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PSICOLOGIA INCLUSIVA: RECURSO PARA A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA

COM SURDOS
Ludmilla da Silva Macêdo¹
Claudia Regina Vaz Torres²
Eixo temático: Deficiência e Sociedade.
RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo central analisar o processo de inclusão de indivíduos
com surdez no atendimento psicoterapêutico nas clínicas de psicologia. Objetiva-se, ainda,
identificar os meios e estratégias utilizadas pelos psicólogos para assegurar a inclusão e a
acessibilidade. O plano de trabalho desta pesquisa foi desenvolvido a partir de inquietações
levantadas a respeito da importância do atendimento psicoterapêutico dos indivíduos com
deficiência, em foco, surdos. Dessa forma, a Psicologia Inclusiva é de suma importância para
a funcionalidade do acolhimento e acompanhamento de pessoas com surdez. Para isso se fez
necessário analisar o processo de inclusão destes indivíduos no atendimento psicoterapêutico.
Utilizou-se a pesquisa qualitativa de natureza exploratória, levantando dados sobre o
atendimento psicológico de pessoas surdas nas clínicas públicas e particulares que
oferecessem estes serviços em Salvador - BA. Os dados iniciais apontaram a falta de
psicólogos para a realização da psicoterapia nas unidades de atendimento a pessoas surdas,
como CEPREDE, CAS Wilson Lins, APADA e AESOS. Apenas duas psicólogas foram
encontradas dentre estas instituições, uma atuando no processo de inserção de pessoas surdas
no ambiente escolar, apoiando os mesmos no processo de “orientação vocacional”, e a outra
atuando no processo de Relações Humanas, encaminhando os usuários da instituição de apoio
para inserção no mercado de trabalho. Evidenciou-se a importância da elaboração de
materiais norteadores sobre o tema e a capacitação em Libras para os profissionais de
psicologia com a finalidade de melhorar a comunicação destes, ouvintes e surdos e promover
a aproximação com a cultura das pessoas surdas.

PALAVRAS-CHAVE: Psicoterapia; Inclusão; Surdez.


INTRODUÇÃO
A partir de inquietações levantadas a respeito da importância do atendimento
psicoterapêutico à indivíduos com deficiência (em foco, indivíduos com deficiência auditiva -
surdos), desenvolveu-se este projeto que tem por objetivo analisar o processo de inserção dos
indivíduos com deficiências, em foco indivíduos surdos, no atendimento psicoterapêutico nas
clínicas de psicologia. Dessa maneira, compreende-se que a Psicologia Inclusiva é de suma
importância para a funcionalidade do acolhimento e acompanhamento de pessoas com a1
deficiência auditiva. Para isso se faz necessário analisar o processo de inclusão de indivíduos
com surdez no atendimento psicoterapêutico nas clínicas de psicologia.

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Graduanda em Psicologia UNIFACS; Bolsista FAPESB. E-mail:milla_psicoluz@hotmail.com
² Professora Drª. em Educação, Psicóloga e Orientadora – Grupo de pesquisa FORMAGEL,
RECÔNCAVO - UNIFACS/UNEB.
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Em contrapartida, o que foi percebido no levantamento bibliográfico realizado despertou um


olhar mais observador sobre o fato de que por mais que pouco se fale e se discuta de forma
aberta sobre essa intervenção do psicólogo com o surdo, há alguns profissionais que já se
sensibilizaram em conhecer e compreender do "mundo" trazido pela percepção desse sujeito
que o vive de uma outra perspectiva, de uma forma "diferente". Dessa maneira, a psicologia
inclusiva evidencia a sua importância para capacitar e elucidar sobre os conhecimentos
advindos desta ciência para o atendimento especializado de sujeitos com deficiência auditiva
de forma mais acessível, tornando-se cada dia mais uma realidade possível.
Em vista disso, não se pode falar em inclusão e acessibilidade no atendimento
psicoterapêutico com surdos, ou em qualquer outro ambiente, sem antes falar sobre a
importância da compreensão desta cultura. Pode-se entender de grosso modo, que cultura é
um conjunto de manifestações artísticas, sociais, comportamentais e linguísticos de uma
sociedade. Compreendemos que os surdos desenvolveram uma cultura própria, com língua,
costumes, crenças e princípios, mas inseridos na sociedade. Assim, pode-se entender que a
cultura surda é fundamental para a compreensão e identificação dos indivíduos surdos,
servindo como alicerce para a sua funcionalidade como sujeito dentro desta sociedade. Sendo
assim, para os surdos a sua cultura atua na significação social, contestando e constituindo
uma identidade e diferença, indicando suas vidas individuais e em comunidade (KARNOPP,
KLEIN e LUNARDIN-LAZZARIN, 2013).
Advindos deste contexto, salienta-se que o psicólogo deva trabalhar com os surdos o “ser
surdo”, compreendendo e auxiliando o surdo à ir além da deficiência biológica aparente.
Portanto é de suma relevância que os indivíduos surdos se compreendam, aceitem-se e
alcancem uma percepção sobre a surdez. Deste modo, é necessário diferenciar indivíduos
com deficiência auditiva, quanto pessoas surdas, pois se não houver este entendimento pode
comprometer o processo posterior tanto do surdo em relação a si mesmo, quanto aos ouvintes
em relação aos surdos. Assim, de forma orgânica pode-se entender que a deficiência auditiva
e a surdez são sinônimos, pois se fixa nos processamentos direcionados e relacionados às
perdas auditivas no indivíduo. Entretanto, este entendimento sobre a diferença entre ambos
termos são influenciados pela perspectiva que se analise o fenômeno, seja deficiência
auditiva, seja surdez (BISOL, VALENTINI, 2011).
A partir da compreensão do “ser surdo” e da diferenciação entre deficiência auditiva e surdez,
é necessário se levantar a questão sobre o processo de desconstrução referente ao
entendimento de que o indivíduo considerado como deficiente auditivo é apenas aquele que
relacionado a perda auditiva, fixa-se somente na perspectiva orgânica - biomédica. Sendo que
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vai muito além disso, pois a questão maior no processo de desconstrução desse paradigma
desenvolvido, e muitas vezes reforçado por este modelo biomédico segregador, liga-se como
já mencionado anteriormente, a questão da identificação deste sujeito a cultura surda e a
Libras. Percebe-se que a característica que maior diferenciar os surdos dos deficientes
auditivos de forma geral é o entendimento da Língua surda e a percepção de si como pessoa
que faz uso de uma língua específica.
Diante da problemática da ausência e/ou precariedade ao acesso de atendimento
psicoterapêutico aos indivíduos com deficiências auditivas, propõe-se ampliar e incrementar
por meio desta pesquisa o interesse por estimular e alcançar esse tipo de acompanhamento
não se limitando em atender somente aos indivíduos que nasceram com deficiências motoras,
sensitivas e/ou auditivas, mas os indivíduos que obtiveram tais deficiências ao decorrer da
vida.
Portanto, o processo de inclusão deve-se firmar no contexto familiar, social, educacional e
psicoterápico destes indivíduos. Sobretudo, é essencial que os profissionais estejam se
especializando e preparando para atender qualquer tipo de especificidade, para a melhor
compreensão do indivíduo que o procura como alternativa de não só se auto conhecerem, de
melhor compreenderem suas limitações e necessidades, mas como também suas
funcionalidades além da deficiência. Logo, considera-se de grande valia que os profissionais
estejam capacitados de maneira não só de embasamento teórico, mas também estejam com os
consultórios “cheios” de recursos visuais que auxiliem no desenvolvimento de indivíduos
com surdez e que busquem especializar-se na Língua Brasileira de Sinais (Libras), para
melhor se dá o atendimento psicoterapêutico. Ressaltando que a capacitação em Libras entre
os psicólogos e demais profissionais de saúde, já tem se tornado um importante e
fundamental diferencial para o mercado de trabalho (BRASIL, 2015).
Para esta pesquisa utilizou-se da abordagem qualitativa, de natureza exploratória para
esclarecer alguns fatores sobre a falta de acessibilidade no atendimento psicoterapêutico à
sujeitos com deficiências auditivas. Esta abordagem foi conceituada como a mais adequada
para conhecer melhor as dificuldades de adequação e aceitação dos profissionais a atenderem
nos settings terapêuticos, indivíduos com deficiência, possibilitando o levantamento de
hipóteses.
Dessa forma, o processo da pesquisa ocorreu em fases, inicialmente foi realizada uma
pesquisa de campo, dentro da própria Universidade, para analisar materiais disponíveis no
Núcleo de Estudos e Práticas em Psicologia - NEPPSI - a Clínica Escola, registros de
atendimento psicoterapêuticos para com indivíduos deficientes, com deficiência motora,
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sensitiva e/ou auditiva, onde seria observado os motivos do não atendimento desses em razão
de despreparo por parte dos profissionais e estudantes presentes, em relação à necessidade de
cada indivíduo deficiente.
Feito isso, realizou-se questionários e entrevistas semiestruturadas com os profissionais que
atuam nas instituições que atendem pessoas surdas e também à um profissional plantonista da
clínica escola para o processo de coleta de dados. No entanto, em razão da ausência de
atendimentos à pessoas com deficiência na clínica escola, foi necessário ampliar o campo de
pesquisa para outros locais no município de Salvador que prestam esse ou outros serviços a
este público. Assim, encontrou-se em Salvador quatro instituições que tivemos acesso de
forma direta e indireta, que foram: AESOS- Associação Educacional Sons do Silêncio, que é
uma instituição que atende somente surdos no processo de escolarização, a mesma funciona
como uma escola profissionalizante; o CAS Wilson Lins, outra instituição que serve de apoio
educacional para crianças surdas, servindo de apoio para os pais e responsáveis, estimulando
e os capacitando na Língua Brasileira de Sinais, tanto aos surdos quanto aos responsáveis; o
CEPREDE- Centro de Prevenção e Reabilitação de Pessoas com Deficiências que desenvolve
ações de prevenção e apoio às pessoas com deficiências; e por fim a APADA- Associação de
Pais e Amigos de Deficientes Auditivos no Estado da Bahia, uma instituição que também
atua em torno da educação, realizando atendimento psicossocial e psicopedagógico, além de
encaminhamento ao fonoaudiólogo às crianças e jovens que são atendidos na mesma. A
APADA ainda atua no processo de inclusão desses jovens ao mercado de trabalho, os
orientando, encaminhando e acompanhando ao decorrer do processo de entrada e
permanência no trabalho encontrado.

Dessa maneira, compreendeu-se que as quatro instituições já citadas não realizam


atendimento psicoterapêutico com os seus beneficiários (pessoas que utilizam os serviços
oferecidos pelas mesmas), pois não tinham suporte para tal. Sendo que dentre estas
instituições só em duas havia a presença de um profissional de psicologia no trabalho com os
surdos. Salienta-se que para conseguir o acesso nas instituições foi necessário muito
insistência, pois houve uma dificuldade grande de conseguir informações e fácil acesso.
Neste contexto utilizou-se de pessoas que já tinham uma aproximação com as instituições, e
assim construiu-se uma ponte para que juntamente com a universidade oficializasse um
documento para que eu pudesse acessar a instituição para coleta de dados. Na APADA foi
possível conversar com a psicóloga atuante, onde a mesma nos esclareceu o seu papel dentro
da instituição. Na AESOS não conseguimos falar com a psicóloga atuante, mas tivemos uma
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noção do trabalho realizado lá através da vice-diretora e da coordenadora. No CEPREDE não


conseguimos muitas informações e não há profissional de psicologia na instituição. E por
fim, no CAS Wilson Lins não há profissional de psicologia atuando, o que dificultou a nossa
noção da atuação deste profissional junto com os beneficiários do local, mas a diretora nos
deu alguns esclarecimentos do funcionamento e de como eram os atendimentos ofertados na
instituição. Nossas entrevistas não foram gravadas, foram apenas registradas. As visitas as
instituições foram realizadas pontualmente, apenas na AESOS se realizou mais de uma visita,
realizando assim uma entrevista semi-estruturada.
Sendo assim, utilizou-se para embasamento teórico deste trabalho a pesquisa bibliográfica de
materiais já publicados em torno do tema estudado no período de 2000 à 2017. Buscou-se
artigos que tratassem sobre a atuação do psicólogo junto à pessoas com deficiência auditiva,
expondo o processo de intervenção psicoterapêutica com os surdos, textos que levantassem as
possíveis contribuições da Psicologia como ciência no auxílio aos atendimentos a pessoas
com deficiência auditiva, compreendendo a psicologia como um complemento apoiador e
estimulador para auxiliar e motivar estes indivíduos a se posicionarem como sujeitos de
direitos na sociedade em que estão inseridos. Não obstante, buscou-se também artigos e
livros sobre a surdez, sua identidade e cultura.
Diante deste contexto, no decorrer das buscas por dados, usufruiu-se de instrumentos
tecnológicos para auxiliar nosso trabalho e assim viabilizar da forma mais atualizada possível
os nossos materiais. Assim, recorremos às bibliotecas eletrônicas como Scielo e Capsi,
juntamente a livros que fossem voltados para a inclusão, cultura e identidade surda. Em
relação às bibliotecas eletrônicas utilizou-se das seguintes palavras chave: Surdez, Deficiente
Auditivo, Psicoterapia para Surdos, Inclusão e Psicoterapia para Deficientes Auditivos.
Deste modo, só se tem a salientar que há uma imensa necessidade de se debater a formação
profissional não só do psicólogo como também dos demais profissionais da saúde para a
compreensão da dimensão da cultura e identidade surda, para que assim, possa-se alcançar
este outro que se coloca no lugar de cliente/paciente.
Este estudo está dividido em quatro seções distintas. Na primeira seção, há a introdução ao
tema proposto, na segunda seção, analisamos as questões relacionadas à Formação dos
profissionais de Psicologia para o atendimento à pessoas com deficiências. Na terceira
seção, o estudo tende a discutir mais especificamente sobre aS intervenções
psicoterapêuticas com surdos e na última seção, o artigo aponta a importância da
construção de estímulos para a qualificação de profissionais com o objetivo de mediar e
facilitar os atendimentos psicológicos à surdos.
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Formação dos profissionais de Psicologia para o atendimento à pessoas com deficiências


Ao decorrer de todo o processo de levantamento dos dados propostos por esta pesquisa,
percebeu-se que a formação dos profissionais de Psicologia em específico, tem estado bem
distante de uma intervenção firmada no conceito e na promoção de inclusão e acessibilidade
na construção dos seus campos e contextos de atuação psicoterapêutica em suas clínicas de
Psicologia. Desta maneira, pode-se compreender que na formação do profissional de
psicologia, ao decorrer do seu curso de graduação, deva ter ao menos como oferta acadêmica,
uma disciplina, que o proporcione a possibilidade de se inclinar para esta perspectiva, e
assim, se aproximar e conhecer, nem que por uma maneira superficial, as metodologias
referenciais para a intervenção psicológica à pessoas com alguma tipo de deficiência
(ALMIRALIAN, BECKER, KÓVACKS, 1991).
Desse modo, o Conselho Nacional de Educação juntamente com o Ministério de Educação e
a Câmera de Ensino Superior, estabeleceram algumas diretrizes, princípios e ferramentas
sobre a formação e atuação em Psicologia, no que diz respeito aos conhecimentos científicos
e práticos relacionados a formação necessária como base para se tornar um profissional de
Psicologia. Assim, instituiu-se a Resolução de nº 5, de 15 de Março de 2011 (BRASIL,
2011), que estabelece as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em
Psicologia, determinando normas para o projeto pedagógico complementar a fim da formação
dos docentes de Psicologia. Contudo, não se encontra em nenhum de seus artigos, incisos ou
parágrafos únicos, algo que direcione ou estimule a formação e atuação de psicólogos
voltados a inclusão de pessoas com deficiências nas clínicas de psicologia.
Ao debruçar-se sobre as diretrizes encontradas na descrita resolução, observou-se que em seu
artigo 3º , no item três, há uma declaração sobre o reconhecimento da diversidade sob a
perspectiva da percepção humana, salientando que a graduação em Psicologia tem como
objetivo a formação e atuação profissional de psicólogos (BRASIL, 2011). Neste contexto,
pode-se enquadrar no processo de descrição deste terceiro item do artigo 3º da resolução, que
podemos tentar incluir na questão da diversidade as implicações de acessibilidade e inclusão
de pessoas com deficiências, destacando-se as implicações nas matrizes curriculares dos
cursos de graduação de Psicologia. Salientando assim, a importância de se debater e
compreender a relevância de se implantar a Psicologia Inclusiva como ferramenta de
formação para estudantes e profissionais de psicologia. Partindo deste pressuposto, foi
observado o quão necessário é compreender e analisar as competências advindas das questões
possíveis do termo diversidade.
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Com esta finalidade, realizamos uma revisão de literatura dos artigos publicados em algumas
revistas, dentre elas, Psicologia, Ciência e Profissão, Psicologia: reflexão e crítica, Análise
Psicológica. Utilizou-se assim, para o desenvolvimento dos dados obtidos, como instrumento
norteador a análise de dados por categorias, que se caracteriza no agrupamento de elementos
observados ao decorrer do estudo. São estes elementos que norteiam a pesquisa como um
todo, levantando classificações para análise (MINAYO, 1994). Partindo dessa
premissa,idealizou-se temas centrais que relacionassem com a proposta do nosso trabalho,
recobriu-se o período de 2000 à 2017 e, conforme mostra a Tabela 1, de um total de 30
artigos e 2 livros, apenas foram encontrados 25 artigos que contemplavam essa temática
como dito anteriormente na metodologia.
Depreendemos que o tema ainda não tem visibilidade nos cursos de Psicologia, o que nos
deixou ainda mais interessadas no andamento da pesquisa. E por conta disso, nos
preocupamos em realizar este estudo para dar visibilidade a necessidade da formação em
Psicologia Inclusiva como ferramenta de capacitação básica para os profissionais de
psicologia, desde o ingresso nas universidades, até suas intervenções como psicólogos.
Assim, reforçamos a importância de se incluir o estudo da psicologia inclusiva como
disciplina nas matrizes curriculares dos cursos de psicologia.
Portanto, percebe-se uma grande necessidade de reorganização nas matrizes curriculares das
graduações de Psicologia, selecionando matérias e possíveis conteúdos a serem tratados e
analisados pelas mesmas ao decorrer dos semestres, com o propósito de qualificar os futuros
profissionais de psicologia no contexto social, político e assistencial, auxiliando e mediando a
inserção de forma mais consistente na acessibilidade e inclusão de indivíduos com deficiência
nas clínicas de Psicologia e instituições educacionais que proporcionam o atendimento
psicoterapêutico.
Desta forma, alguns profissionais mais especializados acreditam que os jovens profissionais
não se interessam por realizarem atendimento à pessoa com deficiência por conta da falta de
capacitação ou falta de conhecimentos sobre os instrumentos e sobre as possíveis dificuldades
desses atendimentos. Salienta-se que os profissionais devem levar em consideração que eles
só precisam se colocar em um lugar de disponibilidade para compreender e aprender sobre
esteS sujeitoS, não se fixando apenas nas deficiências apresentadas (ALMIRALIAN,
BECKER, KÓVACKS, 1991).

Investigação e compreensão da realização de intervenções psicoterapêuticas com surdos


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Consequentemente, durante todo o processo de análise e compreensão da importância do


atendimento psicológico à pessoas com deficiências nas clínicas de psicologia, realizou-se
um questionário para tentar aferir até onde os profissionais de psicologia estavam capacitados
para a realização de intervenções à pessoas com deficiência, centralizando os atendimentos
psicoterapêuticos com surdos. Evidencia-se que, há uma enorme necessidade de se
compreender as demandas trazidas pelos indivíduos com deficiências nos mais variados
contextos, alcançando assim, não as limitações advindas das deficiências apresentadas, mas
indo muito além do que se é apresentado.
Sabe-se que surgem grandes impedimentos no processo de comunicação entre o indivíduo
ouvinte e o surdo, ainda mais no contexto psicólogo - paciente, quando este profissional não
tem entendimento sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, pois a demanda por
compreensão é ainda mais acentuada e constante no setting terapêutico. Nesta constante
dificuldade que os psicólogos não especializados encontram para se comunicarem com o
público surdo através da língua deles, os mesmos geralmente se utilizam dos testes
psicológicos para poderem adentrar no “mundo dos surdos”, se aproximando da cultura e do
significante do “ser surdo” (SOUZA, 1998, p.130).
Partindo desse pressuposto, a Psicologia Inclusiva vem como instrumento estimulador no
processo de ir além da reflexão, para a elevação da consciência destes profissionais e futuros
profissionais, o anseio por conhecerem a cultura surda, a construção da sua identidade e a
grande importância para o sujeito de ser reconhecido e legitimação deste como ser de
direitos.
Neste contexto, o psicólogo deve atuar no sentido de sair do enquadramento patologizante da
sociedade preconceituosa e estigmatizada em que se vive, para começar a se preocupar de
fato, concebendo assim, as diferenças advindas da linguística social atribuída ao surdo para
que desta maneira se firme a relação entre o surdo e o ouvinte (SOUZA, 1998, p.133).
Entretanto, ainda há muito o que se estudar e agregar no processo de investigação de como
estes profissionais têm se colocado frente a demanda para o atendimento psicoterapêutico de
pessoas surdas.
Nas pesquisas realizadas, notou-se imensa precariedade e “descaso” no processo de atenção e
realização de inclusão efetiva de pessoas com deficiências dentro das clínicas de psicologia,
sendo submetidos ao atendimento psicoterapêutico. Como a psicologia pode facilitar este
acesso? Acredita-se que os profissionais saiam do lugar de comodismo e comecem de fato a
exercerem a empatia no que diz respeito às diferenças e as possibilidades de intervenção
psicológica para os surdos se capacitando e compreendendo a cultura e a identidade surda.
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Construção de estímulos para a qualificação de profissionais com o objetivo de mediar e


facilitar os atendimentos psicológicos à surdos
Pode-se alcançar durante todo o processo de leituras e análise dos materiais encontrados,
através dos profissionais que atuam nas instituições visitadas em Salvador e dos artigos
encontrados sobre relatos de experiências de psicólogos na realização do atendimento à
pessoas surdas, que há uma imensa necessidade que os profissionais desenvolvam estratégias
para a viabilização da comunicação e interação entre eles e os surdos. Neste sentido, faz-se
indispensável o conhecimento em Libras por estes profissionais, e além disso, o estímulo
constante em conhecerem e compreenderem o mundo através da percepção dos indivíduos
surdos.
Partindo dessa premissa, compreende-se que a Psicologia Inclusiva, como ferramenta
instrumental, é uma possibilidade funcional para formular estratégias estimulantes aos
profissionais e futuros profissionais no processo de qualificação para realização efetiva de
atendimentos psicoterapêuticos ou intervenções de apoio informativo aos surdos e seus
familiares. Assim, analisa-se que as mediações psicoterápicas devem abarcar além do que se
é trazido pelo cliente/paciente deficiente. O psicólogo atuante nos atendimentos com pessoas
surdas, devem ter uma noção não só da sua primeira língua, como já mencionado, mas deve
compreender a cultura surda, suas implicações para com o surdo, às questões de identidade
surda, analisando quais são as demandas sobre estes aspectos que o paciente/cliente traz.
Desse modo, entende-se que para se efetivar as estratégias de estímulos para os profissionais
sobre a importância do atendimento à pessoas surdas, deve-se primordialmente, como dito
anteriormente, trabalhar com os estudantes desde o ingresso nos cursos de graduação até a
imersão no mercado de trabalho dos mesmos. Sendo que poucas são as graduações que
apresentam aos seus alunos, disciplinas voltadas para a conscientização e valorização do
processo de inclusão e acessibilidade à pessoas com deficiência. Visto que, surge uma imensa
discrepância na disponibilidade dessas disciplinas nos cursos de saúde, em específico, nos
cursos de Psicologia. Entretanto, a graduação e profissão que se mais discute e luta pelos
Direitos das Pessoas com Deficiência e os processos de Inclusão e Acessibilidade, são os
cursos relacionados a Educação, como a Pedagogia.
Para tanto, releva-se que é de suma importância que os profissionais em geral, atuantes com o
público surdo construa estratégias para se qualificarem e assim, melhor se comunicarem com
o surdo, reconhecendo a magnitude da sua cultura, da sua identidade e do Ser Surdo, para
estes indivíduos. Assim, os profissionais que trabalham com surdos devem valorizar a
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singularidade do entendimento e estruturação de sentido que os mesmos desenvolvem, que se


difere dos ouvintes. Por conta disso, é necessário a compreensão das formas como os surdos
conseguem expressar-se em relação às suas questões (LACERDA, SANTOS e CAETANO,
2011).
Quando o surdo se depara com um profissional que o compreende, entendendo e se
comunicando com a sua língua, alcançando a dimensão característica da identidade e cultura
surda para o surdo, é visto como um item positivo, influenciador para o bem-estar psíquico
desses pacientes/clientes. Neste contexto, identifica-se que no processo terapêutico o surdo
consegue melhor se expressar e de fato entrar em processo de análise quando o profissional
entende a importância da língua para o sujeito surdo, podendo assim, adentrar ao mundo
deste indivíduo de forma mais efetiva e constante.

Analisa-se que todos os indivíduos se sentem bem quando são de fato compreendidos pelos
outros que estão à sua volta, ainda mais quando não se preocupa em ter um outro como
“tradutor” das expressões e palavras que o mesmo diz e se expressa. Desta forma, as
influências do bem-estar das pessoas com deficiências ao meio, estão comumente
relacionadas e interligadas nas formas como são compreendidos e vistos pelos outros e por
eles mesmos. Por conta disso, os profissionais precisam fervorosamente se dedicarem em
conhecerem “o mundo” de uma outra perspectiva, que é a de inclusão e acessibilidade, indo
além do que é imposto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Traçamos um caminho definitivamente enriquecedor sobre como a Psicologia tem se


colocado e contribuído no processo de Acessibilidade e Inclusão de pessoas com deficiências
em suas clínicas psicológicas. Percebemos que ainda não chegamos ao fim nas nossas
construções para a efetivação da Psicologia Inclusiva como ferramenta metodológica à
graduandos e profissionais de Psicologia e demais cursos.

Por conta disso, compreendemos que a Psicologia como campo de atuação clínica deve
trabalhar mais nas inserções de pessoas com deficiências em seus consultórios, em específico,
estendendo seus atendimentos psicoterapêuticos aos indivíduos surdos, compreendendo-os e
se preocupando com a importância destes, e da necessidade de se capacitarem com a Língua
de Sinais, para que se ocorra uma adesão “melhorada” no processo de comunicação entre
estes.
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Não obstante, desde o início das nossas buscas, nos questionamos o porquê do “despreparo”,
ou até mesmo “descaso” de alguns profissionais em relação ao atendimento à pessoas surdas
ou com outras deficiências (pessoas com deficiências cognitivas/intelectuais são atendidas
por estes profissionais rotineiramente), já que o nosso grande objetivo era poder analisar este
processo de inclusão de indivíduos com deficiências, em foco indivíduos com deficiência
auditiva no atendimento psicoterapêutico nas clínicas de psicologia.

Por conta disso, idealizamos a Psicologia Inclusiva como um instrumento que estimule ao
processo de capacitação e compreensão da dimensão real da necessidade de atenção e
intervenção psicológica ou não à este público. Sendo que a Psicologia Inclusiva abrangeria
desde a graduação até a atuação efetiva dos profissionais nas diversas áreas.

Consequentemente, analisamos que tornar a Psicologia Inclusiva uma ferramenta


metodológica poderá incentivar profissionais e futuros profissionais para que conheçam os
encantos e desencantos de se assegurar os Direitos de Inclusão e Acessibilidade às pessoas
com deficiência, à pessoas surdas.

REFERÊNCIAS

ALMIRALIAN, M. L., BECKER, E., KÓVACKS, M. J.; A especialização do psicólogo para


o atendimento às pessoas portadoras de deficiência. Psicologia USP, São Paulo, 121-124,
1991.
BISOL, C. A. & VALENTINI, C. B. Surdez e Deficiência Auditiva - qual a diferença?
Objeto de Aprendizagem Incluir – UCS/FAPERGS, 2011. Disponível em
<http://www.grupoelri.com.br/Incluir/downloads/OA_SURDEZ_Surdez_X_Def_Audit_Text
o.pdf>. Acesso em 15 de junho de 2017.
BRASIL. Ministério Público. Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência nº 13.146, de 06 de
julho de 2015.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução de nº 5, de 15 de Março de 2011.
MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 17. ed. Petrópolis:
Vozes, 1994.
LACERDA, C. B. F. de.; SANTOS, L. F. dos e CAETANO, J. F. Estratégias metodológicas
para o ensino de alunos surdos. In Língua brasileira de sinais – Libras uma introdução. UAB-
UFSCar. São Paulo, p. 103-118, 2011.
SOUZA, R. M.; Sujeito surdo e profissionais ouvintes: repensando esta relação. Estilos da
Clínica, p.130 - 145, 1998.

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