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do solipsismo à intersubjetividade
Arley R. Moreno
Departamento de Filosofia da Unicamp
E-mail: elearley@lexxa.com.br
dade, o mesmo não era possível a respeito dos enunciados éticos e estéti-
cos, por escaparem à forma lógica e aos fatos do mundo. Só lhes restava,
então, exprimir valores no estrito domínio do solipsismo. Daí a recusa de
Wittgenstein em exprimir valores éticos e estéticos sob a forma de siste-
mas de teses, pois tais sistemas estariam condenados, por princípio, a
permanecer forma do espaço lógico significativo: suas pseudoproposições
sem sentido e absurdas seriam condenáveis ao pretenderem dizer o que
só pode ser vivido pelo sujeito solipsista.
Ao sair do Tractatus, tentando dele libertar-se, Wittgenstein dá
alguns passos na direção de recuperar, para a linguagem significativa, os
enunciados éticos e estéticos. Isso não significa, todavia, que tais enun-
ciados venham a ser julgados através dos critérios anteriores e passem a
ser admitidos como descrições legítimas de fatos do mundo. Os próprios
critérios de medida para o sentido serão reinterpretados e, com isso, não
apenas os enunciados valorativos, como também os verifuncionais, fica-
rão isentos do julgamento pela forma lógica. É que a noção de forma lógica
é substituída pela de forma de vida e o sentido lingüístico, como valor de
verdade, expande-se como uso convencional das palavras.
Daí decorrem todas as conseqüências da substituição do lógico
pelo vital: as convenções de uso passam a permear os próprios valores de
verdade dos enunciados com conteúdo cognitivo, assim como permearão
os valores dos enunciados éticos e estéticos que, à sua maneira, ganharão
conteúdo cognitivo. Conseqüentemente, uma larga porta é aberta ao
solipsismo axiológico do Tractatus, apontando para uma nova forma de
consenso que irá abrigar o antigo consenso lógico, agora modificado em
sua própria natureza: consenso que poderíamos caracterizar como
intersubjetivo e gramatical.
Todavia, Wittgenstein persiste na recusa em elaborar um siste-
ma de teses sobre Ética e Estética, assim como sobre Epistemologia. Se o
Tractatus era a escada necessária que garantia, por um lado, o consenso
lógico a respeito das condições do conhecimento, ainda que devesse ser
descartada após seu uso, essa mesma escada condenava, por outro lado, a
percebe que dessas comparações surge uma nova ligação de sentido, uma
semelhança ou analogia – o que será, posteriormente, denominado aspecto
(ein Aspekt). Enfim, Wittgenstein começa a perceber a importância das
comparações ou, como dirá mais tarde, das técnicas de comparação, para o
estabelecimento de novas ligações de sentido. Ao mesmo tempo, percebe
a possibilidade de haver ligações de sentido cuja natureza difere daquelas
estabelecidas no Tractatus, mas que merecem ser esclarecidas para que se
possa chegar a uma compreensão adequada das diferentes formas lógicas
dos fenômenos de nossa experiência. Esta última idéia está ligada, aliás,
ao malogrado projeto de uma linguagem fenomenológica para a descrição
das formas lógicas, projeto esboçado no final da década de 20 e tão logo
abandonado, assim como ao projeto de uma filosofia fenomenológica como
interpretação e esclarecimento dos dados imediatos da percepção, que
não é completamente abandonado, mas bastante modificado ao abrir mão
do anterior, ao qual estava intimamente ligado (Moreno 1995).
Começa a ser esboçado, pois, em 29, o que virá a ser o funda-
mento lingüístico e pragmático dos enunciados éticos: o uso (Gebrauch) das
palavras em situações de sua aplicação (Anwendung/Verwendung). No texto
da Conferência, contudo, a analogia ainda é considerada como desprovida
de sentido (sinnlos) por faltar-lhe a referência, isto é, a possibilidade de um
valor de verdade, assim como, e mais profundamente, a analogia ainda
conserva o caráter absurdo (unsinnig) das expressões lingüísticas que não
são logicamente articuladas.
1.3 O paradigma
mente, por ela envolvidas; os paradigmas são uma das técnicas pragmáti-
cas, um dos casos de uso da linguagem entre outros. Qual é a relação,
então, entre as técnicas paradigmáticas e as de comparação analógica e
contextual?
rio, está tão bem fundado – ou tão mal fundado, como diria o positivista
lógico, se aceitasse o argumento de Wittgenstein – quanto o uso analógico,
ou secundário, dos enunciados, pois a analogia fixada como norma é o
fundamento da descrição, e ambas são a expressão de regras
convencionadas em jogos de linguagem.
Yes, I have reached a real resting place. I know that my method is right. My
father was a business man, and I am a business man: I want my philosophy
to be business-like, to get something done, to get something settled. (Rhees
1981, pp. 125-6)
I have often tried to confer them in a satisfactory order or string them along
one thread or train of thought. The outcome was artificial and unsatisfactory
and my energy proved itself much too limited to carry it out. The only
presentation of which I am still capable is to connect these remarks by a
network of numbers in such a way that their extremely complex relation
becomes visible. (MS 118, 16/setembro/1937, apud Hilmy 1987, p. 21)
If I must write like this, then is it better to write no book, but rather to
restrict myself here after a fashion to writing remarks which are still perhaps
to be published at my death?
The remarks which I write enable me to teach philosophy well, but not to
write a book.
I am inclined to be annoyed over my incompetence. (MS 118, 12/setembro/
1937, apud Hilmy 1987, p. 20)
I have no right to offer for publication a book in which simply the difficulties
which I perceived are expressed and repeated over and over again. These
difficulties are indeed of interest for me who was stuck in them, but not
necessarily for humanity (others). (...) They belong, so to speak, in a diary,
not in a book. (...) It is not my stomach troubles which are of interest, but
rather the remedies – if any – I have found for them. (MS 136, apud Hilmy
1987, p. 25)
Em 42:
Em 48:
A arquitetura eterniza ou sublima algo. Por isso não pode haver ar-
quitetura quando nada há a sublimar. (Ibid., p. 123)
Entre 32-34:
One difficulty was that it required a "sort of thinking" to which we are not
accustomed and to which we have not been trained – a sort of thinking very
different from what is required in the sciences. And he said that the required
skill could not be acquired merely by hearing lectures: discussion was essential.
(Moore 1955, p. 26)
I don’t want to give you a definition of philosophy but I should like you to
have a very lively idea as to the characters of philosophical problems. If you
had, by the way, I could stop lecturing at once. (MS-155, pp. 73-4, apud
ibid., id.)
What I want to teach you isn’t opinions but a method. In fact the method to
treat as irrelevant every questions of opinion. (MS-155,
p. 79, apud ibid., id.)
I don’t try to make you believe something you dont’t believe, but to make you
do something you won’t do. (MS-155, p. 83, apud ibid., id.)
I’m not teaching you anything; I’m trying to persuade you to do something.
(MS-155, p. 58, apud. ibid. id.)
2.3 O método
“Átrio da Ermida”
Dezembro de 2000
Referências bibliográficas
Recebido em 21/abril/2001
Aprovado em 23/julho/2001