Aspectos Morfológicos, Geográficos e Ecológicos Relacionados à Evolução dos Tetrapoda
Os Tetrapoda compõem uma superclasse dentro dos Chordata, os primeiros tetrápodes
datam há 360 milhões de anos, no final do Devoniano. Os gêneros Acanthostega e Ichthyostega são os representantes fósseis conhecidos como os primeiros Tetrapoda, estes fósseis mostram que eram animais muito parecidos com os peixes. Algumas evidências sugerem que estes animais surgiram em ambientes de águas salobras, lagoas costeiras e banhados rasos, porém, foi no período devoniano que a Laurásia e Gondwana foram separadas por oceano, portanto, os tetrápodes podem ter evoluído também em ambientes marinhos. Os apêndices locomotores pares distintos e porção proximal dos apêndices com osso único e dois ossos na porção distal são as sinapomorfias deste grupo. As condições ecológicas e geográficas do período Devoniano são fundamentais para entendermos a evolução desse grupo de animais. No devoniano superior ocorre a diversidade e especificidade de habitats das floras; as plantas vasculares, gastrópodes pulmonados e artrópodes traqueados conquistaram o espaço terrestre antes dos vertebrados, impondo novas forças seletivas e constituíram a fonte alimentar dos vertebrados terrestres. A partir do Devoniano os continentes derivaram em conjunto, os blocos continentais, correspondentes a partes moderna da América do Norte, Groenlândia e oeste da Europa, aproximaram-se ao longo do equador, posteriormente ocorre a adição da Sibéria, formando o supercontinente da Laurásia; a maior parte de Gondwana situava-se sobre o Polo Sul e sua margem setentrional estava separada da parte austral da Laurência por uma estreita porção do Mar de Tethys. Ocorreram algumas glaciações no Devoniano Superior, a dispersão das plantas, que promoveram a formação dos solos, é um fator que influenciou intensamente o esfriamento do clima e a diminuição do CO2 na atmosfera da terrestre. A transição do ambiente aquático para o terrestre ocorreu ao longo de milhões de anos, devido a uma serie de alterações que adaptaram o plano corporal dos vertebrados para a vida na terra. Por estarem invadindo um habitat fisicamente inóspito, a disponibilidade de oxigênio, densidade, termorregulação e diversidade de habitat são diferenças físicas importantes; a origem da vida ocorreu na água, os animais são maioritariamente compostos de água e invadiram a terra levando essa composição. O aumento da vascularização da cavidade de ar com uma rede vasta de capilares para originar um pulmão efetivo e a circulação dupla para direcionar o sangue desoxigenado no sentido dos pulmões e o sangue oxigenado dos pulmões para os outros tecidos corporais são as adaptações características desses animais para a respiração aérea. Muitas das mudanças anatômicas observadas nessa transição podem ser entendidas como adaptações à vida em águas rasas. Os Sarcopterygii são considerados os peixes ancestrais de todos os Tetrapoda, que sobrevivem hoje como peixes pulmonados e os celacantos. O desenvolvimento dos membros dos tetrápodes ocorre ainda em habitat aquático, a partir das nadadeiras lobadas desses peixes. A nadadeira anterior de Eusthenopteron, um gênero de sarcopterígio, continha um osso proximal (úmero) e dois ossos distais (rádio e ulna), além de elementos ósseos homólogos aos ossos do pulso dos tetrápodes, esses peixes não eram capazes de caminhar em postura ereta pela limitação dos movimentos das nadadeiras, mas podiam rastejar no fundo dos charcos. O gênero Tiktaalik foi como um intermédio entre os Sarcopterygii e Tetrapoda, eles habitavam correntezas ou pântanos rasos e utilizavam seus apêndices locomotores para sustentar o corpo e manter o focinho acima da superfície da água para respirar porque estes ambientes eram pobres em oxigênio, além de provavelmente terem sido capazes de cruzar pequenas distâncias em terra. Os Acanthostega possuíam 8 dígitos (dedos) bem desenvolvidos e Ichthyostega possuíam sete dedos nos membros posteriores, isso demonstra que o padrão pentadáctilo, observado nas formas vivas de Tetrapoda, surgiu posteriormente na evolução deles. Os membros de Acanthostega eram de certa forma frágeis para o deslocamento em terra, mas os Ichthyostega dispunham de diferentes adaptações para a vida na terra, além dos membros articulados, como vertebras mais fortes, músculos associados à sustentação do corpo no ar e à elevação da cabeça, caixa torácica protetora, cinturas pélvica e escapular reforçadas, estrutura do ouvido modificada para detecção do som disperso no ar, encurtamento da região anterior do crânio e alongamento do focinho, ainda assim, assemelhavam-se às formas aquáticas por apresentarem cauda completo com raios de nadadeiras e ossos operculares bem desenvolvidos cobrindo as brânquias. No início do Carbonífero, os tetrápodes se dividiram em diferentes linhagens e tipos ecológicos, distinguidas pela forma na qual a calota craniana é posicionada em relação à porção caudal do crânio, a linhagem dos batracomorfos e os reptilomorfos. No final deste período aparecem os ancestrais imediatos dos principais grupos de amniotas, animais pequenos e ágeis que provavelmente se alimentavam de invertebrados terrestres por apresentarem modificações no esqueleto e nas mandíbulas. No final do Permiano e no Triássico diminuiu a diversidade dos tetrápodes não amniotas, no início da Era Cenozóica, as linhagens de Amphibia que observamos atualmente eram os únicos não amniotas sobreviventes. Desde o final da era Paleozóica os amniota são os tetrápodes dominantes, o que pode ser explicado pelo fato de terem se estabelecido em zonas previamente ocupadas por não amniotas, desenvolvendo especializações de locomoção e alimentação não desenvolvidas nos outros Tetrapoda.