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CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO

Alex Rodrigues da Silva - 21203952

Exposição PretaAtitude

Trabalho do curso apresentado


como requisito parcial para
obtenção do título em Museologia,
Colecionismo e Curadoria.

São Paulo
2022
EXPOSIÇÃO PRETAATITUDE
TEXTO CRÍTICO

MATÉRIA: Crítico de Arte: História e novas proposições contemporâneas


PROFESSORA: Sandra Tucci

PODE UM CORPO ORIENTAR-SE?

Trago minhas inquietações pessoais, a respeito do entendimento do corpo como


lugar, que não é indissociável, das consequências de carregar consigo os
atravessamentos, na contemporaneidade, levando em consideração uma análise
crítica, da exposição PretAtitude: Emergências Insurgência Afirmações que ocorreu
no Sesc Vila Mariana entre Maio e Agosto de 2019 ressaltando a potência da Arte
Afro-brasileira Contemporânea. Danilo Santos de Miranda atual diretor do Sesc São
Paulo expõe um pouco da importância que a exposição tem nos dias atuais e coloca
como é imprescindível as construções poéticas capazes de ressignificar a realidade,
o exercício da vida profissional artística, onde uma bagagem de pré-requisitos
muitas vezes é imposto, e o caminho não se torna igualmente disponíveis a todos,
ou quando a legitimação da obra junto a equipamentos culturais, não são
habilitados, para financiar ou enxergar aquela produção como arte, mas ainda sim,
expõem de um jeito pontual a posição, com a qual, a produção negra se encontra,
muitas vezes, por causa da grande realidade, Danilo cita; ''corresponde a uma
atitude insurgente, desafiadora, de um status Quo que privilegia uns (poucos) em
detrimento de (tantos) outros'' ele justifica que o Sesc ao propor essa exposição,
está ciente do seu papel viabilizador e validador das manifestações artísticas pretas,
em sua multiplicidades.

Ora, devemos nos questionar se existem hoje, estruturas postas em nossa


sociedade, que sujeitam o corpo de forma sutil, pois houve um tempo em que um
corpo específico passou por um período em que ele era sobretudo o ponto mais
atacado, sendo possível imaginar, em meio a esse momento histórico, corpos
fugindo, pois não resistiram aos ataques e violências sobre sua pele e sua
existência; corpos que nunca foram vistos ou tratados com qualquer humanidade.
Se pensarmos a respeito dos últimos anos, é possível notar o resultado de grandes
movimentos negros e resquícios de suas falas na contemporaneidade, que trazem
consigo grandes marcos e significativas contribuições, na área artística. Um
exemplo é o Artista Sidney do Amaral quem tem suas obras expostas nessa
exposição, ele foi pintor, desenhista, escultor e professor da rede pública, veio a
falecer precocemente em 2017, deixando-nos uma de suas falas essenciais para
pensar o corpo preto e a produção preta: “Ser artista acho que já é difícil, ser artista
negro no Brasil é ainda um pouco mais complicado”, afirma Sidney do Amaral
(1973-2017) em entrevista ao site Nobrasil.

Ao observar as obras da exposião o público foi convidado a refletir sobre os


impactos e pontos da escravidão, fazendo dela o ponto de partida para reflexões
acerca do corpo do preto nas condições historicas, e trazendo o corpo, como ponto
focal para uma observação sobre os impactos e empoderamento de um corpo preto,
resgatando quais construções ocorre no âmbito das produções pretas e percebendo
inúmeros atravessamentos que permeiam esses corpos, que estão muitas vezes
para além de um campo de leitura e representação, pois o corpo é matéria orgânica,
e não se pode descartar, o fato dele seguir sendo também, outros aspectos, que
percorre os campos sociais, culturais e artístico, e refletir sobre e como esse corpo
se identifica, dentro de uma sociedade, que apagou/apaga sua existência; ou seja o
raciocínio que trago é necessário, pois para nós, que temos um corpo enlaçado
com inumeras estruturas, entender o corpo como lugar, é mais desafiador, quando
lutamos também, por uma parte da esfera, que permeia o campo das produções
artísticas, feita por corpos pretos.

Tecendo essa exposição temos artistas como Aline Motta, Marcelo D’Salete, Marcio
Mariano, Janaina Barros, Rosana Paulino, Sidney Amaral, Peter Brito entre outros,
que excepcionalmente compõem e contribuem para as inquietações que
possivelmente irão despertar o olhar do público, então considerando alguns pontos
que a exposição expõe, o corpo preto, ainda tem se movimentado mais que
qualquer outro, e seus antecessores, criam, todos dias, novas táticas de
sobrevivência/resistência, uma vez que nos dias atuais, temos presente quilombos
urbanos, escritores, artistas, professores, corpos que usam de seu patrimônio
intelectual, abusam de sua arte, para reivindicar direitos em todas as áreas, com a
finalidade de reintegrar partes mal contadas dessa dita história (escória) e
sobretudo, questionar as estruturas postas, pois quando se recebe toda história que
foi apagada durante anos, o pertencimento e tudo o que rodeia, passa a tomar
novas rédeas e nos propor inclusive nossa percepções do mundo, e com isso toda
uma sociedade que foi moldada, de uma forma predadora, pode se transformar e
transformar outros espaços.

Artistas como Lídia Lisboa nascida em Paraná -1977, expõe em sua obra a ideia de
um corpo poético, que é também político, sensual e martirizado onde pensa sobre e
na perspectiva de produções artísticas, feita por mulheres, realiza-se sensíveis
operações de grande espessura poética, e que denunciam, por exemplo, as
violências que historicamente contra elas é perpetrada, já Janaína Barros nascida
em São Paulo, fala da mulher, guiando nosso olhar, para a questão da memória,
das histórias e dos afetos, da mulher negra, lançando algumas discussões sobre o
corpo específico da mulher negra, e as projeções e expectativas lançadas, sendo
trabalhos de caráter marcadamente emotivos, que não descuidam das soluções
formais apropriadas, com isso outra artista que você também encontra nesse tecido
é Rosana Paulino que se debruça na história pretérita, que em seu trabalho, tem
uma certa afronta ao racismo estrutural do Brasil, levando seu corpo também a
discorrer sobre esse processo sobretudo, doloroso.

A obra que identifica um corpo, que pode ser no primeiro momento qualquer corpo,
é a Obra Açoite de Sidney do Amaral, pois leva até os olhos do observador, uma
imagem nítida que corresponde a um corpo preto, mas antes de tudo, um corpo de
denúncia, um ‘espaço’’ como lugar, lugar de depósito, de anseios, desejos, medos,
emergência, Insurgências, mas anterior a tudo, sempre um lugar de afirmações,
pois o corpo na contemporaneidade, é a própria significação, a matéria que
corresponde antes de tudo, aos estímulos, ora, a arte contemporânea, aciona o
corpo, sem necessariamente convidá-lo, sendo assim, considero que o corpo, nunca
responderia nem ao início, nem ao final do processo, ele vem em caráter do "está",
sendo a própria passagem, o corpo segue sendo, a possibilidade de transitar por
vezes firme e presente. A grande questão é entender qual é o nosso corpo e para
o'que tem sido sua significativa contribuição enquanto um dispositivo de
sensibilização humana e reivindicação do que se quer ser.
Assumir uma posição é mais humano do que se pensa.

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