B OTO CO R DE ROSA

E u nas c i e c re s c i no e st ad o d a
A m az ô nia, b e m no m e io d a f lo re st a
am az ô nic a

Te mo s no sso pr ópr io folclore es pecífico aq ui , O boto é um boto ros a q ue vi ve nas

re lac i o nad o aos deus es e divindades da águas es c uras d o r i o amazonas .
flo re st a. um animal no centro de uma lend a
lo c al é o boto cor -de-ros a.

Minha avó costumava dizer a mim e minha irm ã:

o boto pode se transformar em um

homem humano, todo vestido de branco
e usando um chapéu para cobrir o
orifício de respiração no topo de sua
cabeça.

c omo homem, s ed uz as mul heres

e as engravi d a! ent ão, antes q ue
o s ol s ai a, el e d es aparec e d e
volt a no r i o.
 "Por isso, quando um desconhecido
chega a uma fest a de chapéu, costu-
ma-se pedir para tirar, para garantir que t ambém é costume
ele não é um boto" chamar filhos de paterni-
dade desconhecida de
"filhos do boto"

ei estranho, cadê
suas maneiras?

tire o chapéu e apre-

sente-se!

Quando eu era criança, essa história

parecia bast ante inofensiva. morei na
capit al amazonense, bem longe dos
grandes rios e das histórias que os
cercam.

provavelmente é apenas
um conto de adver tência
para evit ar que as meni-
nas se apaixonem por
estranhos.

mas quando entrei na faculdade de direito,

Fiquei chocado com o que eu cresci
um professor nos contou sobre o lado
pensando ser uma história caprichosa
mais sombrio da lenda.
sobre um animal fofo amarrado a um
aspecto tão violento da cultura brasileira.

essa h i stór i a é
fre qü e nte me nte
u sa da pa ra
e n c obr i r o
a bu so sexu a l e esperar. que?
o i n c e sto e m
pe qu e n a s
c i da de s à s
ma rg e n s do r i o ,
lon g e da c a pit al
e do a lc a n c e da
le i .
Fiquei sabendo que as primeiras menções ao boto dat am do final do século 18, quando
os europeus se inst alaram na região após um violento processo de colonização.

G u e r ra d e
m an aó s ,
1 72 3 - 1 72 8

Se gu n do andrio lli p o r i s s o o b oto é

cost a, j o rnalist a e s e m p re d e s c r ito c o m o
pe squ is ado r do u m h o m e m b ran co .

fol cl ore brasileiro , a

h i stóri a fo i um aler t a
contra o s colo niza-
dore s q ue vieram,
exp l oraram a terra e
se u povo , e fo ram
e m bora deixand o ,
m u it as vezes, f ilho s
pró prio s .
" fo l k o u fake ? b oto
n ar i g u d o " ( ab r i l d e 2 01 9 )

da é poc a c ol o n i a l at é m ea d o s d o s écul o 19 , a s
e str utu ra s jurí d i cas b ra s i l ei ras fo ra m extre ma -
me nte patr i a rcai s . a s m u l heres ti nha m po uca
ou n e n h u m a auto no m i a - ti nha m o p ç õ e s
mu ito li mit a d as d e tra b a l ho e era m p ro ibida s
d e freq u ent a r a es co l a .
 Hoj e em dia, muito s as pecto s des s a c u ltu ra m u da ra m , m a s a s o c i eda de
ai n da é profundamente patria rc a l. o m ito do b oto fo i a da pt a do p a ra s e
e n cai xar ness e contexto.

n a mi n h a c i da d e, fo i d ito p a ra refo rçar
ce r tos c ompor t am ento s . " Não and e
s oz i n h o à n oite" , es s e ti p o d e co i s a.
E u o d e i o q u e as p e s s o as d i gam i s s o p ara a s
c r i an ças c o m o s e fo s s e u m a e s p é ci e d e
c o nto d e fad as , q u an d o n a ve rd ad e e n s i n a
às m e n i n as o m e d o e a o b e d i ê n ci a. E m
c i d ad e s m e n o re s , as p e s s o as ai n d a v i ve m de
m an e i ras m u ito s ex i st as .

M u lher de 2 7 an os de Ho m e m d e 2 6
Benjamin Con st ant , an o s d e m an au s,

o a m a zon as é muito g ra nde - tem o do bro do

t a m a n h o do texa s . muit a s á rea s s ã o ba st a nte
i sol a d a s e a l g uma s c ida des s ã o a c es s íveis
a pena s po r ba rc o .

Qu a nto ma i s i s o l ad a a co m u n i d a d e, p o r cau s a d i s s o , n ão é i n c o m u m q u e o ab u s o
ma i or a pre se n ça d a v i o l ênci a, p o i s fi ca s exu al c o m eti d o p o r p are nte s c o ntra m e n i n as
ma i s dif í c i l o a c es s o d as m ul h eres ao s n e s s as c o m u n i d ad e s d i st ante s f i q u e i m p u n e .
se r v i ç os pú bli co s .

Ma r ia A mél ia de a l meida tel es ,

ativist a po l ític a , em " navega r é
prec is o , pa ra a s po l ític a s públ ic a s
c hega rem at é a s mul heres ! "
é co m o s e a v i o l ê n ci a fo s s e u m d i re ito
h e re d it ár i o d o s h o m e n s . E x i ste m c as o s
d e i n c e sto e m q u e o c o r re u m a s itu ação
d e p ai e av ô .

e a história do boto - um estranho que se apaixonava por mulheres e

nunca mais foi encontrado - faz par te dessa cultura. É usado para
absolver esses homens.
 ele é um filho do boto

u m a h istóri a q u e foi ori g i n a lme nte co nc e b i d a p ara p rote g e r as p e s -

so a s d a vi olê n c i a da e ra c ol on i al ai nd a re s s o a na s o ci e d ad e m o d e r na.