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COM SURDOS
Ludmilla da Silva Macêdo¹
Claudia Regina Vaz Torres²
Eixo temático: Deficiência e Sociedade.
RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo central analisar o processo de inclusão de indivíduos
com surdez no atendimento psicoterapêutico nas clínicas de psicologia. Objetiva-se, ainda,
identificar os meios e estratégias utilizadas pelos psicólogos para assegurar a inclusão e a
acessibilidade. O plano de trabalho desta pesquisa foi desenvolvido a partir de inquietações
levantadas a respeito da importância do atendimento psicoterapêutico dos indivíduos com
deficiência, em foco, surdos. Dessa forma, a Psicologia Inclusiva é de suma importância para
a funcionalidade do acolhimento e acompanhamento de pessoas com surdez. Para isso se fez
necessário analisar o processo de inclusão destes indivíduos no atendimento psicoterapêutico.
Utilizou-se a pesquisa qualitativa de natureza exploratória, levantando dados sobre o
atendimento psicológico de pessoas surdas nas clínicas públicas e particulares que
oferecessem estes serviços em Salvador - BA. Os dados iniciais apontaram a falta de
psicólogos para a realização da psicoterapia nas unidades de atendimento a pessoas surdas,
como CEPREDE, CAS Wilson Lins, APADA e AESOS. Apenas duas psicólogas foram
encontradas dentre estas instituições, uma atuando no processo de inserção de pessoas surdas
no ambiente escolar, apoiando os mesmos no processo de “orientação vocacional”, e a outra
atuando no processo de Relações Humanas, encaminhando os usuários da instituição de apoio
para inserção no mercado de trabalho. Evidenciou-se a importância da elaboração de
materiais norteadores sobre o tema e a capacitação em Libras para os profissionais de
psicologia com a finalidade de melhorar a comunicação destes, ouvintes e surdos e promover
a aproximação com a cultura das pessoas surdas.
1
Graduanda em Psicologia UNIFACS; Bolsista FAPESB. E-mail:milla_psicoluz@hotmail.com
² Professora Drª. em Educação, Psicóloga e Orientadora – Grupo de pesquisa FORMAGEL,
RECÔNCAVO - UNIFACS/UNEB.
1
vai muito além disso, pois a questão maior no processo de desconstrução desse paradigma
desenvolvido, e muitas vezes reforçado por este modelo biomédico segregador, liga-se como
já mencionado anteriormente, a questão da identificação deste sujeito a cultura surda e a
Libras. Percebe-se que a característica que maior diferenciar os surdos dos deficientes
auditivos de forma geral é o entendimento da Língua surda e a percepção de si como pessoa
que faz uso de uma língua específica.
Diante da problemática da ausência e/ou precariedade ao acesso de atendimento
psicoterapêutico aos indivíduos com deficiências auditivas, propõe-se ampliar e incrementar
por meio desta pesquisa o interesse por estimular e alcançar esse tipo de acompanhamento
não se limitando em atender somente aos indivíduos que nasceram com deficiências motoras,
sensitivas e/ou auditivas, mas os indivíduos que obtiveram tais deficiências ao decorrer da
vida.
Portanto, o processo de inclusão deve-se firmar no contexto familiar, social, educacional e
psicoterápico destes indivíduos. Sobretudo, é essencial que os profissionais estejam se
especializando e preparando para atender qualquer tipo de especificidade, para a melhor
compreensão do indivíduo que o procura como alternativa de não só se auto conhecerem, de
melhor compreenderem suas limitações e necessidades, mas como também suas
funcionalidades além da deficiência. Logo, considera-se de grande valia que os profissionais
estejam capacitados de maneira não só de embasamento teórico, mas também estejam com os
consultórios “cheios” de recursos visuais que auxiliem no desenvolvimento de indivíduos
com surdez e que busquem especializar-se na Língua Brasileira de Sinais (Libras), para
melhor se dá o atendimento psicoterapêutico. Ressaltando que a capacitação em Libras entre
os psicólogos e demais profissionais de saúde, já tem se tornado um importante e
fundamental diferencial para o mercado de trabalho (BRASIL, 2015).
Para esta pesquisa utilizou-se da abordagem qualitativa, de natureza exploratória para
esclarecer alguns fatores sobre a falta de acessibilidade no atendimento psicoterapêutico à
sujeitos com deficiências auditivas. Esta abordagem foi conceituada como a mais adequada
para conhecer melhor as dificuldades de adequação e aceitação dos profissionais a atenderem
nos settings terapêuticos, indivíduos com deficiência, possibilitando o levantamento de
hipóteses.
Dessa forma, o processo da pesquisa ocorreu em fases, inicialmente foi realizada uma
pesquisa de campo, dentro da própria Universidade, para analisar materiais disponíveis no
Núcleo de Estudos e Práticas em Psicologia - NEPPSI - a Clínica Escola, registros de
atendimento psicoterapêuticos para com indivíduos deficientes, com deficiência motora,
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sensitiva e/ou auditiva, onde seria observado os motivos do não atendimento desses em razão
de despreparo por parte dos profissionais e estudantes presentes, em relação à necessidade de
cada indivíduo deficiente.
Feito isso, realizou-se questionários e entrevistas semiestruturadas com os profissionais que
atuam nas instituições que atendem pessoas surdas e também à um profissional plantonista da
clínica escola para o processo de coleta de dados. No entanto, em razão da ausência de
atendimentos à pessoas com deficiência na clínica escola, foi necessário ampliar o campo de
pesquisa para outros locais no município de Salvador que prestam esse ou outros serviços a
este público. Assim, encontrou-se em Salvador quatro instituições que tivemos acesso de
forma direta e indireta, que foram: AESOS- Associação Educacional Sons do Silêncio, que é
uma instituição que atende somente surdos no processo de escolarização, a mesma funciona
como uma escola profissionalizante; o CAS Wilson Lins, outra instituição que serve de apoio
educacional para crianças surdas, servindo de apoio para os pais e responsáveis, estimulando
e os capacitando na Língua Brasileira de Sinais, tanto aos surdos quanto aos responsáveis; o
CEPREDE- Centro de Prevenção e Reabilitação de Pessoas com Deficiências que desenvolve
ações de prevenção e apoio às pessoas com deficiências; e por fim a APADA- Associação de
Pais e Amigos de Deficientes Auditivos no Estado da Bahia, uma instituição que também
atua em torno da educação, realizando atendimento psicossocial e psicopedagógico, além de
encaminhamento ao fonoaudiólogo às crianças e jovens que são atendidos na mesma. A
APADA ainda atua no processo de inclusão desses jovens ao mercado de trabalho, os
orientando, encaminhando e acompanhando ao decorrer do processo de entrada e
permanência no trabalho encontrado.
Com esta finalidade, realizamos uma revisão de literatura dos artigos publicados em algumas
revistas, dentre elas, Psicologia, Ciência e Profissão, Psicologia: reflexão e crítica, Análise
Psicológica. Utilizou-se assim, para o desenvolvimento dos dados obtidos, como instrumento
norteador a análise de dados por categorias, que se caracteriza no agrupamento de elementos
observados ao decorrer do estudo. São estes elementos que norteiam a pesquisa como um
todo, levantando classificações para análise (MINAYO, 1994). Partindo dessa
premissa,idealizou-se temas centrais que relacionassem com a proposta do nosso trabalho,
recobriu-se o período de 2000 à 2017 e, conforme mostra a Tabela 1, de um total de 30
artigos e 2 livros, apenas foram encontrados 25 artigos que contemplavam essa temática
como dito anteriormente na metodologia.
Depreendemos que o tema ainda não tem visibilidade nos cursos de Psicologia, o que nos
deixou ainda mais interessadas no andamento da pesquisa. E por conta disso, nos
preocupamos em realizar este estudo para dar visibilidade a necessidade da formação em
Psicologia Inclusiva como ferramenta de capacitação básica para os profissionais de
psicologia, desde o ingresso nas universidades, até suas intervenções como psicólogos.
Assim, reforçamos a importância de se incluir o estudo da psicologia inclusiva como
disciplina nas matrizes curriculares dos cursos de psicologia.
Portanto, percebe-se uma grande necessidade de reorganização nas matrizes curriculares das
graduações de Psicologia, selecionando matérias e possíveis conteúdos a serem tratados e
analisados pelas mesmas ao decorrer dos semestres, com o propósito de qualificar os futuros
profissionais de psicologia no contexto social, político e assistencial, auxiliando e mediando a
inserção de forma mais consistente na acessibilidade e inclusão de indivíduos com deficiência
nas clínicas de Psicologia e instituições educacionais que proporcionam o atendimento
psicoterapêutico.
Desta forma, alguns profissionais mais especializados acreditam que os jovens profissionais
não se interessam por realizarem atendimento à pessoa com deficiência por conta da falta de
capacitação ou falta de conhecimentos sobre os instrumentos e sobre as possíveis dificuldades
desses atendimentos. Salienta-se que os profissionais devem levar em consideração que eles
só precisam se colocar em um lugar de disponibilidade para compreender e aprender sobre
esteS sujeitoS, não se fixando apenas nas deficiências apresentadas (ALMIRALIAN,
BECKER, KÓVACKS, 1991).
Analisa-se que todos os indivíduos se sentem bem quando são de fato compreendidos pelos
outros que estão à sua volta, ainda mais quando não se preocupa em ter um outro como
“tradutor” das expressões e palavras que o mesmo diz e se expressa. Desta forma, as
influências do bem-estar das pessoas com deficiências ao meio, estão comumente
relacionadas e interligadas nas formas como são compreendidos e vistos pelos outros e por
eles mesmos. Por conta disso, os profissionais precisam fervorosamente se dedicarem em
conhecerem “o mundo” de uma outra perspectiva, que é a de inclusão e acessibilidade, indo
além do que é imposto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por conta disso, compreendemos que a Psicologia como campo de atuação clínica deve
trabalhar mais nas inserções de pessoas com deficiências em seus consultórios, em específico,
estendendo seus atendimentos psicoterapêuticos aos indivíduos surdos, compreendendo-os e
se preocupando com a importância destes, e da necessidade de se capacitarem com a Língua
de Sinais, para que se ocorra uma adesão “melhorada” no processo de comunicação entre
estes.
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Não obstante, desde o início das nossas buscas, nos questionamos o porquê do “despreparo”,
ou até mesmo “descaso” de alguns profissionais em relação ao atendimento à pessoas surdas
ou com outras deficiências (pessoas com deficiências cognitivas/intelectuais são atendidas
por estes profissionais rotineiramente), já que o nosso grande objetivo era poder analisar este
processo de inclusão de indivíduos com deficiências, em foco indivíduos com deficiência
auditiva no atendimento psicoterapêutico nas clínicas de psicologia.
Por conta disso, idealizamos a Psicologia Inclusiva como um instrumento que estimule ao
processo de capacitação e compreensão da dimensão real da necessidade de atenção e
intervenção psicológica ou não à este público. Sendo que a Psicologia Inclusiva abrangeria
desde a graduação até a atuação efetiva dos profissionais nas diversas áreas.
REFERÊNCIAS