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Ao reconstituir a trajetória
de 162 infratores de 2002,
ZH localiza 114 condenados
(55 deles presos) e 48 mortos
PÁGINAS 25 a 29
PORTO ALEGRE, DOMINGO, 22 DE JANEIRO DE 2012 - ANO 48 - Nº 16.908 SC/PR - R$ 4,00/ DEMAIS REGIÕES - R$ 6,50/ URUGUAI - $ 60 R$ 3,50
Edição impressa no parque gráfico de Florianópolis
Cai o número
Empregos 90 anos
& OPORTUNIDADES
Estratégias Homenagem
para vencer em bronze Estilo
concursos para Brizola cobra
A estampa
Especialistas orientam Pedetistas encomendaram Python
candidato a pesquisar estátua a artista carioca virou
o estilo de cada teste. para marcar aniversário de
Pais e a ex-governador. Página 10
moda da
Encartado nesta edição
mulher do estação
cantor são
nascidos no
Rio Grande
Laços gaúchos de Michel Teló
ZERO HORA DOMINGO, 22 DE JANEIRO DE 2012 25
Polícia
Meninos
Desde 2009,
condenados ADRIANA IRION e JOSÉ LUÍS COSTA
em períodos
E
intercalados, sta é a história de 162 vidas ao tráfico.Deixaram como herança já haviam falhado.Dos 162 adolescentes,
repórteres que se cruzaram em Porto para famílias cercadas pela violência 127 tiveram mais de uma internação ou
de ZH Alegre, há 10 anos, em uma pelo menos 17 filhos órfãos de pai.As passagens tumultuadas por agressões a
das mais conturbadas casas histórias de esperança são escassas.Dos outros internos ou a monitores.
percorreram da então Fundação Estadual 114 ex-internos vivos,apenas dois não – Durante anos,enquanto fui
o Estado à do Bem-estar do Menor (Febem), hoje voltaram a ter seus nomes registrados monitora,me arrependi de ter entrado
procura dos Fase. Nesta reportagem, ZH revela o em ocorrências policiais ou em processos (na fundação).Diante dos nossos olhos
162 internos destino desse grupo de adolescentes criminais. tem um celofane,e tu enxergas o mundo
cujos delitos os reuniram em 1º de Mais do que estatísticas,o levantamento colorido.A Fase te arranca isso.Fica tudo
que em janeiro janeiro de 2002 na Comunidade de ZH expõe rostos e trajetórias de preto e branco – interpreta Débora Perin,
de 2002 Socioeducativa (CSE). jovens que,em muitos casos,foram hoje coordenadora jurídica da Fase.
cumpriam A casa é considerada a de perfil vítimas antes de se tornarem infratores. Pelo menos 114 daqueles 162
medida mais complexo da Fase, pois reúne Nascidos em berços pobres,forjaram a adolescentes voltaram às ruas formados
principalmente os adolescentes autores personalidade,os valores e os limites – ou no crime.Antes com rostos e nomes
judicial em dos atos infracionais mais graves e que a falta deles – em ambientes insalubres, protegidos pelo Estatuto da Criança e
uma casa são mais velhos _ de 18 a 21 anos. lares marcados por brigas domésticas e do Adolescente (ECA) – que proíbe a
da então O destino dos 162 adolescentes,uma separações conjugais,ausência de figura identificação de menores de 18 anos
Febem. O que década depois daquela internação, paterna,desemprego e abuso de álcool e que cometam atos infracionais –,
poderia ser contado só em números.Eles de drogas.Foi o terreno fértil para cultivar ganharam destaque no noticiário policial.
aconteceu falam por si: a revolta,afastá-los dos cadernos escolares Inscreveram em seus currículos crimes de
com eles e torná-los presas da criminalidade. repercussão.Mataram policiais e crianças,
depois de
✔ 135 Um cenário cujo caminho natural foi integraram quadrilhas,roubaram carros e
ultrapassarem foram presos sob suspeita a internação na Febem,instituição que assaltaram bancos.
de terem cometido crimes; fracassou em sua meta de ressocialização O que, então, em meio a tantas
os portões da para mais de uma centena deles. tragédias de responsabilidades
fundação você
lê nesta série ✔ 114
foram condenados;
A Febem virou Fase em maio de 2002
com nova proposta de tratamento a
adolescentes infratores.Mas não sumiu
coletivas, resgatou poucos deles do
abismo da delinquência? O amor
dirigido a uma mulher, a um familiar
que começa
hoje e vai até
quarta
✔ 55
estão presos;
por completo.Ainda habitam suas
unidades práticas da antiga cultura
de atendimento a internos,como o
ou a Deus está presente nas histórias
de superação que ZH descobriu nesse
périplo em busca de ex-internos da
✔ 48
morreram.
excesso de medicação para acalmá-los e
agressões.
O retrato feito nesta reportagem
CSE.. Quem teve chance de estudo e
de trabalho também pode emergir do
mergulho na criminalidade.
A maioria dos mortos foi executada a mostra que,para este grupo de jovens, Um drible nada fácil para meninos
tiros antes de completar 25 anos,vítimas a fundação não conseguiu intervir em que conheceram a violência cedo, como
de vinganças ou de cobranças ligadas uma realidade na qual família e escola vítimas e como algozes.
adriana.irion@zerohora.com.br
joseluis.costa@zerohora.com.br
A SÉRIE
HOJE AMANHÃ TERÇA-FEIRA QUARTA-FEIRA
A MORTE ROTINA EM BUSCA DE NOMES DA
ALCANÇOU 48 DE PRISÕES NOVOS CAMINHOS ESPERANÇA
Diagramação: Diego Borges
26 ZERO HORA DOMINGO, 22 DE JANEIRO DE 2012
ADRIANO RODRIGO ARIOVALDO DE DENIS STOFFELS MOLINA, 26 foi internado por homicídio motivado por dívi-
CARDOSO, 23 ASSIS JUNIOR, 18 Entre os 10 e os 12 anos, saltou do cigarro da de tráfico. Ao sair, meteu-se com ladrões
O filho da faxineira Rosângela de Jesus Car- Aos 14 anos, batia carteira no Centro. Nem as para a cocaína. Trocava a bicicleta, o vide- de carros. Quatro meses depois, em 2004, foi
doso começou a morrer quando estreou na lágrimas pela morte do irmão, executado por ogame, tudo pelo vício. Separada, a mãe morto por PMs. “Falhei na educação. Devia ter
Febem, em 2001, por furto. “Cada vez que o visita- comparsas, o afastaram do crime. Teve duas inter- tentou driblar os infortúnios: “Ele fez esporte, sido mais rígido”, refletiu o pai em depoimento
va, notava que meu menino estava virando homem”, nações e três prestações de serviços comunitários. escolinha de futebol, luta.” Envolvido em furtos e a ZH.
lembrou para ZH em 2009 a mãe de mais 11 filhos. Em outubro de 2002, aos 18 anos, tombou a tiros assaltos, foi internado na Febem, de onde fugiu
Quando voltou para casa, passava o tempo escon- no Parque Marinha. A polícia desconhece quem o duas vezes. Com 19 anos participou de um motim,
dendo-se da polícia. Em 29 de março de 2009, mor- matou. Deixou um filho, que repete: “O pai está no que lhe rendeu condenação. Ganhou liberdade EDSON RODRIGO
reu ao bater de moto em um poste, em São Leopol- céu, mas volta”. em 2007, mas nunca se recuperou do trauma da MACHADO FIGUEIRA, 24
do, ao sair de um baile com a namorada. internação, segundo a mãe. Em 2010, se matou. O crack mandou na vida de Edson, o fez
largar o colégio em Guaíba, perder o em-
BRAULIO COSTA LOPES, 25 prego, brigar com a família, assaltar a vizinhan-
ALEX SANDRO VARGAS, 27 A caminho do colégio na Vila Cachorro Sen- DOUGLAS JUNIOR ça, matar um amigo, ir preso e acabar quase
Experimentou maconha aos sete anos, tado, zona leste da Capital, o adolescente era ASSIS DA SILVA, 22 como um mendigo. A ausência do pai virou sua
quando já tinha fugido de casa, na Capital. usado por traficantes que colocavam drogas Único homem entre oito irmãos, com cinco cabeça, atestou certa vez um psicólogo. “Fu-
Ingressou na Febem como criança ainda, em sua mochila para entregar a viciados, recordou a anos e 11 meses ingressou num abrigo da mou” a cafeteira, a batedeira, o liquidificador,
aos 10 anos, como “menor exposto”. Depois, co- mãe em 2009 ao falar com ZH. Também era levado Febem como “menor exposto”. Completou o sexto panelas, roupas, comida...”, listou a merendeira
mo infrator, ficou na fundação até os 20 anos por com outros meninos ao Centro para furtar acessó- aniversário na instituição. Com 15 anos cometeu o Marlene a ZH. Em fevereiro de 2008, os pres-
furtos e assaltos. Em 2006, estrangulou um meni- rios de veículos. A mãe fazia faxinas e o deixava primeiro ato infracional e foi internado. Ao sair, caiu ságios da mãe se confirmaram. Edson morreu
no de sete anos. Para ZH, disse em 2009: “Tomo sozinho em casa com os irmãos. Tinha 27 registros no crack. Baleado, foi parar na Febem ao revidar. com oito facadas.
remédio contra as drogas. Ela só me trouxe preju- policiais como infrator. Adulto, foi preso oito vezes Condenado por roubos quando adulto, viveu um
ízo, fez eu roubar, matar”. Morreu de broncopneu- e condenado. Fugiu do semiaberto em outubro de mês foragido até morrer baleado, em 2006. Dei-
monia em 2011, enquanto cumpria pena. 2010 e foi assassinado a tiros no mês seguinte. xou um filho.“Até que durou muito”, disse Janaína, ELTON MARAFIGO, 26 ANOS
a irmã mais velha, ao contar a ZH em 2009 a tra- Com histórico de atos violentos desde
jetória do irmão. adolescente, foi internado na Febem aos
ANDERSON GIEQUELIN, 25 CLÉBER ADRIANO 17 anos, após tentar matar um desafeto
Foi preso em flagrante por PMs com outro GAVIÃO RIBEIRO, 24 dentro de um ônibus, em Caxias do Sul. Adul-
ex-interno, em fevereiro de 2003, após o as- Foi parar na Febem em 2001, já no primeiro DOUGLAS VIDAL NUNES, 21 to, respondeu a inquéritos por porte de arma e
sassinato de um desafeto, na Vila Pedreira, roubo. Em 2002, quando saiu, seu pai iniciou O pátio da casa no Morro Santa Tereza, na lesão corporal e foi condenando pelo assassi-
em Esteio. Foi condenado por coautoria. Em 2008, uma luta para afastá-lo do crime: “O guri sabia tra- Capital, era insuficiente para segurar Dou- nato de um homem que, segundo o Ministério
em Carlos Barbosa, na Serra, recebeu nova pena balhar. Mas nos fins de semana se envolvia com a glas, aos 10 anos. Nas fugas, sumiam fichas Público descreveu em denúncia, apenas o teria
por roubo a residência, cometido também na com- turma, e na segunda já estava virado”, disse a ZH de ônibus, anéis e objetos da vizinhança, relatou encarado, na entrada de uma casa noturna. Foi
panhia de seu parceiro, ex-interno da fundação. o empreiteiro Rui Ribeiro, em 2009. Marcado para a mãe a ZH em 2009. Aos 16, foi baleado por um morto a tiros por desafetos.
Morreu em março de 2010 em tiroteio com PMs. morrer na vila em que sua família morava, uma inva- policial ao tentar assaltar uma lotação. Passou um
são no Guajuviras, em Canoas, arriscou-se a visitar ano e meio internado até fugir. Três meses depois
o pai em janeiro de 2008. Foi morto a tiros no portão de completar 18, foi preso por roubo na Serra. A EMERSON LUIS
ANTÔNIO RICARDO de casa. mãe ficou dois anos sem saber seu paradeiro. Em SILVA DA SILVA, 21
FRAGA DA SILVA, 27 2006, condenado, saiu da cadeia para visitar um Com 15 anos, tornou-se suspeito de tráfi-
Usuário de loló e maconha, aos 15 anos ex-presidiário e acabou morto. co de drogas, no bairro Restinga. Aos 16,
envolveu-se em uma briga com amigos CLEDIOMAR DOS foi acusado de homicídio e flagrado por PMs,
que resultou na morte de um homem, em Viamão. SANTOS GONÇALVES, 18 armado. Acabou recolhido à fundação. Com 17,
Internado, foi isentado de culpa no caso, retomou Conheceu a Febem como criança, aos DOUGLAS VIEIRA teria baleado um desafeto. Aos 20, foi acusado
a vida, mas seguiu consumindo drogas, segundo nove anos. Depois, usuário de maconha, AMARAL, 19 de ameaçar familiares de uma pessoa a quem
familiares. Casou-se, teve dois filhos e trabalhou foi internado por furtos. Em 13 de outubro de A maconha e o crack entraram no coti- havia matado. Depois, foi preso e indiciado por
em lojas de vestuário, de artigos musicais, mas 2004, aos 18 anos, saiu de casa para comprar diano de Douglas aos 15 anos. Operário, disparos contra o prédio da 16ª DP. Morreu em
demonstrava comportamento depressivo por cau- cigarros e jamais voltou. O corpo foi encontrado André Olmar Amaral preferia dar dinheiro para 2006, oito dias antes de completar 22 anos,
sa da dependência. Em 13 de fevereiro de 2009, crivado a tiros a poucas quadras de onde o filho comprar droga a vê-lo furtar na vizinhan- baleado na frente da casa em que vivia com a
depois de uma briga familiar, cometeu suicídio. morava. O assassino nunca foi punido. ça, na Vila Santa Isabel, em Viamão. Douglas mulher e dois filhos.
ZERO HORA DOMINGO, 22 DE JANEIRO DE 2012 Polícia 27
MÁRCIO FAUSTINO
GOUDINHO, 18
Preocupada com o filho, que já havia si-
do internado por assaltos, a mãe comprou uma
passagem para Márcio se refugiar de desafetos
em Florianópolis. O ônibus sairia da Capital às
23h45min de 11 de março de 2003. Às 23h10min,
um táxi encostou no portão. Márcio, com mochila
e travesseiro nas mãos, embarcou. Da esquina
surgiram quatro homens que descarregaram as
armas. O jovem morreu nos braços da mãe.
ARIVALDO CHAVES
inteligente, mas às vezes trocava a escola pelo
futebol. Aos 13 anos, os furtos o conduziram até
a Febem, onde permaneceu até os 19. Acabou
morto a tiros em uma briga, em 2002. “Sei que se
estivesse vivo poderia estar preso, mas nenhuma
mãe quer o filho morto”, lamentou Maria da Ro-
sa, ao falar a ZH em 2009
DIEGO VARA
Dos 162
infratores
cuja história
é contada
nesta série de
reportagens
que se iniciou
ontem e
1.500
anos de cadeia
termina
quarta-feira, ADRIANA IRION e JOSÉ LUÍS COSTA
114 foram
U
condenados ltrapassa os 1,5 mil anos Há casos de jovens que ingressaram depois de ter saído da fundação.Hoje,
depois de de condenações o saldo da em cadeias para adultos antes mesmo de tem penas que somam mais de 60 anos.
passar pela trajetória criminosa de ex- quitarem contas na fundação.Dos 162 Dados sobre novas capturas mostram
internos da então Fundação ex-internos da CSE,111 tiveram registros que parte dos ex-internos teve pouco
fundação. Estadual do Bem-estar do de fugas,sendo que 40 deles deixaram tempo de liberdade.Pelo menos 60,dos
Em dezembro, Menor (Febem),hoje Fase,cujas histórias a instituição foragidos,portanto,sem 135 que foram presos ,ingressaram em
55 seguiam Zero Hora está contando. terminar de cumprir a medida judicial de prisões menos de um ano depois de
presos. Dez anos depois de se reunirem na internação. saírem da fundação.Para alguns,como
Comunidade Socioeducativa (CSE),uma Luciano Emerson Pinto de Freitas é Rafael Candido Santos Machado,isso
das unidades mais violentas da fundação, um exemplo.Fugiu da fundação,onde representa uma vida inteira privada de
dos 162 jovens,114 tiveram condenações ingressara aos 17 anos,em 28 de abril de liberdade.
judiciais. 2002.Às 10h do mesmo dia,foi preso ao Rafael entrou na ex-Febem com
assaltar um minimercado e atirar contra 14 anos,em 1999,por assalto.Entre
✔ Dos 162 ex-internos, 135 prisões e que lhe rendeu,até o momento, no sistema prisional.Hoje,tem pena de
passaram pelo sistema sentenças que ultrapassam 90 anos de 49 anos.Mas da lista de 114 condenados
prisional. condenação. também emergem histórias de jovens
Jorge Luiz Pires saiu da então Febem que cumpriram suas penas como adultos,
✔ Eles tiveram pelo menos em 8 de janeiro de 2002.Um dia depois, ganharam liberdade e não voltaram a
340 entradas em prisões segundo a Justiça registrou em sentença, delinquir,como a de Magno da Silva
por suspeita de cometer executou um homem com três tiros,em Luciano,que formou família e trabalha
crimes. Porto Alegre.Voltou a ser preso 67 dias em um posto de combustíveis.
adriana.irion@zerohora.com.br
joseluis.costa@zerohora.com.br
FABIANO MORSCH
DIEGO VARA
MEIRELES, 28
Internado por roubo, teve condenação por
roubo, furto e receptação. Está preso.
FERNANDO CORREA
DA SILVA, 28
Aos 17, foi internado por atirar em ônibus
e ferir passageiro. Foi condenado por ma-
tar um homem a socos e pontapés para roubar
R$ 500. Está no semiaberto.
FERNANDO DA
CRUZ AZEVEDO, 25
Quando adolescente, furtava objetos de ve-
ículos. Adulto, foi condenado por furto, por
porte de arma e por assalto. Está preso.
FERNANDO DE OLIVEIRA, 26
Teve condenações por roubo, furto e recep- MAGNO
tação. Está preso. JOSE RICARDO TEIXEIRA matou uma jovem de 15 anos e feriu cinco fa- DA SILVA
DA SILVA, 26 miliares dela. Condenado a mais de 90 anos, LUCIANO, 28
Já condenado por roubo, matou um ho- responde a mais processos. Atormentou a vida da avó que
FERNANDO PADILHA mem em assalto. Foi condenado por latro- o criava. Aos 13, vendeu as
PEREIRA, 27 cínio e segue preso. coisas da casa e a encheu de
Condenado por assalto à residência e re- LUCIDIO RODRIGUES amigos. Antes dos 17, foi inter-
ceptação, está em liberdade condicional. DA SILVA, 28 nado por roubo. Participou de
JOSEMAR DA ROSA Condenado por roubo motins e fugas. Cumpriu pena
SHORN, 26 e porte de arma, está foragido. por roubo. Aos 22, um tiro lhe
GIOVANE CAVALHEIRO Aos 14, deu início à lista de internações. tirou o domínio das pernas.
MAIA, 26 Furtava, roubava, matava, segundo ele Apoiado em muletas, virou
Teve condenações por roubo e latrocínio e próprio disse a ZH. Aos 20, foi trabalhar como MAIQUEL LIMA DA SILVA, 28 frentista. Comprou terreno e
está preso. servente. No Litoral, fazia manutenção de casas. Tem condenações por roubo e tentativa de ergueu casa para morar com
Preso em 2010 por roubo, foi condenado, está no homicídio e está preso. mulher e filha. Diz que faria tu-
semiaberto e trabalha. do diferente, se pudesse.
ITAMIR TORMES
DA SILVA, 24 MAIQUEL SANTANA SILVA, 27
Respondeu por furto, roubo, lesão e tráfico. JOSUÉ GALIÃO SOARES, 25 Assaltou lojas aos 17, em Canoas. Aos 19,
Está preso, condenado por roubo. Cumpriu pena por roubo a casa. Em 2009, foi preso ao tirotear com PMs. Condenado
em liberdade, trabalhava com sucatas. por roubo e receptação, está livre.
MIGUEL GILBRAN
JAIRO DE OLIVEIRA, 26 MORAES KERSTING, 27
Condenado a 42 anos por homicídio, rou- JUNIOR CESAR FERNANDES MARCOS ASSUNÇÃO Condenado por roubos, está preso.
bos, furtos e porte de arma, está preso. FREIBERGER, 24 DA ROSA, 28
Condenado e preso, responde a mais Entrou na Fase com 16 anos. Em 2008,
processos por assalto. trocou uma condenação por prestação de MILTON FERRAZ ROLIN, 25
JORGE CRISTIANO DUTRA serviços à comunidade. Responde a processo Depois dos 18, respondeu por furto e lesão
DE ANDRADE, 28 por assalto e está foragido. corporal e foi condenado por roubo. Está em
Cumpriu pena até 2009. Em 2010, foi pre- LEANDRO MACHADO liberdade condicional.
so e condenado por tráfico. BAIMA, 27
Condenado por assaltos, está preso. MÁRCIO GIOVANI
DE OLIVEIRA, 28 NELSON TAVARES
JORGE HENRIQUE Foi internado aos 15 por assaltos. Conde- ANTUNES, 27
DAVID DE MORAES, 26 LEANDRO PEREIRA nado por roubo, furto e dano, está preso. Condenado por roubo, está em liberdade.
Tem condenação por porte de arma e as- RAMOS, 29
saltos. Está preso. Foi internado por assalto a um motel. De-
pois, por assalto a ônibus. Adulto, teve con- MARCIO MEDEIROS ODINI DO NASCIMENTO
denações por assaltos, tráfico. e posse de drogas. DA SILVA, 26 SILVA, 28
JOSÉ LUIS Está preso. Passou pela fundação por assalto a ôni- Ao sair da Febem, matou um rival e jogou o
DOS SANTOS, 25 bus. Está preso, com pena por roubo. corpo no Guaíba. Está cumprindo pena.
Aos 15, foi internado. Em 2007, foi conde-
nado por homicídio. Está preso. LUCAS MARX DA SILVA, 27
Condenado, está em liberdade condicional. MARCOS VINICIUS OSMAR REGIS GOMES
PACHECO PEREIRA, 27 COSTA, 27
JORGE LUIZ Em 2006, pego vendendo maconha, coca- Condenado por roubo, está no semiaberto.
PIRES, 28 LUCIANO EMERSON ína e crack, foi condenado. Em 2011, nova
Brigão na Restinga, foi parar duas vezes PINTO DE FREITAS, 28 pena por tráfico. Está em condicional.
na fundação, por agressão. Membro de Criado sem pai, abandonou os estudos na PATRICK ADRIANO
um bando criado pela mãe e por um irmão, 5ª série e passou a liderar uma gangue MELO PADILHA, 27
a gangue do Primo, Piá – como é conhecido juvenil em Viamão. Conhecido como Lucianinho MARIO EUZEBIO Condenado por roubo, tráfico e receptação.
– tornou-se impiedoso assassino a serviço do da Esmeralda, ingressou na Febem aos 15. Foi CANDIDO BISNETO, 28 Está preso.
tráfico. Executou três pessoas de 2002 a 2005, preso por assalto no mesmo dia em que fugiu Quatro meses após sair da fundação foi pre-
segundo consta em processos, e responde por da fundação, em 2002. Envolvido em tráfico, so por assalto. Em 2006, assaltou um banco.
homicídio. Está preso. seria mandante de mortes. Em 2004, foragido, Segue cumprindo penas por roubo.
34 ZERO HORA SEGUNDA-FEIRA, 23 DE JANEIRO DE 2012
WALTER FRANCISCO DE
JEAN SCHWARZ
MEDEIROS DA SILVA, 26
Condenado por latrocínio e porte de arma,
e está preso.
WESSLEN SANTOS
DE MENEZES, 28
Internado aos 17 por sequestro relâmpago.
Já condenado por roubo, assaltou bancos. Foi
preso pela morte de um PM. Em 2009, participou de
roubos simultâneos a bancos. Com pena por roubo e
homicídio, está preso.
WILLIAN DA
FONSECA ALVES, 26
“Na Febem eles educavam, davam con-
selhos. Mas eu nem queria saber. Depois,
conseguir serviço fica difícil, pedem ficha corri-
da”, reflete. Willian furtava e traficava. Teve con-
denação por motim na fundação e por tráfico.
Responde por homicídio e está foragido.
violência
cuja história
é contada
nesta série de
reportagens
que se iniciou
no domingo
e termina
amanhã, 19
passaram por ADRIANA IRION e JOSÉ LUÍS COSTA
turbulências,
D
mas seguem os 162 adolescentes Surgem nesse cenário de caminhada caminho natural. Dos 162 ex-
tentando que estiveram juntos na para longe do crime histórias como internos, 48 morreram, sendo que
reconstruir Comunidade Socioeducativa a de Moisés Dornelles, que praticou 36 foram assassinados por desafetos
(CSE) há uma década, assaltos e foi traficante quando era ou tombaram em confronto com a
suas vidas. 19 voltaram a ter algum adolescente. Mas decidiu mudar e, polícia. Passaram por prisões sob
tipo de sobressalto – respondendo a hoje, com 27 anos, é empreiteiro. suspeita de delitos 135 deles e, em
investigações policiais ou a processos –, Casado, comprou carro e casa própria. dezembro, 55 seguiam recolhidos no
mas sem desdobramentos que resultassem No final do ano passado, por causa sistema prisional. A Justiça sentenciou
em condenações.Neste grupo,estão de um desentendimento, respondeu a 114 deles, que, juntos, tiveram penas
contemplados desde casos de jovens que termo circunstanciado – uma espécie que ultrapassam 1,5 mil anos de
tiveram de dar explicações à polícia de inquérito policial simplificado prisão.
por causa de uma briga com o vizinho – originado de um desentendimento Mas qual seria a fórmula para a
até situações em que o ex-interno se familiar. O caso deve ser resolvido em recuperação que atinge só alguns?
tornou suspeito de crimes,como furto audiência de conciliação. Débora Perin, que foi monitora e
ou homicídio,e ainda pode ter o nome Também há o périplo de Juvenal costuma repetir que “ninguém chega
inscrito pela Justiça no rol de culpados. Neckel, que, depois de sair da à Fase com história bonita”, aposta no
Dos 162 ex-internos da antiga Febem, fundação, tornou-se suspeito de respeito como receita.
retratados nesta série: homicídio. Ele sustentou que não – Sei que a gente consegue plantar
estava na cidade quando o crime uma semente positiva nos guris. Ele
✔ 13 deles tiveram Chimifoski Paz, que de assaltante da Fase ele é respeitado, talvez para
ocorrência policial ou se tornou vigilante de valores e um dia lá fora ele saber respeitar. Mas
responderam a inquérito hoje trabalha como operador de se a gente vai conseguir transformar a
empilhadeira. Os nomes desses 19 vida deles, é uma incógnita – analisa
✔ 6 outros são jovens saíram de uma lista em que a hoje coordenadora jurídica da
réus na Justiça a maioria teve a violência como fundação.
adriana.irion@zerohora.com.br
joseluis.costa@zerohora.com.br
JOSÉ CLÁUDIO
CAETANO COSTA, 27
Foi desafiando a Justiça que Vivian da Silva
MOISÉS DONELLES, 27 deu um basta na carreira de crimes do filho
adolescente. Depois de passar quatro anos en-
Quando avisou ao patrão do dida judicial de internação). Depois dos 18 anos, tre delegacias e fóruns, decidiu levar José, fora-
tráfico da região em que vi- nunca mais quis saber de crime. Me esforço gido da Febem, a uma fazenda para tratamento
via que não cometeria mais para ser honesto. Trabalho para adquirir minhas de viciados. Com a comprovação do tratamento,
crimes, Moisés Dornelles achou que seria morto: coisas sem pegar nada de ninguém – garante o foi dar satisfação ao juiz sobre o filho foragido.
– Não quero mais. Estou me casando e não jovem empreiteiro, orgulhoso. “Ele me ameaçou até de prisão”, lembrou a mãe.
devo nada para vocês – disse ao traficante. A transformação não foi fácil. Ele caminhava José concluiu o tratamento e a medida. Como
A partir daquele dia, Moisés deixava para trás pelo bairro tendo de evitar antigos parceiros de maior, respondeu a nove termos circunstancia-
um currículo com assaltos, roubos de veículos e crime. Passou dezenas de noites sofrendo do CLEBER CHIMIFOSKI dos por lesão corporal, ameaça, maus-tratos
tráfico. Usuário de drogas, cometeu o primeiro mesmo estado de alerta de quando praticava PAZ, 28 e danos, que não tiveram desdobramentos na
ato infracional aos 15 anos. Foi apreendido e delitos: sem dormir, espiando por janelas e te- Justiça. Em 2009, foi preso em flagrante por fur-
Adolescente, roubava veículos e
ingressou na então Febem. mendo ser morto. to. O flagrante não foi homologado pela Justiça,
fazia sequestros. Depois dos 18
– Confundi amizade. Achava que se não – É uma vida sem futuro. Às vezes, fico em mas ele foi indiciado pela polícia. Formou família
anos, respondeu a termos circuns-
fizesse o que eles faziam, não era amigo sufi- casa pensando como há pessoas que ainda e trabalha.
tanciados por direção perigosa, ameaça e
ciente. Fiz o primeiro roubo com medo. Depois, conseguem levar essa vida. Eu dizia para mim
lesões corporais. Formou-se vigilante e traba-
comecei a gostar e perdi o medo – contou a ZH. mesmo: um dia vou sair disso. Mas sabia que
lhou protegendo bens e valores. Foi o advoga-
Passou a gerenciar negócios ilícitos em seu sozinho não ia conseguir. Já comprei carro e JOSÉ FELIPE FLORES, 28
do Gastão Juarez Viegas Junior que o ajudou
bairro. Teve quatro passagens pela fundação. casa – conta Moisés, que tem uma enteada e
a se afastar do crime. “Vi que ele gostava Foi internado por duas vezes por assaltos.
Durante uma fuga, esbarrou no que diz ter sido um filho.
de dinheiro fácil, mas não do crime.” Cleber Em 2003, aos 19 anos, foi flagrado por PMs
fator determinante para mudar de vida: conhe- Em novembro do ano passado, uma cunhada
trabalhou para Viegas e paralisou um dia ao com um revóvel calibre 32. Depois, teve
ceu a mulher com quem se casaria. registrou contra ele, a mãe dele e outros familia-
conhecer o pai do advogado, um PM aposen- ocorrência de furto de fios da rede elétrica. Nos
– Ela me disse: “Vou te tirar dessa vida”. res ocorrência de ameaça. A polícia abriu termo
tado que o havia prendido como infrator. A dois casos foram abertos inquéritos pela polícia
Fiquei com ela e comecei a trabalhar, mas fui circunstanciado. Uma audiência de conciliação
confiança foi mantida. Cleber tem filhos e hoje de Canoas. Também teve ocorrência de apro-
pego para cumprir o que faltava (concluir a me- está marcada para abril.
trabalha como operador de empilhadeira. priação indébita, em 2008.
ZERO HORA TERÇA-FEIRA, 24 DE JANEIRO DE 2012 Polícia 41
o passado
Seis ex-internos
ainda são réus
DEIVIDI DOS SANTOS MULLER
Morador de Viamão, fez parte da gangue do
Lucianinho da Esmeralda. Quando adoles-
cente, foi investigado como autor de um tiro
acidental que deixou uma garota paraplégica e
acabou recolhido à Febem por assaltos. Aos 20
anos, foi acusado do assassinato de uma jovem
de 15 anos e de tentativas de homicídio contra
JOVEM DE 27 ANOS
DIEGO VARA
cinco parentes dela. Com prisão decretada e de-
– Éramos de classe média alta. Perdemos nunciado por homicídio, desapareceu. Quando
essa condição e viemos em busca de nova for capturado, será julgado pelos crimes.
vida. Não sabia que essa São Leopoldo ti-
nha tanta violência. Ele começou a se envolver
em problemas em boates – lembrou a mãe, que FLADEMIR BITELLO, 26
pediu para não identificar o filho para ele não Muita força de vontade e o carinho da mulher
ser prejudicado no emprego. e dos pais. Assim Flademir Bitello explica as
Foram brigas, reações a abordagens policiais e condições responsáveis por tirá-lo da vida de
a Febem: crimes que o seduziu cedo, aos 14 anos.
– Ficamos sozinhos, mas nunca o abandonei. – Primeiro, usei droga, com 13 anos. Via gente
Quando saiu, mandei ele morar com um irmão roubando e comecei a me espelhar. Olhava e pen-
no Paraná. sava: isso me serve – conta.
Estudou, casou-se e teve filha. Vive no Vale do Sem timidez, empunhou uma espingarda já no
Sinos. No ano passado, uma discussão de trân- primeiro roubo de carro, segundo contou. Os pais,
sito acabou em agressões e lhe rendeu inquéri- evangélicos, suspeitavam do comportamento do
to de lesão corporal que está em andamento. filho. Mas o jovem seguia matando aula, cheirando
cocaína e assaltando.
Com 15 anos, conheceu a Febem. Depois de
JOVEM DE 27 ANOS fugas, pediu ajuda ao juiz contra o vício. Foi para
– É fácil ser vagabundo, difícil é ser traba- uma clínica e fugiu. Casou-se ainda foragido. Acei-
lhador, entrar em ônibus lotado – constata tou voltar a estudar e quitou a dívida com a Jus-
o jovem que, com 15 anos, foi internado por tiça. Em 2009, teve uma ocorrência de desacato,
assassinato. processo ao qual ainda responde. Comprou uma
Ficou dois anos e três meses lá. casa, formou família e trabalha.
– Conhecia várias cabeças (do crime). A Febem
ampliou meus horizontes, saí mais esperto., podia
ter seguido no crime – afirmou o jovem, que pediu GIOVANE BARBOZA DA SILVA
para não ser identificado para não ter prejuízo no Aos 17 anos, participou de roubo de veículo
trabalho. mantendo a vítima refém. Na Febem, se envol-
Aos 19 anos, teve ocorrência por uma suposta veu em ocorrência de lesão corporal. Em 2002,
briga e de desacato a um PM. Depois, discussão aos 18 anos, foi pego num carro em que estava
com uma vizinha motivou ocorrências mútuas de um foragido e havia dois revólveres. Um ano de-
ameaça. Respondeu a termo circunstanciado por pois, teve ocorrências policiais por causa de dis-
vias de fato, desacato e ameaça. Com a ajuda de puta em torno de um imóvel que havia comprado.
um irmão começou a trabalhar. A ZH, em 2009, disse que essas coisas de “crime
ficaram para trás e que estava bem”. Em 2010, foi
indiciado por receptação. Denunciado pelo MP,
JUVENAL NECKEL responde a processo.
Entre plantações e bichos, debaixo de sol
ou temporal, Juvenal abre valetas, fecha
buracos, conserta canos, entrega contas. MÁRCIO TEIXEIRA MUNIZ, 27
É a rotina de zelador num condomínio da zona Foi para a Febem por furto. Adulto, teve ocor-
rural de Viamão, que ZH conferiu em 2009. Até rências de lesão corporal, dano, furto, apro-
os 18 anos, isso era impensável para Juvenal, priação indébita e arrombamento. Responde
que aos 13 trocou o colégio pelo trabalho de a processo criminal por receptação e furto.
servente de pedreiro, mas logo se desviou.
Fumou maconha, tinha arma e queria vingar
a morte de um primo. Foi internado por roubo. RODRIGO DE SOUZA LEAL, 28
– Foram 11 meses de internação, mas parece Aos 15 anos, foi flagrado furtando fitas de
que foram 11 anos. música de uma loja em São Leopoldo, e,
Na rua, já adulto, respondeu a processo por dois anos depois, apreendido em um as-
homicídio e foi absolvido por falta de provas de salto a uma casa. Está denunciado em três
que tenha tido participado do crime. processos de furto que tramitam em São Se-
bastião do Caí e em São Leopoldo.
NOMES DA ESPERANÇA
ZERO HORA QUARTA-FEIRA, 25 DE JANEIRO DE 2012 Polícia 41
Natanael e Rafael,
dois exemplos de
esperança
Dos 162 jovens
cuja história
é contada
nesta série de
reportagens
que se iniciou
no domingo e
termina hoje,
JÚLIO CORDEIRO
ADRIANA IRION e JOSÉ LUÍS COSTA
apenas dois
N
não tiveram atanael é vendedor e
os nomes evangelizador.Rafael,
marceneiro.
relacionados Seus nomes emergem de
a nenhuma uma lista de 162 adolescentes
ocorrência que estavam internados na Fundação
policial ou Estadual do Bem-estar do Menor
(Febem) em 1º de janeiro de 2002.
a processo As histórias dos dois poderiam ser
criminal. contadas em uma palavra: esperança.
Dos 114 ex-internos vivos, os dois, uma
década depois daquela internação,
são exemplos do esforço para driblar e
mudar destinos marcados pelo crime
na adolescência.
São oriundos de um grupo em que Depois de passar pela Febem, Rafael deu novo rumo à sua vida e hoje é um pai de família
a maioria teve a trajetória reduzida
a mortes violentas ou à perda da
liberdade, condenada por crimes. fundação por assalto, a optar por uma Jesus, uma das vilas mais violentas da
De volta à comunidade onde reviravolta. Hoje, casado e pai de Capital, o projeto anunciado não se
construíra laços com o crime na Rafaela, reflete sobre o que o levou a concretizou, mas é aposta do governo
adolescência, a vila Bom Jesus, em roubar.: federal para a recuperação de jovens e
Porto Alegre, Rafael Patricio Machado, – Faltava dinheiro para sair, comprar a prevenção de violência no Brasil.
27 anos, resistiu. roupa. Tu vais conhecendo pessoas, – A existência de Territórios da Paz
Os amigos do passado o procuravam. o dinheiro vem fácil. Agora, vivo do e de Unidades de Polícia Pacificadora
– Aqui fora tinha muitos amigos. Lá serviço para casa e para cuidar da será muito importante para a
(na Febem), ninguém te procura ou família. recuperação desses adolescentes. Existe
manda algo. Só minha mãe me apoiou A região em que ele mora ganhou mais esperança para eles em territórios
– recorda o marceneiro. destaque nacional em 2009, quando pacificados – avalia a gaúcha Maria
A constatação ajudou Rafael , que o então presidente Lula a visitou para do Rosário, ministra da Secretaria de
aos 16 anos passou Natal e Ano- anunciar a instalação do primeiro Direitos Humanos da Presidência da
Novo longe da família, recolhido à Território da Paz do Estado. Na Bom República.
adriana.irion@zerohora.com.br
joseluis.costa@zerohora.com.br
O ingresso na Febem
JÚLIO CORDEIRO
“Com 13 anos tive minha primeira inter-
nação. Foi um trauma.Imagina o medo,
o tremor.Eu não sabia o que ia acontecer
comigo na Febem.Fiquei 11 meses.Só fiquei
dois meses fora e já voltei.Os policiais falaram:
‘Se tu continuar nessa vida,se não for para
o cemitério,tu vai fazer 18 anos e vai direto
para o presídio.’
A vida na Febem
“Meu medo era me envolver em briga,apa-
nhar,motins,que era o que a gente via na TV.
Não sei porque fui para lá (na CSE,casa de
internos mais velhos e violentos),mas dizem
Natanael parou de ceder aos apelos do que é por causa do comportamento.Fui umas
crime e encontrou novo modo de vida 300 vezes para o isolamento.Eu era endemo-
A redenção
niado.Começaram a tocar remédio,injeção
conhecida como prego,me amarravam na
cama.Gritava de dor.Na Febem,o sonho
primeiro é a liberdade e,depois,as atividades.
Se tivesse atividades mais diárias,ajudaria
muito.Cada vez que tinha atividade,eu não
queria fazer folia.”
A casa que
reuniu 162 DOS 162 EX-INTERNOS,
destinos em 2002
tiveram mais de uma passaram por cadeias,
internação enquanto sendo que pelo menos 60
adolescente ingressaram no sistema
prisional menos de um ano
depois de sair da fundação
Os 162 adolescentes que dão rosto a esta tinados, registraram o nome da casa em
reportagem de Zero Hora tiveram suas vi- um dos capítulos mais violentos da história deixaram a fundação foram condenados a
das reunidas pelo menos uma vez, em 1º de da então Fundação do Bem-estar do Menor
janeiro de 2002, na Comunidade Socioedu- (Febem): mataram o monitor Luís Fernando
foragidos, portanto, sem penas que ultrapassam
cativa (CSE). A unidade, encravada na Vila Silva Borges com um tiro. concluir a medida judicial 1,5 mil anos
Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre, ganhou Depois de uma sequência de motins que
esse novo nome em 2000, quando o então deixou a estrutura da casa fragilizada, o pré- morreram, sendo 36 seguem presos
Instituto Juvenil Masculino (IJM) tentava se dio foi sendo esvaziado para passar por re-
reerguer de uma trajetória de descontrole, formas.
casos de homicídios
motins e morte. Em 2000, renovado, o IJM virou a Comu- por desafetos ou em
Até 1998,o IJM era uma casa comum,que nidade Socioeducativa. A casa rebatizada confronto com a polícia
funcionava para receber adolescentes não surgiu sob nova concepção de funcionamen-
infratores e também como triagem, ou seja, to, já que dispunha de cinco alas de interna- tiveram sobressaltos deles, retratados na
casa por onde os infratores passavam antes ção isoladas uma da outra, além de quartos
de serem encaminhados à unidade onde individuais, o que facilitaria o controle e o
voltando a responder reportagem de hoje,
cumpririam a medida de internação. Mas, atendimento aos adolescentes. por alguma suspeita mantêm os nomes sem
naquele ano, mudanças em outras unidades Dois anos depois, em maio de 2002, a – seis deles são réus em registros policiais
interferiram no destino do IJM,que passou a Febem foi transformada em Fase, mas as processos criminais
receber infratores mais violentos, autores de piores chagas ainda permeavam o cenário
atos infracionais graves. Começava ali uma que reuniu esses 162 ex-internos: falta de
história de tensão. estrutura adequada, escassez de pessoal,
– Os colegas relatam que os guris chega- superlotação, agressões. Dez anos depois
ram (no então IJM) com canivetes e maco- da mudança,a Febem ainda não sumiu por ZEROHORA.COM
nha escondidos por todo o corpo.Os guris ti- completo. Há agressões a internos, falta de
nham perfil extremamente grave. Era muito pessoal, carência de atividades socioedu- Série em vídeo: edição especial
tenso – recorda uma ex-monitora. cativas e excesso de medicação para “acal- retrata vidas condenadas pelo crime
Em setembro de 1999, os internos, amo- mar”adolescentes.
DIEGO VARA
A Comunidade Socioeducativa era, até 2000, o Instituto Juvenil Masculino, uma das unidades mais conturbadas da ex-Febem e onde foi morto um monitor durante motim
4 ZERO HORA QUINTA-FEIRA, 26 DE JANEIRO DE 2012
A
Febem foi extinta por ineficiên- Em dezembro, foi detectado que 98% utilizar esse recurso. Do que adianta eu ter
LILIANE GONÇALVES
cia, a Fase nasceu, mas o trata- dos internos da Comunidade Socioeduca- no meu cofre uma pedra preciosa, e meus Presidente entre 2007 e 2008
mento dispensado a recuperar tiva (CSE) estavam sob medicação. filhos passando fome e sem poder estudar e
adolescentes infratores segue o – Não temos resposta técnica que nos eu dizendo:“essa pedra eu não vendo”.A ro-
mesmo receituário: estrutura diga que essa medicação está correta. da não precisa ser inventada,tem de rodar. Depois de passar pela
física ultrapassada, excesso de E a situação também não avança para Uma das unidades da Fase funciona Fase, achei que meu
medicação, castigos, superlotação e falta além da medicação. Pois se tem questão em um prédio do século 19. A última casa
de monitores. psiquiátrica a ser tratada, que tipo de te- construída data do final do governo Olívio
lugar era aqui (atuando
Juízes e promotores da área da Infância rapia está sendo oferecida? – questiona Dutra (PT), sendo que, desde então, mes- em programas de meio
e da Juventude não se surpreendem com Vera. mo com a mudança do modelo de Febem aberto), impedindo que
o resultado do levantamento feito por ZH A falta de um plano efetivo – ou de von- para Fase, não foi feito concurso.
com 162 adolescentes internados em uma tade – para construção de novas unidades e – Temos casas com modelo prisional,
esse meninos chegassem
das casas da instituição em 2002, no qual para realização de concurso é destacada co- superlotadas e deficiência de pessoal. Isso lá. Porque quando eles
48 morreram, 114 foram condenados e mo exemplo de promessas que se perdem. passa por opção ideológica, ou seja, vão chegam, infelizmente, por
apenas dois não voltaram a ter registros – Todos os governos vão fazer tudo, mas colocar dinheiro nisso ou não? – provoca
policiais 10 anos depois. todos não têm dinheiro suficiente para fa- a juíza Vera.
mais que se faça, é difícil
A recuperação de adolescentes, com a zer. E as coisas podem ser adiadas e depen- Coordenadora do Centro de Apoio à resgatá-los.
estrutura atual e a crescente falta de inves- dem de um governo que entra e leva não sei Infância e à Juventude do Ministério Pú-
timento está fadada a seguir sendo uma quanto tempo para tomar pé da situação, blico, a procuradora Maria Regina Fay
exceção. A constatação de que a Febem porque não são os filhos deles que estão lá de Azambuja aposta no investimento em
segue existindo é compartilhada também internados – avalia o juiz João Batista Costa educação, esporte e lazer como medida
pela presidente da hoje Fundação de Aten- Saraiva, que atua junto ao Centro Integrado urgente para atender aos infratores priva- IRANY DE SOUZA
Presidente entre 2008 e 2010
dimento Socioeducativo (Fase), Joelza da Criança e do Adolescente. dos de liberdade:
Mesquita. – O Estado devia oferecer o que deixou
Um dos exemplos dos vícios nefastos da de oferecer antes, mas o faz (dentro da Fase) É preciso abandonar
antiga Febem que ainda permeiam as uni- Juíza diz que investir de forma muito aquém do que está previsto. o modelo de unidades
dades é o excesso de medicação, conforme Minha impressão é de que trabalhamos –
tem sido constatado por levantamentos
é opção ideológica inclusive nós, do MP – apenas remendando de internação de cem
mensais da Justiça. o que está insuportável.Se os filhos da classe anos atrás.Temos de ter
– Tenho dados que me assustam, prin- Quanto à eterna justificativa de “falta média e rica chegassem à internação, talvez casas menores e oferecer
cipalmente quando olho para o resto do de recursos”, Saraiva relembra o debate o investimento lá fosse outro.
país, onde não encontramos adolescen- travado no governo passado sobre a ven- Para a procuradora, o Estado deveria ter programas de esporte,
tes tão medicados como em Porto Alegre. da da área em que está a sede da Fase, na como regra a produção permanente de dados cultura e lazer mais
Existe uso abusivo de medicação como Avenida Padre Cacique: que pudessem avaliar a eficácia do trabalho atrativos a esses jovens,
forma de controle de conduta – afirma a – Não sei se era a solução adequada. dentro da Fase e orientar correção de rumos.
juíza Vera Lúcia Deboni, do 3º Juizado da Mas se há patrimônio que não está sen- além de trabalhar o
Vara Regional da Infância e Juventude. do útil, tem de dar destinação diferente e adriana.irion@zerohora.com.br retorno deles às famílias.
morreram – 36 em confrontos com foram condenados a penas que tiveram sobressaltos voltando a mantêm os nomes longe de registros
desafetos ou com a polícia ultrapassam 1,5 mil anos responder por alguma suspeita policiais ou processos judiciais
Observação: a soma supera os 162, porque alguns dos condenados também estão entre os mortos
ZERO HORA QUINTA-FEIRA, 26 DE JANEIRO DE 2012 5
ENTREVISTA Joelza Mesquita Andrade Pires, atual presidente da Fase SUA SEGURANÇA
Humberto Trezzi
Deu a lógica
Responsável pela Fundação de sico. Eu gostaria que todas as nossas casas
GENARO JONER
Atendimento Socioeducativo (Fase) desde
janeiro de 2011,Joelza Mesquita Andrade
Pires,53 anos,levou pouco tempo para
tivessem um quarto por menino, sala de
esportes, sala de aula, sala de lazer. O que
a gente tem hoje? Numa casa para 40, eu
C hega a dar um desânimo quando
termina a leitura da exemplar
série de reportagens de Adriana Irion
diagnosticar que a instituição que dirige tenho 120. Outra coisa que eu vejo muito e José Luís Costa. Ao deparar com o
repete os mesmos erros que sepultaram da Febem é o atendimento especial (isola- ponto final, o leitor fica com a nítida
a antiga Febem: excesso de medicação mento). impressão de que, da Febem para a
aplicada aos internos,agressões,falta de Fase, só mudou o nome.
acompanhamento individual,carência de ZH – O problema de excesso de medi- A Febem – mais especificamente, os
pessoal e superlotação. cação na fundação não é novo. seus males – eu conheci bem. Em 1998,
Com a experiência de 20 anos atuando Joelza – Desde que comecei, o excesso de com as colegas Clarice Esperança e
em serviços de atendimento a crianças medicação vem diminuindo. Na primeira Eliane Brum, participei da elaboração
e adolescentes vítimas de violência, a visita que fiz à Comunidade Socioeducativa, de uma série de reportagens intitulada
médica baiana,com formação em fiquei impressionada, porque todos os me- Casa dos Horrores, que eviscerava os
pediatria,quer instalar na Fase um centro ninos estavam enrolando a língua.E a culpa chamados “lares de recuperação de
de tratamento para drogadição. Mas a não é de ninguém, pois o médico prescre- menores” no Rio Grande do Sul. Podiam
principal meta ela não cansa de repetir: veu“se necessário”. Medicados, ficam quie- fazer de tudo, menos tornar humanos
“Quero acabar com a Febem de vez”.A Joelza quer acabar com o excesso tos. É mais fácil. Quero tirar o excesso de os jovens. A época era de conflito
seguir,trechos da entrevista a ZH: de medicação, resquício da Febem medicação, iluminar os espaços, dar acesso cotidiano entre infratores e funcionários
à leitura. das casas. O saldo desse clima de
animosidade era de jovens incendiados,
Zero Hora – Por que a Fase falhou ZH – Isso não aconteceu? ZH – Há muitos focos da Febem? monitores mutilados e adolescentes
com este grupo de 162 ex-internos? Joelza – Tem funcionários que acham Joelza – Sim. Quero que os psiquiatras torturados de forma sistemática. Após
Joelza Mesquita – Tudo falhou. A que foi muito bom mudar (a filosofia de deem um diagnóstico para o menino. Que- exaustivo rastreamento, descobrimos
maioria dos internos vem de famílias atendimento a infratores), mas alguns ou- ro saber porque ele precisa tomar remédio. que nove adolescentes tinham morrido
excluídas da sociedade, com pais de- tros acham que tem de continuar como São coisas que ficaram da época da Febem. de forma misteriosa em apenas dois
sempregados, de baixa escolaridade, que antes. Então, acho que a falha é nossa. Ho- anos, entre os muros daquela instituição
deixam os filhos à mercê de todo o tipo je, estamos investindo em educação, em ZH – A carência de pessoal interfere? que deveria transformá-los em gente.
de adversidade.Mas a responsabilidade é profissionalização, ocupando ao máximo Joelza – A equipe técnica é para fazer o Alguns, queimados. Outros, asfixiados.
um tripé. É a família, o Estado e a escola, o menino. A recuperação vai ser muito planejamento individual de atendimento do O resultado foi o indiciamento criminal
são as políticas públicas que faltam a es- maior. menino, com a questão da saúde, da educa- de monitores e pessoas da direção
sa família. ção, do lazer, da convivência com a família. da Febem por homicídio (acabaram
ZH – O que é preciso mudar? Hoje, a equipe técnica passa mais tempo absolvidos, posteriormente).
ZH – Onde a família e o Estado fa- Joelza – Por exemplo, a porta de entrada em audiências. Dizem que não dá tempo de Em 2002, com o objetivo de mudar
lharam? do menino aqui é o Instituto Carlos Santos. atender individualmente. esse quadro de terror, surgiu a Fase.
Joelza – O que todos os governos di- Ele teria que estar adequado do ponto de Visitei algumas unidades desde então
zem? Que nenhuma criança pode ficar vista estrutural. Para mim, como gestora ZH _ A Fase trata a drogadição? e, justiça seja feita, a coisa melhorou. As
fora da escola. Ouve-se isso há 20 anos. promovendo a recuperação desses meni- Joelza – Não.Privo o menino de liberda- rebeliões, que chegaram a ser semanais,
Mas o fluxo para evitar isso não funciona. nos, fica difícil engolir quatro meninos nu- de. Enquanto está preso aqui, ele está longe não acontecem nem anualmente.
Nesse tripé tem a parte da sociedade, que ma cela só e a existência do atendimento das drogas. Eu trato as sequelas das drogas, Apela-se mais para quadras de esporte
prefere dar dinheiro para o menino na si- especial (celas isoladas em que os internos a abstinência. Ele fica agitado, agressivo, de- do que para celas de isolamento. Mas
naleira. Sabe qual o maior malabarismo? são colocados de castigo). Não sei como per- primido, e o tratamento é a medicação para falta muito. As casas de recuperação,
Inserir esses meninos na sociedade. mitiram que fosse assim, sem iluminação, segurar isso,mas não trato a droga. modelares, ficaram no papel (existem
tirando os colchões. só duas). E os concursos para novos
ZH – Por quê? ZH – Não devia ser tratado? funcionários? Grande parte dos
Joelza – Porque as pessoas não acredi- ZH – É a velha Febem? Joelza – Quero tratar a droga.Montar um servidores é ainda do tempo da Febem.
tam na recuperação deles, talvez porque Joelza – Sim. Só que ninguém assumia, centro de atendimento psicossocial aqui Com situação assim, o levantamento
ainda acreditem na escola de bandido ia botando para baixo do tapete. dentro para tratamento da droga, porque feito por Zero Hora só poderia dar
que era a Febem. Quando a Febem virou 90% do meu adolescente é usuário de dro- no que deu: a lógica. Apenas dois nos
Fase, tinha que ter sido (uma mudança) ZH – O que a Fase tem da Febem? gas,e ele mata,ele rouba,ele furta por causa quais é possível colocar um carimbo de
de dentro para fora. Joelza – A primeira coisa é o espaço fí- da droga. recuperado. Até quando?
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11
ZERO HORA SEXTA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2012 Artigos
DILAN CAMARGO* ram? São 1,5 mil anos de cadeia distribuídos em con-
denações judiciais! Por que as famílias, a sociedade, o
círculo um ponto de partida para conseguem dar conta da realidade social brasileira. E
de fogo que o futuro, para ser levada a essa imensa incompetência se reflete diretamente nas
sério pelos efetivamente in-
os cerca como teressados em buscar novos
leis penais e processuais, nas instituições, nos precon-
ceitos, nas políticas de atendimento e de assistência,
BRASÍLIA
feras no circo caminhos. O resto perten- que constituem o chamado sistema socioeducativo Carolina Bahia carolina.bahia@gruporbs.com.br
cerá ao passado, que já fra- de jovens infratores.
urbano da cassou absolutamente. E o Por que não conseguimos nos levar a sério fren-
com Kelly Matos
Febem, hoje Fase (Fundação de Atendimento Socio- social, a inserção no mundo do trabalho e a reapro- fundamentais
educativo). A busca pela história de vida de cada um ximação dos laços familiares. A fundação atende até nas negociações Palavrões
dos jovens, identificando-os com nome e idade, tra- 70 adolescentes/jovens adultos egressos da Fase por que culminaram Se há uma pessoa que Dilma não quer
ta-os como seres humanos meio de uma equipe multidisciplinar. O POD tem co- no acordo da ver pela frente é o líder do PMDB, Henrique
e não apenas como dados mo finalidade dar visibilidade social aos adolescen- União com Eduardo Alves. De acordo com um
Este trabalho estatísticos de violência ur- tes/jovens adultos em conflito com a lei e qualificar a CEEE. O interlocutor, ela ficou irada e esbravejou muito
mostra à bana, convidando à reflexão o atendimento socioeducativo no Estado, de acordo governador quando soube que o peemedebista desafiou
sociedade que acerca da realidade onde com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e Tarso Genro o governo no caso das irregularidades no
esses jovens cresceram e de o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo participou de DNOCS. Em seguida, a presidente ligou para
a reinserção como as condições sociais (Sinase). uma série de a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e
social em que viveram contribuí- O Pão dos Pobres oportuniza e incentiva os edu- reuniões com determinou que demitisse Elias Fernandes
ram para levá-los a cometer candos do programa a ingressarem nos cursos profis- o advogado- Neto, o diretor-geral encrencado.
desses atos infracionais. sionalizantes ou técnicos do centro de educação pro- geral da União,
jovens Na reportagem de segun- fissional da fundação ou em cursos e oficinas ofereci- Luís Inácio
é possível da-feira (23), foi retratado dos por entidades parceiras. Só no ano de 2011, mais Adams (foto),
o depoimento do jovem de 20 egressos da Fase que participaram do POD no e com o chefe PARA CONFERIR
Rafael Candido dos Santos Pão dos Pobres foram inseridos no mercado formal de gabinete da
ali adiante
Machado, hoje com 28 anos, o qual afirma que a fal- de trabalho. O sucesso de cada educando motiva-nos Presidência
ta de acompanhamento após sua saída da Febem foi a dar continuidade a este trabalho e mostrar à socie- da República, Quem sabe?
um dos fatores cruciais para a reincidência no crime dade que a reinserção social desses jovens é possível. Giles Azevedo. O ministro Aldo Rebelo (Esporte)
e consequente prisão. Foi pensando em jovens como Quer dizer, resolveu revisar as obras da Copa em
Rafael, que desejam encontrar apoio para mudar seus *Psicóloga do POD Socioeducativo da Fundação O Pão dos Dilma chamou a Porto Alegre mais cedo do que o previsto.
destinos e o rumo de suas histórias, e visando à di- Pobres de Santo Antônio articulação para Ele desembarca na capital no dia 9
dentro de seu de fevereiro. O deputado José Otávio
gabinete desde o Germano (PP-RS) pediu que Aldo inclua
Os artigos enviados para esta página devem ter até 2.400 caracteres, ou 40 linhas de 60 espaços, e poderão começo. na agenda uma visita à Arena do Grêmio.
ser divulgados também na edição online de ZH. Fax: (51) 32184799. E-mail: artigozh@zerohora.com.br
44 ZERO HORA SEXTA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2012
Polícia
Do Leitor
Trechos de alguns e-mail recebidos
pela editoria de Polícia sobre a série
REINALDO CINTRA AFONSO ARMANDO KONZEN, KARYNA SPOSATO, de reportagens Meninos Condenados
TORRES DE CARVALHO, procurador de Justiça aposentado advogada, consultora do Unicef
coordenador do programa e ex-presidente da Febem Parabenizo ZH pela série de
Justiça ao Jovem do CNJ reportagens “Meninos Condena-
dos”, que me motivou a esperar
cada edição do jornal com ansie-
A estrutura é fundamental para unidades pres- Um dos jovens da reportagem realçou um É um problema nas duas ordens. Tem um pro- dade para conhecer o desfecho da
tarem atendimento devido. Se não tiver sala de aspecto fundamental ao dizer que a Febem blema de concepção, filosofia, inadequada, vida dos 162 internos da antiga
aula, local para esporte, vai ter dificuldade em não tem o poder de mudar a vida de um jo- uma visão deturpada em que se acredita que Febem. Obrigada por propiciar esse
O problema quebrar o ciclo de violência em que o adoles- vem. A estrutura e o preparo técnico dos que o adolescente envolvido num ato infracional
para essa conhecimento aos seus leitores e
cente está embarcado. O RS tem de investir atendem podem ajudar, mas são dependentes está predestinado para sempre. Isso precisa
dificuldade de que mais séries tenham espaço
em unidades. Também tem a parte filosófica: da vontade e das possibilidades de cada um ser mudado porque inclusive faz com que não
ressocialização e assim possam nos revelar as
se a preocupação maior dele for a contenção, dos internos. Trata-se de um nível de comple- existam investimentos reais nessa área por se
é de estrutura diferentes realidades vividas pelos
não adianta ter unidade equipada para ativi- xidade em que a ressocialização muitas vezes achar que o jovem vai voltar ao crime. E tam-
física ou de gaúchos e brasileiros.
dades. Tem de conjugar as duas situações e não passa de promessa vazia de sentido. Até bém tem um problema de gestão de políticas Ceres de Jesus Ávila
filosofia? somar outra: a de trabalhar com a família do porque de regra não se aprende a viver em de atendimento, que envolve as estruturas, já Web designer – Ijuí
adolescente. Porque, quando ele sai, onde vai liberdade na falta dela. que esse atendimento é feito de forma isolado
ser acolhido e se sentir protegido é a família. em relação às demais políticas públicas.
É temerário ainda antes do final
de janeiro fazer prognósticos para
um ano inteiro, mas as reporta-
No RS, o mais importante é um trabalho com Fórmulas mágicas pouco ajudam. Além de É preciso que ocorra intersecção com outras gens tituladas e o exaustivo tra-
as famílias. O Estado tem uma proposta para vontade política, o desafio está em qualificar políticas públicas, de saúde, de educação. balho de jornalismo, na mais pura
o sistema que não é ruim, as unidades não ainda mais as atuais condições, mudança Que o adolescente em conflito com a lei tenha acepção do termo, que instrumen-
O que fazer em são adequadas mas também não estão tão que não vem por acaso. Preparar ambientes atenção na sua integralidade, é a única forma
curto prazo talizou as matérias publicadas por
deterioradas. Então, dentro de uma realidade e recursos humanos e gerir com qualidade de vencer as outras adversidades. Isso inclui
para melhorar ZH nos últimos dias, são clara-
de superlotação e unidades com arquitetura investimentos, além de incompatível com pensar em estratégias de educação direcio-
a recuperação mente candidatas aos melhores
inadequada, acredito que o investimento deve o prazo curto, não condiz como ideia de um nada a esse público, que as unidades tenham
dos que estão prêmios de jornalismo do país.
ser na família, que possa ajudar a unidade no determinado governo ou de um determinado biblioteca. H. Ledur
internados trabalho com o adolescente. Porto Alegre é o período. Temos experiência acumulada. No Administrador – Porto Alegre
hoje? único lugar que tem trabalho institucionalizado entanto, a existência de uma unidade como a
com os egressos, e isso tem de ser trabalhado do CSE depõe contra o respeito que devemos
Concordo plenamente com o
melhor e desenvolvido para o resto do Estado. aos internos e as suas famílias.
desânimo de que fala Humberto
Trezzi na sua coluna “Deu a lógi-
ca” de ontem. O que poderíamos
Temos que evitar que o adolescente tenha o Todos sabemos a resposta. Se uma criança É possível. Tem que pensar nas famílias de fazer para que nossos governantes
ingresso nessa vida à margem da sociedade. não é bem cuidada desde pequena, se deixa- modo integral para que elas tenham condições tomassem conhecimento de toda
E isso se faz com educação, educação, edu- mos que lhe falte a escola ou quaisquer dos para acompanhar seus filhos. Ter políticas pú- a série de reportagens “Meninos
cação, para ele e para a família, ensinar a mínimos para o seu desenvolvimento, se não blicas básicas com atenção prioritárias às fa- Condenados”? E nossos juízes
família a cuidar desse jovem. Temos sistema prestamos atenção as suas necessidades, é mílias e políticas de proteção da drogadição,
Como atuar precisam ser mais audaciosos,
educacional pouco atrativo para adolescentes, bem provável que vamos pagar o preço. Pre- da vulnerabilidade.
na prevenção? persistentes, determinados, para
escolas não conseguem prestar serviço atra- venir é fazer o óbvio.
É possível? estabelecer melhorias de curto
ente. Temos evasão escolar monstruosa, e um
prazo. É urgentíssimo.
dos fatores é que a escola não é atrativa. In- Luís Maria
vestimento maciço em educação é o primeiro Administrador – Porto Alegre
passo para prevenção. A ideia da escola em
período integral também ajudaria bastante.
Gostei muito das reportagens.
Apesar de tudo que passei na Fe-
bem, e toda influência de continu-
Tem de haver investimento maciço em trabalho Pouco adianta tratar a dependência se as Nem sempre o ato infracional está relacionado
ar na vida de crimes que cometi,
de prevenção no qual a escola é grande agente causas que levaram ao consumo não forem ao uso de drogas. Muitos adolescentes envol-
É possível saí pela porta da frente e disposto
de prevenção também. Não conheço o sistema vistas. A pessoa deve ser vista como um todo. vidos no tráficos não são usuários. Mas quan-
recuperar a nunca mais voltar. Encontrei
de saúde do Estado, mas sem clínica terapêuti- Atribuir a função de tratamento à Saúde como do são, é preciso tratar. Sem tratar da saúde
sem tratar a auxílio na minha família e no amor
ca, sem pessoal especializado, sem que juízes função isolada provavelmente vai concentrar não se tem outros resultados. É uma fraude
drogadição? que descobri pela minha namorada
e promotores, agentes e gestores saibam que o atendimento em determinado aspecto. Por- mover o sistema socioeducativo sem ter a
Como fazer na época (até hoje minha espo-
o jovem precisa de tratamento diferenciado, tanto, cuidar da dependência é apenas um saúde integrada.
isso com sa). Superei a discriminação de
não pode estar na mesma cesta que os outros, aspecto.
um sistema vizinhos, o desemprego e tudo que
teremos dificuldades. É preciso que as unida-
de saúde um ex-detento sofre após sair de
des saibam trabalhar com essa clientela e que
insuficiente? uma instituição destas.
o Estado se equipe para recebê-los em clínicas André d’Àvila Machado
e comunidades terapêuticas. Corretor de imóveis – Porto Alegre
38 Polícia ZERO HORA DOMINGO, 29 DE JANEIRO DE 2012
ADRIANA IRION E JOSÉ LUÍS COSTA infrator. São as mesmas casas, as mesmas
“O mais importante é
A
promessas, o fracasso total. Tem servido-
Comunidade Socioeducativa res com esforço pessoal para fazer diferen-
a prevenção precoce”
(CSE), que não impediu que a te, mas não são valorizados, não chegam à
maior parte dos 162 internos chefia, pois estas são destinadas a espaços
da casa da antiga Febem em políticos e não a técnicos – critica a juíza
2002 voltasse ao crime, segue Vera Lúcia Deboni, do 3º Juizado da Vara
sem recuperar, mesmo sob a Regional da Infância e Juventude.
estrutura da renovada Fundação de Atendi- Para a magistrada, o que falta é uma po- Há 17 anos soa,por exemplo,quais são minhas chan-
mento Socioeducativo (Fase). lítica de Estado e não de governo, que mu- atendendo no ces de seguir com problemas?
Dos 167 jovens que saíram da CSE em da a cada quatro anos. Ministra-chefe da Instituto Psiquiátrico Ruben – As chances de ser um adulto pa-
2009 e 2010, 91% já voltaram a responder Secretaria Especial de Direitos Humanos da Forense (IPF) ra o resto da vida com problemas criminais
por suspeita de crimes. Passaram por pri- Presidência da República, a gaúcha Maria a pessoas que são altíssimas.A não ser que haja supervisão.
sões 117 deles, dos quais 72 estão presos. do Rosário admite que o sistema de resso-
Sete foram assassinados. Dos que foram cialização não funciona no Brasil. E prome-
cometeram crimes ZH – Essa supervisão envolve o quê?
mortos, seis respondiam a procedimentos te medidas concretas, como o lançamento, por terem distúrbio Ruben – Acompanhamento. A questão
policiais, sendo que um tinha condenação até junho, de um plano nacional para o mental,o psiquiatra mais importante nesse aspecto é a prevenção
por roubo. Do total de 167 ex-internos, ape- atendimento socioeducativo. Ruben de Souza Menezes,46 anos, precoce, investir em educação precoce, evi-
nas 10 não voltaram a ter ocorrência ou in- A ministra aposta que com esse sistema avalia que tratar e acompanhar autores tar que o cérebro dessas crianças evolua no
quérito policial. nacional fará funcionar uma engrenagem de delitos é a única saída para reduzir o sentido das patologias morais. Não adianta,
Zero Hora fez o novo levantamento de- prevista em lei há mais de 20 anos e que risco de reincidências.Abaixo,trechos da depois que cometerem três, quatro, cinco, 20
pois de publicar a série de reportagens nunca se concretizou. crimes,para cometer o 25,30 é muito fácil.
Meninos Condenados, na qual revelou o Os dados em relação aos egressos de entrevista:
destino de 162 adolescentes infratores que 2009 e 2010 da CSE não surpreendem a ZH – Qual seria a solução?
estavam internados também na CSE, há 10 procuradora Maria Regina Fay de Azambu- Zero Hora – O que pode ter faltado pa- Ruben – Determinados problemas ce-
anos (veja dados abaixo). ja, coordenadora do Centro de Apoio à In- ra esse grupo de ex-internos da Fase,cuja rebrais e mentais têm de ser tratados bem
Quem atua na área da Infância e da Ju- fância e à Juventude do Ministério Público: maioria voltou a cometer delitos? cedo, antes que a pessoa desenvolva certos
ventude enumera melhorias ocorridas nes- – Só confirma a inadequação de um sis- Ruben de Souza Menezes – Um acom- comportamentos. É certo que esses adoles-
ta década no atendimento a infratores, mas tema que foi previsto há 20 anos. Tem de panhamento adequado na pós-internação. centes receberam algum tipo de atenção na
os dados de 2009 e 2010 mostram que,pelo ser uma proposta para 24 horas na vida Há um hiato. Sai da Fase e cai na vida co- Fase,é óbvio que a Fase tentou fazer algo por
menos para a população da Comunidade daquele menino. Numa visita, encontramos mo adulto jovem sem uma supervisão, sem eles, mas essas pessoas têm características
Socioeducativa, casa de perfil mais agra- cubículos com duas camas e ocupados por apoio para uma pessoa de risco. Um dos pessoais que fizeram com que seguissem
vado da Fase, o índice de recuperação se cinco adolescentes. Eles recebem comida maiores fatores de risco para a violência é cometendo crimes.Depois que a pessoa está
mantém muito aquém do esperado. naquele local. Isso tudo ajuda a incorporar a existência de um episódio anterior. Uma com 20 anos e cometeu dois,três homicídios,
– Isso mostra que cada gestão chega di- a condição de preso. pessoa que comete um crime uma vez tem não tem recuperação.
zendo que vai mudar tudo e o novo nunca chance maior de cometer uma segunda vez.
acontece. Desde 2002, houve muitos avan- adriana.irion@zerohora.com.br Se a pessoa cometer duas vezes, o risco é ZH – Não tem recuperação?
ços, mas ninguém olhou para o adolescente joseluis.costa@zerohora.com.br muito mais alto. Ruben – Essa pessoa vai ter de ter acom-
panhamento de saúde, processual, moral o
ZH – Essa repetição de delitos é um fa- resto da vida.Deveriam prestar contas para a
tor determinante.O que mais? sociedade,porque são de alto risco.
QUADRO COMPARATIVO Ruben – A idade de início (de cometimen-
to de atos infracionais). O cérebro tem fases ZH – Comportamentos criminosos são
2002 2009 e 2010 de maturação, ele vai evoluindo por etapas. definidos por problemas mentais?
O senso moral vai se formando antes dos 15 Ruben – Pessoas normais não roubam.
Ex-internos 162 167 anos. Tem certas situações que se a pessoa
tiver comportamento delituoso antes dos 15
O que vai definir determinadas situações de
criminalidade e alterações de conduta não
Tiveram ocorrências, inquéritos, 149 152 anos, a chance de se tornar um psicopata,
um adulto antissocial, é muito alta. E uma
é só se a pessoa tem um problema em seu
cérebro. É em que grau ela se dispõe a tratar
TCs, prisões ou condenações
vez antissocial,antissocial para a vida inteira. esse problema.A atitude da pessoa diante de
Presos atualmente 55 72 Não existe cura. si mesma é que faz a diferença.
Mortos 48 7 ZH – Não?
Ruben – Ao contrário de qualquer teoria,
ZH – É possível recuperar sem tratar?
Ruben – Não.Tem que tratar e monitorar.
Sem procedimentos policiais 2 10 não existe cura. É como o alcoolismo. Mas
uma coisa é tu ter uma tendência ao alcoo- ZH – Prender resolve?
lismo,outra coisa é beber.Não é porque uma Ruben – Está provado que a medida de
pessoa tem uma tendência a mentir, a pegar simplesmente encarcerar é o fim do mundo.
as coisas, que vai ser um criminoso. Mesmo A privação serve para salvar a vida de cer-
a pessoa com transtorno antissocial, não tas vítimas. Se um homem está ameaçando
precisa ser bandido, mas precisa de um mo- uma mulher, ele tem de ser preso. Mas não
DIEGO VARA, BD
De assaltantes a
JEAN SCHWARZ
especialistas
em mecânica e
computadores
Há três anos, a realidade de Rodrigo era
roubar carros e desmanchá-los em oficinas
clandestinas na Lomba do Pinheiro, em
Porto Alegre. Por conta disso, foi pego três
vezes, uma delas com duas espingardas, e
recolhido a uma unidade da Fase.Depois de
um ano,percebeu que era hora de mudar de
vida e desenvolver de outro modo seu dom
para lidar com motores.Ao mesmo tempo,
ganhou uma vaga de estagiário no Tribu-
nal Regional Federal. De adolescente indis-
ciplinado sem hora para acordar, ele agora
Jovens madruga todos os dias às 5h45min para as
como aulas do curso de mecânica na Fundação O
Rodrigo e Pão dos Pobres. À tarde, é assistente de câ-
Gian Carlo mera do setor de TV do Tribuna Regional
retomam
vida tendo Federal e, à noite, cursa a 8ª Série do Ensino
aulas de Fundamental.
mecânica – Quero seguir estudando, abrir uma ofi-
cina,ganhar dinheiro e pagar a faculdade de
Direito – afirma.
Ele já passa ensinamentos para um jo-
Um programa para Cada jovem egresso custa vem de 19 anos,Gian Carlo,que está inician-
ao Estado em torno de do o terceiro curso profissionalizante.Depois
de quase dois anos na Fase, por conta de
R$ 1,5 mil assaltos, tentativa de homicídio e tráfico de
devolver a esperança
mensais. Na Fase, o gasto drogas no bairro Sarandi,o jovem aprendeu
com um interno beira a mexer com computador e, em especial, as
R$ 9 mil tarefas de garçom que garantiram emprego.
– Tinha dinheiro fácil na mão, mas não
tinha o que eu mais queria, o apoio da fa-
mília.Agora, ouço tudo que minha mãe fala
Nem tudo está perdido. Em meio a ater- objetivo, segundo estatística da Fase (veja – É uma vitória quando eles chegam – conta o rapaz,que não conheceu o pai.
radora massa de jovens infratores que mer- quadro abaixo). O percentual pode parecer aqui. São super-heróis, pois é muito Tiago, um jovem, de 20 anos, aprendeu a
gulha no abismo do crime, uma pequena baixo, mas é elevadíssimo se comparado ao sofrido lutar contra aquela realidade consertar computadores e se aperfeiçoou no
parcela alça voo para a liberdade como ho- destino dos 162 infratores que estiveram – afirma. ofício.Apaixonado por teclados e monitores,
mens de bem. em uma das casas da extinta Febem, em O secretário Fabiano afirma que uma o garoto rebelde do Morro Santa Tereza, na
Essa improvável inversão de rumo ocor- 2002, conforme retratado por Zero Hora de suas metas é propiciar a mesma Capital, ex-gerente de boca de fumo e assal-
re pela mão amiga de uma iniciativa do – mais de 80% deles foram presos por en- chance a todos os internos. A primeira tante,não desperdiçou a chance de mudar a
Estado, em prática há quase três anos, que volvimento em crimes como adultos. medida é ampliar as vagas, mesmo não história após dois anos e meio na Fase.
representa um sopro de esperança para – Os números do programa são fantás- ocorrendo déficit. Para este ano, a ideia – Vi que aquilo não era futuro para mim.
adolescentes que passam pela Fundação de ticos, extremamente exitosos. Se salvasse é aumentar o número de instituições de A qualquer hora a casa ia cair. Para quem
Atendimento Socioeducativo (Fase). uma vida já poderia ser considerado po- atendimento conveniadas, com a chega- entra no crime, o caminho é o“3C”: cadeira
O programa visa a reintegrar os jovens sitivo – avalia o secretário da Justiça e dos da do programa a mais duas cidades, Pe- de roda,cadeia ou caixão – diz.
à comunidade, incentivar o estudo e pro- Direitos Humanos,Fabiano Pereira. lotas e Uruguaiana. Depois de dois cursos de manutenção,ele
piciar o ingresso no mercado de trabalho. Claudio Luiz Gonçalves, coordenador do – O programa mostra o outro lado da ganhou a confiança e a oportunidade de es-
Cerca de 540 infratores – mais da meta- programa na Fundação O Pão dos Pobres, vida que a gente não conhece – diz o ex- tagiar na mesma instituição.Concluiu o En-
de do atual número de internos da Fase lembra dos desafios de adaptação dos jovens interno da Fase Alessandro, 18 anos, que sino Médio e,em agosto de 2010,foi efetiva-
– já passaram pelo programa, cuja adesão quando deixam a Fase e voltam a conviver em fez curso de garçom e trabalha em um do como funcionário com carteira assinada
é voluntária. Um em cada três alcançou o ambientes,não raro,de conflitos e drogadição. restaurante no Litoral Norte. da Fundação O Pão dos Pobres.
NOTAS
Família é feita
refém em Marau
ENTREVISTA Maria do Rosário, ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos Uma família foi feita refém duran-
te um assalto na madrugada de on-
JEAN SCHWARZ
tem,em Marau,no norte do Estado.
Três homens armados invadiram a
“As Fases e
residência de um empresário na lo-
calidade Colônia Gobbi, interior do
município.Eles anunciaram o assal-
to e ameaçaram o proprietário da
Febens do Brasil
casa, a mulher e filhos dele com re-
vólveres durante uma hora. Depois
de recolher joias, dinheiro e armas
da casa, no valor aproximado de
são um inferno”
R$ 25 mil, os homens fugiram. Nin-
guém foi ferido.A Polícia Civil tenta
identificar os assaltantes.
Homem é morto
a facadas em NH
Um homem foi morto a facadas
ontem em Novo Hamburgo,no Va-
le do Sinos. Ederson Alexandro Pio,
36 anos, foi morto com sete golpes
de faca por volta das 6h, quando ia
para casa. O crime ocorreu na Rua
Boston, no bairro Santo Afonso. A
ADRIANA IRION Maria do Rosário – Sim, conheci. O uso de instituições tem de ser radicalmente modificada. polícia ainda não tem suspeitos de
medicamentos para contenção química, prescri- cometer o crime.
A ministra Maria do Rosário,45 anos, tos como “se necessário”, o que na verdade é o ZH – Como se faz isso?
tem uma meta para fazer funcionar um uso de droga para contenção, pode ser conside- Maria do Rosário – Abrindo janelas para a Assassinado a tiros
sistema criado em lei e badalado por rado tortura. sociedade e levando a sociedade para dentro das em São Leopoldo
instituições. Quero que as pessoas se importem
especialistas há mais de 20 anos,mas que ZH – E vai acabar? com esse jovens.Sem fiscalização pública,as coi- Um homem ainda não identifi-
não se concretizou:o de recuperação de Maria do Rosário – É uma das nossas metas. sas não andam.Enquanto a instituição for fecha- cado foi morto a tiros na manhã de
jovens infratores.Em junho,a ministra da Temos que ter o sistema de saúde fiscalizando. da em si própria, não vamos mudar o perfil de- ontem em São Leopoldo, no Vale
Secretaria Especial de Direitos Humanos da Me admira haver médicos que utilizam ainda las.Monitoramento constante do que ocorre com do Sinos. A vítima foi encontrada
Presidência da República quer lançar um desse expediente. Me lembro disso da época co- prestação de contas da recuperação dos jovens. por volta das 7h30min na Rua Tho-
plano que direcione a ação dos governos mo deputada, lembro de receitas previamente Depois dessa matéria que vocês fizeram pode mas Edison, no bairro Vicentina.
prescritas com o“se necessário”.A continuidade ser que muitos esqueçam, e daqui um ano vocês Aparentando entre 25 e 30 anos, o
estaduais.A União vai dar recursos e
disso revela que falta fiscalização. Não acredito voltem a me perguntar. Esses jovens não podem homem não tinha nenhum docu-
fiscalizar a execução de um trabalho em que que o MP ou o Judiciário concordem com isso. ser só questão de governo. O Estado falhou, mas mento e foi morto com tiros na ca-
ações de educação,saúde e assistência social a sociedade também. beça e no braço esquerdo.
terão de ser inseparáveis.A partir disso,a ZH – O Judiciário e o Ministério Público
gaúcha Maria do Rosário quer ver melhora afirmam ter expedientes relacionados a isso. ZH – Como se reverte essa falha do Estado? Herbicidas são
nos índices de recuperação.Abaixo trechos Maria do Rosário – Mas então tem que mu- Maria do Rosário – Com medida preventiva. apreendidos
da entrevista a Zero Hora: dar, porque quem pratica uma coisas dessas está As Fases e Febens do Brasil ainda são um infer-
praticando um crime.É muito grave. no e é muito bom que os jovens não cheguem lá Um total de 3,8 mil envelopes de
dentro. Mas temos de mudar essas instituições. 10 gramas do agrotóxico Herbex, de
adriana.irion@zerohora.com.br ZH – O perfil do infrator mudou. Reduziu Para esse inferno ter fim, precisamos abrir as venda proibida no Brasil,foram apre-
a participação em roubos e aumentou no trá- portas e janelas envolvendo família, sociedade e endidos durante ação entre agentes
fico. O sistema que trata da recuperação não poder público. da Delegacia da Receita Federal de
Zero Hora – A senhora disse que o sistema devia se modernizar? Santa Maria e da Polícia Rodoviária
de recuperação não funciona no Brasil.O que Maria do Rosário – Não produzimos na- ZH – Falando em mudar as instituições, Federal de Rosário do Sul. O auto-
falta para funcionar? da melhor que o ECA (Estatuto da Criança e do uma crítica de juízes aqui no Estado é o ex- móvel, com placa de Maximiliano
Ministra Maria do Rosário – O diagnóstico Adolescente).E o que o estatuto propõe é a possi- cesso de indicações políticas exercendo car- de Almeida,onde estava com a mer-
é de que não temos integração das políticas pú- bilidade de redesenhar projetos de vida.Acredito gos que deviam ser técnicos.Como resolver? cadoria,foi localizado na estrada Ro-
blicas no Brasil para atender os adolescentes em nisso.Mas tenho consciência de que não está sen- Maria do Rosário – Posso citar quatro pes- sário do Sul-Uruguaiana (BR-290),
conflito com a lei.Eles estão depositados nas uni- do aplicado. Não basta ter recurso. Em oito anos, soas que dirigiram a fundação que fizeram a seu em Rosário do Sul, por volta da
dades sem a atenção devida. construímos mais de 60 unidades no Brasil. tempo esforço grande e que não estavam lá para 0h45min de sábado. O agrotóxico,
cumprir meta de governador, mas para cumprir provavelmente,estaria sendo contra-
ZH – O discurso de que a Fase recebe um ZH – Nenhuma no Estado.A última unida- a lei: Maria Josefina Becker,Ana Paula Motta Cos- bandeado do Uruguai.
adolescente para o qual o Estado já falhou de construída foi em 2002. ta, Carmen de Oliveira e Joelza Mesquita (atual).
antes é comum. Quando Estado deixará de Maria do Rosário – Várias no Rio Grande do Todas vieram de carreiras sólidas, doutoras ou Granada explode em
culpar o Estado e começar a agir? Sul encontraram dificuldade de ser construída pós-doutoras e com trabalhos acadêmicos e prá- baile funk no Rio
Maria do Rosário – Não cabe a transferência porque as comunidades não aceitam. Mas tive- ticos importantes.Não vejo esse problema no Rio
de responsabilidade.A reportagem de ZH indica mos reformas. O Estado recebeu em oito anos Grande do Sul.Acredito que é preciso ter media- Uma pessoa morreu e ao menos
que estamos perdendo vidas.Temos urgência. R$ 13,3 milhões, sendo que R$ 8,8 milhões para ção.Se defendo que a instituição seja mais aberta, quatro ficaram feridas na madru-
obras (conforme a Fase, o custo para construção defendo também que essa participação de pes- gada de ontem após uma granada
ZH – Qual a medida urgente? de uma unidade é em torno de R$ 14 milhões). E soas que não são da instituição é melhor do que explodir dentro de um baile funk
Maria do Rosário – Com a criação do Siste- no Brasil investimos R$ 205 milhões. somente a lógica do corporativo. numa favela conhecida como Rodri-
ma Nacional de Atendimento Socioeducativo te- gues Alves, em Imbariê, Duque de
remos a integração das políticas públicas e metas ZH – Isso é muito ou pouco num contexto ZH – A queixa do Judiciário é em relação a Caxias, na Baixada Fluminense (RJ).
para cobrar dos governos estaduais. em que a senhora diz que não adianta o go- diretorias das unidades. Segundo a Polícia Militar, a proce-
verno ser apenas repassador de dinheiro pa- Maria do Rosário – Eu não conheço, mas, se dência do artefato é desconhecida.
ZH – Um problema que tem sido destacado ra obras? existe esse problema, o MP talvez possa propor PMs disseram que socorreram as ví-
aqui é o excesso de medicação aplicada aos Maria do Rosário – Exatamente, não basta de se fazer termo de ajuste com exigências bási- timas que ficaram caídas na rua em
internos, um problema que tem mais de 20 investir em paredes. Nosso desafio primeiro é a cas para que a pessoa possa responder por essa frente ao clube onde ocorria o baile.
anos e que a senhora conheceu quando era cultura dessas instituições.O governo investe em função.Pode ser necessário que tenhamos regras Os feridos foram levados para um
deputada estadual.Por que ainda ocorre? construções e na formação. Mas a cultura das mínimas para dirigentes de casas. hospital do município.
48 Polícia ZERO HORA QUARTA-FEIRA, 1º DE FEVEREIRO DE 2012
NOTAS
Jovem encontrada
morta a tiros
ADRIANA FRANCIOSI
ADRIANA IRION durante a noite. Mariele deixa um
A
bebê de quatro quatro meses.
bertura de concurso para
ampliar o quadro de servido-
res, contratação de psiquia-
Suspeito morto em
tras, investimento em cursos confronto com BM
profissionalizantes e medi- Um suspeito de ter furtado um
das com foco em prevenção. carro foi morto em troca de tiros
Essas são algumas das ações com a Brigada Militar na noite de
que estão sendo executadas ou planejadas segunda-feira, no bairro Bom Je-
pelo governo estadual para reduzir o alto sus, em Porto Alegre.
índice de reincidência da Comunidade So- Por volta das 20h30min, a BM
cioeducativa (CSE), unidade da Fundação recebeu a informação de que um
de Atendimento Socioeducativo (Fase). Fox cinza havia sido furtado jun-
Em janeiro,ZH publicou durante quatro to ao Campus da PUCRS. Alguns
dias a série “Meninos Condenados”, que minutos depois, as viaturas de-
mostrou que a maior parte dos jovens que pararam com o carro ocupado
saíram em 2002, 2009 e 2010 da CSE vol- por dois homens, que atiraram
tou a se envolver em crimes (veja quadro). contra os policiais. Os PMs teriam
Ontem à tarde, na sede da unidade, na Vi- respondido e atingido Maicon
la Cruzeiro do Sul, o secretário da Justiça Pacheco Camargo, 30 anos, que
e dos Direitos Humanos, Fabiano Pereira, conduzia o veículo. Conforme a
ressaltou ter recebido do governador Tarso Polícia Civil, ele era procurado
Genro a missão de mudar a situação dos por roubo de veículos. O carro foi
adolescentes infratores. abandonado, e o outro suspeito
– Vamos fazer isso trabalhando com conseguiu fugir.
prevenção, para evitar que cheguem aqui,
cuidando deles aqui na Fase e dando uma Secretário Fabiano Pereira conheceu
mão amiga depois que eles saírem – disse ontem internos que participam de Quiosque era
Fabiano, dando especial destaque ao pro- cursos na área da construção civil fachada do tráfico
grama que atende egressos. Um quiosque à beira-mar, no
Foi confirmado um concurso, em 2012, balneário Mariluz, em Imbé, ser-
para contratar 200 servidores em 2013 (o
déficit hoje é de 700 funcionários). Para a Obras dependem de financiamento via como fachada para traficante.
Na manhã de ontem, os policiais
questão do excesso de medicação minis- encontraram 1,5 quilo de coca-
trada aos internos, motivo de cobranças O diretor da Comunidade Socioeducati- de um centro de atendimento psicossocial. ína com alto teor de pureza es-
do Poder Judiciário e até da ministra da va (CSE),Alexandre Santana,afirmou que As obras dependem de financiamento a condido na garagem da casa de
Secretaria Especial de Direitos Humanos 100% dos internos estão estudando e que ser liberado pelo Banco Interamericano um homem de 50 anos que seria
da Presidência da República, Maria do a quantidade de cursos de profissionaliza- de Desenvolvimento (BID).Apenas uma proprietário do estabelecimento.
Rosário,o governo prometeu solução com ção tem aumentado,o que deve ter reflexo unidade de internação tem construção De acordo com o delegado Már-
prazo de um ano. em futuros índices de ressocialização. garantida, já que recursos estão liberados cio Moreno, há indícios de que
– Não é a Fase nem o juiz que prescreve O secretário Fabiano Pereira anunciou por meio de convênio com o governo fe- a droga não era vendida apenas
a medicação. Quem prescreve são profis- ainda como meta a construção de quatro deral. Apesar de faltarem em torno de a usuários, mas também serviria
sionais (psiquiatras) com especialização unidades, a instalação de um centro de R$ 5 milhões,o secretário disse que a Case como um local de distribuição.
para fazê-lo. Não sei se existe excesso. profissionalização para os adolescentes e Poa III será erguida ainda nesta gestão. O suspeito, morador do balne-
Imagino serem profissionais sérios – afir- ário Mariluz, já tinha antecedente
mou o secretário. por tráfico.
A presidente da fundação, Joelza Mes-
quita, destacou que a meta é aumentar o QUADRO COMPARATIVO Polícia prende
número de psiquiatras na CSE – hoje, são
três para atender 73 internos – e provi- líder do tráfico
2002 2009 e 2010
denciar que os internos tenham um diag- Considerado um dos principais
nóstico para receber medicação. Segundo
ela,isso deve ocorrer até o final do ano.
Ex-internos 162 167 traficantes de drogas de Eldora-
do do Sul, um homem de 31 anos
Ao apresentar a realidade da Comu-
nidade Socioeducativa – casa de perfil
Tiveram ocorrências, inquéritos, 149 152 foi preso em uma casa no bairro
Cidade Verde.
TCs, prisões ou condenações
mais agravado da Fase –, a presidente da Conforme o delegado Rafael
Fase ressaltou que a unidade representa Presos atualmente 55 72 Soares, havia seis meses que os
apenas 7,7% do total de internos e que policias monitoravam as ações do
os índices de recuperação desta popu- Mortos 48 7 suspeito. Os policiais descobriram
lação não podem ser vistos como uma que o dinheiro do tráfico de dro-
síntese de toda a fundação. Sem procedimentos policiais 2 10 gas serviu para comprar casas e
carros que foram colocados em
adriana.irion@zerohora.com.br nome de terceiros.
44 ZERO HORA SEXTA-FEIRA, 3 DE FEVEREIRO DE 2012
Polícia
I
ria não são doentes? Não há como colo-
ntrigada com a presença car que nossa clientela é doente mental
de 12 internos da Comu- em proporcionalidade maior que a pre-
nidade Socioeducativa conizada pela OMS (Organização Mun-
(CSE) “visivelmente medi- dial de Saúde). Então por que se medica
cados” em uma audiência tanto na Fase? A resposta é simples e
judicial realizada em ja- definida em uma única palavra: ÓCIO.”
neiro, a juíza Vera Deboni, do 3º Juizado No texto, o médico fala de outros
da Vara Regional da Infância e Juventu- problemas, como a “escola fraca” e “au-
de, questionou, por ofício, a direção da sência de conduta uniforme de fun-
casa pertencente à Fase sobre o porquê cionamento institucional com cada ala
da medicação aplicada nos jovens. funcionando de acordo com a chefia
Ofício da Fase foi remetido à Justiça no dia 26, em resposta a um A resposta, assinada pelo psiquiatra daquele turno”.
questionamento da juíza Vera Deboni sobre o excesso de medicação Jose Pedro Godoy Gomes Neto, 58 anos, Em outro trecho, o psiquiatra, que
e por um assistente de direção da uni- trabalha na CSE há nove anos, também
dade, estarreceu a magistrada: “Pelo revela descontentamento com práticas
ÓCIO, é por isto que se medica na Fase”. da instituição.
Por considerar graves as informações Reclama que há uma cultura de que
que constam do documento, a juíza ins- se o jovem “pedalar” (termo usado para
taurou processo para responsabilizar a quando os internos se revoltam e chutam
presidente da fundação, Joelza Mesqui- portas, janelas, grades), ele vai receber
ta, por eventuais irregularidades ou ex- o que deseja. Segundo ele, essa não é
cessos. Joelza disse ontem que pretende uma atitude de boa educação e não se-
demitir o psiquiatra e apurar se o servi- ria aplicada nos lares.“Imaginemos que
dor da CSE leu o ofício antes de assinar: qualquer de nossos filhos, ao ser proi-
– Médico está lá para medicar pe- bido de sair, pedalasse a porta de seu
la doença, não pelo ócio. E não pode quarto, qual seria nossa atitude?”, pon-
medicar porque o monitor pede ou o dera o médico no ofício.
menino pede. Quero acabar com isso. O relato escrito do psiquiatra reforçou
E se o funcionário que assinou leu e as suspeitas da juíza de que há excesso
concordou, é conivente. Não pode con- de medicação na CSE, unidade que reú-
tinuar. ne os jovens de perfil mais agravado da
Conforme a juíza, os infratores enro- Fase.
Psiquiatra critica atividades oferecidas aos internos na lavam a língua ao falar durante a audi- Ela determinou a apuração de even-
Comunidade Socioeducativa (CSE) para justificar os remédios ência na Justiça. tuais irregularidades, já que o médico
No documento de três páginas e afirmou que os internos são medicados
meia, o psiquiatra Gomes Neto tenta por causa do ócio, ou seja, pela falta de
dar uma resposta à exigência que a Jus- atendimento e de atividades determi-
tiça tem feito de que os internos tenham nadas em lei.
diagnóstico para receber a medicação.
O psiquiatra escreveu: adriana.irion@zerohora.com.br
Médico contou que reclamações dos internos sobre a proibição do Por fim, psiquiatra faz uma análise sobre os internos e diz que os
consumo de cigarro dentro da casa serviu para eliminar restrição médicos são vistos apenas como “alguém com o poder de medicar”
ZERO HORA SEXTA-FEIRA, 3 DE FEVEREIRO DE 2012 Polícia 45
A
quando um adolescente deve rece- poderia ser reduzido. O documento cooperativa o afastamento de Gomes sentou, em janeiro, o alto índice de
o definir como “pro- ber o remédio. escrito pelo psiquiatra foi uma res- Neto. Ele não vai mais atender inter- reincidência criminal de jovens que
blema histórico” a – O “se necessário” vai acabar. posta ao 3º juizado da Vara Regional nos da fundação. saíram da Comunidade Socioeduca-
suspeita de que inter- Toda medicação terá de ter indica- da Infância e Juventude, que havia tiva em 2002,2009 e 2010.
nos da Fase recebem ção clínica ou diagnóstico de uma questionado o motivo de adolescen- Cremers apura irregularidade –Vamos verificar como o trabalho
medicação excessiva, a necessidade – disse Tâmara Biolo tes comparecerem a uma audiência nas prescrições médicas dos médicos se insere nesse proces-
Secretaria da Justiça e Soares, diretora de Direitos Huma- “visivelmente medicados.” so de recuperação, cujos números
dos Direitos Humanos (SJDH) pro- nos da SJDH. Em reunião ontem com a coope- O Conselho Regional de Medicina são decepcionantes de maneira ge-
meteu ontem uma solução imediata. A promessa ocorreu no dia em rativa Mais Saúde, terceirizada que (Cremers) abriu expediente prelimi- ral. Também não vamos descuidar
Até o fim do mês, será implan- que ZH publicou um ofício assina- presta serviço de psiquiatria, a Fase nar para verificar se há irregularida- da questão específica do psiquiatra
tado um plano de atendimento do pelo psiquiatra Jose Pedro Godoy acertou a contratação de mais qua- des na prescrição de medicamentos (Gomes Neto), que será chamado a
psiquiátrico uniforme em todas as Gomes Neto em que ele afirmava tro psiquiatras em fevereiro. Com na instituição. O presidente do Cre- depor, assim como outras pessoas
unidades de internação. A medida que a “Fase medica pelo ÓCIO”. Há isso, até o final do mês, a CSE terá mers, o psiquiatra Rogério Wolf de que têm falado sobre o assunto – ex-
deve eliminar distorções como o“se nove anos atuando na Comunidade um psiquiatra em cada uma das Aguiar,disse que a entidade já vinha plicou Aguiar.
necessário”, termo registrado por Socioeducativa (CSE), Gomes Neto cinco alas. Atualmente, a Fase tem acompanhando com preocupação
psiquiatras em receituários e que disse que, se os internos tivessem 19 psiquiatras para atender 942 ado- os dados revelados pela série“Meni- adriano.irion@zerohora.com.br
Obituário
REPRODUÇÕES
federal e estilista, Natural de Porto Alegre, tinha for- parte de um documentário, ainda em Pioneira negra
Marisa gostava mação em Música – Teoria e Solfejo, fase de edição,sobre a Parada Livre. na ópera, a so-
mesmo de dizer mas não chegou a dar muitas aulas. Marisa morreu em 20 de janeiro, prano americana
que era costureira Paralelamente à atuação na Eletro- no Hospital Santa Rita da Santa Casa, Camilla Willia-
Por Marisa Figueiró Böer, muitas e defensora dos sul, trabalhou como estilista e ajudou vítima de parada respiratória decor- ms morreu no
bandeiras do arco-íris foram costura- direitos humanos. mães como ela a compreenderem a rente de uma síndrome de compres- domingo passa-
das, e vários figurinos de teatro foram Com orgulho, con- sexualidade de seus filhos. Uma das são da veia cava superior, que teve do, no Estado de
confeccionados. Embora fosse profes- tava que era mãe coordenadoras do grupo de familia- origem em um câncer de mama, em Indiana. Aos 92
sora de música, funcionária pública de um gay,o jornalista Alexandre Böer. res LGBT do Somos, da Capital, ela fez 1999.Viúva,ela deixa o único filho. anos,a cantora sofria de câncer.
Camilla foi a primeira negra a ser
contratada por uma grande compa-
PARTICIPAÇÃO DE FALECIMENTO E CONVITE PARA MISSA CONVITE PARA MISSAS DE 7º DIA nhia de americana. Ela estreou na
Herta, Epitácio, Myrta, Martha e Carmem, filhos, netos e bisnetos da Os filhos, netos e bisnetos da amada e inesquecível
New York City Opera em 1946, inter-
muito querida
Delmira Lygia Sivelli Marder pretando o papel-título da ópera Ma-
PARTICIPAÇÃO DE FALECIMENTO
E CONVITE PARA MISSA DE 7º DIA
Com muita emoção, tristeza e consternação Regina,
Franklin, Eurico, cunhadas e sobrinhos participam o
falecimento da sua querida irmã
Silvia Helena de
Castro Faria
ocorrido no dia 29/1/12 e convidam para a missa de 7º
dia a realizar-se no dia 4/2/12, às 16 horas, na Igreja São
Sebastião, bairro Petrópolis.
Antecipam agradecimentos.
ZERO HORA TERÇA-FEIRA, 7 DE FEVEREIRO DE 2012 Polícia 39
S
Mesquita) diz que 90% dos adoles- o Conselho Regional de Medicina atitude precipitada, pois o Conselho
uspeitas de irregulari- centes são dependentes de drogas, (Cremers) – órgão que recebeu o precisa sustentar suas medidas,justi-
dades no atendimento então eles têm direito a tratamento. pedido – decida se vai acatar ou não. ficar atitudes – explicou Aguiar.
psiquiátrico na Fun- Temos 200 leitos ociosos no Hos- Na semana passada, a partir de re- O Conselho pretende fazer uma PAULO DE ARGOLLO
dação de Atendimento pital Espírita. Hoje, os adolescentes portagens publicadas por Zero Hora fiscalização oficial na Fase até sex- MENDES,
Socioeducativo (Fase) são obrigados a ficar em reclusão sobre suspeitas de que medicação es- ta-feira.A Comissão de Cidadania e presidente do Simers
motivaram ontem nova solitária e em condições inadequa- tá sendo aplicada de forma excessiva Direitos Humanos da Assembleia Le-
manifestação de uma
entidade médica.
O Sindicato Médico do Rio
Grande do Sul (Simers) pediu a
das de lazer e de esporte.
O secretário da Justiça e dos Di-
reitos Humanos, Fabiano Pereira,
disse que a medida é um direito do
a internos, o Cremers abriu procedi-
mento para apurar as circunstâncias
do atendimento médico na fundação.
Na tarde de ontem, durante qua-
gislativa também definirá,na quarta-
feira, uma medida para acompanhar
a situação da fundação.
– Já conversei com alguns deputa-
‘‘
Depende exclusivamente
de ato de vontade do
interdição ética da Fase, ou seja, a Simers: se duas horas, o presidente do Cre- dos sobre a visita que devemos fazer governador acabar com
proibição de que médicos prestem – Nós vamos continuar trabalhan- mers, Rogério Wolf de Aguiar, esteve lá e vamos discutir se criaremos uma a tortura que se realiza
atendimento na fundação porque do. Temos absoluta confiança nos reunido com a presidente da Fase, subcomissão ou a própria comissão
dentro da Fase
os internos estariam submetidos a servidores da Fase, nos profissionais Joelza Mesquita, e com representan- fará esse acompanhamento – disse o
“condições desumanas”. da área de saúde e acreditamos na tes dos psiquiatras que atendem na deputado Miki Breier, presidente da
O presidente do Simers, Paulo de recuperação dos adolescentes. fundação. comissão.
Argollo Mendes, foi contundente ao A medida anunciada pelo Simers, – Nós vamos seguir o nosso proto-
cobrar ações imediatas do governo: no entanto, não tem nenhum efeito colo.Estamos coletando depoimentos adriana.irion@zerohora.com.br