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Mudanças no mundo do trabalho e formação integral 03/11/2023, 16:37

Mudanças no mundo do trabalho e formação integral


Profª. Natânia Lopes

Descrição A formação omnilateral e suas relações com o trabalho enquanto papel dos
indivíduos na organização produtiva da sociedade.

Propósito Compreender o papel da formação do indivíduo na sua inserção da cadeia


produtiva da sociedade em que vive é fundamental para identificar a educação
profissional como importante processo formativo do cidadão brasileiro.

Objetivos

Módulo 1 Módulo 2

A formação profissional no O trabalho na sociedade


Brasil
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Brasil contemporânea
Reconhecer conteúdos e práticas a partir da Reconhecer ferramentas conceituais para uma
perspectiva histórica da formação profissional. análise crítica do processo de formação
profissional.

Módulo 3 Módulo 4

Educação na Era da Informação Educação e transformação


social
Identificar o planejamento e a oferta de educação
tecnológica.
Relacionar a formação integral e ominilateral à
uma concepção mais ampla de educação.

Introdução
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Introdução
O conceito de formação omnilateral é importante para se vislumbrar
alternativas ao papel de reprodução das desigualdades sociais que
a estrutura educacional acaba cumprindo no sistema capitalista.

Pensar em mundo do trabalho, bem como na formação necessária


para que os futuros trabalhadores (portanto, atuais estudantes)
possam exercer seu papel de forma mais harmônica possível, é
fundamental para entender as sociedades contemporâneas.

Por isso, neste conteúdo, entenderemos os princípios e as relações


que organizam a cadeia produtiva da qual os indivíduos participam
com seu trabalho para manter a sociedade em funcionamento e
como a educação participa disso, bem como seu potencial
transformador para a efetivação de uma sociedade mais justa e
igualitária, de inspiração humanista.

Como você poderá perceber, ao se tratar de formação omnilateral,


estamos entrando em uma área de conceituação muito específica, o
pensamento marxista: uma interpretação sociopolítica-econômica
da sociedade. Assim, você poderá encontrar argumentos posteriores
que enriqueçam ou até contradigam tal interpretação. Afinal, isso é
verdadeiramente produzir conhecimento, não é verdade?

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1 - A formação profissional no Brasil


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer conteúdos e práticas a partir da
perspectiva histórica da formação profissional.

Panorama histórico da formação


profissional no Brasil

Geralmente, o tema da perspectiva histórica da formação profissional é


abordado, em educação, do ponto de vista da necessidade social da
escola e da progressiva massificação da educação no Brasil pensando-
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escola e da progressiva massificação da educação no Brasil pensando-


se a implementação do sistema educacional situada nos tempos da
colonização.

Destaca-se, inicialmente, o papel dos jesuítas como primeiros


formadores, encarregados de transmitir o saber religioso e moral, além
dos conteúdos acadêmicos, na colônia, bem como catequizar os povos
indígenas.

Os jovens filhos dos grandes proprietários de terra eram iniciados nas


leituras dos clássicos da filosofia e literatura greco-romanas; a uma
camada média, composta de filhos de colonos, eram ensinadas as
letras e a matemática básicas; enquanto os indígenas, tidos por
selvagens, recebiam apenas lições religiosas consideradas requisitos
de civilidade e aperfeiçoamento da sua humanidade.

A influência da educação jesuítica


persiste até os dias atuais. Os
jesuítas conceberam uma
maquinaria escolar que não só
contribuiu para dotar as crianças
de um estatuto especial, como
Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu, também influenciou a
por Benedito Calixto (1927).
organização das instituições
escolares das épocas posteriores,
incluindo as universidades.

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Foi nos colégios jesuíticos que se desenvolveu a


pedagogia do controle, em que os aprendizes,
colocados em espaços fechados, sob forte
esquema disciplinar, eram submetidos a um
processo de transmissão de saberes, devidamente
selecionados pelos mestres e organizados em
diferentes níveis e programas de dificuldade
crescente, que lhes impedia o desenvolvimento da
autonomia.

(HORIKAWA, 2015, p. 13)

A pedagogia do controle (HORIKAWA, 2015), entendida como o


funcionamento dos colégios jesuítas, faz parte da sociedade de
controle, vigilância e disciplina. Cadeiras enfileiradas, filas de alunos
nos pátios e nos corredores, homogeneização das turmas e a
concepção de ensino-aprendizado que prescreve papeis imiscíveis no
sentido de quem ensina (professor) e quem aprende (aluno), além de
castigos e sistemas de recompensas.

Temos assim em tela uma escola que começa como parte do processo
colonial de dominação e prepara os filhos dos aristocratas para
estudarem nas universidades sediadas nas metrópoles. Os colégios
jesuíticos, portanto, já implementam uma ordem acadêmica
atravessada pelas relações de poder e hierarquias coloniais.

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Prédio da Antiga Faculdade de Medicina da Bahia, em Salvador.

Em fins do século XVIII e na primeira metade do XIX, com a vinda da


família real portuguesa para o Brasil, algumas importantes escolas são
criadas: a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho (que
provia a formação na área de engenharia), a Escola Médico-Cirúrgica da
Bahia, fundada pelo Príncipe Regente com o nome de Escola de
Cirurgia, a Academia Médico-Cirúrgica no Rio de Janeiro e os Cursos
Jurídicos de São Paulo e Olinda.

A educação profissional (HORIKAWA, 2015) sempre esteve relacionada


ao projeto de sociedade do período histórico em que ela ocorre. Assim
é que, entre os séculos XVIII e XIX, toma a forma de um projeto de
secularização do Estado-Nação e passa a ser então regida por uma
ótica liberal relacionada à ideia de progresso econômico e cultural no
mundo. Os novos princípios basilares da organização escolar não são
mais os religiosos aqui, mas sobretudo os da liberdade e do direito à
propriedade privada.

Atenção

A meritocracia se estabelece agora como pressuposto lógico na medida em que se admite


que as desigualdades devem ser explicadas pelas diferenças das qualidades intelectuais.
E a educação passa ser uma tarefa centralizada pelo Estado com vistas ao
desenvolvimento da Nação, menos para qualificar o povo e habilitá-lo para o trabalho e
mais para efetivar um papel de Estado provedor capaz de garantir o funcionamento das
instituições.

Nesse mesmo período, o ensino de ofícios dividia-se entre o


recrutamento forçado de “vadios” nos Arsenais da Marinha do Brasil,
formados para atuar como operários e os Colégios de Fábricas, criados
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formados para atuar como operários e os Colégios de Fábricas, criados


por D. João IV, para atender à educação de aprendizes vindos de
Portugal para atuarem no ramo das artes e vestuário, logo fechados
pela metrópole, temerosa da independência da colônia em relação aos
aspectos culturais ligados ao luxo, dos quais Portugal era provedor, o
que colocava metrópole e colônia em lugares simbólicos muito bem
definidos.

Só em 1827 a Câmara aprovou o projeto da Comissão de Instrução que


organizava o ensino público pela primeira vez no Brasil. Neste projeto, a
instrução ficou dividida em quatro graus distintos (1- Pedagogias, que
se destinava ao 1º grau; 2 - Liceus, que seria o 2º grau; 3 - Ginásios,
destinados a transmitir conhecimento relativo ao 3º grau; e 4 -
Academias destinadas ao ensino superior), com o ensino de ofícios
incluído na 3ª série das escolas primárias, e depois nos Liceus no
estudo de desenho, necessário às artes e ofícios (GARCIA, 2000, p.3).

Com a República, a educação no país passou por um problemático e


tímido processo de democratização.

Vadios
Os homens considerados vadios, nessas circunstâncias, constituíam os recrutas que seriam
adestrados no serviço naval, enquanto os marinheiros mercantes seriam aproveitados como
experientes homens do mar. Por adestramento e por absorção, a Marinha valeu-se de ambas
as fontes de recrutas durante as duas guerras em que foi preciso utilizar forças navais
(FONSECA, 2016, p. 131).

Criou-se a Escola Normal, voltada


para a formação de professores
primários, de caráter

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primários, de caráter
profundamente elitista e cujo
público educando era constituído
majoritariamente de jovens
A Casa Caetano de Campos, em São Paulo, moças abastadas em busca de
foi construída em 1894 para sediar a primeira
erudição para o desempenho da
Escola Normal da Capital.
sociabilidade das altas classes
burguesas do país e não de
formação para atuação
profissional.

Culturalmente, vinha sendo gestada no país, desde o período jesuítico,


uma concepção que alinhava o trabalho aos estratos mais baixos da
população, sobretudo os trabalhos físicos e manuais, associados no
imaginário social aos escravos e indígenas. De modo que a classe
média resistia à ideia de uma educação voltada para o trabalho.

No início do século XX, finalmente, foram abertas escolas de


profissionalização em todas as capitais brasileiras e, em 1910, havia
dezenove escolas instaladas no país. Eram escolas precárias do ponto
de vista das suas instalações físicas e do ensino, mas que ganharam
fôlego com a Primeira Guerra Mundial, quando o Brasil, ao enfrentar
problemas com o processo de importação, foi obrigado a concentrar
esforços nas indústrias nacionais e precisou de mão de obra
qualificada para o trabalho. É aqui que se consolida uma ruptura crucial
para história da formação profissional no país, uma ruptura entre a
educação e a profissionalização.

“Aos trabalhadores era destinada uma formação voltada para o


treinamento, adestramento até porque a nossa indústria ainda era
bastante elementar, baseada no artesanato e manufatura com poucas
exigências.” (GARCIA, 2000, p. 7)

Reflexão
Esta divisão de caminhos, que separa o ensino da profissionalização, manifesta-se
também na separação entre uma formação integral dos educandos e sua mera
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também na separação entre uma formação integral dos educandos e sua mera
capacitação de acordo com um conjunto de habilidades relacionadas à assimilação
maquinal dos conteúdos. E esta partição reflete uma atribuição de papeis a classes
sociais distintas.

O papel do Ensino Básico na


formação profissional nos dias atuais
Do ponto de vista sociológico, isto é, daquele que se volta para a
compreensão dos funcionamentos da sociedade, podemos perceber
que as clivagens relacionadas à classe social se manifestam na
estrutura do ensino básico, que se divide em público e privado.

No Brasil especificamente, onde o ensino público é precarizado, as


classes sociais subalternas geralmente acabam sendo o principal
público a que se destina esse serviço, enquanto as classes sociais
mais abastadas se concentram no ensino privado, regido pela
gramática do mercado.

Podemos atribuir esta diferença, ao menos em parte, ao fato de a


escola pública estar ligada à lógica do direito à educação, dentro de um
contexto cultural no qual os direitos estão relacionados à ideia do
“mínimo” (“o mínimo necessário à sobrevivência”), estando mais no
registro de um direito de acesso do que uma formação em sentido
amplo, ligada ao desenvolvimento da personalidade humana do
educando.

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Início do ano letivo no Colégio Pedro II em 1957.

Por uma perspectiva antropológica, no entanto, esta que se concentra


mais nos fenômenos sociais tal como acontecem no chão (um foco
mais microscópico dos fenômenos sociais, abarcando o imaginário
social e seus conflitos com outras dimensões da vida), devemos
admitir que as escolas públicas figuram neste imaginário social como
um ambiente saudável e produtivo para a sociabilidade das crianças e
jovens pobres. Nas escolas, os educandos, além de adquirirem
conhecimentos e terem maiores chances de alcançar alguma
mobilidade social, terão diante dos seus olhos o “bom exemplo dos
professores”, carreira que acena como uma possibilidade de ascensão
para os mais pobres.

Nessa perspectiva, a escola se apresenta como o lugar seguro,


contrastando com os ambientes perigosos por onde a criança ou
jovem porventura circulem; muitas vezes, seu próprio ambiente de
moradia. Desfrutar de um tempo na escola passa a ser mais seguro do
que o espaço público, onde essas pessoas encontram lazer nas suas
relações de vizinhança e parentesco.

A escola é, sobretudo, pensada como um meio de acesso e construção


direta da cidadania, uma vez que o educando e seus familiares podem
acessar outros direitos a partir da frequência do aluno à escola: lá, as
crianças e jovens poderão fazer refeições, deslocar-se pela cidade em
transportes públicos graças à gratuidade a que os estudantes têm
direito etc.

Reflexão

Neste sentido, quando se pensa na formação profissional no ensino básico, percebe-se


que a escola pública parece estar voltada para a formação de uma mão de obra abundante
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que a escola pública parece estar voltada para a formação de uma mão de obra abundante
e subqualificada: os futuros profissionais que são preparados com o “mínimo”, sendo este
mínimo, às vezes, a própria sobrevivência a contextos socioterritoriais violentos.

O ensino privado, por outro lado, principalmente no nível médio, volta-se


mais para a formação superior e complementar e, portanto, produz em
larga escala uma mão de obra mais qualificada, voltada para atuar em
outros setores e cargos, diferente da clientela da educação pública
básica, sendo mais bem remunerada e gozando de status social
superior.

Este mecanismo parece assim


reproduzir uma certa estrutura de
classes sociais. Nesse sentido,

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classes sociais. Nesse sentido,


pode-se afirmar que o ensino de
nível médio é o mais difícil de ser
nivelado para a redução das
desigualdades estruturais que se
processam na educação básica
brasileira, pois ele possui uma
dupla função quando se pensa na
educação em continuidade com o
mundo do trabalho: no ensino
público, ele prepara para o mundo
do trabalho e no privado, para a
continuidade da formação
profissional.

É preciso conferir uma identidade


ao Ensino Médio a fim de que ele
possa contribuir para a formação
integral dos estudantes.
Formação essa voltada para a
superação da dualidade entre
cultura geral e cultura técnica;
formação profissional e formação
acadêmica.

O ensino, seja ele profissional ou médio, deve ser orientado à


formação de cidadãos capazes de compreender a realidade social,
econômica, política e cultural e do mundo do trabalho para nela
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econômica, política e cultural e do mundo do trabalho para nela


inserir-se e atuar de forma ética e competente, técnica e
politicamente, visando contribuir para a transformação da sociedade e
função dos interesses sociais e coletivos.(CENTENO; TIMÓTEO, 2013,
p. 18)

Entendemos, assim, que o ensino médio pode ser pensado como


educação profissional no sentido largo, quando diz respeito àqueles
que contarão apenas com esta formação para ocupar seus lugares do
mercado de trabalho. Funções que incluam, por exemplo, matemática
básica e o domínio geral da língua portuguesa, ferramentas de
interpretação, noções de história e de língua estrangeira etc. Apenas
uma pequena parcela do público educando, formada pelo sistema
educacional do país, passará à formação continuada e especializada
pela qual deve passar a mão de obra qualificada.

Educação profissional da Educação


 Básica
Assista agora a um vídeo que apresenta um panorama acerca dos
principais equívocos e possibilidades da educação profissional da
Educação Básica.

O ensino superior público e privado e


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O ensino superior público e privado e


a profissionalização
O ensino superior privado, no Brasil, possui características muito
próprias, provenientes de uma herança histórica.

Duas dessas características marcam o


desenvolvimento do ensino superior no Brasil. A
primeira é seu caráter tardio, pois as primeiras
instituições de ensino superior são criadas apenas
em 1808 e as primeiras universidades são ainda
mais recentes, datando da década de 1930, século
XX. A segunda, que nos interessa de modo
especial, é o desenvolvimento precoce de um
poderoso sistema de ensino privado paralelo ao
setor público. Já na década de 1960, este setor
adquire novas características.

(DURHAM, 2003, p. 1)

Essas características fizeram com que o ensino superior privado no


país se voltasse para absorver um público específico, quando do
florescimento deste setor do ensino nos anos 1970, no Brasil. Tratava-
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florescimento deste setor do ensino nos anos 1970, no Brasil. Tratava-


se de uma população mais velha, já inserida no mercado de trabalho e
para quem a formação de nível superior significava ascensão imediata
na carreira, para cargos superiores ou aumento de remuneração em
trabalhos que essas pessoas já atuavam.

Assim, o ensino superior privado terminou por contemplar esses


antigos egressos do ensino médio que não tinham podido entrar no
ensino superior imediatamente.

Consequentemente, houve no ensino privado, nos anos 1970 e 1980,


uma predominância de oferta de cursos noturnos a fim de atender a
especificidade da sua clientela. O mais curioso (DURHAM, 2003) é que
nas universidades públicas, nos anos 1980, justamente nestas em que
se exaltava a democracia e o compromisso com as classes populares,
a resistência à criação de cursos noturnos foi generalizada, à exceção
da Universidade de São Paulo, que já tinha cursos noturnos desde os
anos 1950. Dessa feita, é o ensino privado que acaba se voltando, nas
últimas décadas, no Brasil, para educação massiva de nível superior.

Atenção
Outro ponto a se destacar é a importância da bagagem cultural do aluno durante a sua
formação (BOURDIEU, 1998). Ainda que houvesse um sistema de ensino capaz de
oferecer uma formação equânime, os alunos partiriam de lugares diferentes em função
das suas próprias referências acumuladas graças a seus trânsitos particulares e
pertencimentos sociais. É o que o autor chama de capital cultural.

Se, portanto, pudéssemos desconsiderar os grandes abismos


educacionais no país, admitir que a todos os cidadãos seria ofertada
uma educação de qualidade, ainda assim o fato de um indivíduo provir
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uma educação de qualidade, ainda assim o fato de um indivíduo provir


de família mais abastada, contando, por exemplo, com viagens desde a
mais tenra infância para países de língua inglesa, o fato deste dispor de
uma vasta biblioteca em sua casa herdada dos pais e dos avós o
lançaria na frente daquele outro aluno que mal dispõe de um espaço
adequado para estudar, está mal nutrido e precisa cumprir com todo o
tipo de tarefas fora da escola para que seu ambiente familiar funcione,
como cuidado de irmãos e tarefas domésticas, trabalhos etc.

Assim, desde que o ensino superior passa a ser massivamente ofertado


à população, podemos falar, de fato, numa ampliação das perspectivas
de ascensão e inclusão social, considerando-se que o impacto dessas
ascensões ocupacionais e projeções de classe implicarão nas gerações
seguintes, produzindo um efeito cumulativo em termos de formação e
inserção no mercado de trabalho em cargos mais bem remunerados.
Passa-se a observar, com isso, uma ampliação do número de trajetórias
de ascensão familiar.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Compreender, ainda que de forma panorâmica, o impacto deixado


pela História da Educação de nosso país é fundamental. E um dos
mais importantes aspectos está na primeira experiência educacional
que tivemos. Assim, é correto afirmar sobre a educação jesuítica no
Brasil colonial que:

Tratou-se de uma educação disciplinadora cujos


A propósitos do ensino e conteúdos diferiam em função

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da classe social a que se destinava.

Foi uma forma de educação democrática que se


B
distanciava dos propósitos da Coroa.

Apoiou-se nos princípios da omnilateralidade, mas


C
fracassou na sua missão educativa.

Apoiou-se em princípios cristãos que em nada se


D aliavam ao projeto político reservado à colônia pela
metrópole portuguesa.

Seus vestígios encontram-se nas escolas ainda nos


E dias atuais, como o princípio da laicidade, entre
outros.

Parabéns! A alternativa A está correta.

A educação jesuítica era profundamente controladora e


disciplinadora, tendo o propósito de catequisar os indígenas, ensinar
conteúdos básicos aos colonos mais pobres e preparar as crianças e
jovens de famílias mais ricas para receberem educação universitária
na metrópole.

Questão 2

O Ensino Superior é um grande desafio para os projetos educacionais,


no mundo todo. E, no Brasil, assumiu características ainda mais
específicas. Marque a alternativa correta sobre o ensino superior

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privado no Brasil.

Estabeleceu-se no Brasil durante o período colonial,


absorvendo parte do ensino jesuítico e acenando
A
como a única possibilidade de ensino superior da
colônia.

Defende uma educação meritocrática ignorando a


B bagagem cultural dos alunos para a qual alertava
Bourdieu.

Demanda dos educandos um compromisso integral,


C de forma que se torna impossível trabalhar e estudar
ao mesmo tempo.

Concorre com o ensino público disputando os


D
investimentos do Estado e o público estudante.

Nos anos 1970 e 1980, a oferta de formação superior


E noturna àqueles que haviam ingressado no mercado
de trabalho, logo após conclusão da formação básica.

Parabéns! A alternativa E está correta.

O ensino superior privado de fato absorve um público específico;


aqueles indivíduos, já inseridos no mercado de trabalho, que anos
antes haviam terminado a educação básica. É por isso que é

considerável a oferta do ensino noturno pelas instituições privadas


nesse período (décadas de 1970 e 1980).

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2 - O trabalho na sociedade contemporânea


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer ferramentas conceituais para uma
análise crítica do processo de formação profissional.

Conceituando trabalho

Quando se pensa em trabalho, no


senso comum, costuma-se
pensar, na verdade, apenas no

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pensar, na verdade, apenas no


trabalho como o conhecemos
atualmente, situado no modo de
produção capitalista da
sociedade em que vivemos. O
trabalho é aí entendido como
sinônimo de função, ocupação ou
emprego. No entanto, podemos
conceituar trabalho, em linhas
gerais, como a capacidade de
gerar riqueza.

Não a riqueza acumulada nos bolsos e cofres e contas bancárias de


uma minoria, pois o fato de a riqueza ter sido assim acumulada
também é um tipo de acaso histórico; uma especificidade também da
nossa sociedade e do sistema socioeconômico que a organiza. Quando
dizemos que o trabalho é atividade geradora de riquezas, estamos
falando da geração de recursos úteis à vida humana e que tornam
viável e otimizam nossos modos de ocupar o mundo.

Comentário
O trabalho pode ser pensado como uma ferramenta adaptativa ao meio. Todas as
espécies, assim, o praticam: abelhas que constroem suas colmeias, macacos que utilizam
instrumentos disponíveis na natureza, como um galho fino de um arbusto para apanhar
formigas de dentro dos formigueiros ou pedras para bater e quebrar cocos, castanhas e
frutas duras. Costuma-se pensar os seres humanos como especialmente dotados para o
trabalho. Mas isso não é verdade. Tampouco nosso trabalho é melhor ou superior aos das
outras espécies animais. Como em todos os casos, ele tem apenas especificidades.

O trabalho humano tem,


principalmente, a especificidade
de contribuir para o acúmulo de

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de contribuir para o acúmulo de


conhecimento, de modo que certo
grupo, pertencente à mesma
cultura, pode eventualmente
alcançar resultados mais
eficientes em seu trabalho graças
à construção feita pelo trabalho
dos que vieram antes.

Um exemplo são as obras arquitetônicas que foram sendo aprimoradas


ao longo do tempo, também o aprimoramento das técnicas mais
diversas, úteis à vida dos grupos humanos e a tecnologia.

A perspectiva sociológica do trabalho teve grande influência do


pensamento marxista, crítico à acumulação capitalista às custas da
exploração do trabalho e do trabalhador. Diz-se que o capitalismo é um
sistema socioeconômico que torna o trabalho alheio àquele que o
desempenha.

Alheio em pelo menos dois sentidos: no sentido de que o operário


médio não tem qualquer afinidade com os saberes envolvidos no
processo produtivo de que ele participa, uma vez que a especialização
faz com que ele domine e compreenda apenas uma pequena parte de
uma longa cadeia. E no sentido de que muitas vezes o empregado não
terá poder aquisitivo suficiente para usufruir do próprio bem de cuja
produção ele participa.

Sob determinada perspectiva, é


possível perceber a relação entre
o capitalismo, com sua forma de

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o capitalismo, com sua forma de


dividir e operar o trabalho, e o
ideal de ascese protestante
(WEBER, 2005). Não é à toa, dirá o Primavera, por Pieter Bruegel (1565).
autor, que o capitalismo se
consolida no mesmo período
histórico que o protestantismo.

Ascese protestante
Embora seja um termo mais utilizado em religiões orientais, a ascese se caracteriza pela
busca de elevação do homem crente à transcendência. No caso, a ascese protestante
(nascida a partir do século XVI), diz respeito, embora não de forma unânime, às
características pessoais que marcam tal elevação. A prosperidade econômica é, assim,
entendida como recompensa divina pela obediência aos preceitos religiosos.

Assim é que o lucro como benção e sinal da predestinação implicará os


homens no trabalho dentro da nova ordem burguesa, diferentemente do
sistema feudal, em que a prática religiosa católica que constituía o
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sistema feudal, em que a prática religiosa católica que constituía o


sustentáculo ideológico da sua ordem simbólica e social pensava a
acumulação como um mal, pecado relacionado à avareza.

Atualmente, em nosso contexto cultural, a divisão social do trabalho é


imensa; há diversas funções, cada qual com remuneração e status
específico. E por isso é possível perceber que tanto a exploração do
trabalhador continua existindo (MARX, 1983) quanto uma moralidade
de fundo religioso (WEBER, 2005) que justifica as práticas laborais
ligadas à obtenção de lucro. Apresenta-se, assim, uma espécie de
incitação ao trabalho que pensa o tempo livre como tempo nulo, como
tempo desperdiçado. Com todas as transformações no mundo do
trabalho ao longo de duzentos anos no Ocidente, esses mecanismos
estruturais seguem em funcionamento, embora haja reviravoltas,
reinvenções e novas roupagens.

É possível pensar o processo de globalização como uma espécie de


vingança do grande capital contra as conquistas da classe trabalhadora
(FRIGOTTO, 2013). Uma espécie de efeito rebote do Estado de bem-
estar social, esse período histórico em que vigora a ideia de que o
trabalho (aqui no sentido de emprego; trabalho remunerado) é um
direito do cidadão. Isso coloca um limite para a alienação do trabalho
empreendida pelo capitalismo selvagem:

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Na medida em que o emprego é encarado como


um direito de integrar-se ao consumo, à vida e ao
futuro, firma-se a ideia de que, se o mercado
privado não oferece emprego, o Estado tem a
obrigação de fazê-lo. Trata-se de um Estado capaz
de fazer política econômica e social a partir de um
fundo público progressivo. (...) De todo modo, as
gerações assalariadas dos anos 1930 até os anos
1980 no Brasil, mesmo sob duas ditaduras e
curtos períodos de democracia, puderam
programar minimamente seu futuro, antes do
golpe militar de 1964, o empregado que atingisse
10 anos de emprego ganhava estabilidade. O custo
da demissão era altíssimo.

(FRIGOTTO, 2013, p. 7)

É como se, no presente, o capital tivesse perdido a sua capacidade


civilizatória, diz Frigotto (2013). E passa a destruir, para sustentar sua
lógica de acúmulo, os direitos conquistados pela classe trabalhadora a
emprego, saúde, educação, aposentadoria etc.

 Globalização e trabalho

Assista agora a um vídeo que aborda os impactos da globalização na


constituição do papel do trabalhador nas sociedade contemporâneas.

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Formação integral e omnilateral


O trabalho alienado possui relações específicas com um certo tipo de
educação, a que podemos chamar de unilateral (MARX, 1983).

A educação unilateral das escolas


e instituições de ensino que
preparam profissionais para atuar
no mercado de uma sociedade,
cuja economia é organizada pelo
modo capitalista de produção, é
Linha de montagem da Ford em 1928.
especializada, tecnicista,
instrumental e puramente
conteudista. É, ela mesma,
alienada do aluno e de suas
necessidades como ser humano e
indivíduo.

A educação omnilateral, por outro lado, seria uma educação mais


ampla, completa no sentido de promover a reflexão em vários sentidos
para além dos conteúdos imediatamente aplicáveis a áreas de saber
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para além dos conteúdos imediatamente aplicáveis a áreas de saber


determinadas. Uma educação crítica, portanto, capaz de prover ao
indivíduo ferramentas para a vida de um modo geral. Esta deveria ser
atenta às necessidades do educando e às suas aspirações, não se
curvando à fragmentação do saber disciplinar. Aproxima-se assim da
ideia de uma educação interdisciplinar e politécnica. Mas a
omnilateralidade, ou seja, essa forma de educar que vem por todos os
lados (MARX, 1983) não estaria restrita aos conteúdos; além de
extrapolar a fragmentação dos saberes em disciplinas isoladas, ela
deveria extrapolar os próprios conteúdos acadêmicos e alcançar
conhecimentos artísticos e referências culturais de todo tipo, além de
trabalhos manuais e mesmo de uma relação integrada com a natureza.

Omnilateral
O termo omnilateral aparece pela primeira vez nos Manuscritos Econômico-filosóficos, de
1844. Marx apresenta essa contraposição ao distinguir a atividade vital humana dos demais
animais, que produzem unilateralmente. Em contraste, a formação humana é omnilateral e
universal: ela produz e reproduz a natureza inteira, livre da carência imediata. O trabalho é,
portanto, uma ação corporal intencional e, como tal, envolve a plenitude das capacidades
intelectuais e sensitivas do ser humano. É este agir corporal transformador que mobiliza e
demanda o pensar, isto é, a construção da consciência (DELLA FORTE, 2014, 388-389).

Atenção

Assim aparece a ideia de uma sociedade utópica em que as pessoas poderiam pescar à
tarde, pastorear à noite e fazer crítica literária após as refeições (MARX, 1983).

Apenas uma educação multidimensional, plural, mais completa do que


esta que conhecemos (que é voltada apenas para as exigências de um
mercado de trabalho que funciona com a máxima especialização da
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mercado de trabalho que funciona com a máxima especialização da


mão de obra) poderia promover um tal estilo de vida; ao mesmo tempo
camponês e intelectual, onde as urgências mais ordinárias entrariam
em uma dança perfeitamente coordenada com a erudição e os saberes
entendidos como refinados. A pesca e o pastoreio, como tarefas
desempenhadas por um mesmo homem capaz de fazer crítica literária
após as refeições, traduzem um novo tipo de sujeito, habitante de um
outro tipo de sociedade, que possui outra cultura.

A educação omnilateral é aquela capaz de formar indivíduos íntegros,


completos, dotados de múltiplas habilidades e capaz de desempenhá-
las, portanto, com a máxima liberdade e, ao mesmo tempo, a
maximização dos resultados da produção, em uma dimensão coletiva.

Outra vez retornando a um ponto de vista mais antropológico, isto é,


atento aos fenômenos tais como se processam “no chão”, podemos
perceber que, ainda que a educação omnilateral seja, no atual contexto,
uma utopia, os conteúdos e a vivência escolares e acadêmicos
promovem uma transformação da visão de mundo dos educandos.

Ocorrem mudanças naqueles que estão em formação que certamente


superam em muito a aplicação direta de conteúdos em avaliações e
profissões futuras. Isso porque a escola, a universidade, os colégios e
cursos são também ambientes de uma sociabilidade pautada na troca
de conhecimento e há muita saúde intelectual, ética e moral nesse
convívio também, apesar das óbvias limitações e problemas, que
também existem.

Princípios fundamentais

Podemos eleger como princípios que pautam a presente discussão: a


educação, o trabalho, a igualdade, a vida plena, a inclusão e o
desenvolvimento sociais, além de uma dimensão coletiva da existência
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desenvolvimento sociais, além de uma dimensão coletiva da existência


humana. A educação como princípio implica em reconhecer um direito
à formação de indivíduos críticos, de cidadãos efetivamente, em vez de
se pensar a educação como mero direito de acesso a um punhado de
conteúdos mais ou menos coesos, muito bem apartados em disciplinas
e burocratizados.

Também o trabalho, entendido em sua integralidade como atividade


que efetiva a humanidade em nós, representa uma contribuição
inestimável que une cada indivíduo à sociedade a qual pertence. Como
elos de uma imensa corrente não apenas sincrônica (que é como
quando pensamos a divisão do trabalho tecnocrata e
superespecializada da sociedade capitalista contemporânea), mas que
se desenrola na linha do tempo, através da história, como acúmulo de
conhecimento, de técnica e de tecnologia.

Estes princípios relacionados à integralidade são mais adequados para


se alcançar uma vida plena, digna, em que a satisfação esteja
resguardada nos múltiplos aspectos da existência: no trabalho, no
processo de ensino-aprendizagem, no plano social e coletivo e na
realização individual como parte de um todo. Para tanto, a inclusão
precisa ser tomada como um valor inegociável.

O conto clássico São Julião


Hospitaleiro, de Gustave Flaubert,
apresenta-nos uma analogia

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apresenta-nos uma analogia


interessante. Julião era um
menino nobre que havia sido
criado por seus pais para ser um
homem virtuoso. A ele foi
ensinada a arte da caça, dentre
outras habilidades caras àquela
cultura. O rapaz cresce corajoso e
afeito às artes aprendidas. Possui
vastas coleções de animais de
caça e armas que, com o tempo, Detalhe de Paisagem com caça ao coelho, por
passam a compor com ele uma Pieter Brueghel.

espécie de máquina mortífera.

É quando Julião é tomado por


uma desmedida das suas
próprias destrezas e acaba
incorrendo num desequilíbrio:
raiva, vontade de destruição.
Julião queria tomar todas as
vidas dos animais da floresta. Um
dia sai para caçar e extermina
muitos animais, vaidoso.

Gustave Flaubert
Gustave Flaubert (1821-1880) foi escritor francês, representante do Realismo. Talvez sua
mais importante obra seja a polêmica Madame Bovary, que quase o colocou atrás das grades.

Com sua espada e montado sobre o seu cavalo, corta as pernas de um


galo por diversão. Então chega a uma clareira onde há uma família de
cervos e mata todos.
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cervos e mata todos.

O cervo maior, tendo sido flechado na testa, lança-lhe um feitiço antes


de morrer: que ele terminaria por matar os próprios pais, como uma
forma de vingança da natureza contra o seu bruto excesso. É um alerta
sobre um encaminhamento que se abaterá contra Julião, que de fato,
termina por matar os pais, ainda que tente resistir a essa profecia.

Julião, este Édipo cristão da


literatura clássica francesa, só
alcança a redenção quando se
despe de si mesmo e acolhe um
mendigo leproso em sua casa,
com quem se deita em sua cama
para lhe aquecer o corpo na hora
derradeira da sua morte. Julião
será canonizado e ficará
conhecido por isso, com nome de
São Julião Hospitaleiro. E se é
mesmo possível estabelecer um
Édipo e Antígona, por Johann Peter Krafft
(1809). paralelo entre Julião e Édipo, o
que essa história nos ensina, por
meio da sensibilidade artística de
seu autor, é que uma
possibilidade de saída do
individualismo moderno é a
inclusão, aceitação incondicional
do outro em toda a sua alteridade.
Nisso consiste o pilar de uma
sociedade mais humanista.

A educação omnilateral pretende não apenas formar indivíduos com


múltiplas habilidades em diversos âmbitos da vida, mas viabilizar uma
sociedade mais harmônica, sem separações, exclusões. Uma
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sociedade mais harmônica, sem separações, exclusões. Uma


sociedade de princípios humanistas. Para tanto, é necessário que
indivíduos críticos possam dela participar politicamente.

É nesse sentido que Julião pode nos ajudar. A educação omnilateral


parte do pressuposto de que educação é um dispositivo que funciona
entre a produção e reprodução da sociedade. E que a consolidação de
uma sociedade humanista se dá pelo conhecimento clássico
acumulado historicamente, ou seja; pela apropriação do trabalho e da
história pelos homens. Não por alguns homens; uma minoria de
esclarecidos; mas pela massa.

O que na filosofia marxista se chama de superestrutura, isto é, a


dimensão cultural da sociedade (o conhecimento científico, filosófico,
artístico...), também está concentrado nas mãos de uma minoria, assim
como a infraestrutura, isto é, a dimensão material (terras, propriedades,
fábricas, maquinário). Uma educação omnilateral, assim, deve ter
sobretudo um caráter revolucionário: transformador do sistema de
exploração do trabalho e do alheamento humano característico da
sociedade capitalista.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão
Questão 11

O trabalho humano pode ser pensado em dois sentidos: um mais


largo, outro mais estrito, sendo esta última a acepção que circula no

senso comum. São eles, respectivamente:

A ocupação remunerada do indivíduo na sociedade e


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A ocupação remunerada do indivíduo na sociedade e


A a função que ele desempenha na sua vida pessoal e
afetiva, principalmente a familiar.

A produção de riqueza através do conhecimento


B acumulado ao longo dos tempos e a ocupação
remunerada do indivíduo na sociedade.

A produção em larga escala, geralmente caracterizada


C pela globalização; e a produção em âmbito nacional,
muitas vezes marcada pelo protecionismo.

O trabalho orgânico do próprio corpo para manter a


D vida e o trabalho rotineiro que fazemos para contribuir
com o meio em que vivemos.

A produção humana em todos os períodos históricos


desde que se estabeleceram as culturas civilizadas e
E
o trabalho animal como as colmeias e mesmo aqueles
usados pelos chimpanzés.

Parabéns! A alternativa B está correta.

No senso comum, trabalho é sinônimo de ocupação no mercado, mas


em termos gerais, sociológicos e históricos, podemos conceber o
trabalho como a produção de riquezas que vai se tornando mais
sofisticada com o tempo graças ao acúmulo de conhecimento.

Questão
Questão 22

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O individualismo moderno é uma dimensão cultural fundamental do


capitalismo, por que a lenda do conto de Flaubert pode ser tomada
como uma crítica à desmedida individualista?

Porque revela o seu aspecto violento e aponta a ética


A
da inclusão como possibilidade de redenção.

Porque mostra como o homem pode ser mais frágil


B que o animal, uma vez que o cervo lança um feitiço
em Julião.

Porque trabalha com categorias polares: dentro/ fora;


C
certo/errado; bom/ mau.

Porque o individualismo moderno, representado na


psicanálise pelo mito de Édipo, é a única força capaz
D
de subverter as bases do sistema de exploração
capitalista.

Porque o conto de Flaubert anuncia a derrocada


E
capitalista e com ela o recuo da cultura individualista.

Parabéns! A alternativa A está correta.

A violência do personagem Julião contra os animais representa uma


desmedida da sua virtude e habilidade para a caça, apenas o
acolhimento do outro necessitado e doente e a renúncia de si no

gesto de abraçá-lo libera Julião do seu sofrimento. A história pode ser


pensada então como fábula do problema do individualismo, cuja
transposição se dá pelo princípio da inclusão.

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3 - Educação na Era da Informação


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o planejamento e a oferta de educação
tecnológica.

Definição e breve histórico do


conceito de “educação tecnológica”

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Mudanças no mundo do trabalho e formação integral 03/11/2023, 16:37

O termo “educação tecnológica” aparece pela primeira vez na obra de


Karl Marx já em meados do século XIX. Faz parte do princípio da
omnilateralidade e se refere, em linhas gerais, à união da instrução ao
trabalho material produtivo, pois a erudição, apartada da roda da
produção de riquezas a serem coletivizadas a fim de contribuir para o
desenvolvimento humano global, não passaria de uma mera forma de
acumulação; mais uma, dentre todas aquelas que Marx denuncia.

Em 1866, Marx prepara um texto-manifesto para ser lido no Primeiro


Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores. Nele, o
autor fala sobre a importância da questão educacional para os
trabalhadores. Em um contexto, como o da Inglaterra pós-Revolução
Industrial, havia um novo e imenso fenômeno em franca expansão: o da
maquinaria industrial como marca maior do processo produtivo
modernizado. A ciência, representada pelas máquinas, entrava na
produção e compunha com a força humana, a matéria-prima da
economia.

Caso ainda não tenha ficado claro


o sentido e a importância do
fenômeno do alheamento do

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fenômeno do alheamento do
trabalhador em relação aos frutos
do seu trabalho, também
chamado de alienação do
trabalhador, podemos recorrer a
uma rápida comparação
explicativa: se o artesão do
sistema feudal ou o homem do
campo antes da mecanização,
por exemplo, dominavam todas
as etapas da produção (o
relojoeiro escolhia a madeira para
a confecção dos seus relógios,
montava seu mecanismo e vendia
o seu produto depois), o
trabalhador da fábrica, na linha de
montagem, apenas apertava o
botão, outro punha uma peça no
produto em construção que
passava pela esteira, outro
encaixotava e assim por diante.

Se, por um lado, o advento científico de que fala Marx tornou a


indústria capaz de criar produtos mais complexos e em grande
quantidade, por outro, o trabalhador perde a noção da forma de
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quantidade, por outro, o trabalhador perde a noção da forma de


construção do próprio produto que sai das suas mãos. É a divisão do
trabalho com uma especialização cada vez mais acentuada.

Assim, ao mesmo tempo em que havia um entusiasmo com a


modernização e uma expectativa de aumento da qualidade de vida pelo
aumento da oferta de produtos, o que se via acontecer era uma intensa
exploração da mão de obra não qualificada que trabalhava nas fábricas:
longas jornadas, condições insalubres de trabalho, ausência de direitos
trabalhistas que dessem garantias mínimas ao trabalhador e trabalho
infantil.

O manifesto ressaltava a
importância de as crianças serem
retiradas das fábricas e terem
acesso à educação pública e
gratuita. Para Marx, o tripé da
educação que deveria ser
destinada à classe trabalhadora
consistiria em: educação
intelectual, educação corporal e
educação tecnológica.

Esta última consiste na iniciação


em princípios gerais e de caráter
científico de todo o processo de
produção e, ao mesmo tempo,
inicia as crianças e adolescentes
no manejo de ferramentas
elementares dos diversos ramos
industriais (MARX, 1983, p. 60)
visando à unificação do ensino
com a produção material.

Percebemos assim que, para Marx, era urgente que a especialização


que alheava o trabalhador do seu próprio trabalho fosse revertida
através de uma educação que lhe devolvesse às rédeas dos saberes
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através de uma educação que lhe devolvesse às rédeas dos saberes


que organizam a produção.

Planejamento e oferta de educação


tecnológica na atualidade
Desde Marx, o termo “educação tecnológica” passou a assumir outros
sentidos, porque a tecnologia transformou-se demasiadamente desde o
século XIX. Se a expressão antes se referia ao conhecimento do
maquinário indispensável para que o trabalhador se apropriasse do
saber sobre a totalidade do processo produtivo, atualmente a
expressão aparece fortemente associada:

À ideia de um ensino técnico de Às ferramentas tecnológicas que


cunho profissionalizante. podem sem aplicadas em
 qualquer nível ou modalidade de
ensino.

Atenção

Alguns economistas nomeiam o momento histórico econômico em que vivemos de 4ª


Revolução Industrial, ou Indústria 4.0. Este momento seria caracterizado por uma
transição importante do modo de produção atual para uma outra forma de organização
econômica e social, fortemente pautada na incorporação de inovações tecnológicas.

De fato, todos acompanhamos as rápidas transformações que a


tecnologia viabiliza nos modos de vida ocidentais. No nível industrial, a
aplicação tecnológica galopa com a utilização de inteligência artificial,
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aplicação tecnológica galopa com a utilização de inteligência artificial,


big data (uso de grandes volumes de dados que permite, além de outras
coisas, identificar precisamente perfis de consumidores, por exemplo),
robótica e nanotecnologia, que produzem uma espiração de informação
e desenvolvimento técnico sem precedentes na história. Sendo assim, a
educação e a gestão do seu perfil tecnológico pelos governos precisam
também dar conta das novas ferramentas.

A Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, órgão que faz


parte do Ministério da Educação, é responsável por coordenar,
implementar e regular as políticas públicas relacionadas à educação
profissional e tecnológica.

Entre as suas atribuições, consta a promoção de programas e ações


destinados ao desenvolvimento da educação profissional e tecnológica,
nos diferentes níveis e modalidades de ensino, especialmente em
relação à integração com o ensino médio, à educação de jovens e
adultos, à inovação, à educação a distância, à difusão do uso das
tecnologias educacionais e à certificação profissional de trabalhadores
(BRASIL, 2021a).

Esses programas ou ações da Secretaria preveem um alinhamento


entre as inovações tecnológicas incorporadas aos cursos e as
demandas do mundo do trabalho, bem como realizam investimentos do
Ministério da Educação em modernização das estruturas dos cursos
técnicos oferecidos por institutos federais. Um desses programas é o
Educação do Mundo 4.0, idealizado para responder às necessidades da
chamada Quarta Revolução Industrial – a Revolução Digital.

Apesar de o nome ter surgido da


Indústria 4.0, a Educação 4.0 não
remete apenas a fábricas ou

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remete apenas a fábricas ou


linhas de produção, tendo em
vista que seus impactos afetam
todos os setores da sociedade
que possam ter seus processos
automatizados e/ou digitalizados,
ao transformar a relação
estabelecida entre as pessoas e
as máquinas, com a geração de
inúmeras possibilidades de
inovações.

O modelo é baseado na solução de problemas, em especial os


potencializados pelas demandas futuras da sociedade como um todo,
que requererão o desenvolvimento de habilidades fundamentais para
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que requererão o desenvolvimento de habilidades fundamentais para


esta nova ordem, tais como criatividade, empreendedorismo,
competências socioemocionais, entre outras (BRASIL, 2021b).

A articulação entre a “educação tecnológica” e a omnilateralidade no


manifesto dos trabalhadores do século XIX possui muitas relações
com a forma como essas questões se manifestam, articuladas, na
sociedade atual. A tecnologia atualmente promete avanços na
sociedade e na cadeia produtiva, ou seja; no mundo do trabalho, que
apenas uma formação que contempla múltiplas competências do
indivíduo pode atender.

Mas para que o projeto de uma sociedade melhor se realize; melhor no


sentido de que todos possam usufruir dos adventos técnicos e
tecnológicos com melhorias substanciais na qualidade de vida, é
preciso que a dimensão do humano seja priorizada em relação à busca
do lucro. Uma educação omnilateral precisa de uma nova relação com
os conteúdos culturais. Se a circulação de conteúdos tem sido
potencializada pela comunicação e interação humanas mediadas pelas
tecnologias, é preciso que haja uma apropriação plena desses mesmos
conteúdos, ou seja, livre de soberanos interesses de mercado pelo
lucro. Este ponto ficará mais claro adiante.

Indústria cultural, fragmentação e


reprodução de conteúdos

A chamada Escola de Frankfurt, aproveitando-se de conceitos da


filosofia de Marx aos da filosofia de Weber, propôs pensar que a mesma
produção em massa aplicada nas fábricas do séc. XIX passou a ser
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produção em massa aplicada nas fábricas do séc. XIX passou a ser


aplicada também à produção artística. Assim, se a obra de arte se
distingue de outros objetos pela sua autenticidade, que é o segredo da
sua “aura”, quando as empresas começam a se dedicar à produção e a
venda de arte, a arte é transformada em entretenimento.

Passando a ser reproduzidos para o consumo em massa, os objetos


artísticos precisam ser menos ousados e inovadores e mais triviais.

Ao mesmo tempo em que se tem


uma ampliação de acesso do
povo a bens culturais antes
apenas acessíveis às elites, o
objeto artístico massificado,
também empobrecido, tende a se
Instituto de Pesquisa Social da Universidade
tornar esvaziado da sua potência
de Frankfurt.
crítica. Da mesma forma, ele se
torna incapaz de formar
indivíduos críticos.

A lógica que governa a indústria cultural é simples: se um artista ou


produto artístico faz sucesso, há um investimento do capital em obras
e artistas que seguem aquele mesmo modelo, pois o retorno financeiro
daquele produto estará assegurado.

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O que se tem, no caso deste mercado, então, é um incentivo à


reprodução de conteúdos e não à produção criativa de conteúdos
novos. Estamos pensando aqui em conteúdos artísticos, mas podemos
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novos. Estamos pensando aqui em conteúdos artísticos, mas podemos


propor um paralelo com os conteúdos do ensino e da informação.
Guardadas as devidas especificidades de cada um desses nichos,
todos eles compõem a chamada superestrutura da sociedade
capitalista, sua dimensão cultural, imaterial e que possui estreita
relação com um determinado povo e o período histórico.

Assim como as redes sociais passaram a ter um papel importante na


difusão da informação, gerando algum tipo de crise no poder até então
hegemônico das grandes mídias, não se pode ignorar a importância das
novas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem. E mais ainda a
partir da pandemia de covid-19 quando a comunicação, trabalho e
estudo virtuais assumiram proporções muito maiores e foram
alavancados.

As redes sociais, os textos, as imagens e os vídeos hospedados em


plataformas públicas funcionam com base na mesma lógica de trocas
da superestrutura capitalista, que agora parece simplificada: a
produção em larga escala é pensada meramente em termos de
alcance. O número de visualizações de um conteúdo, ou seja, a
dimensão estimada da sua projeção, consolida-se como um grande
mediador das trocas, para além da moeda. Basta pensar que um
influenciador digital, ou mesmo qualquer pessoa anônima que alcance
visibilidade na internet, recebe brindes e presentes de empresas
multimilionárias para divulgar suas marcas: às vezes esses brindes são
carros, diárias em hotéis sofisticados, computadores e produtos de
luxo.

Atenção
Assim como se amplia o acesso ao bem imaterial artístico após a invenção da fotografia,
(que permite a reprodução das imagens em escala global), a educação pode chegar a
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(que permite a reprodução das imagens em escala global), a educação pode chegar a
mais alunos por meio da modalidade EAD, por exemplo, e a informação também sofre
algum grau de democratização. Pensamos nas últimas eleições presidenciais e em como
as opiniões políticas de pessoas comuns movimentaram a internet e o debate público de
forma inédita no país.

Também é preciso reconhecer que uma ampliação de acesso não


garante que os conteúdos relacionados à educação e aqueles ligados à
informação ou ao entretenimento chegarão em profundidade. Uma
especificidade dos conteúdos virtuais é a fragmentação.

Ao mesmo tempo em que há uma imensa oferta de saberes de todo o


tipo e muito mais acessíveis agora, o consumo tende a ser também
mais fragmentado. Proliferam nas redes vídeos de poucos segundos,
textos curtos, imagens, os “memes”, os conteúdos precisam ter uma
forma que garanta que não tomarão tanto tempo assim do consumidor,
porque, afinal de contas, há tanto a saber!

Este se torna um desafio dos processos atuais de difusão de conteúdo:


garantir a qualidade, a substância, a apropriação em profundidade dos
conteúdos ofertados de forma ampla e caótica a partir da sua projeção
pelas novas tecnologias.

 Lógica da Indústria Cultural

Agora assista a um vídeo que apresenta de forma mais aprofundada a


lógica que movimenta e define a indústria cultural.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão
Questão 11

Compreender a importância da educação tecnológica no contexto do


trabalho e da formação dos trabalhadores é essencial quando
buscamos uma visão panorâmica do assunto. Nesse sentido, é
possível afirmar que

a educação tecnológica é um pressuposto da


A economia neoliberal, em que todos os trabalhadores

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conhecem o processo produtivo em sua integralidade.

a educação tecnológica foi sugerida por Karl Marx no


B século XIX como meio de os empregadores romperem
com a alienação do seu trabalho.

a educação tecnológica é planejada e ofertada pelo


C Estado brasileiro a fim de formar mão de obra apta a
atuar no mercado de trabalho.

a educação tecnológica surgiu no século XXI com o


D advento da tecnologia como a robótica e a
nanotecnologia.

a educação tecnológica acaba produzindo um


problema cultural, pois afasta os educandos do
E
mundo real enquanto os deixa apenas mergulhados
nas novas tecnologias.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A educação tecnológica é oferecida não para, como defendia Marx,


entregar ao trabalhador as rédeas do conhecimento sobre o trabalho,
mas para produzir mão de obra qualificada para o mercado de
trabalho capitalista.

Questão
Questão 22

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A indústria cultural, embora possa ser apresentada e interpretada de


diversas maneiras, merece ser entendida, no contexto de nosso
presente estudo, em sua relação com a superestrutura no capitalismo
tardio. Assim, podemos afirmar sobre tal relação:

Produz conteúdos massificados, sem um caráter


crítico ou criativo muito importante, reproduzindo, em
A
larga escala, os objetos artísticos e transformando-os
em entretenimento.

Incentiva a autenticidade artística para atender a um


B
mercado restrito.

Sua produção em escala industrial vai na contramão


C
da difusão da informação por meio das redes sociais.

Elabora conteúdos complexos e se articula com o


D sistema educacional via Estado a fim de formar
indivíduos qualificados para atuar no mercado.

Investe em pontos de dissenso porque está


E comprometida com o estabelecimento de uma
sociedade sem classes.

Parabéns! A alternativa A está correta.

A indústria cultural produz conteúdos em escala industrial a partir da

repetição de um mesmo modelo a fim de alcançar mais lucro com a


arte, que, assim, perde seu potencial emancipatório e torna-se mero
distrativo.

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4 - Educação e transformação social


Ao final deste módulo, você será capaz de relacionar a formação integral e ominilateral à uma
concepção mais ampla de educação.

Formação omnilateral e formação


integral

Temos discutido até aqui o caráter integral da formação omnilateral e,


portanto, “educação integral” e “educação omnilateral” aparecem mais
ou menos como sinônimos. Mas há uma diferença crucial, segundo
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ou menos como sinônimos. Mas há uma diferença crucial, segundo


alguns autores, que será abordada neste módulo a fim de melhor
caracterizar a dita “educação integral”, tal como este conceito é
apropriado contemporaneamente no Brasil.

No Brasil, sobretudo na segunda metade do século XX, ampliou-se a


discussão sobre educação integral. O educador Anísio Teixeira
desempenhou importante papel nesse processo com as experiências
que desenvolveu a partir da década de 1930. Posteriormente, Darcy
Ribeiro, que se considerava continuador do legado de Anísio Teixeira,
implantou no Rio de Janeiro os Centros Integrados de Educação
Pública (CIEP), nos anos 1980.

Na primeira década do século XXI, retomou-se a discussão acerca das


políticas de educação integral e tempo integral, partindo novamente do
pressuposto de que ela possui importante papel no combate às
desigualdades sociais. Ou seja, manteve-se o ideal redentor da
educação como forma de escamotear as profundas desigualdades
sociais e econômicas que, essencialmente, estão na origem das
desigualdades educacionais (SILVA, 2015, p. 218).

Atenção

Uma educação omnilateral é, portanto, impossível no âmbito do sistema capitalista de


exploração (SILVA, 2015). Por isso, a educação integral tem sido tomada aqui numa
dimensão mais superficial, confundida com educação em tempo integral, como a proposta
do Manifesto dos Pioneiros da Educação (1932).

Manifesto dos Pioneiros da Educação


“O direito de cada indivíduo à sua educação integral decorre logicamente para o Estado que o
reconhece e o proclama, o dever de considerar a educação, na variedade de seus graus e
manifestações, como uma função social e eminentemente pública, que ele é chamado a
realizar, com a cooperação de todas as instituições sociais” (BRASIL, 2010, p.43).

Nos anos 1980, os CIEPs também


previam uma ampliação da
jornada escolar. E muito embora

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jornada escolar. E muito embora


essas propostas estivessem
comprometidas com a
democratização do acesso à
escola pública no Brasil, elas não
colocam em questão o modo de
produção capitalista como
gerador de desigualdades sociais,
apenas procuravam amenizar os
abismos de classe e mazelas
sociais como desemprego, fome
CIEP Nelson Rodrigues, em Nova Iguaçu (RJ).
e subdesenvolvimento por meio
da inclusão de crianças e jovens
ao contexto formativo das
escolas públicas brasileiras.

A formação integral na
perspectiva marxista, pensada em
sua omnilateralidade, ou seja,
uma formação que abarca “todos
os lados”, está implicada na ideia
de uma educação revolucionária,
ou seja, capaz de modificar a
estrutura do modo capitalista de
produção.

CIEPs
“Ao invés de escamotear a dura realidade em que vive a maioria de seus alunos, proveniente
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“Ao invés de escamotear a dura realidade em que vive a maioria de seus alunos, proveniente
dos segmentos sociais mais pobres, o CIEP compromete-se com ela, para poder transformá-
la. É inviável educar crianças desnutridas? Então o CIEP supre as necessidades alimentares
dos seus alunos. A maioria dos alunos não tem recursos financeiros? Então o CIEP fornece
gratuitamente os uniformes e o material escolar necessário. Os alunos estão expostos a
doenças infecciosas, estão com problemas dentários ou apresentam deficiência visual ou
auditiva? Então o CIEP proporciona a todos eles assistência médica e odontológica” (RIBEIRO,
1986, p. 48).

A educação integral, como se usa chamar no Brasil, desde o século


passado, quando começa a haver algumas tentativas de aplicação de
uma educação mais ampla dos indivíduos, é ainda comprometida com
a ordem social e econômica vigente. Ela não é revolucionária,
portanto. Muito pelo contrário, está preocupada em fornecer
trabalhadores mais bem capacitados para atuarem neste nosso
sistema.

A cultura e a ciência estariam a serviço do capital desde que a entrada


no indivíduo no mercado no trabalho é orientada por relações de
dominação estruturais. A própria ciência baseia-se em uma relação de
dominação que o homem estabelece sobre a natureza (ADORNO;
HORKHEIMER, 1995). A separação entre sujeito e objeto de
conhecimento é a condição da produção do conhecimento objetivo, que
caracteriza o conhecimento científico.

Para enfatizar essa perspectiva, o


mito de Ulisses, da obra Odisseia,
de Homero, é utilizado como
metáfora do ímpeto de
dominação que alicerça o
Ulisses e as sereias, por John William
conhecimento científico que
Waterhouse (1891).
fincará suas bases na cultura
ocidental com o Iluminismo
(ADORNO; HORKHEIMER, 1995).

Ulisses queria ouvir o canto das sereias, mas o canto era mortal. Todos
os homens que se metiam nas embarcações e se aventuravam no mar
terminavam por sucumbir ao chamado glorioso do canto daquelas
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terminavam por sucumbir ao chamado glorioso do canto daquelas


criaturas maravilhosas: os homens se atiravam ao mar, enfeitiçados.
Mas Ulisses é um herói escolado nos usos da lógica e da razão e
decide que ele próprio será capaz de ouvir o canto, mantendo-se vivo,
afinal. Ele amarra-se ao mastro do barco e coloca escravos para
remarem com os ouvidos selados por cera de abelha.

Assim, o herói vai ao mar, ouve o canto e sobrevive, graças ao emprego


inteligente das técnicas. Ele burla as regras simplórias na natureza
representada pelos seres mitológicos que são as sereias. Uma espécie
de espólio do misterioso, alcance engenhoso do inacessível. E ele não
apenas “doma” a natureza assim fazendo. Seu conhecimento só é
possível graças à dominação de outros homens, seus escravos,
submetidos ao seu projeto de saber.

As formas de conhecimento
anteriores ao filosófico-científico
(ADORNO; HORKHEIMER, 1995)
eram estabelecidas por relações
mais lateralizadas e menos
hierarquizadas. As sacerdotisas,
Consultando o Oráculo, por John William
dizem os autores, não podiam
Waterhouse (1884).
realizar certos encantamentos se
estivessem em algumas fases
específicas do seu ciclo
menstrual.

Isso era assim porque se pensava que os seus próprios corpos


estavam implicados nos rituais mágicos, não havendo uma separação
tão grande entre o “sujeito de conhecimento” (a sacerdotisa) e o “objeto
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tão grande entre o “sujeito de conhecimento” (a sacerdotisa) e o “objeto


de conhecimento” (a natureza, sobre a qual se pretendia intervir
mediante os encantamentos).

Por outro lado, como a figura de Ulisses, o cientista no laboratório


possui outro tipo de relação com os objetos que ele manipula e que
constituem o seu saber. Eles possuem condições ótimas de atuação
no experimento; reações isoladas, controladas graças a uma
separação do sujeito em relação àquilo a que ele se propõe a conhecer.
O jaleco branco do cientista é símbolo dessa pureza, dessa separação
radical.

O procedimento matemático tornou-se, por assim


dizer, o ritual do pensamento, apesar da
autolimitação axiomática, ele se instaura como
necessário e objetivo: ele transforma o
pensamento em coisa, em instrumento, como ele
próprio o denomina. Mas com essa mimese, na
qual o pensamento se iguala ao mundo, o factual
tornou-se agora a tal ponto a única referência, que
até mesma a negação de Deus sucumbe ao juízo
sobre a metafísica (...) Não há nenhum ser no
mundo que a ciência não possa penetrar, mas o
que a ciência penetra não é o ser.

(ADORNO & HORKHEIMER, 1995, p. 15)

Educação para a vida e a


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Educação para a vida e a


importância do entorno
A educação para a vida é pensada como uma troca constante e
equilibrada de saberes por meio de uma jornada de conhecimento na
qual o indivíduo aprende com a experiência e compõe a si mesmo
mediante um saber amplo e profundo que lhe permite conhecer a si
mesmo e ao outro, em relação. Trata-se de uma formação que supera o
conteudismo desde que se pensa na aplicabilidade dos saberes
adquiridos, assim como se pensa que o processo de conhecimento
está para além das instituições de ensino.

Atenção

De acordo com essa proposta pedagógica, os conceitos devem ser trabalhados a partir da
vivência e não de forma abstrata e descolada da realidade. Sendo assim, é preciso que
haja uma pluralidade de propostas, adaptáveis às mais diversas realidades. Existe,
portanto, também uma pluralidade de linguagens e uma valorização da
interdisciplinaridade.

A educação para a vida problematiza então as estruturas curriculares


de ensino, o que não significa necessariamente abdicar delas por
completo. É que existe aqui o princípio da integralidade do saber,
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completo. É que existe aqui o princípio da integralidade do saber,


pensando-se os sujeitos de forma, ao mesmo tempo física e emocional,
além de intelectual. Valoriza-se, assim, a autonomia do indivíduo em
formação e o seu protagonismo no processo de conhecimento, que
fará com que a própria experiência subjetiva paute as buscas do
educando.

No Brasil, algumas escolas aplicam essa proposta,


contemporaneamente, principalmente no ensino básico. Nelas, é
comum utilizar-se, como recurso didático, os usos de experimentos
extraclasse, denominadas estudos do meio. Essas escolas possuem
uma forte inclinação à educação ambiental, uma vez que o meio passa
a ser alvo de atenção: como o educando se apropria do meio que o
rodeia, como se relaciona com ele, incluindo os mais diversos tipos de
interação: com a natureza, com os objetos, com a cultura, com outras
pessoas etc.

Pretende-se provocar reflexões a partir dessa troca com o entorno, da


epiderme ao cosmo. É uma tentativa de eliminar, ou pelo menos
minimizar, a ruptura que geralmente é colocada entre o homem e a
natureza.

É justamente essa ruptura que podemos identificar quando vimos que a


exploração do modo de produção capitalista é apenas uma pequena
parte de um fenômeno histórico e cultural muito mais profundo. Tem a
ver com a forma de conhecer que foi sendo gestada como exploratória;
relações de exploração estão em toda parte, mediando a percepção
humana há muitos séculos. Os homens exploram o meio, a natureza, os
outros homens. Exploram as mulheres, as crianças, os animais.
Impõem-se sobre os mais fracos, criam fraquezas. Trata-se de um
sistema cultural e econômico que pode ser pensado como uma
máquina produtora de fraquezas, de vulnerabilidades: os negros, os
latinos, os homossexuais, os pobres etc.

Comentário
Para o método de estudos do meio, contudo, as vivências dos participantes precisam ser
muito bem planejadas, pois todas as condições do local escolhido, além da duração das
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muito bem planejadas, pois todas as condições do local escolhido, além da duração das
atividades, deslocamento etc. interferem no processo de aprendizagem. É aqui que os
estudos do meio se aproximam da prática do trabalho de campo acadêmico-científico
(sobretudo nas áreas de Antropologia, Geografia e Biologia).

Surge assim as questões: o cuidado no planejamento não haverá, ele


mesmo, de interferir na capacidade de afetar e ser afetado pelo
imponderável da natureza? O planejamento detalhado não será uma
forma de controle que está na raiz do problema que se procura sanar?

Por outro lado, é claro que tirar o aluno do ambiente protegido da sala
de aula é um passo importante para essa conexão que se pretende
recuperar. Uma formação integral precisa, antes de mais nada, exercitar
a sensibilidade do corpo que pensa em todas as suas possibilidades de
sentir: olhar, cheirar, tocar, sentir os gostos. Esse estímulo dos sentidos
que um ambiente desprotegido, novo, aberto pode proporcionar ao
indivíduo em formação é a mais poderosa ferramenta contra a
produção dos “corpos dóceis”, aqueles disciplinados e controlados,
cuja capacidade criativa vai sendo minada pelo sistema em favor do
desenvolvimento de habilidades que concorrem para a mera
reprodução.

Educação escolar e transformação


 social

Assista agora a um vídeo que apresenta, a partir de um relato pessoal, o


potencial transformador da educação escolar.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão
Questão 11

A formação omnilateral distingue-se do conceito de educação integral


aplicado no Brasil a partir da década de 1930 pelo seguinte aspecto:

A educação omnilateral marxista era sinônimo de


A
educação em tempo integral.

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A educação omnilateral é reformista, mas fracassa


B
em promover as transformações sociais idealizadas.

A educação omnilateral é revolucionária e sua


C aplicação só é possível junto com a efetivação de um
projeto de sociedade igualitária.

A educação integral contempla o ensino de


tecnologias e a educação omnilateral, porque durante
D
a Primeira Revolução Industrial não havia tecnologia
no processo de produção.

A educação integral se estabelece como uma forma


de dominação saudável da natureza e do homem pelo
E homem, enquanto a formação omnilateral acaba por
se traduzir numa relação de saber violenta do sujeito
sobre o objeto de conhecimento.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A educação omnilateral prevê a abolição das múltiplas formas de


dominação e é, portanto, revolucionária do sistema socioeconômico
capitalista e não apenas reformista.

Questão
Questão 22

É correto dizer que a educação para a vida pode ser pensada como
método de ensino-aprendizagem ou proposta pedagógica que

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desencoraja a autonomia dos educandos pois adere a


A uma concepção tradicional e hierárquica da
transmissão de conhecimento.

utiliza os chamados estudos do meio ou trabalho de


campo a fim provocar o contato do educando com o
B
entorno extraclasse, usando todos os sentidos do
corpo.

aplica o disciplinamento e o controle dos corpos dos


C
aprendizes.

aborda a questão ambiental pelo ensino de conceitos


D
abstratos.

trabalha com uma vivência selvagem dos ambientes


E que explora a fim de que os indivíduos tenham um
contato espontâneo com as alteridades.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A educação para a vida rompe com a concepção de corpos dóceis,


enquanto persegue uma maior liberdade e autonomia dos alunos,
ancorando os conceitos na prática do campo onde há os estímulos
dos cinco sentidos da percepção do aluno.

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Considerações finais
Como vimos, o mundo do trabalho está articulado às práticas
pedagógicas e à estrutura do ensino em determinada sociedade.
Assim, a formação profissional pode ser emancipatória e potente no
sentido de criar realidades mais adequadas à vida da coletividade, ou
reprodutora dos processos exploradores e excludentes que
caracterizam o modo de produção capitalista.

Uma educação em sentido amplo, que dê conta das várias dimensões


da vida e prepare sujeitos críticos capazes de agir politicamente,
precisa considerar aspectos corporais, emocionais, ambientais,
culturais, além dos conceitos. Uma concepção de conhecimento que se
estabelece por meio do ímpeto de dominação de sujeitos sobre objetos
não é capaz de viabilizar uma educação integral.

 O trabalhador e seu meio


Ouça agora a Profª. Dra. Natânia Lopes discorrer a cerca da importante
relação que há entre capital cultural, formação tecnológica e o meio em
que os indivíduos vivem.

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Pesquise o artigo A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade
Técnica e veja como o filósofo Walter Benjamin, da Escola de Frankfurt,
aborda o papel da fotografia na reprodução em larga escala das obras
de arte.

Pesquise os poemas do livro A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de


Andrade, que refletem sobre a exploração capitalista.

A Dissertação de Mestrado Um olhar intertextual em "A legenda de São


Julião Hospitaleiro" de Gustave Flaubert, de Joceli Pereira, traz uma
interessante reflexão sobre a obra utilizada neste conteúdo.

O Artigo O erro fatal de Marx e Smith: o lucro não é deduzido do salário;


o salário é que é deduzido do lucro, do Economista Wladimir Kraus, traz
interessante contraponto acerca das visões clássicas econômicas.

Em Entrevista: Cláudia Valentina Assumpção Galian, do canal Educação


& Participação, encontramos a posição dessa acadêmica acerca dos
fundamentos da educação integral e sua ligação com currículo.

Referências
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Janeiro: Jorge Zahar, 1995.

BOURDIEU, P. Escritos de Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Manifesto dos Pioneiros da Educação


Nova (1932). Recife: Massangana, 2010.

BRASIL. Ministério da Educação. Programas e ações da Secretaria de


Educação Profissional e Tecnológica. Brasília: SETEC, 2021a.

BRASIL. Ministério da Educação. Educação no mundo 4.0. Brasília:


SETEC, 2021b.

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CENTENO, M.; TIMÓTEO, M. S. A. Perspectiva Histórica da Educação


Profissional: do Brasil república aos dias atuais. In: Revista Gestão
Universitária, São Paulo: 2013.

DELLA FORTE, S. A formação Humana em debate. Educação e


Sociologia. Campinas, v. 35, n. 127, p. 379-395, abr.-jun. 2014.

DURHAM, E. R. O Ensino Superior no Brasil: público e privado.


Documento de Trabalho USP. São Paulo: NUPES, 2003.

FONSECA, P. Recrutamento forçado para a Armada Imperial nas


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história marítima do Brasil. Rio de Janeiro, V. 12, n. 23, p. 125-134 –
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FRIGOTTO, G. Concepções e Mudanças no Mundo do Trabalho e Ensino


Médio. Salvador: CETEB, 2013.

GARCIA, S. R. O. O Fio da História: a gênese da formação profissional


no Brasil. Anais de Seminário da 23ª Reunião Anual da Anped. Rio de
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HORIKAWA, A. Y. Formação de Professores: perspectiva histórica e


concepções. In: Revista Brasileira de Pesquisa Sobre Formação
Docente. Belo Horizonte, v. 7, n. 13, p. 11-30. 2015. Consultado na
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SILVA, P. A. D. Omnilateralidade e as Concepções Burguesas de


Educação Integral. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. 65, p.218-
227, out. 2015. Consultado na internet em: 1º set. 2021.

WEBER, M. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo:


Martin Claret, 2005.

https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02624/index.html# Página 64 de 65
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