conjunto de procedimentos que se empregam para evitar infecção dos tecidos durante as
intervenções cirúrgicas, em locais não contaminados. É um termo amplo que engloba manobras de
esterilização, desinfecção e antissepsia.

ESTERILIZAÇÃO
Como os tecidos internos do corpo são estéreis, qualquer produto que entre em contato com
eles também deve ser. A esterilização pode ser feita por métodos físicos e métodos químicos. Nos
métodos físicos tem-se a filtração, a energia radiante e a energia térmica. Nos métodos químicos
incluem-se os desinfetantes de 1o, 20 e 30 graus na forma líquida e gasosa.

Métodos físicos
Filtração: é a separação de material em partículas de líquidos ou gases e feita através de filtros. Nos
filtros são removidos os microorganismos e outras partículas do material filtrado, pois as partículas
maiores ficam retidas na superfície do filtro. Existem filtros de membrana e de profundidade, com uma
espessura de aproximadamente 150 .

Radiação: é usada naqueles materiais que não podem ser esterilizados pelo calor ou por íons químicos.
Existem dois tipos de radiações aplicáveis, a eletromagnética e a de partículas. Ambas produzem
efeitos líticos pela produção de ionização dentro ou próximo ao organismo. Geralmente é chamada de
esterilização fria, pois não ocorre elevação de temperatura.

Energia Térmica:
Calor Seco: flambagem, forno de Pasteur e incineração.
Flambagem: pode ser usada em emergências e não produz uma esterilização eficiente, além de
encurtar a vida útil do instrumental.
Forno de Pasteur: promove uma esterilização boa, sendo demorada e pode ser usada a 1800C
por 30 minutos ou 2000C por 20 minutos. O forno deve ser aberto quando a temperatura estiver inferior
a 400C.
Incineração: é um método efetivo de esterilização pelo calor seco, porém é altamente
destrutivo, sendo usado mais para exterminação de material contaminado e de carcaças.

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Calor Úmido: água em ebulição e autoclave
Água em Ebulição: em condições normais não deve ser considerado um agente esterilizador e
sim desinfetante. O tempo requerido para esterilização é de 30 minutos em nível do mar. Este tempo
pode ser reduzido em 50% pela adição de hidróxido de sódio (0,1g/100 ml) ou carbonato de sódio
(2g/10ml).
Autoclave: baseia-se no princípio de que o vapor retido sob pressão alcança altas temperaturas
sem entrar em ebulição (mecanismos da panela de pressão). Tempo e temperatura usuais: 10’ a 25’ em
135oC ou 15’ a 30’ em 121oC. O material deve ser muito limpo e exposto ao vapor para assegurar um
bom aquecimento. O instrumental deve ser enrolado em material permeável ao calor e a autoclave deve
ser apropriadamente manuseada. Dentre as vantagens tem-se o ciclo rápido, permitindo vários
processamentos por dia, menor dano ao instrumental e a menor exposição ao calor. A autoclave a
vácuo funciona como a de vapor.

Métodos químicos
O termo esterilização química implica no uso de líquidos ou gases para se obter a esterilização.
O efeito deste tipo de esterilização sobre os microorganismos é através de mudanças na estrutura
química na célula. Muitos desinfetantes podem esterilizar quando usados em condições apropriadas,
mas poucos têm a qualificação de serem confiáveis. Dentre os agentes que promovem a esterilização
gasosa tem-se o formaldeído e o óxido de etileno.
As indicações para seu uso são as fumigações de grandes espaços, como ambientes hospitalares
ou barracas e a esterilização de materiais sensíveis ao calor e que não suportam muita umidade, como
plásticos, instrumentos ópticos e borrachas.
Desinfetantes de lo grau: capazes de esterilização, são o formaldeído, glutaraldeído e o óxido
de etileno, cujo mecanismo de esterilização é o de alquilação (átomos de hidrogênio são repostos por
grupos de hidróxido etílico bloqueando assim os grupos reativos para que se realizem as reações
metabólicas). Formaldeído: gás incolor, de cheiro característico e irritante. Usado em fumigação (fácil
uso, barato, eficiente); desinfecção de ambientes. Boas propriedades desinfetantes (sol. A 20% de
formalina). Não apresenta propriedades antissépticas Precauções: o ambiente deve estar fechado e sem
animais; instalações vedadas por 24 horas. Limitações: vapor irritante, odor ofensivo, evidências de
carcinogenicidade. Outra opção é o paraformaldeído, usado como pastilhas.
Glutaraldeído: solução aquosa a 2%. A solução pode ser aquosa (ácida) e não esporicida. Para
tornar-se esporicida deve ser alcalinizada (ph 7,5 a 8,5). Usado para desinfecção de lentes e
instrumentos delicados como endoscópios e sondas (inclusive as de anestesia). Possui boas
propriedades desinfetantes e esterilizam. Não possui propriedades anti-sépticas. Precauções: reação
tecidual, odor (enxágüe bem o instrumento antes de usá-lo). Limitações: atividade de solvente e rápida
evaporação. Em fumigações de salas ou outros espaços 0,5 a 1,0 ml de formalina por 30 cm³ de espaço
a ser vaporizado. A temperatura ambiente deve ser ao redor de 20°C e a umidade relativa do ar de
100%. As bactérias vegetativas são mortas em 2 horas. Os esporos necessitam 12 horas para serem
mortos. Após a esterilização com formaldeído, a aeração é necessária. Os gases são muito irritantes e a
alta umidade requerida é corrosiva.
O óxido de etileno é o agente gasoso mais popular para esterilização existe, por ter uma
dissipação mais rápida que o formaldeído sendo, porém mais inflamável e explosivo. Difunde-se e
penetra rapidamente no material a ser esterilizado, sendo por isto indicado para esterilizar objetos
longos e tubulares. Possui propriedade bactericida em todos microorganismos e sal ação é por
alquilação. Existem equipamentos disponíveis para este tipo de esterilização, como a autoclave e
outros portáteis (cilindro que pode ser lacrado).

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Desinfetantes de 2o grau: desinfetantes que atuam pela desnaturação das proteínas. São os
compostos fenólicos, clorinas, álcool e iodo.
Desinfetantes de 3o grau: desinfetantes que não têm poder virucida, esporocida e
tuberculocida, incluem os compostos mercuriais e compostos de amônio quaternário, cuja ação é mais
bacteriostática.

Graus de desinfecção química


Primeiro grau (alto): usado para esterilizar itens críticos, ou seja, todo material usado em
intervenções cirúrgicas. Os desinfetantes desta categoria devem ter capacidade de destruir formas
vegetativas, esporos, bacilo da tuberculose e vírus.
Segundo grau (intermediário): destroem vírus e todas as bactérias, exceto esporos. Itens
semi-críticos, usados em contato com mucosas, devem ser desinfetados por estes agentes. A atividade
tuberculocida e virucida é requerida nos agentes desta categoria.
Terceiro grau (baixo): usado em itens não críticos, como bebedouros, e outros recipientes. Os
desinfetantes desta categoria possuem a propriedade de destruir formas vegetativas de bactérias, porém
não possuem atividade virucida ou tuberculocida.

ANTISSÉPTICOS
Muitos dos desinfetantes que são usados em objetos inanimados são também usados na pele e
em feridas. Quando são usadas com este propósito são chamados de antissépticos. Eles são usados para
reduzir a flora bacteriana da pele dos braços e mãos da equipe cirúrgica e o campo operatório do
paciente. Este é o ponto fraco da técnica cirúrgica asséptica, pois é impossível esterilizar a pele sem
destruí-la. Além da atividade antimicrobiana, os antissépticos devem ser atóxicos, não irritantes
quando aplicados e devem reter suas propriedades “in vivo”. Muitos agentes que têm propriedades
antimicrobianas “in vitro” são ineficazes quando usadas como antissépticos, pois são inativados por
materiais orgânicos.

Indicações

Pele
A superfície epidérmica é muito irregular, composta de placas de queratina e células mortas,
sendo que as bactérias estão presentes sobre e sob estas células mortas.
As bactérias presentes na pele são divididas em dois grupos: bactérias transitórias e residentes.
As bactérias transitórias são as adquiridas do meio ambiente pelo contato diário com material
contaminado. São de vários tipos e número, aumentando quando protegidas por dobras de pele ou
outras estruturas anatômicas como a cabeça, unhas, umbigo e região perineal.
As bactérias residentes formam uma população estável que vive e se multiplica na pele. Dentro
desta categoria estão os estafilococos de baixa patogenicidade e outros agentes. O tamanho e o tipo
variam muito entre indivíduos.

Membranas mucosas
O ambiente morno e úmido destas áreas é ideal para crescimento de microorganismos, mas
normalmente as membranas mucosas formam uma barreira efetiva contra a invasão para tecidos mais
profundos. É mais fácil remover microorganismos de superfície das mucosas do que da pele. Uma
lavagem gentil geralmente remove a contaminação mais grosseira, sendo complementada com uma
lavagem com antisséptico para remoção de bactérias residuais.
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Agentes antissépticos

Sabões
São antissépticos fracos e não são muito bons para pele. Seu valor está associado ao fato de
serem agentes não irritantes, quando usados com fricção mecânica. São agentes tensoativos, usados em
processos supurativos em geral e nas metrites, pois tornam o pus fluido e facilitam sua eliminação.

Bifenol
Este grupo contém um grande número de compostos usados como anti-sépticos e desodorantes.
O hexaclorofeno é muito importante em cirurgia por seu efeito residual, porém é vendido somente por
prescrição por ser carcinogênico.

Amônio quaternário
Tem como principal representante a Zefiran (cloreto de benzalconio), porém não é tão efetivo
na pele e é inativado por sabão.

Álcool
Álcoois: isopropílico (50-70%) e etílico (70%) usados na antissepsia da pele e preparação do
local de injeções, sendo eficaz contra formas vegetativas, embora ineficaz contra esporos. Possui
propriedades desinfetantes boas; propriedades antissépticas muito boas; mecanismo de ação:
desnaturação protéica, interrupção metabólica e lise celular; precauções: corrosivo para o aço
inoxidável, voláteis, endurecimento de borrachas e plásticos; limitações: atividade de solvente e rápida
evaporação; mais usados: etanol (potente viricida) e álcool isopropílico (incapaz de inativar agentes
virais encapsulados).

Iodo
O iodo é um dos antissépticos germicidas mais usados em Medicina Veterinária por ser eficaz,
econômico e de baixa toxicidade para os tecidos. Também é fungicida. Pode ser usado como tintura de
iodo (solução alcoólica) e solução concentrada de iodo. Esta última solução é tóxica para os tecidos.

Iodóforos
Iodóforo é uma combinação de iodo com um agente transportador que libera o iodo livre.
Comercialmente é encontrado como povidona-iodo (betadina ou isodina), que é um complexo de iodo
com polivinilpirrolidona. Tem a vantagem de causar menor reação tecidual (é menos irritante), mas
não é mais eficaz que a tintura de iodo. Possuem perto de l% de iodo disponível, são excelentes
agentes para limpeza e não são irritantes.

Clorexidine
Compõe uma classe diferente de agentes antissépticos que atuam aumentando a permeabilidade
da membrana celular, causando perda de conteúdo citoplasmático. É efetivo contra bactérias, fungos e
vírus, sendo superior ao hexaclorofeno, povidine, iodine e amônio quaternário.

Derivados do furano: Nitrofurazona

Muito utilizada na forma de pomadas ou pastas. Possui boa atividade antimicrobiana tanto para
Gram-positivos como para Gram-negativos.

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MATERIAIS CIRÚRGICOS
Os instrumentos podem ser limpos manualmente ou com equipamentos de limpeza ultrassônica
e desinfetantes tão logo após terem sido usados. Depois de lavados, devem ser secos, montados em
caixas ou embalados individualmente e esterilizados. A esterilização pode ser com vapor ou gás e a
embalagem deve ser escolhida de acordo com o método de esterilização, pois ela irá potencializar o
método empregado e preservar o material estéril. Desta forma, a embalagem deve ser impermeável a
micróbios e durável. Os kits de instrumentos, a dobradura dos aventais e dos campos cirúrgicos deve
ser embalados de maneira que possam ser facilmente desembalados sem quebrar a técnica estéril.
Manipulação e armazenamento de instrumentos/ equipamentos esterilizados
Deve-se deixar resfriarem e secarem os kits individualmente, após serem removidos da
autoclave. Se forem colocados uns sobre os outros (ex: uma caixa em cima da outra), pode haver
condensação de umidade, resultando em contaminação. Uma vez secos estes kits devem ser guardados
em coberturas contra poeiras, impermeáveis e em armários fechados. Evitar manipulação excessiva
para não romper a embalagem. Guardar estes kits longe de ductos de ventilação, borrifadores e
lâmpadas produtoras de calor. As condições ambientais incluem baixa umidade, baixa turbulência
aérea (sem vento) e temperatura ambiente constante. Há controvérsias quanto ao prazo de expiração da
esterilização. Isto porque eventos e não o tempo contaminam os materiais. Demonstrou-se que se os
itens forem embalados, esterilizados e manipulados adequadamente, permanecerão esterilizados.
Ocorrerá contaminação se o pacote for aberto, molhado ou rasgado.

Instrumentos cirúrgicos

Os instrumentos cirúrgicos são agrupados de acordo com os tempos cirúrgicos e para fins
didáticos, sendo assim classificados: diérese, hemostasia, síntese, campos, auxiliares, especiais.

Instrumental de diérese – Este grupo é composto por instrumentos cortantes, como o bisturi,
tesouras, serras e trépanos. Obs.: o bisturi deve ser entregue pelo cabo ao cirurgião, tendo o
instrumentador o cuidado de colocar o dorso da lâmina voltado para sua mão, permitindo com que o
cirurgião pegue o bisturi pelo cabo na posição funcional.

Instrumental de hemostasia – É o grupo composto de materiais destinados ao pinçamento de vasos


sangrantes, como as pinças hemostáticas.

Instrumentos de síntese – Compõe-se de instrumentos de sutura como porta agulha, agulhas e fios.

Campo e pinças de campo – Esse grupo é composto por pinças que se destinam à fixação dos campos
estéreis para delimitação do campo operatório. Ex.: Pinça Backhaus.

Instrumentos auxiliares – Composto por instrumentos auxiliares de preensão, indicados para o


auxílio no uso de outros instrumentos. Basicamente compõe esse grupo as pinças anatômicas serrilhada
e dente de rato e pinça de Allis.

Instrumentos especiais – Grupo composto de instrumentos cuja indicação é determinada pelo tipo de
cirurgia. Estes instrumentos são usados somente no tempo cirúrgico propriamente dito. Ex.: afastadores
de Farabeuf, Balfour, Finochetto.

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Disposição dos instrumentos na mesa auxiliar:

Pinças de
Campo Auxiliar Especial

Diérese Hemostasia Síntese

Instrumentador

Os instrumentos são dispostos na mesa de modo que a ponta fique na direção do


instrumentador. As tesouras e pinças curvas devem ser colocadas com a parte côncava voltada para a
superfície da mesma, facilitando a entrega do material ao cirurgião na posição funcional.

EQUIPE CIRÚRGICA
O número de pessoas dentro do centro cirúrgico deve ser limitado, como meio de reduzir a
fonte de contaminação. Toda a equipe cirúrgica deve estar com vestimenta adequada e exclusiva ao
centro cirúrgico. A equipe envolvida na cirurgia propriamente dita (cirurgião, auxiliar e
instrumentador) submete-se à paramentação, colocando vestimenta (avental cirúrgico) estéril, e deve
ficar todo o tempo de frente para o paciente.

AMBIENTE CIRÚRGICO

Devido ao constante perigo de contaminação do paciente cirúrgico, a área cirúrgica deve ser
dividida em “limpa”, “mista” e “contaminada”. As áreas limpas englobam a sala cirúrgica, áreas de
pias de escarificação e salas de suprimentos esterilizados. Áreas mistas englobam os corredores entre
as salas cirúrgicas e as áreas de enfermeiros e de processamento de instrumentos. Áreas contaminadas
englobam as salas de preparação anestésica, os vestiários e os consultórios. As áreas limpas devem ter
um acesso limpo e limitado. Por isto, pessoas que entrem nestas áreas devem vestir trajes cirúrgicos
apropriados, e o número de pessoas deve ser reduzido. As portas devem ser mantidas fechadas o tempo
todo. Os tecidos sujos e o lixo devem ser mantidos na área contaminada. Os pacientes devem ser
tricotomizados (depilados) na área contaminada, antes do transporte para a área limpa.
A sala cirúrgica deve ser de design simples, de fácil limpeza, com pisos, teto e paredes de
superfície lisa. O material das superfícies deve suportar lavagens frequentes. No final de todo dia deve-
se limpar todo o recinto e material cirúrgicos. O lixo deve ser devidamente recolhido e descartado.
Resíduos orgânicos (secreções, sangue) devem ser removidos tão logo se encerre o procedimento
cirúrgico.

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PACIENTE
Deve ser submetido à tricotomia fora da área “limpa”. Quando possível, prescrever banho 1 a 2
dias antes da data da cirurgia. Conforme o procedimento cirúrgico e a afecção clínica, o paciente deve
ser submetido à antibioticoterapia profilática.

DIÉRESE

É a separação dos tecidos realizada por meio de intervenções manuais. É um conjunto de


manobras, manuais e instrumentais, que visa dividir os tecidos com a finalidade de tomar acessível
uma região ou um órgão, carente de atenção cirúrgica. A manipulação de tecidos e de órgãos de
maneira delicada, evitando traumatizar tecidos. Durante um ato cirúrgico, é importante que o cirurgião
atue de maneira apropriada, respeitando ao máximo a integridade física dos tecidos, concorrendo assim
para a boa recuperação anátomo-funcional dos diversos tecidos e órgãos, sobre os quais
necessariamente interviu.
Existem diferentes tipos de diérese, de acordo com o tipo de tecido a ser separado, ou seja,
diérese de pele, de aponeurose, muscular e de órgãos específicos. A importância da manipulação dos
tecidos foi ressaltada por Willian Steward Halsted (1852-1922) a muitas décadas, quando demonstrou
que a cuidadosa manipulação era muito importante, contribuindo seguramente para uma rápida
recuperação do paciente no pós-operatório.

Considerações Gerais

A incisão é sinônima de corte, cortar é um ato cirúrgico inerente a cirurgia e por isso merece
atenção maior. Para que os tecidos serem divididos deverão merecer cuidados especiais para que sejam
feito corretamente, para que posa dar-lhes melhores condições de regeneração, para que a recuperação
seja mais rápida e sem complicações. Todas as incisões, tanto na pele como nos planos mais
profundos, devem ser feitas com a lâmina do bisturi perpendicularmente aplicada a fim de evitarem
cortes biselados. Incisar exclusivamente o tecido necessário, evitando atuar sobre outros que esteja fora
do plano cirúrgico. A incisão deve ser feita de uma só vez, em um só tempo, a fim de se evitar as
anfractuosidades. Devemos promover a secção sem mudar a direção do corte planejado, evitando os
cortes inúteis. Devemos determinar atentamente o plano cirúrgico e só sair dele se houver razão forte
para isto, a fim de não contribuir para a morte de mais tecidos.

No que diz respeito ao plano, elas podem ser: longitudinais, transversais e obliquas. Por sua
direção podemos dizer que ela será: da esquerda para a direita ou vice-versa, e de cima para baixo.

Incisão em tecido mole


De maneira geral, pode-se dizer que as incisões praticadas nos tecidos moles são basicamente
consideradas simples, compostas ou combinadas.

Simples: são aquelas praticadas em um só sentido, na qual o bisturi segue uma linha reta ou
executando uma curva, partindo de um ponto determinado a um outro. Sua prática é facilitada quando
se coloca o tecido sob tensão, ou quando ela é praticada na exata direção das fibras do tecido o que
confere maior firmeza e facilita a evolução do bisturi. Dependendo da região em que se esteja
trabalhando é interessante seguir a linha de transito dos vasos e nervos.
Compostas ou combinadas: aquelas em que por razões diversas fazem uma combinação de
uma reta com uma curva, ou com duas retas e mesmo com duas curvas.

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Longitudinais, transversais ou obliquas: aquelas que por seus planos direcionais tornariam
este sentido, considerando sempre o plano horizontal com o animal em estação.

Incisão em tecidos duros


São aquelas efetuadas em tecidos ósseos, que podem ser seccionados através das amputações,
para corrigir uma consolidação defeituosa, para correção de extremidades ósseas fraturadas nas
reduções em que seja necessário empregar, placas metálicas, pinos e parafusos. A secção de um osso
pode ser operada por uma serie de instrumentos especiais, como as serras rígidas retas, curvas e
circulares, sob forma de fios trançados. Os ossos podem ainda serem trabalhados com cisalhas,
trépanos e ainda com a colaboração de periostomos, osteótomos, curetas ósseas, goivas e mais uma
série de outros instrumentos que são usados na cirurgia dos ossos.

PELE
A pele pode ser considerada um sistema, pois possui além de suas partes a epiderme e a derme,
um aporte vascular, nervoso e seus anexos como as glândulas sebáceas e sudoríparas, folículos pilosos.
Tem funções especializadas como barreira a microrganismos, regula a pressão sanguínea, receptores
dolorosos (nociceptores) e sensitivos.

Instrumental: a separação da pele poderá ser feita através do bisturi, tesoura, bisturi e tesoura e com o
auxílio do bisturi elétrico. O raio lazer tem sido também empregado para abordar determinados tecidos,
podendo ser enquadrado como instrumento de diérese.

Técnica: a partir de vários tempos:

Traçado da incisão: A incisão deve ser marcada e para isso pode-se usar:
- Ligeira escarificação com a ponta do bisturi;
- Com auxílio do azul de metileno;
- Com agulhas hipodérmicas;
- Compressão com o fio e escarificação em áreas arredondadas ou convexas.

Secção da pele: O cirurgião destro fixa e espicha a pele com a mão esquerda (pode ser auxiliado pelo
assistente) e empunha o bisturi com a mão direita, fazendo com que o ele deslize com a superfície
cortante em ângulo reto sobre a pele. O cirurgião canhoto usa as posições inversas. A fixação da pele
pode ser feita com as mãos, pinças ou com agulhas hipodérmicas. Na secção da pele temos de observar
o sentido da incisão que deve ser da esquerda para a direita, quando o cirurgião tiver a cabeça do
paciente colocada do seu lado esquerdo. Deve ser também no sentido distal a proximal com relação ao
cirurgião e de cima para baixo.

Tipos de secção da pele:

Magistral: com apenas um movimento do braço, sem levantar o bisturi, movendo o pulso ao mesmo
tempo em que se traciona o braço. O bisturi deve ser empunhado como um lápis ou faca.

Magistral breve: uma incisão rápida, onde é feito somente o movimento do pulso - indicada para
pequenas incisões (5 - 6cm).

Serrilhada: quando o bisturi não tem fio muito bom e os movimentos são semelhantes aqueles usados
quando se usa uma faca de pão.

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Punção: faz-se uma pequena incisão, introduzindo o bisturi pela ponta, em uma posição quase que
vertical.

Transfixação: o bisturi penetra com a parte cortante voltada para cima e secciona-se desde a
profundidade para a superfície, a medida que o bisturi vai sendo removido.

Secção circular: aconselha-se marcar a linha de incisão, que pode ser feita em um ou dois tempos.

Secção com bisturi ampliada com tesoura: onde a epiderme é seccionada com o bisturi e a derme
com a tesoura. Não é muito utilizada na Medicina Veterinária.

Secção com tesoura: quando usada é devido à ausência do bisturi, ou em casos de recortes em cirurgia
reparadora.

Despregamento cutâneo: usado quando é necessário desprender a pele do tecido subcutâneo, onde as
bordas de pele são pinçadas e o tecido subcutâneo é seccionado com bisturi ou afastado com tesoura
(introduzida fechada e aberta no interior dos tecidos). Este despregamento pode ser realizado em três
planos: subdérmicos, subcutâneo, supra-aponeurótico.

TECIDO SUBCUTÂNEO
Quando o paciente é magro, o tecido subcutâneo é escasso, sendo seccionado pelo bisturi com a
pele. Se o indivíduo for gordo ou obeso, é necessário seccionar várias vezes antes de ser transposta
esta camada de gordura.

Métodos de diérese subcutânea:


- secção com bisturi: às cegas, isto é, junto com a pele;
- secção magistral com prévia diérese de pele;
- secção por planos: onde são feitas tantas incisões quantas necessárias para se atingir o tecido
aponeurótico;
- secção com bisturi e tesoura: incisão com bisturi, dissecação romba com tesoura da aponeurose
(tesoura na posição horizontal) e secção com tesoura (tesoura na posição vertical);
- secção com tesoura: onde o auxilio de pinças, eleva-se o tecido subcutâneo e secciona-se.

Despregamento do tecido subcutâneo


A secção é feita com bisturi e o afastamento ou despregamento do tecido subcutâneo é feito coma
tesoura, cabo de bisturi ou com as mãos.

APONEUROSE
Geralmente a linha de seção da aponeurose superficial é a mesma incisão cutânea. Esta secção é
uma etapa importante da diérese, pois na reconstituição por planos, na síntese, é a aponeurose que
fornece o suporte necessário pra uma boa sutura muscular.
Exposição da aponeurose: o sentido da incisão pode ser distal-proximal, proximal-distal, ou
divergentes, se feita com o bisturi ou tesoura respectivamente.
Tipos de secção com:
- bisturi: da esquerda para a direita (pessoas destras);
- tesoura: mediante prévio orifício feito com o bisturi ou tesoura;
- tesoura: mediante prévia dissecação;
- sobre tentacânula;

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MÚSCULO
Os músculos são estruturas importantes, pois é através deles que temos acesso a estruturas mais
profundas, como ocorre na maioria das intervenções. Às vezes não é necessário incidir o músculo, o
sim disseca-lo. Uma correta dissecação e diérese muscular permite uma boa abordagem cirúrgica,
assim como uma perfeita reconstrução da ferida cirúrgica, com o que se previne eventuais deiscências.
Os músculos pacientes de dissecação ou diérese sofrem uma reação cicatricial que limita seu
funcionamento em maior ou menor grau.

Instrumental:
Para diérese aguda, usa-se o bisturi e para a romba usa-se a tesoura ou as mãos-dedos.

Técnica de dissecação:
Dissecar o músculo significa desprende-lo parcial ou totalmente dos tecidos que o rodeiam
(aponeuroses e músculos vizinhos) respeitando os nervos e os vasos. Primeiro expõe-se a face
superficial, após as laterais e por último a profunda.

Técnica de diérese muscular


- simples: quando todos os planos são incididos na mesma direção da incisão da pele.
- complexa: quando os planos musculares são atravessados no sentido de suas fibras, sem se levar em
conta a direção da incisão de pele.

Tipos de diérese
- secção magistral: sempre com bisturi, onde pode ser usada o auxílio de duas pinças de tecidos para
elevação do músculo;
- secção com os dedos: a partir de um orifício feito com o bisturi ou tesoura, e sempre no sentido ou na
direção das fibras musculares.

CLASSIFICAÇÕES DA DIÉRESE
Cruenta:
CURETAGEM: Método comum em cirurgia e empregado toda vez que desejamos eliminar tecidos
superficiais neoformados indesejáveis ou para ativar uma cicatrização de ferida de tipo ulcerada.
Consegue-se com emprego dos instrumentos especiais chamados curetas e que são encontrados sob
diversas formas e tamanhos.

DESBRIDAMENTO: bridas são tecidos fibrosos, neoformados, resultantes de uma cicatrização que
podem estar presentes circundando tumores, especialmente os malignos, dificultando a extirpação.
Desbridar é então o ato de se eliminar ou desfazer bridas, o que pode ser conseguido com o emprego de
instrumentos como tesuras ou bisturi.

DESLOCAMENTO: esta é uma manobra mais importante da cirurgia, já que sabemos ser o respeito
pela normalidade anatômica e funcional dos tecidos, meta a ser perseguida, estes devem, sempre que
possível, deslocados e não cortados. Esta manobra, além das vantagens ditas, oferece outras e que são:
cicatrização mais rápida, menos hemorragia. A prática do deslocamento é mais fácil quando se usam
tesouras romba, que se introduz fechada no tecido a separar e que se abrem à medida que vão sendo
retiradas, progressivamente. Esta ação pode ser conseguida também com o emprego dos dedos,
especialmente os indicadores simplesmente ou calçados com gaze, que oferece maior atrito, por

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conseguinte, melhor pega, quando são introduzidos juntos e se separam a medida que são retirados, ou
somente com um deles, neste caso o polegar é o mais usado. Em tumores benignos, principalmente
sem aderências, é prática muito indicada, assim como na liberação do saco herniário.

ESCARIFICAÇÃO: ato caracterizado pelo raspado superficial, pouca profundidade, diferente da


curetagem que é mais profunda. É técnica muito empregada na coleta de material de exame laboratorial
– raspados de pele – ou praticados com a finalidade de se fazerem semeaduras de bactérias. Este
método pode ser conseguido pelo emprego de lâmina de bisturi ou ponta de agulhas.

ESMAGAMENTO: trata-se de um método muito utilizado em cirurgia veterinária, especialmente nas


castrações dos bovinos e nas ovariectomias das vacas e éguas. Para o primeiro caso são usadas pinças
de castração do tipo Burdizzo e no segundo o emasculador.

EXÉRESE OU RESECÇÃO: É a manobra cirúrgica na qual eliminamos uma estrutura anatômica


indesejável para o organismo, quer por sua natureza ou condição. Exemplos podem ser citados pela
eliminação, exérese, ablação ou ressecção de tumores, sacos herniários, de órgãos em seu todo ou em
partes como pulmões, rins, intestinos, estômago, vesícula biliar etc. Aqui pode ser incluída também
diversas amputações.

FORMAÇÃO DE FÍSTULA: ato, muitas vezes solicitados pelos fisiologistas em seus experimentos.
De fato, podemos provocar a abertura de um órgão oco, comunicando com o exterior com o propósito
de colher materiais, assim como para avaliar males definitiva ou temporariamente. Fístulas são
produzidas nos condutos salivares, uretra, esôfago, traquéia, estomago, intestino, rumem, etc.

FRATURA: há casos em que é necessário dividir um osso para modificar a direção de seu eixo
longitudinal, sempre para corrigir uma consolidação defeituosa de uma fratura anterior. Podemos
conseguir isto mediante uma fratura realizada por um osteótomo ou por meio de serras adequadas.

LIBERAÇÃO DE ADERÊNCIAS: manobra cirúrgica que apresenta resultado duvidoso pelas recidivas
que apresenta. Um exemplo é a liberação da pleura parietal da pleura visceral do pulmão. Melhora a
condição do paciente para respiração. Nos bovinos as aderências do rumem a parede abdominal em
consequência a reticulopericardite traumática, que acarreta uma dificuldade de movimentação do
rumem, e a sua liberação significa o desaparecimento dos problemas que ela acarreta e que são sérios.

Diérese incruenta:
É a manobra de divisão de tecidos que ocorre sem perda de sangue. O emprego de raios lazer e do
criobisturi permite conseguir intervenções sem perda de sangue. A intervenção de extirpação do
cristalino nos casos de catarata, sendo um exemplo de cirurgia incruenta, quando se usa o criobisturi.

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USO APROPRIADO DO MATERIAL CIRÚRGICO

Cada tipo de instrumento cirúrgico é projetado para uso particular e deve ser empregado
somente para esse propósito. A utilização de instrumentos para procedimentos para os quais foram
projetados (por exemplo, tesoura de Metzembaum para tecidos delicados e a de Mayo para cortar fios)
ou utilizados de forma errônea como a pinça tecidual para segurar um osso, pode quebrá-lo ou cegá-lo.

Bisturi
Os bisturis são os instrumentos de corte primário utilizados para realizar incisões nos tecidos. O
bisturi deve ser aplicado na divisão exata do tecido causando a menor lesão possível às estruturas
vizinhas. O bisturi clássico, denominado de escalpelo (lat. scalpellu) ou bisturi de lâmina fixa é pouco
usado nos dias de hoje, deu lugar aos cabos de bisturi que utilizam lâminas descartáveis. Geralmente
são empregados em cortes deslizantes, no qual a direção da pressão aplicada na lâmina fica em ângulo
reto com a direção da pressão do bisturi. Os cabos de bisturi têm diferentes tamanhos, sendo que os de
número 3 e 4 são geralmente adequados para a maioria dos procedimentos cirúrgicos. Existem alguns
métodos para segurar um bisturi, dependendo onde e como vai ser usado:

Como uma faca, onde o dedo indicador posiciona-se sobre a porção dorsal posterior da lâmina,
com a finalidade de controlar a pressão desta sobre o tecido a ser enfocado. Usar esta posição para as
incisões de pele e de tecidos mais duros.

Como um lápis, podendo dessa maneira ser manipulado pelos dedos sem movimentar o pulso.
Usado para dissecação e incisões delicadas, onde não há necessidade de pressão sobre o tecido a ser
incisado.

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Lâminas 1ª dezena - cabo 3 Lâminas 2ª dezena - cabo 4

Maneira correta de trocar a lâmina do bisturi


A lâmina de bisturi deve ser retirada da embalagem com auxílio de uma pinça hemostática ou
porta-agulhas. A colocação da lâmina no cabo de bisturi deve ser feita com o auxílio do porta-agulhas,
assim como a sua remoção do cabo.

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Pinça de dissecação (com e sem dentes – Cushing - Hadson).

Pinça de dissecação é utilizada para agarrar e segurar os tecidos. Ela é firmada pelo polegar,
dedo médio e indicador. Podem ser pontiagudas, achatadas, arredondadas, lisas ou serrilhadas, ou
apresentar dentes pequenos ou grandes. Estas pinças são seguras entre o polegar e os 2º e 3º dedos.
Existem muitos tipos dessas pinças, e elas devem ser usadas nos tecidos para os quais foram feitas.
Como exemplo, a pinça de dissecação com ponta delicada (Hadson) não deve ser usada na pele. Elas
devem ser usadas de maneira que uma das lâminas funcione como extensão do polegar e a outra como
extensão dos dedos oponentes.

Pinça de dissecação Hadson

Pinça de dissecação Cushing sem dente

Pinça de dissecação Cushing com dente

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Pinças de tecidos, hemostáticas e tesouras

Todos os instrumentos com alças são empunhados da mesma maneira. O dedo polegar e o 4o
dedo (pegada polegar-anular) são colocados e ajustados nas alças, o 2o dedo (indicador) é usado perto
ou acima da articulação e serve, junto com o 3o dedo, para estabilizar e direcionar o instrumento.

Maneira correta de segurar a tesoura

Pinças Hemostáticas Traumáticas

A hemostasia temporária pode ser executada, no decorrer da cirurgia, com instrumentos


preensores, dotados de travas, denominados pinças hemostáticas. Prendem a extremidade do vaso
seccionado até que a hemostasia definitiva seja feita, geralmente por ligadura feita com fios. Na
medida do possível, devem pinçar apenas o vaso, com um mínimo de tecido adjacente. Também levam
os nomes dos seus criadores; sendo muito semelhantes entre si, diferindo em pequenos detalhes. São
diferenciadas, quase sempre, pelo desenho e ranhuras da parte interna de seus ramos preensores. O
assistente deve segurar a pinça com a ponta voltada em direção ao cirurgião, de maneira que o vaso
possa ser facilmente ligado. Após o primeiro nó ser feito e estar sendo apertado, a pinça hemostática é
removida de maneira a permitir que o nó seja apertado por completo e possam serem feitos os nós
seguintes.

Halsted
Pinça hemostática pequena, de ramos preensores delicados, prestam-se muito bem para
pinçamento de vasos de menor calibre pela sua precisão. São muito utilizadas em cirurgias de
pequenos animais. Como a pinça de Crile, é totalmente ranhurada na parte preensora. Geralmente são
utilizadas pinças de 12 cm. Encontradas nas versões reta ou curva.

Crile
Possuem ranhuras transversais em toda a extensão da sua parte preensora. Isto lhe confere
utilidade também no pinçamento de pedículos, quando a pinça é aplicada lateralmente, não sendo
utilizada a extremidade. Por ser totalmente ranhurada, não desliza, fixa-se muito bem às estruturas que
compõem o pedículo. Tamanhos variam entre 14-a 16 cm, nas versões reta ou curva.

26
Kelly
Em quase tudo é semelhante à de Crile, com exceção das ranhuras da sua parte preensora, que
ocupam apenas 2/3 da sua extensão, com pequenas variações para mais ou para menos dependendo do
fabricante. Tamanhos variam de 14 a 16 cm, versões reta ou curva.

Rochester-Pean
Assim como as pinças de Crile, possuem ranhuras transversais em toda a extensão da sua parte
preensora, no entanto, são mais robustas. São utilizadas para apreensão de quantidades maiores de
tecidos. Tamanhos variam entre 16 a 30 cm, nas versões reta ou curva.

Halsted Crile Kelly Rochester-Pean

27
Pinças de Tecidos
Essas pinças são próprias para porções maiores de tecido, mantendo-os presos com o uso de um
dispositivo de alavanca localizado no cabo. Encontram-se disponíveis pinças teciduais de vários
tamanhos e formas para vários usos. Devem ser usadas nos tecidos para os quais foram planejadas de
maneira a minimizar o trauma. Por exemplo, a pele não deve ser pinçada com pinças de Allis, que
devem ser usadas em tecidos mais moles.

Kocher
De forma semelhante às de Crile, as pinças de Kocher têm a face interna da sua parte preensora
totalmente ranhuradas no sentido transversal. Diferem por possuírem "dente de rato" na sua
extremidade, o que se por um lado aumenta muito a sua capacidade de prender-se aos tecidos, por
outro a torna muito mais traumática. São apresentadas em tamanhos variados, retas ou curvas.

Allis
Um pinça muito utilizada na preensão de tecidos, com mínima lesão, é a pinça de Allis. Sua
porção preensora possui hastes que não se tocam, com exceção das extremidades, curvadas uma em
direção à outra e com dentículos. Isto explica serem menos traumáticas.

Pinça de Kocher Pinça de Allis

28
Tesouras
Possuem várias formas, tamanhos e pesos e são classificadas de acordo com o tipo de ponta
(ex.: romba-romba, fina-fina, fina-romba), a forma da lâmina (ex.: reta, curva), ou a borda de corte
(simples, serrilhada). Tesouras curvas proporcionam maiores manobrabilidade e visibilidade, enquanto
as retas oferecem maior vantagem mecânica quando cortam um tecido resistente ou espesso. As
tesouras de Metzenbaum ou Mayo são comumente utilizadas em cirurgia, as tesoura Metzembaum são
mais delicadas e devem ser reservadas para tecidos finos e delicados e, por serem mais longas e finas,
são bem utilizadas em cavidades, alcançando estruturas mais profundamente situadas. As de Mayo
devem ser usadas para cortar fios e tecidos fortes, tais como fáscias. Tesouras podem ser utilizadas
para cortes precisos ou dissecação grosseira. Em um corte, a direção, o controle e a precisão dependem
da estabilidade do tecido entre as lâminas da tesoura e da estabilidade desta na pegada do operador.
Quando mais obtuso for o ângulo entre as lâminas durante o corte, menos a tesoura estabilizará
o tecido e menos preciso será o corte. O uso da extremidade da lâmina estabiliza o tecido com maior
segurança e resulta em um corte mais preciso. Caso a incisão tenha que continuar, a tesoura não deve
ser completamente fechada, pois o resultado será uma incisão recortada; ela deve ser quase fechada,
avançada e quase fechada novamente. Para separar músculos e gordura, pode-se usar uma dissecação
grosseira (divulsão) (ou seja, separação dos tecidos por inserção das pontas e abertura dos cabos).
Tesouras para cortar fios cirúrgicos geralmente são tesouras ponta reta romba, e devem ser usadas para
fios que não arames ou metálicos. As tesouras para cortar fios metálicos são especiais e menores que as
cirúrgicas. Para cortar fios cirúrgicos, abrem-se pouco as lâminas, que deslizam sobre as pontas a
serem cortadas e viradas levemente para que seja possível visualizar o local indicado da secção antes
das lâminas cortarem o fio.

29
MAYO
METZEMBAUM

Tesoura de IRIS Tesouras para tecidos

Retratores ou afastadores

Como o nome indica, afastam e retêm os tecidos ou órgãos para facilitar e mesmo possibilitar o
acesso cirúrgico. Os retratores podem causar lesões muito grandes nos tecidos, se usados
impropriamente. A força excessiva aplicada a um retrator é um substituto muito pobre para uma
incisão inadequada. Uma compressa embebida em solução salina morna deve ser usada entre o retrator
e os tecidos, de maneira a proteger as bordas de uma incisão abdominal ou torácica.
Os afastadores são classificados em manuais e auto estáticos. Os manuais são utilizados pelo
assistente, que facilita as manobras do cirurgião, ficando, por isto, com as mãos ocupadas. Para
contornar este inconveniente, há os afastadores auto estáticos que ao serem aplicados às bordas da
parede e mantêm as estruturas afastadas por si só. São geralmente empregados nas cirurgias torácicas e
abdominais. Estes afastadores têm custo mais elevado, em decorrência da complexidade da sua
construção, como os de Farabeuf, Finochietto, Gosset e Balfour. São muito úteis quando não se dispõe
de assistente para auxiliar na cirurgia.

30
Afastador manual de FARABEUF Afastador de FINOCHIETTO (auto
estático)

Afastador de
BALFOUR (auto estático)

Afastador de GELPI (auto estático)

31
Porta agulhas
Estes instrumentos são os responsáveis pelas manobras de fechamento da ferida cirúrgica,
através da aplicação de suturas. Uma característica destes instrumentos é a robustez da sua parte
preensora, bastante diferenciada das pinças hemostáticas. São fundamentais para a confecção das
suturas, uma vez que a maioria das agulhas é curva e os espaços cirúrgicos são exíguos. Somente as
agulhas retas e as de conformação em "S" dispensam o seu uso. Os porta agulhas mais utilizados são os
de Mayo-Hegar e de Mathieu.

Mayo-Hegar
O porta agulhas de Mayo-Hegar é semelhante às pinças hemostáticas clássicas, é preso aos
dedos pelos anéis presentes em suas hastes e possui cremalheira para travamento, em pressão
progressiva. Porém a sua parte preensora é mais curta, mais larga e na sua parte interna as ranhuras
formam um reticulado com uma fenda central, no sentido longitudinal. São artifícios para aumentar a
sua eficiência na imobilização da agulha durante a sutura, impedindo sua rotação quando a força é
aplicada. Se os ramos preensores forem revestidos de metal duro (tungstênio) não apresentarão fenda
longitudinal.

Mathieu
O porta agulhas de Mathieu difere muito do anterior, na sua forma, por não possuir anéis nas
hastes tem a abertura da parte preensora limitada, pois há uma mola em forma de lâmina unindo suas
hastes, o que faz com que fiquem automaticamente abertos, quando não travados. São utilizados presos
à palma da mão, o que os fazem abrir, se inadvertidamente for empregada força excessiva durante a sua
manipulação. Sua melhor indicação seria para sutura de estruturas que oferecem pouca resistência à
passagem da agulha. Um bom indício disto é que não possuem a fenda longitudinal que aumenta o
apoio da agulha.

Olsen-Hegar
O porta-agulhas de OLSEN-HEGAR tem como característica reunir, num só instrumento, as
funções do porta-agulhas e da tesoura para corte dos fios. Abaixo da porção que prende agulha há as
lâminas que cortam os fios. Durante a confecção do nó instrumental, ocasionalmente o fio pode se
interpor às lâminas, sendo cortado de forma acidental, motivo pelo qual muitos evitam seu uso.

MAYO - HEGAR MATHIEU OLSEN-HEGAR (com tesoura)

32
O porta-agulhas pode ser segurado por uma pegada com a palma, em que não se coloca nenhum
dedo nos aros sendo que o aro superior deve repousar contra a base do polegar; uma pegada tenar (o
aro superior repousa sobre a base do polegar e o dedo anular se insere no aro inferior); uma pegada
polegar-anular, em que o polegar deve ser posicionado no aro superior e o anular (4º dedo) no aro
inferior ou uma “pegada de lápis” (o indicador e o polegar repousam sobre o corpo do porta-agulha),
que é usada para porta-agulhas de Mathieu.

Pegada com a palma Pegada polegar-anular

Pinças de campo
As pinças de campo operatório, ou simplesmente pinças de campo têm por finalidade fixar os
panos de campo, fenestrados ou não, à pele do paciente, para impedir que a sua posição seja alterada
durante o trabalho. Sua extremidade é aguda, curva e perfura o pano e a pele do paciente. As mais
comuns são as pinças de Backhaus, sendo que as de Roeder possuem pequena "esfera" no meio de cada
ramo perfurante, para limitar a profundidade da perfuração. Nas cirurgias de pequenos animais é
desejável a utilização de pinças de menor tamanho, 8 a 10 cm, para diminuir o trauma nos tecidos.
Pinças maiores, de 14 a 15 cm, são mais indicadas para animais com pele mais espessa. Uma vez
colocadas, não devem ser retiradas e reposicionadas.

Pinça de Backhaus Pinça de Roeder


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Agulhas de sutura

Várias formas e tamanhos de agulhas encontram-se disponíveis; a escolha depende do tipo de


tecido a ser suturado (por exemplo, penetrabilidade, densidade, elasticidade e espessura), da topografia
do ferimento (por exemplo, profunda ou rasa) e das características da agulha (por exemplo, tipo de
olho, comprimento e diâmetro). Os três componentes básicos de uma agulha são extremidade de
acoplamento (ou seja, moldada ou com olho), corpo e ponta. As agulhas com olho devem ter o fio
enfiado e, pelo fato de um fio de sutura duplo ser puxado através do tecido, cria-se um orifício maior
do que quando se usa material de sutura moldado. As agulhas podem ser fechadas (ou seja, redondas,
retangulares ou quadradas) ou francesas (ou seja, com uma fenda desde o lado interno do olho até a
extremidade para facilitar a passagem do fio). As agulhas com olho devem ter fios enfiados a partir da
curvatura interna. No caso de fios de sutura moldados, a agulha e o fio de sutura constituem uma
unidade contínua, o que minimiza o traumatismo tecidual e aumenta a facilidade de uso.

Partes - Fundo

Regular Arredondado Atraumático Francês ou falso

Corpo e Ponta

O corpo pode ser triangular, triangular reverso, cortante lateral, redondo. A ponta das agulhas
geralmente tem seção transversal cilíndrica ou triangular, o que nos permite compará-lo ou a um longo
cone ou a uma longa pirâmide de base triangular. No primeiro caso, a agulha penetra gradativamente
nos tecidos sem lacerações. No segundo, à medida que progride, corta-o com suas três arestas. Isto
facilita a sutura, mas traumatiza mais. Por isto reservamos as agulhas cilíndricas (atraumáticas) para os
órgãos mais brandos e bem irrigados como o estômago, útero, intestinos. Os mais densos e resistentes,
como a pele, são suturados com agulhas cortantes (traumáticas).

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Agulhas traumáticas

Agulhas atraumáticas

Curvatura
As agulhas cirúrgicas clássicas têm as formas de segmentos ( ¼ , 3/8 , ½ , e 5/8 ) de
circunferência. As mais "abertas", ¼ e 3/8 de circunferência, são melhor empregadas em áreas que
permitem maior liberdade de movimentos, como nas dermorrafias. As mais "fechadas", ½ e 5/8 de
circunferência, têm melhor desempenho espaços de trabalho mais exíguos, como por exemplo, dentro
de cavidades. Para isto, o cirurgião imprime na agulha, presa ao porta-agulhas, um movimento de
pronação-supinação mais acentuado, fazendo com que ela gire dentro do limite do seu raio.

35
Movimento de pronação-supinação para introdução (a)
e retirada (b) da agulha.

As agulhas retas e mistas (retas com extremidade curva) são pouco utilizadas na rotina. Porém,
as agulhas com formato "S", nos tamanhos de 4 a 5 polegadas, são muito empregadas na sutura da pele
de bovinos. A despeito de serem muito traumáticas, facilitam o trabalho, dispensando o uso do porta-
agulhas. Cada vez mais utilizamos agulhas que já vêm montadas com fios, descartáveis, o que significa
menos trauma para os tecidos.

Meia curva-traumática

36
HEMOSTASIA

Hemorragia é a fuga ou extravasamento de sangue dos vasos, quer por diapedese através das
paredes intactas, quer por fluxo através das paredes lesadas. Sua gravidade vai depender da quantidade
de sangue perdido e do estado geral do paciente.

Classificação

Hemorragia arterial: jato de sangue oscilante, que aumenta durante a sístole e diminui durante a
diástole. O sangue arterial é vermelho-vivo.
Hemorragia venosa: o sangue sai de maneira contínua, sendo de coloração mais escura.
Hemorragia capilar: também conhecida por hemorragia em leque, onde a ferida cobre-se lentamente
de sangue, proveniente de inúmeros pequenos pontos.
Hemorragia mista: combinação das três anteriores

Traumatismo vascular

Feridas arteriais: podem ser totais ou parciais. Na total observa-se uma retração dos vasos
seccionados e uma hemorragia em forma de jatos oscilantes. Após alguns minutos observa-se espasmo
reflexo e, como consequência, uma diminuição ou mesmo uma parada total da hemorragia. Esse
espasmo reflexo é mais observado em pequenos vasos do que nos grandes vasos, que ocorre, mas não é
tão acentuado. Nas feridas parciais observa-se a hemorragia, existe espasmo reflexo, mas não retração
do segmento e a hemorragia é mais persistente.

Feridas venosas: o espasmo reflexo não é tão intenso devido à escassez de fibras musculares, mas, em
compensação são mais facilmente colabáveis e com um tamponamento se consegue deter a
hemorragia.

Secção de capilares: a hemorragia é combatida através do tamponamento.

Contusão de vasos: verifica-se que a parte externa dos vasos não apresenta lesão, porém a camada
íntima (interna) está lesionada, facilitando a trombose e podendo ocorrer complicações pós-operatórias.

CONSEQUÊNCIAS DA LIGADURA DE GRANDES VASOS

Artérias: a ligadura de artérias pode ocasionar gangrena e levar a uma amputação


Veias: a ligadura de veias pode originar congestão e edema em uma determinada região

CONSEQUÊNCIAS DAS HEMORRAGIAS

- ameaça a vida (hipovolemia) e dificulta a recuperação do paciente


- impede a visualização das estruturas
- deixa coágulos que favorecem a infecção e a fibrose

37
EXTRAÇÃO DO SANGUE DERRAMADO

Tem a finalidade de evitar a dificuldade de visão no trans-operatório e impedir que os coágulos


permaneçam como corpos estranhos no pós-operatório. Pode ser realizada por dois métodos:

- secagem: utiliza-se compressa cirúrgica, gaze ou algodão. Não é o melhor método, pois podem irritar
os tecidos pela fricção e deixar resquícios de suas fibras no ferimento cirúrgico.
-por aspiração: feita através do aspirador cirúrgico. É o melhor método, não irrita os tecidos e remove
com maior eficiência o sangue entre as vísceras.

HEMOSTASIA

É o conjunto de medidas destinadas a prevenir ou a coibir as hemorragias.

Hemostasia temporária:
Diminui ou suprimi a corrente sanguínea por um período durante o ato cirúrgico ou durante um só
tempo operatório:
 Torniquete: usado na amputação de membros, útero, pênis;
 Posição anti-hemorrágica: consiste em elevarmos a região que vai ser operada acima do nível
do coração. Este procedimento diminui o fluxo sanguíneo
 Vasoconstritores locais: são fármacos utilizados com o intuito de promover vasoconstrição
periférica. Ex: adrenalina.
 Tamponamento compressivo momentâneo: feito com gaze ou compressa cirúrgica durante 5
minutos.
 Compressão digital momentânea: feita com os dedos em casos de emergência
 Ligadura e pinçamento transitório: geralmente feita em grandes vasos para obstrução
temporária do fluxo sanguíneo. Ex: nefrotomia, cirurgia cardíaca.

Hemostasia definitiva:
- Substâncias coagulantes de ação local
- nitrato de prata: substância utilizada em mucosas, produzindo cauterização química
- coagulação térmica: é a chamada cauterização. Ex: bisturi elétrico
- pinçamento ou forcitorção dos vasos: realizado com auxílio de pinças hemostáticas
- ligadura: consiste em ocluir o vaso com fio de sutura

SÍNTESE

Manobra cirúrgica que tem por finalidade manter coaptadas as bordas e superfície das feridas,
permitindo a efetivação do processo de cicatrização. É a união ou aproximação de estruturas através de
um ou mais pontos. É utilizada para reconstruir os diferentes planos que tenham sido incisados durante
a diérese ou para reparar tecidos dilacerados em traumatismos. As suturas proporcionam condições
para que a cicatrização ocorra por primeira intenção.

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NORMAS PARA UMA BOA SUTURA
 antissepsia e assepsia corretas;
 união de tecidos de mesma natureza, de acordo com os diferentes planos;
 hemostasia adequada;
 abolição dos espaços mortos;
 bordas da ferida limpos e sem anfractuosidades;
 ausência de corpos estranhos ou de tecidos desvitalizados;
 emprego de suturas e fios adequados, realizados com técnica apropriada.

Se houvesse um material de sutura ideal, teria que se escolher somente o tamanho apropriado.
Não existe um material de sutura ideal, porém os que existem disponíveis possuem excelentes
propriedades.

CARACTERÍSTICAS DE UM FIO DE SUTURA IDEAL


 deve manter a tensão de estiramento até servir ao seu propósito;
 não ser eletrolítico;
 não capilar e monofilamentoso;
 não provocar reações alérgicas e não ser carcinogênico;
 ser confortável ao usar, ter boa segurança nos nós;
 provocar mínimas reações teciduais;
 se for absorvível, ter sua absorção previsível;
 se for não absorvível, ser encapsulado sem complicações;
 passível de ser esterilizado e ser barato;

TAMANHO DOS FIOS


O calibre dos fios é designado por codificação que tem sua origem na época em que eram
comercializados exclusivamente para fabricação de vestuário. O maior calibre é designado número 7,
cujo diâmetro oscila entre 0,8 e 0,9 mm. A numeração é progressivamente decrescente até o n. 1, a
partir do qual o fio é designado por 0, 2-0, 3-0, e assim sucessivamente até 10-0, que é o mais fino e
corresponde a um diâmetro que oscila entre 0.01 e 0,02 mm.
Os fios de aço inoxidável são classificados de acordo com a recomendação de Brown e Sharp (B&S)
sendo que a medida 41 equivale a 7-0 e a medida 18 equivale a 7.

39
CLASSIFICAÇÃO DOS FIOS
Os fios são geralmente classificados em dois grandes grupos: absorvíveis e não absorvíveis.
Fios absorvíveis: são aqueles que decorrido algum tempo após a implantação, por ação mecânica, são
absorvidas.
Fios não absorvíveis: são aquelas que ficam permanentemente no organismo, mesmo sofrendo ação
dos elementos de defesa orgânica não se desfazem, são envolvidos, após algum tempo, por tecidos
fibrosos
Os fios são também classificados como naturais e sintéticos. Dentro dos materiais naturais
absorvíveis tem-se o categute e o colágeno. Entre os fios sintéticos absorvíveis temos o ácido
poliglicólico (Dexon), poliglactina 910 (Vycril) e poligliconato (Maxon).
Exemplos de fios naturais não absorvíveis (incluindo os metais) são a seda, algodão e o tântalo.
Materiais sintéticos não absorvíveis incluem as poliamidas (náilon, caprolactam polimerizado),
poliéster, polipropileno e polietileno.

PROPRIEDADES DOS FIOS DE SUTURA

Características físicas

Configuração física: composição dos fios quanto aos seus filamentos: mono ou multifilamentados
(trançado ou torcido). Os multifilamentados aumentam chances de infecção.

Capilaridade: capacidade de captar líquidos, mesmo que só uma extremidade esteja em contato com
os líquidos.

Absorção de fluidos: é o poder que o fio tem de captar fluido quando está totalmente imerso. A
capilaridade e absorção de fluidos estão intimamente relacionados à capacidade que o fio tem de
captar, transportar e reter bactérias. Os multifilamentados têm maior capacidade de absorção.

Aderência bacteriana: propriedade relacionada às três anteriores. É a capacidade que o fio possui de
fazer as bactérias aderirem em sua superfície e/ou interstício. Portanto, fios monofilamentados têm
indicação em ferida contaminada.

Diâmetro: é o calibre do fio, determinado em milímetros e expresso em zeros. Quanto menor o


diâmetro da secção transversal do fio, maior o número de zeros. Porém, nem todos os fios com o
mesmo número de zeros têm o mesmo diâmetro, pois o número de zeros corresponde a um diâmetro
capaz de determinar a resistência tênsil. O diâmetro varia com a qualidade do material que compõe o
fio.

Força tênsil: é a somatória das forças necessárias para quebrar o fio, dividido por área de secção
transversal do diâmetro do fio. Portanto, esta força quadruplica quando dobra o diâmetro do fio. A
força tênsil deve ser diferenciada no fio em repouso e em utilização (com o nó). Esta é a força tênsil
efetiva.

Força do nó: é a força necessária para um determinado tipo de nó escorregar ou escapar. O fio ser
“escorregadio” significa que ele tem um baixo coeficiente de atrito.

Elasticidade: é a capacidade que o fio tem de retomar sua forma e tamanho original após tracionado.
40
Plasticidade: expressa a capacidade que o fio tem de manter-se sob a nova forma após ter sido
tracionado. A elasticidade e a plasticidade são importantes quando ocorre edema da ferida. Se o fio
possui grande plasticidade, após a redução do edema o fio não retornará à forma original (pouca
tendência a cortar as bordas da ferida); se possui grande elasticidade, não se rompe dentro da ferida.

Memória: é a propriedade relacionada à elasticidade e plasticidade após ter sido dado o nó. Fios com
alta memória tendem a desatar o nó, e retornar à sua forma original, como o nylon (náilon). A memória
influencia no manuseio. Fios com alta memória dificultam o manuseio. Fios com alta memória, que
são pouco elásticos e com grande força tênsil têm tendência a cortar tecidos.

Características de manuseio

Pliabilidade: é a facilidade que o cirurgião encontra no fio para cerrar o nó, para dobrar o fio. Os fios
de maior pliabilidade são os multifilamentados, principalmente os trançados, como a seda.

Coeficiente de atrito: é a capacidade do fio em deslizar pelos tecidos, e de desatar o nó. Fios com
elevado coeficiente de atrito chegam a “raspar” nos tecidos dificultando, portanto, sua retirada. Fios
monofilamentados são utilizados em suturas cutâneas por possuírem baixo coeficiente de atrito.
Quanto menor este coeficiente é mais fácil reposicionar o nó, entretanto, mais fácil de ele escapar.

SUTURAS ABSORVÍVEIS DE ORIGEM ANIMAL

Categute

É preparado tanto da submucosa do intestino delgado de ovinos ou da camada serosa do


intestino delgado de bovinos. Teve seu nome originariamente dito por ser espichado como uma corda,
porém mais tarde foi mudado para gato jovem (do inglês “kit” e “cat”).
É um material capilar, multifilamentoso, composto de muitas tiras que são torcidas em
máquinas, polidas de maneira a ter uma superfície regular e macia. É tratado com formaldeído e
esterilizado por radiação ionizável. Não pode ser autoclavado, pois o calor desnatura as proteínas e
causa perda de tensão. A absorção do categute após seu implante obedece a um mecanismo de duas
partes: primeiro a perda da tensão de estiramento resulta na separação molecular por ação de ácidos
hidrolíticos e atividades colagenolítica; segundo, a digestão e absorção são feitos por enzimas
proteolíticas que ocorre tardiamente. Devido a sua composição de colágeno, o categute estimula uma
significante reação tipo corpo estranho nos tecidos. O categute possui uma grande variação na absorção
e na perda da tensão superficial, o que o coloca em posição de inferioridade quando comparado com os
fios sintéticos absorvíveis.
Uma absorção prematura acontece quando o categute é exposto às secreções ácidas (pepsina) do
estômago, ambiente infectado, ou tecidos muito vascularizados. Sua absorção também é acelerada em
pacientes com deficiência protéica. A diferença em diâmetro tem pouca influencia no tempo de
absorção.
O categute médio perde ao redor de 33% de sua tensão original após 7 dias de implantado e
cerca de 67% após 28 dias.
O categute cirúrgico está disponível na forma simples e cromada.
O tratamento com sais de cromo resulta em um aumento das ligações intermoleculares, tendo
como resultado o aumento da tensão superficial e a resistência a digestão, com decréscimo da
reatividade tecidual.
41
A graduação do categute cromado é:
cromado fraco (tipo B) - perda da tensão ao redor de 10 dias;
cromado médio (tipo C) - perda da tensão ao redor de 20 dias;
cromado extra (tipo D) - perda da tensão ao redor de 40 dias.
O tipo médio é mais usado em Medicina Veterinária.
Comercialmente é oferecido nos diâmetros de 8-0 (mais fino) a 4 (mais grosso) e vem
veiculado em álcool.
Vantagens - muito bom manuseio, porém quando molhado, escorrega e enfraquece.
Desvantagens - reação inflamatória e irregularidade na absorção.

Colágeno
O colágeno é composto de material monofilamentoso e foi introduzido em 1964. É feito de
tendão flexor de bovino, tratado com formaldeído ou sais de cromo, ou ambos. As suturas de colágeno
são feitas atualmente em diâmetros finos e são usadas quase que exclusivamente em cirurgia oftálmica.

FIOS DE SUTURA ABSORVÍVEIS DE ORIGEM SINTÉTICA


A reação inflamatória a estes fios é bem menos intensa que a reação ao categute e,
praticamente, estes fios não determinam reação inflamatória crônica. Esses tipos de suturas foram
introduzidos para reduzir a variação na absorção e consequente perda de tensão superficial associada
aos produtos naturais.

Ácido poliglicólico (PGA) - Dexon


É um polímero multifilamentoso do ácido glicólico (ácido hidroxiacético) que foi descrito pela
primeira vez em 1970 e possui os tamanhos 7-0 a 3.
O método de absorção de Dexon difere do categute. O Dexon é absorvido por hidrólise não por
fagocitose, possivelmente através de esterases. Existe a hipótese suspeita que os produtos de
degradação do PGA são potentes agentes antibacterianos. A absorção está associada com uma grande
redução do processo inflamatório se comparado com o categute.
A absorção completa ocorre usualmente em 60 a 90 dias.
A hidrólise do PGA se processa mais rápida em presença de ambiente alcalino. O Dexon é
relativamente forte e similar a poliglactina 910 e ao náilon monofilamentoso. Tem maior tensão de
estiramento que o categute, seda e algodão.
A perda da tensão é ao redor de 35% nos primeiros 14 dias após o implante e 65% em 21 dias.
Devido a sua rápida perda da tensão de estiramento, o PGA é inferior aos materiais não absorvíveis
quando usados em tecidos com cicatrização vagarosa como ligamentos, tendões e cápsulas articulares.
Deve-se considerar que o Dexon tem uma tensão de estiramento superior ao categute durante a
fase mais crítica da reparação das feridas.
O Dexon pode ser usado em grande variedade de procedimentos cirúrgicos é bem tolerado não
só em feridas limpas mas também em situações de infecção.
As desvantagens do PGA incluem a tendência de cortar os tecidos, principalmente os friáveis.

Poliglactina 910 - Vicryl


É uma fibra sintética, trançada, composta de ácido glicólico e láctico, em uma proporção de
9:1. Esta sutura é trançada para melhorar o manuseio.
O Vicryl é mais hidrofóbico e mais resistente à hidrólise que o Dexon.
42
Esta sutura é esterilizada pelo óxido de etileno e disponível coberta e descoberta. A cobertura é
feita com uma mistura de esterato de cálcio e um copolímero dos ácidos lactivo e glicolido numa
proporção de 65:35.
O mecanismo de absorção é o mesmo do Dexon (hidrólise), e ocorre entre 56 e 70 dias após o
implante. É mais forte que o PGA em todo tempo do implante, principalmente de 0 a 35 dias. Esta
sutura perde 25% de sua tensão depois de 14 dias e 50% após 21 dias.
Sua absorção não depende do diâmetro da sutura. É mais forte que o categute, e é bem tolerado
em muitas condições diferentes em feridas.
Não promove nenhuma manifestação vascular aguda após o implante. As reações celulares são
predominantemente mononucleares e na vizinhança à área do implante.

Polidiaxonona (Pds)
Esta sutura sintética monofilamentosa é um polímero da paradioxanona. É esterilizada pelo
óxido de etileno, possui grande flexibilidade, maior que o Dexon, Vicryl ou polipropileno.
Sua degradação é através da hidrólise, que ocorre em velocidade regular e de uma maneira
previsível nos tecidos. A perda da tensão de estiramento é menor que do Dexon ou do Vycril. Perde
14% de sua tensão após 14 dias, 31% após 42 dias e 86% após 8 semanas.
A absorção é mais lenta que o Dexon e o Vicryl. Existe ainda evidência aos 91 dias e fica
totalmente absorvida em 182 dias após o implante. Os produtos de degradação são excretados
primariamente pela urina.
O PDS II é um produto novo que possui todas as características do “velho” PDS exceto que o
tempo de retenção da tensão do estiramento foi aumentado. Os macrófagos e os fibroblastos são as
células mais observadas na absorção.

Poligliconato - Maxon
Esse é um fio de sutura recente, produzido a partir de um copolímero do carbonato de
glicolideo e trimetilene (GTMC). Esta sutura foi feita para ter o desempenho previsível de uma sutura
sintética absorvível “in vivo” com as características de manuseio de uma sutura monofilamentosa.
O Maxon tem uma tensão de estiramento inicial superior a do Dexon, Vicryl e Pds.
É degradado por hidrólise. Retém a tensão de estiramento em 70% ao 14 dias, 55% em 28 dias
e 30% em 42 dias.

FIOS NÃO ABSORVÍVEIS


De origem natural:

Seda
A seda é obtida da larva do bicho da seda. Está disponível na forma torcida ou trançada. Pode
ser tratada por imersão em óleo vegetal, cera ou silicone, a fim de diminuir a capilaridade. Apesar de
ser classificada como uma sutura não absorvível, ela pode ser absorvida a longo prazo. A seda perde
30% de sua tensão de estiramento em duas semanas, 50% em um ano e praticamente toda tensão ao
redor de dois anos.
Vantagens: barata, excelente manuseio, e boa segurança nos nós.
Desvantagens: maior reação tecidual que outros materiais não absorvíveis. Pode servir de “nidus” no
sistema urinário, ou promover úlceras quando na luz de órgãos do sistema gastrintestinal.
A cera ou o silicone diminuem a segurança dos nós, e ela fica mais fraca quando molhada. É
recomendada para unir tecidos em presença da contaminação.
43
Algodão
O algodão possui fibras naturalmente torcidas. Foi introduzido no final da década de 1930.
A principal propriedade é de aumentar sua tensão de estiramento quando molhado. Outras
vantagens incluem uma melhor segurança nos nós que a seda, perda lenta da tensão de estiramento
(50% em 6 meses e 70% em dois anos).
Desvantagens: provoca uma reação tecidual semelhante à da seda, potencializa infecções, é muito
capilar e seu manuseio não é muito bom.

Suturas metálicas
Aço Inoxidável
Tem sido usado por séculos. É atualmente a única sutura metálica com alguma aceitação. O aço
inoxidável disponível é do tipo autêntico contendo ferro, cromo, níquel e molibdênio. Está disponível
nas formas monofilamentosa ou torcida.
Vantagens: não promove reação inflamatória nos tecidos, possui maior tensão de estiramento
de todos os materiais quando implantado nos tecidos, possui a maior segurança nos nós de todos os
materiais, pode ser autoclavado, e é recomendado para tecidos com cicatrização lenta.
A forma monofilamentosa pode ser usada em feridas contaminadas e infectadas.
Desvantagens: tendência a cortar os tecidos, manuseio pobre (principalmente para atar os nós),
quebra quando torcido muitas vezes no mesmo ponto e promove necrose tecidual pelo movimento dos
tecidos contra as pontas não flexíveis.

FIOS DE SUTURA NÃO ABSORVÍVEIS SINTÉTICOS

Poliamidas
Náilon e caprolactam polimerizável, poliéster.

Náilon
O náilon é um termoplástico que contém aminas e é derivado do ácido adipico. Encontra-se
disponível na forma de sutura mono e multifilamentosa. Após sua implantação, perde ao redor de 30%
de sua tensão de estiramento em dois anos (o monofilamentoso). O náilon multifilamentoso perde toda
sua tensão ao redor de seis meses. A perda desta tensão está associada a degradação química do náilon,
e há suspeita que os produtos de degradação são agentes antibacterianos potentes.
Vantagens: é biologicamente inerte não capilar na forma monofilamentosa e possui uma tensão
de estiramento similar a do polipropileno.
Possui grande aplicação como material de sutura. A incidência de infecção em tecidos
contaminados contendo náilon monofilamentoso é mais baixa do que qualquer outro material de sutura
não absorvível, com exceção do prolipropileno. Possui mínima diferença microscópica quanto a reação
tecidual se comparado ao aço inoxidável. Pode ser usado em qualquer tecido, porém não é
recomendado para cavidade serosa ou sinovial, devido a irritação pela fricção de suas pontas.
Desvantagens: pobre manuseio e pouca segurança nos nós. Possui “memória” que é a
tendência de reverter a sua configuração original.
A segurança dos nós pode ser melhorada, dando-se 4 ou 5 nós, o que prolonga o tempo de
realização da sutura.

44
Caprolactam
É uma sutura de poliamida multifilamentosa, torcida, da família do náilon. Foi introduzida em
Veterinária ao redor de 1940 e está disponível somente em diâmetro grande, podendo ser esterilizado
por autoclave. A esterilização química não é suficiente.
Quando comparado ao náilon, o caprolactam tem uma tensão de estiramento maior, porém
quando molhado perde ao redor de 20% da tensão.
Promove mais reação inflamatória quando usado em suturas de pele, que a de um grampo de
aço inoxidável.

Poliéster
É uma sutura multifilamentosa, disponível em forma simples e coberta, com polibutilato, teflon
e silicone. Foi introduzida no final da década de 50.
Vantagens: é muito forte - a sutura não metálica mais forte que existe. As de pequeno diâmetro
promovem grande tensão de estiramento inicial, com pequena perda após a implantação. Oferece um
bom suporte para tecidos de lenta cicatrização.
Desvantagens: manuseio limitado, grande coeficiente de fricção (a cobertura geralmente
diminui este coeficiente), pobre segurança dos nós (recomenda-se 5 nós apertados), é a mais reativa das
suturas sintéticas (reação comparável à do categute). Seu uso em feridas contaminadas tem sido
associada com infecção local persistente e reação tecidual exagerada.

Polipropileno
Sutura introduzida em 1961 e é um polímero do propileno, um derivado do gás propano.
Disponível na cor azul e natural.
Vantagens: grande segurança nos nós (melhor do que qualquer outro material
monofilamentoso, não sintético não metálico), retém sua tensão de estiramento após a implantação nos
tecidos, não é enfraquecido pelas enzimas teciduais e é por isso usado em sutura cardiovascular.
Devido a sua grande flexibilidade, é recomendado para uso em tecidos que tenham capacidade
de elongação, como pele e músculo cardíaco.
Possui também o menor efeito potencial de transformar uma ferida contaminada em infectada
(grande resistência à infecção bacteriana).
Desvantagens: o fio torna-se escorregadio.

Polietileno
É uma sutura monofilamentosa com excelente tensão de estiramento, porém com muito pouca
tensão nos nós. Pode ser auto clavado sem perda considerável de tensão.
O polietileno é semelhante ao polipropileno com reação a mínima reatividade tecidual e sua
resistência a contaminação bacteriana. A maior desvantagem é pouca segurança dos nós.

Quando tantos tipos de suturas estão disponíveis, a seleção apropriada pode ser difícil. O material de
sutura deve ser escolhido na base de suas propriedades biológicas conhecidas e da situação clínica
presente no momento. Deve-se considerar também que determinado material é superior a outros em
diferentes tipos e ambientes de feridas.

Princípios a serem observados na escolha de um material de sutura:


 as suturas devem ser tão ou mais fortes do que os tecidos normais através dos quais são
colocadas;
 a pele e a fáscia são os tecidos mais fortes, sendo que o estômago, intestino e bexiga urinária
são os mais fracos;

45
 as suturas não são necessárias após a ferida ter cicatrizado;
 as feridas viscerais cicatrizam rapidamente, mantendo a tensão entre 14 e 21 dias, sendo que as
suturas absorvíveis são mais adequadas para estes tecidos.
 a fáscia e a pele cicatrizam com mais vagar, sendo as suturas não absorvíveis as mais indicadas;
 suturas monofilamentosas suportam mais contaminação do que as suturas multifilamentosas;
 suturas sintéticas são superiores às suturas naturais;
 ácido poliglicólico, poliglactina 910, polidioxanona, náilon monofilamentoso e polipropileno
têm a menor incidência de infecção quando usado em tecidos contaminados.
 as condições mecânicas das suturas devem ser similares a dos tecidos a serem unidos.

CONSEQUÊNCIAS DA REAÇÃO TECIDUAL EXCESSIVA AO FIO E SUTURA


Pode haver a ocorrência de fenômenos indesejáveis devido ao processo inflamatório excessivo
causado pela presença dos fios nos tecidos.

Fenômenos precoces:
- corte do tecido – é o corte pelo fio dos tecidos excessivamente inflamados e amolecidos.
- retardo na cicatrização das feridas
- formação de bridas (aderências)
- predisposição a infecções
- deiscência

Fenômenos tardios:
- abscesso local
- formação de cavidades (seios)
- eliminação espontânea e periódica dos fios, associada à descarga de material seroso ou purulento
(sinus).

SELEÇÃO DO FIO APROPRIADO

A seleção da sutura apropriada envolve a escolha do tipo e tamanho certos. Todo fio de sutura é
um corpo estranho ao tecido vivo, portanto, quanto maior o fio, maior a reação. Por isto deve-se
utilizar o fio mais fino possível. A reação tecidual inicia-se no ato da passagem da agulha com o fio. A
reação ao fio propriamente dita aparece entre o 2º e 5º dias após o implante do mesmo. Reações
intensas e prolongadas provocam infecção e deiscência. Os parâmetros para a utilização e o tamanho
dos fios de sutura para vários tecidos se encontram resumidos na tabela abaixo. O uso do menor
tamanho possível de sutura para o fechamento de um ferimento resulta em menor traumatismo
tecidual, permite que se dê nós menores e força o cirurgião a manipular mais cuidadosamente as
suturas e o tecido. As suturas muito grandes podem na verdade enfraquecer o ferimento por meio de
uma reação e um estrangulamento tecidual excessivo.

Fechamento abdominal
Na pele, devem ser usados fios monofilamentares para evitar o transporte capilar de bactérias
para tecidos mais profundos. Os fios de sutura não-absorvíveis monofilamentares sintéticos possuem
boa segurança de nó relativa e são relativamente não capilares. Fios de sutura absorvíveis podem ser
empregados na pele, mas devem ser removidos, pois a absorção requer contato com fluidos corporais.
Suturas subcutâneas são utilizadas para obliterar o espaço morto e diminuir a tensão nas bordas
cutâneas; para isso, prefere-se um material de sutura absorvível. A fáscia do músculo reto abdominal
pode ser fechada com um padrão de sutura interrompido ou contínuo. Quando se adota um padrão de

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sutura contínuo, deve-se utilizar um fio de sutura monofilamentar forte com boa segurança de nó. No
caso de um padrão de sutura contínuo, prefere-se um fio de sutura de tamanho maior do que seria
usado normalmente. Os nós devem ser amarrados cuidadosamente.

Músculos e tendões
Os músculos têm fraco poder de retenção e são difíceis de suturar. Podem ser usados materiais
de sutura absorvíveis ou não absorvíveis. Suturas colocadas paralelamente às fibras musculares têm
probabilidade de sair do local. O material empregado para um reparo tendinoso deve ser forte, não-
absorvível e minimamente reativo. Uma sutura com agulha afilada ou de corte afilada é geralmente
menos traumática. Deve-se usar o maior fio de sutura que passe com mínimo traumatismo através do
tendão.

Órgãos parenquimatosos e vasos


Órgãos parenquimatosos (tais como fígado, baço e rins) geralmente são suturados com fios
monofilamentares absorvíveis. Devem ser evitados fios multifilamentares em áreas de contaminação, e
fios de sutura com arrasto maior podem tender a cortar os tecidos.

Órgãos viscerais ocos


Recomendam-se geralmente fios de sutura absorvíveis para órgãos viscerais ocos (tais como
traqueia, trato gastrintestinal ou bexiga) para evitar retenção tecidual de material estranho quando o
ferimento cicatrizar. Além disso, um fio de sutura não-absorvível pode se tornar calculogênico quando
colocado na bexiga ou na vesícula biliar.

Ferimentos infectados ou contaminados


Se possível, devem ser evitados fios de sutura em ferimentos altamente contaminados ou
infectados. Não devem ser usados fios de sutura não-absorvíveis multifilamentares em tecidos
infectados, pois eles potencializam a infecção e podem fistular. Prefere-se um material absorvível; no
entanto, deve-se evitar o categute cirúrgico, pois sua absorção em tecido infectado é imprevisível. Os
fios de sutura monofilamentares sintéticos de náilon e polipropileno (não-absorvíveis) podem deflagrar
menos infecção em tecidos contaminados do que fios metálicos.

47
Tamanho da sutura e recomendações de uso gerais na cirurgia de pequenos animais.

Resumo das características gerais dos materiais de sutura.

48
SELEÇÃO DE AGULHAS

Os fatores importantes a serem considerados na seleção das agulhas são as características dos
tecidos a serem suturados, a ferida e as agulhas propriamente ditas.
Existem duas categorias de agulhas cirúrgicas; com fundo falso (não fechado) e com fundo
verdadeiro (fechado).
O diâmetro das agulhas é um fator importante a ser considerado:
- deve ser comprida o suficiente para abranger os dois lados da incisão;
- diâmetro muito grande resulta em maior trauma tecidual;
- as agulhas que tiverem proporção entre o diâmetro e comprimento superior a 1:8, tendem a quebrar
ou entortar facilmente;
- formato varia de acordo com o tecido a ser suturado.
As agulhas mais retas são usadas em tecidos próximos a superfície e nos intestinos. As agulhas
curvas são mais convenientes para feridas pequenas ou profundas, ou em cavidades.
O tipo da ponta também deve ser considerado na escolha das agulhas:
- as agulhas não traumáticas são arredondadas e sem bordas e geralmente são usadas para órgãos
parenquimatosos, tecido adiposo e músculo.
- as agulhas traumáticas são cortantes e indicadas para tecidos com maior resistência como tecido
fibroso e pele.
As agulhas devem fazer um orifício grande o suficiente para permitir somente a passagem do
material de sutura e serem grandes o suficiente e com formato adequado para permitir a execução das
suturas de maneira rápida e precisa.

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NÓS CIRÚRGICOS
Um item essencial de qualquer ato cirúrgico é amarrar o nó de maneira rápida e eficiente.
Somente a prática permite a execução de nós corretos e eficientes. Para exercício deve ser usado o nó
mais simples e também com o menor tamanho possível – evidente que sem comprometer a segurança e
durabilidade do fechamento – produzindo o maior laço. Isto permite que o organismo tenha menor grau
de rejeição, menos material a digerir, encapsular ou expulsar. O nó deve ser realizado de maneira
segura, evitando assim problemas como hemorragia dos vasos principais, hérnia, evisceração e mesmo
a morte. As extremidades dos fios devem ser cortadas curtas, exceção feita ao categute que pode dilatar
e mesmo afrouxar, devendo ser deixada pontas maiores.

TIPOS DE NÓS

Nó quadrado
O nó normalmente é laçado com o porta agulhas, sempre paralelo ao ferimento e os
movimentos no sentido perpendicular a ferida cirúrgica, usado para ligadura vascular. Exercendo uma
tensão uniforme nas extremidades da sutura, assegurando que o no acabe como um quadrado e não
como duas meia-voltas (resultantes de uma tensão desigual nas duas extremidades durante a laçada).
Outros nós que tendem a escorregar são aqueles que apertam conforme a segunda laçada é pressionada,
assim como os nós que finalizam em uma sutura contínua onde dois fios são laçados em um. A fricção
de um componente contra o outro é que faz com que o nó permaneça atado, sendo necessárias no
mínimo quatro laçadas para que o nó quadrado tenha uma boa fricção. Os fios monofilamentares -
náilon, polipropileno – e os sintéticos trançados (especialmente aqueles revestidos com teflon), têm um
nó com segurança precária devido à memória, o que exige especial atenção quando usados, podendo
afrouxar mesmo antes de ser dada a segunda laçada.

Nó quadrado Nó quadrado

Nó de Cirurgião
É basicamente igual ao quadrado, exceto que a primeira sutura consiste em duas laçadas,
podendo também ser reforçado pôr nós adicionais. É usado quando a primeira laçada do nó quadrado
não puder ser fixa em posição devido à tensão excessiva da borda do ferimento, usado na maioria dos
procedimentos e suturas.
Nó de Cirurgião

50
Técnica do nó com as duas mãos
a) fio na posição reta – 1º tempo

51
4

52
2o tempo

1 2

3 4

6
53
b) fio cruzado – 1º tempo

2
3

4 5
0

54
Técnica do nó com uma mão
Nó simples, 1º tempo

1 2

55
2º tempo

1
3

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Nós com Porta-agulhas

A maioria dos nós é realizada com o porta-agulhas. O seu uso é recomendado devido a sua
adaptabilidade e são econômicos quando comparados com os nós feitos com as duas mãos. Podem-se
usar pedaços curtos de material e mesmo assim obter uma sutura firme.

Tempos
É feito um laço com a parte longa do fio, na ponta do instrumento, posicionando ao lado da incisão;

A extremidade curta é presa pelo porta-agulhas e puxado por dentro do laço fixando o nó de modo
seguro - ver o sentido do nó;

57
A tração deve ser aplicada no mesmo plano do nó, sem apertar demais;

Dar outra meia volta com a parte longa do fio ao redor do instrumento, mas em direção oposta;

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Prende-se a parte curta do fio fazendo-o passar através do laço.

Nota: o nó de cirurgião é feito da mesma maneira, exceto que se deve dar duas voltas ao redor
do porta-agulhas, na primeira parte.

TENSÃO
A tensão deve ser adequada, nem pouca e nem excessos, pois podemos estrangular os tecidos,
provocando necrose e mesmo retardo a cicatrização.
Para que possamos avaliar a tensão nas suturas individuais, o número de suturas aplicadas para
fechar a incisão deve ser aumentado; isto é justificado pelo fato que quando as suturas estão espaçadas
uniformemente a tensão estará igualmente distribuída entre as suturas.

LIGADURAS
A ligadura é uma alça de sutura usada para ocluir um vaso sanguíneo, tanto antes como depois
dele ser lesado. Para prevenir o escorregamento a ligadura pode ser convertida em ligadura de
transfixação fazendo com que ela atravesse a luz do vaso. Ela é amarrada ao redor de uma metade do
vaso, e depois em volta de todo o vaso, abaixo do orifício feito pela agulha.
Ligaduras de transfixação podem ser aplicadas para ligar diversos vasos sanguíneos.
Ligadura de transfixação

Deve-se deixar a menor quantidade possível de tecido na parte distal da ligadura, pois o coto
que foi criado se tornará necrótico e terá de ser absorvido pelo organismo. Não se deve deixar
um coto muito curto, evitando-se que a ligadura deslize para além da extremidade, ocasionando perda
de fixação.

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Os laços duplos são mais firmes que os individuais devido à distribuição da fricção e forças de
tensão. Soma-se a isto que a força de ruptura do laço é inversamente proporcional ao volume que ele
encerra. Portanto, a ligadura de massas de tecidos são mais propensas a se romperem do que ligaduras
em pequenos vasos sangüíneos ou do que em vasos isolados.
Além disso os vasos podem recanalizar no interior de uma grande massa de tecidos.
Quando houver necessidade de se usar ligaduras em grandes massas de tecidos ou pedículos,
deve-se usar o método das três pinças. Conforme demonstrado na figura abaixo a pinça é colocada no
pedículo.
Ligadura com 3 pinças

A pinça A é distal enquanto a pinça C é proximal. O pedículo é dividido entre as pinças A e B.


A primeira ligadura é feita cranial a pinça C, enquanto esta é retirada, para que o fio se encaixe
no sulco deixado pela pinça removida. Faz-se o mesmo procedimento proximal a pinça B para que o
fio se encaixe no sulco deixado pela pinça removida.

PREPARAÇÃO DA SALA DE CIRURGIA


Uma boa manutenção e limpeza da sala operatória são essenciais para a manutenção da técnica
asséptica.

Limpeza geral
A sala cirúrgica deve ser completamente limpa e livre de poeira, por meio de:
Limpeza semanal com antissépticos:
- limpeza e remoção de todo equipamento da sala operatória;
- lavagem das paredes, janelas, e suportes de lâmpadas;
- limpeza de ar condicionado e ventiladores;
- esvaziamento e reposição de estoque dos armários;
-esfregar o chão, com pano úmido ou por aspiração, usando desinfetantes.

Limpeza diária com antissépticos: deve ser feita no final do dia, afim de não acumular pó.
- esvaziar e limpar todos os continentes (baldes, etc...);
- lavar a mesa de cirurgia;
- usar um pano com solução desinfetante para passar em todo equipamento e mobília;
- lavar o assoalho com solução desinfetante;
- encher vidros e suprir o estoque dos armários.

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PREPARAÇÃO DO VESTIÁRIO
 remover todas as roupas usadas para a lavanderia;
 recolocar roupas limpas;
 tirar o pó dos móveis;
 limpar o assoalho com solução desinfetante.

PREPARAÇÃO DA SALA DE PRÉ-OPERATÓRIO


 limpar todos os metais;
 esvaziar todos os baldes e aspiradores;
 limpar e desinfetar os boxes para os animais;
 lavar o chão;
 tirar o pó e repor todas as soluções.
 selecionar o lixo em: cortantes, contaminados e controlados.

Todo o instrumental, usado e não usado deve ser removido do ambiente cirúrgico após a
realização de uma cirurgia e a mesa cirúrgica deve ser limpa e desinfetada, assim como o assoalho.
Outros fatores importantes para manter a assepsia na sala de cirurgia incluem a limitada
admissão de pessoas vestindo-se apropriadamente, o limite de movimentos de pessoal na sala de
cirurgia e o nível de conversa reduzido ao mínimo.

PREPARAÇÃO DA EQUIPE CIRÚRGICA


Uma boa higiene pessoal é importante para a assepsia cirúrgica.

ROUPAGEM CIRÚRGICA
As roupas cirúrgicas são usadas para reduzir a quantidade de sujeira que poderia ser trazida
para o interior da sala cirúrgica se roupas comuns (de rua) fossem usadas. Estas roupas devem ser
feitas de algodão, pois este tecido possui a propriedade de encorpar quando molhado.

Macacão (uma peça) e pijama (duas peças- jaleco e calça)  quando usado o de duas peças, a parte
de cima deve estar para dentro das calças.

Sapatos  idealmente, sapatos de rua não devem ser usados descobertos na área cirúrgica. Sapatos
especiais para esta área devem ser usados, e podem ser chinelos ou tênis de qualquer espécie, desde
que só usados ali.

Cobre-pés  ou pró-pés, podem ser descartáveis e não descartáveis. Os descartáveis são usados para
cobrir os sapatos de rua.

Gorros  são usados para cobrir o cabelo. Os gorros tradicionais para homens não são feitos para
cobrir cabelos longos, que nestes casos devem ser presos antes da colocação do gorro. Gorro para
mulheres existem em maior variedade de tipos. Diferentes formatos e cores podem ser usados e
também existem descartáveis.

Toucas  são usadas no lugar dos gorros para quem tem cabelos muito compridos ou barba. Se as
toucas não tiverem elástico na porção cervical, elas devem ser inseridas para dentro do pescoço da
camisa cirúrgica.

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Máscaras  o objetivo das máscaras cirúrgicas é filtrar o ar expirado do nariz e boca. Se não for
propriamente usada fica totalmente sem efeito. A máscara deve encaixar apropriadamente e deve sair
pelos lados. Existem modelos descartáveis e não descartáveis. As máscaras são filtros efetivos somente
por pouco espaço de tempo, são atuantes por 30 minutos e a partir deste tempo começam a perder sua
eficácia, que é acelerada pela conversa. Devem ser trocadas entre as cirurgias e devem ser
completamente removidas após o término, pois estão grandemente contaminadas e devem ser
manuseadas pelas tiras.

Luvas cirúrgicas  todas de borracha e devem ser usadas as não descartáveis. Elas vêm com talco,
estéreis e aos pares, prontas para uso. Em cirurgias mais demoradas podem ser usadas duplas.

ANTISSEPSIA (LAVAGEM) DAS MÃOS E ANTEBRAÇOS


Envolve a limpeza das mãos e antebraços com escova, colocação do avental esterilizado e luva.
A finalidade da antissepsia é remover a sujeira e a gordura, a flora bacteriana transitória, e uma porção
da flora bacteriana residente das mãos e braços.

Efeitos mecânicos da anti-sepsia:


 a flora transitória das mãos pode ser completamente removida com 5 a 10 minutos de
escovação com anti-sépticos.
 a flora residente das mãos é reduzida em forma logarítmica com escovação com antissépticos,
isto é, reduzida pela metade a cada 6 minutos de escovação vigorosa.
 a flora localizada superficialmente pode ser removida com regularidade, porém a localizada
profunda na pele não é significativamente afetada a não ser após 15 minutos de escovação.
 a regeneração das bactérias cutâneas inicia imediatamente após a pele ser escovada e
desinfetada. O crescimento é ao redor de 25% completo em 24 horas, 73% em 3 dias e 100%
em uma semana. Este crescimento é acelerado quando são vestidos aventais e luvas.

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Métodos de escovação:
Antes de iniciar a escovação, o cirurgião e equipe devem estar vestidos adequadamente e ter
todas as jóias removidas dos braços e dedos. Assim que a escovação iniciar, as mãos e braços não
devem tocar nada que não esteja estéril. Se isto ocorrer, devem-se repetir as manobras desde o início.
 molhar as mãos e braços até um ponto acima do cotovelo e massagear por aproximadamente
um minuto, com antisséptico;
 remover o antisséptico com água corrente, colocando as mãos acima dos cotovelos para água
escorrer por esses;
 com o auxílio de uma escova com antisséptico inicia-se a antissepsia.
 primeiramente escova-se o espaço embaixo das unhas e as cutículas.
 após, considere os dedos, mãos e braços como objetos de 4 lados e escove cada lado com
movimentos circulares de escova.
 a sequência exata da escovação não proporciona diferença, porém o uso de uma sequência
sistemática deve ocorrer até tornar-se um hábito. Um método sistemático de escovação é
escovar todos os 4 lados de um dedo; ou escovar todos os mesmos lados de todos os dedos, e
depois passar para o outro lado.
 após todos os dedos serem escovados, passe para o polegar e entre os dedos.
 escove a palma e o dorso da mão com movimentos circulares de escova;
 escovar o pulso e o antebraço, cobrindo toda a superfície com movimentos circulares, indo em
direção ao cotovelo. O antebraço deve ser dividido em dois e cada escovada deve iniciar onde a
anterior parou;
 cotovelo deve ser escovado separadamente;
 após uma mão e braço ser escovado, lavar e escovar bem a outra mão e braço da mesma
maneira;
 após ambas mãos e braços estarem escovados, lavar em água corrente
 repetir a manobra outra vez em ambos mãos e braços.
 durante a lavagem, as mãos devem ser colocadas em uma posição mais alta que os cotovelos,
de maneira que a água possa drenar, ou escorrer pelos cotovelos ao invés de pelas mãos (da
área mais limpa para a menos limpa);

Escovação anatômica:
As escovadelas são contadas, isto é, dez escovadelas por superfície dos dedos, mãos e braços
repetidos duas vezes, nos dão ao redor de dez minutos.

Escovação cronometrada:
Ao invés de contar as escovadelas, conta o tempo de escovação, que deve ser de dez minutos.

Método sem escovação:


Esfregar o sabão antisséptico de forma sistemática por dez minutos.

63
64
Secagem das mãos
As mãos e braços devem ser secos com compressa estéril. Pegar com uma mão por uma das
pontas, longe do corpo e desdobrar. Usar metade da compressa para secar cada mão. Iniciar pela ponta
dos dedos, meio dos dedos, mão e ir secando em direção ao cotovelo. Após uma mão e braço estarem
secos, colocar a parte não usada da toalha na mão seca e secar a outra mão e braço.

Colocação do avental
Como é impossível manter as mãos completamente esterilizadas lavando e esfregando, elas não
devem entrar em contato com nenhuma parte fora do avental. Os aventais são embalados
individualmente e dobrados de modo que o seu lado interno fique para fora, permitindo que esta área
seja manipulada sem contaminar a superfície externa do avental. Ele deve ser pego pela região dos
ombros, pela superfície interna e então desdobrado. O avental é aberto, de tal modo que sua superfície
interna fique voltada para frente do cirurgião, sem contaminá-lo. Colocam-se os braços pela manga e as
mãos devem aparecer ou não pelos punhos, dependendo do método de colocação de luvas a ser usado.
O assistente ajusta o avental por trás e amarra as tiras. Uma vez colocado, apenas à frente do avental,
da região inferior do ombro ao nível da mesa e as mangas, são partes consideradas estéreis.

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Luvas
Existem dois métodos para calçar as luvas cirúrgicas:

Método Aberto:
Com a mão esquerda segurar a luva direita pela parte dobrada do punho e escorregar a mão
direita para dentro da luva deixando o punho dobrado.
Pegar a luva esquerda com os dedos enluvados da mão direita, por baixo do punho dobrado e
escorregar a mão esquerda para dentro da luva, puxando o punho da mesma sobre o punho do avental.
Com a mão esquerda, finalizar de arrumar o punho da luva direita, colocando os dedos
enluvados da mão esquerda debaixo da parte dobrada do punho da mão direita e desvirar o punho sobre
o punho do avental. Ajustar as luvas de maneira que elas calcem apropriadamente os dedos e a mão.
Este método tem como desvantagem a facilidade para a contaminação das luvas ao desdobrar o
punho.

Método Fechado:
As mãos são introduzidas na manga do avental até os punhos, porém não através deles.
Nenhuma parte da mão deve ser exposta.
Segurar a luva através do tecido da manga do avental e o punho da luva entre o polegar e o
indicador. Com as mãos ainda dentro do avental, segurar a luva esquerda com a mão esquerda. Deixar

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a luva com a palma para baixo, sobre a manga esquerda do avental, com os dedos apontando em
direção ao cotovelo e as bordas do punho da luva no punho do avental. O dedo polegar da luva deve
estar sobre e em direção oposta ao dedo polegar da mão. Usando a mão direita, ainda dentro da manga
do avental, introduzir o punho da luva sobre o punho do avental. Pegar ambos, a luva e o punho
(através da manga) com a mão direita e puxar a luva da mão esquerda. Repetir o procedimento da luva
na mão direita. A ordem com que as luvas são colocadas não é importante.
Geralmente é mais fácil colocar uma segunda luva porque se trabalha com a mão já enluvada ao
invés de ser através da manga.

* Nota: esta técnica será mais fácil de entender após explicação em aula prática.

Sequência da colocação de luvas no método aberto

67
Seqüência da colocação de luvas no método fechado

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Método Alternativo - colocação de luvas com o auxílio de assistente:
Após um membro da equipe cirúrgica estar com avental e luvas, é geralmente mais rápido
ajudar os outros membros a calçarem as luvas. O assistente pega a luva direita e insere 4 dedos de
ambas as mãos debaixo do punho. Uma mão deve estar com o polegar de um lado e o dedo mínimo do
outro, com a palma da mão virada em direção a pessoa que está calçando a luva. O assistente segura os
punhos abertos, a uma altura média. O cirurgião insere suas mãos na luva, tendo o cuidado de não tocar
nas mãos do assistente a segurar a luva aberta.

PREPARAÇÃO DO PACIENTE
A preparação cirúrgica ideal deve iniciar um dia antes da cirurgia, devendo o animal ser
banhado (pequenos animais), escovado e devendo-se efetuar a tricotomia do campo operatório, região
do corpo onde vai ser realizada a cirurgia. No campo operatório está contido o ponto de eleição, que é
onde se fará a incisão.
No dia da cirurgia, após o animal ser pré-anestesiado, ou anestesiado, o local da cirurgia é
preparado. Se os pelos não foram removidos previamente deve ser feito agora, usando uma máquina
elétrica ou um aparelho de barbear.
O animal deve ser removido para a sala de cirurgia, onde a anti-sepsia final do campo
operatório é feita. Uma maneira fácil de remover os pelos ainda existentes no campo operatório é com
o uso de esparadrapo.
Com auxílio de compressas cirúrgicas, o campo operatório é higienizado com água e sabão, a
fim de remover a contaminação mais grosseira. Após, chumaços de gaze esterilizada são embebidos
em álcool e passados no campo operatório. Depois, é passado o iodo e novamente álcool. Esses
movimentos são feitos sempre do centro para a periferia do campo operatório, sendo as gazes trocadas
a cada passada na pele. A última camada de álcool seca naturalmente antes ser iniciada a colocação dos
panos de campo. Estas manobras devem ser feitas de maneira gentil, pois a hiperemia consequente de
fricção exagerada só servirá para aumentar a hemorragia na pele e tecido subcutâneo (variação entre
espécies). Pode-se utilizar também gluconato de clorexidina degermante 2%, seguido de gluconato de
clorexidina alcoólica 0,5%.

69
PROCEDIMENTOS DENTRO DA SALA CIRÚRGICA

O sucesso de uma operação cirúrgica depende não só da compreensão dos princípios básicos de
divisão de tecidos, hemostasia e fechamento da ferida, como também de um centro cirúrgico bem
equipado, mantido por equipe treinada, que tem uma rotina organizada e estabelecida para esterilização
de instrumentos e para preparo e assistência às operações. Nenhum centro cirúrgico fornece todas as
exigências ideais, mas isto não é desculpa para não se procurar os padrões de assepsia, os mais
aceitáveis possíveis, dentro das instalações do centro e do equipamento disponível. São vários os tipos
de operação além daquelas realizadas em tecidos normalmente não infectados, como
ovariohisterectomia de rotina e a maioria dos processos ortopédicos; operações no aparelho
gastrointestinal, durante as quais o conteúdo intestinal pode contaminar tanto os instrumentos como as
mãos do cirurgião; e finalmente exploração de tecido excessivamente infectado, como fístulas.
Os casos potencialmente infectados devem sempre ser deixados para o fim de uma série de
cirurgias e deve-se tomar um cuidado especial para evitar a transferência da infecção para os
instrumentos, panos de campo e acessórios. Para este fim, é prática normal em operações que
envolvem a abertura de porções do aparelho gastrointestinal fazer uso de uma toalha suplementar
adicional, de cor distinta. Nesta toalha são colocados todos os instrumentos usados para abrir e fechar o
intestino e postos de lado como potencialmente contaminados, antes de se realizar o fechamento da
cavidade abdominal. Deve ser regulamento preestabelecido que nenhuma pessoa terá permissão para
entrar no centro cirúrgico sem primeiro vestir a indumentária protetora apropriada, que deve incluir
sapatilhas, gorro, máscara e avental.

Regras gerais
Todos os utensílios devem ser considerados esterilizados ou não. Em caso de dúvida, considere
não esterilizado.
 Somente a parte de fora dos materiais enrolados deve ser tocada por mãos sem luvas, e estes
pacotes devem ser abertos longe do corpo, sem contaminá-los;
 Materiais esterilizados são manuseados somente com luvas esterilizadas ou com instrumentos
esterilizados;
 O material que é removido de um pacote não deve retornar;
 Toda vez que um pacote com material esterilizado for molhado, deve ser considerado não
esterilizado.
 Nenhum objeto não esterilizado deve ter contato com superfície esterilizada.

EQUIPE CIRÚRGICA

Cirurgião
É responsável pela vida do paciente e tem sob sua responsabilidade o ato cirúrgico e toda a
equipe cirúrgica;

Assistente
É responsável pela ajuda ao cirurgião e deve ter um grande conhecimento da cirurgia a ser
executada. Ele deve ser capaz de antecipar os tempos cirúrgicos e de substituir o cirurgião em seu
impedimento. O assistente tem certas obrigações, como o controle da hemorragia, ajudar na exposição
e fazer as ligaduras, sem a solicitação do cirurgião;

70
Instrumentador
Deve manter o instrumental limpo de sangue, ordenar o instrumental na mesa cirúrgica,
antecipar os movimentos do cirurgião e assistente, alcançando o material sem solicitação, separar o
material contaminado, preparar as suturas e fazer a limpeza após a cirurgia.

Anestesista
É de sua responsabilidade promover a analgesia e manter os parâmetros fisiológicos do paciente
(função cardíaca e respiratória, drogas e administração de fluidos intravenosos).

Volante
Presta serviços de enfermagem.
Faz a preparação do local e do material que vai ser usado (calhas, cordas, etc ... ). Durante a
cirurgia deve antecipar os acontecimentos e ter o material e instrumental pronto para uso (desfibrilador,
etc...). Durante a cirurgia não pode se afastar do local. Após a cirurgia terminar, deve ajudar na
remoção do paciente e na limpeza da mesa e sala de cirurgia.

COLOCAÇÃO DE CAMPOS OPERATÓRIOS


Os panos de campo isolam o local cirúrgico de áreas contaminadas e proporcionam uma área de
trabalho estéril. Eles isolam uma área central contendo o local da incisão proposta, sendo presos à pele
do paciente por pinças de campo. Os panos de campo podem ser de algodão ou de material descartável.
 Nunca colocar campos esterilizados em uma superfície molhada. Se o antisséptico não secou,
use esponja de gaze esterilizada e uma pinça para secar a pele;
 Uma vez colocados os panos de campos não devem ser movidos. A única exceção é nas bordas
da fenestra que podem ser afastadas do local de incisão;
 Com o uso de campos cirúrgicos grandes, deve ser colocado dobrado sobre o paciente, com a
fenestra sobre o local da incisão e a partir daí o campo é desdobrado, de maneira a cobrir o
paciente e a mesa cirúrgica.
 As pinças de campo (Backhaus) uma vez aplicadas, não podem ser removidas.

71
a) colocação de quatro campos cirúrgicos esterilizados

72
b) colocação dos campos cirúrgicos esterilizados nas bordas das feridas

73
MOVIMENTAÇÃO DENTRO DA SALA DE CIRURGIA

Para pessoas com avental e luvas esterilizadas:


 nunca ficar de costas para a mesa cirúrgica;
 sempre virar de frente quando passar por outra pessoa na sala;
 reconhecer e dizer se você ou outra pessoa quebrar a técnica asséptica (tocar com a luva e
objeto não esterilizado, etc...);
 falar somente o necessário.

Para pessoas com pijama, gorro e máscara:


 não tocar superfícies contendo material esterilizado;
 não se debruçar sobre o campo cirúrgico, a não ser se permitido;
 não encostar no campo esterilizado;
 caminhar o mínimo possível ao redor.

74
SUTURAS
É a união ou aproximação de estruturas através de um ou mais pontos. As suturas são divididas
em dois grupos, as interrompidas e as contínuas.

INTERROMPIDAS
Os nós são atados e os fios cortados após uma ou duas passagens através dos tecidos.

CONTÍNUAS
Possui um nó inicial, o fio não é cortado, estendendo-se do ponto de origem após várias
passagens pelos tecidos, onde o fio é cortado após o nó final.
De acordo com a aparência de suas bordas, as suturas podem ser classificadas em:
Aposição: as bordas se encostam, no mesmo plano;
Eversão: maior contato das bordas, que se voltam para fora, formando uma crista evertida;
Inversão: a borda das feridas volta-se para o interior, causando uma invaginação.
Sobreposição: uma borda sobre a outra.

Nas suturas interrompidas - cada nó é uma entidade separada - e o rompimento de um ponto


não envolve a estrutura dos outros. São fáceis de serem colocadas e possuem a capacidade de ajustar-se
a tensão em cada sutura, de acordo com a tensão nas margens. As desvantagens incluem o tempo maior
de atarem os nós, aumento de volume de material deixado nas feridas ou de material sepultado.
As suturas contínuas usam menos material, o que minimiza a quantidade de material de sutura
nos nós e diminui o tempo de cirurgia. As suturas contínuas também fazem um melhor selamento ao ar
e água.
As desvantagens incluem um menor controle da tensão e a possibilidade de rompimento, o que
leva a destruição de toda a linha de sutura.
A habilidade de uma sutura inverter ou everter as bordas pode não ser indicada, dependendo da
região anatômica. A inversão pode ser desejável no fechamento de uma víscera oca, porém, não é
aconselhável para o fechamento da pele.

COLOCAÇÃO DAS SUTURAS


Após o fechamento de uma ferida, as bordas tornam-se enfraquecidas pela colagenólise e o
suporte das suturas está enfraquecido. As suturas colocadas a uma distância de mais de 0,5 cm das
margens da ferida, aparentemente não são afetadas pela colagenólise.
A inflamação também contribui para diminuir a tensão, é aconselhável colocar as suturas mais
de 0,5 cm afastadas das bordas em feridas muito traumatizadas. A tensão máxima junto aos tecidos é
também obtida quando as suturas são colocadas a uma distância de 0,5 cm uma das outras. Quando
colocadas mais próximas que 0,5 cm, causam retardamento da cicatrização devido a reação tecidual e
comprometimento da circulação sangüínea nas bordas da ferida.
Uma boa regra a seguir, é colocar o número de suturas suficiente para dar uma boa captação das
bordas.

75
SELEÇÃO DA SUTURA

A escolha do tipo de sutura é muito importante. Devido à forma helicoidal, as suturas contínuas têm
uma tendência de reduzir a microcirculação das bordas das feridas. Este fato prolonga a fase destrutiva
da cicatrização aumentando a formação de edema. Um ganho mais rápido em força de tensão é obtido
com as suturas simples interrompidas. Estatisticamente, as suturas simples interrompidas são mais
fortes que as contínuas.
De maneira geral, as suturas interrompidas são preferidas quando se quer mais tensão, mobilidade
dos tecidos e distensibilidade.

CLASSIFICAÇÃO DA SUTURA PELA DIFERENÇA DE PROFUNDIDADE DO TRAJETO


DO FIO

De acordo com a profundidade que agulha e fio alcançam na parede de um órgão ôco, as
suturas serão denominadas sero-serosas, sero-musculares e sero-mucosas. Em decorrência deste fato,
as suturas serão, ainda, denominadas não contaminantes, se forem sero-serosas (mais frágeis) ou sero-
musculares (mais confiáveis) e contaminantes, se forem sero-mucosas. Por princípio, considera-se
contaminada a luz dos órgãos ocos, como estômago e intestinos.

76
SUTURAS INTERROMPIDAS

Sutura Interrompida Simples


É a mais usada de todas as suturas e também a mais versátil. Quando colocada de maneira
apropriada, mantém uma boa aposição, tem ação independente das outras na linha de sutura e permite
mobilidade tecidual entre as suturas. A técnica é fácil e rápida. A sutura é colocada direcionando a
agulha através do tecido a mais de 0,5 cm da borda incisada. A sutura é inserida perpendicularmente
através do tecido de um lado, passando através de igual quantidade de tecido no lado oposto e o nó é
amarrado. Os nós devem ser colocados fora da linha de incisão.
As pontas dos fios devem ser deixadas longas (0,5 a 1,0 cm), ou curtas se o nó ficar escondido.
O próximo ponto interrompido deve ser colocado a uma distância igual ao tamanho do ponto anterior
(ex: 0,5 + 0,5 cm = 1 cm de distância). O sentido da colocação dos pontos deve ser da direita para a
esquerda em incisões horizontais, se destro, ou da esquerda para a direita, se canhoto. Se a incisão for
vertical, usualmente se inicia a sutura da porção distal para a proximal da incisão.
Esta é uma sutura de aposição, porém, se tiver pressão em demasia, poderá causar inversão
indesejável, complicando a cicatrização.
A colocação apropriada dos pontos mais uma tração moderada nos nós, permite um resultado
bem satisfatório. Quando internos, os nós podem ser palpáveis por algum tempo.
Usada em suturas internas (vísceras) e externas (pele).

Maneira correta de colocar a agulha nos tecidos

Correto

Incorreto

77
Sutura Horizontal em “U”, de Wolff

Sutura horizontal de colchoeiro interrompida também é conhecida como sutura horizontal em


“U” (ou sutura em “U” deitado), ou ainda sutura de Wolff. São usadas primariamente em áreas de
tensão e podem ser colocadas com rapidez, sendo útil para os ferimentos extensos de pele. No entanto,
frequentemente, causam uma leve eversão tecidual, por isso deve-se ter cuidado para aproximar, em
vez de everter, as margens teciduais. O fio de sutura deve ser angulado através do tecido de maneira
que atravesse logo abaixo da derme. Nesta sutura as partes externas encontram-se paralelas às bordas
do ferimento. Ela é praticada mediante a introdução da agulha em um dos lados da incisão (lado
distante) e dirigindo a mesma diretamente ao lado oposto (lado próximo), cruzando a ferida
transversalmente, por baixo, saindo com a agulha a igual distância da borda, que a entrada anterior.
Novamente introduzimos a agulha, na mesma borda de saída (lado próximo), um pouco ao lado – de
uns dois milímetros, até um centímetro, dependendo do porte do animal e região sob intervenção – e
percorremos um caminho oposto ao primeiro, saindo com a agulha do mesmo lado em que foi
introduzida inicialmente (lado distante). As extremidades do fio se encontram e são a seguir atadas por
nó completo. Uma das vantagens desta sutura, é que o fio não passa sobre a ferida, permitindo uma boa
sustentação e é pois indicada sempre que exista maior tensão. Devido à geometria da sutura horizontal
de colchoeiro, as suturas têm uma tendência a reduzir o suprimento de sangue das bordas do ferimento.
Vantagens:
 uso de menor quantidade de material de sutura;
 é de execução rápida;
 pode ser usada como sutura de tensão quando colocada longe das bordas da pele;
 pode ser usada para reduzir espaço morto.
Desvantagens:
 dificuldade relativa quando aplicada na pele;
 formação de cicatriz excessiva devido a eversão das bordas;

Sutura Vertical em “U”, de Donatti

Têm as mesmas indicações, vantagens e possíveis desvantagens da de Wolff. Para realiza-la, a


agulha é introduzida na pele a uns tantos milímetros da borda de incisão (aproximadamente 4 mm da
borda de incisão em um lado), atravessa os tecidos e cruza a ferida em sentido transversal e vai emergir
do lado oposto a igual distância da penetração. A agulha deve ser revertida e novamente inserida na
pele no mesmo lado (de 8 a 10 mm da borda cutânea), para seguir um caminho igual ao anterior, um
pouco mais abaixo deste, e retornar no lado oposto, saindo a igual distância da borda da última
penetração, sendo a seguir dado o nó. Esta sutura é indicada para peles espessas como a dos bovinos.
78
Tem a grande vantagem de dar cicatrizes de muito bom aspecto por promover excelente coaptação.
Sutura vertical de Colchoeiro ou de Donatti pode ajudar na eversão das extremidades de pele,
promovendo uma aposição completa e precisa das bordas, com leve eversão após a confecção dos nós.
Se esta sutura é usada como método exclusivo de fechamento da pele, a pega superficial da sutura
assegurará uma boa aproximação das bordas do ferimento. Se for empregada como sutura aliviadora de
tensão deve ser mantida a alguma distância do ferimento Comparada ao modelo horizontal de
colchoeiro, a geometria da sutura vertical permite uma melhor circulação nas bordas do ferimento, o
que diminui as chances de necrose das margens. A única desvantagem desta sutura é que ela usa maior
quantidade de material e pode tomar mais tempo. As suturas de colchoeiro verticais são mais fortes que
as horizontais, quando usados em áreas de tensão, além disso, a eversão de margens cutâneas é um
problema menor neste tipo de sutura que nas suturas de colchoeiro horizontais.

Vertical de colchoeiro interrompida

Sutura em “X”ou Cruzado ( Sultan )

As suturas de colchoeiro horizontal podem ser modificadas para formar uma cruz sobre a
incisão, passando a ser denominadas de suturas cruzadas ou em “X”. Sutura com ponto em X ou
cruzado é uma sutura de aposição, sendo uma modificação do “U” horizontal. Inicia-se introduzindo a
agulha de um lado para o outro da incisão, como se fosse executar uma sutura interrompida. Então a
agulha avança sem penetrar no tecido e, uma segunda passagem é feita paralela à primeira (no mesmo
sentido da primeira) de 5 a 10 mm da primeira passagem. As extremidades da sutura estão então em
lados opostos do ferimento formando um “X” em sua superfície. A sutura com pontos em “X” é
empregada por alguns cirurgiões como técnica de fechamento de pele e musculatura. Pode ser também
empregada para reforçar suturas contínuas. É uma sutura de aposição.
Vantagens: não promove alteração do suprimento sanguíneo, mesmo sob tensão; previne a
eversão das bordas.

79
Perto-longe-longe-perto

É uma combinação de sutura com sutura de tensão. Faz um movimento de espiral. Sua principal
indicação é quando a pele requer tensão moderada para aposição. O componente longe atua como
redutor de tensão, ao passo que o perto faz aposição. A tração excessiva dos fios deve ser evitada, para
prevenir a inversão da incisão. A força de tensão obtida com esta sutura é maior do que a obtida com
sutura interrompida simples.

Perto-longe
Longe-perto

80
Jaquetão
Sutura que faz um transpasse de pele em cima de pele, promovendo uma maior aderência. Esta
tem sua maior indicação no fechamento dos anéis herniários o que, entretanto, não a restringe a este
uso, podendo ser aplicada em outros casos de acordo com a necessidade. Ela pode ser assim descrita: a
agulha é introduzida de 2 a 4 centímetros da borda da ferida, penetrando de fora para dentro,
atravessando toda a parede muscular; a seguir, a agulha passará pela abertura da ferida e será
introduzida, no lado oposto, a 1 ou 2 centímetros da borda, também de fora para dentro. Em seguida a
agulha é introduzida na massa muscular, de dentro para fora, de 2 a 4 centímetros além da ferida, do
mesmo lado. A agulha é novamente introduzida, no lado oposto, também de dentro para fora, a 1 ou 2
centímetros da borda. Tracionadas as extremidades do fio, consegue-se o resultado apresentado no
esquema da figura 34, dando aí o nó. Indicada principalmente na redução de onfalocele em bovinos e
equinos.

Jaquetão
ou
sobreposição

81
Sutura em oito
Usada para promover hemostasia e para correção de ectrópio.

Sutura em oito

Gelly
Trata-se de uma modificação da sutura horizontal de colchoeiro interrompida. Nesta sutura, a
perfuração é feita paralelamente a incisão passando pela camada muscular, e o material de sutura cruza
externamente para o lado oposto da incisão. Desta forma, o fio de sutura passa perpendicularmente por
fora da borda da ferida e novamente perfura paralelamente a incisão do lado oposto, sendo em seguida
realizado o nó. Sutura invaginante, usada em órgãos ocos. È uma sutura sero muscular, não
contaminante.

Gelly

82
Lembert
O padrão de Lembert trata-se de um padrão invaginante seromuscular utilizado frequentemente
para fechar vísceras ocas. A agulha penetra a certa distância da borda da incisão, atingindo as camadas
serosa, muscular e submucosa (mas não através da membrana mucosa), emergindo próximo à borda da
incisão, no mesmo lado. Assim, a agulha deve penetrar da serosa até a camada submucosa, cerca de 8 a
10 mm da borda de incisão, e sair próximo da margem do ferimento, de 3 a 4 mm da borda, no mesmo
lado. Depois de passar sobre a incisão (por cima), a agulha deve penetrar na borda oposta, a mesma
distância da saída anterior (3 a 4 mm da borda da incisão), sendo novamente reintroduzida na serosa,
muscular e submucosa, e sair de 8 a 10 mm de distância da incisão. A parede da víscera será
automaticamente virada conforme for dado o nó. O padrão deve ser repetido ao longo da extensão da
incisão. Em nenhum estágio a sutura deve penetrar o lúmen da víscera, sendo considerada um dos
pontos de sutura mais seguros e úteis para a cirurgia gastrintestinal, podendo ser executada como um
único plano de fechamento. Esta sutura também é conveniente para a aplicação no útero e rúmen. É
uma sutura sero-muscular não contaminante.

83
SUTURAS DE RELAXAMENTO

Suturas de tensão

São usadas quando existe muita tensão na linha de sutura e for necessária alguma força para o
fechamento da ferida.
Infelizmente isso resulta em isquemia local, corte das bordas e deiscência das feridas. Nesses
casos, o uso de suturas de tensão é altamente benéfico. Elas são colocadas longe das bordas da pele, de
maneira a não comprometer o suprimento sangüíneo. As bordas da pele são suturadas por meio de
pontos interrompidos simples.
Como suporte adicional a estas suturas de tensão podem ser usados botões, tubos de borracha, plástico
ou silicone colocados nas suturas antes dos nós.
A sutura de Donatti ou “U” vertical promove bom suporte aos tecidos, com mínima redução do
suprimento sangüíneo.

Pontos de relaxamento

84
SUTURAS CONTÍNUAS

Sutura contínua simples ou sutura de Kurschner


Inicia com um nó de cirurgião e o fio não é seccionado. A agulha é introduzida várias vezes
através dos tecidos até o final da incisão. A sutura é finalizada com nó de cirurgião com o fio duplo.
São indicadas para o fechamento de tecido subcutâneo e fáscia desde que não haja planos de tensão. Os
nós são geralmente escondidos (ou sepultados). São também usadas em tecidos que requeiram mínima
força de segurança, porém com aposição máxima.

Inicial
Escondido

KURSCHNER

85
Sutura intradérmica, Subcutânea ou Zigue-zague

As suturas intradérmicas têm sido incorretamente chamadas de subcuticulares. Como diz o


nome, sutura intradérmica são colocadas sob a derme no tecido subcutâneo.
As suturas intradérmicas e subcutâneas são usadas mais freqüentemente na forma contínua. A
sutura inicia escondendo o nó no interior dos tecidos, seguindo em formato de zig-zag, com a agulha
colocada perpendicularmente à incisão, porém, avançando paralela à incisão.
Fios de nº 3-0 ou 4-0 podem ser usados, e ao término, o nó é novamente sepultado.

Sutura de Lembert não contaminante


É uma sutura invaginante, do tipo contínuo vertical, sendo indicada para o fechamento de
vísceras ocas. A sutura é aplicada do lado de fora do lume, com a agulha passando pela serosa,
muscular até a submucosa, retornando a muscular e serosa para fora da víscera no mesmo lado. A
agulha é então passada pela incisão ao lado oposto e introduzida na superfície serosa adjacente à
incisão. É passada através da serosa, muscular e submucosa e daí à serosa distal.
O fio inicial e o final são atados. Um dos fios é cortado curto e a agulha avança com o outro em
forma contínua vertical ao redor da víscera. Este mesmo tipo de sutura pode ser feito como sutura
interrompida.
Uma sutura de Lembert com somente duas passagens paralelas e reversas no tecido (“U”
interrompido invertido), é chamada de sutura de Halsted.

86
Sutura Festonada, Retrógrada, Ancorada de Ford ou de Reverdin
É uma modificação da sutura contínua simples. A cada passagem através dos tecidos, o fio é
unido ao ponto passado anteriormente.
A vantagem desta sutura é a grande estabilidade na eventualidade de falha de um nó ou de uma
porção de linha de sutura. Quando isto acontece, necessariamente não resulta em perda de toda a
sutura. Uma grande estabilidade é obtida devido aos tecidos apresentarem menor tendência a
movimentarem-se.
A desvantagem é a maior quantidade de material usado, mais demorada, e pode causar necrose
na pele quando usada com muita tensão (muito apertadas).

Sutura de colchoeiro ou “U” contínua


Pode ser usada na pele quando houver indicação para sutura contínua e um certo grau de
eversão.
A sutura inicia como um ponto isolado simples e avança aproximadamente 1 a 2 cm, e uma
segunda passagem é feita através dos tecidos perpendiculares à incisão. Após a saída dos tecidos, a
agulha avança de 1 a 2 cm e é inserida perpendicularmente à linha de incisão na direção contra-lateral.
A rapidez no fechamento é a principal vantagem desta sutura.

Colchoeiro
U
Contínuia

87
Suturas Viscerais

Sutura de Gambee
As suturas de Gambee são usadas em cirurgias intestinais para reduzir a eversão de mucosa. O
fio de sutura deve ser introduzido como em uma sutura interrompida simples da serosa, através da
camada muscular e da mucosa, até o lúmen. Depois, deve-se retorná-lo do lúmen, do mesmo lado,
através da mucosa, até a camada muscular, antes que cruze a incisão. Depois de cruzar a incisão, deve-
se introduzi-lo na camada muscular, do lado oposto, e prosseguir através da mucosa, até o lúmen. A
seguir, deve-se reintroduzir a agulha, do mesmo lado, através da mucosa e da camada muscular para
emergir na superfície serosa do intestino. A sutura é amarrada firmemente e assim o próprio tecido se
comprime. As suturas de Gambee reduzem a eversão de mucosa e podem diminuir o trançamento de
material do lúmen intestinal até o exterior. Sutura de Gambee é uma técnica útil na cirurgia
gastrointestinal do equino, pela mínima formação de aderência e estenoses.

Sutura de Schmieden – aposição sero-mucosa - contaminantes


São muito usadas em anastomose intestinal, quando somente uma camada de sutura é desejável.
O ponto é introduzido como uma sutura simples interrompida, passando da serosa através da muscular
e mucosa ao lume do órgão. A sutura volta do lume através da mucosa, à muscular antes de cruzar a
incisão. A agulha é reintroduzida na muscular no lado oposto e continua através da mucosa do lume. É
então reintroduzida através da mucosa, muscular e serosa para sair na superfície externa. O fio inicial e
o final são apertados de maneira que a sutura penetre nos tecidos.

Sutura de SCHMIEDEN

88
Sutura de Conell e Cushing não contaminante
A sutura de Connell penetra o lumen da víscera, porém, a Cushing passa somente ao nível da
submucosa (a camada mais resistente nas vísceras ocas). São suturas contínuas invaginantes, de forma
horizontal. Iniciam com uma sutura “U”, vertical invertida, e do ponto de saída da agulha inicia a
sutura que avança paralela à linha de incisão e é introduzida na serosa, passando através da muscular,
submucosa (Cushing) e mucosa (Connell) no lume. Do lúmen ou da submucosa a agulha avança para
frente paralela à incisão e retorna à serosa através da muscular, no mesmo lado da incisão. Uma vez
fora da víscera, a agulha e o fio são passados pela incisão e introduzidos no ponto que corresponde à
saída do fio no lado oposto. A agulha é reinserida através da serosa, muscular submucosa (Cushing) e
mucosa (Connell), avança paralelamente à incisão e sai ao exterior novamente.
A sutura deve ser tracionada de tempos em tempos para favorecer a inversão, e o nó é feito no
final da sutura.

Sutura de Connell
Sutura de Cushing

89
SUTURAS ESPECIAIS

Sutura de Parker-Kerr
Modificações das suturas de Lembert e Cushing são usadas para o fechamento de cotos
viscerais (útero com piometra), chamada de sutura de Parker-Kerr = Sutura de Cushing sobre a pinça
sem dar nó inicial, e após, uma Lembert sobre a primeira, finalizando as duas com um só nó final.

Bolsa de tabaco
Utilizada para o fechamento de orifícios ou esfíncteres.

Ponto chinês
É usado para fixar drenos e tubos intracavitários.

90
AMOCHAMENTO

É a extirpação cirúrgica (exérese) ou a destruição (química ou térmica) do botão córneo.

INDICAÇÕES:

• facilitar o manejo;
• diminuir o número de contusões e escoriações dos animais;
• melhorar a qualidade da carne;
• reduzir o perigo para o tratador;
• aumentar o nº de animais nos veículos de transporte;
• diminuir o nº de abortos por traumatismos, etc.

ANESTESIA:
Para uma anestesia eficaz pode-se realizar uma tranquilização do animal, associado com um bloqueio anestésico
local. Quando for realizado em um grande número de animais pode-se utilizar apenas o bloqueio anestésico
local.

TÉCNICAS:

a) recém nascido - até 15 dias (apresentando o botão córneo móvel):


• amochamento químico: aplica-se ao redor do botão córneo (0,5 cm) uma substância oleosa (vaselina ou óleo
mineral) e sobre o botão córneo aplicam-se substâncias cáusticas, como o Nitrato de Prata ou a soda cáustica,
friccionando-se sobre o mesmo. Existem no mercado pomadas usadas para descorna de bezerros com até 30
dias.
Obs: o terneiro só deverá mamar na vaca 48 horas após a aplicação, para não promover queimaduras no teto,
pelo contato com a substância cáustica.

• amochamento térmico: O amochador elétrico é aquecido por uma resistência elétrica e especialmente
desenvolvido para o uso em animais jovens. Após conexão à rede elétrica, espera-se o aquecimento da ponta.
Para efetuar o amochamento aplica-se a ponta aquecida diretamente sobre o botão do chifre.

Amochador elétrico com pontas


substituíveis de diferentes
tamanhos

b) com mais de 15 dias (com o botão córneo estando fixo):


• deve ser retirado cirurgicamente e, logo após, procede-se a cauterização do ferimento. Animais com 30 dias ou
mais já estão desenvolvendo a projeção óssea.

91
DESCORNA

É a amputação cirúrgica das apófises córneas do animal aspado.

INDICAÇÕES:

As mesmas do amochamento, associado ainda aos casos de fraturas dos cornos, e a formação de cornos
defeituosos.

ANESTESIA:
Realiza-se uma tranquilização (xilazina 0,2 mg/Kg) do animal, associado com um bloqueio local (lidocaína) do
nervo cornual, que é feito em nível do centro da crista temporal, entre o canto externo do olho e a base do
corno, em forma de leque. Associa-se um bloqueio na região dorsal do corno, aplicado em dois pontos.

- agulha 4 – 5 cm – cateter 18 G
- canto lateral do olho e base do corno
- direcionada ventralmente
- 2 ml em cada aplicação
- região dorsal do corno

TÉCNICAS:

DOS 3 AOS 6 MESES DE IDADE:


• já existe a formação da projeção óssea, mas enquanto não existir a exposição do seio frontal, retira-se o corno
com descornadeira e procede-se a termo cauterização local. Deve-se cuidar para retirar toda a zona queratógena
da base do corno, para que não haja a formação de cornos defeituosos.

Descornador tipo Barners

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ANIMAL ADULTO:
PRÉ – OPERATÓRIO:
- Jejum de 12 a 24 horas para evitar timpanismo, regurgitação e possível pneumonia aspirativa.
- contenção em estação, no tronco.

• método rústico: após o preparo do animal, que consiste em tricotomia ao redor dos cornos, desinfecção do
campo operatório (antissepsia local) e bloqueio do nervo cornual (5 a 10 ml de anestésico local). É feita uma
incisão elíptica da pele, sobre a base do corno (a mais ou menos 0,5 cm de distância), e o mesmo é retirado com
serrote ou fio serra. Após a retirada do corno procede-se a hemostasia por cauterização e a colocação de um
tampão de gaze embebido em antisséptico, que é trocado a cada 3 ou 5 dias.

• MÉTODO DE ALEXANDER: após o preparo do animal e bloqueio do nervo cornual, inicia-se uma incisão
próxima à crista nucal em direção à base do corno, contornando-o e unindo-as na face ventral, e continuada em
direção ao canto lateral do olho, deixando no máximo 1cm de pele inserida ao redor do corno. Realiza-se a
divulsão do tecido subcutâneo para permitir o acesso à base do corno e o secciona com fio serra, mais rente
possível da sua base no crânio. Após Realização da hemostasia dos vasos, as bordas da ferida são aproximadas
para avaliar a presença de tensão na linha de sutura. Se houver tensão devem-se remover mais um segmento do
corno, para possibilitar o fechamento da ferida sem tensão. A pele é suturada com pontos longe-perto-perto-
longe (nylon nº 0 ou 1).

A. Incisão de pele iniciada próxima a crista nucal até o canto medial do olho. B. Sutura de
pele com pontos longe-perto-perto-longe.

PÓS – OPERATÓRIO:
• antibioticoterapia;
• anti-inflamatório;
• curativo local diariamente;
• retirada dos pontos 10 a 14 dias após a cirurgia.

COMPLICAÇÕES:
• deiscência da ferida, se tiver tensão na sutura de pele;
• sinusite (mais comum no método rústico);
• necessidade de trepanação no seio frontal para a drenagem do conteúdo purulento.

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CESARIANA NAS ESPÉCIES DOMÉSTICAS

É a realização de histerotomia com finalidade de retirar um ou mais fetos, vivos ou mortos, de fêmeas uníparas
ou multíparas próxima à época do parto, podendo ser conservativa ou radical (histerectomia).

INDICAÇÕES:
Podem ser inúmeras as indicações, como exemplo tem-se:
a) anomalias pélvica (angústia pélvica);
b) conveniência – cesariana programada por conveniência do proprietário ou veterinário;
c) estática fetal anômala – impossibilidade da correção da distocia;
d) gigantismo fetal – tamanho exagerado do(s) feto(s);
e) monstruosidades – fetos monstros;
f) histerocele gravídica;
g) hidropsias;
h) inércia uterina;
i) obstrução da via fetal mole – tumores, torção uterina;
j) prolapso vaginal;
k) lacerações e perfurações uterinas por assistência indevida;
l) toxemia gravídica;
m) fetos enfisematosos;
n) qualquer problema que ocasione um tempo muito prolongado de perto.

CONTRA-INDICAÇÕES:
Nos casos de distocias que podem ser corrigidas mecanicamente; nas atonias uterinas reversíveis por
medicamentos; quando o estado da parturiente não permite o procedimento cirúrgico. Ex: quadros graves de
desnutrição, animais moribundos.

CONSIDERAÇÕES ANESTÉSICAS:

- empregar fármacos e técnicas anestésicas que proporcionem baixos riscos de vida para a fêmea e para os fetos
(minimizar a depressão fetal);
- utilizar drogas que possibilitem rápido retorno anestésico, facilitando a amamentação;
- o uso do halotano, como agente anestésico na égua, tem sido associado com o sangramento aumentado da
incisão uterina. Isto deve-se a congestão dos vasos do miométrio, sendo mais significativo nas espécies que
apresentam placentação difusa, indicando-se assim o uso da sutura hemostática nas bordas da incisão uterina;
- a anestesia epidural com lidocaína 2% pode diminuir a dose anestésica geral necessária.

Emprego da sutura hemostática


nas bordas da incisão uterina
para minimizar o sangramento.

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A cesariana na vaca pode ser efetivada com anestesia local ou associada à sedação. Se a abordagem for pelo
flanco, poderá optar-se por bloqueio para vertebral em “L” invertido ou linear. A contenção do bovino com
cordas, com ou sem sedação, é uma medida suplementar importante para a segurança da equipe cirúrgica e para
a paciente.

Em porcas deve, o animal é posicionado em decúbito lateral e as cordas devem imobilizar as patas. É
fundamental uma adequada imobilização para que a assepsia não fique comprometida. A anestesia linear ou em
“L” invertido poderá ser aplicada.

Na anestesia paravertebral deve-


se bloquear os ramos nervosos Anestesia local em “L”
entre as vértebras T13 e L3, que invertido. É o método mais
suprem a pele, as fáscias, os simples de analgesia regional
músculos e o peritônio da região para a laparotomia de flanco ou
do flanco nos bovinos. paramediana no bovino. A
anestesia local na forma linear
ou em “L” invertido poderá ser
empregada.

CUIDADOS NA PREVENÇÃO DA HIPOTENSÃO:

- hipovolemia – nos casos de hemorragias e desidratação, repor as perdas com transfusão sanguínea e soluções
salinas;
- acidose metabólica – utilizar solução de Ringer com lactato, associado ou não com bicarbonato de sódio;
- alcalose metabólica – utilizar solução fisiológica;
- anestesia epidural – doses elevadas podem causar queda da pressão arterial por bloqueio ganglionar. Seus
efeitos podem ser abrandados por aspiração do agente anestésico; síndrome supina – o decúbito dorsal leva a
compressão mecânica da veia cava caudal, com diminuição do retorno venoso. Pode-se diminuir o risco
lateralizando-se a fêmea com 10 a 20º de inclinação.

CUIDADOS GERAIS NO PROCEDIMENTO CIRÚRGICO:


- evitar manobras que provoquem descompressão brusca abdominal, como por exemplo, o tracionamento rápido
para a exposição dos cornos uterinos;
- respeitar o período mínimo de jejum para cada espécie;
- evitar o manuseio excessivo de vísceras, pois pode causar emese. A utilização de atropina diminui a salivação
durante o procedimento cirúrgico.

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TÉCNICA CIRÚRGICA.
EM BOVINOS:
A abordagem pelo flanco pode ser executada com o animal em estação, sob anestesia local, ou em decúbito
lateral sob sedação e anestesia local, sendo através da fossa para lombar ventral esquerda ou direita. A
laparotomia para mediana ventral é uma técnica alternativa que exige o decúbito e a imobilização da fêmea. A
abordagem para mediana ventral oferece vantagem nos casos de fetos enfisematosos, proporcionando melhor
exposição do útero e evitando o derramamento de conteúdo para o interior da cavidade abdominal. A incisão
para mediana deve ser realizada paralela à linha média, entre a linha alba e a veia abdominal superficial. Em
ambos os acessos, após a penetração na cavidade peritoneal, o cirurgião manipula a porção do corno uterino que
contém o feto e tenta exteriorizar uma região para a histerotomia (que nem sempre é possível). A incisão uterina
é normalmente feita sobre um membro do feto, longa o bastante para permitir a remoção do feto sem que se
dilacere a incisão uterina. Deve-se procurar evitar a incisão sobre as carúnculas. O feto é removido por tração, e
o auxiliar procura evitar o derramamento dos líquidos fetais para a cavidade abdominal da fêmea retendo o
útero próximo da incisão. O útero é suturado com padrões de suturas contínuas. O primeiro plano com uma
sutura de Schmieden, seguido de uma sutura de Cushing sobre a primeira. Os nós das extremidades das suturas
devem ser sepultados pelas bordas invaginadas do órgão. Frequentemente, se desenvolvem aderências entre o
útero e os órgãos viscerais, que muitas vezes se originam nas extremidades da incisão quando os nós
permaneciam expostos. As aderências também ocorreram ao longo da linha de sutura quando os padrões de
sutura eram expostos, isto é, não promoviam invaginamento e sepultamento. A resposta inflamatória varia
conforme a natureza do fio implantado. O fio indicado é o absorvível sintético. Após a síntese uterina, o útero
é recolocado na sua posição anatômica e a cavidade abdominal é fechada de forma usual.

Laparotomia de flanco. A linha


Laparotomia paramediana
pontilhada mostra o local de
ventral. Para a realização desta
abordagem para a realização da
abordagem no bovino é
cesariana de flanco em bovinos.
necessária a contenção em
decúbito dorsal ou decúbito
lateral.

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EM EQUINOS:

A laparotomia é feita pela linha média ventral, o útero é localizado e exposto, e o local de incisão deverá ser
sobre um membro, tal como indicado na cesariana bovina. O útero deverá ser exposto o máximo possível,
evitando a contaminação abdominal pelos líquidos fetais. A não ser que o alantocórion esteja separado ou
descole facilmente, o mesmo deve ser deixado no interior do útero. Antes de iniciar a fechamento uterino, o
alantocórion é afastado por uma distância de 5 cm da margem da incisão uterina e uma sutura contínua simples
com fio absorvível é disposta ao redor de toda a margem uterina, penetrando todas as camadas, para promover
hemostasia do órgão. Isto é necessário, devido ao fato de
que o endométrio é fracamente vinculado ao miométrio e existe pouca hemostasia natural para as calibrosas
veias subendoteliais. A síntese uterina é realizada com dupla camada invaginante, não contaminante, com fio
absorvível nº 2. A cavidade abdominal é suturada de forma usual. OBS: Deve-se ter muito cuidado de manter o
alantocórion separado da margem da incisão uterina, evitando sua inclusão na linha de sutura e provocando
assim a retenção da placenta.

EM SUÍNOS:
A incisão pode ser de flanco (esquerda ou direita), na região da fossa para lombar ou por meio de uma incisão
para mediana (esquerda ou direita). Para a abordagem de flanco, a pele é incidida é feita ventralmente (6 a 8
cm) aos processos transversos das vértebras lombares, com aproximadamente 20 cm, na região central entre a
última costela e os músculos da coxa. As camadas de tecido adiposo subcutâneo geralmente são especas nestas
espécies. A cavidade abdominal deve ser explorada à procura do útero. Após localizar a bifurcação uterina,
exteriorizar apenas uma parte do corno uterino, o mais próximo possível à bifurcação e evitar retirar todo o
útero. Uma incisão de 15 a 20 cm é realizada na parede do útero, o mais próximo possível do corpo do útero,
tomando cuidado para não lesionar os fetos. Se a bifurcação for localizada, todos os fetos poderão ser
removidos através de uma só incisão. Se isto não for possível, deverá ser feita uma incisão em cada corno
uterino. É necessário que o cirurgião explore dentro dos cornos uterinos e dentro do canal vaginal pela presença
dos fetos. Toda placenta solta deve ser retirada. O útero é fechado com dois padrões de sutura invaginante sero-
musculares, o fio utilizado deverá ser absorvível nº 0 ou 1. Os cornos uterinos são devolvidos para a cavidade
abdominal individualmente, evitando-se que fiquem torcidos. A cavidade abdominal deverá ser suturada de
forma convencional.

PÓS-OPERATÓRIO:
O pós-operatório deve constar de:
- fluidoterapia quando houver necessidade;
- antibioticoterapia, se necessário;
- profilaxia do tétano (éguas);

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- observar a eliminação dos anexos - o animal submetido à cesariana normalmente está com pouca abertura de
cervix o que dificulta a eliminação dos anexos. Pode-se aplicar ocitocina/IM;
- observar a presença de lactação;
- limpeza diária da ferida cirúrgica;
- retirada dos pontos de pele de 10 a 15 dias de pós-operatório

CIRURGIAS OCULARES

Muitos dos problemas oculares envolvem a perda de visão, o comprometimento da integridade do globo ocular
ou a presença de dor intensa. Grande parte destes problemas é de origem traumática, exigindo pronta atuação
por parte do veterinário. O atraso no tratamento das emergências oculares pode ocasionar cegueira ou perda do
olho.
FLAPE DE TERCEIRA PÁLPEBRA

INDICAÇÃO:
Essas técnicas cirúrgicas são indicadas como métodos auxiliares para o tratamento da úlcera de córnea. A úlcera
envolve a perda do epitélio corneal, somado a perda do estroma corneal. Geralmente, as úlceras são de origem
traumática, mas afecções sistêmicas podem predispor suas ocorrências. Os sinais clínicos da presença de
ulcerações de córnea incluem o blefaroespasmo, hiperemia conjuntival, epífora, edema de córnea e miose
(iridocicloespasmo). É comum a presença de um infiltrado branco amarelado em úlceras infectadas, as quais
tendem a aprofundar e progredir rapidamente se não tratadas. Microrganismos Gram-negativos produzem
proteases (colagenases), as quais podem resultar em rápida e progressiva destruição do tecido da córnea.
Algumas úlceras superficiais só tornam-se visíveis após a aplicação de fluoresceína. Se uma úlcera aprofunda
significativamente, poderá expor a membrana de Descemet, que constituí a penúltima camada da córnea, antes
do endotélio. Geralmente, nestes casos, pela pressão intraocular aumentada, ocorre a protrusão da membrana de
Descemet através do estroma corneal, formando a descemetocele. A descemetocele é uma úlcera grave, que se
não tratada, torna a perfuração do globo ocular iminente. O tratamento emergencial da úlcera de córnea irá
depender da profundidade da úlcera, da presença de infecções e da suspeita de fatores sistêmicos. A cirurgia
corneal, especificamente se tratando dos flapes conjuntivais, deve ser considerada nos animais com os seguintes
sinais clínicos:
a. úlceras profundas (perdas acima de 80% do estroma da córnea);
b. úlceras que continuam progredindo, mesmo após o tratamento clínico apropriado;
c. na presença de descemetocele ou de perfuração corneal.
Os corticosteroides tópicos estão CONTRA-INDICADOS no tratamento da úlcera de córnea. Drogas anti-
inflamatórias não esteroides (AINes) podem atrasar o processo de cicatrização das úlceras, mas menos que os
esteroides tópicos. O iridocicloespasmo é tratado com colírio de atropina 1%, administrado quatro vezes ao dia.
A colocação de colar Elizabethano é essencial para o sucesso do tratamento cirúrgico.

MÉTODOS DE PROTEÇÃO DA CÓRNEA:

SUTURA DA 3º PÁLPEBRA NA CONJUNTIVA BULBAR


Um ponto central é disposto primeiramente. Identifique a porção central da cartilagem e passe o ponto através
da 3º pálpebra, pegando a cartilagem, aproximadamente 1 mm de sua borda. Um ponto tipo Wolff com o
mesmo fio é colocado na conjuntiva bulbar, em torno de 5 mm do limbo, retornando com a agulha novamente
para a 3º pálpebra, completando-se o ponto com o nó. Verifica-se, então, que a conjuntiva bulbar é muito móvel
e que a mesma irá encobrir, junto com a 3º pálpebra, à córnea. Completa-se a técnica com mais 2 ou 3 pontos
semelhantes (fio mononylon ou prolene 4.0 ou 5.0,) Objetivo: auxilia na cicatrização porque protege o olho. Ao
encobrirmos a córnea com a conjuntiva bulbar ou a 3ª pálpebra, estimulamos a neovascularização, auxiliando na

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cicatrização da úlcera de córnea. Vantagem da técnica: ao movimentar o globo ocular, a conjuntiva bulbar e a 3ª
pálpebra acompanham o movimento, não ocorrendo o atrito entre a córnea e o flape, tendendo a cicatrizar mais
rapidamente.

SUTURA DA 3° PÁLPEBRA NA PÁLPEBRA SUPERIOR


Direcione a agulha através da pálpebra superior, imediatamente acima da base das glândulas de Meibomian.
Coloque a agulha na superfície anterior da 3º pálpebra, incorporando a porção central da cartilagem,
aproximadamente 1 mm de sua borda externa. Completa-se o ponto passando a agulha na pálpebra superior, de
dentro para fora, e confeccionamos o nó sobre a superfície externa da pálpebra superior. Repita a técnica,
fazendo mais 2 pontos. Os pontos podem ser ancorados para evitar que cortem a pele da pálpebra superior (fio
nylon 4.0 ou 3.0 para pequenos animais e 0 para grandes).
Objetivo: semelhante à outra técnica, porém a cicatrização é um pouco mais lenta, pois há atrito entre a córnea e
a 3ª pálpebra, a nictitante não acompanhará o movimento do olho. Não é a técnica mais indicada em casos de
úlceras profundas, de descemetocele ou de perfuração corneal, acarretando em pobre suprimento sangüíneo e
dificulta o monitoramento da cicatrização da úlcera.

Flap de terceira pálpebra com


pálpebra superior.

PÓS-OPERATÓRIO:
a. antibioticoterapia local por 7 a 10 dias: colírio de cloranfenicol ou de ciprofloxacino;
b. o flape permanecerá por 14 a 21 dias;
c. Controle da recorrência da úlcera pela aplicação de fluoresceína.

PROLAPSO DE GLOBO OCULAR


A proptose traumática resulta do deslocamento súbito do globo ocular para fora de sua órbita. Um globo ocular
prolapsado torna-se uma emergência, uma vez que, a correção de um prolapso em até 30 minutos, pode salvar o
olho ou diminuir muito o período de reabilitação. Raças braquicefálicas como o Pequinês e o Bull Dog são
predispostas para a ocorrência da proptose ocular traumática, principalmente pelas características da
proeminência dos olhos e das órbitas pouco profundas. O tratamento de emergência para proptose envolve o
reposicionamento do globo ocular na órbita e a tarsorrafia temporária. A enucleação do globo ocular deve ser
considerada se o grau de lesão do olho for acentuado.
AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DA LESÃO:

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1. dano aos músculos extrínsecos – a ruptura de um ou dois músculos extrínsecos não impede a recolocação do
globo ocular. Somente a ruptura da maioria dos músculos não deixa escolha à não ser a enucleação (remoção
cirúrgica do globo ocular);
2. hifema – é a presença de sangue na câmara anterior do olho. Um hifema acentuado é uma condição
desfavorável, porque geralmente resulta em intensa danificação do corpo ciliar, assim como em casos de
luxação anterior do cristalino. O hifema decorre geralmente de traumas, uveítes, coagulopatias, neoplasias,
anormalidades congênitas, hipertensão sistêmica, glaucoma crônico e do descolamento da retina;
3. tamanho pupilar:
a. miose – é a diminuição do tamanho da pupila, sinal favorável;
b. midríase – ocorre quando a inervação simpática não é lesada, porém pode existir lesão do nervo óculo-motor
e gânglio ciliar. O prognóstico é reservado a desfavorável;
c. tamanho normal – ocorre normalmente quando ambos, simpático e parassimpático, foram lesionados e o
nervo ótico está provavelmente lesado permanentemente. O prognóstico é desfavorável.
4. reflexo pupilar – o reflexo pupilar direto não é de muita valia em prolapso de olho, porém o reflexo pupilar
consensual ou indireto, quando presente, é um sinal favorável, pois indica que não houve lesão do nervo óptico.
A ausência do reflexo pupilar não indica uma lesão permanente do nervo óptico, se este reflexo não retornar em
um período aproximado de sete dias, a perda da visão poderá ser permanente.
RECOLOCAÇÃO DO GLOBO OCULAR:
Com a utilização do bom senso, deve-se sempre tentar recolocar o globo ocular na órbita, a não ser naqueles
casos de ruptura da túnica fibrosa ou da perda de todo o tecido de sustentação. Comete-se um erro de menor
gravidade recolocando-se um globo ocular que mais tarde deve rá ser removido, do que removendo um globo
ocular que poderia ter ficado.
TÉCNICA:
A anestesia deve ser geral e deve-se colocar 3 a 4 pontos isolados simples com fio não absorvível envolvendo as
pálpebras e lubrificar o olho com pomada oftálmica. As pálpebras devem ser tracionadas pelos fios dos pontos,
ainda sem os nós é feito um movimento oposto de introdução do globo ocular com o cabo de bisturi ou com o
dedo. Após a recolocação do globo ocular, completamos os pontos com os nós, promovendo uma tarsorrafia. Os
pontos devem ser removidos com 1 a 3 semanas.

Correção de prolapso do globo ocular.


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TÉCNICAS CIRÚRGICAS DE REMOÇÃO DO OLHO

- Enucleação: remoção do globo ocular. Pode ser transpalpebral ou transconjuntival. Ex: microftalmia congênita
complicada associada à ceratoconjuntivites e entrópio, traumas graves, desconforto ocular que não seja
solucionado por outra terapia clínica ou cirúrgica.
- Evisceração: remoção do conteúdo ocular.
- Exenteração: remoção do globo ocular, músculos oculares, terceira pálpebra e gordura orbital. Ex: neoplasias
intraoculares.

A B C

ENUCLEAÇÃO DO GLOBO OCULAR


A. Evisceração. B Enucleação. C. Exenteração

TÉCNICA CIRÚRGICA:
As margens das pálpebras são aproximadas por meio de uma sutura isolada ou contínua. As incisões são
realizadas paralelamente às margens das pálpebras e a distância deve ser suficiente para evitar as glândulas de
Meibomian (4 a 6 mm). Essas incisões são estendidas medial e lateralmente, até a intersecção palpebral, deste
modo circundando a fissura palpebral fechada. Continua-se a dissecação aprofundando essa incisão até o
encontro da conjuntiva. A tração para frente das pálpebras facilita essa dissecação. Continua-se a dissecação
posterior e externamente, até o encontro com a esclera, procede-se a dissecação posteriormente para promover a
separação da esclera dos tecidos subjacentes. Após a secção dos músculos extraoculares, o globo fica ligado
apenas pelo nervo óptico, pelas bainhas nervosas e fáscias, que contém os vasos do globo ocular. Uma pinça
hemostática curva é colocada sobre o feixe do nervo óptico e o globo é liberado e removido com tesoura. É feita
uma ligadura mais profundamente à pinça hemostática (fio absorvível sintético 3.0 ou 2.0 para pequenos
animais e nº 1 para os grandes animais). As bordas das pálpebras são suturadas com pontos isolados simples
(nylon nº 2-0 ou 3-0 para pequenos animais, e n° 0 para grandes animais), podendo ou não deixar dreno no
canto medial do olho em grandes animais. Antes da sutura de pele, com intuito de melhorar a estética no pós-
operatório, pode-se realizar uma tela com fio de nylon ancorado nas margens da órbita para evitar a retração da
pele para dentro da órbita.

101
Enucleação transpalpebral. A. Sutura de aproximação palpebral. B. Dissecação do globo
ocular seccionando os músculos rentes ao globo. C. Pinçamento do nervo óptico e vasos.
D. Ligadura em massa do pedículo ocular. E. Sutura de pele com pontos isolados.

PÓS-OPERATÓRIO:
a. limpeza e curativo local;
b. antibioticoterapia;
c. anti-inflamatório;
d. retirada dos pontos aos 10 dias de pós-operatório.

COMPLICAÇÕES:
Deiscência da sutura – devendo ser tratada como ferida aberta, deixando cicatrizar por segunda intenção.

102
CISTOTOMIA

É a abertura cirúrgica da bexiga.

INDICAÇÕES:
• remoção de cálculos vesicais (indicação mais comum);
• neoplasias vesicais;
• verificação da posição do orifício ureteral (para diagnóstico e tratamento de ureter ectópico em animais com
incontinência urinária).

DIAGNÓSTICO:
• urolitíases: disúria, polaquiúria, anúria, hematúria persistente, exames radiológicos e palpação retal;
• neoplasias: exame do sedimento urinário, exame radiológico contrastado;
• ureter ectópico: cistotomia, urografia excretora.

PRÉ-OPERATÓRIO:
• combater a acidose metabólica e a uremia pós-renal;
• antibioticoterapia específica;

TÉCNICA CIRÚRGICA:

Após a anestesia geral e a administração intravenosa de fluidos, uma sonda deve ser passada através da uretra.
Se for encontrada obstrução, deve-se tentar uma lavagem através da sonda, com a intenção de fazer o cálculo
recuar até a bexiga. Uma incisão retro umbilical longitudinal é feita. Nos machos, a incisão deve ser estendida
lateralmente a borda cranial do prepúcio, evitando-se a bainha do pênis. Os vasos epigástricos caudais
superficiais são ligados e cortados transversalmente, o ligamento do prepúcio e a fáscia abdominal superficial
são seccionados. O prepúcio e o pênis devem ser rebatidos lateralmente. A bexiga é então exteriorizada,
recoberta por compressas e suspensa com um ponto de reparo no seu ápice e outro próximo ao colo. A partir
daí, a bexiga é refletida posteriormente de maneira que a incisão possa ser feita na sua superfície dorsal, entre os
vasos sanguíneos maiores. Prefere-se uma incisão nesta posição para evitar sua aderência com a incisão
abdominal, evitar o extravasamento de urina e para reduzir a formação de cálculos pelo acúmulo dos
sedimentos urinários nas possíveis suturas expostas na luz da víscera, no entanto, a incisão na região ventral da
ventral da bexiga também pode ser realizada. Os cálculos devem ser removidos manualmente e realizada a
lavagem da bexiga e uretra para que os cálculos remanescentes possam ser deslocados pela uretra até saírem
pelo orifício uretral externo. A bexiga é fechada em dois planos de suturas, sendo o primeiro uma sutura de
aposição Schmieden e o segundo uma sutura invaginante de Cushing, com fio absorvível 3-0 ou 4-0 (Vicryl). O
segundo plano de sutura pode ser realizado com fio inabsorvível (nylon), no entanto, este fio não pode ficar em
contato com o lúmen vesical, pois pode favorecer a deposição de cálculos. A bexiga que apresenta parede
espessada pode ser sutura em apenas um plano de sutura de aposição (Schmieden, Contínua simples). A
impermeabilidade da sutura é testada pela injeção de solução salina pela sonda uretral, promovendo a distensão
da bexiga. O ponto de reparo é removido e a bexiga deve ser devolvida à sua posição anatômica. Em seguida é
realizada a fixação do omento sobre a incisão vesical com dois pontos isolados simples. A laparotomia é
fechada de maneira usual.

103
A. cistotomia através de incisão na região ventral da bexiga. B.
Primeira linha de sutura da cistorrafia (sutura aposicional de
Schmieden). C. Sutura de Cushing sobre a primeira sutura. D.
Omentalização.

PÓS-OPERATÓRIO:
• análise dos cálculos;
• mudança da dieta;
• antibioticoterapia (7 dias);

PROGNÓSTICO:
Reservado, pode ocorrer a recorrência de novos cálculos, se não for descoberto o agente causador da formação
das urolitíases.

104
ENTEROTOMIA

É a abertura e o fechamento cirúrgico do intestino. Esta técnica pode receber ainda o nome da porção anatômica
a qual está sendo abordada como: pilorotomia, duodenotomia, jejunotomia, cecotomia, colotomia, etc.

INDICAÇÕES:
Obstruções por corpos estranhos ou fecalomas.

DIAGNÓSTICO:
É feito pela anamnese, sinais clínicos e exames radiográficos ou ultrassonográficos.

PRÉ-OPERATÓRIO:
• Profilaxia antimicrobiana imediatamente antes da cirurgia (ceftriaxona 30mg/kg);
• Correção hidroeletrolítica (sol. Ringer lactato);
• Anestesia geral.

TÉCNICA CIRÚRGICA:

Após aplicação da MPA é feito o acesso venoso, aplicação de antibiótico (repetido a cada 2 horas, se
necessário) e tricotomia ampla do campo operatório. Dentro do bloco cirúrgico o animal é intubado para
realização de anestesia inalatória e quando em plano anestésico cirúrgico posicionado em decúbito dorsal e feita
a antissepsia do campo operatório com álcool-iodo-álcool. Após colocação dos panos de campo é realizada, na
linha média ventral, uma incisão craniocaudal de pele e tecido subcutâneo, retro umbilical ou pré-retro
umbilical (comprimento suficiente para explorar todo o trato gastrintestinal), seguida de hemostasia. O abdome
é abordado pela linha alba. Traciona-se a parede abdominal com duas pinças de Allis e é perfurada a linha alba
com auxílio de uma lâmina de bisturi. Uma tesoura é utilizada para verificar aderências viscerais à cavidade e
então amplia-se a incisão. Os intestinos são revisados de maneira sistemática (inspeção e palpação) e a alça do
intestino delgado que contém o corpo estranho é tracionada para fora do abdome e a cavidade abdominal
protegida por compressas úmidas. Pinças intestinais atraumáticas são colocadas cranial e caudalmente à área
onde decide-se por fazer a incisão ou pode-se utilizar pontos de reparo temporários. Pode-se ocluir
temporariamente (pinça vascular) os vasos mesentéricos da porção a ser incidida, para diminuir o sangramento
no momento da incisão intestinal. A incisão é feita de preferência no tecido sadio imediatamente oral ou aboral
ao corpo estranho, e não no tecido comprometido acima deste. A parede intestinal é seccionada
longitudinalmente no lado anti-mesentérico. Após a remoção do corpo estranho, a enterorrafia é executada. O
excesso de mucosa é removido e a sutura é iniciada utilizando fio sintético absorvível com PIS. Após o término
da sutura é testado o grau de permeabilidade da sutura forçando a passagem do conteúdo intestinal pela região
dos pontos ou com aplicação de solução fisiológica no lúmen intestinal. É realizada a omentalização da linha de
sutura. São trocados os materiais que tiveram contato com a mucosa intestinal. A celiotomia é fechada de forma
usual.

PÓS-OPERATÓRIO:
• Dieta líquida nas primeiras 48 horas;
• Alimentação de fácil digestão nas próximas 48 horas;
• Curativo local diário na ferida cirúrgica;
• Retirada dos pontos de pele com 08-10 dias de pós-operatório para pequenos
animais, e 10-15 dias para grandes animais.

105
ENTERECTOMIA

É a secção de porções do intestino delgado. Esta técnica deve ser empregada quando o comprometimento da
lesão na parede intestinal for de aspecto irreversível. Podem ser encontradas na literatura diferentes técnicas
para o fechamento da parede intestinal.

1. Sutura:
• Em um plano X em dois planos.
• Eversão X inversão X aposição.
• Pontos absorvíveis X não absorvíveis.

2. Técnicas:
• Término-terminal – técnica cirúrgica muito utilizada na anastomose de intestino delgado de canino e também
bovino.
• Término-lateral – técnica cirúrgica utilizada na anastomose entre intestino delgado e grosso. Ex.:
intussuscepção ileocecal.
• Látero-lateral – técnica cirúrgica utilizada na anastomose entre intestinos delgado de equinos para evitar
estenose pós-operatória.

3. Todas as técnicas apresentam vantagens e desvantagens, mas apesar das divergências é seguro comentar que
nas mãos de um cirurgião competente e utilizando-se os rigorosos princípios cirúrgicos, qualquer das diferentes
técnicas costuma ser bem sucedida. Atualmente aceita-se que a anastomose término-terminal aposicional
simples produz excelentes resultados.

PRINCÍPIOS DA CIRURGIA INTESTINAL:


• Proteger todos os órgãos adjacentes e a cavidade abdominal com compressas úmidas.
• Incorporar a camada submucosa nos pontos de anastomose.
• Promover a anastomose de modo a provocar o contato de serosa com serosa.
• Manter um suprimento sanguíneo adequado.
• Evitar tensão no local da anastomose.

LESÕES QUE PODEM ACARRETAR NA REALIZAÇÃO DA ENTERECTOMIA:


• Obstruções • Intussuscepção
• Neoplasias • Volvo
• Rupturas • Encarceramento e estrangulamento intestinal

SINAIS CLÍNICOS:
Variam conforme a localização da lesão e se a obstrução é parcial ou total. São sinais clínicos:
• Náusea • Dor abdominal
• Anorexia • Distensão abdominal
• Inquietação • Vômitos
• Depressão

DIAGNÓSTICO:
• Anamnese e sinais clínicos;
• Exames laboratoriais;

106
• Exames radiológicos (simples e contrastado)
• Ultrassonografia

PRÉ-OPERATÓRIO:
• Correção hidroeletrolítica;
• Correção do desequilíbrio acidobásico;
• Antibioticoterapia;
• Tricotomia ampla.

PROCEDIMENTO CIRÚRGICO:
• Anastomose término-terminal

Após aplicação da MPA será feito o acesso venoso, aplicação de antibiótico (repetido a cada 2 horas, se
necessário) e tricotomia ampla do campo operatório. Dentro do bloco cirúrgico, será intubado para realização de
anestesia inalatória e quando em plano anestésico cirúrgico será posicionado em decúbito dorsal e feita a
antissepsia do campo operatório com álcool-iodo-álcool. Após colocação dos panos de campo será realizada, na
linha média ventral, uma incisão craniocaudal de pele e tecido subcutâneo, retro umbilical ou pré-retro
umbilical (comprimento suficiente para explorar todo o trato gastrintestinal), seguida de hemostasia. O abdome
será abordado pela linha alba. Será tracionada a parede abdominal com duas pinças de Allis e perfurada a linha
alba com auxílio de uma lâmina de bisturi. Uma tesoura será utilizada para verificar aderências viscerais à
cavidade e então ampliada a incisão. O segmento intestinal será exposto e a cavidade abdominal será protegida
por compressas úmidas. Após ter sido determinado a extensão da ressecção (coloração, pulso, peristaltismo e
corante), será ligado, um a um, os vasos mesentéricos adjacentes a porção a ser seccionada (fio absorvível
sintético). O segmento intestinal será duplamente clampeado (Pinça de Doyen) e seccionado. O posicionamento
dos clampes será o mais próximo possível da linha de ressecção para evitar extravasamento de conteúdo sobre o
campo cirúrgico. Os segmentos serão seccionados em um ângulo de 60º para evitar a estenose, pois esta secção
torna maior a circunferência da luz intestinal. Após remoção do excesso de mucosa, a sutura será iniciada pela
borda mesentérica do intestino com fio sintético absorvível com PIS. Após o ponto inicial na borda mesentérica,
o segundo ponto será no lado oposto (borda anti-mesentérica). Após serão distribuídos PIS até o completo
fechamento de toda a circunferência intestinal. Após o término da anastomose, serão retirados os clampes e será
testado o grau de permeabilidade da sutura forçando a passagem do conteúdo intestinal pela região dos pontos
ou com aplicação de solução fisiológica no lúmen intestinal. Realizar a sutura do mesentério. Será realizada a
omentalização da linha de anastomose. Serão trocados os materiais que tiveram contato com a mucosa
intestinal. A cavidade abdominal será inspecionada quanto a sangramentos e então fechada com suturas de
Sultan, utilizando fio absorvível ou inabsorvível sintético – diâmetro dependente do porte do animal). A
redução do espaço morto será feita com fio absorvível sintético (diâmetro dependente do porte do animal) em
padrão contínuo simples. Pontos isolados simples com fio mononylon (diâmetro dependente do porte do
animal) serão utilizados para fechamento da pele. No pós-operatório será realizada fluidoterapia por 24 horas e
dieta líquida por 48 horas. Após, dieta pastosa por mais 48 – 72 horas, aos poucos várias vezes ao dia. Será
implantada a alimentação sólida de forma gradual. Anti-inflamatório por 3 dias. Antibioticoterapia por 10 dias.
Utilizará colar elisabetano ou roupa cirúrgica que proteja os pontos em tempo integral. O tutor deverá fazer
curativo/limpeza dos pontos duas vezes por dia com gaze e soro fisiológico (observar/remover sujidades,
secreções). Manter repouso até a retirada dos pontos em 10 dias ou conforme orientação.

CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS:

No pós-operatório é realizada fluidoterapia por 24 horas e dieta líquida por 48 horas. Após, dieta pastosa por
mais 48 – 72 horas, aos poucos várias vezes ao dia. É implantada a alimentação sólida de forma gradual. Anti-

107
inflamatório, analgésicos. Antibioticoterapia por 10 dias. Cães e gatos utilizarão colar elisabetano ou roupa
cirúrgica que proteja os pontos em tempo integral. O tutor deverá fazer curativo/limpeza dos pontos duas vezes
por dia com gaze e soro fisiológico (observar/remover sujidades, secreções). Manter repouso até a retirada dos
pontos em 10 dias ou conforme orientação.

ESOFAGOTOMIA

Consiste na a abertura e no fechamento cirúrgico do esôfago.

INDICAÇÕES:
Tratamento de patologias que venham interferir com a passagem do bolo alimentar no trajeto esofagiano.

PATOLOGIAS CIRÚRGICAS:

a) PATOLOGIAS OBSTRUTIVAS:

1. locais de maior probabilidade:


• esôfago faringeano;
• entrada do tórax;
• base do coração;
• região esofageana hiatal.

2. sinais clínicos:
• dor na deglutição;
• sialorréia;
• recusa do alimento;
• emagrecimento;
• depressão;
• ataques recorrentes de faringites e tonsilites;
• regurgitação;
• desidratação;
• pneumonia por aspiração.

3. diagnóstico:
• sinais clínicos;
• exames radiológicos;
• esofagoscopia.

4. irregularidades obstrutivas:
• corpos estranhos: maior ocorrência em cães jovens, raramente em felinos. Podem levar a perfurações
esofagianas, acarretando em mediastinite, pleurite, piotórax e fístulas cervicais;
• neoplasias do esôfago: são raras, exceto pelas metástases de osteossarcomas e fibrossarcomas;
• espirocercose: é uma inflamação granulomatosa parasitária do esôfago distal, que afeta os carnívoros;
• estenose esofágica: as causas incluem obstrução por corpos estranhos, ingestão de substâncias cáusticas,
esofagites e por intervenções cirúrgicas;
• anomalias de anéis vasculares: a oclusão parcial do esôfago por vasos sanguíneos

108
aberrantes na base do coração, é uma causa comum de obstrução esofágica no cão e no gato. Estes vasos
sanguíneos aberrantes formam anéis, que são malformações congênitas do sistema de arco aórtico, as quais
interferem com o esôfago. Ex: ducto arterioso persistente e o arco aórtico persistente.

4.1. patologias por extravasamento:


• encontram-se nesse grupo as perfurações e fístulas esofágicas.

4.2. patologias neuromusculares:


• hérnia de hiato;
• intussuscepção gastresofágica;
• megaesôfago.

PRÉ-OPERATÓRIO:
• corrigir o desequilíbrio hidroeletrolítico;
• antibiotico profilático;
• intubação traqueal;
• sondagem esofágica e exame radiológico;
• anestesia geral.

TÉCNICA CIRÚRGICA:

ESÔFAGO CERVICAL
O esôfago cervical é alcançado através da incisão mediana-ventral do pescoço. O tecido subcutâneo é incidido e
a fina divisão mediana do músculo esterno-hióideo é identificada e aberta por incisão ou divulsão romba. A veia
tireóidea é observada logo abaixo dos músculos seccionados, devendo a mesma deve ser preservada. A traqueia
é rebatida para a direita e a bainha da artéria carótida e tronco vagossimpático são visualizados e protegidos por
compressas úmidas. O nervo laríngeo-recorrente deve ser identificado na porção médio-ventral do esôfago e
protegido. A passagem de uma sonda gástrica ajuda a imobilizar o esôfago, permitindo a aspiração do conteúdo
esofagogástrico. O comprimento do esôfago é exposto por dissecação romba. Esta dissecação não deve exceder
de 4 a 5 cm proximal ou distalmente à porção afetada, de modo a preservar o suprimento sanguíneo. Tecido
necrótico ou perfurações extensas com necroses são indicações para ressecção e anastomose do esôfago. A
incisão do esôfago é feita diretamente sobre o corpo estranho, longitudinalmente. Após a retirada do corpo
estranho, a mucosa é fechada com fio de nylon ou polipropileno monofilamentoso 3.0 ou 4.0, com pontos Swift.
A camada muscular é suturada com pontos simples ou Wolff, com fio vicryl 3.0. O esôfago e a ferida cirúrgica
são lavados abundantemente com solução salina morna. As sínteses da musculatura, do subcutâneo e pele são
de forma usual.

ESÔFAGO TORÁCICO:
O espaço intercostal é escolhido com base na localização da lesão ou obstrução. O esôfago torácico cranial, da
entrada do tórax até à base do coração é aberto através do 4º espaço intercostal esquerdo. Se a afecção
esofagiana está localizada na base do coração, a via de acesso de escolha é pelo 5º espaço intercostal direito ou
esquerdo. Os lobos pulmonares são afastados e a veia ázigos (lado direito) precisa ser isolada e retraída para
uma exposição adequada do esôfago. O esôfago torácico caudal, entre o coração e a junção gastresofágica é
exposto por toracotomia através do 8º ou 9º espaço intercostal esquerdo. Deve-se ter cuidado com os lobos
pulmonares caudais e os ramos do nervo vago, que passam sobre a porção lateral do esôfago. A abertura e o
fechamento do esôfago torácico seguem o mesmo padrão do esôfago cervical.

PÓS-OPERATÓRIO:

109
• antibioticoterapia;
• curativo tópico;
• jejum total de 24-48 h;
• jejum de sólidos por 5-7 dias;
• retirada dos pontos de 8 a 10 dias de P.O.

GASTROTOMIA

É a abertura e o fechamento cirúrgico do estômago.

INDICAÇÕES:
A gastrotomia está indicada na remoção de alimentos do estômago em pacientes com dilatação ou torção
gástrica (Fig. 02), e para remoção de corpos estranhos que não podem ser retirados de outra forma (através de
vômitos ou endoscopia).

PRÉ-OPERATÓRIO:
• Correção hidroeletrolítica e acidobásico;
• Avaliação do trato gastrintestinal através de exame radiológico simples, contrastado e ultrassonografia, para a
localização dos corpos estranhos e de possíveis lesões;
• Descompressão gástrica (sondagem ou punção);
• Profilaxia antimicrobiana (ampicilina sódica 10-20 mg/kg/IV/30 minutos no pré-
operatório).

TÉCNICA CIRÚRGICA:

Após aplicação da MPA será feito o acesso venoso, aplicação de antibiótico (repetido a cada 2 horas, se
necessário) e tricotomia ampla do campo operatório. Dentro do bloco cirúrgico o animal é intubado para
realização de anestesia inalatória e quando em plano anestésico cirúrgico posicionado em decúbito dorsal e feita
a antissepsia do campo operatório com álcool-iodo-álcool. Após colocação dos panos de campo é realizada, na
linha média ventral, uma incisão craniocaudal de pele e tecido subcutâneo, pré umbilical (comprimento
suficiente para explorar todo o trato gástrico), seguida de hemostasia. O abdome é abordado pela linha alba. É
tracionada a parede abdominal com duas pinças de Allis e perfurada a linha alba com auxílio de uma lâmina de
bisturi. Uma tesoura é utilizada para verificar aderências viscerais à cavidade e então ampliada a incisão. O
estômago é localizado, inspecionado e tracionado próximo da incisão abdominal. O mesmo é mantido
tracionado por meio de dois pontos de reparo ou por meio de pinças de Babcock. A seguir as estruturas
adjacentes são afastadas e protegidas com compressas cirúrgicas umedecidas. A incisão do estômago é feita
longitudinal, no ponto médio entre a curvatura maior e menor, no local de menor irrigação visceral. Após a
inspeção e retirada dos conteúdos, e após remoção do excesso de mucosa o estômago é suturado em dois
planos, com padrões de suturas seromusculares invaginantes (Schimidem + Cushing). O fio utilizado é
absorvível sintético nº 2.0 ou 3.0. Após o fechamento, a incisão gástrica será omentalizada. O estômago é então
devolvido para a sua posição anatômica, as compressas são removidas e a cavidade abdominal é lavada
copiosamente com solução salina morna. Após troca de luvas e materiais cirúrgicos a cavidade abdominal será
inspecionada quanto a sangramentos e então fechada com suturas de Sultan, utilizando fio absorvível ou
inabsorvível sintético nº 2.0 ou 3.0. A redução do espaço morto será feita com fio absorvível sintético nº 2.0 ou
3.0, em padrão contínuo simples. Pontos isolados simples com fio mononylon nº 4-0 serão utilizados para
fechamento da pele.

110
PÓS-OPERATÓRIO:
• Jejum de sólidos por 48 horas;
• Manter fluido terapia pós-operatória;
• Antibioticoterapia (se necessário);
• Retirada dos pontos de pele aos 08 ou 10 dias de pós-operatório.

PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES:
• Deiscência da sutura gástrica.
• Peritonite.
• Evisceração.

RUMENOTOMIA

INDICAÇÕES:
• Remoção de corpos estranhos (metais, plásticos, cordas, etc.).
• Evacuação do conteúdo do rumem em casos de sobrecarga.
• Diagnóstico de neoplasias (carcinomas por ingestão de samambaia, etc.).

PRÉ-OPERATÓRIO E ANESTESIA:
• Jejum (12 a 24 horas).
• Tricotomia da fossa para lombar e flanco.
• Antissepsia (álcool-iodo-álcool).
• Anestesia – Tranquilizarão associada com um bloqueio para vertebral, ou uma tranquilizarão associada com
um bloqueio em “L” invertido.

TÉCNICA CIRÚRGICA:
Uma incisão para lombar esquerda (aproximadamente 20 cm) é feita com o animal em estação. O músculo
obliquo externo e músculo obliquo interno são secionados na mesma direção, devendo os vasos hemorrágicos
serem pinçados e ligados. O músculo transverso é então secionado, também no sentido vertical. O peritônio é
localizado, erguido com o auxílio de uma pinça de dissecção e seccionado com bisturi ou tesoura. A incisão
pode ser ampliada com tesoura tanto dorsalmente quanto ventralmente. Após a cavidade abdominal ser aberta,
realiza-se uma exploração das vísceras por palpação, e uma prega da parede ruminal é tracionada e fixada em
nível da pele. O rumem é então suturado junto a pele com um padrão de sutura contínua simples seromuscular
(mononylon), para evitar contaminação da cavidade ou musculatura local. O rumem é então incidido e o
conteúdo rumenal é então visualizado e explorado por palpação. Após a retirada dos corpos estranhos a ferida
rumenal é fechada com duas camadas de suturas contínuas invaginantes (Cushing ou Lembert) seromusculares
(fio absorvível nº 1 ou 2). O rumem é lavado e a sutura de fixação é desfeita. A síntese da parede abdominal é
realizada de forma rotineira, podendo ser: 1ª camada (com pontos de Sultan): peritônio + músculo tranverso; +
m. oblíquo interno, 2ª camada: músculo oblíquo externo (sutura contínua simples). Após, redução de espaço
morto (sutura contínua simples) e dermorrafia (PIS / WOLLF, Donatti / Festonada).

CONDUTA PÓS-OPERATÓRIA:
• Varia conforme a causa promoveu a rumenotomia;
• Fluido terapia pós-operatória é importante;
• Antibioticoterapia;
• Laxativos osmóticos leves para auxiliar na evacuação rumenal

111
ABOMASOPEXIA

TRATAMENTO CIRÚRGICO:
O tratamento cirúrgico possui como principal objetivo devolver o abomaso à sua posição original ou
aproximada e criar uma ligação permanente nesta posição. Segundo Niehaus (2008), as técnicas mais utilizadas
são, em ordem decrescente, a omentopexia e omento-abomasopexia, ambas pela fossa paralombar direita, e a
abomasopexia pelo flanco esquerdo; entretanto, a utilização de outras técnicas e a sua frequência de uso varia de
acordo com a opção e afinidade de cada cirurgião. Métodos fechados ou minimamente invasivos As técnicas
minimamente invasivas incluem a técnica de rolamento com sutura às cegas, “toggle pin” e aquelas com auxílio
laparoscópico. Cada técnica e suas variantes serão discutidas separadamente. Técnica de rolamento com sutura
às cegas (“blind stich”) O procedimento de sutura às cegas foi descrito pela primeira vez em 1972 por Hull. A
técnica consiste do mesmo procedimento descrito para o método de rolamento, exceto pela necessidade de
preparo asséptico da região ventral medial caudal à cartilagem xifóide, para sutura às cegas da parede
abdominal, atravessando o órgão e voltando através da parede abdominal. A sutura é realizada no ponto central
da área de maior som metálico, sendo utilizada uma agulha longa (9-20cm), comprida e meia-curva para
realização de sutura única interrompida com fio não-absorvível no 2 a 4. A sutura deve ser retirada após 10 a 14
dias do procedimento para evitar a formação de fístula abomasal (Hull, 1972; Trent, 2004). Em relato do autor
da técnica, obteve-se 90% de sucesso nas 113 vacas com DAE tratadas (Hull, 1972). As vantagens são a
simplicidade da técnica e seu baixo custo (Hull, 1972). As complicações incluem reposicionamento incompleto
do abomaso, pexia inadvertida de outra víscera (p.ex. omento, intestino ou rúmen), celulites, flegmão, peritonite
local ou difusa, fístula abomasal e tromboflebite de veias subcutâneas, principalmente a veia mamária (Fecteau
et al., 1999; Trent, 2004).

TÉCNICA DE “TOGGLE-PIN” (TTP): Desde sua primeira descrição por Grymer & Sterner (1982a), a
técnica tem evoluído até um procedimento alternativo razoável às abordagens tradicionais por laparotomias
(Aubry, 2005). Atualmente, existem inúmeras clínicas nos Estados Unidos e Canadá que utilizam a TTP como
o procedimento primário para correção de DAE nãocomplicados (Newman et al., 2008). A TTP é bem relatada
na literatura (Grymer & Sterner, 1982a; Trent, 2004; Aubry, 2005; Newman et al., 2008), além de excelente
descrição escrita e visual do procedimento disponível online (Grymer & Sterner, 2007). A técnica consiste em
procedimento similar ao descrito anteriormente. Entretanto, utilizam-se bastões de plástico ou metal,
conhecidos como “toggle”, acoplado ao fio de algodão para realização da abomasopexia (Grymer & Sterner,
1982a). Alguns autores utilizam a sedação com xilazina (0,02mg/kg; IV) anterior a contenção do animal em
decúbito dorsal, entretanto é bem documentada a ação inibitória deste fármaco na motilidade gastrintestinal em
bovinos (Steiner, 2003). Assim, a utilização da xilazina deve ser realizada apenas quando disponíveis antídotos,
como a tolazolina (0,25-0,5mg/kg; IV) ou a ioimbina (0,125mg/kg; IV) (Steiner, 2003; Newman et al., 2008). A
colocação dos “toggle” inicia-se por meio da inserção de um trocater com cânula dentro do abomaso através da
parede abdominal na região de delimitação metálica. O posicionamento do 1º “toggle” na porção mais cranial
do som metálico tem facilitado a penetração do abomaso. O trocater é retirado e a penetração do órgão é
confirmada pela saída de gás através da cânula; deve-se retirar amostra de conteúdo e aferir o pH no caso de
dúvida (pH abomasal varia de 2 a 3). O “toggle” acoplado a um fio não-absorvível de 30cm (poliamida, algodão
ou seda) é inserido através da cânula ainda no lúmen abomasal, sendo esta então retirada e o “toggle” é
tracionado rente à parede abdominal. O segundo “toggle” é posicionado 10cm caudal ao primeiro como descrito
anteriormente, entretanto desta vez permite-se a saída completa do gás do abomaso através da cânula. As
suturas são amarradas juntas finalizando a fixação do órgão (Grymer & Sterner,, 1982a, 2007; Trent, 2004;
Aubry, 2005; Newman et al., 2008). As vantagens da TTP incluem a rapidez e o custo reduzido de
aproximadamente 50% em relação ao tratamento invasivo (Bartlett et al., 1995; Podpecan & Hrusovar-
Podpecan, 2001), além de permitir a constatação da penetração do abomaso por meio do odor do gás expelido
pela cânula (Aubry, 2005). As desvantagens incluem a impossibilidade de exploração da cavidade abdominal;

112
ausência de controle visual durante o reposicionamento e fixação; considerável índice de recidiva; peritonite
local ou difusa e formação de fístulas abomasais (Smith, 1981; Grymer & Sterner, 1982b, 2007; Trent, 2004),
além da possibilidade de obstrução pilórica (Kelton & Fubini, 1989). Apesar dos índices de complicações
aparentes serem baixos, as complicações são suficientemente severas para reduzir drasticamente a produção
leiteira e ser a causa primária de descarte do rebanho (Newman et al., 2008). O índice de sobrevivência de
73,3% foi inicialmente reportado (Grymer & Sterner, 1982a), seguida por 88% em um estudo posterior
realizado pelos mesmos investigadores (Grymer & Sterner, 1982b). Nenhuma das mortes após a cirurgia foi
associada ao procedimento. Todas as vacas que morreram no primeiro estudo e 50% dos animais que vieram à
óbito no segundo estudo apresentavam doenças concomitantes incluindo cetose, mastite, metrite e retenção de
placenta (Grymer & Sterner, 1982a,b). Apesar da TTP ter sido inicialmente desenvolvida para o uso em vacas
velhas ou com doenças concomitantes, o procedimento pode ser recomendado como uma boa alternativa à
laparotomia para correção do DAE em bovinos leiteiros (Kelton et al., 1988; Bartlett et al., 1995), entretanto a
seleção do caso, a experiência e habilidade do cirurgião são altamente determinantes no sucesso da técnica
(Trent, 2004). Técnicas com auxílio laparoscópico (endoscópico) As técnicas com controle endoscópico são
exemplos de métodos minimamente invasivos e com resultados semelhantes aos obtidos com o uso de técnicas
cirúrgicas abertas (Roy et al., 2008).

ABOMASOPEXIA PARAMEDIANA VENTRAL DIREITA (APVD): A APVD propicia excelente ligação


do abomaso com a parede abdominal ventral e menor invasão abdominal quando comparada às demais técnicas
abertas ou invasivas, entretanto a possibilidade de ampla exploração do abdômen é severamente diminuída
(Fecteau et al., 1999). A abordagem é utilizada no tratamento cirúrgico da DAE, DAD e VA. Sem contar o
esforço físico de posicionar o animal em decúbito dorsal, a técnica exige menos que a OFD porque as
referências anatômicas para a pexia são definidas e não existem relatos de tensão excessiva sobre a sutura
(Wilson, 2008). A incisão é realizada aproximadamente 8cm caudal ao processo xifóide entre a linha média e a
veia subcutânea abdominal direita, e posteriormente o abomaso é fixado junto à rafia (padrão contínuo simples
de 8-12cm) do peritônio, com o devido cuidado para não penetrar o lúmen abomasal (Baird & Harrison, 2001).
As revisões de Baird & Harrison (2001) e Wilson (2008) explicam bem a técnica e o material cirúrgico
necessário. As abordagens ventrais predispõem ao desenvolvimento de infecções incisionais e eventração pela
localização da ferida pós-cirúrgica (Fecteau et al., 1999). O índice de recidiva é geralmente considerado baixo e
menor que o obtido após OFD, com o sucesso cirúrgico alcançando valores entre 84-94% (Trent, 2004; Wilson,
2008). A APVD é mais utilizada em vacas de exposição devido ao local cirúrgico e, consequentemente, a
cicatriz ser menos notável do que as abordagens pelo flanco (Wilson, 2008). No estudo de Fubini et al. (1992), a
APVD e a OFD apresentaram resultados similares e não houve diferença significativa com relação as
deiscências incisionais, complicações durante o período de internamento hospitalar ou na proporção
óbitos/descartes. Entretanto, no grupo submetido a APVD foi evidenciado PL superior no mês subsequente
quando comparado ao grupo da OFD (34kg/dia versus 31kg/dia). O índice de recidiva em bovinos tratados com
a técnica varia de acordo com os autores e encontra-se entre 2,4 a 4,3% (Kelton et al., 1988; Fubini et al., 1992;
Trent, 2004).

ABOMASOPEXIA PELO FLANCO ESQUERDO (AFE): As técnicas pelo flanco são mais utilizadas pela
maior versatilidade em manipular diferentes estruturas abdominais e permitir maior amplitude para a exploração
abdominal (Niehaus, 2008), possibilitando ainda que apenas um cirurgião realize o procedimento (Saint Jean et
al., 1987). Entretanto, a maior vantagem destes procedimentos encontra-se na possibilidade de realização com o
animal em estação (Trent, 2004). A AFE é utilizada apenas em casos de DAE, possibilitando ao cirurgião
acesso a curvatura maior e superfície parietal do abomaso (Trent, 2004) e a fixação direta do abomaso à parede
abdominal ventral, sendo que a aderência obtida nesta técnica não são consideradas tão seguras como as obtidas
na técnica paramediana ventral (Baird & Harrinson, 2001). A abordagem da AFE é citada como o método mais
seguro para estabilização do DAE em vacas no trimestre final de gestação, apesar do reposicionamento do

113
abomaso ser desafiador e requerer experiência; permite também o tratamento simultâneo do DAE e
retículoperitonite traumática (Trent, 2004). Todavia, cita-se que a piloro omentopexia pelo flanco direito
demanda menos fisicamente do cirurgião do que a AFE em vacas gestantes, resultante da menor manipulação
do útero gravídico (Baird & Harrinson, 2001). As desvantagens da AFE incluem acesso restrito a segmentos
intestinais, sendo contra-indicada na avaliação e manipulação de outras estruturas abdominais. O acesso
adequado para sutura do abomaso depende do grau de deslocamento dorsal atingido pelo órgão; assim, a técnica
não deve ser considerada nos casos em que o som metálico é ausente, relativamente baixo (abaixo do abdômen
médio) ou cranial (após a 10º costela) no momento da cirurgia (Saint Jean et al., 1987; Trent, 2004). O
procedimento consiste na realização de incisão de 20 a 25cm no flanco esquerdo distando caudalmente 2 a 4cm
da última costela. O abomaso é visualizado e deve ser utilizado o padrão de sutura contínua com um fio não-
absorvível longo na camada seromuscular da curvatura maior do órgão. Após colocação da sutura deve-se
realizar a descompressão do abomaso com agulha 14G, e posteriormente o fio não-absorvível é passado através
da parede abdominal ventral criando a pexia. A maior indicação desta técnica reside no tratamento de DAE com
aderências na parede abdominal esquerda, permitindo a quebra das mesmas; assim como úlceras gástricas de
graus III e IV (Saint Jean et al., 1987; Niehaus, 2008). As complicações pós-cirúrgicas mais comuns incluem
danos acidentais a veia mamária, encarceramento do omento ou intestino delgado e posicionamento inadequado
do órgão ocasionando obstrução parcial do fluxo (Trent, 2004). Outras complicações abrangem infecções
incisionais, recidiva após a retirada das suturas e desenvolvimento de fistula abomaso-cutânea (Wilson, 2008).

OMENTOPEXIA: A técnica de omentopexia pode ser realizada por ambos os flancos. Assim, quando
executada pelo flanco esquerdo denomina-se “método de Hannover” e pela fossa paralombar direita é conhecida
como “método de Ultrech” (Dirksen, 2005; Barros Filho & Borges, 2007). O “método de Ultrech”
(omentopexia pelo flanco direito [OFD]) é o mais utilizado e difundido de ambos e será abordado com maiores
detalhes devido à possibilidade de utilização no tratamento do DAE, DAD e VA (Trent, 2004; Niehaus, 2008).
A OFD é um procedimento em que o omento maior aderido à curvatura maior do abomaso é fixado na parede
abdominal direita, possibilitando que o abomaso aproxime-se de sua posição anatômica. O piloro usualmente
serve como referência e é tracionado ao nível da incisão para assegurar o correto posicionamento do órgão
(Saint Jean et al., 1987). Com esta técnica não é necessário a sutura na parede abomasal, pois tal procedimento
tem sido associado com a possível drenagem de conteúdo resultando em peritonite ou formação de fístula
(Niehaus, 2008). As peças-chave para estabilidade da omentopexia são: escolha de local tão próximo quanto
possível da junção piloro-duodeno sem interferir na função duodenal; distribuição da pexia sobre a maior área
possível; incorporação do peritônio na pexia; e o uso de um material de sutura que dure tempo suficiente para a
formação de aderências fibrosas e que não propicie infecções (Trent, 2004). A incisão é realizada no flanco
direito seguindo as mesmas referências anatômicas citadas na AFE. Deve-se então proceder a exploração da
cavidade abdominal com o intuito de evidenciar a existência de aderências e/ou peritonites focais ou difusas.
Em seguida realiza-se a descompressão do abomaso utilizando agulha 14G acoplada a tubo estéril, e, posterior
tracionamento do abomaso e localização da junção piloro-duodeno, onde a sutura no omento deverá ser
executada 3-4cm caudal à esta referência anatômica. Suturas de material não absorvível são preferidas para a
formação de aderências mais duradouras. A colocação de suturas no omento muito mais cranial ou caudal ao
piloro e gordura omental são consideradas as razões primárias de dilatação e recidiva do DA e devem ser
evitadas. A estabilização do omento é alcançada com a inclusão de segmento de 1,5cm na sutura do fechamento
do peritôneo ou através de suturas interrompidas simples no omento que são ligadas à incisão no flanco (Baird
& Harrinson, 2001; Trent, 2004; Niehaus, 2008; Wilson, 2008). O prognóstico do tratamento bem sucedido
para bovinos com DAE com a omentopexia é considerado bom, com relatos de 86 a 90% dos animais tratados
retornando ao rebanho; enquanto um índice alto de 93,8% foi citado em um estudo que combinava 411 casos de
DAE e 43 de DAD (Trent, 2004). No estudo de Rohn et al. (2004), dos 466 DAE e 98 DAD obteve-se índice de
sobrevivência total de 80,7%, sendo o maior índice observado em bovinos com DAE (410/466) do que em
animais com DAD (77/98).

114
PILOROPEXIA PELO FLANCO DIREITO (PFD): Como mencionado anteriormente, a abordagem pela
fossa paralombar direita pode ser realizada sozinha ou em associação com a omentopexia para melhor
estabilização do abomaso. A forma mais comum de PFD envolve a colocação de 1 ou 2 suturas por todas as
camadas musculares e a porção crânio-ventral do peritônio em relação a incisão e com padrão contínuo (p.ex.
Riverdin ou contínuo simples) na camada muscular do tôrus piloro. Preconiza-se a realização da sutura
aproximadamente 5cm proximal ao piloro para prevenir o desenvolvimento de estenose secundária (Trent,
2004). A PFD é um método mais seguro e de fixação direta, entretanto deve-se salientar o maior risco de
penetração do lúmen quando comparado com a abomasopexia, pois a mucosa da região pilórica é Acta
Veterinaria Brasilica, v.5, n.2, p.119-128, 2011 126 mais aderida à camada submucosa. Assim, são citadas
algumas complicações, como abscedação, obstrução pilórica, peritonite (focal ou difusa), encarceramento de
algum ramo ventral do nervo vago e/ou comprometimento inflamatório vagal. As duas últimas podem ocasionar
a síndrome da indigestão vagal, particularmente a do tipo III (Wilson, 2008).

PILORO-OMENTOPEXIA PELO FLANCO DIREITO (POFD): A POFD é uma técnica relativamente


nova que associa a piloropexia com a omentopexia e permite a formação de aderência maior e mais estável,
diminuindo o risco de recidiva quando comparada com a técnica de OFD (Baird & Harrinson, 2001).
Recentemente, a POFD vem sendo adotada por inúmeros veterinários e hospitais para correção do DAE
(Bartlett et al., 1995; Baird & Harrinson, 2001) e também apresenta bons resultados no tratamento do DAD
(Câmara et al., 2010). A POFD, assim como as demais abordagens pelo flanco direito, é provavelmente a
abordagem mais versátil para reposicionamento e estabilização de todos os tipos de DA e possibilita o melhor
acesso para as demais estruturas intra-abdominais. Pelo fato de ser um procedimento com o animal em estação,
esta técnica é mais segura do que as técnicas com posicionamento ventral, principalmente para vacas com
doenças respiratórias, aumento da pressão intra abdominal devido gestação avançada ou distensão ruminal, ou
ainda problemas músculo-esqueléticos capazes de dificultar o ato de levantar após a cirurgia (Trent, 2004). A
combinação de acesso fácil e relativo baixo grau de estresse torna esta a opção mais comum para a estabilização
profilática do abomaso em vacas com maior risco de DA (Fecteau et al., 1999). A técnica limita o acesso ao
abomaso nos bovinos com DAE, assim não é indicada em casos em que o acesso direto ao corpo e fundo do
abomaso é necessário. A correção do DAE utilizando a POFD requer que o abomaso esteja móvel e com espaço
disponível para tracionamento do órgão sob o rúmen. Deste modo, a técnica se torna inviável em animais com
aderências causadas por úlceras abomasais perfuradas ou qualquer causa de peritonite que resulte em acúmulo
de fibrina ou tecido fibroso no abdômen crânio-ventral (Trent, 2004). Assim como todas as abordagens
invasivas e minimamente invasivas, o flanco direito deve ser preparado rotineiramente para cirurgia asséptica
(tricotomia e antissepsia), e, posteriormente, realizada a anestesia paravertebral ou o bloqueio em “L” invertido
para analgesia local. A incisão (15- 20cm) deve ser feita na fossa paralombar direita distando aproximadamente
10cm dos processos transversos das vértebras lombares e 3-4cm caudal e paralela à última costela, minimizando
a exposição acidental do intestino delgado (Trent, 2004). Em seguida, a laparotomia deve ser executada à
procura de anormalidades na cavidade abdominal; aderências podem ser indicativas de úlceras abomasais,
retículoperitonite traumática ou outras fontes de contaminação peritoneal (Fecteau et al., 1999). A
descompressão gasosa do abomaso (agulha de 14G acoplada a tubo estéril) facilita o reposicionamento e
minimiza a tensão sobre a víscera. Nos casos com acúmulo excessivo de líquido é necessária a realização de
incisão circular (1,5cm de diâmetro) para inserção de tubo estéril e subsequente sucção do conteúdo abomasal
por gravidade ou aparelho de sucção, sendo indicada a sutura em bolsa de tabaco ao redor do orifício para
minimizar a contaminação (Trent, 2004). Quando é possível a exteriorização do abomaso ou parte dele pela
incisão do flanco direito, outra opção descrita é a abomasotomia (incisão de no máximo 5cm) para ordenha do
órgão e retirada do conteúdo abomasal (Fubini et al., 1991). Assim realiza-se o procedimento de colocação das
suturas conforme supracitado nas secções de OFD e PFD, com as devidas precauções para evitar complicações,
como penetração do lúmen pilórico e suas sequelas (Baird & Harrinson, 2001). Muitos autores citam a

115
incorporação das suturas ao fechamento do peritônio (Bartlett et al., 1995; Baird & Harrinson, 2001), enquanto
a modificação da técnica consiste na ancoragem da sutura em uma incisão menor de aproximadamente 3cm
distando 3- 5cm caudalmente à incisão primária da laparotomia exploratória (Câmara et al., 2010). Os fios
cirúrgicos mais indicados são os de material não-absorvível, como o polipropileno (Baird & Harrinson, 2001),
podendo ainda ser utilizado o fio de algodão “000” devido ao seu menor custo e aos bons resultados (Câmara et
al., 2010). O manejo pós-cirúrgico inclui drogas antiinflamatórias não-esteroidais e antibióticos, principalmente
em animais com doenças concomitantes (Wilson, 2008). Estudos recentes demonstraram o benefício da
transfaunação no pós-operatório (Rager et al., 2004). A dermorrafia deve ser retirada 10 dias após a cirurgia,
não sendo incomum a deiscência, principalmente em vacas também afetadas por metrite e mastite (Wilson,
2008). A literatura é escassa com relação ao índice de recuperação em bovinos submetidos à POFD, entretanto
Câmara et al. (2010) relataram a utilização da técnica em 18 vacas leiteiras (2 DAE, 15 DAD e 1 VA)
alcançando índices de sobrevivência de 100%; 73,3% e zero, respectivamente. Os autores acreditam que a
menor taxa de sobrevivência observada nos casos de DAD e VA é decorrente da gravidade das alterações
sistêmicas e em razão da demora na procura por atendimento clínico adequado, onde a evolução clínica variou
de dois a 15 dias (Câmara et al., 2010).

O PUERPÉRIO

O puerpério é o período que segue ao parto até que ocorra a completa involução uterina, preparando-se para
uma nova gestação. Isto ocorre em torno de 40 dias. Divide-se em duas fases principais: a) fase de delivramento
e b) fase de puerpério propriamente dito. Após o parto e antes da próxima prenhez, é necessário que estejam
completos quatro eventos concomitantes: involução uterina, regeneração do endométrio, retorno da atividade
cíclica ovariana e a eliminação da contaminação bacteriana.
a) Fase de delivramento – primeira fase, inicia-se imediatamente após o parto, terminando com a eliminação das
membranas fetais.
b) Puerpério propriamente dito – caracteriza-se pela volta do útero às suas condições normais. Estes fenômenos
histoquímicos de involução uterina se observam após o desaparecimento da atividade da progesterona.
2) Fisiopatologia do período pós-parto:
Involução uterina
O útero e a cérvix contraem rapidamente após o parto. A involução uterina envolve as contrações uterinas,
encolhimento físico, necrose e descolamento das carúnculas e regeneração do endométrio. A alteração tecidual
é marcada pela diminuição do peso do útero, que varia de aproximadamente 9 kg no parto para 1 kg em 30 dias.
Regeneração do endométrio
Segue a perda do alanto-cório, há necrose das carúnculas uterinas, as quais degradam-se ao redor dos 12 dias
pós-parto, contribuindo para a secreção junto com os fluidos e o sangue remanescente. Esta secreção apresenta-
se normalmente com coloração amarelo-amarronzada, viscosa e sem odor desagradável. O útero contém
aproximadamente dois litros de secreção imediatamente após o parto (lóquios ou secundinas) e ocorrem
intensas descargas nos primeiros dois a três dias. Este corrimento desaparecerá entre 14 a 18 dias pós-parto. A
regeneração da superfície endometrial ocorre em torno de 18 dias pós-parto, mas as lâminas profundas do
endométrio não estarão restauradas entes dos 8 semanas.
Contaminação bacteriana do útero
O útero encontra-se estéril durante a gestação, mas após o parto, quando a vulva está relaxada e a cérvix
dilatada, microrganismos presentes no meio ambiente, na pele e fezes do animal invadem o lúmen do útero. A
pressão negativa formada no trato genital imediatamente após a expulsão do feto induz uma entrada de ar que
contribui para a contaminação e colonização do útero pelos microrganismos locais. As barreiras anatômicas
que impedem a contaminação do útero, formadas pela vulva, vestíbulo, vagina e cérvix são quebradas durante o
parto e permanecem abertas por vários dias. A flora bacteriana flutua constantemente nas primeiras sete

116
semanas pós-parto, isto ocorre devido à espontânea contaminação, limpeza e re-contaminação pelas bactérias
locais. O lúmen do útero no pós-parto suporta o crescimento de uma variedade de bactérias aeróbicas e
anaeróbicas. Há um grande número de bactérias que já foram isoladas do lúmen uterino pós-parto, entre elas: E.
coli, Steptococcus, Arcanobacterium pyogenes, Bacillus licheniformis, Prevotella spp, e Fusobacterium
necrophorum.

Resposta imune para a contaminação bacteriana uterina


Os mamíferos apresentam dois sistemas imunes principais: o sistema imune inato e o sistema imune adquirido.
O sistema imune inato é particularmente responsável pela eliminação da contaminação bacteriana do útero após
o parto. O sistema imune inato é formado por barreiras anatômicas, fisiológicas, fagocíticas e inflamatórias. A
vulva, o vestíbulo, a vagina e o cérvix atuam como barreiras físicas para as bactérias ascendentes ao trato
genital. As barreiras fisiológicas incluem o muco secretado pela vagina e cérvix durante o estro. A principal
barreira fagocítica é promovida pela invasão de neutrófilos em resposta ao desafio bacteriano e, a barreira
inflamatória incluí moléculas de defesa não específicas como a lactoferrina e as proteínas de fase aguda.
Sistema imune adquirido pode atuar de forma indireta, pela produção de substâncias, como os anticorpos e as
citocinas, que são mediadores químicos fundamentais na organização e no equilíbrio de todo o processo de
defesa. As citocinas são fundamentais para um funcionamento adequado do sistema imune. Acredita-se que
para que uma gestação seja bem sucedida, a resposta imune predominante deve ser a de produção das chamadas
citocinas Th2 (que levam a uma resposta imune principalmente humoral, ou seja, baseada na produção de
anticorpos). O prognóstico da gestação pode não ser favorável se o tipo predominante de resposta for a Th1, que
estimula mais a ação direta das células (resposta celular) em relação à resposta Th2. A sigla NK vem do inglês
"natural killer". As células NK são células de defesa do sistema imune que tem a função de reconhecer células
estranhas ao organismo, células infectadas por vírus ou com algum tipo de alteração que possa levar ao
surgimento de um câncer. Existe uma grande quantidade de células NK no endométrio e
Um equilíbrio adequado de sua função é fundamental no processo de aceitação ou não de um embrião. Vários
estudos já mostraram que quando a quantidade de células NK ativadas é aumentada, aumenta o risco de que elas
venham a atacar o embrião, levando aos casos de abortos.
Retorno da atividade cíclica ovariana
Durante a gestação a alta concentração de esteroides suprime o eixo pituitária hipotalâmica, inibindo a secreção
de gonadotrofina (GnRH) do hipotálamo, resultando em um inadequado estimulo para a manutenção da
secreção do hormônio luteinizante (LH) e do hormônio estimulante folicular (FSH). Entretanto, após o parto
esses hormônios suprimidos durante a gestação são restabelecidos.
3) Fatores de risco para a infecção uterina:
As infecções uterinas pós-parto são não específicas, envolvendo bactérias que são encontradas no animal e no
meio ambiente. Os principais fatores de risco para a infecção uterina podem ser divididos naqueles associados
com lesão uterina, condições metabólicas e os fatores que determinam o desequilíbrio entre patogenicidade e
imunidade. Os fatores frequentemente associados com a infecção uterina são: aborto, parto gemelar, distocias e
a cesariana. Existe associação entre infecção uterina e doenças metabólicas, tais como febre do leite, cetose e
deslocamento de abomaso. O tipo de flora bacteriana no lúmen uterino é um fator de risco chave, influenciando
no equilíbrio entre a patogenicidade e a imunidade. O uso de glicocorticoides no período pós-parto deve ser
evitado, pois pode precipitar a progressão de infecções.
4) Piometra canina:
1. Introdução: é uma doença multi-sistêmica com ocorrência no metaestro, de característica aguda ou crônica.
Pode ser associada com uma variedade de manifestações clínicas associadas a lesões genitais e extragenitais.
2. Etiopatogenia: a etiopatogenia é um processo complexo, associado por uma combinação de fatores
progestacionais, estrogênicos e bacterianos. A progesterona estimula a proliferação das glândulas endometriais,
aumentando a secreção, que resulta em acúmulo de grandes quantias de fluidos dentro do útero, além de manter
o cérvix fechado e diminuir a contração do miométrio. Os estrógenos possuem efeito antagonista da

117
progesterona, mas promove aumento do índice da migração dos neutrófilos para o interior do útero. Embora a
interação da progesterona e do estrógeno sejam os responsáveis pelo desenvolvimento, progressão e severidade
da piometra, a infecção bacteriana do útero durante o estro pode agravar o quadro clínico.
3. Tratamento: o mais satisfatório para a maioria dos pacientes é a ovariohisterectomia. O tratamento clínico
apresenta pobre eficácia e baseia-se drenagem uterina, eliminação da contaminação secundária uterina e na
eliminação da fonte de progestágeno responsável pelo início da doença.
5) Diagnóstico das infecções uterinas:
1. Biopsias uterinas – exames histológicos;
2. Swab uterino – cultura bacteriana;
3. Palpação retal – técnica subjetiva;
4. Ultrassonografia transuretral – visualização do diâmetro e conteúdo uterino;
5. Vaginoscopia – visualização do fluxo de muco pelo cérvix.

ORQUIECTOMIA

É a remoção cirúrgica dos testículos. É um procedimento cirúrgico comumente realizado e de considerável


potencial para complicações, devido à natureza das cirurgias e dependente das condições sob as quais são
realizadas.

INDICAÇÕES:

 evitar excesso populacional


 modificar comportamento (micção)
 controle de anormalidades endócrinas
 diminuir:
o agressividade
o neoplasias, traumas
o orquite/epididimite não responsiva
o hiperplasia prostática
o hérnias perineais

118
ANESTESIA E PRÉ-OPERATÓRIO:
a. grandes animais: através de anestesia geral ou através de tranquilizarão associada à analgesia local (pele do
escroto e cordão testicular/intratesticular);
b. pequenos animais: anestesia geral;
c. contenção física: sempre indicada para os grandes animais;
d. limpeza da região escrotal e pênis;
e. antissepsia;
f. antibiótico profilático (equinos);
g. soro antitetânico (equinos);
h. o escroto e os canais inguinais no equino devem ser palpados, para determinar a ausência de algum dos
testículos ou a presença de hérnia inguinal. O diagnóstico no pré-operatório de hérnia inguinal é especialmente
importante para se precaver de complicações como a eventração ou a evisceração;
i. no equino não há necessidade de tricotomia.

TÉCNICAS DE ABORDAGEM:
a. orquiectomia fechada – secciona-se a pele e a túnica dartos, mas não é aberta a túnica vaginal. Nesta técnica,
uma porção da túnica vaginal parietal e do músculo cremaster são removidos. Esta técnica não expõe a cavidade
abdominal ao meio externo, mais indicada para animais com menos de 20 kg;
b. orquiectomia aberta – é a mais comum, cada testículo é exteriorizado através de uma incisão da túnica
vaginal parietal, os testículos junto com o epidídimo são removidos, mas a túnica vaginal parietal e o músculo
cremaster permanecerão no animal. Mais indicada para animais com mais de 20 kg.
EQUINO:
Após o preparo pré-operatório, o animal deve ser posicionado em decúbito lateral esquerdo para o cirurgião
destro, sendo que o membro posterior direito é tracionado com firmeza contra o peito e fixada em nível da
articulação escapular. Com a mão esquerda, os testículos são forçados ventralmente contra a bolsa escrotal, é
feita uma incisão de 7 a 10 cm sobre o rafe mediano escrotal. São incididas pele, túnica dartos, fáscias escrotais
e túnica vaginal parietal, com uma incisão suficientemente longa para permitir que os testículos e os epidídimos
possam emergir da bolsa escrotal. O cordão espermático é dissecado da túnica vaginal e ligado com fio nº 1 ou
2, o mais proximal possível (pode ser utilizado o emasculador). É feita a secção do cordão espermático um a
dois centímetros distais à ligadura, observa-se possíveis sangramentos antes de liberar os cordões espermáticos.
A bolsa escrotal é lavada com solução fisiológica para a remoção de coágulos. O testículo oposto é removido de
forma similar e as feridas escrotais são deixadas cicatrizar por contração e epitelização (segunda intenção) nas
cirurgias feitas à campo.

119
Decúbito lateral esquerdo. Membro
posterior direito tracionado e fixado em
nível da articulação escapular.

PÓS-OPERATÓRIO:
- observar quanto a hemorragia
- uso de colar elisabetano
- jornal picado - gatos
- curativo local
- analgesia e anti-inflamatório
- remoção dos pontos com 7 a 10 dias
- hidroterapia (15-20 min. duas vezes ao dia) - equinos
- caminhadas diárias, mas evitar atividade física vigorosa nas primeiras 24 horas após a cirurgia para prevenir
hemorragias - equinos

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BOVINOS:

Método com Incisão: Técnica aberta e fechada.

Temos basicamente dois métodos para abertura da pele (diérese):


- Método de Ablação: tracionar a porção mais ventral do escroto e faz uma incisão transversal.
Automaticamente expomos os dois testículos recobertos pela túnica vaginal e fazemos a técnica aberta ou
fechada, o cordão espermático é ligado com fio nº 1 ou 2, o mais proximal possível.
- Método de Incisão Lateral da Bolsa Escrotal: duas incisões: uma lateral esquerda e uma lateral direita na
bolsa escrotal, que vai permitir o acesso ao testículo envolto pela túnica vaginal e fazemos o procedimento
de escolha, aberto ou fechado.

Em grandes animais geralmente não fazemos dermorrafia após a orquiectomia, para que a pele possa drenar e
não acumule secreção formando um seroma no pós-operatório.

PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES E TRATAMENTOS:

a. edema pós-operatório – a presença de algum edema é normal, não sendo uma complicação. Excessivo edema
local ocorre como resultado de edema do prepúcio e do escroto, sendo uma complicação bastante comum.
Normalmente o edema atinge o seu pico entre o terceiro e sexto dia, diminuindo significativamente ao redor do
nono dia de pós-operatório. Embora o edema exagerado raramente ponha em risco a vida, ele pode promover
desconforto ao animal e preocupação ao proprietário. O edema excessivo está tipicamente associado com a
inadequada drenagem da ferida (equino muito parado), inadequado exercício pós-operatório (movimentação
exagerada), os quais permitem estase vascular na área cirúrgica ou pobre drenagem linfática. Outro fator que
contribui à ocorrência do edema exagerado é o excessivo trauma tecidual e a exposição dos tecidos ao ambiente.
Coágulos sanguíneos podem também contribuir para a oclusão da drenagem dos fluidos teciduais do escroto.
Em equinos, o excessivo edema pós-operatório pode ser prevenido com exercícios controlados iniciados um dia
após a cirurgia, 15 a 20 minutos de caminhada e trote duas vezes ao dia pelos primeiros oito dias, após a
cirurgia, são suficientes para prevenir o edema. A hidroterapia auxilia na redução do edema pós-operatório.
Problemas secundários associados ao edema exagerado incluem: fimose, parafimose, celulite, infecções e
dificuldade para urinar.

121
b. hemorragia – consiste em uma das complicações mais comuns na castração, pode ocorrer durante,
imediatamente ou mesmo após vários dias do ato cirúrgico. As hemorragias intensas usualmente resultam da
artéria testicular, mas podem também ter como origem a lesão dos ramos da artéria pudenda externa.
Hemorragias brandas podem ser controladas pelo preenchimento e compressão da bolsa escrotal por gaze. Se o
equino foi castrado com o uso de analgesia local, os cordões podem ser localizados proximalmente, expostos,
pinçados e ligados no pós-operatório imediato. Em alguns casos, o cordão espermático pode retrair para dentro
do abdome, dificultando a detecção da hemorragia no pós-operatório. Nestas situações, o equino pode perder
uma substancial quantia de sangue antes de surgir na bolsa escrotal. Os primeiros sinais clínicos que podem ser
percebidos são: hiperpnéia, taquicardia, membranas mucosas pálidas, ataxia, pulso fraco e pobre distensão da
jugular. Se as medidas de controle das hemorragias não forem eficientes, fluido terapia e transfusão sanguínea
podem ser necessárias.

c. infecções – infecções associadas com a castração podem ocorrer dentro de dias ou até meses após a cirurgia.
Geralmente a infecção da ferida cirúrgica escrotal permanece localizada, entretanto, há propagação da infecção
da bolsa escrotal, via cordão espermático, pode acarretar em peritonite bacteriana e septicemia (funiculite
séptica). A infecção crônica do cordão espermático é referida como cordão cirroso, esta infecção é caracterizada
por múltiplos pequenos abscessos, os quais são cercados por uma massa tecidual fibrosa. Somente a excisão da
porção infectada do cordão espermático, associada com agentes antimicrobianos de amplo espectro resolverá a
condição. A inflamação peritoneal ocorre comumente após a castração, e, felizmente, a peritonite séptica é uma
complicação rara. A peritonite deve ser considerada séptica quando o equino demonstra sinais clínicos de
peritonite bacteriana (febre, taquicardia, diarreia e cólica) e presença no fluido peritoneal de bactérias
fagocitadas, com alta concentração de leucócitos e presença de neutrófilos degenerados.

d. hidrocele – é o acúmulo de fluidos dentro da túnica vaginal. A técnica aberta de castração predispõe esta
condição, uma vez que não preconiza a remoção da túnica vaginal no transoperatório. Sua ocorrência é
percebida semanas ou meses após a castração, visto que o fluido acumula gradualmente. A drenagem por
aspiração (fluido limpo de coloração âmbar) alivia temporariamente a condição, mas o tratamento definitivo
baseia-se na remoção cirúrgica do excesso de túnica vaginal da bolsa escrotal.

e. lesões penianas iatrogênicas – a lesão peniana é uma complicação incomum, geralmente decorrente do
desconhecimento da anatomia genital e da técnica cirúrgica. As lesões iatrogênicas normalmente resultam da
incisão da fáscia e corpo cavernoso do pênis, acarretando em parafimose, e pela incisão da uretra peniana,
ocasionando estenose e fistulas uretrais. O uso de tranquilizantes fenotiazínicos tem sido associado ao prolapso
e priapismo no equino. Acreditasse que a inervação motora dos músculos retratores do pênis no equino seja
controlada exclusivamente por fibras a – adrenérgicas, e na presença de antagonistas a – adrenérgicos como os
tranquilizantes fenotiazínicos, a paralisia dos músculos retratores do pênis pode resultar no prolapso peniano. O
prolapso peniano está ainda relacionado secundariamente ao edema excessivo pós cirúrgico.

f. eventração e evisceração – consiste em grave complicação decorrente da castração. Embora as causas da


eventração permaneçam especulativas, acreditasse que alguns fatores como presença de hérnia inguinal e
aumento da pressão abdominal após a cirurgia estejam envolvidos. A eventração e a evisceração podem ocorrer
até seis dias após a cirurgia, e os objetivos essenciais no tratamento dessas afecções baseiam-se na limpeza,
proteção e retorno das vísceras para a cavidade abdominal e sutura do anel inguinal antes da excessiva
contaminação e traumatismo local.

g. comportamento persistente de garanhão – a castração nem sempre elimina completamente o comportamento


de garanhão. As causas propostas para a permanência desse comportamento incluem: remoção incompleta do
epidídimo, presença de tecido testicular heterotópico, produção de altas concentrações de andrógenos pela

122
cortical adrenal e causas psíquicas. De todas as causas citadas anteriormente, a literatura especializada considera
que a causa mais provável para a manutenção do comportamento de garanhão deve-se a causa psíquica, pois é
uma parte normal da interação social entre dos equinos.

h. deiscência – abertura dos pontos

Castração de Criptorquídicos

O criptorquidismo é uma falha congênita do(s) testículo(s) em descer para dentro do escroto. Os testículos
normalmente são puxados para dentro do escroto logo depois do nascimento por fibrose e contração do
gubernáculo. Considera-se que cães e gatos tenham criptorquidismo se não houver descendência testicular aos
dois meses de idade. Um, ou dois testículos, pode se apresentar em uma posição anormal, embora o
criptorquidismo unilateral seja o mais comum. A agenesia testicular (falha no desenvolvimento do testículo
[um, monorquidismo; dois, anorquidismo]) é rara. Os testículos criptorquídicos são frequentemente pequenos,
moles e proporcionalmente disformes. Podem se localizar na região inguinal ou na cavidade abdominal. A
castração bilateral é recomendada em animais criptorquídicos, pois acredita-se que esta condição seja uma
característica hereditária autossômica recessiva em cães. Os testículos caninos retidos estão predispostos ao
desenvolvimento de neoplasias (seminomas e tumor da célula de Sertoli). Caso o testículo esteja na região
inguinal, pode ser palpado entre o anel inguinal e o escroto, uma vez sedado o animal; entretanto, grandes
placas de gorduras podem ocultar o testículo nessa região. Avance o testículo inguinal unilateral móvel para a
incisão pré-escrotal e remova-o. Remova o testículo não móvel realizando uma incisão acima do anel inguinal.
Disseque através da gordura subcutânea e movimente e remova o testículo. Submeta os testículos a um exame
histopatológico para verificar a remoção do tecido testicular e descartar neoplasia. Os testículos não palpáveis
devem ser localizados por laparotomia exploratória ou laparoscopia. Faça uma incisão na linha média ventral do
umbigo até o púbis ou uma incisão paramediana adjacente ao prepúcio quando uma laparotomia exploratória for
realizada. Localize os testículos dobrando a bexiga para trás, identificando o ducto deferente dorsal ao colo da
bexiga seguindo o ducto deferente até o testículo. Caso o ducto deferente continue por dentro do anel inguinal e
o testículo não possa ser manipulado dentro do abdome, faça uma incisão inguinal. Realize uma avulsão no
ligamento da cauda do epidídimo. Ligue duplamente a artéria e a veia testicular, e o ducto deferente
separadamente. Realize a transecção e remova o testículo. Verifique se há hemorragia e feche o abdome em três
camadas.

123
PROLAPSO VAGINAL

É a eversão do canal vaginal (prolapso cilíndrico) que, normalmente, ocorre após o parto ou no estro (Fig. 08).
É menos comum que a hiperplasia do assoalho vaginal nas cadelas.

ETIOLOGIA:
• distúrbios hormonais – condição rara;
• normalmente ocorre em decorrência do parto (esforço excessivo);
• traumática – quando há a separação forçada durante a cópula.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:
Na palpação – temos acesso ao canal vaginal no centro da protrusão. Ocorre a ausência de pedículo.

TRATAMENTO CIRÚRGICO:
Após a sondagem da uretra deve-se procurar reduzir o edema da porção prolapsada, lubrificá-la (vaselina
líquida), procedendo-se a redução anatômica. Para a diminuição do
edema, pode-se utilizar solução hiper-saturada com açúcar. Após a redução, a mesma é mantida colocando-se
pontos de fixação através dos lábios vulvares (na base), com mononylon 0 ou 1 para pequenos e nylon 0,70 para
grandes. Em casos de recorrência está indicada a ovariohisterectomia e a histeropexia do coto na parede
abdominal. Quando houver ulcerações graves e necrose da mucosa pode ser realizada a amputação vaginal,
evitando-se sempre de lesar o meato urinário.

PÓS-OPERATÓRIO:
Retirar os pontos em torno de 1 semana (avaliar se houve a redução do prolapso). Administrar antibióticos e
anti-inflamatórios.

PROLAPSO RETAL

É a protrusão do reto através do ânus, com eversão da mucosa retal

ETIOLOGIA:
• parasitismo intenso: enterite, diarreia severa (aumento do peristaltismo), tenesmo/obstrução;
• parto distócico;
• urolitíase;
• enemas: substâncias irritantes para a mucosa retal;
• neoplasias intestinais;
• corpos estranhos intestinais;
• doenças hipertróficas prostáticas;
• hérnia perineal;
• defeitos congênitos, etc.

SINAIS CLÍNICOS:
• reto prolapsado, com exposição da mucosa;
• contrações abdominais constantes.
Fig. 09 – Prolapso retal em um equino. Observe o edema da porção prolapsada e a presença de laceração na
mucosa retal.

DIAGNÓSTICO:

124
Inspeção: massa cilíndrica, coloração vermelho brilhante em nível do ânus.

TRATAMENTO:
1. NÃO CIRÚRGICO:
Este tratamento é baseado na correção do prolapso retal, o qual dependerá da viabilidade do tecido exposto e do
tamanho do prolapso. Um pequeno prolapso de aparência viável (sem úlceras, nem áreas de necrose) pode ser
reduzido manualmente. A aplicação tópica de uma solução hiper-saturada de açúcar por 20 a 30 minutos e a
lubrificação do tecido irão auxiliar na diminuição do edema e facilitarão a redução do prolapso. Após a redução
do prolapso, o mesmo é mantido através do fechamento parcial do esfíncter anal com uma sutura em bolsa de
tabaco. Em grandes animais a analgesia epidural facilita a introdução do prolapso, diminuindo a resistência do
esfíncter anal. A sutura deve ser mantida por um período mínimo de 48h. De duas a três vezes por dia deve-se
afrouxar a sutura para o animal defecar.

AMPUTAÇÃO RETAL (AMPUTAÇÃO DO PROLAPSO):

Quando um prolapso não pode ser reduzido manualmente ou quando a viabilidade intestinal da porção
prolapsada encontra-se comprometida, a ressecção total e a anastomose estão indicadas. Este procedimento é
realizado sob anestesia geral para pequenos animais ou sob tranquilizarão e analgesia epidural para os grandes
animais. Dois pontos são colocados na forma de cruz, em torno de 1 a 2 cm do ânus, atravessando todas as
camadas e a luz do intestino prolapsado. O prolapso é seccionado logo caudal a esses pontos. A secção deve ser
feita por camadas (mucosa, submucosa, muscular e serosa), ligando todos os vasos calibrosos que forem
seccionados (absorvível sintético 2.0). Após a completa secção da porção prolapsada os pontos em cruz são
cortados na luz da víscera, formando 4 pontos isolados simples. A anastomose é realizada em toda a
circunferência (absorvível sintético 3.0 ou 2.0) com pontos isolados simples, certificando-se que a submucosa
seja incluída nos pontos. A zona de anastomose é introduzida para dentro do ânus e mantida por meio de sutura
em bolsa de tabaco (mononylon 2.0). Quando o prolapso retal é recidivante e o tecido retal encontra-se ainda
viável, uma celiotomia é realizada, e o prolapso é manualmente reduzido com uma cuidadosa tração no cólon.
Uma colopexia (cólon descendente) é realizada na parede abdominal, após a redução do prolapso, para evitar
recorrência (fio absorvível, pontos isolados simples).

PÓS-OPERATÓRIO:
• administração de pomadas anestésicas retalmente, para evitar tenesmo;
• tratar a causa:
1. em casos de tenesmo: dieta líquida com lubrificantes das fezes durante uma semana;
2. em casos de diarreia: tratar enterite, administrar antiespasmódicos e combater os parasitas.

TENORRAFIA

É a reparação cirúrgica, por sutura, de um tendão rompido ou seccionado.

ETIOLOGIA:
A ruptura ou a secção de um tendão ocorre normalmente devido a um processo traumático. Os tendões podem
sofrer ruptura durante um stress físico incomum.

PRINCÍPIOS DA CIRURGIA DOS TENDÕES:


1. objetivo das técnicas de tenorrafia – consiste em minimizar a formação de aderências (tenodese), e na
restauração do máximo possível da função de deslizamento;

125
2. fisiologia – o tendão é formado por tecido conectivo denso, composto de fibroblastos e fibras colágenas
paralelas. O suprimento sanguíneo do tendão é pobre, o s e u terço proximal é suprido por vasos extrínsecos da
junção teno-muscular e o terço distal pela junção teno-óssea. O terço médio é suprido por vasos extrínsecos que
passam longitudinalmente pelo para tendão ou cápsula sinovial;
3. procedimento – o melhor tratamento para a ruptura recente de tendão é o posicionamento acurado de suas
pontas, sem tensão, até a cicatrização estar completa (tenorrafia término-terminal primária). As incisões
cutâneas não são praticadas diretamente sobre o tendão, evitando a aderência sobre o local de reparo do tendão;
4. sutura – a técnica de sutura para a tenorrafia deve promover pouca danificação tecidual, usando um mínimo
de material de sutura, desde que, seja suficiente para a sustentação dos segmentos, acarretando em um
comprometimento mínimo da microcirculação do tendão. O material d e sutura deve ser inerte, resistente, de
fácil passagem pelos tecidos e não absorvível;
5. manejo – minimizar a formação de fibras colágenas transversais que causam aderências, através de manejo
atraumático. Neste caso, evitar o pinçamento do tendão, reparando os segmentos com agulhas retas para
manuseio. Aparar com bisturi as extremidades rompidas e irregulares, manter os tecidos úmidos com solução
salina e fazer hemostasia cuidadosa prevenindo a formação d e hematomas e coágulos. É fundamental prevenir
a infecção, se esta estiver presente, deve primeiro ser tratada por meio de debridamento e drenagem cuidadosa
dos tecidos;
6. síntese do tendão – a síntese do tendão deve ser feita com fio não absorvível (mononylon, polipropileno)
fazendo sutura específica, como do tipo Bünell o u
Kessler. O para tendão deve ser suturado com pontos simples isolados. Recomendam-se fios nº 2.0 o u 3.0 para
cães e gatos, e fios nº 2 ou 3 para bovinos e equinos. O para tendão pode ser suturado com fio nº 3.0 o u 4.0. Os
tecidos adjacentes devem ser aproximados adequadamente prevenindo assim a formação de espaço morto
anatômico;
7. pós-operatório – o membro deve ser imobilizado por 3 a 4 semanas. Deve-se ter em conta que, durante este
período, a sutura não deve sustentar sozinha o peso do anima l durante o apoio. A imobilização é fundamental, e
a partir da quarta semana, a imobilização é removida iniciando-se movimentos passivos das articulações
adjacentes. O exercício ativo só está indicado a partir de 45 dias para cães e gatos, e 120 dias para equinos.

COMPLICAÇÕES:
• deiscência de sutura;
• infecções;
• excessiva formação cicatricial, provocando aderências;
• atrofia muscular acentuada.

TÉCNICAS CIRÚRGICAS - CABEÇA E REGIÃO CERVICAL


TREPANAÇÕES

TREPANAÇÃO DOS SEIOS FRONTAIS EM BOVINOS


É a abertura cirúrgica dos seios dos ossos frontais ao meio externo.

INDICAÇÃO:
• empiema crônico (sinusite frontal): coleção de pus crônica no seio frontal, que normalmente não responde ao
tratamento clínico;
• tumores ósseos;
• cistos ósseos (dentígero e epidermóides);
• osteodistrofia fibrosa;

126
• remoção do terceiro dente molar superior (equino).

DIAGNÓSTICO:
• descarga nasal (Empiema): corrimento purulento uni ou bilateral;
• inspeção e palpação (Cisto ósseo): observa-se uma rarefação óssea;
• exame radiológico (Cistos ósseos e osteodistrofias): observa-se alterações na radiopacidade e estrutura óssea.

TÉCNICA CIRÚRGICA:
O ponto de eleição para a abordagem cirúrgica está situado dorsal a linha horizontal imaginária, que passa pela
borda dorsal das órbitas, a aproximadamente 2 cm lateral ao ponto de interseção com a linha mediana sagital. A
trepanação é executada com o animal em estação ou decúbito, sedado e sob analgesia local. É feita uma incisão
vertical de aproximadamente 5 cm de comprimento, através da pele, subcutâneo e periósteo. A pele é rebatida e
o periósteo é dissecado do osso por meio do uso de um elevador de periósteo, ou, até mesmo, com o auxílio do
cabo do bisturi. Para a abertura do osso frontal, ponta do trépano é inserida no osso e a trepanação é feita com
movimentos rotatórios. O disco ósseo, que permanece preso na ponta do trépano, deve ser removido. Para a
limpeza do exsudato e remoção do tecido necrosado, o seio deverá ser completamente irrigado com solução
antisséptica. Para impedir a oclusão prematura dos orifícios, eles serão ocluídos com tampão de gaze,
cicatrizando por segunda intenção.

PÓS-OPERATÓRIO:
• lavagem diária com Permanganato de Potássio 1:1000 ou outro antisséptico;
• antibioticoterapia sistêmica.

TREPANAÇÃO DAS FOSSAS NASAIS

INDICAÇÕES:
• tumores: TVT ou Sticker (atualmente pode ser tratado com quimioterapia – Sulfato de Vincristina;
• parasitas: Oestrus ovis, Linguatula serrata (podem ser tratados com antiparasitários);
• cistos: hidáticos ou simples.

LOCALIZAÇÃO:
Lateralmente à linha mediana das fossas nasais, sobre o osso nasal.

TREPANAÇÃO DOS SEIOS MAXILARES NOS EQUINOS

INDICAÇÕES:
• empiemas crônicos locais;
• fraturas dentárias;
• repulsão dos molares;
• alveolite crônica;
• cistos ou neoplasias.

LOCALIZAÇÃO:
Traça-se uma linha imaginária desde o canto medial do olho até a extremidade rostral da crista facial, e, sobre o
seu centro, realiza-se a trepanação. A perfuração óssea pode ser feita um pouco mais rostral ou caudal ao ponto
de eleição.
URETROTOMIA

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É a abertura e o fechamento cirúrgico da uretra.

INDICAÇÕES:
• extração de cálculos uretrais obstrutivos;
• estenose pela presença de corpos estranhos (esquírulas ósseas).

DIAGNÓSTICO:
cálculos uretrais e estenose traumática:
• sinais clínicos: disúria, polaciúria, anúria;
• dificuldade na passagem da sonda uretral;
• exames radiológicos.

PRÉ-OPERATÓRIO:
• localização do cálculo ou estenose: exame radiológico, sondagem uretral;
• pequenos animais: anestesia geral;
• grandes animais: sedação e analgesia local.

TÉCNICA CIRÚRGICA:
1. uretrotomia pré-púbica – o animal é posicionado em decúbito dorsal, sondado e preparado para o
procedimento cirúrgico. Uma incisão ventral na linha média é feita no prepúcio, caudalmente ao osso peniano,
na base do escroto e sobre a obstrução (cálculo). O músculo retrator do pênis é rebatido lateralmente. Com uma
das mãos, o corpo esponjoso do pênis é firmado e incisado exatamente na linha média, sobre a luz uretral (1
cm). O cálculo deve ser removido e a uretra fechada com pontos isolados simples, utilizando-se fio absorvível
4.0 a 5.0, evitando-se penetrar na mucosa da uretra. O subcutâneo é aproximado com fio absorvível 3.0 em
ziguezague, e a pele com pontos isolados simples (mononylon 3.0).
2. uretrotomia perineal – primeiramente o ânus deve ser fechado com uma sutura em bolsa de tabaco para, logo
após, realizar-se uma incisão cutânea mediana perineal, na metade da distância entre o escroto e o ânus. O
tecido subcutâneo é dissecado, seguindo entre os músculos retratores do pênis, os músculos bulbos cavernosos,
o corpo esponjoso, a mucosa uretral e finalmente a uretra, que deve ser identificada pela presença da sonda
uretral.
O cálculo deve ser localizado e removido. A síntese da incisão segue o mesmo procedimento da abordagem pré-
púbica, devendo ao final ser desfeita a sutura em bolsa de tabaco.

PÓS-OPERATÓRIO:
• manter a sonda uretral por 48 – 72 h;
• antibioticoterapia;
• retirada dos pontos aos 8-10 dias de pós-operatório.

PROGNÓSTICO:
Reservado, pode ocorrer estenose uretral e a recorrência de novos cálculos.

128
URETROSTOMIA

É a abertura de um novo orifício permanentemente na uretra.

INDICAÇÕES:
• formação recorrente de cálculos, que não podem ser adequadamente tratados ou prevenidos pelo tratamento
clínico;
• estenoses de uretra, resultantes de uretrotomia ou lesões traumáticas;
• nos pacientes que o tratamento cirúrgico para os cálculos recorrentes for preferível ao clínico, ou naqueles
casos em que o tratamento clínico possa não ser indicado ou ser ineficaz para o momento.

LOCAIS MAIS COMUNS DE OBSTRUÇÃO:


• ruminantes: flexura sigmóidea;
• ovinos: além da flexura, também ocorre no apêndice vermiforme;
• caninos: caudal ao osso peniano;
• equinos: uretra peniana.

TÉCNICAS:
A abertura da região perineal é a menos indicada, tanto pelo vazamento urinário quanto pela irritação da pele do
períneo e do escroto pela urina, além da dificuldade de se realizar a sutura da uretra junto à esticada pele da
região. A uretrostomia escrotal é a mais indicada, por ser a pele desta região abundante e, também, por não
haver problemas como vazamento de urina e irritação crônica da pele.
• uretrostomia escrotal – requer uma incisão elíptica da pele na base do escroto e divulsão da gordura
subcutânea com tesoura. A dissecação prossegue até que o septo escrotal seja atingido. A túnica vaginal é
seccionada e os testículos são forçados através da incisão. O plexo pampiniforme, o ducto deferente e a túnica
vaginal serão pinçados e ligados (absorvível sintético nº 2.0), para finalmente, serem seccionados. O músculo
retrator do pênis é dissecado, expondo a porção peniana da uretra. O pênis é fixado com uma das mãos e o
corpo esponjoso da uretra é seccionado longitudinalmente com bisturi, esta incisão é ampliada com tesoura
(aguda-aguda) pelo menos 2 cm, para evitar a estenose cicatricial pós-operatória. O tecido subcutâneo é
suturado à túnica albugínea do corpo do pênis (pontos isolados simples, fio absorvível 3.0) A uretrostomia é,
inicialmente, feita pela colocação de 4 pontos isolados simples nas extremidades da incisão, em um ângulo de
45º, fixando a mucosa uretral com a pele (mononylon 4.0 a 5.0). Os pontos serão separados aproximadamente
por um espaço de 3 mm e os nós serão feitos sobre a pele, e não sobre a mucosa uretral.

PÓS-OPERATÓRIO:
• antibioticoterapia;
• análise dos cálculos;
• limpeza e proteção da ferida para que o animal não venha lamber (colar elizabetano);
• retirada dos pontos de 10 a 12 dias de pós-operatório.

PROGNÓSTICO:
Normalmente favorável

129
PREPARO DE RUFIÕES

IMPORTÂNCIA.
O preparo de rufiões é de grande importância, especialmente onde se pratica a Inseminação Artificial para
evidenciar fêmeas em cio.

TÉCNICAS:
1. desvio lateral do pênis;
2. vasectomia ou deferentectomia;
3. epididimectomia;
4. remoção do ligamento apical do pênis;
5. fixação da flexura sigmoide do pênis;
6. fixação da túnica Albugínea do pênis.

DESVIO LATERAL DO PÊNIS

INDICAÇÃO:
Técnica que prepara o touro excitador e deve acompanhar junto, por precaução, uma técnica de esterilização
(vasectomia ou epididimectomia).

ANESTESIA E PRÉ-OPERATÓRIO:
Esse procedimento poderá ser realizado com o animal submetido à anestesia geral ou através de sedação e
analgesia local. O touro é posicionado em decúbito dorsal inclinado, com tricotomia de toda a região pré-
retroumbilical e região ventral do flanco.

TÉCNICA CIRÚRGICA:
O primeiro tempo do ato cirúrgico consta de incisão da pele sobre a linha média, na porção retroumbilical. O
limite cranial desta incisão é de 3 cm da inserção do óstio prepucial, estendendo-se caudalmente até 5 cm da
base do escroto. Após rebater a pele e a tela subcutânea é realizada a hemostasia dos pequenos vasos
hemorrágicos, através de ligadura, devendo manter intactos os vasos abdominais superficiais (artéria e veia
epigástrica caudal superficial). Outra incisão deve ser realizada de forma circular em torno da inserção do óstio
prepucial (cerca de 3 cm), cuidando para não lesar as lâminas do prepúcio. A seguir é feita uma incisão circular
da pele na região ventral do flanco (esquerdo ou direito), cerca de 45º da linha média ventral do abdome
(cranialmente a prega do flanco), com um diâmetro equivalente ao da incisão circular do óstio prepucial.
Através da dissecação romba é feito um túnel subcutâneo (haste de metal ou tesoura longa) em direção lateral,
até a incisão circular de pele no flanco. O óstio prepucial é protegido com gaze estéril (ou luva estéril) e
tracionado através do túnel subcutâneo para o local de implante, onde é fixado por pontos isolados tipo Wolff ou
Donatti (mononylon). A síntese do subcutâneo e pele da incisão mediana é feita com pontos isolados simples
(mononylon).

OBSERVAÇÕES:
Deve-se evitar a contaminação e a torção do pênis e do prepúcio, durante o processo de deslocamento para a
região do implante.

PÓS-OPERÁTORIO:
• antibioticoterapia;
• retirada dos pontos da pele aos 15 dias;
• descanso sexual de 4 a 6 semanas;

130
• a idade apropriada para ser feito esse procedimento é até 8 meses (no máximo 12 meses).

VASECTOMIA OU DEFERENTECTOMIA.

INDICAÇÃO:
A vasectomia é uma técnica de esterilização do animal, está indicada para a obtenção de touro ou carneiro
detector de cio.

ANESTESIA:
Esta técnica pode ser realizada sob analgesia local com ou sem tranquilização, com o animal em estação ou em
decúbito.

TÉCNICA CIRÚRGICA:
Incisão de pele na parte superior da rafe mediana do escroto (cranial ou caudal). Exteriorizar o cordão
espermático, o ducto deferente, que pode ser palpado como uma estrutura firme e não pulsante semelhante a um
cordão. Incide-se a túnica vaginal diretamente sobre o ducto que será facilmente isolado e exteriorizado.
Procede-se a remoção de um segmento com cerca de 2 cm e as extremidades seccionadas podem ser ligadas
para maior segurança da técnica. Não é essencial suturar a túnica vaginal, mas a pele deverá ser fechada com
pontos isolados (mononylon).

PÓS-OPERATÓRIO:
• retirada dos pontos da pele aos 10 dias;
• curativo tópico.

EPIDIDIMECTOMIA.

CONCEITO:
Remoção cirúrgica da cauda dos epidídimos.

INDICAÇÃO:
Técnica de esterilização para touros rufiões, usada com frequência como uma técnica cirúrgica de segurança
para as técnicas que tornam o touro incapaz de copular.

ANESTESIA E PRÉ-OPERATÓRIO:
• tranquilização e analgesia local;
• posição: estação ou decúbito;
• tricotomia: região distal do escroto.

TÉCNICA CIRÚRGICA:
O testículo é forçado manualmente até a base ventral do escroto, onde é feita uma incisão de pele de
aproximadamente 3 cm, sobre a cauda do epidídimo. A túnica vaginal é seccionada, a cauda do epidídimo é
exteriorizada e liberada de sua inserção com o testículo, com o auxílio de uma tesoura. O ducto deferente e o
corpo do epidídimo são identificados, ligados e seccionados, permitindo que a cauda do epidídimo seja
removida. A túnica vaginal é suturada com pontos isolados simples (mononylon) e a pele com fio não
absorvível (mononylon). O mesmo procedimento é repetido no outro testículo.

PÓS-OPERATÓRIO:
• retirada dos pontos da pele aos 10 dias de pós-operatório;

131
• descanso sexual durante 15 dias;
• antibioticoterapia, se necessário.

REMOÇÃO DO LIGAMENTO APICAL DO PÊNIS:

INDICAÇÃO:
Esta técnica está indicada para o preparo de rufiões bovinos, devendo ser empregada em animais com idade
variando entre 16 e 20 meses.

3.5.2) ANESTESIA E PRÉ-OPERATÓRIO:


Este procedimento pode ser realizado com tranquilização e analgesia peridural inter coccígea. Como pré-
operatório, o animal deverá estar em jejum (24 horas) e proceder- se a antissepsia da glande e mucosa prepucial.
Deve-se aplicar um garrote a aproximadamente 2 cm caudal a inserção da lâmina interna do prepúcio.

TÉCNICA CIRÚRGICA:
O pênis é exposto e realiza-se uma incisão longitudinal de aproximadamente 15 cm de comprimento, na mucosa
da superfície dorsal da glande, iniciando cerca de 1,0 cm da extremidade caudal da glande e terminando
próxima a inserção da lâmina interna do prepúcio. O ligamento apical na túnica albugínea deve ser identificado
e dissecado com tesoura, até atingir o ponto abaixo da sua inserção com a lâmina interna do prepúcio, onde
deverá ser seccionado. A mucosa é aproximada com pontos isolados simples, utilizando fio absorvível 2-0. Esta
técnica promoverá, no momento da ereção durante a cópula, um desvio da glande no sentido ventral e lateral
direito.

PÓS-OPERATÓRIO:
• descaso sexual durante 20 dias;
• lavagem prepucial com antisséptico durante 5 dias.

FIXAÇÃO DA FLEXURA SIGMÓIDE DO PÊNIS:

INDICAÇÃO:
Esta técnica está indicada para a preparação de rufiões bovinos, com a idade ideal variando entre 15 a 18 meses.

ANESTESIA E PRÉ-OPERATÓRIO:
Este procedimento pode ser realizado com tranquilização e analgesia local. O animal deve estar em jejum (24
horas) e ser realizada tricotomia de toda a região perineal até a base do escroto.

TÉCNICA CIRÚRGICA:
É feita uma incisão de pele na linha média perineal, acima da base do escroto, com aproximadamente 10 cm de
comprimento. Por dissecação romba, são separados o tecido subcutâneo e os músculos semimembranosos, até a
localização da curvatura caudal da flexura sigmoide do pênis, próximo à base do escroto. Esta deverá ser
tracionada, até o local da incisão. A túnica albugínea da face lateral do corpo do pênis, antes da flexura
sigmoide da curvatura caudal, é escarificada com o bisturi e deverão ser aplicados três pontos isolados simples,
com fio não absorvível (algodão 2.0), pegando superficialmente o corpo do pênis, fixando a curvatura caudal da
flexura sigmoide (Fig. 01). O tecido subcutâneo é aproximado com absorvível sintético nº 0 com pontos
simples, a síntese da pele com fio não absorvível (mononylon). OBS: Deve-se ter o cuidado de não atingir a
uretra no momento dos pontos para a fixação da flexura sigmoide do pênis.

PÓS-OPERATÓRIO:

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• descanso sexual por 20 dias no mínimo;
• antibioticoterapia;
• retirada dos pontos de pele com 10 a 15 dias.

Fixação da flexura sigmoide do pênis no bovino. Os pontos não devem atingir a uretra peniana que se localiza
na parte ventral do pênis.

AFECÇÕES CIRÚRGICAS REPRODUTIVAS NOS ANIMAIS DE


PRODUÇÃO

LESÕES PREPUCIAIS
Lacerações, contusões e prolapsos patológicos do prepúcio são problemas comuns que afetam a capacidade
reprodutiva dos touros. Essas lesões são geralmente adquiridas durante a estação de monta, afetando usualmente
o prepúcio interno. Ocorrem durante o coito ou imediatamente após o mesmo, enquanto o pênis está estendido e
o prepúcio exposto. Um aumento na incidência de lesões prepuciais é verificado nos touros que pastoreiam em
campo sujo. Lesões no prepúcio externo geralmente não restringem o movimento peniano, sendo essas tratadas
com hidroterapia e curativos locais. Prolapsos prepuciais e lesões são mais comuns em Bos indicus. Fatores
hereditários que predispõem a ocorrência dessas lesões são: (a) bainha pendulosa, (b) orifício prepucial dilatado,
(c) prepúcio em excesso e (d) ausência do músculo retrator do prepúcio. Nas raças polled, principalmente
Hereford e Angus, os músculos retratores prepuciais caudais estão ausentes ou são rudimentares, ocasionando
prolapsos prepuciais crônicos. Os prolapsos prepuciais torna susceptível ao trauma e abrasões a mucosa
prepucial. Prepúcio edematoso frequentemente acometido por abrasões e traumas tornam-se infectados,
ocasionando abscessos e fibrose local. Touros Santa Gertrudis, Brangus, Braford, Angus e polled Hereford têm
uma alta incidência de injurias prepuciais.

Tratamento clínico: o tratamento clínico de lesões prepuciais exige muita dedicação e paciência. A terapia
clínica é baseada na diminuição do grau de contaminação local e do edema, eliminação da infecção e a
prevenção de traumas. Touros afetados devem ser separados imediatamente das vacas, evitando o agravamento
das lesões e o aumento da contaminação. Lacerações recentes do prepúcio não chamam a atenção do
proprietário, geralmente só são percebidas após a ocorrência de edema local e do touro mostrar dificuldade para
a realização do coito. A cavidade prepucial dos touros normalmente abriga uma flora de microrganismos,
ocasionando muitas vezes a formação de abscessos nas lacerações prepuciais suturadas. A ausência de restrição

133
promovida pela vagina artificial no momento da ejaculação dos touros permite uma estiramento exagerado do
prepúcio, resultando, em alguns animais, na separação transversa do prepúcio da porção livre do pênis. Essa
ruptura é observada comumente no aspecto dorsal do anel prepucial. Hemorragia é verificada no pênis e
inicialmente percebida pelo técnico que manuseia a vagina artificial. Lacerações recentes podem ser suturadas
com bom prognóstico, desde que lavadas abundantemente com solução salina e debridadas adequadamente. A
prevenção na formação de abscessos e necrose da túnica elástica do prepúcio é crítica, quando relacionada com
as lacerações prepuciais. A formação de abscesso ocorre frequentemente em uma localização retro prepucial.
Drenagem espontânea ou cirúrgica através da pele acarreta na aderência entre as laminas elásticas e a pele,
prevenindo a extensão peniana. O rápido tratamento das lacerações prepuciais auxilia na prevenção de
abscessos e formação de aderências penianas. Pode-se avaliar uma laceração prepucial pelo tamanho, direção,
grau de trauma e extensão da área de necrose. Antibióticos sistêmicos de amplo espectro devem ser
administrados durante uma ou duas semanas para o controle da infecção e a prevenção da invasão bacteriana ao
longo das túnicas elásticas. Lavagem prepucial, com grandes volumes de solução salina, deve ser realizada
diariamente, o prepúcio é então seco e lubrificado topicamente com pomadas cicatrizantes e/ou antissépticas.
Lesões prepuciais limpas e tratadas adequadamente podem cicatrizar por segunda intenção. Lacerações
prepuciais longitudinais apresentam melhor prognóstico que as lacerações em circunferências, as quais podem
resultar em fimose. Nos casos de prolapsos de mucosa prepucial, os mesmos devem, quando possível, ser
reintroduzidos para o interior do óstio prepucial. Se o prepúcio mostra-se muito edematoso, um tudo de
polyvinil (2,5cm de diâmetro e 15cm de comprimento) deve ser introduzido no lúmen prepucial e enrolado
firmemente com fita ou atadura elástica. A colocação do tubo permitirá a passagem da urina e auxiliará na
redução do edema.

Tratamento cirúrgico: uma localização mais precisa da lesão prepucial pode ser feita após o edema e a infecção
terem sido debeladas. A cirurgia prepucial está indicada em casos de prolapsos recorrentes, na ocorrência de
estenose prepucial ou fimose, e na formação de fibrose que prejudique a movimentação normal do prepúcio.
Cirurgia prepucial (circuncisão) é frequentemente realizada em touros Bos indicus como medida profilática de
lesões. Deve-se evitar a realização do procedimento cirúrgico até a completa cicatrização ser verificada através
do preenchimento dos defeitos epiteliais com tecido de granulação, resolução do edema e o controle da
infecção. Os objetivos da cirurgia estão baseados na remoção do tecido prepucial lesionado, promover o
movimento normal entre o prepúcio e o pênis e, fundamentalmente, recuperar a capacidade reprodutiva do
touro.

CIRCUNCISÃO.
Duas técnicas de circuncisão são usadas em touros: (a) ressecção e anastomose – postioplastia, e a (b)
amputação prepucial, resultando na perda de porções iguais das superfícies externa e interna do prepúcio
prolapsado. Contração cicatricial circunferencial pode resultar em fimose, resultando em deiscência e infecção.

(a) – Ressecção e anastomose (postioplastia): o paciente deve permanecer em jejum de sólidos por 48 horas e
jejum de líquidos por 24 horas. Deve-se realizar a tricotomia da região prepucial, principalmente na região do
óstio. O pênis e o prepúcio devem ser escovados e preparados para a cirurgia asséptica. Um torniquete deve ser
aplicado proximal a área de ressecção, evitando perdas sanguíneas desnecessárias. O controle da hemorragia é
importante, tendo em vista que a presença de pequenos hematomas no sítio cirúrgico pode induzir a deiscência
da sutura. Artérias e veias de maior calibre devem ser ligadas com fios absorvíveis sintéticos nº 2-0. Deve-se
marcar as porções proximais e distais do prepúcio a ser removido, certificando-se o alinhamento prepucial no
momento da sutura. Uma incisão circular é realizada através do epitélio da porção proximal da área do prepúcio
a ser seccionado. Esta incisão será aprofundada até que se possa perceber a presença de tecido de aspecto
normal. Uma segunda incisão circular é feita distal a área a ser removida. Em touros Bos indicus, geralmente
torna-se necessário uma ressecção em torno de 15 cm, evitando a recorrência do prolapso. Em touros Bos

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taurus, deve-se preservar o máximo possível de prepúcio. A porção prepucial lesionada deve ser removida
cirurgicamente, e copiosamente lavada com solução salina morna. O pênis deve ser estendido e retraído até as
incisões estarem posicionadas adequadamente, confirmado pelo alinhamento das marcas prepuciais. A sutura
dos tecidos elásticos pode ser realizada com fio absorvível nº 0, com padrão simples isolado. O epitélio
prepucial é posicionado com padrão de sutura simples isolada (poliglactina 910 nº 2-0), iniciado pelos
quadrantes, até a sutura de toda a circunferência da incisão. Após o fechamento da ferida cirúrgica, um dreno de
Penrose é fixado por meio de suturas na porção livre do pênis, evitando-se atingir a uretra, que servirá para
direcionar a urina, evitando o contato com a linha de incisão. O pênis deve ser introduzido em um tubo estéril
de polivinil (15 cm comprimento por 2,5 cm de diâmetro) e uma bandagem com fita adesiva deverá fixar o tubo
na pele do prepúcio, que poderá ser mantida por meio de pontos na pele, evitando a perda prematura do tubo.
Este processo evitará a formação de aderências, estenose e diminuirá o edema local. A bandagem e o tubo serão
removidos entre 5 e 7 dias após a cirurgia. O pênis só deverá ser estendido e inspecionado após a 3 semana de
pós-operatório. O bovino deverá ter descanso sexual por 60 dias. Antibióticos serão aplicados por 7 dias no pós-
operatório imediato e anti-inflamatórios AINes e diuréticos podem ser usados em caso de edema excessivo.

(b) – Amputação prepucial: frequentemente realizada nos casos em que a extensão peniana não
é possível pela fimose ou pelas aderências. A bainha prepucial deve ser preparada para a cirurgia
asséptica. Um dedo deve ser introduzido dentro do prepúcio, e suturas horizontais (Wolff), com fio
poliamida nº 0 a 1, são dispostas em torno do prepúcio, imediatamente proximal a área de amputação
(0,5 cm). Os pontos devem atravessar toda a espessura do prepúcio, atingindo a luz prepucial, e devem
sobrepor um ao outro, auxiliando no controle das hemorragias. Após a colocação dos pontos, o
prepúcio é amputado em uma linha obliqua, promovendo um orifício oval. As bordas do prepúcio são
suturadas com pontos simples isolados, com fio absorvível sintético nº zero ou 2-0. Uma incisão em
“V” pode ser feita no aspecto ventral do orifício prepucial para reduzir o risco de fimose cicatricial.
Uma sutura em bolsa de tabaco pode ser realizada próxima ao orifício prepucial, reduzindo seu
diâmetro e prevenindo prolapsos. Essa sutura deve ser removida em período de duas semanas.
Descanso sexual deve ser observado por 60 dias após o tratamento. Os principais fatores que afetam o
resultado das cirurgias prepuciais são: as condições do tecido prepucial na linha de anastomose, o
controle das infecções, a adequada hemostasia e a quantidade de tecido fibroso remanescente na lâmina
elástica prepucial.

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