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Aula: 18

Temática: Tipos de texto

Desde a Antigüidade, com a Poética de Aristóteles, a tipo-


logia textual tem sido um dos temas mais estudados e dis-
cutidos tanto no âmbito dos estudos literários como no da
análise do discurso. Portanto, procurarei fazer, nesta aula, um “resumo do
resumo” de duas possibilidades de classificação dos textos. O critério uti-
lizado foi, confesso, pragmático, isto é, selecionei o material que considero
mais útil para vocês neste momento, como universitários que são, e no
futuro, como educadores que serão.

A primeira possibilidade é aquela que agrupa os textos em torno de dois


grandes eixos: o das figuras e o dos temas. Os textos que trabalham com
as figuras são os que, de certa forma, representam o mundo natural, en-
quanto os que trabalham com os temas são aqueles que, sobretudo, in-
terpretam essa mesma realidade. Obviamente, eles terão características
totalmente diferentes, e elas estão abaixo sintetizadas em um quadro que
organizei a partir do que nos ensinam os professores José Luiz Fiorin e
Francisco Platão Savioli .

Texto figurativo Texto temático


Formas básicas de
concreto abstrato
discurso
Construção
figuras temas
predominante
explicar as coisas do mundo,
ordenando-as, classificando-as,
produzir um efeito
interpretando-as e estabelecen-
de realidade, por-
Objetivo do relações entre elas, fazendo
que trabalha com
comentários sobre suas proprie-
o concreto
dades, porque trabalha com o
abstrato
Função representativa interpretativa
1 leitura: ingênuo
a.

(infantil) atento, inteligente, observador,


Tipo de leitor 2 leitura: leitor ca- maduro, capaz de entender con-
a.

paz de ver além do ceitos e abstrações


concreto
Modalidade redacional narração dissertação

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Exemplo

Há algum tempo, recebi um e-mail com o texto abaixo. Vamos lê-lo.

As colheres de cabo comprido

Dizem que Deus convidou um homem para conhecer o céu e o inferno.


Foram primeiro ao inferno. Ao abrirem a porta, viram uma sala em cujo
centro havia um caldeirão de sopa e à sua volta estavam sentadas pessoas
famintas e desesperadas. Cada uma delas segurava uma colher de cabo
bem comprido que lhes permitia alcançar o caldeirão, mas não a própria
boca. O sofrimento era grande.
Em seguida, foram ao céu. Era uma sala idêntica à primeira: havia o mesmo
caldeirão, as pessoas em volta, as colheres de cabo comprido. A diferença
é que todos estavam saciados.
- Eu não compreendo – disse o homem a Deus – por que aqui as pessoas
estão felizes enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo igual?
Deus sorriu e respondeu:
Você não percebeu? É porque aqui eles aprenderam a dar comida uns aos
outros.

Esse é um texto figurativo, já que foi construído, basicamente, com termos


concretos, isto é, que remetem àquilo que existe no mundo natural (porta,
sala, caldeirão, sopa, colher etc), o que produz um efeito de realidade.
Observe, agora, o seguinte texto:

Uma equipe participativa, homogênea, coesa e criativa consegue encon-


trar alternativas para transpor barreiras e resolver problemas que parecem
insolúveis às pessoas que mantêm um posicionamento isolado.

Esse segundo texto diz basicamente a mesma coisa que o primeiro, isto
é, a importância do espírito de equipe, da solidariedade na resolução de
problemas comuns. Mas, enquanto aquele trabalhou com termos concre-
tos, este foi construído sobretudo com termos abstratos, isto é, com pala-
vras que ordenam o mundo natural, que indicam conceitos (participação,
coesão, criatividade, resolução etc), expressando uma interpretação da
realidade.

Uma segunda tipologia, talvez a mais conhecida, é aquela que agrupa os


textos em três grandes modalidades: a narração, a descrição e a disser-
tação. Seria bom, aqui, refletirmos um pouco sobre essas três palavras,
pois elas representam, em primeiro lugar, a ação praticada pelo produtor
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do texto: narração, descrição e dissertação implicam, necessariamente,
a figura da pessoa que pratica essas ações, isto é, do autor. No segundo
sentido dessas palavras, é que se pode dizer que são o produto da ação
de narrar, de descrever e de dissertar. Dadas essas explicações, podemos
elaborar um quadro que sintetize as características desses três tipos de
texto.

Narração Descrição Dissertação


- informação - discussão
- informação
- análise
função - reflexão - contextualização
- interpretação
- ludicidade - particularização
- argumentação
- apresentação de
- apresentação de
acontecimentos (re-
características de
ais ou imaginários), - apresentação de
características seres e espaços
vividos pelos seres idéias, avaliações
básicas (reais ou imaginá-
ao longo de um de- e argumentações
rios) e de proces-
terminado tempo e
sos.
num certo espaço.
1- descrição obje- 1- dissertação ex-
1- narração de fatos tiva
positiva (objetiva)
verídicos 2- descrição sub-
tipos 2- dissertação ar-
2- narração de fatos jetiva
3- descrição de gumentativa
fictícios
processo (subjetiva)
- presença fre-
- presença freqüente - presença fre-
qüente de arti-
de marcadores tem- qüente de marca-
culadores intra e
porais dores espaciais
interfrásicos
trabalho de - linguagem deno-
- linguagem de-
- linguagem conota- tativa e/ ou cono-
linguagem
tiva e/ ou denotativa tativa. notativa
- coerência argu-
- coerência narrativa - coerência figura-
e figurativa mentativa (inter-
tiva e de ângulo
na e externa)
- predominância
- predominância do presente do
- predominância dos
tempos verbais do presente e do indicativo e dos
tempos do pretérito
imperfeito tempos do sub-
juntivo

- observação; - observação; per- - observação; re-


faculdade
cepção; imagina- flexão; argumen-
humana - imaginação. ção. tação.

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Como você deve ter observado, este segundo quadro é mais
detalhista que o primeiro. Quando classificamos os textos
em “figurativos” ou ‘temáticos”, formamos dois grandes
grupos nos quais cabem textos muito diferentes entre si; quando os classi-
ficamos em “narração”, “descrição” e “dissertação”, restringimos um pou-
co mais. Assim conseguimos perceber um número maior de pormenores e
podemos estabelecer algumas subdivisões, como os dois tipos básicos de
dissertação e de narração, os três tipos básicos de descrição.

Neste momento, você pode levantar a seguinte questão: não existem tex-
tos que misturam as três modalidades? Sem dúvida, existem. O que nos
leva a “classificar” um texto dentro de uma modalidade são as caracterís-
ticas que predominam nele, aquelas que o autor escolheu para compô-lo.
Você já deve ter lido um romance, por exemplo, em que aparecem trechos
descritivos, diálogos entre personagens nos quais estão presentes ava-
liações e argumentações, características do texto dissertativo. É possível
afirmar, então, que poucos são os textos “puros” e que, em geral, embora
predomine neles uma das modalidades, as outras aparecem, circunstan-
cialmente, entremeadas à que se sobrepõe. A essa presença denomina-
mos narratividade, descritividade e dissertatividade (as duas primeiras
são, sem dúvida, as mais comuns).

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