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A Segurança Privada no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução

Book · September 2020

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Eduardo Ribeiro Ignacio Cano


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A Segurança Privada no Rio de Janeiro Fundação Heinrich Böll
e no Brasil: tamanho e evolução Rua da Glória, 190/701 – Glória
Rio de Janeiro - RJ – Brasil
Autores: CEP 20.241-180
Robson Rodrigues +55 21 3221 9900
Eduardo Ribeiro info@br.boell.org
Ignacio Cano www.br.boell.org

Pesquisadores:
Renato Dirk
Lucas Roberto Laboratório de Análise
Pedro Aguiar (Graphisme) da Violência / Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Revisão Rua São Francisco Xavier, 524, 9º
Marilene de Paula andar, bloco F, sala 9103
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Projeto gráfico e diagramação: CEP 20550-900
Beto Paixão +55 21 2334-0944
fb.com/bpstudiodesign lav@uerj.br
betopaixao.jf@gmail.com www.lav.uerj.br

Licença CC BY-NC-AS 4.0


https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.pt_BR

R696s
Rodrigues, Robson
A segurança privada no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução.
Robson Rodrigues, Eduardo Ribeiro, Ignacio Cano. – Rio de Janeiro :
Fundação Heinrich Böll, 2019.
75 p.

ISBN 978-85-62669-33-0

1. Segurança privada - Brasil. 2. Segurança privada – Rio de Janeiro


(Estado). 3. Segurança pública. I. Ribeiro, Eduardo. II. Cano, Ignacio.
III. Título.

CDD 363.10981
PREFÁCIO

A América Latina é o continente mais desigual na distribui-


ção de riquezas e renda no mundo. É um continente marca-
do pela política de elites que se perpetuam no poder, mas
também de muitas lutas sociais, desafiando em ciclos cons-
tantes essas elites. Todo o continente é formalmente demo-
crático. Há eleições livres, divisão de poderes e liberdade de
imprensa. Formalmente. Mas quanta democracia realmente
se encontra nesses diferentes países quando se olha mais de
perto? As políticas realizadas, as leis e decretos beneficiam
a quem? Quem controla os meios de comunicação, quanto
de política se encontra no sistema de Justiça? Os sistemas
de educação formam realmente cidadãs e cidadãos capazes
de monitorar as instituições estatais? E quem controla a eco-
nomia, quem controla as armas? Como se incentiva de fato
a mobilidade social? Como fortalecer uma participação mais
ampla dos setores populares na sociedade como um todo?

O Brasil tem incentivado vários desses aspectos ao longo das


últimas décadas, mesmo assim, há alguns anos o jogo de-
mocrático parece de novo favorecer completamente as elites
excludentes de antes, com um desmonte institucional e es-
trutural nas áreas sociais que buscavam ampliar a igualdade,
acessos e justiça. Como foi possível que o jogo tenha virado
dessa forma tão rapidamente? Quais são as estruturas de po-
der que se mantiveram e cresceram? São perguntas a serem
respondidas ao longo dos próximos anos e pesquisas.

Outro aspecto importante que marca a situação no mundo


e na América Latina desde a queda do muro de Berlim, em
1989: com a crescente globalização e o triunfo do neolibe-
ralismo, cresceram também estruturas ilegais em dimensões
pouco conhecidas anteriormente. Com vazios de poder pela
queda do socialismo, aproveitando lacunas nas regulamen-
tações entre um país e outro na globalização e quantidades
incontroláveis de mercadoria movidas entre os países por
um estado só, se estabeleceram redes e organizações que
se aproveitaram dessas lacunas e cresceram tanto como um
negócio, como quanto uma política que atua na linha tênue
(já não tão fina) entre o legal e o ilegal. Com os anos, estas
redes e estruturas estão formando um verdadeiro poder nos
Estados. Influenciam a política e a economia com o único
objetivo de obter lucro para eles mesmos. Não têm nenhuma
noção de sociedade, não pagam impostos, não dependem
de votos. Geralmente geram estruturas autoritárias para se
manter no poder dentro das democracias, na América Lati-
na e também no Brasil.

Achamos que para lidar com esse fenômeno, é importante


entender bem mais como funcionam essas redes e estruturas.
É difícil, porque o acesso a dados é limitado, incerto e muitas
vezes perigoso. Temos que aprender a fazer novas pergun-
tas, novas aproximações, conviver também com frustrações,
quando às vezes não se consegue o resultado desejado. Mas
vale a pena tentar. Mesmo que os passos sejam pequenos e
às vezes muito lentos.

Os esforços do jornalismo investigativo têm nos revelado


estruturas poderosas, crimes e ligações insuspeitadas. Mas
queremos também acompanhar os temas a partir de peque-
nas análises acadêmicas, que possam conectar abordagens
mais amplas e históricas sobre os fenômenos.

Um setor, no qual – assim achamos – poderíamos encontrar


muitas confluências de poderes legais e turvos é o setor da
segurança privada. A pesquisa “Segurança privada no Rio
de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução”, de Robson Ro-
drigues, Eduardo Ribeiro e Ignacio Cano nos trazem algumas
pistas. No Brasil, existem pouquíssimos estudos sobre segu-
rança privada. A falta de transparência nos dados, as dificul-
dades de mensuração fase a um mercado em que ilegalidade
é um dos fatores, o controle insuficiente dos órgãos respon-
sáveis criam zonas cinzentas. Os autores cruzam dados de
diferentes fontes para traçar um perfil do campo da seguran-
ça privada no país, tentando responder à percepção geral de
que no campo da segurança privada há um crescimento sig-
nificativamente superior ao da segurança pública, colocando
em questão o monopólio estatal sobre a violência legítima.
Esse movimento de privatização da segurança se constata
no aumento do número de atores, individuais ou coletivos,
que exercem algum tipo de controle social coercitivo fora do
aparato burocrático do Estado.

Aqueles que podem pagar empresas legalizadas estarão si-


tiados (por sua própria escolha) em seus condomínios? Os
pobres continuarão sujeitos à extorsão e todo tipo de violên-
cia de grupos criminosos que supostamente eles dão segu-
rança, como as milícias no Rio de Janeiro?

Urge sabermos mais sobre esse setor e talvez depois da leitu-


ra vamos aprender que devemos nos fazer novas perguntas.

Annette von Schönfeld


Diretora Fundação Heinrich Böll – Rio de Janeiro

Marilene de Paula
Coordenadora de Programas
Fundação Heinrich Böll - Rio de Janeiro
SUMÁRIO
1. A segurança privada no Brasil e no mundo 7

2. Objetivos da Pesquisa 12

3. Os marcos regulatórios da segurança privada no Brasil 14

4. Fontes de Dados 16
4.1. Escolha das fontes 19
4.2. Descrição das fontes de dados utilizada 22
4.2.1 Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 22
4.2.2 Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) 23
4.2.3 Departamento de Polícia Federal 23
4.2.4 Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública 23
4.2.5 PNAD e PNAD Contínua 24

5. Definições e classificações
sobre segurança privada e pública 25
5.1. Sistemas de classificação
de ocupação e atividade econômica 27
5.2. Definições de segurança pr vada
e pública nos sistemas de classificação 28

6. Dimensionamento da Segurança
Privada no Rio de Janeiro 37

7. Dimensionamento e distribuição
da Segurança Privada no Brasil 44

8. Evolução da Segurança Privada no Rio de Janeiro e Brasil 51

9. Comparações entre os setores


de segurança Privada e Pública 57
9.1 Comparação entre a segurança
privada e a pública no Rio de Janeiro 59
9.2 Comparação entre a segurança
privada e a pública no Brasil 63

Considerações finais: a privatização


da segurança no RJ e no Brasil 66

Referências Bibliográficas 71

ANEXO I: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CBO E DA CNAE 73


1

A SEGURANÇA
PRIVADA NO
BRASIL E NO
MUNDO
Nas últimas décadas, alguns estudos têm ticamente todos os países desenvolvidos
alertado para o crescimento da seguran- do mundo ocidental (SHEARING, 2003,
ça privada no Brasil, a exemplo do que p.437), mesmo naqueles com um policia-
já vinha ocorrendo em outros países. Se- mento mais centralizado, como é o caso
gundo boa parte da literatura internacio- da França (OCQUETEAU, 1997) e da Es-
nal, essa é uma tendência que vem trans- panha (TORRENTES, 2016).
formando rapidamente a configuração

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


Mais recentemente, essa tendência foi
dos sistemas de controle social em várias
verificada também em jovens democra-
partes do planeta.
cias periféricas, com menos tradição na
Como uma “revolução silenciosa”, tais produção de dados e pesquisas sistemá-
mudanças foram inicialmente detectadas ticas, como na América Latina (ARIAS,
nos Estados Unidos, na década de 1970, 2009; PAZ, 2014) e na África (IRISH, 1999;
em estatísticas que revelaram um surpre- HIGATE, & UTAS, 2017), o que sugere um
endente crescimento no número de em- movimento global de privatização da se-
pregados em empresas privadas de segu- gurança (SHEARING & STENNING 1981;
rança. Na época, o setor apresentou uma ABRAHAMSEM & WILLIANS, 2011). Em
taxa média anual de crescimento quase praticamente todas as sociedades con-
duas vezes superior à do aumento ocor- temporâneas, o número de atores, indivi-
rido no número de policiais e guardas duais ou coletivos, exercendo algum tipo
estatais (SHEARING & STENNING, 1981). de controle social coercitivo fora do apa-
Logo em seguida, pesquisas no Canadá e rato burocrático do Estado tem aumen-
Reino Unido também revelaram padrões tado, o que não chega a ser novidade na
similares, com crescimento às vezes não história da humanidade, já que diferentes
tão rápido, mas na mesma direção, isto é, formas de proteção privada coexistiram
sempre com taxas maiores do que as da antes, durante ou mesmo após a emer-
segurança pública. De lá para cá, o movi- gência do Estado. No entanto, a literatura
7

mento revelou-se uma tendência em pra- especializada aponta que esse é o maior
movimento centrífugo de meios coerciti- da sociedade civil, notadamente o setor
vos no período posterior à assunção do econômico, como a saída para os proble-
policiamento por parte do Estado, com o mas da segurança pública que, segundo
nascimento da polícia moderna no século ele, se agravarão em um futuro próximo,
XIX (JOHNSTON, 1992; SHEARING, 2003; com o consequente esgotamento dos re-
REINER, 2004; MONJARDET, 2003; MO- cursos do Estado diante do aumento do
NET; 2001; BAYLEY, 2002). crime patrimonial. Não obstante reco-
nhecer o risco de, nesses arranjos, os par-
Embora essa expansão da segurança pri-
ceiros com maior poder econômico virem
vada suscite importantes questões sobre
a conduzir a política pública, definindo e
o Estado e sua relação com a sociedade
mantendo seletivamente a ordem a seu
civil, ela ainda tem sido pouco estudada.
favor em detrimento do interesse públi-
Mesmo nos EUA, onde tal expansão vem
co, Bayley observa que a desoneração
sendo pesquisada há mais tempo, os da-
do Estado de parte significativa de suas
dos ainda são dispersos. Muito em razão
atribuições originárias permitirá à polí-
de tais lacunas, há mais especulações so-
cia se concentrar em áreas mais pobres
bre o tema do que pesquisas empíricas
e menos atendidas atualmente (BAYLEY,
sistematizadas, o que gera diferentes ex-
2002, p.230).
pectativas sobre seus possíveis impactos.
As mais pessimistas o veem como amea- Por outro lado, argumenta-se que tais
ça à soberania do Estado, o que gera des- mudanças possam representar ameaças
confianças sobre sua real capacidade de concretas à soberania do Estado, se elas
prover a segurança de seus cidadãos de comprometerem a sua pretensão ao mo-
forma democrática. As mais otimistas o nopólio legítimo da força física ou se per-
veem como o efeito de inescapáveis pro- mitirem a terceiros exercer efetivamente
cessos mais amplos de mudança. o controle de áreas estatais estratégicas.
Nesse sentido, a “mercantilização da se-
Nesse sentido, Shearing (2001) alega,
gurança”, orientada para fins lucrativos,
sob um olhar otimista, que, à medida

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


é notoriamente conflitante com o “inte-
que processos mais amplos de mudança
resse público” (OLIVEIRA, 2010; VILAR,
se desenvolvem, surgem novos arranjos
2009). O receio, nesse caso, é que o Es-
e parcerias entre o público e o privado
tado não seja capaz de regular essa ex-
dentro de uma nova “governança” da se-
pansão, equilibrando o jogo político para
gurança. A tais arranjos o autor chama de
proteger seus cidadãos contra eventuais
“multilateralization”1, referindo-se a um
abusos de direitos civis, além da interfe-
tipo de “governança” alinhada, inclusive,
rência privada na agenda de segurança
com filosofias modernas de policiamen-
pública (LOPES, 2011, 2015; RICARDO,
to, como a “polícia comunitária”, a “po-
2006; KAHN, 1999). Tais preocupações
lícia de proximidade” e a “polícia para a
são pertinentes, sobretudo quando há
solução de problemas”, que visam apro-
precedentes confirmando esses riscos
ximar a polícia da sociedade2.
em situações semelhantes3.
Na mesma linha, David Bayley (2002) vê
essa aproximação entre Estado e setores 3 Shearing (2003) observa tensões parecidas em estu-
dos realizados pelo Departamento de Justiça dos Es-
1 A respeito desse conceito de “governança” aplicado à tados Unidos sobre os debates políticos em torno da
segurança, em que outros atores da sociedade civil e do “revolução silenciosa” que ocorria no policiamento. Löic
setor econômico, além do Estado, conduzem a seguran- Wacquant (1997; 2001), por sua vez, faz uma crítica con-
ça coletiva de forma pluralizada, ver também Wood & tundente aos sinais de um pan-penalismo observado nas
Dupont (2006), Loader & Walker (2007), além de Shea- políticas criminais de viés neoliberal de Estados Unidos e
ring (2001). Europa, cuja “tentação penal” produzia, além dos lucros
com a mercantilização dos presídios e o encarceramen-
2 Sobre essas modalidades, ver Bayley e Skolnick (2006), to massivo, uma sistemática “criminalização da miséria”.
8

Durão (2008) e Moore (2003), por exemplo. Com uma critica semelhante à de Wacquant, Nils Cristie
Dentro dessa mesma linha, desconfia-se “vigilância e guarda” havia crescido 112%
também da capacidade do Estado para (MUSUMECI, 1988). Utilizando a mesma
defender adequadamente o interesse pú- fonte, André Zanetic atualizou as análises
blico, frente às pressões de um mercado de Musumeci com dados da PNAD 2001,
em franca expansão, que poucas vezes revelando que entre 1985 e 2001 houve
se constrange diante de mecanismos frá- um crescimento de 77 %, do pessoal ocu-
geis de controle. Casos dando conta de pado em atividades de segurança priva-
abusos e desvios seletivos da segurança da, o que, em números absolutos, repre-
pública, bem como de violação de direi- sentou um salto de 640.539 empregados,
tos civis praticados por agentes de segu- em 1985, para 1.134.113, em 2001.
rança privada, por exemplo, aumentam
No mesmo trabalho, Zanetic (2006)
ainda mais essas desconfianças.
mostrou que o número de vigilantes ca-
Além da possibilidade de violação de di- dastrados pelo Departamento de Polícia
reitos, talvez o ponto central desta dis- Federal (DPF), órgão responsável pela
cussão sobre os impactos sociais da regulamentação do setor, praticamente
segurança privada sobre a garantia do quadriplicou entre 1998 e 2004, passan-
direito à segurança pública, seja a se- do de 280.193 vigilantes, em 1998, para
letividade da segurança privada. Vista 1.148.568, em 2004, com a razão de 2,9
como nova forma de “governança” ou vigilante para cada policial em 2004 (ZA-
como “mercantilização”, a privatização NETIC, 2006).
da segurança implica um direcionamento
Em conjunto, Musumeci (1998) e Zanetic
para aqueles que possam pagá-la, o que,
(2006) confirmaram essa tendência de
no limite, pode significar a acentuação
expansão da segurança privada anterior-
da desigualdade na prestação do servi-
mente verificada em outros países, além
ço. Assim, a possibilidade de violações e
de apontar uma tendência à terceirização
abusos, que também são seletivos, pode
e especialização desses serviços. Musu-
ser vista inclusive como uma consequên-
meci (1998; p.19) observou que, enquanto

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


cia particular desse aspecto mais amplo
o pessoal ocupado nas atividades econô-
da discussão.
micas de “vigilância e guarda”, específi-
O Brasil não escapa dessa tendência, cas da segurança privada, havia crescido
tampouco dos problemas empíricos e 88,6%, entre 1985 a 1995, o pessoal ocu-
metodológicos encontrados nos outros pado em outros ramos de atividade eco-
países. A expansão da segurança priva- nômica havia crescido apenas 31%4.
da também foi percebida por aqui, com
4 Baseada na “Classificação Nacional de Atividades Eco-
mais ênfase a partir das últimas décadas nômicas - CNAE”, a PNAD define “atividade econômica”
do século passado, como nos estudos de como o ramo principal do empreendimento no qual o
trabalhador está ocupado na semana de referência, ou
Musumeci (1998) e Zanetic (2006). sua própria atividade-fim, se este for autônomo. Tam-
bém define como “ocupação” o tipo de trabalho, cargo,
Utilizando informações da antiga Pesqui- função, profissão ou ofício que ele estiver exercendo. À
sa Nacional por Amostra de Domicílios, a época dessas pesquisas, a PNAD registrava a atividade
econômica de “vigilância e guarda” utilizando o código
PNAD, aplicada pelo Instituo Brasileiro de 543. A categoria abrangia, basicamente, serviços priva-
Geografia e Estatística (IBGE), Leonarda dos de vigilância e transporte de valores. No que se refe-
re às ocupações, os vigilantes (código da ocupação 869)
Musumeci observou que, entre 1985 e e os vigias (código da ocupação 843) eram as duas ca-
1995, o pessoal ocupado na atividade de tegorias diretamente relacionadas à segurança privada.
Como apontou Musumeci (1998), em 1995, dentre o pes-
soal ocupado no setor de “vigilância e guarda” cerca de
(2017) explica a aparente contradição neoliberal entre 57% estavam ocupados como “vigilantes” e outros 23%
Estado mínimo e Estado penal máximo, no caso da pri- estavam ocupados como vigias. Os vigilantes consti-
vatização dos presídios, pela lógica mercantilista que ob- tuiam uma ocupação especializada da segurança privada
jetiva compensar as perdas de uma combalida indústria (98,7% destes estava no setor de “vigilância e guarda”),
9

bélica no pós-Guerra Fria. enquanto os vigias estavam distribuídos em outras áreas


Numa análise similar, Zanetic (2006) tos espaços públicos. Se normalmente se
mostrou que, embora o pessoal empre- sabe pouco sobre os impactos, a natureza
gado no ramo de “vigilância e guarda” e a função dessa “indústria da segurança
(independentemente da ocupação) te- privada”, menos ainda se sabe sobre essa
nha aumentado surpreendentes 112%, en- miríade de policiamentos, com fronteiras
tre 1985 e 1995, esse crescimento foi me- fluídas entre o legal e o ilegal, o oficial e
nor entre 1995 e 2001, isto é, de apenas o clandestino, o formal e o informal. Eles
43%. Por outro lado, os vigilantes e vigias são vigias de rua, agentes de segurança
ocupados em outros ramos de atividade informal, empresas clandestinas, poli-
econômica, que haviam crescido 31% en- ciais realizando o “bico” fora do horário
tre 1985 e 1995, sofreram uma redução de do serviço etc. (LOPES, 2011; ZANETIC,
8%, entre 1995 e 2001. 2010b). Assim, essa confusão de agên-
Além dessa expansão da segurança con- cias tem incrementado o que Martha Hu-
tratada, ocorre por aqui uma peculiar plu- ggins chama de “mistura invisível”, que se
ralização da segurança, evidenciada pela caracteriza pela “falta de fronteiras claras
presença cada vez maior de organizações entre o policiamento público e o ‘vigilan-
e agentes ocupados em atividades infor- tismo’ informal dos cidadãos” (HUGGINS,
mais, não registradas, que escapam mui- 2010, p.547).
to facilmente ao controle formal exercido Nesse sentido, mercados informais, clan-
pelo Estado. Nesse sentido, uma “frouxa” destinos e muitas vezes ilícitos, têm proli-
estrutura regulatória, as fragilidades dos ferado nas oportunidades oferecidas por
sistemas de justiça criminal, os altos ín- peculiaridades locais, ampliando, assim, o
dices de criminalidade e violência, mais significado da “mercantilização da segu-
essa vigorosa e pouco nítida pluralidade
rança”, utilizada por Vilar em suas análi-
de atores mantendo o controle social de
ses sobre a expansão do mercado formal
forma coercitiva no espaço público, são
da segurança privada (cf. VILAR, 2009).
fatores que incrementam essa zona cin-

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


zenta de invisibilidade social. Com isso, aumentam as preocupações
com as violações de direitos humanos,
De um lado, existem atores privados re-
o que têm sido um problema recorrente
conhecidamente ilegais, como as “mi-
na polícia brasileira e pode se agravar no
lícias”5 no Rio de Janeiro, que impõem
caso de atividades com acesso ao recur-
coercitivamente uma certa ordem aos
so da violência e sob um frágil controle
seus ‘clientes’ por meio da força e do ter-
estatal (SILVA, 1992; HERINGER,1992). Al-
ror em áreas populares e degradadas. De
guns autores apontam ainda uma forma
outro lado, há segurança privada formal-
característica de o Estado brasileiro re-
mente ofertada por empresas legais que
são contratadas pelos clientes desse ser- forçar desigualdades e injustiças sociais
viço. No meio, há de fato uma área cin- na prestação de seus serviços e políticas
zenta entre o formal e o informal, entre a públicas, o que inclui as de segurança
imposição e a contratação, embaçando a pública. Dentro dessa perspectiva, o re-
configuração do controle social em mui- ceio é que a segurança privada, necessa-
riamente seletiva, acirre esses conflitos,
de atividade econômica (como comércio, indústria, ad-
ministração pública etc.). Apenas 15% dos vigias estava
incentivando ainda mais as formas de
no setor de “vigilância e guarda”. segurança privada informal e clandestina
5 Apesar de mais definíveis dentro dessa miríade de ato- (CALDEIRA, 2011 PAIXÃO, 1991).
res, as milícias são grupos formados, em sua maioria, por
agentes do próprio Estado que se especializaram em Portanto, lançar luz sobre tema de tama-
mercados coativos de baixa visibilidade. Para melhor en-
nha relevância, porém pouco estudado,
10

tendimento dessa atividade criminosa, ver Cano (2008)


e Cano & Duarte (2012). sobretudo no Brasil, pode contribuir fun-
damentalmente não só para o aprimora- Esse estudo se propõe a conhecer o al-
mento de seu controle social, como para o cance e a evolução da segurança privada
desenho de políticas públicas de seguran- no Rio de Janeiro e no Brasil, comple-
ça mais eficientes. Políticas que melhorem mentando estudos quantitativos anterio-
a regulação da atividade da segurança res e contribuindo para o preenchimen-
privada no Rio de Janeiro e no Brasil to das lacunas existentes. Para tanto, o
Toda atividade com possibilidade de uso estudo explora as fontes de informação
da força letal, mesmo que autorizada pelo sobre segurança privada no país e suas
poder público, oferece, em alguma medi- limitações, e discorre sobre as dificulda-
da, riscos para a sociedade civil e para os des para a sua obtenção e a consequente
próprios integrantes das organizações. elaboração de estudos sobre este tema.

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


11
2

OBJETIVOS
DA PESQUISA
A pesquisa teve como objetivo geral co- 6. Levantar os marcos regulatórios
nhecer a atividade de segurança privada da segurança privada no Brasil.
no Brasil, mas com particular atenção no Assim, para além do objetivo principal do
Rio de Janeiro, observando por um lado, estudo, o dimensionamento do setor de
suas normativas e estruturas e, por outro segurança privada, existia a intenção de
lado, seu alcance e evolução. Nesse últi- levantar um leque mais amplo de dados.
mo caso, pretendia-se dimensionar a ati- Estes deveriam nos informar, por exem-
vidade de segurança privada a partir das plo, sobre o montante das armas e mu-
fontes oficiais, utilizando tanto registros nições controladas pelo setor, expressan-
administrativos quanto pesquisas popula- do sua capacidade de uso da força letal;
cionais por amostragem. A pesquisa pos- também sobre o tamanho do mercado,
suía os seguintes objetivos específicos: com dados como o montante do capital

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


1. Levantar dados sobre a atividade social e o faturamento estimado do setor,
de segurança privada no Rio de entre outros.
Janeiro, a partir das fontes oficiais, Contudo, o trabalho de obtenção e pro-
visando conhecer seu tamanho; cessamento de dados sobre os efetivos
2. Estimar o número de vigilantes do setor de segurança privada foi bas-
e guardas envolvidos nessas tante difícil6, de modo que, mesmo nossa
atividades; tarefa primeira, o dimensionamento do
setor, tornou-se um exercício complexo
3. Dimensionar o tamanho de comparação e contraposição de dife-
do mercado, o número de rentes fontes. Por conta disso, optou-se
empresas registradas, o número por uma abordagem mais restrita quanto
de funcionários registrados, o ao escopo, visando obter estimativas ra-
montante do capital social, os lucros zoavelmente confiáveis para o tamanho e
declarados etc.; a evolução do setor, e refletindo também
4. Estimar a evolução tanto dos os problemas e as limitações dessas fon-
agentes da segurança privada tes de dados.
quanto das empresas ao longo dos Problemas semelhantes, de acesso e li-
últimos anos; mitações na qualidade dos dados, ocor-
5. Comparar a segurança privada reram com outros pesquisadores que es-
12

legal com a pública; 6 Ver seção 4, sobre as fon4.tes de dados.


tudaram o tema em outros países, como Apesar da citada redução de escopo,
a literatura especializada tem observado. avaliamos que este estudo traz contri-
No entanto, nos parece científica e so- buições importantes ao discutir compa-
cialmente relevante descrever como tais rativamente o uso das fontes e atualizar
problemas ocorrem no contexto brasilei- estatísticas apresentadas em trabalhos
ro, sobretudo no que se refere aos dados acadêmicos anteriores, realizados há
oficiais e suas fontes. mais de 10 anos.

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


13
3

OS MARCOS
REGULATÓRIOS
DA SEGURANÇA
PRIVADA NO BRASIL
A atividade de segurança privada no Brasil cia já executava nas agências financeiras
foi oficialmente instituída em plena ditadura públicas8, passou a ser exigida em todas
militar, enquanto atividade formal e autori- as agências bancárias privadas: a “segu-
zada pelo Estado, através do decreto-lei fe- rança ostensiva privada”9.
deral N°. 1.034 de 1969, que obrigava toda Assim, a segurança privada nasce ofi-
instituição financeira privada a contratar fir- cialmente no Brasil de mãos dadas com
mas de segurança para a proteção de seus

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


o Estado, para assegurar a ordem nacio-
estabelecimentos. A normativa mantinha nal em auxílio à segurança pública que,
com a Polícia Militar a responsabilidade pelo naquele momento, voltava-se à defesa
policiamento dos bancos públicos. do Estado.
O objetivo era conter a onda de assaltos a Nos anos seguintes, a fiscalização do se-
banco que ocorria naquele momento e cuja tor tornou-se objeto de disputas entre os
autoria o governo atribuía a grupos subver- governos federal e estaduais. No Rio de
sivos em busca de recursos para suas ações Janeiro, por exemplo, uma lei estadual
políticas. Com a medida, os agentes de se- criava, em 1976, a Divisão de Segurança
gurança privada passaram a ter uma atua- de Órgãos e Sistemas – DSOS, vinculada
ção complementar à segurança do Estado, à Secretaria Estadual de Segurança Pú-
num momento em que os roubos a banco, blica, estabelecendo uma série de nor-
independentemente de qualquer vincula- mas para o funcionamento das empresas
ção política, foram enquadrados na Lei de privadas10.
Segurança Nacional (HERINGER, 1992; SIL-
VA, 1992; HERINGER e CORTES, 2002). 8 Atualmente todas as agências bancárias públicas e pri-
vadas contam com serviço privado de segurança. Sobre
Nesse contexto em que a polícia já havia a discussão: segurança privada complementar ou suple-
mentar à polícia, ver Heringer (1992) e Antunes (2001).
se tornado “instrumento político de ma-
9 A segurança privada foi denominada, de início, segu-
nutenção do regime”7, uma nova forma rança ostensiva, ver SILVA (1992).
de fazer segurança, análoga à que a polí-
14

10 Inclusive, com relação à participação de agentes de


7 Ver, nesse sentido, Ferreira (1996). segurança pública na segurança privada, que agora era
Na medida em que aumentavam as de- O artigo 3º da Portaria 3.233 regulamen-
núncias de irregularidades, principal- ta uma série de procedimentos operacio-
mente relativas à existência de empresas nais de vistoria e fiscalização, adotados
clandestinas, tais disputas se acirravam. pelas Delegacias de Controle de seguran-
Nesse contexto, o Ministério da Justi- ça privada – DELESP, como unidades res-
ça começa a produzir um discurso de ponsáveis pela fiscalização da segurança
normatização, que sugeria avocar a res- privada nos estados.
ponsabilidade pela fiscalização do setor,
No entanto, todos esses mecanismos
gerando paralelamente resistências de
têm sido considerados precários para o
setores dentro do próprio governo, arti-
controle adequado de um setor que se
culados a militares reformados e políticos
expande muito rapidamente (MUSUME-
donos de empresas (HERINGER, 1992).
CI, 1998; RICARDO, 2009; LOPES, 2011).
Desta forma, o controle e a fiscalização Nesse sentido, alguns problemas têm
das empresas foram considerados atri- sido apontados por pesquisadores ao
buição estadual até 1983 (HERINGER, longo dos anos, dentre os quais, a falta
1992), quando enfim foi criada a Lei N°. de tecnologia de informação e de dados
7.102/83, com a finalidade de estabelecer adequadamente sistematizados (MUNIZ
normas para a autorização de funciona- e ZACCHI, 2005). Mas, o que mais se
mento no setor financeiro, centralizan- destaca é a falta de recursos humanos e
do o controle e a fiscalização no âmbito materiais para a fiscalização e o controle
federal (HERINGER, op. cit.; SILVA, 1992; da atividade em todo o país, o que têm
HERINGER e CORTES, 2003). levado a transferência parcial da respon-
sabilidade pela fiscalização aos estados,
Atualmente, a atividade de seguran-
mediante convênios ou acordos infor-
ça privada é regulada no Brasil pela Lei
mais com as polícias estaduais para que
Federal Nº 7.102 de 1983 e pela Portaria
estas últimas desempenhem, de fato, a
Nº 3.233 de 2012, do Departamento de
tarefa (MUNIZ e ZACCHI, 2005, apud RI-
Polícia Federal (DPF). Esta última outor-

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


CARDO, 2009, p. 58).
ga a essa atividade um caráter comple-
mentar à segurança pública. O controle Finalmente, o problema é ainda agrava-
é exercido pela Polícia Federal, por meio do por uma “mistura invisível” de ativi-
de uma detalhada estrutura de órgãos dades envolvendo agentes públicos que
especializados em diversos assuntos, operam ao largo desse controle formal,
órgãos ligados à Coordenadoria Geral de todavia, ineficiente do Estado (HUGGINS,
Controle de Segurança Privada (CGCSP). 1999; LOPES, 2011). Dentre essas ativi-
Tais assuntos vão desde a qualificação e dades, muitas vezes estão empresas re-
o treinamento do pessoal empregado até gistradas oficialmente como fornecedo-
o controle do armamento mantido pelas ras de segurança privada, nos cartórios
empresas de segurança privada, passan- e juntas comerciais de seus respectivos
do obviamente pelo registro e o cadas- estados, bem como na Relação Anual de
tramento delas. Informações Sociais (RAIS) do Ministério
oficialmente incentivada pelo Estado. Nesse sentido,
do Trabalho e Emprego (MTE), mas que
a portaria E-0129/76, do governo do estado do Rio de não constam nos cadastros da Polícia
Janeiro, entre várias medidas relacionadas à segurança Federal, o que significa que os registros
privada, obrigava as empresas a terem pelo menos um
oficial militar superior em sua direção, alegando que, da PF revelam apenas parte da dimensão
desta forma, seria possível controlar a formação técnica desse problema.
do vigilante. A medida vigoraria até 1983, quando as res-
ponsabilidades reguladoras sobre o setor foram transfe-
ridas, por lei, à União. Atualmente, não há mais nenhuma
15

prescrição legal obrigando essa participação de milita-


res, porém essa prática ainda tem permanecido.
4

FONTES
DE DADOS
Para dimensionar o tamanho do setor ça, como no caso do Departamento
de segurança privada no Rio de Janei- da Polícia Federal, a partir de sua Co-
ro e no Brasil, avaliar sua evolução e ordenação Geral de Controle de Se-
realizar comparações com os núme- gurança Privada (CGCSP), ou não es-
ros da segurança pública, uma primeira pecíficos, como no caso dos registros
tarefa consistiu em mapear as fontes da Relação Anual de Informações
que poderiam ser empregadas. Nosso Sociais (RAIS) e do Cadastro Geral
principal intuito era estimar o número de Empregados e Desempregados
de vigilantes, vigias, guardas e demais (CAGED), ambos sob a responsabili-
agentes envolvidos em atividades de dade do Ministério do Trabalho;
segurança privada. Além do quantitativo
b) pesquisas e levantamentos po-
de vigilantes, o número total de empresas
pulacionais, que também podem ser

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


registradas nas atividades relacionadas
específicos ao setor de segurança,
à segurança privada, vigilância e guarda,
como no caso da pesquisa intitulada
também deveria ser observado.
Perfil das Instituições de Segurança
Um primeiro levantamento, consideran- Pública no Brasil, consulta realizada
do pesquisas realizadas (como Musumeci, pela Secretaria Nacional de Seguran-
1998; Zanetic, 2006; FENAVIST, 2014) e o ça Pública (SENASP) do Ministério
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, da Justiça, ou levantamentos popula-
publicado desde 2007 pelo Fórum Brasi- cionais mais gerais, como aqueles re-
leiro de Segurança Pública, permitiu iden- alizados pelo IBGE, como a Pesquisa
tificar as fontes comumente utilizadas na Nacional por Amostra de Domicílios
produção de estatísticas sobre os efetivos (PNAD). Estas últimas pesquisas re-
das forças policiais e de vigilantes. gistram informação sobre ocupação
e área de atividade econômica da
Com efeito, foi possível observar que há
ocupação dos entrevistados.
fontes comuns e fontes distintas para es-
timar, respectivamente, os efetivos dos
agentes de segurança pública e privada.
A Tabela 1 traz um resumo das fontes de
Em suma, foi possível identificar dois ti-
dados passíveis de serem utilizadas no
pos principais de dados secundários:
cômputo do número de agentes dos se-
a) registros administrativos, sejam tores da segurança pública e/ou privada,
16

eles específicos ao setor de seguran- com algumas de suas caraterísticas. Al-


gumas das fontes, sejam registros ad- Pública (FBSP)11, desde 2007. O anuário
ministrativos ou pesquisas, permitem foi concebido como uma iniciativa que
a obtenção de estatísticas tanto para visava suprir a falta de informações qua-
os setores da segurança privada quan- lificadas e sistematizadas no campo da
to para a segurança pública, outras são Segurança Pública, promovendo trans-
restritas a um dos setores. Por outro parência e induzindo a melhoria da qua-
lado, a fonte pode ter como objeto de lidade dos dados. Nele são compilados,
investigação especificamente o setor da analisados e disponibilizados dados de
segurança, ou pode ter um escopo mais distintas fontes e diferentes temas. Os
geral, pesquisando uma população mais temas e fontes de dados presentes nos
ampla da qual os casos particulares rela- anuários variam ano a ano, conforme a
cionados à segurança são selecionados. agenda do FBSP e as condições de aces-
so aos dados. No caso dos efetivos da
Especificamente, as fontes de dados segurança privada, apenas o anuário de
secundários encontradas nos estudos 2016 trouxe estatísticas sobre o tema,
brasileiros realizados sobre o tema fo- publicando dados da CGCSP/DPF para
ram os registros administrativos do De- esse mesmo ano. Em relação aos efeti-
partamento de Polícia Federal (CGCSP/ vos da Segurança Pública, praticamente
PF), utilizados por Zanetic (2006) e todas as edições do anuário trazem da-
FENAVIST (2014), os registros adminis- dos, embora utilizando fontes diferen-
trativos da RAIS/MTE, presentes em Za- tes12. A Pesquisa Perfil das Instituições
netic (2006), e também as estimativas de Segurança Pública foi utilizada nos
da PNAD/IBGE, utilizadas por Musumeci anuários de 2007 a 2009, 2013 e 2014. A
(1998) e Zanetic (2006). RAIS foi utilizada nos anuários de 2010 a
Assim como a PNAD fornece dados so- 2012. A ESTADIC13 foi utilizada no anuá-
bre ocupações e ramos de atividade rio de 2015. Nos anuários de 2016 e 2017
econômica dos indivíduos pesquisados, foram realizadas consultas diretamente
às secretarias estaduais de segurança e/

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


permitindo filtrar ocupações específi-
cas, como vigilantes, por exemplo, ou- ou defesa social, ou às próprias polícias
tras pesquisas realizadas pelo IBGE têm civis e militares.
o mesmo potencial para fornecer este
tipo de dados, embora seu uso não te-
nha sido observado nos estudos identi-
ficados. Entre estas pesquisas podemos
citar a Pesquisa Mensal de Emprego
(PME) e os próprios Censos Demográ-
ficos decenais que realizam, paralela-
mente à consulta censitária, uma pes-
quisa amostral, registrando a ocupação
e a área econômica das ocupações. Re-
centemente, a PNAD Contínua substi-
tuiu tanto a PNAD quanto a PME, incor-
porando seus temas e variáveis. 11 Consultar: www.forumseguranca.org.br/atividades/anuario/
12 A última edição do anuário (de 2018) não trouxe da-
Além dos estudos acadêmicos revisa- dos sobre os efetivos das polícias civil e militar.
dos, a identificação das fontes de dados 13 A Pesquisa de Informações Básicas Estaduais – ES-
para realização do estudo incluiu con- TADIC, realizada pelo IBGE, efetua, periodicamente, um
levantamento pormenorizado de informações sobre a
sultas aos anuários estatísticos publica-
17

estrutura, a dinâmica e o funcionamento das instituições


dos pelo Fórum Brasileiro de Segurança públicas estaduais, em especial o governo do estado.
TABELA 1
Fontes de dados sobre efetivos
de segurança pública e/ou privada

SETOR DA ESCOPO TIPO DE


SEGURANÇA DA FONTE FONTE
SIGLA FONTE DE DADOS ÓRGÃO
Pop.
Setor Reg.
Público Privado em Pesq.
da Seg. Admin.
Geral

Coordenação Geral
CGCSP de Controle de DPF X X X
Segurança Privada

Pesquisa Perfil
Perfil das Instituições de SENASP X X X
Segurança Pública

Relação Anual de
RAIS MTE X X X X
Informações Sociais

Cadastro Geral
CAGED de Empregados e MTE X X X
Desempregados

Pesquisa Nacional por


PNAD IBGE X X X X
Amostra de Domicílios

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Pesquisa Mensal
PME IBGE X X X X
de Emprego

PNAD Pesquisa Nacional por


IBGE X X X X
Contínua Amostra de Domicílios

Censo Censo Demográfico IBGE X X X X

Pesquisa de
ESTADIC Informações Básicas IBGE X X X
Estaduais

Grande parte das fontes citadas anterior- fontes permitem explorar o número de
mente pode ser utilizada para conhecer o empresas registradas: o CAGED, que cor-
número de agentes registrados (vigilan- responde a um cadastro de empresas; e
tes, vigias e guardas de segurança), pois os dados da Polícia Federal, que além do
são fontes cuja unidade de análise é o in- número de vigilantes registra também o
18

divíduo. Entretanto, apenas duas destas número de empresas de vigilância.


4.1. ESCOLHA DAS FONTES das, fizemos um esforço de redução do
Considerando as fontes de dados secun- número de fontes, tomando como base
dários anteriormente, a próxima questão alguns critérios. Os primeiros critérios
metodológica a ser colocada diz respei- consistiram no acesso às bases e a dis-
to à escolha de quais seriam as melho- ponibilidade temporal desses dados. A
res fontes a serem utilizadas no trabalho. Tabela 2, a seguir, lista as fontes com os
Antes de realizarmos uma comparação respectivos anos para os quais os dados
exaustiva de todas as fontes identifica- puderam ser acessados.

TABELA 2
Fontes de dados identificadas
e anos com estatísticas disponíveis

ANOS COM
SIGLA FONTE DE DADOS ESTATÍSTICAS
DISPONÍVEIS
Coordenação Geral de Controle
CGCSP 1998 a 2004, 2016
de Segurança Privada
Pesquisa Perfil das Instituições
Perfil 2004 a 2016
de Segurança Pública

RAIS Relação Anual de Informações Sociais 1985 a 2017

Cadastro Geral de Empregados


CAGED 2007 a 2018
e Desempregados

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2001 a 2015

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


PME Pesquisa Mensal de Emprego 2002 a 2015

PNAD Contínua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2012 a 2018

Censo Censo Demográfico 2000 e 2010

ESTADIC Pesquisa de Informações Básicas Estaduais 2013

Os dados produzidos pelo IBGE, a PNAD foram ambas encerradas em 2015, sendo
e a PME possuem séries históricas am- substituídas por uma nova pesquisa, inti-
plas, com microdados14 disponibilizados tulada PNAD Contínua. Esta última come-
na Internet15. No entanto, as pesquisas çou a ser realizada em 2012 e vem sendo
realizada anualmente sem interrupções,
14 Microdados consistem em bases de dados com alto
nível de desagregação. de modo que existem microdados dispo-
15 Além dos microdados, o portal eletrônico do IBGE
níveis de 2012 a 2018. Os Censos Demo-
(www.ibge.gov.br) também disponibiliza uma solução gráficos são decenais, e apenas os anos
que facilita o acesso aos dados pelo usuário, chamada
Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA (ht-
19

tps://sidra.ibge.gov.br/home/pms/brasil). O sistema per- o acesso e o manuseio de dados, e possibilita baixar grá-


mite ao usuário uma série de funcionalidades que facilita ficos e tabelas, entre outros serviços.
de 2000 e 2010 são disponibilizados pelo cia Federal, relativos à distribuição de seu
IBGE em seu portal eletrônico. Já a Pes- contingente nas unidades da federação.
quisa de Informações Básicas Estaduais
Todos esses dados, no entanto, só pode-
(ESTADIC) coletou informações sobre
riam ser acessados, segundo orientação
segurança pública apenas num único
colhida no próprio sítio, por meio de um
ano: 2013.
“formulário de pedido de acesso à infor-
Em relação aos dados compilados pelo mação”, contendo, além do pedido, os
Ministério do Trabalho, os microdados dados pessoais do solicitante e o motivo
com os registros da RAIS (empregados) e da solicitação. Seguindo esse protocolo
CAGED (empresas) também estão dispo- inicial, o pedido foi encaminhado à Di-
níveis na Internet16, sendo disponibiliza- reção Executiva da Polícia Federal, para
dos a partir de uma pasta de transferên- ser redirecionado à Coordenação Geral
cia de arquivos17. Tais registros possuem de Controle de Segurança Privada (CG-
séries históricas amplas e são atualizados CSP), setor diretamente responsável pelo
anualmente. controle dos dados pretendidos. Para o
Já a pesquisa Perfil das Instituições de Se- período de 2012 a 2018 foram solicitados:
gurança Pública foi realizada anualmente a) dados referentes às atividades das em-
pela Secretaria Nacional de Segurança presas de segurança cadastradas e con-
Pública (SENASP) entre os anos de 2004 troladas pela CGCSP, tratando da quanti-
e 2016. Os microdados da pesquisa estão dade de pessoal alocado nas atividades
na página eletrônica do Ministério da Jus- operacionais de cada setor de segurança
tiça e Segurança Pública18. A pesquisa co- privada, por unidade da federação; b) a
leta informações diretamente dos gover- quantidade de armas de fogo nas empre-
nos estaduais e instituições que compõem sas de segurança privada; c) a quantida-
o sistema de segurança pública. de de empresas privadas registradas na
A mesma facilidade de acesso a dados e CGCSP; d) dados sobre o efetivo da pró-
pria Polícia Federal.

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


informações não ocorreu em relação ao
Departamento da Polícia Federal (DPF). Praticamente todos os dados solicitados
Apesar de possuir uma página oficial na foram negados, com exceção dos que se
Internet, esta disponibilizava ao usuário referiam à quantidade de empresas de
apenas uma quantidade pequena de in- segurança privada por unidade da fede-
formações, não pertinentes aos objeti- ração. No entanto, esses dados registra-
vos da pesquisa. Os dados de interesse vam apenas as empresas ativas em 2018,
diziam respeito aos registros das empre- especializadas em vigilância ou com ser-
sas de segurança junto à Polícia Federal, viços internos de segurança privada, sem
órgão de controle e fiscalização do setor, dar qualquer informação sobre seu ano
como condição para a formalização de registro, por exemplo. Assim, não era
oficial dessas empresas. Além disso, eram possível a elaboração de uma série his-
necessários dados sobre a própria Poli- tórica, para acompanhar a evolução e o
crescimento do setor.
16 ftp://ftp.mtps.gov.br/pdet/microdados/rais e ftp://ftp.
mtps.gov.br/pdet/microdados/caged Tal resposta acabou frustrando parte dos
17 Há, inclusive, um tutorial para facilitar o acesso online objetivos da pesquisa. Esperava-se algu-
às bases de dados. O DARDO WEB orienta o usuário a
utilizar o Programa de Disseminação de Estatísticas do ma negativa referente aos dados sobre
Trabalho (PDET), também disponível em seu sítio ele- armas de fogo, mesmo porque havia o
trônico.
risco de nos depararmos com postura se-
18 www.justica.gov.br/sua-seguranca-1/seguranca-publi-
melhante por parte de outras instituições
20

ca/analise-e-pesquisa/estudos-e-pesquisas/pesquisas-
-perfil-da-instituicoes-de-seguranca-publica policiais para as quais encaminharíamos
pedidos similares. Contudo, a negativa tipo de recurso. Contudo, este não foi
em relação à solicitação do quantitativo utilizado devido ao escasso tempo dis-
de pessoal das empresas causou surpre- ponível para a realização da pesquisa.
sa. A alegação de que tais informações Em suma, não tivemos acesso direto aos
faziam parte da “esfera íntima” das em- registros da Polícia Federal, seja sobre
presas e que, portanto, não poderiam ser segurança privada (que deveriam ser dis-
fornecidas a terceiros, nos termos do ar- ponibilizados pela Coordenação Geral de
tigo 31 da Lei nº 12.527/2011 (Lei de Aces- Controle de Segurança Privada - CGCSP),
so a Informação) pareceu pouco razoá- seja sobre o próprio efetivo da PF. So-
vel. Com efeito, nenhuma informação de bre as empresas de vigilância e guarda,
caráter íntimo, pessoal ou individual so- obtivemos indiretamente, os dados de
bre os funcionários das referidas empre- 2016, que foram coletados e disponibili-
sas havia sido solicitada, mas sim infor- zados pelo FBSP em seu anuário de mes-
mações genéricas e agregadas, sobre a mo ano. Além disso, uma série de 1998
quantidade de funcionários por unidade a 2004 aparece no artigo de Zanetic
da federação. Portanto, as informações (2006). De fato, outros pesquisadores e
provenientes da Polícia Federal ficaram instituições, como Zanetic (2006) e FE-
prejudicadas por conta de limitações de NAVIST (2014), conseguiram estes mes-
acesso aos dados impostas pela própria mos dados em anos anteriores.
instituição que deveria cedê-las. Tendo em vista os objetivos do estudo e
Quanto aos pedidos relacionados aos os anos para os quais as bases de dados
dados da própria Polícia Federal, a ale- estavam disponíveis e puderam ser cole-
gação para a negativa foi que tais dados tadas, os seguintes critérios foram elen-
não poderiam ser fornecidos por esta- cados para a escolha das fontes:
rem protegidos pelo sigilo declarado em 1. Acessibilidade e disponibilidade de
“Termo de Classificação de Informação dados;
do Ministro da Justiça”. Este último teria

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


classificado como secretas, as “consoli- 2. Fontes com dados disponíveis para
dações de informações quanto ao quan- anos recentes e/ou ainda ativas. Uma
titativo, distribuição, localização e mobi- vez que o estudo visa dimensionar o
lização de servidores da Polícia Federal”, contingente da segurança privada no
com fundamento no art. 23, incisos VII e momento presente, optou-se por uti-
VIII, da Lei nº 12.527/2011. lizar um critério de atualidade e atu-
alização das fontes, priorizando da-
Adicionalmente, todas as solicitações de dos mais recentes e que continuarão
informações sobre armas de fogo foram a ser produzidos;
negadas, como esperávamos. O argu-
mento alegado foi que “é vedada a di- 3. Possibilidade de construção de sé-
vulgação de informações sobre o quan- ries históricas. Além de recente, a fon-
titativo de armas de fogo da PF e a sua te deveria permitir acompanhar a evo-
distribuição nas unidades da federação”, lução do fenômeno. Assim, fontes de
em razão de “sigilo para preservação da dados pontuais ou com intermitência
capacidade investigatória” da instituição, na série histórica foram descartadas;
“em consonância com o art. 3º, §§1o e 2º, 4. Possibilidade de calcular, a partir da
da Lei no 12.850/2013 (Lei das Organiza- mesma fonte, estatísticas para os se-
ções Criminosas)”. tores da segurança pública e privada;
Obviamente caberia, como a mensagem 5. Disponibilidade de dados sobre o
21

eletrônica de resposta informou, algum número de empresas de segurança;


6. Uso prévio da fonte de dados em o intuito de fornecer informações neces-
outros estudos. sárias ao monitoramento e controle do
mercado de trabalho, auxiliando o acom-
panhamento da nacionalização do traba-
No final desse processo, optou-se por lho, o controle de registros relativos ao
utilizar, na triangulação de fontes, funda- FGTS e à Previdência Social, o pagamen-
mentalmente os registros do Ministério to de abono salarial, entre outros objeti-
do Trabalho (RAIS e CAGED), bem como vos. Além de seus usos administrativos, a
os dados da PNAD Contínua. Estas fon- RAIS possuí fins estatísticos claros, sen-
tes possuem dados atuais, permitem a do uma fonte relevante de dados para o
constituição de uma série histórica mais acompanhamento e a caracterização do
longa e são processos ativos de coleta de setor organizado da economia.
dados, que poderão ser atualizados em
pesquisas futuras. De certa forma, segui- Nesse sentido, a RAIS constitui um cen-
mos a mesma estratégia que tem sido so do mercado de trabalho formal, cole-
adotada por outros pesquisadores para tando dados dos estabelecimentos para
lidarem com problemas semelhantes en- todos os empregados (vínculos empre-
contrados em estudos sobre esse obje- gatícios) em 31 de dezembro para cada
to (Musumeci,1988; Zanetic, 2006, por ano-base. Dá, portanto, uma informação
exemplo). sobre o estoque de empregados. A uni-
dade de análise, no entanto, é o vínculo
Adicionalmente, optou-se por utilizar
empregatício e não o indivíduo. Assim, é
pontualmente os dados da Polícia Fede-
possível que uma pessoa com dois víncu-
ral, e da Pesquisa Perfil das Instituições
los seja contada duas vezes.
de Segurança Pública (ambas para o ano
de 2016), com o objetivo de comparar os Por outro lado, é importante frisar que a
setores de segurança privada e seguran- RAIS coleta suas informações para qual-
ça pública. quer tipo de emprego. A definição de

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


vínculo empregatício remete a qualquer
relação de emprego com trabalho remu-
4.2. DESCRIÇÃO DAS FONTES nerado, incluindo celetistas, estatutários,
DE DADOS UTILIZADAS contratos temporários e por prazo deter-
minado, entre outros. No entanto, um in-
divíduo que acumula mais de um empre-
4.2.1 Relação Anual de Informações
go na data de referência é contabilizado
Sociais (RAIS)19
mais de uma vez, de modo que o número
Instituída em 1975, pelo Decreto de empregados é diferente do número de
nº 76.900/75, a Relação Anual de Informa- pessoas empregadas.
ções Sociais (RAIS) configura um registro
Os vínculos empregatícios são regis-
administrativo de abrangência nacional e
periodicidade anual, cujo preenchimento trados individualmente e recebem uma
é obrigatório a todos os estabelecimen- classificação de sua ocupação, assim
tos, mesmo aqueles eventualmente sem como os estabelecimentos recebem um
registros de empregados no ano da cole- código de seu ramo de atividade econô-
ta. Sob responsabilidade do Ministério do mica principal. São justamente essas in-
Trabalho e Emprego (MTE), a RAIS tem formações que podem ser utilizadas para
selecionarmos os dados referentes aos
19 Informações compiladas a partir dos metadados do empregados da segurança privada e pú-
Comitê de Estatísticas Sociais do IBGE. No link: https://
blica. As ocupações são codificadas se-
22

ces.ibge.gov.br/base-de-dados/metadados/mte/relacao-
-anual-de-informacoes-sociais-rais gundo a Classificação Brasileira de Ocu-
pações (CBO 2002), utilizada a partir da de segurança. Essas empresas, por sua
RAIS 2003; enquanto as atividades eco- vez, podem ser especializadas em servi-
nômicas dos estabelecimentos são codi- ços de vigilância e transporte de valores,
ficadas a partir da Classificação Nacional ou podem ser empresas autorizadas a
de Atividade Econômica (CNAE 2.0), vi- constituir seus próprios setores de segu-
gente a partir da RAIS 200620. rança patrimonial, denominados serviços
orgânicos de segurança.
É interessante notar que a definição de
4.2.2 Cadastro Geral de Empregados
vigilante pode ser bastante específica. Ela
e Desempregados (CAGED) 21
inclui, segundo a Portaria Nº 3.233/2012 da
Também sob responsabilidade do Minis- Polícia Federal, profissionais capacitados
tério do Trabalho e Emprego (MTE), o especificamente para essas atividades de
Cadastro Geral de Empregados e Desem- vigilância e guarda, que estão empregados
pregados (CAGED) foi criado pela Lei em empresas especializadas ou possuido-
Nº 4.923/1965. O CAGED é um registro ras de serviço orgânico de segurança, e
administrativo nacional de caráter censi- que estejam registrados no DPF, que emite
tário, mas, diferentemente da RAIS, tem a Carteira Nacional de Vigilante (CNV).22
periodicidade mensal e registra apenas a
movimentação (admissões e demissões)
de empregados celetistas. 4.2.4 Pesquisa Perfil das
Instituições de Segurança Pública
Instituído para o acompanhamento e fis-
calização de admissões e demissões de A pesquisa Perfil das Instituições de Se-
trabalhadores regidos pela CLT, o CAGED gurança Pública vem sendo realizada
é um registro administrativo cujo objetivo desde 2004. A última edição com dados
era subsidiar o auxílio e políticas públicas disponíveis foi realizada em 2016, de for-
relacionadas ao desemprego. Seus fins ma que a pesquisa parece ter sido encer-
estatísticos incluem a geração de medi- rada. Ela coletava dados a partir de um

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


das sobre emprego e desemprego, e in- questionário aplicado aos governos esta-
formações passíveis de serem utilizadas duais, preenchidos geralmente por ges-
nas análises conjunturais do mercado de tores das equipes estaduais de segurança
trabalho formal celetista. O CAGED for- pública, sob a coordenação e suporte de
nece informações sobre estabelecimen- integrantes do Sistema Nacional de Infor-
tos, codificados pela CNAE 2.0. mações de Segurança Pública, Prisionais
e sobre Drogas (SINESP).
A pesquisa investigava a estrutura orga-
4.2.3 Departamento de Polícia Federal
nizacional e o funcionamento das polícias
A Polícia Federal é a agência governa- civis e militares, e também dos corpos de
mental formalmente responsável pelo bombeiros militares do país, observando
controle e fiscalização dos serviços pri- aspectos de caráter burocrático e admi-
vados de segurança no Brasil. Por meio nistrativo, recursos humanos e materiais,
da Coordenação Geral de Controle de tendo como data de referência o dia 31
Segurança Privada (CGCSP), ela registra de dezembro do ano anterior. As informa-
tanto o número de empresas quanto o ções de interesse imediato para o presen-
número de vigilantes ativos em empresas te estudo foram aquelas relacionadas aos
efetivos totais das polícias civis e militares.
20 Ver seção 5,sobre as classificações estatísticas de
ocupação e atividade.
22 Este é o documento de identidade funcional do vigi-
23

21 Informações compiladas a partir dos metadados do lante. Possui validade de 5 anos e é de uso obrigatório
Comitê de Estatísticas Sociais do IBGE. No link: em serviço.
4.2.5 PNAD e PNAD Contínua Por outro lado, é importante frisar que a
PNAD Contínua incorpora tanto a ocu-
A Pesquisa Nacional por Amostra de
pação principal quanto a secundária dos
Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE,
indivíduos. Adicionalmente, ela inclui ou-
é uma das pesquisas amostrais mais
tras posições na ocupação, além da posi-
tradicionais do país, tendo sido iniciada
ção de empregados, como empregado-
em 1967. Encerrada em 2016, quando foi
res ou trabalhadores por conta própria e
substituída pela chamada PNAD Contínua,
profissionais do setor informal.
a pesquisa investigava anualmente
e de forma permanente, diferentes Finalmente, vale lembrar que a unidade de
temas, características sociodemográficas análise da PNAD é o indivíduo, enquanto a
da população, educação e trabalho, da RAIS é o vínculo empregatício.
rendimento e habitação, tendo como
unidade de investigação o domicílio.
A PNAD Contínua substituiu a PNAD,
atualizando sua metodologia e oferen-
do uma cobertura territorial mais ampla.
Passou também a oferecer informações
mensais e trimestrais, disponibilizando
dados conjunturais sobre a força de tra-
balho23. A pesquisa começou a ser im-
plantada, em caráter definitivo, a partir
de 2012, e está atualmente funcionando.
Tanto a PNAD como a PNAD Contínua
registram informação sobre a ocupação
e área de atividade econômica das ocu-
pações dos entrevistados. Esses dados,

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


assim como no caso da RAIS, podem ser
utilizados para selecionar os trabalhado-
res da segurança privada e pública. Di-
ferentemente da RAIS, no entanto, estas
pesquisas utilizam adaptações das classi-
ficações estatísticas (CBO/2002 e CNAE
2.0) próprias para pesquisa domiciliares.
Além disso, entre a PNAD e a PNAD Con-
tínua houve modificações importantes na
metodologia, plano amostral, abrangên-
cia da pesquisa e, mesmo, nas classifi-
cações utilizadas24. Isto atrapalhou uma
intenção inicial de contemplar uma série
histórica mais ampla, observando con-
juntamente os dados da PNAD Contínua
com estimativas dos efetivos calculadas
a partir da PNAD – como as realizadas
por Musumeci (1998).

23 Como já foi mencionado, a PNAD Contínua também


substituiu a Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
24

24 Ver a seção 5, a seguir.


5

DEFINIÇÕES E
CLASSIFICAÇÕES
SOBRE SEGURANÇA
PRIVADA E PÚBLICA
Há um certo consenso na literatura espe- mentam ou concorrem com o próprio Es-
cializada quanto à precariedade e à falta de tado na preservação de uma ordem25.
consistência dos dados disponíveis sobre a O problema é complexo. Por isso Shea-
segurança privada. Alguns aspectos podem ring & Stenning (1981) procuraram pre-
ajudar a explicar o problema. Em primeiro liminarmente definir segurança, por seu
lugar, a distinção entre público e privado escopo, para depois distinguir suas duas
não é tão rígida nem tão natural quanto

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


dimensões: pública e privada. Nesse sen-
pode parecer. Na verdade, trata-se de um tido, ao invés de perguntarem o que “é”
constructo de fronteiras voláteis e porosas, segurança”, passam a perguntar o que se-
variando no tempo e no espaço. Em segun- ria “fazer” segurança. Eles definem segu-
do lugar, ainda não existe uma produção rança como “atividades” desempenhadas
de estatísticas oficiais regulares sobre esse para a proteção de pessoas, patrimônio e
fenômeno. Os dados ainda são escassos e informações; e a segurança pública, dife-
pouco confiáveis e, quando existem, têm re- rentemente da privada, é a que é custeada
correntemente variado, não só de país para às expensas do orçamento público (1981,
país, como dentro de um mesmo país. p.194 et seq.). A sugestão dos autores é
reunir em um rol específico os serviços
Além da lacuna empírica, há ainda uma
com esse escopo, para depois identificar a
lacuna teórica que resulta do uso de con-
natureza do tomador do serviço. Trata-se
ceitos e categorias ainda vagos em razão
de atividades geralmente voltadas para a
da própria imprecisão prática do objeto.
proteção contra depredações, a proteção
Ressalte-se o fato de que essa “revolução
de pessoas, bens e informações. O que
silenciosa” não ocorre somente pela ex-
distingue segurança privada da pública é
pansão, mas ainda pela “pluralização” da
o fato de ela se referir a alguma dessas ati-
segurança privada, com a entrada em cena
de atores que, se antes estiveram ou foram 25 Muniz e Paez-Machado; apresentam um esforço con-
ceitual tipológico, com vistas a ajudar na apreensão des-
pensados fora do aparato burocrático de
25

sa pluralização de atores no controle social contemporâ-


força do Estado, hoje, na prática, comple- neo (MUNIZ E PAEZ-MACHADO , 2010).
vidades previamente definidas como tais subcategorias: segurança privada con-
e ser executada por pessoal empregado tratada (contract) junto a empresas pri-
em relação privada de trabalho. vadas, fornecedoras de serviços privados
de segurança, e segurança realizada in-
O problema, todavia, persiste devido às
ternamente (in-house), por um quadro
muitas atividades, cuja natureza do em-
especializado de funcionários.
pregador não é tão óbvia. Dentre elas,
estão aquelas executadas por instituições Apesar da segurança privada não se res-
quase públicas, como universidades e tringir à chamada “indústria da segurança”,
companhias de transporte, por exemplo, foi a expansão do setor da segurança pres-
ou aquelas desempenhadas em espa- tada mediante contrato que mais chamou
ços chamados de semiprivados, como os a atenção de estudiosos, pesquisadores e
shopping-centers ou estádios esportivos. autoridades no mundo inteiro. Em vários
São atividades que, segundo os referidos países o número de empregados em ativi-
autores, sugerem muito mais a imagem dades privadas de segurança já ultrapassou
de um continuum do que de duas cate- o número do contingente policial. O fato é
gorias claramente definidas. Nesse caso, que, por alguma razão, as pessoas têm pro-
o critério adotado pelos autores, para a curado cada vez mais esses serviços.
disposição dessas atividades sobre esse As diferentes metodologias e formas de co-
continuum, dependeria não apenas da na- leta de dados não facilitam a comparabilida-
tureza do imediato empregador, mas dos de das pesquisas realizadas em diferentes
poderes legais que o empregado tem para países. De qualquer forma esses são os cri-
exercê-las e a quem se presta contas pelo térios que mais têm sido adotados na maio-
exercício desse mandato (idem, p.196). ria das pesquisas sobre o tema. Algumas
Assim, em suas tentativas de análise do pesquisas vêm confirmando, em diferentes
crescimento da segurança privada em re- países, a tendência de uma rápida expansão
lação ao crescimento da segurança pú- das atividades de segurança privada quan-
do comparada com às de segurança públi-

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


blica, Shearing & Stenning (1981) vão pro-
curar evitar uma confusão normalmente ca, embora ainda se trate de uma produção
criada pelo senso comum de reduzir se- empírica relativamente acanhada.
gurança privada à “indústria da seguran- No Brasil, por exemplo, a legislação espe-
ça”. Primeiro, porque a “indústria” se refe- cífica divide as atividades de segurança
re somente a atividades eminentemente privada em “segurança orgânica” e “segu-
comerciais, deixando de captar ativida- rança privada”. A primeira é a segurança
des privadas que, apesar de estranhas ao comercial por excelência, prestada median-
aparato do Estado, não têm por escopo te contrato por firma privada especializada,
lucrar com esse tipo de serviço. Segundo, ou seja, “pessoa jurídica de direito privado
porque há inúmeros outros setores nes- autorizada a exercer as atividades de vigi-
sa “indústria” de serviços contratados, lância patrimonial, transporte de valores,
como o de tecnologia, o da consultoria escolta armada, segurança pessoal e cursos
e o da manufatura de artefatos de segu- de formação”. O conceito é equivalente ao
rança, por exemplo, que não necessaria- do contract security, definido por Shearing
mente se restringem a fornecimento de (2003) e Shearing & Stenning (1981).
pessoal para a prestação de serviços de
Por seu turno, “segurança orgânica” se
segurança propriamente ditos (SHEA-
refere às “atividades desempenhadas por
RING & STENNING; op. cit., p. 195/196).
um setor próprio de vigilância patrimo-
Portanto, os referidos autores dividem a nial ou de transporte de valores”, ou seja,
26

categoria “segurança privada”, em duas pela própria empresa, pessoa jurídica de


direito privado, que é a empresa autori- endimento econômico que possui, por sua
zada a constituir um setor próprio de vi- vez, uma atividade principal, ou seja, um
gilância patrimonial ou de transporte de ramo de negócio. A mesma lógica obser-
valores, nos termos do art. 10, § 4º da Lei vada nas pesquisas sociais é aplicada aos
nº 7.102, de 20 de junho de 1983. registros administrativos, como a RAIS, do
Ministério do Trabalho. Na RAIS, que fun-
Em analogia às categorias de Shearing
ciona como um censo anual do emprego
(2003) e Shearing & Stenning (1981), que
formal, aos empregados26 é atribuída uma
praticamente têm sido usadas como re-
ocupação, e às empresas registradas é atri-
ferência por uma parcela considerável de
buído um ramo de atividade principal.
pesquisadores e especialistas no assunto,
a “segurança orgânica” corresponderia à As atividades econômicas dos empreen-
in-house security, enquanto a segurança dimentos e as ocupações dos trabalha-
privada propriamente dita corresponderia dores são tipificadas em classificações
à contract security. O desafio tem sido reu- específicas, chamadas classificações es-
nir dados disponíveis sobre as categorias tatísticas nacionais. Estas constituem lis-
analíticas desenvolvidas por esses autores, tas estruturadas de categorias e códigos
a partir de dados nacionais disponíveis. hierarquicamente organizados de acordo
com a similaridade das ocupações ou ati-
vidades desempenhadas.
5.1. SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO
Atualmente, estão vigentes a Classifica-
DE OCUPAÇÃO E ATIVIDADE
ção Brasileira de Ocupações (CBO/2002)
ECONÔMICA
e a Classificação Nacional de Ativida-
des Econômicas (CNAE 2.0, implemen-
Nas pesquisas quantitativas sobre trabalho
tada em 2007 e revisada em 2010). A
e mercado de trabalho, como a PNAD ou
CBO/2002 categoriza as ocupações a
a PME, a condição de ocupação num perí-
partir de uma estrutura formada por 10
odo de referência (na semana ou ano an-
grandes grupos, 47 subgrupos principais,

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


terior, por exemplo) indica se, naquele pe-
192 subgrupos e 596 grupos de base (fa-
ríodo, um indivíduo trabalhou ou exerceu
mílias ocupacionais). Já a CNAE 2.0 clas-
alguma atividade econômica ou profissio-
sifica as atividades econômicas numa es-
nal desenvolvida individualmente, com a
trutura de quatro níveis – com 21 seções,
ajuda de outras pessoas ou em um estabe-
87 divisões, 285 grupos, 673 classes.
lecimento – empresa, instituição, negócio
etc. Nesse sentido, um indivíduo ocupado
possui uma ocupação (cargo, função, pro- 26 Vínculos empregatícios ativos registrados pelas
fissão ou ofício) exercida em um empre- empresas no ano de referência.

TABELA 3
Organização Hierárquica na CBO/2002 e CNAE 2.0

CBO/2002 CNAE 2.0


Ocupações de Indivíduos Atividades Econômicas das Empresas
Grandes grupos (1 dígito) 10 Seção (1 dígito) 21
Subgrupos principais (2 dígitos) 43 Divisão (2 dígitos) 87
Subgrupos (3 dígitos) 127 Grupo (3 dígitos) 285
27

Grupos de base ou famílias (4 dígitos) 434 Classe (4 dígitos) 673


A ocupação “Vigilante” na CBO, por exem- 5.2. DEFINIÇÕES DE SEGURANÇA
plo, apresenta o código 5173-30. Já uma PRIVADA E PÚBLICA NOS
empresa do ramo da segurança privada, SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO
que contrata vigilantes e presta serviços O artigo de Musumeci (1998) utilizou da-
especializados em guarda patrimonial, es- dos da PNAD para comparar estimativas
colta de pessoas e bens, ou em vigilância do número de vigilantes e de policiais
a propriedades, por exemplo, poderia ser para os anos de 1985 e 1995. Já o trabalho
tipificada na classe “Atividades de vigilân- de Zanetic (2006) utilizou a PNAD para
cia e segurança privada” (80.11). estes mesmos anos, acrescentando da-
Considerando a necessidade de comparar dos da PNAD 2001. Este último não dis-
diferentes fontes de dados, bem como o se nada sobre as categorias de atividade
intuito de compor séries históricas, duas econômica e de ocupação utilizadas para
características das classificações estatís- selecionar os trabalhadores da segurança
ticas nacionais precisam ser destacadas: pública e da segurança privada; o autor
apenas fez referência ao estudo de Musu-
a) enquanto os registros adminis- meci (1998), dando a entender que utili-
trativos utilizam as classificações zava as mesmas categorias selecionadas
apresentadas anteriormente (CBO pela autora supracitada.
e CNAE), nas pesquisas domicilia-
res são empregadas classificações Ambos os estudos partem de uma defini-
ção das atividades do negócio/empresa
próprias que correspondem a adap-
(finalidade principal do empreendimen-
tações realizadas a partir daquelas,
to) para definir quem são os trabalhado-
mantendo idênticos os níveis agre-
res tanto da segurança pública quanto da
gados mais elevados da tipificação
segurança privada. A categoria da ativi-
(como os grandes grupos das ocu-
dade econômica utilizada por Musumeci
pações ou a seção e a divisão nas
(1998) para definir quem seriam os em-
atividades econômicas), mas são al-

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


pregados na segurança privada foi “Vi-
terados e/ou reagrupados os níveis
gilância e Guarda” (código 543), grupo
menores, com o intuito de ajustar as
de atividades que se refere, basicamente,
classificações às características das
aos serviços de vigilância, guarda patri-
pesquisas domiciliares. Isto gera difi- monial e transporte de valores realizados
culdades de compatibilização e com- por empresas privadas.
paração entre as estatísticas prove-
nientes dos registros administrativos Essa opção incluía nas análises pratica-
e aquelas geradas a partir das pes- mente todos os vigilantes, mas deixa-
quisas domiciliares. Atualmente, para va de fora a maior parte dos vigias, que
as pesquisas domiciliares, estão vi- estavam ocupados em negócios de ou-
tros ramos – em 1995, 98,7% dos vigilan-
gentes a Classificação de Ocupações
tes (código de ocupação 869) estavam
para Pesquisas Domiciliares (COD) e
em atividades de “Vigilância e Guarda”,
a CNAE domiciliar 2.0;
mas apenas 14,8% dos vigias (código
b) as classificações como a CBO e a de ocupação 843) estavam nesse gru-
CNAE tiveram uma consolidação re- po de atividade. Estes últimos estavam
lativamente recente, tendo sofrido, mais presentes na Administração Públi-
historicamente, mudanças em suas ca (27,1%) e nos comércios (10,8%). Entre
categorias e tipificações. Algumas os empregados da segurança pública, as
dessas mudanças podem ser exami- categorias e códigos de ocupação utili-
28

nadas no Anexo I. zados foram: “Polícia Militar/PM” (códi-


go 724) e uma categoria mais ampla que Para filtrar as ocupações relacionadas à
abrangia “Polícias Civil, Federal e Munici- segurança privada, a COD oferece ape-
pal, outras polícias e órgãos técnicos/PC” nas dois grupos de base (ver Tabela 4):
(código 725). “Guardas de segurança” (código 5414); e
o grupo “Trabalhadores dos serviços de
Partindo do exemplo dos estudos de Mu-
proteção e segurança não classificados
sumeci (1998) e Zanetic (2006), é im-
anteriormente (código 5419). É impor-
portante ressaltar que estes códigos e
tante perceber que estes grupos, diferen-
categorizações, tanto de atividades eco-
temente de outras tipificações utilizadas
nômicas quanto de ocupações, foram es-
anteriormente27, são menos específicos
pecíficos e restritos às PNADs utilizadas
e, por conseguinte, menos úteis para dis-
naqueles momentos. Como visto, as clas-
tinguir os profissionais da segurança pri-
sificações utilizadas pelo sistema estatís-
vada. Uma parcela dos indivíduos clas-
tico nacional (nas pesquisas do IBGE) an-
sificados como guardas de segurança,
tes da implementação da CBO e da CNAE
por exemplo, poderia ser composta por
eram próprias e diferentes daquelas utili-
guardas municipais, ligados à segurança
zadas nos registros administrativos.
pública. Assim, para evitar vieses que pu-
Na pesquisa pioneira de Musumeci dessem superestimar as pessoas em ocu-
(1998), as PNADs apresentavam códigos pações da segurança privada, buscou-se
de atividade específico para as ativida- uma variável complementar, a posição da
des policiais, tais como: “Polícia Militar ocupação. Esse dado permitia selecionar
(PM)”, código 724, ou “Polícias Civil, Fe- apenas pessoas ocupadas no setor priva-
deral e Municipal, outras polícias e ór- do – empregados, empregadores, traba-
gãos técnicos (PC)” – código 725. No lhadores por conta própria.
que se refere às ocupações, havia tam-
bém códigos específicos utilizados pelo
IBGE nas antigas PNADs (843 para vi-
gias e 869 para vigilantes).
Entretanto, esses códigos não existem
mais, como tais, nas modernas CNAE
nem nas versões atuais da CBO ou da
COD, utilizadas por registros e pesquisas
mais modernos como a PNAD Contínua.
Portanto, não foi possível estabelecer
uma comparação direta entre os valores
registrados por Musumeci (1988) e os dos
registros e pesquisas mais recentes.
Com efeito, atualmente as ocupações são
preenchidas nos registros administrati-
vos da RAIS com base na CBO/2002. Já
a PNAD Contínua classifica as ocupações
com base na “Classificação de ocupa-
ções para pesquisa domiciliares” (COD). A
CBO/2002 possibilita maior detalhamen-
27 A CBO Domiciliar mantinha as categorias de ocupa-
to das ocupações, enquanto a COD é mais ção “Vigilantes e guardas de segurança” (código 5173)
enxuta e permite a tipificação das ocu- e “Guardas e vigias” (código 5174). Já a classificação de
ocupações utilizada pelo IBGE no censo de 1991 utilizou
pações apenas no nível dos “grupos de
29

a categoria “Guardas ou vigias de organizações particu-


base”, que equivalem às famílias na CBO. lares” (código 869).
TABELA 4
Categorias empregadas para filtrar ocupações da segurança privada
na Classificação de Ocupações para Pesquisas Domiciliares – COD28

Grande Subgrupo Grupo


Subgrupo Denominação
Grupo principal de base
Trabalhadores dos Serviços, Vendedores
5
do Comércio em Lojas e Mercados
54 Trabalhadores dos Serviços
541 Trabalhadores nos Serviços de Proteção e Segurança
5414 Guardas de segurança
Trabalhadores dos serviços de proteção
5419
e segurança não classificados anteriormente

TABELA 5
Categorias empregadas para filtrar ocupações da segurança privada
na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO/200229

Grande Subgrupo Sub Cód.


Família Titulação da Ocupação
Grupo principal grupo Ocup.
Trabalhadores dos Serviços, Vendedores
5
do Comércio em Lojas e Mercados
51 Trabalhadores dos Serviços
510 Supervisores dos Serviços
Supervisores dos Serviços de Proteção, Segurança e
5103
Outros
5103-10 Supervisor de Vigilantes
Trabalhadores nos Serviços de Proteção e Seguran-
517
ça
5173 Vigilantes e Guardas de Segurança
5173-05 Agente de Proteção de Aeroporto
5173-10 Agente de Segurança
5173-20 Vigia Florestal
5173-25 Vigia Portuário
5173-30 Vigilante
5173-35 Guarda Portuário
5174 Porteiros, Vigias e Afins
5174-20 Vigia
9 Trabalhadores em Serviços de Reparação e Manutenção
95 Polimantenedores
Eletricistas Eletrônicos de Manutenção
951
Industrial, Comercial e Residencial
Instaladores e Mantenedores de Sistemas
9513
Eletroeletrônicos De Segurança
9513-15 Monitor de Sistemas Eletrônicos de Segurança Interno
9513-20 Monitor de Sistemas Eletrônicos de Segurança Externo

28 Em negrito, especificamente os códigos selecionados para definir operativamente a segurança privada.


30

29 Em negrito, especificamente os códigos selecionados para definir operativamente a segurança privada.


A CBO/2002 permite uma classificação Recepcionam e orientam visitantes
mais precisa e específica, na medida em e hóspedes. Zelam pela guarda do
que registra diretamente as ocupações patrimônio observando o comporta-
(Tabela 5). A maior parte das ocupações mento e movimentação de pessoas
relacionadas à segurança privada estão para prevenir perdas, evitar incêndios,
enquadradas na Família 5173, que repre- acidentes e outras anormalidades.
senta os vigilantes e guardas de seguran- Controlam o fluxo de pessoas e veí-
ça. A CBO oferece a seguinte descrição culos identificando-os e encaminhan-
a respeito das atividades e competências do-os aos locais desejados. Recebem
referentes às ocupações dessa família: mercadorias, volumes diversos e cor-
respondências. Fazem manutenções
Vigiam dependências e áreas públi-
simples nos locais de trabalho.
cas e privadas com a finalidade de
prevenir, controlar e combater delitos
como porte ilícito de armas e muni- Na prática, os vigilantes constituem uma
ções e outras irregularidades; zelam ocupação mais especializada, que visa a
pela segurança das pessoas, do pa- segurança de pessoas físicas ou a prote-
trimônio e pelo cumprimento das leis ção patrimonial. São regidos pela lei Nº
e regulamentos; recepcionam e con- 7.102/83, com alterações introduzidas
trolam a movimentação de pessoas pela lei Nº 8.863/94. A ocupação requer
em áreas de acesso livre e restrito; treinamento específico, em curso de for-
fiscalizam pessoas, cargas e patrimô- mação de vigilantes, e permite (ou até
nio; escoltam pessoas e mercadorias. exige) o porte e manejo de armas. Já os
Controlam objetos e cargas; vigiam vigias são profissionais cujo intuito é a
parques e reservas florestais, comba- proteção e guarda do patrimônio, e ta-
tendo inclusive focos de incêndio; vi- refas de monitoramento, fiscalização de
giam presos. Comunicam-se via rádio locais, controle do fluxo e acesso de pes-
ou telefone e prestam informações ao soas. A ocupação não necessita de ca-

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


público e aos órgãos competentes. pacitação ou preparação especiais, não
possui regulamentação, nem permite
porte de arma.
Nossa definição sobre segurança priva-
da considera ainda os supervisores de Outra categoria ocupacional que gerou
vigilantes e os profissionais responsáveis dúvidas no momento da definição das
pelo monitoramento de sistemas eletrôni- ocupações que fariam parte das estima-
cos de segurança, ocupações geralmente tivas sobre segurança privada foi a dos
presentes em empresas especializadas agentes de segurança (código 5173-10).
na prestação de serviços de segurança e As análises empíricas sobre os ocupados
guarda. Por fim, os vigias (vigias de rua nessa categoria mostraram que uma par-
ou vigias noturnos) também foram con- te considerável de seu efetivo era forma-
siderados na definição das ocupações da da por servidores públicos estatutários.
segurança privada. Estes últimos se dife- Deste modo, adotou-se o tipo de vínculo
renciam das demais categorias ocupacio- (público ou privado) para separar nos to-
nais citadas até agora por não estarem tais e estimativas os agentes de seguran-
necessariamente vinculados a empresas ça segundo ambas as condições.
de segurança. A ocupação “vigia” está in- No que se refere às atividades eco-
serida na Família 5174, “Porteiros, Vigias nômicas, atualmente, os registros ad-
e Afins”, que possui a seguinte descrição, ministrativos empregam a CNAE 2.0.,
31

segundo a CBO: enquanto a PNAD Contínua classifica


as atividades econômicas com base na 80.3 Atividades de investigação parti-
CNAE 2.0 Domiciliar. cular
Na CNAE 2.0, a segurança privada apa- Classe:
rece na Seção N. “Atividades adminis- 80.30-7 Atividades de investigação
trativas e serviços complementares” e na particular   
Divisão 80, das “Atividades de vigilância,
segurança e investigação”. Por sua vez,
essa divisão possui três grupos de ati- Em suma, a Divisão 80, das atividades
vidades. A seguir, listamos os códigos e de vigilância, segurança e investigação,
subcódigos desta Divisão 80, marcan- abarca serviços relacionados à seguran-
do em negrito os casos que integram o ça privada, como serviços de vigilância e
conceito operativo de segurança pública de transporte de valores. Adicionalmen-
com o qual trabalha esta pesquisa. Em al- te, inclui a operação de sistemas de alar-
guns casos, são incluídas classes inteiras, mes de segurança, incluindo alarmes de
enquanto em outros, apenas subclasses incêndio, monitoramento remoto, venda,
são contempladas. As classes ou subclas- instalação e manutenção desses siste-
ses que não aparecem em negrito são, mas. Porém, a venda, instalação e manu-
em consequência, desconsideradas no tenção de sistemas de alarme, quando
presente estudo: oferecidas separadamente dos serviços
de monitoramento, não fazem parte da
80.1 Atividades de vigilância, segurança
divisão e são classificadas em comércio
privada e transporte de valores
varejista, construção.
Classe:
Embora constem na Divisão 80, os servi-
80.11-1 Atividades de vigilância e segu- ços de adestramento de cães de guarda,
rança privada os outros serviços de segurança relacio-
nados aos sistemas de segurança (refe-
Subclasse:

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


rente à manutenção, reparação e insta-
8011-1/01 Atividades de vigilância e lação de cofres, trancas e travas), bem
segurança privada como as atividades de investigação par-
8011-1/02 Serviços de adestramento ticular não foram consideradas em nossa
de cães de guarda definição de segurança privada. Especi-
ficamente, a investigação particular foi
80.12-9 Atividades de transporte de considerada mais um empreendimento
valores de caráter privado, muitas vezes rela-
80.2 Atividades de monitoramento de cionado ao direito civil, do que inserido
sistemas de segurança numa concepção de segurança pública.

Classe: A CNAE Domiciliar 2.0 possui uma clas-


sificação menos detalhada (mais agrega-
80.20-0 Atividades de monitoramento da), de modo que a segurança privada
de sistemas de segurança aparece limitada à Seção N. “Atividades
Subclasse: administrativas e serviços complementa-
res” e à Divisão 80, das “Atividades de vi-
8020-0/00 Atividades de monito-
gilância, segurança e investigação”. Esta
ramento de sistemas de segurança
última divisão possui uma única catego-
eletrônico
ria de atividade, a Classe 80000: “Ativi-
8020-0/02 Outras atividades de ser- dades de vigilância, segurança, transpor-
32

viços de segurança te de valores e investigação”, que reúne


as diversas categorias observadas ante- que reúne membros das forças armadas,
riormente na CNAE 2.0. Cabe notar que policiais e bombeiros militares. Os policiais
os serviços de investigação particular, civis estão dispostos no Grande Grupo 2,
não considerados na definição anterior, dos profissionais das ciências e das artes,
estão automaticamente incluídos nas de- e no Grande Grupo 3, dos técnicos de nível
finições que envolvem a CNAE Domiciliar. médio. No primeiro caso, encontramos os
profissionais com nível superior, como os
Devido à diversidade e o espalhamento
peritos criminais e os delegados de polícia.
das categorias na CBO, definir e filtrar
Entre os técnicos de nível médio da polícia
as ocupações relacionadas à seguran-
civil, encontramos as ocupações de escri-
ça pública (Tabela 6) constitui tarefa um
vão, investigador e papiloscopista policial.
pouco mais complexa do que relacionar
No Grande Grupo 5, dos trabalhadores dos
as categorias ocupacionais que compu-
serviços, está a Família 5172, que reúne os
nham a segurança privada. A definição
agentes das polícias federal e rodoviária
dos trabalhadores da segurança públi-
federal, além dos guardas municipais e po-
ca inclui os policiais militares e policiais
liciais legislativos. Por sua vez, na Família
civis, profissionais das polícias federal e
5173, dos vigilantes e guardas de seguran-
rodoviária federal, guardas municipais,
ça, encontram-se os agentes de segurança
agentes penitenciários e agentes de se-
penitenciária e os agentes de segurança.
gurança estatutários.
Nesse último caso, foram considerados
Os policiais militares (oficiais e praças) es- apenas os agentes de segurança pública
tão todos contidos no Grande Grupo 0, (servidores estatutários).

TABELA 6
Categorias empregadas para filtrar ocupações da SEGURANÇA
PÚBLICA na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO/2002

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


Grande Subgrupo Sub Cód.
Família Titulação da Ocupação
Grupo principal grupo Ocup.

Membros das Forças Armadas, Policiais e Bom-


0
beiros Militares
2 Policiais Militares
20 Oficiais de Polícia Militar
201 Oficiais superiores da polícia militar
201-05 Coronel da polícia militar
201-10 Tenente-coronel da polícia militar
201-15 Major da polícia militar
202 Capitães da polícia militar
202-05 Capitão da polícia militar
203 Tenentes da polícia militar
203-05 Primeiro tenente de polícia militar
203-10 Segundo tenente de polícia militar
21 Praças de Polícia Militar
211 Subtenentes e sargentos da polícia militar
211-05 Subtenente da polícia militar
33

211-10 Sargento da polícia militar


Grande Subgrupo Sub Cód.
Família Titulação da Ocupação
Grupo principal grupo Ocup.

212 Cabos e soldados da polícia militar


212-05 Cabo da polícia militar
212-10 Soldado da polícia militar
2 Profissionais das Ciências e das Artes
20 Pesquisadores e Profissionais Policientíficos
204 Profissionais de Investigação Criminal
2041 Peritos criminais
2041-05 Perito criminal
24 Profissionais das Ciências Jurídicas
Advogados do Poder Judiciário e da Segurança
242
Pública
2423 Delegados de polícia
2423-05 Delegado de polícia
3 Técnicos de Nível Médio
35 Técnicos de Nível Médio nas Ciências Administrativas
351 Técnicos das Ciências Administrativas
3514 Serventuários da justiça e afins
3514-20 Escrivão de polícia
3518 Agentes de investigação e identificação
3518-10 Investigador de polícia
3518-15 Papiloscopista policial

TABELA 6

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


Categorias empregadas para filtrar ocupações da segurança pública
na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO/2002 (continuação)30

Grande Subgrupo Sub Cód.


Família Titulação da Ocupação
Grupo principal grupo Ocup.

Trabalhadores dos Serviços, Vendedores


5
do Comércio em Lojas e Mercados
51 Trabalhadores dos Serviços
Trabalhadores nos Serviços
517
de Proteção e Segurança
Policiais, guardas-civis municipais
5172
e agentes de trânsito
5172-05 Agente de polícia federal
5172-10 Policial rodoviário federal
5172-15 Guarda-civil municipal
5172-25 Policial legislativo
5173 Vigilantes e guardas de segurança
5173-10 Agente de segurança
5173-15 Agente de segurança penitenciária
34

30 Em negrito, especificamente os códigos selecionados para definir operativamente a segurança privada.


Já na Classificação de Ocupações para superior e policiais federais, por exemplo.
Pesquisas Domiciliares (COD), as ocupa- Existe apenas um grupo de base 5142,
ções estão agregadas em grupos de base. que designa genericamente os “policiais”.
Os policiais militares, como na CBO, estão A COD permite ainda filtrar guardiões
no Grande Grupo 0, das forças armadas, de presídios. A definição incluiu ainda os
policiais e bombeiros militares. No caso da guardas de segurança e os trabalhadores
polícia civil, o Grupo 3355 (dos inspeto- dos serviços de proteção e segurança não
res de polícia e detetives) contempla os classificados anteriormente que eram ser-
policiais de nível técnico e médio. Não há, vidores públicos estatutários, numa ten-
entretanto, categoria de ocupação que tativa de separar guardas municipais de
permita distinguir policiais civis de nível outros guardas da segurança privada.

TABELA 7
Categorias empregadas para filtrar ocupações da segurança pública
na Classificação de Ocupações para Pesquisas Domiciliares – COD

Grande Subgrupo Grupo


Subgrupo Denominação
Grupo principal de base

0 Membros das Forças Armadas, Policiais e Bombeiros Militares


04 Policiais
041 Policiais Militares
0411 Oficiais da Polícia Militar
0412 Graduados e praças da Polícia Militar
3 Técnicos e profissionais de nível médio
Profissionais de nível médio em operações financeiras
33
e administrativas

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


335 Agentes da administração pública para aplicação da lei e afins
3355 Inspetores de polícia e detetives
Trabalhadores dos Serviços, Vendedores do Comércio
5
em Lojas e Mercados
54 Trabalhadores dos Serviços de Proteção e Segurança
541 Trabalhadores nos Serviços de Proteção e Segurança
5412 Policiais
5413 Guardiões de Presídios
5414 Guardas de segurança
Trabalhadores dos serviços de proteção
5419
e segurança não classificados anteriormente

No que tange às atividades econômicas, A partir daí está dividida em dois grupos:
a segurança pública aparece na CNAE
Grupo:
2.0 na seguinte estrutura:
84.1 Administração do estado e da
Seção O. Administração pública, defesa
política econômica e social
e seguridade social
Classe:
Divisão 84. Administração pública, de-
35

fesa e seguridade social 84.11-6 Administração pública em geral


84.2 Serviços coletivos prestados 84011
pela administração pública Administração pública federal
Classe: 84012
Administração pública estadual
84.24-8 Segurança e ordem pública
84013
Administração pública municipal
Num primeiro momento as análises se
84015
concentram apenas na classe 84.24-8, Outros serviços coletivos prestados
específica dos serviços de segurança e pela administração pública - federal
ordem pública. Entretanto, o cruzamen-
to com as ocupações na RAIS mostrou, 84016
Ooutros serviços coletivos
por exemplo, que os policiais militares (e
prestados pela administração
alguns policiais civis) não estavam nessa
pública - estadual
categoria, mas sim numa categoria mais
geral, da classe 84.11-6. Assim, as ativida- 84017
des relacionadas à administração pública Outros serviços coletivos
em geral também devem ser observadas. prestados pela administração
pública - municipal
A CNAE Domiciliar, para a segurança pú-
blica, apresenta uma estrutura de classifi-
Teoricamente, observando os descritores
cação de atividades idêntica à CNAE 2.0, das categorias, as polícias estariam em
com a Seção O, da administração pública, “outros serviços coletivos”, respeitando
defesa e seguridade social e a Divisão 84, a esfera da administração pública perti-
da administração pública, defesa e segu- nente (federal, estadual ou municipal). As
ridade social. A partir do seguinte nível polícias civis e militares estariam no códi-
de divisão, há diferenças significativas go 84016. Na prática, cruzando os dados
em relação à CNAE 2.0. A CNAE Domici-

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


das atividades com as categorias ocu-
liar não separa um grupo específico para pacionais, nas bases de dados da PNAD
a segurança pública, pulando diretamen- existiam policiais registrados nas catego-
te para os seguintes grupos: rias mais gerais 84011, 84012 e 84013.

36
6

DIMENSIONAMENTO
DA SEGURANÇA
PRIVADA NO RIO
DE JANEIRO
Ao final da identificação e avaliação das utilizado nas análises. Adicionalmente, os
fontes de dados, optou-se por utilizar, no dados da Polícia Federal foram utilizados
dimensionamento do setor de segurança pontualmente, apenas para o ano de 2016,
privada, os registros administrativos do Mi- único para o qual conseguimos acesso33.
nistério do Trabalho (RAIS), bem como os
Especificamente, este estudo concentrou
dados gerados pela PNAD Contínua, pes-
suas análises nas ocupações e grupos de
quisa amostral realizada pelo IBGE. Tais

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


ocupações registrados, respectivamente,
fontes permitem a elaboração de uma sé-
na RAIS e na PNAD Contínua, diferente-
rie histórica relativamente longa31 e consti-
mente de outros trabalhos cujas defini-
tuem processos de produção de dados ain-
ções de segurança privada partiram das
da ativos, o que possibilitará atualizações
atividades econômicas34. Cabe observar
futuras dos números obtidos neste estudo.
que estas duas fontes de dados utilizam
A RAIS permite consultar um período mui-
classificações estatísticas diferentes para
to maior de tempo (1985 a 2017), enquanto
registrar a ocupação, não sendo, portanto,
a PNAD Contínua é mais recente, cobrindo
perfeitamente comparáveis entre si. Como
uma série histórica de 2012 a 201732. Con-
já foi explicado, a RAIS utiliza a CBO/2002,
siderando o objetivo de comparar dife-
o que possibilita selecionar diretamente as
rentes fontes, esse período mais restrito, o
ocupações de interesse da pesquisa. Por
da PNAD Contínua, foi o recorte temporal
sua vez, a PNAD Contínua utiliza na tipifi-
cação das ocupações a COD, que agrega
31 A incompatibilidade das definições sobre segurança
privada e as alterações históricas nas próprias classifica- as categorias de ocupação em apenas dois
ções estatísticas, que se modificaram durante as últimas “grupos base”, que equivalem às famílias
décadas, não nos permitiram comparar os dados de nos-
sa pesquisa com os dados de pesquisas anteriores, como ocupacionais da CBO/2002. A Tabela 8,
Musimeci (1998) e Zanetic (2006). embaixo, lista as categorias consideradas
32 A PNAD Contínua coleta e divulga tanto informações em cada uma das fontes de dados.
conjunturais (mensais e trimestrais), quanto informações
estruturais, com periodicidade anual. No momento da 33 Ver seção 4, sobre as fontes de dados.
37

realização deste trabalho estavam disponíveis os dados


anuais até 2017 e os dados do terceiro trimestre de 2018. 34 Ver Musumeci (1998) e Zanetic (2006).
TABELA 8
Categorias empregadas para selecionar ocupações da SEGURANÇA
PRIVADA na RAIS (CBO/2002) e PNAD Contínua (COD)

Ocupações da CBO/2002 utilizadas na definição da segurança privada na RAIS

Código da Ocupação Titulação da Ocupação

5103-10 Supervisor de Vigilantes

5173-05 Agente de Proteção de Aeroporto

5173-10 Agente de Segurança*

5173-20 Vigia Florestal

5173-25 Vigia Portuário

5173-30 Vigilante

5173-35 Guarda Portuário

5174-20 Vigia

9513-15 Monitor de Sistemas Eletrônicos de Segurança Interno

9513-20 Monitor de Sistemas Eletrônicos de Segurança Externo

Grupos de base da COD utilizados na definição da segurança privada na PNAD Contínua

Grupo de base Denominação

5414 Guardas de segurança*


Trabalhadores dos serviços de proteção e segurança não classificados
5419

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


anteriormente*

* Foram considerados na definição todos aqueles que não eram servidores públicos estatutários.

Apresentamos a seguir, segundo as três pela Polícia Federal. Por sua vez, os resul-
fontes supracitadas, as estatísticas do tados obtidos a partir da PNAD Contínua
número de trabalhadores do setor de se- levam a uma estimativa de 111.825 pessoas
gurança privada para o estado do Rio de em ocupações da Segurança Privada35 – um
Janeiro. Uma primeira observação a ser pouco mais do que o dobro do valor regis-
realizada, no que se refere à comparação trado pela Polícia Federal e 14,5% maior do
entre as fontes, consiste na diferença nos que os números registrados pela RAIS. Já
valores absolutos das estatísticas obtidas. no ano de 2017, foram registrados 91.289
vínculos ativos na RAIS, enquanto a PNAD
De acordo com a Coordenação Geral de
Contínua levantou 113.292 pessoas em ocu-
Controle de Segurança Privada (CGCSP), da
pações da segurança privada, uma cifra
Polícia Federal, existiam no Rio de Janeiro,
24% maior do que a apontada pela RAIS.
no final de 2016, um total de 53.899 vigilan-
tes cadastrados. Para o mesmo ano, a Re- 35 Esta é a estimativa pontual do total de pessoas em
ocupações da segurança privada em 2016. Como a PNAD
lação Anual de Informações Sociais (RAIS) Contínua é uma pesquisa por amostragem, existe uma
registrou um total de 97.582 vínculos ativos margem de erro associada a essa estimativa pontual. Es-
tatisticamente, o número de trabalhadores da Segurança
em ocupações da segurança privada – um
38

Privada em 2016, estaria entre 101.999 e 121.651 pessoas,


valor cerca de 80% superior ao registrado com um nível de confiança das estimativas de 95%.
TABELA 9
Efetivos da segurança privada no Rio de Janeiro

Fonte de Dados Tipo de Fonte 2016 2017

DPF/CGCSP Registro Administrativo 53.899

RAIS Registro Administrativo 97.582 91.289

PNAD Contínua Pesquisa Amostral 111.825 113.292

Fontes: DPF/CGCSP. MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua

GRÁFICO 1
Efetivos da Segurança Privada no Rio de Janeiro

140.000 2016 2017


124.933
120.000 111.825

97.582
100.000 91.289

80.000

60.000 53.899

40.000

20.000

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


0
PF/CG CSP RAIS PNAD Contínua

Fontes: DPF/CGCSP. MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua

Estas diferenças observadas nos valores patrimonial – os chamados serviços orgâ-


absolutos das estatísticas, sobretudo no nicos de segurança.
que tange aos dados da Polícia Federal,
Na prática, os registros administrativos
têm a ver com características específicas
da Polícia Federal parecem ser computa-
das fontes de dados utilizadas e com as
dos a partir de uma definição muito mais
limitações próprias de cada uma delas. A
restritiva do que as demais fontes de da-
Polícia Federal é a agência governamen-
dos. Em primeiro lugar, a estatística dei-
tal formalmente responsável pelo contro-
xa de fora os negócios e empresas que
le e fiscalização do setor dos serviços pri-
não foram legalmente constituídos, ou
vados de segurança no Brasil. Ela registra
seja, aqueles não registrados nas juntas
o número de vigilantes ativos em empre-
comerciais de seus respectivos estados.
sas cadastradas especializadas nos servi-
ços de vigilância e transporte de valores, Em segundo lugar, a estatística compu-
e também naquelas empresas que consti- tada pela Polícia Federal deixa de lado
39

tuem seus próprios setores de segurança todo um contingente de empresas de se-


gurança que, embora estejam constituí- além de não registrar os trabalhadores
das legalmente como pessoas jurídicas do setor informal e as empresas de segu-
de direito privado nas juntas comerciais rança irregulares, o registro deixa de fora
de seus estados, não estão formalizadas também os vigias e outros profissionais
junto à CGCSP da PF, carecendo então de vigilância e guarda com atuação não
da autorização para desempenhar ativi- regulamentada.
dades de vigilância e segurança privada. Por sua vez, os registros da RAIS possi-
Vale lembrar que estas últimas empresas bilitam observar um espectro mais amplo
podem, a princípio, emitir a RAIS junto ao de profissionais que exercem atividades
Ministério de Trabalho e Emprego, mes- de policiamento e vigilância, guarda e
mo não contando com a autorização da transporte de valores. Isso pode ser vis-
Polícia Federal. lumbrado na Tabela 10, a seguir, a partir
Em terceiro lugar, os registros adminis- da composição das ocupações que fize-
trativos da Polícia Federal parecem ser ram parte da definição de profissionais
computados a partir de uma definição de segurança privada.
muito mais restrita do profissional que A ocupação “Vigilante” (5173-30), con-
exerce atividades de policiamento priva- tida na família CBO/2002, utilizada para
do. Segundo a Portaria Nº 3.233/2012 da classificar “Vigilantes e guardas de segu-
Polícia Federal (DPF), vigilante é o pro- rança” (5173), representou pouco menos
fissional responsável pela execução das de 60% do efetivo de trabalhadores da
atividades de segurança privada. Para Segurança Privada, nos dois últimos anos
tanto, esse profissional deve ser capaci- da série. A segunda ocupação mais fre-
tado especificamente para essas ativida- quente foi a de “Vigia” (5174-20). Nessa
des, deve estar empregado em empresas categoria, contida na família CBO/2002
especializadas ou possuidoras de serviço utilizada para classificar “Porteiros e vi-
orgânico de segurança; e precisa ainda gias” (5174), estavam presentes cerca
estar registrado no DPF, que emite a Car- de 30 mil profissionais, que equivalem a

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


teira Nacional de Vigilante (CNV). Logo, aproximadamente 35% do valor total.

TABELA 10
Composição das ocupações do efetivo da segurança
privada na RAIS – Rio de Janeiro, 2016 e 2017

2016 2017
Família CBO/2002 Ocupação CBO/2002
FREQ % FREQ %
Supervisores dos serviços
Supervisor de vigilantes 2.439 2,5 2.215 2,4
de proteção e segurança
Agente de proteção
748 0,8 646 0,7
de aeroporto

Agente de segurança 2.304 2,4 2.052 2,2

Vigia florestal 31 0,0 28 0,0


Vigilantes e guardas
de segurança
Vigia portuário 156 0,2 26 0,0

Vigilante 58.170 59,6 53.038 58,1


40

Guarda portuário 325 0,3 434 0,5


Porteiros, vigias e afins Vigia 33.347 34,2 32.614 35,7

Monitor de sistemas
eletrônicos de 59 0,1 179 0,2
Instaladores e mantenedores segurança interno
de sistemas eletrônicos
de segurança Monitor de sistemas
eletrônicos de 3 0,0 57 0,1
segurança externo

Total 97.582 100,0 91.289 100,0

Fonte: MTE/RAIS

Adicionalmente, é possível verificar como ticamente todos alocados em empresas


estas duas ocupações numericamente e empreendimentos econômicos não cir-
mais relevantes (vigilantes e vigias) se dis- cunscritos ao campo da segurança (97%
tribuem em termos dos diferentes setores em 2016 e 2017). Como constatou Musu-
de atividade econômica das empresas em meci (1998), utilizando dados da PNAD
que esses trabalhadores atuam (Tabela 11). para 1995, a ocupação “vigilante” pode
A partir desse cruzamento entre ocupa- ser considerada típica do setor especia-
ções e atividades econômicas, distinguin- lizado na prestação de serviços privados
do as atividades relacionadas à segurança de segurança, enquanto a ocupação “vi-
privada e um grupo mais amplo de outras gia” corresponde a profissionais que atu-
atividades (comércio, instituições finan- am em empresas que se dedicam a diver-
ceiras, administração pública etc.), veri- sos ramos de atividade.
ficamos que a primeira ocupação, a dos Os valores registrados pela Polícia Fede-
Vigilantes, está majoritariamente contida ral são, via de regra, inferiores aos obti-

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


no segmento específico da segurança pri- dos pelas pesquisas e registros de outras
vada (86% em 2016 e 85% em 2015), que instituições. Como já foi explicado, a ex-
inclui as áreas: “Vigilância e Segurança plicação mais plausível para a diferença é
Privada”, “Transporte de Valores” e “Mo- que a Polícia Federal só computa os ca-
nitoramento de Sistemas de Segurança”. sos de empresas e trabalhadores forma-
Já os trabalhadores registrados na cate- lizados e regularizados, submetidos ao
goria ocupacional “vigias” estavam pra- seu controle.

TABELA 11
Efetivo nas ocupações da segurança privada pelos setores de atividades
econômicas das empresas na RAIS. Rio de Janeiro, 2016 e 2017
Ocupações
Efetivo
Atividades Outras Total da
Econômicas ocupações Vigilantes Vigias Segurança
da Segurança (5173-30) (5174-20) Privada
Privada
2016 2017 2016 2017 2016 2017 2016 2017

Vigilância e Freq. 1.854 1.720 45.213 42.164 775 615 47.842 44.499
Segurança % sobre
Privada 30,6% 30,5% 77,7% 79,5% 2,3% 1,9% 49,0% 48,7%
41

Ocupação
Freq. 182 159 4.784 2.902 0 0 4.966 3.061
Transporte
de Valores % sobre
3,0% 2,8% 8,2% 5,5% 0,0% 0,0% 5,1% 3,4%
Ocupação

Monitoramento Freq. 53 66 45 69 218 232 316 367


de Sistemas % sobre
de Seg. 0,9% 1,2% 0,1% 0,1% 0,7% 0,7% 0,3% 0,4%
Ocupação

Outras Freq. 3.976 3.692 8.128 7.903 32.354 31.767 44.458 43.362
atividades % sobre
econômicas 65,6% 65,5% 14,0% 14,9% 97,0% 97,4% 45,6% 47,5%
Ocupação
Freq. 6.065 5.637 58.170 53.038 33.347 32.614 97.582 91.289
Total % sobre
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Ocupação

Fonte: MTE/RAIS

Os dados levantados pela PNAD Contí- regulamentados. Nesse sentido, a hipóte-


nua utilizam classificações de ocupação se mais clara para o número mais elevado
e atividades econômicas ajustadas às registrado nas estimativas da PNAD Con-
pesquisas domiciliares (Tabela 12). No tínua é que ela está registrando também
que se refere especificamente às ocupa- a parcela não formal da economia. Os da-
ções da segurança privada, isto implica dos da RAIS, por outro lado, tratam de
dizer que apenas duas categorias foram um universo mais restrito de empregados
utilizadas para representar esse universo e empresas. Um detalhe importante é que
de trabalhadores. A categoria “Guardas a RAIS registra vínculos empregatícios e
de segurança” (5414) é predominante na não pessoas ocupadas, como a PNAD
estimativa, representando, no estado do Contínua. Isso quer dizer, por exemplo,
Rio de Janeiro, 94,5% dos casos em 2016 que dois vínculos podem se referir a um
e 97,2% dos casos em 2017. A segunda e mesmo indivíduo com mais de uma ocu-

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


última categoria disponível, “Trabalhado- pação ou atividade. Porém, essa possível
res dos serviços de proteção e segurança superestimação do número de pessoas
não classificados anteriormente” (5419), empregadas pela RAIS não consegue
é residual, correspondendo a 5,5% dos compensar a ausência dos empregos in-
casos em 2016 e apenas 2,8% em 2017. formais em relação à PNAD Contínua.
Como visto, as estimativas para o efetivo No cruzamento entre ocupações e ramos
da segurança privada na PNAD Contínua de atividade, vemos que a categoria re-
foram sistematicamente maiores do que sidual dos trabalhadores em serviços de
os números obtidos junto à RAIS – 14,5%
proteção e segurança não classificados
mais elevados em 2016 e 24% em 2017.
está totalmente concentrada em ativida-
Devemos aqui considerar que o levanta-
des econômicas não específicas do cam-
mento de dados da RAIS se dá no nível
po da segurança. Já as pessoas ocupadas
dos estabelecimentos, registrando infor-
como Guardas de Segurança estão distri-
mações sobre o mercado de trabalho for-
buídas de maneira equilibrada entre em-
mal (CLT e estatutários), o que possibili-
preendimentos específicos do campo da
ta um quadro anual do setor organizado
segurança (45,5% em 2016 e 48,5% em
da economia. Já a PNAD Contínua coleta
2017) e empreendimentos em outros ra-
seus dados diretamente dos indivíduos
mos de atividade.
em seus domicílios, sem restringir o re-
gistro e preenchimento à ocupação em As categorias da CBO Domiciliar não per-
42

empresas e estabelecimentos formais e mitem distinguir entre diferentes ocupa-


ções dentro da Segurança Privada. Assim, 2017) foi maior do que aquele registrado
os conceitos de “vigilantes” e “vigias” en- nos dados da RAIS (45% em 2016 e 47,5%
contrados na RAIS parecem estar incluídos em 2017), o que mostra também uma di-
aqui na categoria “guardas de seguran- ferença na composição das estatísticas e
ça”. O percentual do efetivo da segurança aponta a possibilidade de que o nível de
privada em empresas não especializadas informalidade seja maior entre as empre-
em segurança (57% em 2016 e 53% em sas não especializadas em segurança.

TABELA 12
Efetivo nas ocupações da segurança privada pelos setores de atividades
econômicas na PNAD Contínua – Rio de Janeiro, 2016 e 2017

Ocupações

Trabalhadores dos Efetivo Total


Atividades
serviços de proteção da Segurança
Econômicas Guardas de
e segurança não Privada
Segurança (5414)
classificados
anteriormente (5419)

2016 2017 2016 2017 2016 2017

Vigilância, Freq. 48.033 53.413 0 0 48.033 53.413


segurança,
transporte
de valores % sobre Ocupação 45,5% 48,5% 0,0% 0,0% 43,0% 47,1%
e investigação

Outras atividades Freq. 57.598 56.732 6.195 3.147 63.793 59.879


econômicas % sobre Ocupação 54,5% 51,5% 100,0% 100,0% 57,0% 52,9%
Freq. 105.631 110.145 6.195 3.147 111.826 113.292

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


Total
% sobre Ocupação 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: IBGE/PNAD Contínua

43
7

DIMENSIONAMENTO
E DISTRIBUIÇÃO
DA SEGURANÇA
PRIVADA NO BRASIL
No Brasil, segundo dados do Departa- total de 1.207.334 pessoas em ocupações
mento de Polícia Federal, existiam em da segurança privada36 – esta estimativa
2016 um total de 519.014 vigilantes for- é 2,3 vezes o valor registrado pela Polí-
malmente cadastrados. Nesse mesmo cia Federal e cerca de 20% maior do que
ano, com os registros da RAIS observa- os números da RAIS. Em 2017, o número
de vínculos ativos registrados pela RAIS
mos um total de 1.003.817 vínculos em-
para as ocupações da segurança privada

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


pregatícios ativos em ocupações caracte-
foi igual a 959.840, enquanto o total de
rísticas da segurança privada – um valor pessoas em ocupações da segurança pri-
93% maior do que aquele registrado pela vada estimado pela PNAD Contínua foi
Polícia Federal. Já as estimativas obtidas de 1.152.46137. Esse valor é 20% maior do
a partir da PNAD Contínua, apontam um que os números da RAIS.

TABELA 13
Efetivos da Segurança Privada no Brasil

Fonte de Dados Tipo de Fonte 2016 2017

DPF/CGCSP Registo Administrativo 519.014


RAIS Registo Administrativo 1.003.817 959.840
PNAD Contínua Pesquisa Amostral 1.207.334 1.152.461

Fontes: DPF/CGCSP. MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua

36 Considerando a margem de erro da estimativa da PNAD Contínua, o número de pessoas em ocupações da segurança
privada no Brasil em 2016, está provavelmente entre 1.036.346 e 1.378.321 pessoas, com um nível de confiança de 95%.
44

37 Com a margem de erro, o valor oscilaria entre 1.003.587 e 1.301.335 pessoas ocupadas.
GRÁFICO 2
Efetivos da Segurança Privada no Brasil

1.600.000 2016 2017

1.400.000
1.207.334

1.200.000 1.152.461

1.003.817
959.840
1.000.000

800.000

600.000 519.014

400.000

200.000

0
PF/CG CSP RAIS PNAD Contínua

Fontes: DPF/CGCSP. MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua

Observando a distribuição das estatísticas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul. Consi-
sobre segurança privada para os estados derando o ano de 2017, Minas Gerais foi o
brasileiros e o Distrito Federal para os anos terceiro estado com maior efetivo (8,0%
de 2016 e 2017, verificamos que o estado pela RAIS e 9,5% pela PNAD Contínua),
de São Paulo concentra o maior número pouco menos do que seu peso populacio-
desses profissionais, seguido de Rio de Ja- nal que eram de 10,1% nesse mesmo ano.
neiro. Dependendo da fonte e do ano ob- Já Bahia e Rio Grande do Sul se alternaram
servados, estes dois estados concentram entre a quarta e a quinta posição. A Bahia

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


juntos entre 34,3% (na PNAD Contínua apresentou uma participação no efetivo
2017) e 39,6% (pelos dados do DPF 2016) nacional da segurança privada entre 5%
do efetivo brasileiro da segurança privada. e 6% (5,9% pela RAIS e 5,3% pela PNAD
Contínua), menos do que os 7,4% de seu
Em 2017, São Paulo concentrou cerca
peso populacional, estatísticas muito pró-
de 25% do efetivo da segurança privada
ximas das observadas para o Rio Grande
nacional (25,8% pela RAIS e 24,4% pela
do Sul (5,2% pela RAIS e 5,7% pela PNAD
PNAD Contínua), um percentual um pou-
Contínua, comparados com uma participa-
co mais elevado do que seu peso popu-
ção na população brasileira de 5,5%).
lacional (21,7%). O estado apresentou
281.738 profissionais da segurança priva- Em suma, os cinco estados supracitados
da, segundo os dados da PNAD Contínua, concentravam juntos mais da metade do
e 247.646, segundo os dados da RAIS. efetivo da segurança privada no país. Em
No mesmo ano, o Rio de Janeiro possuía 2017, essa participação foi de 58,4% na
pouco menos de 10% do efetivo nacional RAIS e 54,9% segundo a PNAD Contínua.
(9,5% pela RAIS e 9,8% pela PNAD Contí- Já em 2016, esse peso percentual variou
nua), enquanto a população deste estado de 55% na RAIS, passando por 57,5% pelos
correspondia a 8% da população nacional. dados do DPF, a 58,4% na PNAD Contínua.
Em seguida, numa posição intermediária, Esse padrão é bastante similar ao detec-
os estados com maior número de profis- tado por Zanetic (2006), utilizando dados
45

sionais da segurança privada foram Minas da Polícia Federal para o ano de 2004.
Naquele ano estes mesmos cinco estados na segurança privada e o peso do estado
apareciam com os maiores efetivos no na população geral. Em São Paulo e Rio
país, embora Rio Grande do Sul e Bahia de Janeiro há uma sobrerrepresentação
tivessem apresentado números maiores do efetivo da segurança privada, que é
do que o estado de Minas Gerais. A par- proporcionalmente mais relevante no
ticipação conjunta destes cinco estados Rio de Janeiro. Já Minas Gerais e Bahia
era de 60,7%, também muito próxima da registraram uma sub-representação do
registrada com os dados de 2016 e 2017. percentual de profissionais da segurança
Outra consideração interessante, reside privada em relação à população. Por sua
no fato de não terem sido registradas, en- vez, no Rio Grande do Sul as estatísticas
tre estes cinco estados, grandes diferen- populacionais e da segurança privada ti-
ças entre o percentual de profissionais veram a mesma magnitude.

TABELA 14
Efetivos da Segurança Privada no Brasil e UFs, 2016 e 2017

RAIS PNAD Contínua DPF/CGCSP


Unidade da Federação
2016 2017 2016 2017 2016
Brasil 1.003.817 959.840 1.207.334 1.152.461 519.014
Acre 3.124 3.201 3.655 3.538 1.606
Alagoas 13.810 12.113 18.299 15.888 5.751
Amapá 4.146 3.078 4.967 5.008 3.908
Amazonas 17.941 17.056 19.201 21.336 10.165
Bahia 60.040 56.847 86.981 61.252 32.778
Ceará 38.544 37.357 38.385 47.298 16.902
Distrito Federal 32.028 30.404 37.195 38.509 20.319

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


Espírito Santo 16.775 15.813 23.233 23.503 10.997
Goiás 32.866 30.877 31.625 40.522 15.753
Maranhão 28.230 27.577 37.736 34.196 10.018
Mato Grosso 16.759 16.144 16.605 18.810 6.180
Mato Grosso do Sul 10.301 10.083 11.362 12.457 5.019
Minas Gerais 84.751 76.905 77.857 110.232 33.255
Pará 36.849 38.139 38.152 42.176 14.127
Paraíba 17.391 17.374 16.745 17.562 6.974
Paraná 50.231 49.387 65.509 52.379 25.373
Pernambuco 40.725 39.905 47.428 48.448 20.173
Piauí 15.086 15.425 10.519 15.636 5.010
Rio de Janeiro 97.582 91.289 111.825 113.292 53.899
Rio Grande do Norte 14.081 13.446 20.690 20.820 7.260
Rio Grande do Sul 51.647 49.816 68.631 66.147 26.755
Rondônia 9.450 9.054 6.839 12.247 4.865
Roraima 2.627 2.400 1.985 2.555 1.022
Santa Catarina 33.225 31.786 38.368 33.004 21.179
São Paulo 257.581 247.646 359.830 281.738 151.857
Sergipe 12.353 10.844 9.422 9.102 5.896
Tocantins 5.674 5.874 4.291 4.806 1.973
46

Fontes: DPF/CGCSP. MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua


Para poder comparar melhor a presen- habitantes, seguidos de Rondônia e
ça relativa da segurança privada nos es- Rio de Janeiro, com taxas próximas a
tados, foi calculada a taxa de profissio- 680. Tocantins e Sergipe apresentaram
nais da segurança privada por 100.000 além dos menores efetivos, também as
habitantes. No Brasil, em 2017, essa menores taxas. Já o estado da Bahia,
taxa foi de 555 pessoas ocupadas por quarto estado em números absolutos,
100.000 habitantes, segundo os dados apresentou a terceira menor taxa de
da PNAD Contínua, e 462 empregados profissionais da segurança, observando
por 100.000 habitantes, a partir dos re- 370 profissionais por 100.000 habitan-
gistros da RAIS. O Distrito Federal foi a tes, segundo os dados da RAIS e 399
unidade da federação com a maior taxa, profissionais por 100.000 habitantes
superior a mil profissionais por 100.000 segundo a PNAD Contínua.

GRÁFICO 3
Efetivos da Segurança Privada por 100.000 habitantes
Brasil e UFs, 2017

Tocantins 378,9
Sergipe 473,9
Bahia 399,2
Acre
Paraíba
Mato Grosso do Sul
Paraná
Alagoas
Santa catarina
Piauí

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


Maranhão
Roraima
Pará
Pernanbuco
Minas Gerais 521,9
Ceará
Amazonas
Brasil 462,2

Mato Grosso
Rio Grande do Sul
Espírito Santo
Rio Grande do Norte
Goiás
São Paulo 624,8
Amapá
Rio de Janeiro 677,6
Rondônia 678,2
1.000,3
Distrito Federal 1.267,0

0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400

RAIS 2017 PNAD Contínua 2017


47

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua


GRÁFICO 4
Relação entre PIB per capita e efetivos da segurança privada
por 100.000 habitantes – Unidades da Federação, 2016

1400 Distrito Federal


Profissionais da Segurança Privada por

1200
100.000 habitantes

1000 São Paulo

800

600

400

200

0
0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000

PIB per capita

RAIS 2016 PNAD Contínua 2016 DPF 2016


RAIS 2016 PNAD Contínua 2016 DPF 2016

Fontes: DPF/CGCSP. MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua. IBGE/Produto Interno Bruto dos Municípios.

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


O gráfico 4 mostra a relação entre os efe- TABELA 15
tivos de profissionais da segurança priva-
Coeficientes de Correlações de
da por 100.000 habitantes, calculados
Pearson39 entre o PIB per capita das
por unidade da federação, e o PIB per
capita38. Independentemente da fonte unidades da federação e o efetivo
de dados empregada, é possível verificar da segurança privada por 100.000
uma relação linear positiva entre os efe- habitantes, por fonte – 2016
tivos e o desenvolvimento econômico, de
modo que os efetivos da segurança pri- Coeficientes de
vada parecem mais elevados nas unida- Correlação de Pearson
des da federação mais ricas, com maior Fonte Estados Estados
PIB. Esta relação pode ser comprovada e Distrito SEM Distrito
também a partir da Tabela 15. Os coefi- Federal Federal
cientes de correlação calculados entre o RAIS 2016 0,799 0,436
PIB per capita e os efetivos por 100.000 PNAD
0,792 0,499
habitantes foram positivos, estatistica- Contínua 2016
mente significativos e elevados, maiores DPF/CGCSP
0,719 0,354
do que 0,7 nas três fontes observadas. 2016

38 As análises foram realizadas para 2016, último 39 Todos os coeficientes de correlação marcados em ne-
48

ano para o qual os dados estavam disponíveis na grito foram estatisticamente significativos com nível de
página do IBGE. significância de 5%. N = 27 unidades da federação.
Entre as unidades da federação, o Dis- para guardas e vigias não acontece. Tais
trito Federal apresentou-se como um instituições públicas provavelmente
caso atípico, mostrando um padrão contratam através de licitação empre-
bastante diferenciado daquele observa- sas privadas de segurança, que empre-
do no conjunto dos estados. As taxas gam majoritariamente vigilantes. Os da-
de profissionais de segurança privada dos revelaram que no Distrito Federal,
por 100.000 habitantes foram as mais existem pouco mais de 6 vigilantes para
elevadas, atingindo 1.000 profissio- cada vigia registrado na RAIS, isto é
nais por 100.000 habitantes segundo 2,75 vezes a média nacional, o que traz
os dados da RAIS e 1.267 profissionais indícios de que a hipótese dos serviços
por 100.000 habitantes com os dados privados de segurança em instituições
da PNAD Contínua (ver Gráfico 3). Es- públicas é verossímil.
ses resultados foram, respectivamente
99% e 87% maiores do que as estatís- Finalmente, as taxas por unidade da fe-
ticas registradas em Rondônia, segun- deração de profissionais da segurança
da unidade da federação com as taxas privada por 100.000 habitantes também
mais elevadas. Esse resultado chega a foram utilizadas para avaliar a consistên-
influenciar a magnitude e a significância cia das fontes de dados testadas neste
dos coeficientes de correlação. Numa trabalho. Para tanto, foram calculados
análise sem o Distrito Federal, os coe- novos coeficientes de correlação entre os
ficientes são consideravelmente meno- valores das três fontes utilizadas (Polícia
res, e passam a indicar uma correlação Federal, RAIS e PNAD Contínua) (Tabela
moderada. Para os dados da Polícia Fe- 16) nos dois anos.
deral a relação deixa de ser estatistica-
O maior coeficiente de correlação acon-
mente significativa.
tece entre os registros da RAIS em 2016
Uma possível hipótese para entender a e 2017 (0,973), o que revela uma grande
posição diferenciada do Distrito Federal consistência destes registros no tempo,

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


tem a ver com a prestação de serviços entre as unidades da federação. Consis-
de segurança privada para instituições tência que parece ser menor na PNAD
públicas. Nesse sentido, observamos os Contínua, onde flutuações amostrais e di-
dados de ocupação da RAIS para cal- ferenças anuais na qualidade das estima-
cular a razão entre vigilantes e vigias. tivas dos estados talvez possam explicar
Como visto, os primeiros trabalham a correlação moderada entre as estimati-
predominantemente em empresas que vas de 2016 e 2017 (0,526).
prestam especificamente em serviços
de segurança, enquanto os vigias são Considerando agora as três fontes, para
trabalhadores menos especializados, o ano de 2016 as estatísticas da RAIS,
sendo empregados em setores de ati- PNAD Contínua e Polícia Federal mostra-
vidade econômica não diretamente re- ram uma correlação alta entre si, maiores
lacionados à segurança. A terceirização do que 0,8. Para 2017, as estatísticas da
das atividades meio no setor público é RAIS e da PNAD mostram também uma
uma tendência crescente e constante, correlação elevada, embora um pouco
de modo que a realização de concursos menor (0,769).
49
TABELA 16
Matriz de Correlações de Pearson40 para o efetivo da Segurança Privada
por 100.000 habitantes nas Unidades da Federação, segundo a fonte: RAIS,
PNAD e Polícia Federal – 2016 e 2017

PNAD
PNAD Contínua
Fonte RAIS 2016 RAIS 2017 Contínua DPF/CGCSP 2016
2017
2016
RAIS 2016 1,00
RAIS 2017 0,973 1,00
PNAD Contínua 2016 0,801 0,773 1,00
PNAD Contínua 2017 0,771 0,769 0,526 1,00
DPF/CGCSP 2016 0,865 0,767 0,836 0,559 1,00

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


50

40 Todos os coeficientes de correlação não marcados em vermelho foram estatisticamente significativos com nível de
significância de 5%. N = 27 unidades da federação.
8

EVOLUÇÃO
DA SEGURANÇA
PRIVADA NO RIO
DE JANEIRO E BRASIL
No estado do Rio de Janeiro, segundo tanto no número de pessoas ocupadas
as estimativas obtidas a partir das amos- na PNAD Contínua quanto no número
tras da PNAD Contínua, o total de pes- de vínculos empregatícios ativos regis-
soas ocupadas como guardas de segu- trados na RAIS. Segundo a PNAD Con-
rança privada ou em serviços privados tínua, no ano de 2012 existiam 1.179.686

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


de proteção e segurança era de 116.933 pessoas ocupadas como guardas de se-
em 2012. Já em 2017, ao final da série gurança privada ou em serviços de pro-
histórica, a estimativa foi de 113.292. Re- teção. Em 2017, a estimativa caiu para
gistrou-se, num período de cinco anos, 1.152.461, ou seja, uma redução de 2,3%
uma redução de 3,1% no contingente de em cinco anos. Segundo os dados da
trabalhadores em ocupações da segu- RAIS para o Brasil, entre 2012 e 2017, o
rança privada. número de vínculos empregatícios ati-
vos em ocupações da segurança pri-
Nesse mesmo período, segundo os re- vada passou de 1.111.560 para 959.840.
gistros administrativos da RAIS, obser- Nesse caso, a redução registrada foi de
vou-se no Rio de Janeiro uma queda 13,6%. A redução bem maior na RAIS do
ainda maior no número de trabalhadores que na PNAD Contínua pode ser inter-
em ocupações da segurança privada. A pretada como uma redução, sobretudo,
partir dessa fonte, foram registrados um das atividades formalizadas e regulari-
total de 114.462 vínculos ativos no ano zadas e, em menor medida, das infor-
de 2012 e de apenas 91.289 em 2017, o mais. Isso aponta para uma precariza-
que representa uma redução de 20,2%. ção crescente do setor.
No que diz respeito à evolução dos nú- Nos gráficos a seguir, é possível acompa-
meros da segurança privada no Brasil, nhar a evolução anual do efetivo da segu-
foi possível observar, assim como no rança privada entre 2012 e 2017, segundo
51

estado do Rio de Janeiro, uma redução os dados da RAIS e PNAD Contínua.


TABELA 17
Evolução do efetivo da Segurança Privada na RAIS e PNAD Contínua.
Rio de Janeiro e Brasil – 2012 a 2017

2012 2017 Evolução


Rio de Janeiro
PNAD Contínua 116.933 113.292 -3,1%
RAIS 114.462 91.289 -20,2%
Brasil
PNAD Contínua 1.179.686 1.152.461 -2,3%
RAIS 1.111.560 959.840 -13,6%

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua

GRÁFICO 5
Evolução do efetivo da Segurança Privada na RAIS e PNAD Contínua.
Rio de Janeiro – 2012 a 2017

160.000
140.000
120.000
100.000
80.000
60.000
40.000 PNAD Contínua RAIS
20.000

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua

GRÁFICO 6
Evolução do efetivo da Segurança Privada na RAIS e PNAD Contínua.
Brasil – 2012 a 2017
140.000

120.000

100.000

80.000

60.000

40.000
PNAD Contínua RAIS
20.000

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017
52

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua


Tanto no estado do Rio de Janeiro quanto (dados do CAGED) e também em compa-
para todo o Brasil percebe-se um movi- ração com o incremento do PIB per capita,
mento bastante similar. A série histórica da e com as taxas de desocupação (desem-
PNAD Contínua apresenta uma tendência prego aberto no segundo trimestre das
pequena de redução, embora seja mais pessoas de 14 anos ou mais, calculado a
instável para o Rio de Janeiro, para o qual partir da PNAD Contínua. Tanto no estado
as amostras são relativamente pequenas do Rio de Janeiro quanto no Brasil, há uma
e margem de erro é maior, de forma que redução do número de estabelecimentos
parte da variabilidade em alguns pontos registrados pelo CAGED a partir de 2015.
da série pode ser fruto de flutuação ale-
No Rio de Janeiro, essa redução foi mais
atória. Na série registrada pela RAIS há
abrupta. O estado, que registrou 4.831 es-
uma mudança mais clara na tendência, re-
tabelecimentos em 2014, registrou ape-
presentada por uma estabilidade na série,
de 2012 a 2014, seguida de quedas conse- nas 2.801 estabelecimentos em 2015, uma
cutivas do efetivo a partir de 2015, tanto queda de 42%. Em 2016 há uma recupera-
para o Rio de Janeiro quanto para o Brasil. ção, de modo que o número de estabeleci-
mentos cresceu 26,5% em relação ao ano
Como já foi explicado, as estimativas do anterior, mas depois há uma nova queda
efetivo da segurança privada na PNAD no número de estabelecimentos em 2017
Contínua registram o número de pessoas (de 41%). Assim, o estado do Rio de Ja-
ocupadas que afirmam trabalhar em ocu- neiro, que possuía 4.155 estabelecimentos
pações da segurança privada tanto na no ramo da Segurança Privada em 2012
ocupação principal quanto na secundária, passou a registrar apenas 2.089 estabele-
e incluem diversas posições na ocupação, cimentos em 2017, uma redução de 32%.
além da posição de empregados, como
empregadores ou trabalhadores por con- No Brasil, a redução a partir de 2015 foi
ta própria (no Rio de Janeiro, por exemplo, mais paulatina, embora com uma acelera-
em 2017, estes últimos equivaliam a quase ção brusca no último ano. A queda de 2014

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


5% do efetivo da segurança privada, se- para 2015 foi de 15% (passando de 44.051
gundo dados da PNAD Contínua). Isto po- para 37.539 estabelecimentos). Depois dis-
deria, potencialmente, contribuir a explicar so há uma diminuição de 8,5% em 2016, e
o fato de as estimativas da PNAD Contí- outra queda de 24% em 2017. Em suma, os
nua serem sistematicamente mais elevadas 43.068 estabelecimentos registrados em
do que as estatísticas computadas a par- 2012 caem para 25.973 estabelecimentos
tir dos registros administrativos da RAIS41. em 2017. No período, há uma redução de
Porém, a RAIS registra apenas vínculos cerca de 40%. Portanto, a redução obser-
empregatícios formais, de forma que uma vada nos efetivos da Segurança Privada foi
explicação para o distanciamento das sé- concomitante a uma redução no número de
ries da PNAD Contínua e da RAIS, a partir empreendimentos neste ramo de atividade
de 2015, está relacionada com a precariza- econômica. Porém, cabe destacar que essa
ção de postos de trabalho do setor. redução dos estabelecimentos é maior do
Os próximos gráficos mostram, para Rio que a dos efetivos, o que aponta novamen-
de Janeiro e Brasil, a evolução dos efetivos te a uma tendência de precarização.
da Segurança Privada em conjunto com Essa redução dos efetivos da Segurança
os totais de estabelecimentos em ativida- Privada também foi acompanhada por
des de vigilância, segurança e investigação um aumento nas taxas de desocupação.
O Rio de Janeiro registrou uma leve ten-
41 Isto acontece a despeito do fato de que a RAIS pode
dência de queda na desocupação entre
53

duplicar ocasionalmente indivíduos com mais de um


vínculo empregatício. 2012 e 2014, mas sofreu uma forte infle-
xão positiva a partir de 2015. A taxa de para 13% em 2017. A queda do número
desocupação do estado mais do que do- de vínculos empregatícios em ocupa-
brou, de 2015 para 2017, passando de 7,2 ções da Segurança Privada, registrada
a 15,6%. No Brasil, a evolução do desem- na RAIS, está inserida, portanto, num
prego foi similar, mas com intensidade contexto de elevação do desemprego e
menor. A taxa de desocupação, que era encolhimento da economia em geral e
de 6,4% em 2014 e 8,3% em 2015 passou do setor em particular.

GRÁFICO 7
Evolução dos efetivos da Segurança Privada na RAIS e PNAD Contínua e Total
de Estabelecimentos em atividades de vigilância, segurança e investigação.
Rio de Janeiro – 2012 a 2017
160.000 6.000

140.000
5.000
120.000
4.000
100.000

80.000 3.000

60.000
2.000
40.000
1.000
20.000
4.155 5.131 4.831 2.801 3.544 2.089
0 0
Fontes: MTE/
CAGED. MTE/ 2012 2013 2014 2015 2016 2017
RAIS. IBGE/PNAD

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


Contínua Total de Empresas PNAD Contínua RAIS

GRÁFICO 8
Evolução dos efetivos da Segurança Privada na RAIS e PNAD Contínua e Total
de Estabelecimentos em atividades de vigilância, segurança e investigação.
Brasil – 2012 a 2017
1.400.000 50.000

45.000
1.200.000
40.000
1.000.000 35.000

30.000
800.000
25.000
600.000
20.000

400.000 15.000

10.000
200.000
43.068 43.094 44.051 37.539 34.340 25.973 5.000
0 0
Fontes: MTE/
CAGED. MTE/ 2012 2013 2014 2015 2016 2017
54

RAIS. IBGE/PNAD
Contínua Total de Empresas PNAD Contínua RAIS
GRÁFICO 9
Evolução dos efetivos da Segurança Privada na RAIS
e PNAD Contínua e Taxas de Desocupação.
Rio de Janeiro – 2012 a 2017

16,0

14,0

12,0

10,0

8,0

6,0

4,0

2,0
7,4 6,9 6,4 7,2 11,4 15,6

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Taxa de Desocupação PNAD Contínua RAIS

Fontes: MTE/CAGED. MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua

GRÁFICO 10

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


Evolução dos efetivos da Segurança Privada na RAIS
e PNAD Contínua e Taxas de Desocupação.
Brasil – 2012 a 2017

140.000 14,0

120.000 12,0

100.000 10,0

80.000 8,0

60.000 6,0

40.000 4,0

20.000 2,0
7,5 7,4 6,8 8,3 11,3 13,0
0 0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Taxa de Desocupação PNAD Contínua RAIS


55

Fontes: MTE/CAGED. MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua


Obviamente, o desemprego não é a cau- no Brasil paralelamente à evolução do
sa última do fenômeno, na verdade é PIB, tal que os empregos na segurança
mais uma consequência do nível de ati- privada caem a partir de 2015, momento
vidade econômica. É a queda da ativi- em que o PIB despenca no país. O fim
dade econômica que provoca a elevação da recessão, mas sem crescimento real
do desemprego, por um lado, e a desa- em 2017, não é suficiente para recupe-
celeração do setor da segurança priva- rar o emprego nem para parar a queda
da, por outro, sendo que estes dois pro- no número de pessoas empregadas no
cessos estão profundamente vinculados setor. Confirma-se assim que o setor da
entre si. A título de exemplo, o Gráfico 11 segurança pública manifesta um com-
mostra a evolução da segurança privada portamento fortemente cíclico.

GRÁFICO 11
Evolução dos efetivos da Segurança Privada na RAIS
e PNAD Contínua e Variação percentual do PIB real a preços
de mercado em relação ao mesmo período do ano anterior.
Brasil – 2012 a 2017

1.400.000 6,0

1.200.000
4,0
1.000.000

4,02 2,0
800.000

600.000 0,99
0,42

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


0
-0,44
400.000
-2,71
-3,4 -2,0
200.000

0 -4,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Variação percentual do PIB real (2º trimestre)

PNAD Contínua

RAIS

Fontes: MTE/CAGED. MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua. IBGE/Sistema de Contas Nacionais (SCN)


56
9

COMPARAÇÕES
ENTRE OS SETORES
DE SEGURANÇA
PRIVADA E PÚBLICA
Para o dimensionamento do setor de segu- A CBO/2002 permite separar os policiais
rança pública no Rio de Janeiro e no Brasil militares por patente, enquanto a COD
foram utilizados, basicamente, os registros apenas os divide entre oficiais e praças.
da RAIS e os dados da PNAD Contínua, O mesmo ocorre entre os policiais civis.
ambos com uma série histórica no mesmo A CBO permite uma distinção mais fina,

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


período daquela observada nas análises da entre delegados, peritos, investigadores
segurança privada – 2012 a 2017. Adicional- entre outras ocupações, já a COD apre-
mente, foram empregados dados da pes- senta apenas as categorias “inspetores
quisa Perfil das Instituições de Segurança de polícia e detetives” e “policiais”. Esta
Pública, realizada pela Secretaria Nacional última categoria, por sua vez, reúne além
de Segurança Pública (SENASP), que traz dos policiais civis, os agentes das polícias
dados sobre as polícias civil e militar nas federal e rodoviária federal.
unidades da federação. Tal pesquisa possui
Algumas categorias ocupacionais pos-
uma série histórica que vai de 2004 a 2016,
suíam interpretação ambivalente e de-
de modo que seus dados serão utilizados
monstraram empiricamente poderem ser
apenas para o ano de 2016.
utilizadas para classificar tanto as ocu-
A Tabela 18 a seguir lista as categorias pações da segurança pública quanto da
ocupacionais consideradas em cada uma segurança privada. Este foi o caso dos
das fontes com o intuito de computar “agentes de segurança”, listados na CBO,
os efetivos totais da segurança públi- e dos “guardas de segurança” e “outros
ca. Como já explicado, a RAIS utiliza a trabalhadores dos serviços de proteção
CBO/2002 e possibilita acessar direta- e segurança, presentes na COD”. Nessas
mente as ocupações, enquanto a PNAD categorias, os trabalhadores foram dividi-
Contínua usa a COD, cuja categoria ocu- dos segundo seu tipo de vínculo (estatu-
pacional mais desagregada é o chamado tário ou não estatutário), sendo conside-
57

grupo base. rados separadamente para os cálculos da


segurança pública e privada. No caso das nos registros da RAIS. No caso da PNAD
guardas municipais, por exemplo, a CBO Contínua, entretanto, são selecionados os
possui a categoria guarda-civil municipal guardas de segurança em regime estatu-
(5172-15). Assim, os guardas municipais tário, numa tentativa de estimar o efetivo
podem ser trabalhados separadamente da guarda municipal.

TABELA 18
Categorias ocupacionais empregadas para selecionar ocupações
da SEGURANÇA PÚBLICA na RAIS (CBO/2002) e PNAD Contínua (COD)
Ocupações da CBO/2002 utilizadas na definição da segurança privada na RAIS

Cód. Ocup. Titulação da Ocupação

0201-05 Coronel da polícia militar


0201-10 Tenente-coronel da polícia militar
0201-15 Major da polícia militar
0202-05 Capitão da polícia militar
0203-05 Primeiro tenente de polícia militar
0203-10 Segundo tenente de polícia militar
0211-05 Subtenente da polícia militar
0211-10 Sargento da polícia militar
0212-05 Cabo da polícia militar
0212-10 Soldado da polícia militar
2041-05 Perito criminal
2423-05 Delegado de polícia

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


3514-20 Escrivão de polícia
3518-10 Investigador de polícia
3518-15 Papiloscopista policial
5172-05 Agente de polícia federal
5172-10 Policial rodoviário federal
5172-15 Guarda-civil municipal
5172-25 Policial legislativo
5173-10 Agente de segurança*
5173-15 Agente de segurança penitenciária
Grupos de base da COD utilizados na definição da segurança privada na PNAD Contínua
Grupo de base Denominação
0411 Oficiais da Polícia Militar
0412 Graduados e praças da Polícia Militar
3355 Inspetores de polícia e detetives
5412 Policiais
5413 Guardiões de Presídios
5414 Guardas de segurança*
5419 Trabalhadores dos serviços de proteção e segurança não classificados anteriormente*
58

* Foram considerados na definição apenas servidores públicos estatutários.


9.1 COMPARAÇÃO ENTRE A a 47.517 (69,6%) e 46.171 (69,7%) empre-
SEGURANÇA PRIVADA E A gados. Já a pesquisa da SENASP levantou
PÚBLICA NO RIO DE JANEIRO um total de 55.280 policiais em 2016, com
valores intermediários entre os registrados
Na Tabela 19 a seguir, são apresentadas
pelas outras duas fontes, embora dentro
as estatísticas do número de empregados
em ocupações da segurança pública no do intervalo de confiança da estimativa
estado do Rio de Janeiro, na RAIS e PNAD calculada a partir da PNAD Contínua. De
Contínua. A tabela traz ainda os efetivos fato, diferentemente do que acontecia na
das polícias (civil e militar), para as três fon- segurança privada com os dados da Polí-
tes citadas anteriormente. Como ocorreu cia Federal, os dados da segurança públi-
com as estatísticas da segurança privada, ca do Ministério da Justiça (SENASP) ofe-
os totais estimados pela PNAD Contínua recem uma confiabilidade maior, pois são
são maiores do que os valores registrados produto das respostas das Secretarias de
pela RAIS. Assim, segundo a PNAD Con- Segurança e afins dos governos estaduais
tínua, existiam 78.577 pessoas em ocupa- diretamente ao governo federal. Por outro
ções da segurança pública no estado do lado, aqui a formalidade ou informalidade
Rio de Janeiro em 2016, das quais 60.999 do vínculo não é questão relevante como
(77,6%) eram policiais civis ou militares. acontecia na segurança privada, pois a se-
Em 2017 a estimativa foi de 88.399 profis- gurança pública é, por definição, formali-
sionais da segurança pública, 73.152 (83%) zada. Além disso, os números de policiais
eram policiais civis ou militares. Este in- para o Rio de Janeiro, segundo os dados
cremento tão elevado num período de um da SENASP, coincidem com informações
ano não parece muito realista e aponta, na obtidas localmente junto às polícias civil
realidade, a possíveis erros amostrais ou e militar do RJ nos últimos anos. Infeliz-
de outro tipo. Segundo os dados da RAIS, mente, os dados da SENASP não estão
os vínculos empregatícios ativos em ocu- disponíveis para o ano de 2017 nem para
pações da segurança pública eram 68.226 os posteriores, o que coloca em questão

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


e 66.279, em 2016 e 2017, respectivamen- a continuidade da fonte e nos impede de
te. Nesses dois anos, os efetivos das po- considerá-la como a fonte principal, mes-
lícias registrados pela RAIS foram iguais mo no caso do Rio de Janeiro.

TABELA 19
Efetivos da Segurança Pública no Rio de Janeiro

Segurança Pública Polícias Civil e Militar


Fonte de Dados Tipo de Fonte
2016 2017 2016 2017

SENASP/Perfil Pesquisa 55.280


RAIS Registo Administrativo 68.226 66.279 47.517 46.171
PNAD Contínua Pesquisa 78.577 88.399 60.999 73.152

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua. SENASP/Perfil das Instituições de Segurança Pública

Antes de focalizar especificamente no computados para o efetivo da seguran-


comparativo entre as estatísticas dos ça pública nas duas principais fontes uti-
setores de segurança pública e privada, lizadas – RAIS e PNAD Contínua (Gráfi-
59

cumpre analisar conjuntamente os totais cos 12 e 13).


GRÁFICO 12
Efetivos da Segurança Pública no Rio de Janeiro

100.000 2016 2017


88.399

78.577
80.000
68.226
66.279

60.000

40.000

20.000
RAIS PNAD Contínua

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua.

GRÁFICO 13
Efetivos das Polícias civil e militar no Rio de Janeiro

80.000 2016 2017


73.152

60.999

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


60.000 55.280

47.517
46.171

40.000

20.000
Perfil / SENASP RAIS PNAD Contínua

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua. SENASP/Perfil das Instituições de Segurança Pública

Na série histórica do efetivo da segurança em 2013 para 68.849 no ano seguinte. A


pública, elaborada a partir dos dados da partir de 2014, em 2015 e 2016, os efetivos
RAIS, foi possível observar certa estabilida- são praticamente os mesmos, mantendo o
de no período observado, com estatísticas nível da série em 68 mil profissionais, até
variando na faixa de 60 a 70 mil vínculos que em 2017 houve uma pequena queda
empregatícios (Gráfico 14). Em 2014 houve de 3% em relação ao ano anterior e atingin-
um crescimento mais acentuado, de apro- do 66.729 vínculos empregatícios na segu-
ximadamente 12%, de modo que o efetivo rança pública. O crescimento entre 2012 e
60

passou de 61.501 vínculos empregatícios 2017 foi da ordem de 7%.


GRÁFICO 14
Evolução do efetivo da segurança pública na RAIS e PNAD Contínua
Rio de Janeiro – 2012 a 2017

100.000

80.000

60.000

40.000

20.000 RAIS PNAD Contínua

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua

Já na série histórica dos dados da PNAD senta uma tendência de crescimento.


Contínua para segurança pública pode Na prática, entre 2012 e 2014 as séries
ser verificado um padrão diferente. Há mostram valores próximos entre si. Os
uma clara tendência de crescimento, de valores registrados pela RAIS, nesse pe-
modo que a série inicia em 2012 com ríodo estão, inclusive, dentro da margem
57.446 pessoas em ocupações da se- de erro das estimativas obtidas a partir
gurança pública e termina em 2017 com da PNAD Contínua. De 2015 em diante,

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


88.399 pessoas ocupadas – um aumen- como ocorrera com as estatísticas da se-
to de 54%. Houve um incremento atípico gurança privada, as séries se distanciam,
de 2014 para 2015 (de 28,5%), ano para e o tamanho do efetivo da segurança
o qual foram estimados 91.617 profissio- pública na PNAD Contínua é superior ao
nais em ocupações da segurança pú- registrado na RAIS.
blica. Esse crescimento, no entanto, foi
O fato de as estatísticas da PNAD Con-
relativamente compensado com uma
tínua serem sistematicamente maiores
queda de 14% no ano posterior, em 2016.
do que os registros da RAIS e o distan-
Foi o único momento de queda do efeti-
ciamento das séries, similar ao que foi
vo no período observado. Não devemos
anteriormente percebido para a segu-
esquecer que parte das oscilações nos
rança privada, deixam algumas dúvidas
valores da PNAD poderiam ser devidas a
na interpretação. A discrepância entre
erro amostral.
as séries poderia ser explicada por uma
Percebe-se, portanto, padrões distintos subnotificação das agências públicas
na evolução dos efetivos da segurança de segurança ou, por exemplo, por uma
pública registrados. A série histórica da diferença de definição de vínculos ati-
RAIS é mais estável, variando num inter- vos informados pelas agências e con-
valo menor, e apresenta uma leve ten- dição de ocupação informada pelo en-
dência de queda, entre 2014 e 2017. A trevistado. A dúvida, por exemplo, é se
61

série histórica da PNAD Contínua apre- profissionais de licença, afastados ou


reformados, ainda poderiam ser iden- tratados por concurso, tal interpretação
tificados ou identificarem a si mesmos não faria sentido.
como policiais. No caso do distancia- Dadas as diferenças nas séries históricas,
mento das séries a partir de 2015, se na optamos por comparar a magnitude e
análise das estatísticas da segurança evolução dos efetivos de segurança pú-
privada tal distanciamento poderia ser blica e privada observando separada-
lido como informalização e precariza- mente as séries elaboradas com regis-
ção dos postos de trabalho naquele se- tros da RAIS e da PNAD Contínua. Desse
tor de atividade econômica, no campo modo, contrastamos estatísticas produ-
da segurança pública, onde os profis- zidas a partir dos mesmos processos de
sionais são servidores estatutários, con- coleta e processamento de dados.

GRÁFICO 15
Evolução dos efetivos de segurança pública e privada na RAIS.
Rio de Janeiro – 2012 a 2017
140.000

120.000

100.000

80.000

60.000

40.000

20.000 Segurança Pública Segurança Privada

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fontes: MTE/RAIS.

GRÁFICO 16
Evolução dos efetivos de segurança pública e privada na PNAD Contínua.
Rio de Janeiro – 2012 a 2017
160.000
140.000
120.000
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000 Segurança Pública Segurança Privada

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017
62

Fontes: IBGE/PNAD Contínua


GRÁFICO 17
Evolução da razão entre os efetivos de segurança privada
e pública RAIS e PNAD Contínua.
Rio de Janeiro – 2012 a 2017

2,50
RAIS PNAD Contínua
2,04
1,96
2,00 1,85 1,86
1,66 1,67
1,56 1,54
1,50 1,43 1,42 1,38
1,28

1,00

0,50

0,00
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua

No estado do Rio de Janeiro, como vis- dito, parte dessas flutuações podem ser
to em análises anteriores, os efetivos da provocadas por erro amostral. Já as esti-
segurança privada computados por meio mativas da segurança pública registraram
da RAIS se mantiveram estáveis entre um crescimento constante e moderado
2012 e 2014, na faixa dos 114 mil vínculos no tempo, uma tendência que aproximou
empregatícios registrados. A partir daí, os valores das séries, como ocorrera com
passam a registrar uma queda regular e os dados da RAIS. No período observa-
sistemática, até atingir em 2017 um to- do, a razão entre as estimativas cai de 2

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


tal de 91.289 vínculos empregatícios. Por profissionais da segurança privada para
outro lado, na série histórica do efetivo cada profissional da segurança pública,
da segurança pública, a variação foi bem em 2012, para uma razão de 1,28 em 2017,
menor. Os dados mostram aumento no o que significa que o número de pessoas
nível da série, de 2014 para 2015, seguido em ocupações da segurança privada era
de uma leve tendência de queda. Houve, apenas 28% superior ao efetivo da segu-
no período de cinco anos uma aproxima- rança pública.
ção das estatísticas da segurança pública
e privada provocada pelo declínio desta
última. Em 2012, o efetivo da segurança 9.2 COMPARAÇÃO ENTRE
privada era 85% superior ao efetivo da A SEGURANÇA PRIVADA
segurança pública, e no final da série, em E A PÚBLICA NO BRASIL
2017, essa diferença era cerca de 38%. Diferentemente do contexto encontrado
Por sua vez, observando os dados da para o setor da segurança privada, onde
PNAD Contínua é possível verificar que foi possível, a partir da RAIS e da PNAD
as estimativas da segurança privada não Contínua, computar estatísticas para as
parecem apresentar qualquer tendên- unidades da federação e, a partir daí, cal-
cia mais clara de crescimento ou queda. cular totais para todo o Brasil, no setor
A série se mantém num patamar similar, da segurança pública a situação é mais
próximo aos 120 mil profissionais, com complexa. A Tabela 20 a seguir mostra os
63

picos de alta em 2013 e 2015. Como já foi efetivos calculados por UF, para ambas as
fontes, em 2016 e 2017. Nela é possível no- bastante inferiores àquelas levantadas
tar que pelo menos 13 estados possuem pela PNAD Contínua. Por esse motivo,
problemas sérios de subnotificação (em optamos por analisar os dados para todo
vermelho), com as estatísticas da RAIS Brasil utilizando apenas essa última fonte.

TABELA 20
Efetivos da Segurança Pública no Brasil e UFs, 2016 e 2017

RAIS PNAD Contínua Diferença entre fontes


UF
2016 2017 2016 2017 2016 2017
Brasil 635.431 644.109 997.492 962.804 57,0% 49,5%

Rondônia 1.033 896 10.777 16.205 943,2% 1708,6%

Acre 5.639 5.268 5.642 5.161 0,0% -2,0%

Amazonas 13.320 13.393 18.316 20.713 37,5% 54,7%

Roraima 2.133 2.081 4.443 4.792 108,3% 130,3%

Pará 24.076 25.733 53.493 52.011 122,2% 102,1%

Amapá 1.848 1.875 10.201 9.913 452,0% 428,7%

Tocantins 5.951 6.352 15.171 11.109 154,9% 74,9%

Maranhão 7.588 9.521 40.803 39.295 437,7% 312,7%

Piauí 4.566 4.855 16.254 25.550 256,0% 426,3%

Ceará 5.280 5.315 37.840 39.765 616,7% 648,2%

Rio Grande do Norte 2.778 3.841 17.973 14.218 547,0% 270,2%

Paraíba 8.294 8.094 23.098 22.174 178,5% 174,0%

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


Pernambuco 25.879 30.008 43.350 47.777 67,5% 59,2%

Alagoas 3.003 3.060 23.384 22.788 678,7% 644,7%

Sergipe 10.856 12.694 17.127 13.733 57,8% 8,2%

Bahia 48.060 51.122 62.692 60.960 30,4% 19,2%

Minas Gerais 74.821 76.063 79.091 106.148 5,7% 39,6%

Espírito Santo 17.078 16.639 22.377 25.485 31,0% 53,2%

Rio de Janeiro 68.226 66.279 78.577 88.399 15,2% 33,4%

São Paulo 170.639 169.847 224.056 142.341 31,3% -16,2%

Paraná 31.160 30.179 33.039 39.023 6,0% 29,3%

Santa Catarina 16.184 16.667 20.763 18.167 28,3% 9,0%

Rio Grande do Sul 33.213 32.877 42.932 36.237 29,3% 10,2%

Mato Grosso d Sul 7.253 7.121 15.729 14.483 116,9% 103,4%

Mato Grosso 1.081 1.195 26.550 21.181 2356,1% 1672,5%

Goiás 21.278 24.622 28.814 35.530 35,4% 44,3%

Distrito Federal 24.194 18.512 25.001 29.646 3,3% 60,1%


64

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua.


Para o Brasil, as estimativas da PNAD mil e 997 mil profissionais. De 2016 para
Contínua para segurança privada não 2017, foi registrada a única queda da série
apresentaram tendências relevantes de histórica, na ordem de 3,5%. Assim como
queda ou crescimento entre 2012 e 2017. foi registrado no Rio de Janeiro, houve
A série se manteve relativamente estável, uma aproximação dos níveis das séries, na
num intervalo entre 1.152.461 e 1.207.334, medida em que a série histórica da segu-
com variações anuais menores do que 2% rança privada praticamente não muda de
até 2016. De 2016 para 2017, registrou-se nível com o tempo, e a série da segurança
uma queda de 4,5%. Por outro lado, as pública apresenta uma tendência de cres-
estimativas da segurança pública mostra- cimento. A razão entre o efetivo da segu-
ram crescimento em praticamente todos rança privada e o da segurança pública
os anos observados, esse crescimento foi era 1,5 em 2012, cai e se mantém em 1,37
maior entre 2012 e 2013 (8,1%) e entre 2014 (em 2013 e 2014), caindo novamente em
e 2015 (12,3%). A partir de 2015 a série pa- 2015. A partir de então, de 2015 a 2017, a
rece se estabilizar, num nível entre 960 razão é aproximadamente 1,2.

GRÁFICO 18
Evolução dos efetivos de segurança pública e privada na PNAD Contínua.
Brasil – 2012 a 2017
140.000

120.000

100.000

80.000

60.000

40.000

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


20.000 Segurança Pública Segurança Privada

0
2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fontes: IBGE/PNAD Contínua

GRÁFICO 19
Evolução da razão entre os efetivos de segurança pública e privada
PNAD Contínua. Brasil – 2012 a 2017
2,00

1,50
1,50 1,37 1,37
1,22 1,21 1,20
1,00

0,50

0,00
2012 2013 2014 2015 2016 2017
65

Fontes: IBGE/PNAD Contínua


10

CONSIDERAÇÕES
FINAIS: A
PRIVATIZAÇÃO
DA SEGURANÇA
NO RJ E NO BRASIL
Desde as últimas décadas do século pas- incapacidade de o Estado para resolver,
sado vem se observando uma expansão somente com seu aparato burocrático, os
das atividades empresariais de seguran- desafios contemporâneos da segurança

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


ça privada em vários países. Essa “priva- pública; e a segunda, atribui seus efeitos
tização da segurança” tem preocupado aos movimentos de mercados globaliza-
autoridades e especialistas pelos im- dos que têm modificado a relação entre
pactos que a transferência do controle os setores público e privado, sobretudo
social coercitivo do Estado para o setor a partir do final dos anos 1970, quando
privado pode causar. Apesar de pouco funções originárias do Estado passaram
conhecido no começo, o fenômeno des- a ser transferidas com mais ênfase para
perta agora um maior interesse da aca- a sociedade civil, especificamente para
demia. E, não obstante a carência de o setor privado.
estatísticas e pesquisas sistematizadas
No Brasil, apesar de ocorrem os mesmos
a seu respeito, ele tem sido confirmado
problemas relativos à carência de dados
por um número cada vez maior de esti-
e informações, a expansão de atividades
mativas ou pesquisas particulares reali-
empresariais especializadas de seguran-
zadas em outros países.
ça privada já havia sido constatada em
Suspeita-se, assim, de um movimento oportunidades anteriores, por Musumeci
global que se manifesta de diferentes (1998) e confirmada por Zanetic (2006), a
maneiras em diferentes momentos, em partir dos dados da Pesquisa Nacional por
face de peculiaridades locais. Mas, em Amostra de Domicílios. No entanto, esta
geral, duas teses explicativas vêm sendo pesquisa com dados mais atuais mostra
66

apresentadas. A primeira diz respeito à um recuo de tais atividades - pelo menos


em sua dimensão formal -, ao contrário Quanto às estatísticas utilizadas, a Rela-
da tendência verificada em outros países. ção Anual de Informações Sociais (RAIS),
Tais estatísticas incluem ainda os dados do Ministério do Trabalho e Emprego
do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apontou para uma evolução nega-
-MTE, sobre empresas e desocupação no tiva mais acentuada e constante dos vín-
Brasil, além dos dados da PNAD Contínua culos ativos em segurança privada que
e da Polícia Federal, que de certa forma, as estimativas da Pesquisa Nacional por
já haviam sido utilizados nas pesquisas Amostra de Domicílios (PNAD Contínua).
anteriormente mencionadas. Todas estas Estas últimas mostraram uma queda no
fontes apontaram para uma privatização número de pessoas ocupadas em ativida-
da segurança ocorrendo de forma pecu- des de segurança privada que, além de
liar no Brasil e no Rio de janeiro, como mais branda, foi mais oscilante ao longo
contrapartida da informalização e con- do período estudado, com picos positi-
sequente precarização do setor. Nesse vos e negativos, tanto no Rio de janeiro
sentido, o recuo do setor formal, ocorre quanto no Brasil. Contudo, parte dessa
pari passu à informalização, quando não flutuação da PNAD pode ser atribuída a
à “clandestinização” refletida no aumen- erro amostral, especialmente no Rio de
to da proporção de pessoas ocupando Janeiro. Em termos de Brasil, a queda re-
atividades de segurança privada fora do gistrada no número de trabalhadores da
controle burocrático do Estado. Nesse segurança privada pelas estimativas da
sentido, esta pesquisa aponta para os PNAD Contínua foi de -2,3% e, pelas esta-
perigos de uma “mistura invisível”42 que tísticas da RAIS, de -13.6%. Já no Rio de
inclui mecanismos informais/ilícitos do Janeiro ela foi ainda maior, registrando
controle social brasileiro, jogando luz ain- -3,1% nas estimativas da PNAD Contínua,
da na desconfiança sobre a capacidade e -20%, nos números da RAIS.
regulatória do Estado, dadas as caracte-
Os dados do Cadastro Geral de Empre-
rísticas de nossa jovem democracia e a
gados e Desempregados (CAGED), do
ineficiência histórica de seu aparato bu-

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


Ministério do Trabalho e Emprego, mos-
rocrático de controle43.
tram que a quantidade de empresas em
Tal como ocorre em outros países, a ca- atividades de vigilância, segurança e in-
rência de estatísticas, informações e pes- vestigação caiu bruscamente no Rio de
quisas sistemáticas tem sido um obstácu- Janeiro, nesse período, passando de 4.155
lo para a compreensão do fenômeno da estabelecimentos, em 2012, para 2.809,
privatização da segurança também aqui em 2017, o que representou uma queda
no Brasil. Apesar disso e, na medida do de quase um terço dos estabelecimentos
possível, essa lacuna vem sendo preen- do setor. No entanto, a desocupação não
chida, ainda que de forma ocasional. É aumenta na mesma velocidade, o que
nesse sentido que a presente pesquisa nos leva a inferir uma redução das ativi-
traz uma novidade: todas as fontes uti- dades formalizadas e regularizadas e, em
lizadas apontam o encolhimento do se- menor medida, das atividades informais,
tor formal da segurança privada entre os o que apontaria para uma precarização
anos de 2012 e 2017, mesmo que com di- crescente do setor. No Brasil o cenário
ferentes velocidades. Trata-se obviamen- é o mesmo, com pequenos matizes. A
te de um achado inicial que pode aumen- queda de empregados formais é menos
tar o interesse para próximas pesquisas. intensa do que no Rio, mas a redução de
estabelecimentos é ainda maior.
42 Cf. Huggins, 2010.
Neste sentido, aliás, também chamam a
67

43 Ver, nesse sentido Lopes (2011); Ricardo (2006);


Heringer (1992); Heringer e Cortes (2003). nossa atenção as diferenças entre os da-
dos da RAIS e os dados da PNAD Contí- não tenham apresentado uma redução
nua. A redução bem maior nos dados da acentuada, ao olharmos sua evolução,
RAIS do que nas estimativas da PNAD re- em comparação com os dados da RAIS,
força a interpretação sobre uma precari- percebemos diferentes níveis de infor-
zação crescente do setor. Portanto, mes- malidade ao longo do período, analisado,
mo que as estimativas da PNAD Contínua conforme a Tabela 21.

TABELA 21
Evolução do efetivo da Segurança Privada na RAIS e PNAD Contínua.
Rio de Janeiro e Brasil: 2012 -2017
2012 2013 2014 2015 2016 2017
Rio de Janeiro
PNAD 124.841 131.557 118.657 141.452 111.825 113.292
RAIS 114.462 114.144 114.051 106.635 97.582 91.289
Dif. abs 10.379 17.413 4.606 34.817 14.243 22.003
Dif.% 8,31 13,24 3,88 24,61 12,74 19,42
Brasil
PNAD 1.179.686 1.168.903 1.185.286 1.182.659 1.207.334 1.152.461
RAIS 1.111.560 1.135.342 1.132.262 1.071.748 1.003.817 959.840
Dif. abs 68.126 33.561 53.024 110.911 203.517 192.621
Dif.% 5,77 2,87 4,47 9,38 16,86 16,71

Percebe-se que a maior distância relativa Ou seja, muitas empresas ativas e formais
entre as duas fontes de dados ocorreu em de Segurança Privada não estavam cadas-
2015 (24,61%), no Rio de Janeiro, e em 2016 tradas na Polícia Federal e, portanto, irre-

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


(16.86), no Brasil, sendo que a distância ain- gulares para atuarem como tais no país.
da continua alta em 2017, nos dois casos. A diferença entre as estimativas da PNAD
Contínua e os dados da RAIS pode refletir,
Seguindo ainda essa linha de raciocínio,
ainda, uma gama de atividades clandes-
ao cruzarmos os dados da RAIS com
tinas que estão, portanto, fora do alcan-
as informações obtidas junto à Coorde-
ce do controle do Estado e são invisíveis
nação Geral de Controle de Seguran-
ao seu aparato burocrático. Só para se
ça Privada (CGCSP), da Polícia Federal,
ter uma ideia do problema, os dados da
percebe-se que, em 2016, uma parcela
PNAD Contínua daquele ano (2016) leva-
significativa das empresas de segurança
vam a uma estimativa de 111.825 pesso-
privada, mesmo que ativas, isto é, regis-
as em ocupações da Segurança Privada,
tradas legalmente nas juntas comerciais
portanto, mais do que o dobro do valor
estaduais, não estava cadastrada no ór-
registrado pela Polícia Federal e 14,5%
gão de controle dessa atividade no Bra-
maior do que os números registrados pela
sil. Enquanto a RAIS apresentou, naque-
RAIS. Já no ano de 2017, foram registrados
le ano, um total de 97.582 vínculos ativos
91.289 vínculos ativos na RAIS, enquanto a
em ocupações da Segurança Privada,
PNAD Contínua levantou 113.292 pessoas
havia, no mesmo momento, 53.899 vigi-
em ocupações da Segurança Privada.
lantes cadastrados pela Polícia Federal44.

44 Essa comparação precisa atentar para o fato, con- da RAIS poderia estar levemente superestimado. A pro-
68

tudo, de que a RAIS registra vínculos e não pessoas, porção dessa superestimação não deveria superar 5%,
razão pela qual o número de pessoas estimado a partir conforme já foi explicado.
TABELA 22
Porcentagem de Evolução do efetivo da Segurança Privada na RAIS e na
PNAD Contínua. Rio de Janeiro e Brasil – 2012 a 2017

2012/13 2013/14 2014/15 2015/16 2016/17


Rio de Janeiro
PNAD 5,38 -9,81 19,21 -20,94 1,3
RAIS -0,28 -0,08 -6,50 -8,49 -6,4
Brasil
PNAD -0,91 1,40 -0,22 2,09 -4,5
RAIS 2,14 -0,27 -5,34 -6,34 -4,4

Fontes: MTE/RAIS. IBGE/PNAD Contínua

Nesse sentido, presume-se que o pico da 2015, tanto no Rio de Janeiro quanto no
informalização da Segurança Privada no Brasil. Assim, a PNAD Contínua revela que
Brasil tenha ocorrido entre 2015 e 2016, em 2012 havia dois agentes de segurança
período em que o desemprego dispa- privada para cada agente da segurança pú-
ra. A PNAD Contínua estimou, em 2016, blica no Rio de Janeiro. Já em 2017, após a
1.207.334 pessoas ocupadas em ativida- queda na segurança privada e o aumento
des de segurança privada no país, das da pública, a razão havia caído para 1,38.
quais 111.825 estavam no Rio de Janeiro. De acordo com a RAIS, os valores eram,
Enquanto isso, no mesmo período a RAIS respectivamente, de 1,85 em 2012 e 1,28 em
registrava nesse setor, respectivamente, 2017. Por sua vez, para o Brasil como um
1.003.817 vínculos no Brasil e 97.582 no todo, de acordo com os dados da PNAD
Rio de janeiro. A diferença de 34.817 en- Contínua, encontramos em 2012 uma pro-
tre as duas estatísticas indica um número porção de 1,5 guardas privados para cada

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


aproximado de pessoas empregadas irre- agente público. Cinco anos depois, em 2017,
gularmente em atividades de segurança a proporção tinha sido reduzida a 1,2. Em
privada do Rio de Janeiro. Em 2017, en- outras palavras, o crescimento relativo da
quanto o país registrou uma diferença de segurança privada em comparação com a
16,71% entre as duas fontes de dados, o pública tinha sido em parte revertido como
Rio de Janeiro registrou 19,42 %. consequência da crise econômica.
No Rio de Janeiro, portanto, a informali- Portanto, apesar de alguns estudos re-
zação no setor foi maior, já que os núme- alizados anteriormente no Brasil terem
ros da RAIS vêm apresentando quedas observado uma expansão das atividades
mais abruptas e continuadas desde 2014. empresariais de segurança privada, tal
Nesse sentido, provavelmente ainda esta- como já vinha ocorrendo em outros pa-
mos hoje sob o efeito da maior informali- íses desde as últimas décadas do sécu-
zação do setor, no período analisado. lo passado, a presente pesquisa mostrou
Quando comparamos diretamente a evolu- que nos últimos anos vivenciamos uma
ção dos contingentes de pessoas emprega- pequena redução da segurança privada e
das na segurança privada com aqueles que o que é mais problemático: uma informa-
trabalham na segurança pública, verifica- lização/clandestinização da segurança.
mos que, embora os primeiros apresentem Esse resultado confirma que a segurança
um número maior do que os segundos, a privada é uma atividade fortemente cícli-
69

diferença entre ambos vem caindo, desde ca, que se expande e se contrai confor-
me o desenvolvimento econômico dos Em suma, se as pesquisas internacionais
estados e de acordo com o ciclo econô- haviam confirmado a expansão das ativi-
mico, crescendo mais em períodos de dades empresariais de segurança como o
expansão econômica e reduzindo a sua motor da privatização da segurança, no
expansão ou inclusive contraindo-se em Brasil, a exemplo do que já ocorria em
épocas de recessão. Esta evolução é bem outros países, a presente pesquisa mos-
diferente daquela da segurança pública,
tra que, tais atividades, pelo menos as re-
que registra um impacto menor da cri-
gularizadas, vêm recuando em função de
se econômica e, portanto, um compor-
tamento menos cíclico. Assim, o cenário um ciclo econômico recessivo. A preca-
está longe daquele clichê da segurança rização resultante desse processo incre-
privada como um setor em permanente menta a preocupação pela histórica falta
e imparável crescimento linear, que vai de controle do setor, sobretudo no Rio
apresentando uma hegemonia cada vez de Janeiro (HERINGER, 1992; HERINGER
maior em relação à segurança pública. e CORTES, 2003).

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


70
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A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


72
ANEXO I: EVOLUÇÃO e nas pesquisas amostrais dessa década.
HISTÓRICA DA CBO E DA CNAE A CBO/2002 foi aprovada e divulgada
pela Resolução CONCLA Nº 5/2002 e
Tanto a Classificação Brasileira de Ocu- desde 2003 vem sendo utilizada nas ti-
pações (CBO) quanto a Classificação Na- pificações dos registros administrativos;
cional de Atividade Econômica (CNAE) A primeira versão da CNAE foi implemen-
mudam periodicamente para se ajustar tada em 1995, ano em que foi incorpora-
à dinâmica e à evolução do mercado de da pelos órgãos da administração pública
trabalho e das atividades econômicas, tal produtores de registros administrativos. A
como é explicado a seguir. partir de 1996, a CNAE passou também a
A primeira versão da CBO teve como ser utilizada nas pesquisas do sistema es-
base o Cadastro Brasileiro de Ocupa- tatístico nacional, do IBGE. Antes, os re-
ções, do Ministério do Trabalho (1971) e gistros administrativos e as pesquisas do
a Classificación Internacional Uniforme sistema estatístico nacional tipificavam as
de Ocupaciones (CIUO)45 editada pela atividades a partir de classificações dife-
Organização Internacional do Trabalho rentes. O IBGE utilizava suas próprias clas-
(OIT) em 1958. Em 1972, a partir de um sificações, revisadas para a execução dos
convênio assinado com a OIT, foi desen- censos econômicos quinquenais e utiliza-
volvido um estudo que levou a 201.906 das pelas demais pesquisas econômicas
títulos de ocupações. Desse trabalho re- nos períodos intercensitários. A CNAE/95
sultou a estrutura básica da classifica- tomou como base a 3ª revisão da Clasi-
ção (1977) e a primeira versão da CBO, ficación Industrial Internacional Uniforme
editada em 1982, que foi atualizada em (CIIU)47, produzida pelas Nações Unidas,
1994. Nesse último ano foi instituída a visando a produção de estatísticas com-
Comissão Nacional de Classificações paráveis internacionalmente. Em 2002, no
(CONCLA), órgão interministerial com âmbito da CONCLA, foi instituído um gru-
a atribuição de unificar as classificações po de trabalho que discutiu alterações na

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


estatísticas brasileiras. No âmbito da CNAE/95 para mantê-la comparável com
CONCLA foi criado um grupo de trabalho a versão 3.1 da CIIU. A nova versão, CNAE
para a revisão e atualização da CBO 94, 1.0, foi implementada em 2003. O mesmo
visando a elaboração de uma classifica- grupo de trabalho, entre 2004 e 2006 dis-
ção padronizada, com comparabilidade cutiu nova atualização da classificação de
internacional e que pudesse ser utilizada atividades, produzindo a CNAE 2.0, que
tanto nos registros administrativos como foi implementada em 2007, e se baseou
pelas pesquisas do IBGE. Antes disso, a na 4ª revisão da CIIU;
CBO 94 era utilizada pela administra- Nas pesquisas domiciliares, os censos
ção pública, mas não pelo sistema es- demográficos, que são decenais, demar-
tatístico, que adotava uma classificação cam os limites temporais das classifica-
própria (IBGE 91) a partir da classifica- ções domiciliares. Assim, as pesquisas
ção de ocupações do programa de cen- amostrais passaram a utilizar a “CBO
sos da América (COTA). O trabalho do domiciliar” e a “CNAE domiciliar” após
GT de ocupações da CONCLA resultou o Censo 2000. Depois disso, a partir do
numa nova versão da CBO, de 2002, em Censo 2010, estas passaram a empregar
vigor até hoje, e também na CBO Domi- em suas tipificações a “COD” e a “CNAE
ciliar, que foi utilizada no Censo 200046 domiciliar 2.0”.
45 International Statistical Classification of Occupations da realização do Censo 2000.
– ISCO.
73

47 International Standard Industrial Classification of All


46 Não foi possível concluir a revisão da CBO 94 antes Economic Activities (ISIC).
TABELA 23
Histórico das Classificações Estatísticas Nacionais – CBO e CNAE

Pesquisas e levantamentos
Registros Administrativos
(Sistema estatístico nacional )

Ano
Exemplos: RAIS, CAGED Exemplos: PNAD Contínua, Censo

Ocupação Atividade econômica Ocupação Atividade econômica

1982 CBO/1982

1994 CBO/1994

1995 CNAE/95

2000 CBO-Domiciliar CNAE-Domiciliar

2003 CBO/2002 CNAE 1.0

2007 CNAE 2.0

2010 COD CNAE Domiciliar 2.0

A SEGURANÇA PRIVADA no Rio de Janeiro e no Brasil: tamanho e evolução


74
A SEGURANÇA
PRIVADA NO
RIO DE JANEIRO
E NO BRASIL:
TAMANHO E Robson Rodrigues

EVOLUÇÃO Eduardo Ribeiro


Ignacio Cano

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