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150 CULTURA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE GRADUAÇÃO UNIVEL EAD

4.3 Educação ambiental em ambientes não


formais
Como você já deve ter notado, a educação ambiental não acontece apenas no
ambiente escolar. É comum nos depararmos com feiras, manifestações, reu-
niões, caminhadas, encontros e tantos outros eventos que ocorrem nas praças,
salões comunitários, parques e ruas em prol da natureza, pela defesa da vida,
pela qualidade dos alimentos ou, até mesmo, para limpeza das margens de um
rio. Estes eventos fazem parte da educação ambiental não formal.

A educação ambiental em espaços não formais é amparada pela Lei nº


9.795/1999, que em seu artigo 13 afirma que todas as ações educativas, que vi-
sam à conscientização da sociedade na defesa e preservação do meio ambiente
são consideradas educação ambiental.

Governos federal, estaduais e municipais têm a obrigação de incentivar essas


ações mediante à divulgação por meios de comunicação, promoção de ações
relacionadas ao meio ambiente em conjunto com empresas privadas, universi-
dades, organizações não governamentais e sociedade, para possibilitar a capa-
citação de agricultores e populações tradicionais como indígenas e quilombolas
sobre o cuidado com a natureza e seus recursos naturais, além de incentivar o
ecoturismo.

É importante lembrar que a educação ambiental em ambiente não formal evo-


luiu de maneira gradual. Antes realizada somente por meio de manifestações e
protestos, hoje tem seu objetivo ampliado, pois além de demonstrar a preocupa-
ção ambiental, também traz soluções para muitos dos problemas e conscientiza
os cidadãos a repensarem seu modo de vida por meio de novas atitudes, sempre
pensando na qualidade de vida e preservação do meio ambiente para das futu-
ras gerações (CARVALHO, 2004).
Meio ambiente conforme a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 | TEMA 4 151

Figura 1 – Educação ambiental não formal

©Sergiy Bykhunenko
Fonte: 123RF.

A educação não formal também nos leva a refletir sobre os movimentos sociais
e ONG voltados à sustentabilidade e educação ambiental. Quando foram cria-
dos, os movimentos sociais e ONG que lutam pela natureza, eram vistos como
ativistas ambientais ou até mesmo como aproveitadores. Até hoje ainda existe
esse pensamento, porém com menor intensidade do que em tempos passados.

É verdade que, infelizmente, algumas dessas entidades são criadas ou têm sua
finalidade redirecionada para a lavagem de dinheiro da corrupção e outros cri-
mes, mas, na grande maioria, são organizações sérias que atuam com ética den-
tro de seus objetivos (LOUREIRO, 2004).

A educação ambiental ganhou forças após a Rio 92 e tornou-se uma


importante ferramenta de aprendizagem, além disso, percebeu-se
a necessidade de ir além da escola e compartilhar o conteúdo com a
sociedade em geral, por meio de ações e atividades organizadas pelo
poder público, universidades, ONG e movimentos sociais, em áreas
públicas, parques e centros comunitários (LIMA, 2006).

Porém, não é tão simples organizar uma ação de educação ambiental em am-
biente não formal. Segundo os autores Pádua, Tabanez e Souza (1999) e Toro e
Werneck (1997), é necessário que seja feito um planejamento para a execução de
programas de educação ambiental não formal, o qual pode ser composto pelas
seguintes etapas:
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• Realização de diagnóstico: deve ser feito no início do planejamento,


visando identificar os temas a serem abordados e, desse modo, formular
as ações a serem realizadas. Além disso, é importante também identificar
as características da localidade onde se pretende realizar o evento.
• Planejamento e execução do programa educacional a ser reali-
zado: é preciso planejar um programa de educação ambiental não formal,
estabelecer prioridades, atitudes e formas de ação, e os seguintes critérios
devem ser observados: público-alvo, conteúdo abordado, adaptação da lin-
guagem e estratégias de acordo com o público-alvo, desenvolvimento das
estratégias para alcançar o objetivo, estabelecimento de parcerias para
execução da ação e elaboração de um cronograma para a execução das
atividades.
• Avaliação dos resultados para aperfeiçoamento do trabalho:
após a realização da ação educativa, é imprescindível que seja feita uma
avaliação, na qual se apresente a finalidade de se corrigir os possíveis er-
ros de estratégia e possibilidade de estabelecer novas metodologias, me-
lhorando o programa para as necessidades do público-alvo.
Figura 2 – Educação ambiental fora da sala de aula

©rawpixel

Fonte: 123RF.

Assim, percebemos que o que mais importa dentro de um programa


de educação ambiental realizado em ambiente não formal é termos uma
previsão dos resultados esperados, ou seja, resultados que propiciem
realmente uma mudança de valores, atitudes e comportamentos que
levem o ser humano a se tornar um cidadão consciente e responsável
ambiental, social e politicamente.
Meio ambiente conforme a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 | TEMA 4 153

Precisamos entender que a eficiente aplicação da educação ambiental é uma


urgência, pois a sobrevivência do ser humano na Terra está ligada à preservação
ambiental, sendo assim, é preciso mencionar que o Tratado de Educação Am-
biental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global elencou alguns
princípios importantes a serem considerados, sendo eles:

• Todos têm direito à educação de qualidade, pois somos todos aprendizes


e educadores.
• A educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador,
em qualquer tempo ou lugar, em seu modo formal, não formal e informal,
promovendo a transformação e a construção da sociedade.
• A educação ambiental é individual e coletiva e tem o propósito de formar
cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a autodetermi-
nação dos povos e a soberania das nações.
• A educação ambiental não é neutra, mas ideológica, sendo, portanto, um
ato político.
• A educação ambiental deve envolver uma perspectiva holística, enfocando
a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdis-
ciplinar.
• A educação ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e o res-
peito aos direitos humanos.
• A educação ambiental deve tratar das questões globais críticas, suas cau-
sas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social
e histórico, uma vez que existem aspectos primordiais relacionados ao de-
senvolvimento e ao meio ambiente, tais como população, saúde, paz, direi-
tos humanos, democracia, fome, degradação da flora e fauna que devem
ser abordados dessa maneira.
• A educação ambiental deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos
processos de decisão em todos os níveis e etapas.
• A educação ambiental deve recuperar, reconhecer, respeitar, refletir e uti-
lizar a história indígena e culturas locais, assim como promover a diversi-
dade cultural, linguística e ecológica.
• A educação ambiental deve estimular e potencializar o poder das diversas
populações, promovendo oportunidades para as mudanças democráticas
de base que estimulem os setores populares da sociedade.
• A educação ambiental deve valorizar as diferentes formas de conhecimen-
to que deve ser diversificado, acumulado e produzido socialmente, não de-
vendo ser patenteado ou monopolizado.
• A educação ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas a tra-
balharem conflitos de maneira justa e humana.
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• A educação ambiental deve promover a cooperação e o diálogo entre in-


divíduos e instituições, com a finalidade de criar novos modos de vida,
baseados em atender às necessidades básicas de todos, sem distinções ét-
nicas, físicas, de gênero, idade, religião ou classe.
• A educação ambiental requer a democratização dos meios de comunicação
de massa e seu comprometimento com os interesses de todos os setores da
sociedade.
• A educação ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, ati-
tudes e ações. Deve converter cada oportunidade em experiências educa-
tivas de sociedades sustentáveis.
• A educação ambiental deve ajudar a desenvolver uma consciência ética
sobre todas as formas de vida com as quais compartilhamos este Planeta,
bem como respeitar seus ciclos vitais e impor limites à exploração dessas
formas de vida pelos seres humanos (TEASSRG, 1992).
Todos esses princípios servem como norteadores da cidadania para a qualidade
de vida das pessoas e, do mesmo modo, para a qualidade ambiental. Princípios,
que se forem seguidos, transformarão o mundo em um lugar perfeito e equi-
librado, porém, quando pensamos na atual realidade da sociedade mundial,
devemos questionar: Será possível alcançarmos esse mundo ideal algum dia?

Figura 3 – Educação ambiental: consciência ética sobre todas as formas de vida


©Dmytro

Fonte: 123RF.

Agora que entendemos um pouco sobre a educação ambiental em ambientes


não formais, podemos abordar sobre o ecoturismo, uma prática bastante inte-
ressante de contato com a natureza. Vamos lá!
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4.3.1 Ecoturismo
Atualmente, o ecoturismo é uma atividade que tem se tornado muito comum
e procurada pela sociedade. Para aqueles que pensam em fugir da correria, do
estresse e da poluição das grandes ou até mesmo pequenas cidades, essa práti-
ca que busca por ambientes preservados, com muito verde, sem poluição, com
atividades ao ar livre e contato direto com a natureza, é uma ótima opção de
lazer e aprendizado.

Ao considerarmos a definição da Sociedade Internacional de Ecoturismo (TIES


ou The International Ecoturism Society), entendemos que o ecoturismo é:

[...] segmento de atividade turística que utiliza, de forma sus-


tentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conser-
vação e busca a formação de uma consciência ambientalista
através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-es-
tar das populações envolvidas (O ECO, 2015, on-line).

Perceba que o ecoturismo promove a conscientização ecológica daqueles que


buscam a natureza e, além disso, se torna importante também ao fazer contri-
buições positivas significativas de ordem social, cultural e econômica às locali-
dades e às comunidades próximas ao ponto turístico, pois, por meio do ecotu-
rismo, vários incentivos econômicos eficazes são destinados para a conservação
e valorização da diversidade biológica e cultural, ajudando, inclusive, a proteger
o patrimônio natural e cultural ao redor do mundo.

Figura 4 - Caminhadas em meio à mata são uma das formas de ecoturismo mais procuradas
©vvvita

Fonte: 123RF.
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Essa prática é importante, pois, segundo dados, o turismo ecológico ou ecotu-


rismo é hoje o segmento turístico que mais cresce (de 15% a 25% ao ano), tendo
como lucro anual, a nível mundial, uma estimativa de US$260 bilhões e destes
US$70 milhões pertencem ao Brasil (ECO, 2015).

É interessante sabermos que os polos de ecoturismo apresentam atrativos na-


turais e culturais de interesse ecológico e têm prioridade dos investimentos do
poder público, os quais têm como objetivo o desenvolvimento da atividade tu-
rística, pois o turismo proporciona o crescimento da localidade mediante o en-
volvimento das comunidades locais, da conservação da natureza, da melhoria
na infraestrutura e geração de empregos.

O ecoturismo capacita os cidadãos que habitam na região turística a


alcançarem o desenvolvimento sustentável, incentivando a prática de
ações sustentáveis pelas empresas de turismo ecológico.

Com isso, a oferta turística do ecoturismo, além dos serviços de hospedagem,


inclui, também, atividades na natureza que permitem a integração do visitante
com o ambiente natural. Ou seja, são várias as atividades que podem ser pro-
porcionadas ao turista nessas localidades, como, por exemplo, a observação da
fauna e da flora, formações geológicas, espeleoturismo (visitas a cavernas), ob-
servação astronômica, mergulho livre, caminhadas, trilhas, safáris fotográficos
etc.

Figura 5 – Ecoturismo proporciona à família o contato direto com a natureza


©Cathy Yeulet

Fonte: 123RF.
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Sair do ambiente onde se vive, como as grandes cidades, que normalmente são
ambientes cinza, carregados de concreto e poluição, onde o dia a dia é dedicado
ao trabalho, estudo e congestionamento, que são fatores que geram estresse
e cansaço, para então conhecer um ambiente limpo, verde, cheio de vida por
todos os lados, faz com que o indivíduo repense seu modo de vida, reveja seus
valores e se conscientize de que muitas coisas que são feitas no cotidiano são
prejudiciais àquele ambiente preservado e à sua própria saúde física e mental
(NEIMAN, 2015).

O Brasil é reconhecido internacionalmente por fatores que o


distinguem como país de maior potencialidade para o desenvolvimento
do ecoturismo. Conheça mais em: http://revistaecoturismo.com.br/
turismo-sustentabilidade/turismo/ecoturismo/.

O contato direto com a natureza gera questionamentos sobre o nosso papel no


mundo, desde o surgimento da nossa espécie até os dias atuais. Por isso, de-
vemos nos questionar sobre o que fizemos de errado para chegarmos à atual
situação ambiental em que vivemos. E o que podemos fazer para recuperarmos
a saúde ambiental? Estas são questões sobre as quais precisamos refletir para
percebermos tudo aquilo que estamos fazendo de errado e, assim, partirmos na
procura por resoluções a curto, médio e longo prazos, que visem à preservação,
recuperação e proteção ambiental, protegendo, dessa forma, a permanência da
espécie humana na Terra.

LEITURA COMPLEMENTAR
Para conhecer mais sobre atividades realizadas na natureza, leia o capítulo
“As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e
terrestres” do livro “Recreação e lazer”, de Patrick da Silveira Gonçalves,
Salma Stéphany Soleman Hernandez e Rafael Nichele Roncoli. Este livro
está disponível na Biblioteca Virtual da Univel (Biblioteca a).

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Tratado de Educação Ambiental Para
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/teassrg.pdf. Acesso em: 01 dez.
2020.
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__________. Lei nº 9.795, de 27 de abril, de 1999. Dispõe sobre a


educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá
outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L9795.htm. Acesso em: 01 dez. 2020.

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico.


São Paulo: Cortez, 2004.

ECOTURISMO – Turismo e energias renováveis. Ecoturismo. Disponível


em: http://revistaecoturismo.com.br/turismo-sustentabilidade/turismo/eco-
turismo/. Acesso em: 01 dez. 2020.

GONÇALVEZ, P. S.; HERNANDEZ, S. S. S.; RONCOLI, R. N. Recreação e


lazer. Porto alegre: SAGAH, 2018

LIMA, A. Do universo das redes às redes de educação ambiental,


potencialidades e limitações da rede sul brasileira de educação
ambiental: REASul. 2006. 161 p. Dissertação (Mestrado em Educação Am-
biental) Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, 2006.

LOUREIRO, C. F. B. Trajetória e fundamentos da educação ambien-


tal. São Paulo: Cortez, 2004.

NEIMAN, Z. Ecoturismo em unidades de conservação como estraté-


gia para a educação ambiental. Disponível em: http://www.anppas.org.
br/encontro_anual/encontro2/GT/GT15/zysman_neiman.pdf. Acesso em: 01
dez. 2020.

O ECO. O que é Ecoturismo? 2015. Disponível em: https://www.oeco.org.


br/dicionario-ambiental/28936-o-que-e-ecoturismo/. Acesso em: 01 dez.
2020.

PADUA, S. M.; TABANEZ, M. F.; SOUZA. M. G. O papel da educação


ambiental e da participação comunitária na conservação de áreas
naturais. Ação Ambiental, Viçosa, v. 2, n. 8, p. 8-11, 1999.

TORO, J. B.; WERNECK, N. M. D. Mobilização Social: um modelo de cons-


truir a democracia e a participação. Brasília: ABEAS UNICEF, 1997.

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