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Marca a página 12 AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DOMINGOS SEQUEIRA F Literária (10.

º ano)

Poesia trovadoresca, cantiga de amor (10.º ano)

Lê a cantiga com atenção. Se necessário, consulta as notas.

Quand’eu estou sem mia senhor,


sempre cuido que lhi direi,
quando a vir, o mal que hei
por ela e por seu amor.
5 E poila vi, assi mi avém1
que nunca lh’ouso dizer rem2.

Ca3 hei pavor de lhi pesar,


se lho disser. E que farei?
Se me calar, podê-la-ei
10 veer, enquanto lhi negar4
ca5 a nom vejo com pavor
que lh’haja, nem hei en sabor6.

E mentre7 o negar poder,


algũa vez a ve[e]rei.
15 Pero que val? Ca perder-m’-ei
pois8, se m’ela bem nom fezer.
E nom sei en9 qual escolher,
de me calar ou lho dizer.

Se lho disser e me mandar


20 que a nom veja, morrerei!
E se lho nom dig’, haverei
gram coita já, mentre durar!
Ante que em coita viver
sempre, direi-lho por morrer!

João Somares Somesso,


in https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=98&pv=sim
(consultado a 29/12/ 2022)

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Notas
1 6
avém (aviir) – advir, suceder, acontecer. nem hei en sabor – ou tenho prazer nisso (em vê-la), ou seja, enquanto
2
rem (em frases negativas) – nada. lhe esconder também isto.
3 7
Ca – pois, porque. mentre – enquanto.
4 8
negar – esconder. pois – depois.
5 9
ca – que. en – disso, disto (das duas hipóteses).
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1. Atenta nos versos 1 a 4. Refere a aspiração que o sujeito poético apresenta em relação à sua “senhor”.

1.1. Clarifica o motivo que o impede de concretizar o que deseja, considerando os versos 5 a 8.

2. Interpreta o efeito de sentido da interrogação “E que farei?” (verso 8), considerando o contexto em que surge.

3. Na terceira estrofe, o “eu” avalia a pertinência das suas ações em relação à sua “senhor”. Justifica esta
afirmação, fundamentando a tua resposta com um aspeto textual pertinente.

4. Relaciona o sentido dos versos 23 e 24 com as orações subordinadas condicionais da última cobla.

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5. Seleciona a opção adequada para completares a afirmação seguinte.

Uma das características temáticas que justificam a inclusão do poema transcrito no género das cantigas de
amor é a , que, na última estrofe, é acentuada pela pontuação expressiva. A nível formal, trata-
-se de uma cantiga de .

(A) hiperbolização da beleza da “senhor” … refrão

(B) coita de amor … mestria

(C) veneração da “senhor” … refrão

(D) indiferença do sujeito poético … mestria


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Soluções

10.º ano

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Ficha 2 – Poesia trovadoresca, cantiga de amor


1. O sujeito poético desejaria confessar à sua “senhor” o quanto sofre por ela e pelo seu amor, mas apenas pensa nisso quando não
está com ela.

1.1. O medo (“pavor”) é o que impede o sujeito poético de concretizar o que deseja em relação à sua amada, confessando que,
sempre que está com ela, não tem a ousadia de dizer o que pensa e sente, para não a desiludir, para não lhe causar “ pesar”
(sofrimento).

2. Perante a incapacidade de confidenciar à sua amada o que sente por ela, a interrogação sublinha a dúvida e a inquietação do
sujeito poético, uma vez que, caso se cale (“Se me calar”), poderá continuar a vê-la, escondendo-lhe o prazer que tem com isso.

3. O sujeito poético avalia a pertinência das suas ações, visível na interrogação (“Pero que val?”). De facto, dominado pela dúvida,
que o perturba, questiona-se se valerá a pena ou não confessar o que sente, concluindo que, se persistir nesta ação, irá desesperar.

4. Os versos finais concluem o sentido do poema, porque apresentam a decisão final do “eu” em relação às dúvidas que surgem ao
longo da composição poética e que as orações subordinadas condicionais da última cobla recuperam: independentemente de falar
(“Se lho disser”) ou de calar (“se lho nom dig”), ele sofrerá. Por isso, decide que o melhor será falar “por morrer”.

5. (B)

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