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Estácio - Disciplina online 03/11/2023, 16:36

Pintura: Investigação de Materiais e Suportes

Aula 10: Técnicas de pintura

Apresentação
Em nossa última aula, o observador da pintura contemporânea entra em cena. A sua participação é efetivada na construção e na
ativação da obra de arte. Analisaremos a falsa morte da pintura na segunda metade do século XX e, em seguida, os seus retornos e as
transformações de suas formas tradicionais na cena artística dos séculos XX ao XXI.

A pintura nas exposições modernas e contemporâneas será o foco desta aula, que traz estudos de caso a Em de enriquecer o
aprendizado.

Objetivo
Compreender as práticas contemporâneas de pintura a partir de exposições;

Reconhecer acervos e coleções de pintura para identiEcação dos gêneros;

Analisar os diversos meios – técnicas, suportes, materiais, instrumentos, informações e pesquisas – presentes no campo do fazer
artístico.

A importância do espaço na pintura


Está preparado para o Em da nossa jornada? Chegamos – trilhando percursos diversos e com inúmeras possibilidades de
abordagens abertas –, ao Em da nossa disciplina sobre pintura, no âmbito das experimentações e dos suportes. Aliás, é
importante destacar a relevância da compreensão técnica de uma prática artística não apenas para a sua instrução sobre
como proceder nessa prática, mas, sobretudo, para que você possa compreender detalhadamente os mais diversos processos
que envolvem a construção das narrativas pictórico-visual, muitas delas de grande relevância histórica e social, capazes de
mobilizar indivíduos, fronteiras, acordos e projetos para que possam ser vistas e apreciadas por todos.

Podemos mencionar, como exemplo disso, o fascínio provocado pela tela Monalisa, de Leonardo da Vinci, que se encontra no
Museu do Louvre, em Paris; as pinturas da Capela Sistina, no Vaticano, e aqui no Brasil, as obras de Tarsila do Amaral,
sobretudo o Abaporu, que foi vendido para o Museu de Arte Latino-Americano, Malba, de Buenos Aires, em 1995.

Comentário

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As pinturas fantásticas e consagradas pela crítica e pela História da Arte são capazes de mover públicos
aos milhares, não só aos seus locais de exposição Exos, como os museus, mas também quando circulam
por exposições temáticas, como foi o caso do recorde de público – mais de 400 mil pessoas – do Museu
de Arte de São Paulo, em 2019, para a exposição Tarsila Popular.

Agora que foram realizadas as considerações iniciais, apresentamos as escolhas que Ezemos para esta nossa última aula. Elas
se referem, especialmente, ao conceito espaço, considerado aqui estruturante para a conclusão que se pretende com esta
disciplina. Partimos, portanto, do entendimento de que compreender o conceito de espaço na pintura irá nos ajudar na
compreensão do espaço pictórico na contemporaneidade – experimentações, suportes e materiais –, especialmente entre o
moderno e o contemporâneo, e o espaço físico, ou seja, nos lugares em que se encontram as pinturas – instituições culturais,
museus, galerias – bem como na sua circulação, por meio de exposições e do mercado de arte.

Dentro de algumas questões levantadas por Giulio Carlo


Argan em seus textos um dado sempre me chamou a
atenção e, posso dizer, marcou toda a minha carreira como
crítico e historiador da arte. Refiro-me ao que ele escreveu
sobre as figuras do historiador e do crítico de arte reunidos
em um só profissional. Segundo o autor:
‘aquilo que determina e justifica nossa interpretação da arte
do passado é a situação da nossa cultura e especialmente,
como é fácil entender, nossa cultura artística, não é possível
entender a arte do passado se não se entende a arte do
próprio tempo.’
Para o autor, os estudos sobre a arte do passado estão
condicionados pela nossa compreensão da arte do presente.
Ou seja: o interesse por um determinado tipo de arte é
determinado historicamente. É uma questão ditada pelo
presente.
CHIARELLI, 2005, p. 149

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Vamos então analisar casos exemplares de pinturas modernas e contemporâneas e de exposição, buscando compreender o
conceito de espaço e, ainda, analisando como essas produções nos ajudam a conhecer a própria história e crítica da arte
brasileira. Entre as pinturas, selecionamos oito obras, apenas de artistas mulheres e de duas exposições. Esta será nossa
abordagem para análise dos casos selecionados, apresentados a seguir: Começaremos pelas obras selecionadas de forma
que sejam consideradas duas obras por décadas, ou seja, duas obras dos anos de 1930-40, duas obras dos anos 1950-60,
duas obras dos anos 1970-80 e duas obras dos anos 1990-2000. Nesse recorte temporal, veremos a produção pictórica do
período entre o moderno e o contemporâneo no Brasil, realizada por mulheres brasileiras ou naturalizadas.

Mulheres pintoras: anos de 1930 e 1940


A primeira pintora selecionada para a década de 1930 e 1940 é Tarsila de Amaral. Nascida em 1886, na cidade de Capivari, no
interior do estado de São Paulo, Tarsila é considerada um dos grandes nomes do movimento modernista das artes plásticas,
ao lado de outra pintora também de grande relevância: Anita Malfatti.

Sua obra mais conhecida em termos de imagem que se popularizou – vide que temos inúmeros produtos de suvenir
representando a cultura brasileira com essa pintura, diversas reproduções em livros etc. – foi o Abaporu, que inaugurou o
movimento chamado de Antropofágico, em 1928. Embora nascida ainda no século XIX, Tarsila Ecou conhecida artisticamente
pela sua produção dos anos 1930 e 1940 e dos anos posteriores até o Enal de sua vida, em 1973.

Suas pinturas retratam a sua vida cultural na cidade de São Paulo, as suas
viagens para estudos ao exterior, como as realizadas para França, Espanha,
União Soviética e outros. A pintura Costureiras (Figura 1), iniciada em 1936,
foi selecionada aqui para a compreensão do conceito que estamos
investigando nesta aula – o espaço – como forma e conteúdo da obra
propriamente dita. A partir dessa obra feita com óleo, por meio do suporte
tela, uma técnica conhecida e tradicional, podemos observar que Tarsila
aborda assuntos do cotidiano das mulheres em seu repertório temático.

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 Costureiras, Tarsila do Amaral, 1936-1950 (óleo sobre tela). | Fonte: Tarsila do Amaral

Do ponto de vista das cores e da composição, vemos que a artista utiliza


todo o espaço da tela para representar uma cena de trabalho característica
de um universo feminino da época, por meio de uma visão de dentro, ou
seja, a cena retratada não está ao fundo ou é vista pela perspectiva de
modelos, mas ao contrário: A maneira como a artista se apropria do espaço
para retratar a cena faz com que seja possível, para nós, imaginar estar
nesse lugar também. Há uma palheta de cores variadas, que se sobressaem
ou dialogam umas com as outras em decorrência da necessidade de criação
de uma escala de profundidade na obra, que apresenta uma cena no interior
de um ambiente.

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 Costureiras, Tarsila do Amaral, 1936-1950 (óleo sobre tela). | Fonte: Tarsila do Amaral

Na segunda Egura, ainda sobre a mesma obra, inserimos algumas marcações para que você entenda a composição e o uso do
espaço do suporte para a criação pictórica da Tarsila. A partir das linhas vermelhas, vemos que há um equilíbrio e uma
proporcionalidade criada na cena, ou seja, a mesa e a máquina de costura criam uma linha horizontal para compreensão da
ação da costura nesse espaço.

As linhas pontilhadas em amarelo, na diagonal, ajudam-nos a compreender como todas essas mulheres estão envolvidas na
cena, ou seja, os olhares, a postura, a ação convergem para o fazer costura. Reforçando essa ideia, os círculos azuis
pontilhados auxiliam-nos na compreensão do equilíbrio entre as partes que também se relacionam entre si.

Em termos sucintos, podemos concluir que, nessa obra, a pintora


apresenta uma cena do cotidiano, marcada por questões sociais – um
importante indicador do papel e do espaço da arte e da pintura
naquele contexto – e, apesar de não construir uma cena com requinte
de detalhes figurativos, é nitidamente perfectível em todos os
elementos contidos nessa cena/espaço.

Nosso segundo caso será uma obra da pintora Anita Malfatti, que, ao lado de Tarsila, ocupou importantes páginas dos livros de
História da Arte brasileira, especialmente aquelas dedicadas ao Modernismo no Brasil. Nascida em São Paulo, em 1889, Anita
também realizou estudos no exterior, mas foi a partir de sua primeira exposição individual, em 1914, que ela passou a ser
conhecida, recebendo várias críticas na época, inclusive de Monteiro Lobato. A obra Samba, de 1943, feita com a técnica óleo
sobre tela, também traz aspectos socioculturais do Brasil aos quais a pintora se dedicou.

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 Samba, Anita Malfatti, 1943-45 (óleo sobre tela). | Fonte: Obras de Anita Malfatti.Wordpress

Representando cenas do cotidiano, de uma vida popular, a tela Samba integra-se aos interesses da pintora a partir dos anos 40,
quando ela buscava uma pintura mais espontânea, distante dos modelos pelos quais ela construiu uma trajetória,
especialmente ligada ao ensino no exterior. Podemos observar que uma marca mais gestual está realmente presente nessa
obra. Note que é possível compreender o tema mesmo com pinceladas rápidas e grosseiras, sem grandes delimitações dos
personagens. Como Ezemos com a obra de Tarsila, também selecionamos pontos importantes para observação da
composição no espaço da tela.

No tracejado amarelo, pode-se observar uma composição equilibrada e simétrica, ao mesmo tempo que a centralidade do
tema – o samba – está representada por uma roda, como pode ser observado com a marcação do círculo vermelho. Já o
triangulo tracejado em azul, destaca que, embora a cena se passe em uma roda/círculo, há um equilíbrio entre todas as partes
e personagens. Essa pintura é um exemplo importante para a compreensão da estruturação de um tema no espaço pictórico,
com uma vista ao ar livre, uma cena popular e cultural da época e, por Em, com uma sobreposição de pincelas (manchas) que
dão conta de transmitir a narrativa proposta.

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 Samba, Anita Malfatti, 1943-45 (óleo sobre tela). | Fonte: Obras de Anita Malfatti.Wordpress

Mulheres pintoras: anos de 1950 e


1960
Passamos agora para dois exemplos dos anos de 1950 e
1960. O primeiro é uma pintura da artista Mira Schendel
(Myrrha Dagmar Dub, nome de registro), de 1956, feita em
têmpera sobre juta.

Nascida no ano de 1919, em Zurique, na Suíça, a artista


iniciou seus estudos em Arte e FilosoEa em Milão, na Itália.
Mais tarde, em 1949, com permissão para se mudar para o
Brasil, Exou residência em Porto Alegre e começou a
trabalhar como designer gráEca, escultora e pintora. Recém-
chegada e atuando como artista, participou da Bienal
Internacional de São Paulo, em 1951, dedicando-se, nessa
década, a pinturas em tons escuros, com uma linguagem
abstrata e uma camada pictórica mais densa, ao mesmo  Sem título, Mira Schendel, 1956 (têmpera sobre juta) | Fonte: Wikipedia
tempo em que opaca, o que é possibilitado pelo uso de
têmpera e óleo sobre madeira e tela (ou juta – algodão cru).

Exemplo

Como exemplo dessa sua fase, selecionamos a obra Sem título, de 1956, para que você possa
compreender o trabalho pictórico resultante de dois processos: primeiro, a opção da artista pela
simpliEcação da forma e, segundo, pela demonstração matérica da técnica e da pintura, deixando aparente
uma tinta opaca, densa e com aspecto mais rústico. Há ainda uma opção por cores com tonalidades
próximas, em uma paleta que vai do marrom ao ocre.

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Podemos realizar uma leitura dessa obra considerando que, embora a história da pintura se apresente com uma carga narrativa
e Egurativa importante, a pintura e o espaço onde ela se realiza – uma tela, por exemplo – é, sobretudo, matérica, resultante de
combinações de cores, processos, procedimentos e tintas.

Nosso segundo caso desse período é a obra Arco, da artista


Eleonore Koch, datada de 1960, com a técnica têmpera
sobre tela. Nascida em Berlim, em 1926, Eleonore chegou
ao Brasil em 1936 e, logo depois, viajou a Paris para
frequentar ateliês de escultura. Sua grande innuência no
Brasil foi o pintor Alfredo Volpi e, por esse motivo, Ecou
conhecida como única discípula dele. Ela também
participou das Bienais de São Paulo (1959 e 1967).

 Arco, Eleonore Koch, 1960 (têmpera sobre tela). | Fonte: Enciclopédia Itaú
Cultural

Embora haja algumas produções de caráter Egurativo, sua principal prática será a de apresentação de formas simples e
meticulosamente exibidas, com um jogo de cores por vezes contrastantes. Apropriando-nos de uma descrição de suas obras,
constante do verbete Eleonore Kock, da Enciclopedia Itaú Cultural, é possível veriEcar que:

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(...) assim como na pintura de Volpi, na qual bandeirinhas,


portas e janelas não são meras alegorias ou símbolos da
cultura brasileira, mas objetos plásticos com os quais o
artista procura explorar arranjos formais e de cor, as coisas
representadas por Koch evocam a memória dos objetos
cotidianos, sem ocultar o caráter sensorial da pintura. Ela não
procura reduzi-la a um mero veículo de emoções ou
sentimentos. A lição de Volpi, que via no ato de ‘resolver o
quadro’ a tarefa básica do pintor é certamente aprendida pela
artista. Sua obra contribui para a investigação de questões
pertinentes à pintura, em especial no tocante à dicotomia
entre cor e linha. A relação que sua pintura estabelece com
os objetos representados se desvia de uma atitude
contemplativa. Vê-se que é do constante embate entre as
superfícies de cor, trabalhadas com o auxílio da têmpera, e os
objetos nitidamente representados, que se faz a tensão
permanente de seus quadros. A imobilidade resultante
decorre menos de uma postura passiva diante de uma cena
do que da representação de um jogo de forças que
resulta um equilíbrio tenso, no qual nem cor nem desenho
preponderam.
ELEONORE Koch. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras, 2020, grifo nosso

Essa citação nos ajuda claramente a compreender as motivações da artista na escolha do repertório bem como na
composição e das cores; é um importante exemplo para nosso entendimento sobre a noção de espaço na arte.

Vamos ver agora os trabalhos selecionados para apresentar as mulheres pintoras dos anos 1970 aos anos 2000.

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

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 Mulheres pintoras: anos de 1970 a 2000

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Mulheres pintoras: anos de 1970 e 1980


As décadas de 1970 e 1980 do século XX são agora nosso objeto de análise. Para isso, também selecionamos duas
pinturas de artistas mulheres. Partiremos das obras de Djanira da Motta e Silva e Anna Maria Maiolino, com as
pinturas Futebol Fla-Flu e Sem título, respectivamente.

Djanira nasceu em 1914, na cidade de Avaré, no interior de São Paulo. Inicialmente, morou na cidade de Porto União,
em Santa Catarina, mudando-se, em 1932, para São Paulo. Ela iniciou sua prática artística em desenho quando Ecou
internada por tuberculose em um sanatório. Depois desse período e de mais uma mudança, agora para o Rio de
Janeiro, Djanira começou seu contato com artistas modernos, como Milton Dacosta, Carlos Scliar, entre outros. Sua
primeira exposição aconteceu em 1942, na Divisão Moderna do Salão de Belas Artes.

O exemplo selecionado, uma pintura em tela com acrílica, narra uma cena do cotidiano, com a representação de um
clássico no futebol carioca: As partidas entre o Fluminense e o Flamengo. Por isso, o título Fla-Flu.

 Futebol Fla-Flu, Djanira da Motta Silva, 1975 (acrílica sobre tela). | Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

Suas obras retratam uma diversidade de cenas relacionadas ao cotidiano das cidades brasileiras, com temas que
perpassam as questões do trabalho, das cidades, da cultura e da religiosidade. Seus interesses, depois dos anos de
1950 – quando retorna de uma temporada nos Estados Unidos –, retratam trabalhadores do campo e da indústria,
buscando “na multiplicidade da cultura brasileira, arquétipos que se repetem” (DJANIRA. In: ENCICLOPÉDIA Itaú
Cultural de Arte e Cultura Brasileiras, 2020).

Já Anna Maria Maiolino, artista nascida em Scalea, na Itália, mudou-se para Caracas, na Venezuela, motivada pelo pós-
guerra. Lá ela estudou na Escuela de Artes Plasticas Cristóbal e, depois, em 1961, mudou-se para o Rio de Janeiro,
ingressando na Escola Nacional de Belas Artes para estudar gravura e juntando-se ao grupo Nova Figuração.

A obra selecionada para nossa análise é datada de 1989, Sem título, e feita a partir do uso dos seguintes materiais:
gesso, cimento, óleo e graEte.

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 Sem Título, Anna Maria Maiolino, 1989 (gesso, cimento, óleo e grafite). | Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

Embora tenha uma trajetória ligada à gravura, a partir dos anos de 1990, a artista iniciou um trabalho com
preocupações ligadas à gestualidade bem como à relação com a matéria, como os materiais que utilizava. “[...]
Maiolino concentra-se no aspecto manual do fazer artístico e passa a usar quase que exclusivamente a argila”, com
projetos com “grande quantidade desse material, em que a repetição do gesto e seu registro na matéria assinalam
enorme concentração de energia” (ANNA Maria Maiolino. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras,
2020).

Mulheres pintoras: anos de 1990 e 2000


Por Em, chegamos ao Enal do século XX, com duas obras das décadas de 1990 e 2000. A obra Marte, da artista Marina
Rheingantz, realizada em óleo sobre tela, no ano de 2013 (Figura 9), é um dos nossos casos. Nascida na cidade de
Araraquara, no interior de São Paulo, em 1983, Marina foi Enalista do Prêmio Pipa em 2015 e indicada nos anos de
2010, 2012, 2013 e 2014.

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 Marte, Marina Rheingantz, 2013 (óleo sobre tela). | Fonte: Prêmio PIPA

Na obra Marte e em outras, a pintora realiza uma redução abstrata da paisagem a partir de lembranças pessoais e de
fotograEas, compondo e recompondo sobreposições de tinta que foram grandes campos de cores. É como se
pudéssemos conhecer fragmentos de locais, memórias e paisagens – mesmo com elementos reduzidos ou
identiEcáveis – a partir de suas composições. Segundo Rodrigo Moura, curador e crítico de arte, sobre as pinturas de
Marina Rheingantz.

A ambiguidade sintática entre estilemas da pintura (como se dissesse: isso não é uma montanha, é uma
pincelada) e a construção de um espaço representado (como se dissesse: isso não é um escorrido, é
uma montanha pintada) é a chave para entender essa inconclusão. (BURIL, 2017, grifo nosso).
Entre as várias exposições individuais e coletivas que Marina já realizou, suas obras encontram-se nos seguintes
acervos: Centro Cultural de São Paulo, Instituto Itaú Cultural, Pinacoteca de São Paulo – todos na cidade de São Paulo
– e no Instituto Figueiredo Ferraz, na cidade de Ribeirão Preto.

A segunda artista é Leda Catunda. Nascida no ano de 1961, em São Paulo, é considerada uma das expoentes da
Geração 80, formada pela Fundação Armanda Álvares Penteado (FAAP/SP). Por meio de suas obras, a artista traz
elementos e imagens do universo pop, além de agregar a elas materiais diversos, como plásticos e tecidos, recriando,
por vezes, novas estampas a partir dessa composição pictórica e material.

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Na obra Camadas com peixes, de 1999, Leda Catumba explora essa sobreposição de materiais, alguns deles de
origem do comércio popular, como cortinas plásticas de banheiro. Ela mistura essas texturas e camadas,
transformando o espaço pictórico em um espaço plástico-visual construído/costurado. Segundo depoimento da
própria artista.

[...] seu interesse pelo universo popular e kitsch vem da ausência desse repertório na casa dos pais. Filha
de arquitetos, a residência em que mora na infância é decorada com poucos objetos e, em geral, com
design planejado. É a casa da avó portuguesa que desperta o interesse da artista por elementos
populares e artesanais de decoração, como toalhas de crochê. O repertório visual começa a se formar
nos passeios com a avó pelo comércio popular no largo de Pinheiros, em São Paulo. (LEDA Catunda. In:
ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020).

 Camadas com peixes, Leda Catunda, 1999 (acrílica sobre tecido e plástico). | Fonte: Leda Catunda

Vemos, com isso, que Marina e Leda adicionam aspectos relacionados à memória para a criação de suas obras; cada
uma com suas referências, mas, ao mesmo tempo, utilizando esse pressuposto como uma ferramenta importante
para a construção plástico-visual de suas obras.

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Resumindo
Esperamos que você tenha gostado de embarcar conosco nesta jornada pela História da Pintura e pelos métodos e materiais
dessa linguagem artística fascinante. Para encerrar a disciplina da melhor forma possível, vamos concluir a nossa aula
abordando uma exposição sobre as obras de Tarsila do Amaral, de 2019.

 Imagem do informativo da temática anual de exposição do MASP | Fonte: Museu de Arte de São Paulo

Ocorrida ao longo do ano de 2019, no Museu de Arte de São Paulo, MASP, a exposição Tarsila Popular, recorde de público,
estava inserida no projeto de exposição temática sobre mulheres artistas. Um dos pontos importantes a serem destacados
sobre o tema dessa exposição é a função prática da revisão historiográEca da arte – por meio de obras e exposições –, uma
vez que a literatura artística foi assentada prioritariamente na valorização do artista/homem gênio.

Um exemplo para que você entenda a importância dos estudos historiográEcos e das suas necessárias revisões são as
recentes pesquisas de historiadoras feministas da arte “que Ezeram um amplo trabalho de recuperação de nomes de mulheres
artistas para uma tentativa de inclusão no discurso tradicional da disciplina” (TVARDOVSKAS, 2011, p. 4). Nesse sentido, há,
nas últimas décadas, não apenas um esforço de recuperação de nomes femininos mas também de inserção das mulheres em
um diálogo profícuo de pares, em que a questão de gênero se torna um dos elementos importantes.

A aplicação prática desses estudos tem resultado em exposições que vêm ocorrendo em muitos museus brasileiros, como foi
o caso da agenda de exposições de 2019 do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP, na cidade de São Paulo,
referentes a Tarsila Popular, Lina Bo Bardi, Djanira da Motta e Silva, entre outras, vinculadas ao programa expositivo com o tema
História das mulheres, Histórias feministas.

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 Imagem do informativo da exposição Tarsila Popular no MASP | Fonte: Museu de Arte de São Paulo

Atividades
1. Das artistas apresentas, qual utiliza materiais originários de comércios populares e do cotidiano na sua pintura?

Referências
2. Anna Maria Maiolino utiliza um material que ainda não tínhamos visto nas obras anteriormente estudadas. Qual é?

ANNA Maria Maiolino. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível
em: //enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9539/anna-maria-maiolino. Acesso em: 4 mar. 2020. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
Notas
BURIL, Bárbara. Marina Rheingantz: ambiguidades entre Egurativo e abstrato. In: Revista Continente. Santo Amaro: Companhia
Editora de Pernambuco, 2017. Disponível em: https://www.revistacontinente.com.br/edicoes/202/marina-rheingantz

CHIARELLI, Tadeu. Pesquisa e Arte Contemporânea. In: Arte e Pesquisa. Londrina: Eduel, 2005, p. 149-153.

DJANIRA. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em:
//enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9397/djanira. Acesso em: 4 de mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-
060-7

ELEONORE Koch. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em:
//enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa22930/eleonore-koch. Acesso em: 4 de mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-
85-7979-060-7

GOMBRICH, Ernst H. A História da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

LEDA Catunda. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em:
//enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10215/leda-catunda. Acesso em: 4 mar. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-
7979-060-7

TVARDOVSKAS, Luana Saturnino. Teoria e crítica feminista nas artes visuais. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História –
ANPUH • São Paulo, julho 2011. Disponível em:
//www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300400176_ARQUIVO_Teoriaecriticafeministanasartesvisuais.pdf. Acesso em:
4 mar. 2020.
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4 mar. 2020.

Próxima aula

Explore mais

Conheça a transformação de um convento em um espaço de exposição de arte contemporânea em:


https://www.archdaily.com.br/br/901019/espaco-de-exposicao-de-arte-contemporanea-em-um-convento-
sol89/5b581f88f197cc652900010c-contemporary-art-space-in-the-former-convent-of-madre-de-dios-sol89-photo?
next_project=no

Um bom artigo sobre exposição de mulheres é este da autora Ana Paula Cavalcanti Simioni, intitulado A difícil arte de
expor mulheres artistas, disponível em: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332011000100014

Conheça mais sobre o Movimento Antropofágico a partir do verbete Manifesto Antropofágico, na Enciclopédia do Itaú
Cultural, em: //enciclopedia.itaucultural.org.br/termo339/manifesto-antropofago

Aprofunde seus conhecimentos e conheça mais sobre Alfredo Volpi em:


//enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1610/alfredo-volpi

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