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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
DE ENFERMAGEM

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
DE ENFERMAGEM

MÓDULO I

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são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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SUMÁRIO

MÓDULO I
1 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
2 CONCEITO DE SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E
PROCESSO DE ENFERMAGEM
3 BASES LEGAIS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA SISTEMATIZAÇÃO DA
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
3.1 CONSTITUIÇÃO FEDERATIVA DO BRASIL
3.2 LEI N° 7.498/86
3.3 DECRETO Nº 94.406/86
3.4 RESOLUÇÃO COFEN N° 311/2006
3.5 RESOLUÇÃO COFEN Nº 159/1993
3.6 RESOLUÇÃO COFEN N° 267/2001
3.7 RESOLUÇÃO COFEN N° 272/2002
3.8 PORTARIA COFEN N° 19/2006
3.9 RESOLUÇÃO COFEN N° 358/2009
4 IMPLANTAÇÃO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM
4.1 PRIMEIRO PASSO
4.2 INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA A ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO DE
ENFERMAGEM
4.3 PAPEL DO GERENTE DE ENFERMAGEM
4.4 COMPETÊNCIA DO GERENTE
4.5 ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA
5 TEORIAS DE ENFERMAGEM
5.1 COMO SE CONSTITUI UM PROCESSO DE ENFERMAGEM
6 INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DE ENFERMAGEM
6.1 TEORIA DE FLORENCE NIGHTINGALE
6.2 TEORIA DE DOROTHEA E. OREM
6.3 TEORIA DE IMOGENE M. KING

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6.4 TEORIA DE BETTY NEUMAN
6.5 TEORIA DE MADELEINE M. LEININGER
6.6 TEORIA DE VIRGINIA HENDERSON
6.7 PROCESSO DE ENFERMAGEM DE WANDA DE AGUIAR HORTA
6.8 TEORIA DE MARGARET NEWMAN
6.9 TEORIA DE MARTA ROGERS
6.10 TEORIA DE CALLISTA ROY

MÓDULO II
7 INTRODUÇÃO
8 TÉCNICAS PARA EXAME FÍSICO
8.1 INSPEÇÃO
8.2 AUSCULTA
8.3 PALPAÇÃO
8.4 PERCUSSÃO
9 POSIÇÕES PARA EXAME FÍSICO
9.1 INSTRUMENTOS NECESSÁRIOS PARA REALIZAÇÃO DO EXAME FÍSICO
10 EXAME FÍSICO GERAL
10.1 TEMPERATURA CORPORAL
10.2 PRESSÃO ARTERIAL
10.3 PULSO
10.4 RESPIRAÇÃO
10.5 DADOS ANTROPOMÉTRICOS
11 AVALIAÇÃO MENTAL
11.1 FALA E LINGUAGEM
11.2 HUMOR
11.3 PENSAMENTO E PERCEPÇÃO
11.4 FUNÇÃO COGNITIVA
12 EXAME FÍSICO ESPECÍFICO
12.1 PELE
12.1.1 Função da Pele

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12.1.2 Composição
12.1.3 Coloração
12.1.4 Superfície, Integridade e Espessura
12.1.5 Suor
12.1.6 Apêndices Cutâneos
12.1.7 Anormalidades
12.1.8 Técnica do Exame
12.1.9 Inspeção
12.1.10 Palpação
12.1.11 Pesquisa de Manchas Cutâneas
12.1.12 Testes de Sensibilidade
12.1.13 Superfície, Espessura e Integridade
12.2 UNHAS
12.3 PELOS
12.4 CABEÇA
12.4.1 Técnicas de Exame
12.4.2 Inspeção e Palpação
12.5 PESCOÇO
12.6 TÓRAX E PULMÃO
12.7 CORAÇÃO
12.7.1 Exame Físico Cardíaco
13 MAMAS
13.1 MAMA MASCULINA
13.2 MAMA FEMININA
14 AXILAS
15 ABDOME
15.1 FÍGADO
15.2 BAÇO
15.3 RINS
16 GENITÁLIA FEMININA
16.1 TÉCNICAS DE EXAME
17 GENITÁLIA MASCULINA

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17.1 INSPEÇÃO E PALPAÇÃO
17.1.1 Região Pubiana
17.1.2 Pênis
17.1.3 Hérnias
18 RETO E ÂNUS
19 MEMBROS SUPERIORES E INFERIORES
19.1 TÉCNICAS DE EXAME
19.1.1 Inspeção
19.1.2 Palpação
20 SISTEMA NERVOSO

MÓDULO III
21 HISTÓRICO DE ENFERMAGEM
21.1 ESTRUTURA DO HISTÓRICO DE ENFERMAGEM
21.1.1 Coleta de Dados – Histórico
21.2 ENTREVISTA
21.2.1 Técnicas de Entrevista
21.3 EXEMPLOS DE HISTÓRICO DE ENFERMAGEM

MÓDULO IV
22 ESTRUTURA DE DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM
22.1 BREVE HISTÓRICO DOS DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM
23 DESENVOLVIMENTO DOS DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM
24 DESENVOLVIMENTO DE UMA TAXONOMIA
25 ESTRUTURA DA TAXONOMIA II (2009/2011)
26 EIXOS DA TAXONOMIA II
26.1 DEFINIÇÕES DOS EIXOS
26.1.1 Eixo 1: O Conceito Diagnóstico
26.1.2 Eixo 2: Sujeito do Diagnóstico
26.1.3 Eixo 3: Julgamento

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26.1.4 Eixo 4: Localização
26.1.5 Eixo 5: Idade
26.1.6 Eixo 6: Tempo
26.1.7 Eixo 7: Situação do Diagnóstico
27 COMPONENTES E TIPOS DOS DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM
27.1 TÍTULO
27.2 DEFINIÇÃO
27.3 CARACTERÍSTICAS DEFINIDORAS
27.4 FATORES DE RISCO
27.5 FATORES RELACIONADOS
28 TIPOS DE DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM
28.1 DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM REAL
28.2 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM DE PROMOÇÃO DE SAÚDE
28.3 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM DE RISCO
28.4 DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM DE BEM-ESTAR
29 EXEMPLOS DE DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM

MÓDULO V
30 PLANEJAMENTO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
31 IMPLEMENTAÇÃO DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM
31.1 PRESCRIÇÕES
32 ANOTAÇÕES DE ENFERMAGEM
32.1 ASPECTOS LEGAIS DA ANOTAÇÃO DE ENFERMAGEM
32.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS DAS ANOTAÇÕES DE ENFERMAGEM
33 EVOLUÇÃO DE ENFERMAGEM
33.1 EXEMPLO DE EVOLUÇÃO DE ENFERMAGEM
33.2 PRESCRIÇÕES E ANOTAÇÕES
34 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM – CONTROLE E
AVALIAÇÃO

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MÓDULO VI
35 MODELOS DE IMPRESSOS UTILIZADOS NA IMPLANTAÇÃO DA SAE
36 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS EM UTI NEONATAL
37 EXPERIÊNCIAS NA IMPLANTAÇÃO DA SAE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MÓDULO I

1 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

A sistematização da assistência de enfermagem é um processo


desenvolvido por enfermeiros que visa sistematizar, ou seja, dividir em etapas uma
série de cuidados, visando à obtenção de resultados para melhorar a eficiência e
agilidade de um atendimento com qualidade.
Durante muitas décadas, na maioria das instituições de saúde não havia ou
não era utilizado um método para sistematizar a assistência de enfermagem. Mas
com o tempo as enfermeiras sentiram necessidade de criar uma forma para ordenar
os cuidados prestados. No Brasil, na década de 70, Wanda de Aguiar Horta
formulou a Teoria das Necessidades Humanas Básicas e desenvolveu o processo
de enfermagem para aplicação na prática.
O enfermeiro, em sua rotina diária, sobrecarregado de atividades, parece
não priorizar o que é preconizado pela escola, ainda que estabelecido e apoiado
legalmente. As atividades de competência e as funções da enfermagem têm ficado
cada vez mais definidas pelos órgãos oficiais de legislação da profissão. Um
trabalho organizado e sistematizado pode demonstrar a força existente na categoria
profissional da enfermagem em produzir novos saberes, dirigir e planejar com
autonomia o seu fazer.
Por outro lado, o condicionamento do seu trabalho à prescrição de outra
categoria profissional traduz uma crise de identidade profissional, sendo necessária
e urgente a construção de novos conhecimentos que configurem independência e
autonomia para a enfermagem.
A resolução do COFEN n° 358/2009 dispõe sobre a sistematização da
assistência de enfermagem e a implementação do processo de enfermagem em

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ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional, e dá outras
providências.
Art. 1º O processo de enfermagem deve ser realizado, de modo
deliberado e sistemático, em todos os ambientes, públicos ou
privados, em que ocorre o cuidado profissional.
§ 1º – os ambientes de que trata o caput deste artigo referem-se a
instituições prestadoras de serviços de internação hospitalar,
instituições prestadoras de serviços ambulatoriais de saúde,
domicílios, escolas, associações comunitárias, fábricas, entre outros.
§ 2º – quando realizado em instituições prestadoras de serviços
ambulatoriais de saúde, domicílios, escolas, associações
comunitárias, entre outros, o processo de saúde de enfermagem
corresponde ao usualmente denominado nesses ambientes como
consulta de enfermagem.
Art. 2º O Processo de Enfermagem organiza-se em cinco etapas
inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes:
I – Coleta de dados de Enfermagem (ou Histórico de
Enfermagem) – processo deliberado, sistemático e contínuo,
realizado com o auxílio de métodos e técnicas variadas, que tem por
finalidade a obtenção de informações sobre a pessoa, família ou
coletividade humana e sobre suas respostas em um dado momento
do processo saúde e doença.
II – Diagnóstico de Enfermagem – processo de interpretação e
agrupamento dos dados coletados na primeira etapa, que culmina
com a tomada de decisão sobre os conceitos diagnósticos de
enfermagem que representam, com mais exatidão, as respostas da
pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do
processo saúde e doença e que constituem a base para a seleção
das ações ou intervenções com as quais se objetiva alcançar os
resultados esperados.
III – Planejamento de Enfermagem – determinação dos resultados
que se espera alcançar e das ações ou intervenções de enfermagem
que serão realizadas face às respostas da pessoa, família ou
coletividade humana em um dado momento do processo saúde e
doença, identificadas na etapa de Diagnóstico de Enfermagem.
IV – Implementação – realização das ações ou intervenções
determinadas na etapa do Planejamento de Enfermagem.
V – Avaliação de Enfermagem – processo deliberado, sistemático e
contínuo de verificação de mudanças nas respostas da pessoa,
família ou coletividade humana em um dado momento do processo
saúde doença, para determinar se as ações ou intervenções de
enfermagem alcançaram o resultado esperado e de verificação da
necessidade de mudanças ou adaptações nas etapas do Processo
de Enfermagem.
Art. 3º O Processo de Enfermagem deve estar baseado num suporte
teórico que oriente a coleta de dados, o estabelecimento de
diagnósticos de enfermagem e o planejamento das ações ou
intervenções de enfermagem; e que forneça a base para a avaliação
dos resultados de enfermagem alcançados.
Art. 4º Ao enfermeiro, observadas as disposições da Lei nº 7.498, de
25 de junho de 1986 e do Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987,
que a regulamenta, incumbe a liderança na execução e avaliação do
Processo de Enfermagem, de modo a alcançar os resultados de
enfermagem esperados, cabendo-lhe, privativamente, o diagnóstico
de enfermagem acerca das respostas da pessoa, família ou

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coletividade humana em um dado momento do processo saúde e
doença, bem como a prescrição das ações ou intervenções de
enfermagem a serem realizadas, face a essas respostas.
Art. 5º O Técnico de Enfermagem e o Auxiliar de Enfermagem, em
conformidade com o disposto na Lei nº 7.498, de 25 de junho de
1986, e do Decreto 94.406, de 8 de junho de 1987, que a
regulamenta, participam da execução do Processo de Enfermagem,
naquilo que lhes couber, sob a supervisão e orientação do
Enfermeiro.
Art. 6º A execução do Processo de Enfermagem deve ser registrada
formalmente, envolvendo:
a) Um resumo dos dados coletados sobre a pessoa, família ou
coletividade humana em um dado momento do processo saúde e
doença;
b) Os diagnósticos de enfermagem acerca das respostas da
pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do
processo saúde e doença;
c) As ações ou intervenções de enfermagem realizadas face aos
diagnósticos de enfermagem identificados;
d) Os resultados alcançados como consequência das ações ou
intervenções de enfermagem realizadas.
Art. 7º Compete ao Conselho Federal de Enfermagem e aos
Conselhos Regionais de Enfermagem, no ato que lhes couber,
promover as condições, entre as quais firmar convênios ou
estabelecer parcerias, para o cumprimento desta Resolução.
e) Art. 8º Esta Resolução entra em vigor na data de sua
publicação, revogando-se as disposições contrárias, em especial, a
Resolução COFEN nº 272/2002.

A atuação do enfermeiro, planejada e baseada em métodos racionais de


resolução de problema, permite uma ampliação e aperfeiçoamento de suas
atividades assistenciais. A sistematização da assistência de enfermagem organiza o
trabalho de enfermagem por meio da operacionalização de todas as fases da
metodologia de planejamento. A negligência da SAE é uma das principais razões da
desorganização e falta de confiança nas atividades de enfermagem.
(CIANCIARRULO, 2004).
A mesma autora reflete sobre os passos do planejamento da assistência de
enfermagem, que é altamente dependente da teoria escolhida, pois dela partirá o
processo de enfermagem correspondente. Em cada modelo teórico ocorrem
variações quanto ao número e denominações de suas fases. Entretanto, destacam-
se quatro etapas fundamentais na prestação da assistência de enfermagem, ou seja,
levantamento e análise dos dados (histórico), diagnóstico, prescrição e evolução.
A implementação da sistematização da assistência de enfermagem é uma
experiência que vem demonstrando a qualidade nos serviços de enfermagem, pois

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se constitui em um elemento organizativo fundamental para as atividades
desenvolvidas pelas equipes, beneficiando tanto o paciente, por intermédio de um
atendimento individualizado, assim como o enfermeiro, facilitando na tomada de
decisões e estabelecendo prioridades e fundamentando os cuidados prestados.
A qualidade do cuidado de enfermagem pode ser entendida como um
conjunto de ações que envolvem desde o saber-fazer até as atividades complexas,
como a formulação do diagnóstico de enfermagem. Isso significa que o enfermeiro
deve ser capaz de transferir seus conhecimentos para a prática diária, desenvolver
julgamento clínico, avaliar o resultado de suas ações, assim como assumir a
responsabilidade dos resultados do planejamento da assistência.
O saber específico do cuidado proporciona ao enfermeiro a possibilidade de
alcance de uma autonomia profissional. A observação sistemática – também
chamada de estruturada ou planejada – é aquela que fazemos para responder a
propósitos preestabelecidos, nos quais os dados são colhidos de forma organizada,
sendo que o mesmo poderá ser lido por diversos observadores, desde que
compreendam as situações e os detalhes da mesma forma. (CIANCIARRULO,
2004).
A sistematização da assistência de enfermagem é um assunto amplo e está
ligado ao trabalho diário do enfermeiro, mesmo por aqueles que desconhecem o
assunto. Diante de suas ações dentro do cuidado assistencial prestado ao paciente
se desenvolvem vários pontos que fazem parte do processo da sistematização da
assistência de enfermagem, porém ainda tem um desenvolvimento precário e não
sistematizado.
Este curso tem como objetivo principal esclarecer aos enfermeiros a
importância da sistematização da assistência de enfermagem, detalhando suas
etapas e seu desenvolvimento e auxiliando-os a traçar estratégias para que a sua
implantação possa ser realizada com facilidade.

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2 CONCEITO DE SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E
PROCESSO DE ENFERMAGEM

Sistematizar a assistência de enfermagem é, antes de tudo, oferecer ao


paciente/cliente uma assistência de enfermagem determinada em lei, que possa
garantir a biossegurança e a continuidade do cuidado nos três níveis de atenção à
saúde, ou seja, primário, secundário e terciário.
A sistematização da assistência de enfermagem em qualquer uma das
várias áreas de atuação não difere radicalmente, em seus respectivos conceitos,
daquela que são desenvolvidos na área assistencial hospitalar e de saúde coletiva,
pois os princípios são os mesmos, diferenciando apenas quanto ao foco de atenção,
ou seja, o tipo de paciente/cliente a ser assistido.
Mas, mesmo esse paciente/cliente específico de uma das áreas de atuação
do enfermeiro pode se envolver em um processo saúde-doença que venha a ser
estendido para as demais áreas de convívio, em termos familiar, social e
comunitário. Assim, o enfermeiro precisa desenvolver o seu trabalho voltado para
estes focos de atenção, o que implica se relacionar com todas as áreas de atuação
profissional.
A enfermagem, enquanto profissão é de natureza interpessoal. A
importância e o efeito do relacionamento profissional do enfermeiro com o
cliente/paciente/trabalhador se fazem vital para o processo de enfermagem. O
enfermeiro, por força da característica de sua formação profissional, desenvolve
uma visão holística do processo de cuidar. O paciente/cliente é visto de forma
ampliada, a mente e o corpo não são considerados separadamente e o que acomete
a mente afeta o corpo e vice-versa.
O processo de enfermagem possibilita ao enfermeiro organizar, planejar e
estruturar a ordem e a direção do cuidado, constituindo-se no instrumento
metodológico da profissão, subsidiando o enfermeiro quanto à tomada de decisões e

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na efetivação do feedback necessário para prever, avaliar e determinar novas
intervenções. É um método sistemático de prestação de cuidados humanizados que
enfoca a obtenção de resultados desejados de uma maneira rentável. (ALFARO-
LEFEVRE, 2005).
Por isso mesmo, torna-se o processo de enfermagem uma prática intelectual
deliberada, desenvolvida de maneira ordenada e sistemática. É uma prática
deliberada porque existe a intenção de fazer de maneira organizada, atendendo a
uma lógica do raciocínio clínico. A eficiência, como resultado do processo, dizemos
ser uma prática ordenada e sistemática.
O processo de enfermagem, se efetivamente praticado, proporciona a
possibilidade plena de o enfermeiro avaliar a qualidade da assistência prestada,
justificando a enfermagem como uma ciência pela aplicação de conceitos e teorias
próprias, fundamentadas nas ciências biológicas, físicas, comportamentais e
humanas sempre presentes no processo de cuidar.
Segundo Horta (1979), “o conhecimento científico passa a ser ciência
quando se organiza num sistema de proposições demonstradas experimentalmente
e que se relacionam entre si”. Ainda segundo o autor, “o que caracteriza uma ciência
é a indicação clara de seu objeto, sua descrição, explicação e previsão. O objeto do
conhecimento científico não é o ser, por que esse, por si próprio, é inobjetivável”.
O objeto da ciência é o ente concreto que se revela ao homem e todo ente
está no habitáculo do ser. Um único ser pode ter seus entes concretos como objeto
de várias disciplinas científicas. A psicologia, a sociologia, a história, a economia, a
administração, a antropologia, a medicina e todas as demais ciências têm seu ente
próprio, um único habitáculo, que é o ser humano.
A enfermagem enquanto ciência revela o homem como um ser humano
composto e que compõe o indivíduo, a família, a comunidade e todas as influências
que exerce ou sofre em termos sociais, profissionais e pessoais, atendendo ao
indivíduo em suas necessidades afetadas, que caracterizam os entes da
enfermagem.
O enfermeiro, em seu papel primordial, desenvolve um trabalho voltado para
o entendimento destes problemas, relacionando-os entre si e agindo sobre esses,
caracterizando o aspecto científico do cuidar. A enfermagem como ciência identifica,

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analisa, estuda os fenômenos reais e sempre passíveis de experimentação, com
muitas teorias já desenvolvidas e amplamente validadas, que estabelecem
relacionamento entre os fatos e os atos existentes e identificados.
Considera como base de suas conclusões a certeza probabilística de que
todas as ciências estão presentes, das hermenêuticas às empírico-formais, inclusive
a física, caracterizando-se como uma ciência formal ou positiva. O processo de
Enfermagem é descrito em cinco fases essenciais para a sua efetividade e eficácia,
quais sejam:

 Coleta de Dados;
 Diagnóstico;
 Planejamento;
 Implementação;
 Avaliação.

A coleta de dados, fase inicial do processo, leva o enfermeiro a constituir sua


base de dados, investigando, levantando problemas e necessidades afetadas,
possibilitando a coleta e análise dos dados. É a conhecida consulta de enfermagem,
na qual o enfermeiro coloca em prática sua competência na abordagem do paciente,
empregando técnicas de entrevistas adequadas ao que se pretende.
A coleta ordenada e sistemática de dados torna-se fundamental ao
enfermeiro para a perfeita identificação e classificação dos problemas e o enfermeiro
deverá avaliar se o conjunto de dados apurados atende ao desenvolvimento das
fases posteriores e, se negativo, deverá o enfermeiro realizar tantas quantas
investigações se fizerem necessárias.
Durante a coleta de dados e a investigação deverá o enfermeiro associar a
esta fase o exame físico, aplicando seu conhecimento científico e validando as
informações colhidas na entrevista (histórico) junto ao paciente. O diagnóstico de
enfermagem, por sua vez, possibilita ao enfermeiro o julgamento clínico das
respostas do indivíduo aos estímulos recebidos mediante os problemas reais ou
potenciais de saúde ou de processos de vida.

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Esse indivíduo deverá ser olhado, pelo enfermeiro, como ele próprio, família,
comunidade, profissional e todo o universo que o compõe. É a base para a
identificação e determinação das intervenções de enfermagem (prescrição de
enfermagem) e estabelecimento de metas desejadas. A implementação constitui-se
da colocação do plano de cuidados em ação.
Segundo Alfaro-LeFevre (2005), esta fase subdivide-se em seis subfases:

 Preparação para comunicação e para recebimento da comunicação;


 Estabelecimento das prioridades diárias;
 Investigação e reinvestigação;
 Realização das intervenções e das modificações necessárias;
 Registro;
 Comunicação.

A última fase constitui-se na avaliação de enfermagem, quando o enfermeiro


desenvolve a apreciação e afere os resultados da intervenção, possibilitando uma
retroalimentação contínua na intervenção necessária ao alcance dos resultados
esperados. Alfaro-LeFevre (2005) define como uma etapa sempre dinâmica, que
possibilita verificar o quanto as metas e objetivos foram alcançados, se os resultados
desejados foram atingidos, além de fornecer subsídios para a enfermeira alterar o
plano de cuidados sempre que verificar a necessidade.
O enfermeiro, dentro dos princípios que regem o seu trabalho em uma
empresa, deve associar esses conceitos à realidade de sua atividade específica,
procurando adaptar o ambiente ao indivíduo, considerando os agravos e agentes
identificados que interferem no processo saúde-doença.
O processo de enfermagem nada mais é que o enfermeiro sistematizar e
ordenar o seu trabalho, utilizando os instrumentos científicos aqui dispostos,
associados ao seu conhecimento científico. Tem o propósito de identificar agentes
ou agravos à saúde, seja em seu ambiente de trabalho, em seu ambiente familiar ou
social, determinando as intervenções necessárias, avaliando os resultados e
determinando novas intervenções.

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Isso resultará em um processo aplicado em nível individual ou coletivo, em
um contínuo processo de retroalimentação, visando à promoção, proteção,
prevenção, recuperação e reabilitação da saúde. O enfermeiro, além de ter o seu
papel centrado na promoção, proteção, prevenção, recuperação e reabilitação da
saúde, desempenha também um papel fundamental na prestação de cuidados
primários e secundários, no atendimento e controle de urgências/emergências e na
prevenção quanto aos acidentes do trabalho.

3 BASES LEGAIS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA SISTEMATIZAÇÃO DA


ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

3.1 CONSTITUIÇÃO FEDERATIVA DO BRASIL

Art. 5º, Inciso XIII:


É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer.

Art. 197:

São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder


público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e
controle devendo sua execução ser feita diretamente ou por meio de
terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

3.2 LEI N° 7.498/86

Art. 11 - O Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem,


cabendo-lhe privativamente:

c) Planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos


serviços de assistência de Enfermagem;
i) Consulta de Enfermagem;
j) Prescrição da assistência de Enfermagem.

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3.3 DECRETO Nº 94.406/86

Art. 8º - Ao enfermeiro incumbe:

I-Privativamente:

c) Planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos


serviços da assistência de enfermagem;
e) Consulta de enfermagem;
f) Prescrição da assistência de enfermagem.

3.4 RESOLUÇÃO COFEN N° 311/2006

Aprova o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem e dá outras


providências.

Art. 5º “O profissional de enfermagem presta assistência à saúde visando à


promoção do ser humano como um todo”.

3.5 RESOLUÇÃO COFEN Nº 159/1993

Dispõe sobre a Consulta de Enfermagem, considerando que a consulta de


enfermagem, sendo atividade privativa do enfermeiro, utiliza componentes do
método científico para identificar situações de saúde/doença, prescrever e
implementar medidas de enfermagem que contribuam para a promoção, prevenção,
proteção da saúde, recuperação e reabilitação do indivíduo, família e comunidade;

Considerando que a consulta de enfermagem tem como fundamento os


princípios de universalidade, equidade, resolutividade e integralidade das ações de
saúde;

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Considerando que a consulta de enfermagem compõe-se de histórico de
enfermagem (compreendendo a entrevista), exame físico, diagnóstico de
enfermagem, prescrição e implementação da assistência e evolução de
enfermagem;

Considerando a institucionalização da consulta de enfermagem como um


processo da prática de enfermagem na perspectiva da concretização de um modelo
assistencial adequado às condições das necessidades de saúde da população;

RESOLVE:

Art. 1º - Em todos os níveis de assistência à saúde, seja em instituição pública ou


privada, a consulta de enfermagem deve ser obrigatoriamente desenvolvida na
assistência de enfermagem.

3.6 RESOLUÇÃO COFEN N° 267/2001

Aprova atividades de Enfermagem em Domicílio Home Care.

3.7 RESOLUÇÃO COFEN N° 272/2002

Etapas da Sistematização da Assistência de Enfermagem.

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3.8 PORTARIA COFEN N° 19/2006

Constitui a Câmara Técnica de Sistematização da Assistência de


Enfermagem.

3.9 RESOLUÇÃO COFEN N° 358/2009

Define locais onde deverão ser realizada a Sistematização da Assistência de


Enfermagem e redefine as etapas. A Sistematização da Assistência de Enfermagem
“é uma atividade intelectual, deliberada, por meio da qual a prática da Enfermagem é
abordada de uma maneira ordenada e sistemática”. (GEORGE, 2000).

Atividade - estado ou condição de funcionar, começar, modificar, agir.


Intelectual - racional, inteligente, lógica, conceitual.
Deliberada - cautelosa, pensada, intencional.
Ordenada - ajuste metódico, eficiente e lógico.
Sistemática – intencional; relativo à classificação.

Foi desenvolvido como um método específico de aplicação de uma


abordagem científica ou de solução de problemas à prática de enfermagem. Avalia a
qualidade dos cuidados profissionais, proporcionados pelo enfermeiro e garante a
prestação de contas e a responsabilidade dos mesmos para com o cliente.

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4 IMPLANTAÇÃO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM

4.1 PRIMEIRO PASSO

 Reavaliar a organização do serviço de enfermagem.


 Serviço planejado e organizado – facilitador.

4.2 INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA A ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO DE


ENFERMAGEM

 Regimento;
 Organograma;
 Normas;
 Rotinas;
 Protocolos;
 Procedimentos;
 Relatórios gerenciais diversos;
 Pastas de comunicados;
 Pastas de ordens de serviços;
 Portarias;
 Livro de ocorrências das unidades;
 Escala de serviço mensal;
 Escala de atribuições;
 Programação de férias;
 Censo diário;
 Ficha funcional.

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O que o serviço de enfermagem achar importante para o seu funcionamento.

4.3 PAPEL DO GERENTE DE ENFERMAGEM

 Facilitador;
 Incentivador;
 Líder.

4.4 COMPETÊNCIA DO GERENTE

 Habilidades técnico-científicas;
 Relacionamento;
 Comunicação;
 Obter resultados.

4.5 ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA

Filosofia ou política de administração de pessoas, que valoriza sua


capacidade de tomar decisões e resolver problemas. Aprimora a satisfação e a
motivação no trabalho; contribui para o melhor desempenho e competitividade das
organizações.

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5 TEORIAS DE ENFERMAGEM

Teoria é o conjunto de conceitos inter-relacionados que proporcionam visão


sistemática de um fenômeno (um fato ou acontecimento observável) que é, por sua
natureza, explicativo e profético. A teoria de enfermagem é forma de relacionar
conceitos, por meio do uso de definições que sejam úteis ao desenvolvimento de
inter-relações significativas para a descrição ou classificação da prática.
Uma teoria é composta por conceitos e proposições. As proposições
explicam o relacionamento entre os conceitos, ou seja, uma inter-relação entre o
agravo e a doença. Uma teoria de enfermagem nos indica, sugere e/ou aponta uma
direção de como ver os fatos e/ou eventos e, assim, direcionar o planejamento e
determinação das intervenções de enfermagem.
As teorias são baseadas em pressupostos teóricos, tomados como
“verdade”, pois não podem ser empiricamente testadas. Contexto é o ambiente no
qual o ato de enfermagem ocorre. Conteúdo é o que compõem a teoria. Processo é
o método utilizado pelo enfermeiro para aplicar a teoria. As teorias de enfermagem
começaram a surgir no cenário mundial, na década de 60, procurando relacionar
fatos e estabelecer as bases de uma ciência de enfermagem.

5.1 COMO SE CONSTITUI UM PROCESSO DE ENFERMAGEM

 Objeto de estudo e sua finalidade;


 Sequência de ações;
 Instrumentos de trabalho;
 Utilização de competências e das habilidades adquiridas desenvolvidas;
 Recursos disponíveis;
 Conhecimento técnico científico.

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Uma dessas teorias, a sinergística, relaciona-se mais com o cuidado de
enfermagem do que a enfermagem em si. A teoria homeostásica aplica a teoria dos
sistemas. Outras como as de Imogenes King e Martha Rogers são denominadas
pelos nomes de suas respectivas autoras.
Todas as teorias existentes, no entanto, são bastante diversas, dinâmicas,
versáteis e aplicáveis em quaisquer situações em que exista a necessidade do
cuidado de enfermagem, e o enfermeiro, por sua característica ocupacional,
necessita conhecê-las, não para decorá-las, mas entendê-las e redefinir sua postura
e conduta profissional em relação às necessidades do cliente e suas
responsabilidades ético-profissionais.
As teorias de enfermagem, longe de serem meros conteúdos teóricos,
traduzem em seus conceitos e modelos o infinito trabalho profissional da
enfermagem, fundamentado na ciência do conhecimento e do saber. É o uso efetivo
do conhecimento e do saber com sabedoria e não com imagens deste
conhecimento. As teorias de enfermagem envolvem profundos saberes e
conhecimentos culturais, sociais, comportamentais, englobando não somente o
indivíduo enquanto pessoa, mas enquanto família, social, profissional, comunidade,
cultura e instituição.

6 INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DE ENFERMAGEM

Uma teoria é constituída por um conjunto de conceitos inter-relacionados


que nos permite uma forma sistemática de explicar e prever fatos e/ou eventos. A
construção de uma teoria tem seu início na observação atenta de fatos e eventos
que resultam em ideias. Estas, por sua vez, projetam tentativas, resolução e visão
sistemática dos fenômenos.
Com isso, formam-se conceitos que levam a proposições e hipóteses,
possibilitando que os experimentos possam comprovar e validar estas hipóteses,
levando à formação de uma teoria. Muitos foram os enfermeiros que acreditaram e

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apostaram no processo científico do trabalho da enfermagem, autônomo e
independente, afastados do modelo biomédico a que somos levados no processo de
formação profissional.
O enfermeiro, dentro do que lhe compete desenvolver, deve direcionar seu
trabalho para alguns objetivos, entre os quais, destacamos:

 O atendimento das necessidades humanas básicas;


 A prevenção e correção dos desequilíbrios identificados, a promoção
e o equilíbrio do sistema de adaptação do indivíduo;
 A promoção, manutenção e restauração da saúde por meio de um
processo interativo;
 Promoção e restauração da totalidade;
 Bem-estar e independência da pessoa pela conservação de sua
energia e integridade;
 Promoção e interação harmônica da pessoa com seu ambiente
interno e externo.

Dentre as diversas teorias de enfermagem conhecidas podemos classificar


algumas que devem ser utilizadas como referencial teórico para a enfermagem,
quais sejam:

As que são orientadas para a tese das necessidades/problemas:

 Modelo Ambiental, de Florence Nightingale;


 Solução de Problemas, de Faye Glenn Abdellah;
 Definição das Práticas de Enfermagem, de Virginia Henderson;
 Autocuidado, de Dorothea E. Orem;
 Necessidades Humanas Básicas, de Wanda de Aguiar Horta.

As que são orientadas para a interação:

 Processo Interpessoal, de Hildegard E. Peplau.

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As que são orientadas para os sistemas:

 Teoria dos Sistemas, de Betty Neuman;


 Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural, de Madeleine M.
Leininger;
 Obtenção de Metas, de Imogene King.

As que são orientadas para o campo de energia:

 Saúde como expansão da consciência, de Margaret Newman.

Enfim, são muitas as teorias de enfermagem e aqui seguem apenas


algumas das que acreditamos ser aplicáveis à enfermagem, mas que, se exploradas
adequadamente pelo enfermeiro, poderão ser importante referencial teórico ao
alcance dos resultados esperados no desenvolvimento do processo. Dessas teorias
acima relacionadas, somente a de Horta não chegou a ser devidamente testada e
validada, devido ao tempo que não lhe foi dada, em vida, para isso ocorrer. Mas, se
não chega à classificação e reconhecimento como teoria, pode ser considerada
como um modelo de processo de enfermagem dos mais adequados ao processo de
trabalho da enfermagem, em qualquer área de atuação, e vem sendo utilizada como
referencial teórico em muitos países, entre os quais, os próprios EUA.
Algumas teorias de enfermagem serviram de referencial teórico para outras
teorias subsequentes, formando a base e influenciando os teóricos. É o caso de
Florence Nightingale, que com sua teoria ambiental influenciou tantos outros teóricos
com seus conceitos desenvolvidos e colocados como prática do cuidado de
enfermagem.
Há situações de semelhanças, similaridades e diferenças entre as diversas
teorias de enfermagem, comprovando as influências e consequentes
aprimoramentos pelo avanço de conhecimentos. Florence Nightingale, com o seu
conceito de ambiente e o enfoque humanístico do cuidado de enfermagem, acabou

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influenciando diretamente Johnson, King, Neuman, Orem, Roy, Rogers, Leininger e
Newman.
A dependência e o seu papel na enfermagem, identificado por Henderson,
serviu de base para Orlando, Orem e Levine. A independência, por sua vez, é
enfocada por Peplau, Rogers, Hall, King e Parse. A interdependência, por sua vez, é
a inspiração de Erickson, Tomlin, Swain, Newman, Boykin e Schoenhofer. A
adaptação é tema das teorias ou modelos de Florence, King, Levine, Rogers, Roy e
Erickson, Tomlin e Swain. A teoria de sistemas é utilizada por Rogers, King, Roy,
Johnson, Neuman, Parse e Newman.
As teorias possuem características que inter-relacionam conceito e permitem
uma visão de determinado fenômeno, dentre elas podemos destacar:

 Devem ser de natureza lógica;


 Devem ser simples e generalizáveis;
 Podem ser bases para a validação de hipóteses ou que permitam sua
expansão;
 Servem de ampliação de conhecimentos gerais e específicos;
 Permitem a utilização para orientar e aperfeiçoar a prática da enfermagem;
 Devem ser consistentes com outras teorias já validadas, leis e princípios,
deixando questões não respondidas que necessitem ser investigadas.

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6.1 TEORIA DE FLORENCE NIGHTINGALE

FIGURA 1 - FLORENCE NIGHTINGALE

FONTE: Disponível em:


<http://todayinsci.com/N/Nightingale_Florence/NightingaleFlorence1000px.jpg>.
Acesso em: 31 jul. 2013.

Nascida em Florença, Itália, em 12 de maio de 1820, tendo sido educada em


padrões superiores ao que recebiam as mulheres na época, com expressivo
conhecimento em ciências, matemática, literatura e artes, além de filosofia, história,
política e economia, dando-lhe um caráter bastante diferenciado em seu tempo.
Fazendo parte da aristocracia inglesa, tinha aspirações em relação ao
trabalho social. Essas características levaram-na ao envolvimento na Guerra da
Crimeia, com postura revolucionária em relação às condições de assistência
prestadas aos soldados ingleses feridos na frente de guerra, resistindo à burocracia

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e buscando melhorar a qualidade dessa assistência, brigando por materiais
específicos, além de alimentos, leitos e material de higiene ambiental e pessoal nos
alojamentos assistenciais.
Envolvida pela busca incessante de uma qualidade nesta assistência,
Nightingale criava condições para o bem-estar dos feridos de guerra ou não,
incentivando e exigindo infraestrutura humanitária e social, como lavanderia,
biblioteca, redação de cartas e até meios para que os soldados tivessem como
economizar seus salários, além de um hospital para as famílias que estivessem nas
frentes de batalhas.
Preocupava-se com o conforto aos enfermos e aos que estavam em estado
terminal, envolvendo-se em questões administrativas de eficácia e eficiência
plenamente reconhecidas por seus superiores. Finda a guerra, dedicou-se ao ensino
da enfermagem, estimulando e abrindo escolas de enfermagem, marcando sua
época na profissão.
Faleceu em 13 de agosto de 1910, e esta data é até hoje celebrada na Igreja
de St. Margaret, em East Wellow, Inglaterra, sendo considerada como a mãe da
enfermagem moderna. Em Kaiserwerth, Alemanha, surgiu a primeira escola de
enfermagem organizada no mundo, em 1836, que ensinava às camponesas locais
noções de higiene ambiental e pessoal.
Em 1850, por 14 dias Nightingale realizou visita a esta escola, candidatando-
se à mesma e manifestando seu desejo de se tornar enfermeira, tendo sido admitida
em 6 de julho de 1851, permanecendo lá por três meses, levando para a Inglaterra
os conhecimentos adquiridos, onde se envolveu na luta por reformas na área de
saúde e bem-estar dos cidadãos ingleses.
Ela não concordava com as condições no país, que restringia a participação
da mulher na política social e governamental. Sua missão na Crimeia, na vida militar,
foi extremamente penosa, pela rejeição à figura da mulher nesse tipo de condição.
Encontrou no campo de batalha alojamentos assistenciais precários e infestados de
insetos, ratos, com esgoto a céu aberto, possibilitando a ocorrência de infecções
letais e transmissíveis entre os feridos e sadios.
A taxa de mortalidade, nos níveis de 43%, era caracterizada muito mais pela
transmissão de contaminantes e biológicos do que por ferimentos na batalha. A sua

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intervenção ambiental reduziu, em menos de seis meses, esta taxa para apenas
2,2%, conquistando reconhecimento e respeito pelo trabalho desenvolvido.
Seus relatórios manuscritos foram entregues ao Ministro da Guerra na
época, Sidney Herbert, com aplicações estatísticas, iniciando o movimento de
reforma hospitalar no país. Este trabalho rendeu-lhe reconhecimento e admissão
como membro da Royal Statistical Society, em 1858, sendo considerada, com inteira
justiça, como a primeira enfermeira pesquisadora no mundo.
Nightingale utilizou intensamente a observação dos fatos e eventos,
associando-os à incidência e prevalência dos agravos e da doença como
abordagem dos cuidados de enfermagem a serem desenvolvidos. Esses
conhecimentos e a sábia utilização de conceitos administrativos organizacionais e
estruturais se instituíram no principal enfoque de seu trabalho, com adequado
controle ambiental, envolvendo indivíduos e famílias no processo.
Enfatizava a importância da ventilação e iluminação nos quartos dos
pacientes, escrevendo “Notes and Nursing”, como forma de orientação aos cuidados
em Enfermagem, que se constituiu em um marco sobre a organização e
manipulação dos ambientes dos enfermos.
Interpretava a doença como um processo reparador, definindo a
enfermagem como diagnóstico e tratamento das respostas humanas aos problemas
de saúde vigentes ou potenciais. Escreveu também “Notes on hospitals in
introductory notes lyingin institutions” (primeiros centros de maternidade).
A influência do ambiente sobre o ser humano e sobre a natureza crítica do
equilíbrio entre eles foi a principal característica de seu trabalho científico.
Nightingale foi a primeira a incentivar a existência de instituições específicas para a
maternidade, afastada dos enfermos, por meio de análise de dados sobre a
mortalidade neonatal e no parto, recomendando cuidados ambientais e a lavagem
persistente das mãos para eliminar a febre puerperal, principal causa da mortalidade
na época.
Também trabalhou com enfoque nas características ambientais gerais, como
iluminação, ruído, ventilação, higiene ambiental, cama, roupa de cama e nutrição. O
desequilíbrio entre esses exigiria maior energia do indivíduo, assim, originando o
estresse e prejudicando a recuperação e reabilitação do enfermo. Seus conceitos e

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ideias se estendiam, inclusive, aos domicílios, ressaltando a importância da água
pura e higiene ambiental e pessoal como fatores de saúde.
Acreditava que a pessoa poderia adoecer se respirasse seu próprio ar, sem
renovação, e preocupava-se com o ambiente externo às casas como fator de
desequilíbrio (poluição, gases, excrementos). Tinha atenção especial com os
utensílios dos enfermos, como louças. Cuidava, com a mesma atenção, da
temperatura dos ambientes.
Com relação à luz, enfatizava a importância da luz solar para a saúde e
alertava para o fato de os hospitais da época não atentarem para esse aspecto
durante suas respectivas construções. Quanto ao ruído, era bastante enérgica e
rigorosa com relação aos sons ambientais que importunavam os pacientes e exigia
que a enfermeira sob seu comando estivesse sempre atenta a essa questão.
Sua preocupação com a saúde ambiental chegava, inclusive, às cores,
quadros e pinturas do ambiente como fator de conforto e bem-estar, e defendia
processos terapêuticos pelo lazer, trabalhos manuais, leitura e escrita. Quanto às
roupas de cama e colchões, preocupava-se com a questão da permeabilidade
destas superfícies.
Nessa observação, levantou que o adulto exalava, aproximadamente, 1,5
litros de umidade pelos pulmões e pele nas 24 horas, constituindo-se em matéria
orgânica que impregnava as roupas, favorecendo o desequilíbrio de saúde pelo
desconforto causado, lembrando sempre o cuidado que o enfermeiro precisava ter
em não se inclinar ou se sentar na cama, e que esta deveria estar próxima à janela e
à luz solar.
Entendia que essas roupas, se não bem cuidadas e ajustadas à cama,
causavam lesões na pele do enfermo pela pressão exercida em pontos específicos.
Suas observações atingiam também o aspecto nutricional, identificando que as
refeições em pequenas e regulares porções favoreciam a recuperação do enfermo.
Embora suas preocupações tivessem como foco o ambiente físico,
Nightingale não se descuidava do ambiente “social e psíquico do enfermo”, tendo
incluído em seu primeiro livro um capítulo sobre esse aspecto, denominado
“Conversando sobre Esperanças e Conselhos”, observando a relação entre doença,

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morte e pobreza, com observações e estudos estatísticos e epidemiológicos que
fundamentavam inúmeras cartas e protestos aos governantes.
Apregoava como objetivo principal para a enfermagem que o melhor a ser
feito seria colocar o paciente na melhor condição para que a natureza aja sobre ele,
e que este deveria ter o menor gasto possível de energia com os fatores ambientais
que possam causar desequilíbrios.
Florence acreditava que a enfermagem deveria estar atenta não somente
aos enfermos, mas também aos sadios, buscando meios de promoção da saúde.
Acreditava que a enfermagem poderia atuar no ambiente como um todo, para que o
enfermo obtivesse o equilíbrio necessário e, assim, a natureza faria o resto para a
recuperação e reabilitação.
Dizia, em seus escritos, que a mais importante lição prática a ser dada às
enfermeiras é ensiná-las a observar (e como observar) que sintomas indicam
melhora/piora, quais são importantes ou não, quais evidenciavam negligência ou
não. Esse conceito, tão atual, mostra que já naqueles dias Nightingale conseguia
evidenciar a importância da observação como método primário de coleta de dados,
para avaliar respostas do cliente à intervenção.

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32
6.2 TEORIA DE DOROTHEA E. OREM

FIGURA 2 - DOROTHEA E. OREM

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-


QrJetfMtIOE/ULCXR881maI/AAAAAAAAAHs/LJsieSShuWM/s320/History%2Bof%2BSelf%2BCare%2
BDeficit%2BTheory%2B-%2BDorothea%2BElizabeth%2BOrem.jpg>. Acesso em: 31 jul. 2013.

Dorothea E. Orem nasceu em 1914, em Baltimore, Maryland, EUA,


formando-se em 1930, recebendo o título de Bacharel em Ciências e Educação de
Enfermagem em 1939 e Mestre em Ciências em Educação em Enfermagem em
1945. Obteve Doutorado em Ciências em 1945 e novamente em 1980 e 1988;
Nomeada Membro Honorário da Academia Americana de Enfermagem em 1992.
Continua a trabalhar como consultora de enfermagem e a desenvolver sua teoria de
enfermagem.
Desenvolveu sua teoria do autocuidado, que consiste, basicamente, na ideia
de que os indivíduos, quando capazes, devem cuidar de si mesmos. Quando existe
a incapacidade, entra o trabalho do enfermeiro no processo de cuidar. Para as

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crianças, esses cuidados são necessários mediante incapacidade dos pais e/ou
responsáveis interferirem neste processo.
A primeira publicação deste conceito deu-se em 1959. Em 1971, publicou
Nursing: Concepts of practice, com repetidas edições em 1980, 1985 e 1991. Cada
uma dessas edições trouxe aprimoramento e ampliação dos conceitos, com
desfecho em 1991 na publicação de sua teoria geral, que define a intervenção da
enfermagem na ausência da capacidade de manter a quantidade e qualidade do
autocuidado, como terapêuticas na sustentação da vida e da saúde, na recuperação
da doença ou da lesão ou no enfrentamento de seus efeitos.
Nas crianças, a condição é a incapacidade dos pais/responsáveis em manter
continuamente a quantidade e qualidade do cuidado terapêutico. É a teoria do deficit
do autocuidado, que é composta por três teorias inter-relacionadas:

 Teoria do deficit do autocuidado;


 Teoria do autocuidado;
 Teoria dos sistemas de enfermagem.

O entendimento dos objetivos dessa teoria está diretamente relacionado


com a compreensão dos conceitos de autocuidado, ação de autocuidado, fatores
condicionantes básicos e demanda terapêutica de autocuidado. Orem define que
autocuidado é o desempenho ou a prática de atividades que os indivíduos realizam
em seu benefício para manter a vida, a saúde e o bem-estar.
Quando o autocuidado é efetivamente realizado, ajuda a manter a
integridade estrutural e o funcionamento humano, contribuindo para o seu
desenvolvimento. Esta capacidade de cuidar de si mesmo é afetada por fatores
condicionantes básicos, como a idade, sexo, estado de desenvolvimento, estado de
saúde, orientação sociocultural, modalidade de diagnósticos e de tratamentos,
sistema familiar, padrões de vida, fatores ambientais, adequação e disponibilidade
de recursos.
Orem vincula o autocuidado a três categorias de requisitos, que são:

 Universal;

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 Desenvolvimento;
 Desvio de saúde.

Os requisitos universais do autocuidado, preconizados por Orem, estão


relacionados, de uma maneira geral, com as atividades de vida diária do indivíduo a
ser assistido. Esses são os requisitos principais:

 Manutenção de uma ingesta suficiente de ar;


 Manutenção de uma ingesta suficiente de água;
 Manutenção de uma ingesta suficiente de alimentos;
 Provisão de cuidados associados com processos de eliminação e
excrementos;
 Manutenção do equilíbrio entre a solidão e interação social;
 Prevenção dos perigos à vida humana, ao funcionamento e ao bem-estar do
ser humano;
 Promoção do funcionamento e desenvolvimento do ser humano dentro dos
grupos sociais, de acordo com o potencial, limitações conhecidas e desejo de
ser normal (de acordo com a genética, características constitucionais e
talentos dos indivíduos).

Orem explica o autocuidado e relaciona os vários fatores que afetam sua


provisão, especificando quando a Enfermagem é necessária para auxiliar o indivíduo
a administrar o autocuidado. Os métodos utilizados para o autocuidado são:

 Agir ou fazer para outra pessoa;


 Guiar e orientar;
 Proporcionar apoio físico e psicológico;
 Proporcionar e manter ambiente de apoio ao desenvolvimento pessoal;
 Ensinar.

As áreas de atividades para a prática da enfermagem, segundo Orem, são:

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 Iniciar e manter relacionamento com o paciente/família até estado de
“alta” da enfermagem;
 Determinar “se e como” devem receber apoio da enfermagem;
 Estar atento às necessidades do paciente/família em relação à
enfermagem;
 Prescrever, proporcionar e regular a ajuda direta aos pacientes/família
da assistência de enfermagem necessária;
 Coordenar e integrar a enfermagem na vida diária do paciente.

A Teoria dos Sistemas de Enfermagem define as necessidades de


autocuidado em relação à capacidade do paciente para o autocuidado, em que, na
ocorrência de deficit de autocuidado, a enfermagem pode e deve agir, interferir.

Classifica em três situações, sendo:

 Totalmente compensatório, em que a incapacidade de autocuidado é


atestada e a enfermagem se faz necessária, podendo ser socialmente dependentes
de outros indivíduos que façam parte do grupo/família, possibilitando a continuidade
de sua existência e seu bem-estar. É o caso das pessoas comatosas, dos
conscientes, capazes de observar, julgar, decidir, mas não pode ou não deve
desempenhar ações que exijam deambulação ou manipulação, ou ainda, dos que
sejam incapazes de atender suas próprias necessidades e/ou tomar decisões,
embora possam deambular e desempenhar algumas ações de autocuidado, embora
com orientação e supervisão constantes (fraturas vertebrais C3-C4; retardo mental).
 Parcialmente compensatório, no qual o enfermeiro e o paciente
assumem ações do cuidar e outras atividades envolvendo deambulação e
manipulação, com o principal papel tendo a participação de um ou ambos. É o caso
de cirurgias que limitem movimentos de deambulação, troca de curativos, etc.
 Sistema de apoio-educação, em que o paciente pode, deve e assume
as atividades de autocuidado, orientado e monitorado sempre. O enfermeiro atua
como espécie de consultor e educador.

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Podem ocorrer situações em que uma ou mais situações se façam presentes
e necessárias, simultaneamente. A Teoria de Orem proporciona uma base
compreensiva para a prática da enfermagem, com utilidade na educação, prática
clínica, administração, pesquisa e sistemas de informação na enfermagem.
De fácil entendimento e compreensão, define quando a enfermagem é
necessária e a intensidade de sua intervenção, relacionada com as necessidades
afetadas do paciente/familiar, em que o enfermeiro atua parcial ou totalmente, mas
nunca deixando de ser o condutor, educador e orientador do processo de cuidar.
Fundamenta sua teoria na promoção e manutenção da saúde, considerando
os aspectos holísticos da assistência de enfermagem e a responsabilidade do
indivíduo em relação ao processo do cuidar, tornando-se um sistema dinâmico,
versátil e fluente em relação aos objetivos, sendo simples o entendimento, embora
complexo na composição. Sua teoria continua a evoluir, universalmente, com
impacto na profissão, contribuindo, significativamente, para o desenvolvimento das
teorias de enfermagem.

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6.3 TEORIA DE IMOGENE M. KING

FIGURA 3 - IMOGENE M. KING

FONTE: Disponível em:


<http://nursingworld.org/ImageLibrary/MembersSite/Memberprofiles/ImogeneMKing_1.jpg.
Acesso em: 31 jul. 2013.

Imogene M. King nasceu em 1923, formando-se em 1946, recebendo título


de Bacharel em Ensino da Enfermagem em 1948. Também fez Mestrado em
Enfermagem em 1957 e Doutorado em 1961, tendo realizado estudos pós-
doutoramento em desenho de pesquisa, estatística e computadores. Com atuação
na área da enfermagem médico-cirúrgica de adultos, tendo ocupado cargos de alta
relevância profissional na área gerencial e atuação política.
Desenvolveu estudos voltados para a questão da postura profissional do
enfermeiro frente aos desafios presentes na educação, prática da enfermagem e
dimensão da prática. A essas questões acrescentou outras para base de seus
estudos, como:

 Tipo de decisões que o enfermeiro necessita adotar frente suas


responsabilidades;
 Tipo de informação necessária para fundamentar estas decisões;

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 Alternativas para as situações;
 Cursos alternativos para embasar decisões críticas;
 Que habilidade e conhecimento são essenciais para embasar essas
decisões.
Publicou o livro A Theory for Nursing: Systems, Concepts, Process em 1981,
que enfocava a gama de conhecimentos para o enfermeiro e as consequentes
dificuldades para a escolha de fatos e conceitos importantes para determinada
situação, traduzindo as preocupações da teorista a respeito.
Oferece uma abordagem ao desenvolvimento de conceitos e à aplicação do
conhecimento na enfermagem, apresentando uma estrutura conceitual como
estrutura de sistemas abertos e a teoria, como obtenção de metas. A estrutura
conceitual preconizada por King inclui a meta, estrutura, função, recursos e tomada
de decisão como elementos essenciais para o trabalho do enfermeiro.
Os fenômenos de enfermagem, segundo King, são organizados em três
sistemas dinâmicos de interação, quais sejam:

 Sistemas pessoais (individuais);


 Sistemas interpessoais (duplas, trios, grupos pequenos e grandes);
 Sistemas sociais (família, escola, empresas, sistemas de assistência à
saúde).

O enfermeiro, assim, deve buscar interagir com o cliente/paciente,


considerando cada indivíduo como um sistema pessoal, em que são importantes a
percepção, o ser, o crescimento e o desenvolvimento, a imagem corporal, o espaço,
o aprendizado e o tempo. O enfoque no sistema pessoal é a pessoa.
No sistema interpessoal, King considera o relacionamento interativo entre as
pessoas, quando em grupos pequenos ou grandes, em que os conceitos relevantes
são a interação, a comunicação, a transação, o papel (de cada um dos elementos no
grupo) e o estresse (interação indivíduo-ambiente para manter equilíbrio, com troca
de energia), buscando a interação.
Nos sistemas sociais estão incluídos grupos religiosos, família, sistema
educacional, sistema de trabalho e grupos de amigos, nos quais os conceitos que

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predominam são a organização, autoridade, poder, estado, tomada de decisão e
controle. A teoria de obtenção de metas proposta por King foi fundamentada a partir
desses conceitos e dos sistemas de sua estrutura conceitual. O enfermeiro, nesse
processo, interage com o cliente/paciente por intermédio da percepção,
comunicação, transação, o ser, o papel de cada um, o estresse envolvido, o
crescimento e desenvolvimento, o tempo e o espaço, estabelecendo-se metas a
serem obtidas.
Para a autora, a teoria de obtenção de metas leva o enfermeiro a adotar a
seguinte postura:

 Pela percepção, papéis desenvolvidos e comunicação, leva à interação


Enfermeiro-cliente e à transação;
 Por este caminho, chega-se à obtenção de metas e ao crescimento e
desenvolvimento;
 O alcance de metas leva à efetividade, eficácia e eficiência da Assistência de
Enfermagem e à satisfação do cliente.

Existem, segundo King, limites internos e externos como critérios


determinantes, quais sejam:

São limites internos:

 Enfermeira e cliente não se conhecem;


 Enfermeira está habilitada para o exercício profissional;
 Cliente tem necessidade deste serviço;
 O cliente, por meio deste relacionamento e interação com a enfermeira, utiliza
as habilidades de comunicação e conhecimento para estabelecer as metas
desejadas. Por outro lado, o cliente tem percepção do seu “eu”, que ajudará
no estabelecimento destas metas;
 Enfermeira e cliente interagem intencionalmente para atingir as metas.

São limites externos:

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 Interação em grupos de duas pessoas;
 Interações limitadas à enfermeira habilitada e ao cliente, necessitando de
atendimento de enfermagem;
 Interações ocorrendo em ambientes naturais.

Segundo King, o estabelecimento de metas quando em grupos tem um grau


bem maior de dificuldade com o cliente, com enfoque externo de controle.
Alguns pressupostos importantes seguem abaixo:
1. Percepções do cliente e da enfermeira influenciam a interação;
2. As metas, necessidades e valores de ambos influenciam este processo
interativo;
3. Os indivíduos têm direito ao conhecimento sobre si;
4. Os indivíduos têm direito de participar das decisões sobre si (vida, saúde,
comunidade);
5. O profissional de saúde tem de compartilhar a informação, orientando-o
nas decisões;
6. Os indivíduos têm direito de opção;
7. As metas profissionais e do receptor podem ser conflitantes.

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41
6.4 TEORIA DE BETTY NEUMAN

FIGURA 4 - BETTY NEUMAN

FONTE: Disponível em: < http://indrioktaviani.files.wordpress.com/2010/12/bneuman1.jpg?w=594 >.


Acesso em: 31 jul. 2013.

Betty Neuman nasceu em 1924, em Ohio. Seu pai, passando por longo
período de internação hospitalar e vindo a falecer, quando tinha 11 anos de idade,
elogiava o trabalho das enfermeiras, influenciando Neuman quanto à sua opção
profissional, determinada a se tornar uma dessas enfermeiras no futuro.
Pobre e sem recursos, trabalhou como técnica em recuperação de
instrumentos aeronáuticos e como cozinheira em Dayton, Ohio, economizando
recursos para sua sobrevivência e projeto educacional posterior. Por meio do
Programa do Corpo de Cadetes-Enfermeiros, antecipou seu ingresso na
enfermagem hospitalar, formando-se em 1947, desenvolvendo Mestrado em Saúde
em 1966.

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Em 1985, tornou-se PhD em Psicologia Clínica. Atuou em diversas funções
como enfermeira em instituições hospitalares e ambientes comunitários. Em 1967,
após Mestrado, assumiu cadeira no programa onde havia se formado, retornando a
Ohio em 1973 para prosseguir estudos de sua Teoria de Enfermagem.
O Modelo de Sistemas de King iniciou-se em 1970, como resposta à
solicitação de estudantes de graduação da Universidade da Califórnia para que
fosse criado curso proporcionando visão geral dos aspectos fisiológicos,
psicológicos, socioculturais e desenvolvimentistas dos seres humanos.
O modelo preconizado por Neuman tem enfoque holístico no Modelo de
Sistemas que desenvolveu e apresenta forte influência de sua experiência pessoal e
profissional, dentro da filosofia do ajudar cada um a viver. Para ela, a enfermagem é
considerada um sistema porque a sua prática contém elementos em interação,
considerando o Holismo tanto um conceito filosófico quanto biológico, incluindo os
relacionamentos que surgem da totalidade, da liberdade dinâmica e da criatividade,
à medida que o sistema responde aos estressores dos ambientes externos e
internos.
O Modelo de Sistemas de Neuman baseia-se em dois principais
componentes, que são o estresse e a reação ao mesmo, em que o indivíduo
(indivíduo, grupo, família, comunidade) é constituído por um sistema aberto e
dinâmico, com ciclos de entrada, processo, saída e retroalimentados contínua e
organizadamente.
Ocorre interação entre indivíduo e ambiente, que se afetam um ao outro,
com reciprocidade de trocas e ajustes. As influências ambientais são denominadas
intra, inter e extrapessoais. As variáveis apresentadas no modelo são: fisiológicas,
psicológicas, socioculturais, desenvolvimentistas, espirituais, estrutura básica e
recursos de energia, linhas de resistência, linha normal de defesa, linha flexível de
defesa, estressores, reação, prevenção primária, secundária e terciária, fatores
interpessoal, reconstituição com o ambiente, saúde e enfermagem incluídas no
processo.
Basicamente, a estrutura é formada por fatores de sobrevivência
fundamentais comuns à espécie (por exemplo, manutenção da temperatura,
características genéticas, entre outras, do indivíduo), dentro de um conceito de

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sistema aberto, com reações e respostas, retroalimentação e busca pelo equilíbrio
pelo próprio sistema.
As variáveis individuais (fisiológicas, psicológicas, socioculturais,
desenvolvimentistas e espirituais) agem em harmonia e com estabilidade em relação
aos estressores externos e internos, e estas variáveis são entendidas pela
enfermagem. As linhas de resistência agem como protetoras da estrutura básica,
sendo ativadas quando a linha de defesa normal é invadida pelos estressores
ambientais, como por exemplo, o sistema imunológico.
Se essas linhas de resistência não conseguirem suportar os estressores,
pode ocorrer a morte do indivíduo. A linha normal de defesa representa as respostas
ao ambiente e pode ser rompida quando a linha flexível de defesa não protegê-la.
Nesse ponto, ocorre a resposta do sistema do indivíduo, reagindo à forma de
instabilidade e doença.
A linha flexível de defesa é o limite externo e resposta inicial, tornando-se a
proteção do sistema contra os estressores. Funciona como um amortecedor,
cedendo, contraindo, aproximando-se da linha normal de defesa, protegendo-a,
como escudo. Quanto maior a distância entre ambas, maior a proteção para o
sistema. Ambiente, para Neuman, são os fatores ou influências internas/externas
que circundam o cliente ou sistema, podendo ocorrer influências entre ambos,
positivas ou negativas.
A variação pode afetar a direção da resposta (como exemplo, a
suscetibilidade aos agravos biológicos entre indivíduos repousados ou não). A
investigação do ambiente, pelo enfermeiro, consiste nas seguintes situações:

 O que foi criado e qual a natureza do ambiente criado?


 Que extensão é utilizada e que valor o indivíduo coloca nele?
 Que proteção é necessária ou possível e qual ideal estão para ser
criados?

Os estressores são definidos como estímulos que produzem tensões e têm


potencial para a instabilidade do sistema, podendo ser intra, inter e extrapessoal.
Estão presentes dentro e fora do sistema, sendo importante a determinação, pelo

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enfermeiro, do tipo, natureza, intensidade, momento de encontro deste com o
sistema e a reação observada, quantificando a energia utilizada.
Para Neuman (1970), a saúde é resultante desse equilíbrio ou estado de
bem-estar em determinado momento, sendo vista como continuidade do conforto
para a doença, dinâmica e versátil ao longo do tempo. A prevenção primária,
secundária e terciária, como intervenções de enfermagem, é importante para reter,
atingir e manter o equilíbrio do sistema.
A primária é quando a prevenção ocorre antes da reação ao estressor,
incluindo promoção da saúde e manutenção da higidez. A prevenção secundária
ocorre após reação do sistema ao estressor, nos termos dos sintomas identificados,
e o objetivo da intervenção deve ser o enfoque do fortalecimento das linhas internas
de defesa, protegendo a estrutura do sistema, tratando-se os sintomas, adquirindo a
estabilidade e conservar energia. Sua falha pode resultar em morte.
A prevenção terciária, quando ocorre após as reações às intervenções
secundárias, com o objetivo de manter o bem-estar e/ou reconstrução do sistema e
conservando a energia, podendo reconduzir o processo de intervenção à prevenção
primária. A enfermagem tem como fundamental papel proporcionar e auxiliar o
indivíduo a manter, recuperar e reconstruir a estabilidade do sistema e da estrutura,
estabelecendo vínculo permanente entre o sistema do indivíduo, ambiente, saúde e
enfermagem. Este modelo pode ser utilizado por outras disciplinas/profissões de
saúde, embora tenha como enfoque a enfermagem.

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6.5 TEORIA DE MADELEINE M. LEININGER

FIGURA 5 - MADELEINE M. LEININGER

FONTE: Disponível em: <http://www.ojccnh.org/project/picts/leininger.jpg>. Acesso em: 31 jul. 2013.

Madeleine M. Leininger bacharelou-se em 1950 em Ciências e concluiu


mestrado em 1953, sendo membro da Academia Americana de Enfermagem.
Fundadora do subcampo transcultural da enfermagem, é professora dessa matéria,
além de antropologia e pesquisa no atendimento humano, com muitas publicações
com enfoque no ensino da enfermagem.
Em 1991, reconheceu a importância do cuidado de enfermagem junto aos
pacientes, o que a induziu a enfocar em seus estudos e pesquisas sobre esse tema.
Em 1950, observou diferenças importantes de comportamento entre as crianças,
quando trabalhava como enfermeira clínica especialista com crianças perturbadas e
seus pais, identificando diferenças com base cultural.
Nessas observações identificou a ausência de conhecimento cultural nessas
crianças e seus pais como fator determinante para a enfermagem entender as
variações de cuidados prestados, tornando-a a primeira enfermeira no mundo a
obter doutorado em Antropologia, oferecendo aos profissionais importante campo de
atuação na enfermagem transcultural.

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Os termos enfermagem transcultural, etnoenfermagem e enfermagem
cultural foram utilizadas por Leininger em 1960. Em 1966, ministrou o primeiro curso
sobre esse subcampo. Quanto à enfermagem transcultural, definiu-a como o ramo
que tem como foco principal o estudo comparativo e a análise de culturas com
respeito à enfermagem e às práticas de cuidados saúde-doença, aos valores e às
crenças, visando à eficiência e eficácia na assistência de enfermagem, de acordo
com os valores culturais e contexto saúde-doença dos indivíduos que fazem parte
do processo.
Quanto à etnoenfermagem, definiu como sendo o estudo das crenças,
valores e práticas dos atendimentos percebidos e conhecidos por determinada
cultura, por suas experiências diretas, crenças e valores. Reconhecendo o cuidado
como essencial ao conhecimento e à prática da enfermagem, Leininger produziu sua
Teoria de Cuidado Cultural, retirando da Antropologia o componente cultural e da
Enfermagem o componente cuidado, acrescentando à teoria os termos diversidade e
universalidade. Nascia, então, a Teoria da Universalidade e Diversalidade do
Cuidado Cultural, com a primeira apresentação em 1988.
Em 1991, apresentou definições orientadoras para os conceitos de cultura,
cuidado cultural, diversidade e universalidade do cuidado cultural, enfermagem,
visão de mundo, dimensões da estrutura cultural e social, contexto ambiental, etno-
história, sistema de cuidados genéricos, sistema de cuidados profissionais,
assistência de enfermagem culturalmente congruente, saúde, cuidado/cuidar,
conservação do cuidado cultural e repadronização do cuidado cultural.
Leininger diz que a enfermagem é a ciência do cuidado, devendo enfocar
não somente a relação Enfermeira/Cliente/Paciente, mas envolver e interagir com
família, grupos, comunidades, culturas completas e instituições (instituições
mundiais de saúde, desenvolvimento de políticas e práticas de enfermagem
internacionais).
Descreve que em culturas não ocidentais a família e as instituições
prevalecem sobre a pessoa. Aborda explicitamente os sistemas de saúde, práticas
da assistência, mudanças de padrões, promoção da saúde e manutenção da saúde
em seu modelo. Segundo Leininger (1991), o enfermeiro nem sempre está
adequadamente preparado para enfrentar essas diferenças culturais e suas

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respectivas influências no cuidar, ou então, que não a valorizam ou reconhecem
como legítimas.
Sugere três tipos de ações de enfermagem baseadas culturalmente,
congruentes com as crenças e valores dos clientes:

 Conservação/manutenção do cuidado cultural;


 Ajustamento/negociação do cuidado cultural;
 Repadronização/reestruturação do cuidado cultural.

Essas três situações proporcionam a adequação do cuidado aos aspectos


culturais, com melhor adaptação à cultura do cliente, amenizando o estresse e
conflito entre cliente e enfermeiro.

6.6 TEORIA DE VIRGINIA HENDERSON

FIGURA 6 - VIRGINIA HENDERSON

FONTE: Disponível em:


<http://www.nursingtimes.net/pictures/586xAny/4/2/5/1213425_virginia_henderson.jpg>.
Acesso em: 31 jul. 2013.

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Virginia Henderson nasceu em 1897, em Kansas City, e o interesse pela
enfermagem surgiu durante a Primeira Guerra Mundial, pois desejava prestar
atendimento aos feridos e enfermos de guerra. Formou-se em 1921, na Escola do
Exército, concluindo seus estudos e mestrado em 1926. Ministrou cursos com
enfoque na Enfermagem Clínica, na área analítica, de 1930 a 1948, sendo indicada
como pesquisadora na Universidade de Yale, em 1953.
Sua obra trouxe grande influência e impacto à enfermagem da época, em
todo o mundo, com a publicação de The nature of nursing, em 1966, e Basic
principles of nursing care, em 1960, traduzidas em várias línguas. Em 1991 escreveu
sua obra mais recente, intitulada The nature of nursing – Reflections after 25 years.
Os principais questionamentos que inspiraram sua obra foram:

 Qual é a prática da enfermagem?


 Que funções específicas desempenham?
 Quais as atividades exclusivas do enfermeiro?

Henderson defendia a tese de que uma ocupação que afeta a vida humana,
como a enfermagem, deve ter suas funções esquematizadas e suas ideias são
fortemente influenciadas pela prática profissional e pelo ensino profissional que
sempre fizeram parte de sua vida como enfermeira.
Sua filosofia profissional era a de aprender fazendo, desempenho rápido,
competência técnica e domínio bem-sucedido dos procedimentos de enfermagem. O
enfoque sobre doença, diagnóstico e tratamento na instrução da enfermagem a
deixava descontente e incentivava sua luta para mudança desta abordagem.
Enquanto estudante preocupava-se com a ausência de um modelo
apropriado para o atendimento de enfermagem e não se conformava com uma
prática distante da teoria, como na psiquiatria, pela falta de entendimento sobre o
papel do enfermeiro na saúde mental.
Sua experiência na pediatria foi mais bem-sucedida, devido ao enfoque
centrado no paciente, na continuidade do cuidado e naquele baseado na atenção e
no carinho, embora não houvesse nada ligado à família, desconsiderando-se a
importância do envolvimento desta no processo do cuidado e do autocuidado.

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Sua experiência no atendimento de enfermagem comunitária lhe trouxe a
fase mais positiva de sua formação, pois lhe permitiu identificar falhas no processo
do cuidar, no qual o cuidado extrainstituição era desconsiderado e levou-a a se
identificar com a enfermagem não hospitalar, que lastimava e recusava-se a aceitar.
Posteriormente, como professora de graduação, reconheceu a necessidade
de maiores conhecimentos e esclarecimentos sobre as funções da enfermagem,
levando-a a aprender sobre as ciências e humanidades relevantes para a matéria,
desenvolvendo uma abordagem inquisitória e analítica em sua personalidade.
Como professora desenvolveu várias ideias sobre enfermagem, com
conceitos centrados no paciente, no método do problema de enfermagem, em
substituição ao modelo médico, na experiência de campo, no atendimento e
acompanhamento familiar e no atendimento à enfermagem crônica. Estabeleceu
clínicas de enfermagem e incentivou o cuidado multidisciplinar ordenado.
Na revisão de um livro escrito com Berta Harmer, enfermeira canadense,
reconheceu a necessidade de definição das funções do enfermeiro (HARMER &
HENDERSON, 1939; SAFIER, 1977), desenvolvendo uma escrita sólida e definitiva
da descrição do cuidar.
Preocupou-se com a regulamentação profissional em muitos estados,
acreditando que esta definição proporcionaria os parâmetros para os princípios e a
prática da enfermagem e garantiria o atendimento profissional adequado e isento de
consequências aos pacientes, devido ao despreparo e desqualificação profissional
até então observados.
Sua atuação interferiu, inclusive, na própria ANA (American Nurse´s
Association), que considerando as declarações oficiais inespecíficas e
insatisfatórias, acabou provocando uma modificação da definição anterior para:

A prática da enfermagem profissional significa a atuação para compensação


de qualquer ato, na observação, no cuidado e no aconselhamento dos
doentes, feridos ou inválidos; na manutenção da saúde ou prevenção da
doença de outros; na supervisão e no ensino de outros profissionais ou na
administração de medicamentos e tratamento conforme prescritos por um
médico ou dentista habilitado; exigindo julgamento especializado
substancial e habilidade baseados no conhecimento e na aplicação dos
princípios das ciências biológicas, físicas e sociais. O mencionado não deve
considerar a inclusão de atos de diagnóstico ou de prescrição de medidas
terapêuticas ou corretivas. (AMERICAN NURSE’S ASSOCIATION)

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Mesmo assim, Henderson, considerando insatisfatória a definição da ANA,
publicou a sua primeira definição em 1855, que dizia:

A enfermagem, basicamente, é o auxílio ao indivíduo (em boas condições


ou enfermo) na realização daquelas atividades que favorecem a saúde ou a
sua recuperação (ou morte tranquila), que ele faria sozinho, caso tivesse a
força, a vontade e o conhecimento necessários. É da mesma forma,
singular contribuição da enfermagem a de auxiliar a pessoa a tornar-se
independente desse auxílio o mais breve possível. (HENDERSON, 1855).

Henderson propõe 14 componentes do atendimento básico da enfermagem


para enriquecer sua definição:

 Respirar normalmente;
 Comer e beber adequadamente;
 Eliminar resíduos orgânicos;
 Movimentar-se e manter posturas desejáveis;
 Dormir e descansar;
 Selecionar roupas adequadas – vestir-se e despir-se;
 Manter a temperatura corporal dentro da variação normal, adaptando a
roupa e modificando o ambiente;
 Manter o corpo limpo e bem arrumado, proteger a pele;
 Evitar os perigos ambientais e evitar ferir os outros;
 Comunicar-se com os outros, expressando emoções, necessidades,
medos ou opiniões;
 Adorar de acordo com a própria fé;
 Trabalhar de forma a ter uma sensação de realização;
 Participar de variadas formas de recreação;
 Aprender, descobrir ou satisfazer a curiosidade que leva ao
desenvolvimento e à saúde normais e usar os serviços de saúde
disponíveis.

Em 1966 publicou a descrição definitiva em “The nature of nursing”, que,


segundo ela, expressava e cristalizava sua ideia a respeito. Para entender a

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amplitude do seu pensamento sobre as funções de enfermagem e os 14
componentes do atendimento básico são necessários se estudarem os “Basic
principles of nursing care”, publicação do CIEE, em que estão descritos cada um dos
componentes, servindo de perfeito guia para delinear as funções da enfermagem.
Em 1991, Henderson publicou que a definição sobre a enfermagem ainda
permanece em questão, com confusões entre o papel da enfermagem e dos demais
profissionais, e considera que o ensino atual da enfermagem deve incluir uma
discussão mais ampla sobre teoria e processo de enfermagem.

6.7 PROCESSO DE ENFERMAGEM DE WANDA DE AGUIAR HORTA

FIGURA 7 - WANDA DE AGUIAR HORTA

FONTE: Disponível em: <http://www.corensp.org.br/sites/default/files/oii.png>.


Acesso em: 31 jul. 2013.

Segundo Horta (1979), nenhuma ciência pode sobreviver sem filosofia


própria e assim tem de ser a enfermagem, que não deve prescindir de uma filosofia
unificada que lhe dê bases seguras para o seu desenvolvimento. Na enfermagem,
prossegue Horta, existem três seres:

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 Ser enfermeiro (gente que cuida de gente);
 Ser cliente/paciente (indivíduo, família, comunidade);
 Ser enfermagem (comprometimento, compromisso).

Horta coloca para discussão a seguinte questão: a enfermagem é uma


ciência? É uma teoria? Para responder estas questões, diz que para ser ciência a
enfermagem precisaria ter um corpo de conhecimentos (e isso a profissão tem), que
sejam sistematizados e organizados (esta questão ainda não é dominada pela
profissão). Por outro lado, para ser uma teoria, que seja uma atividade humana, com
conhecimentos empíricos e teorias relacionadas entre si e referentes ao universo
natural, a enfermagem possui todos os requisitos.
Horta define ciência como sendo a práxis, vontade de poder, em que a
técnica é vontade de poder efetuada. Já a teoria serve como guia de ação, para
coleta de dados, para a busca de novos conhecimentos e que explica a natureza da
ciência. Ainda assim, considerando que a caracterização de uma ciência se dá pela
indicação clara de seu objeto, sua descrição, explicação e previsão, e que o objeto
da ciência é o ente concreto que se revela ao homem.
Todo ente está no habitáculo do ser, um único ser pode ter seus entes
concretos como objeto de várias disciplinas e que cada uma das ciências
(administração, economia, história, sociologia, psicologia, medicina, antropologia)
tem seu ente próprio, todas têm um único habitáculo, qual seja: o ser humano.
Nesse raciocínio, temos a enfermagem, segundo Horta, sempre acumulando
conhecimentos e técnicas empíricas, relacionadas entre si, que procuram explicar os
fatos à luz do universo natural. O objeto da enfermagem é o ser humano, assistindo-
o no atendimento de suas necessidades básicas, e esses são os entes da
enfermagem. Ao descrevê-los, explicá-los, relacioná-los entre si e predizer sobre
eles, caracteriza-se a enfermagem como ciência.
Assim, Horta procurou iniciar o desenvolvimento de uma teoria, a Teoria das
Necessidades Humanas Básicas, na qual procura mostrar a enfermagem como
ciência aplicada, transitando da fase empírica para a fase científica, desenvolvendo

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suas teorias, sistematizando seus conhecimentos, pesquisando e tornando-se dia a
dia, como uma ciência independente.
Horta inspira-se no desenvolvimento de seus estudos, na Teoria da
Motivação Humana de Maslow, fundamentada nas necessidades humanas básicas.
Elaborou sua teoria sobre a motivação humana, fundamentado nas necessidades
humanas básicas assim descritas:

 Necessidades fisiológicas;
 Segurança;
 Amor;
 Estima;
 Autorrealização.

Segundo Maslow (1954), o indivíduo passa a buscar sempre satisfazer um


nível superior ao que se encontra, onde se situa o permanente estado de motivação
por esta busca, nunca existindo satisfação completa, pois se assim fosse não
existiria mais motivação. Na enfermagem, segundo Horta, busca-se utilizar a
denominação de João Mohana:

 Necessidades de nível psicobiológico;


 Necessidades de nível psicossocial;
 Necessidades de nível psicoespiritual.

Horta considera a enfermagem como:

 Um serviço prestado ao ser humano;


 Parte integrante da equipe de saúde.

Assim define estes princípios:

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 O ser humano é parte integrante do universo dinâmico, sujeito às leis
que o regem no tempo e no espaço;

 O ser humano está em constante interação com o universo, dando e


recebendo energia;

 A dinâmica do universo provoca mudanças que o levam ao


desequilíbrio no tempo e no espaço.

Como integrante da equipe de saúde, a enfermagem apresenta:

 Manutenção do equilíbrio dinâmico, prevenindo desequilíbrios e


revertendo desequilíbrios em equilíbrio do ser humano, no tempo e no espaço;
 O ser humano tendo necessidades básicas que precisam ser atendidas
para o seu bem-estar;
 O conhecimento do ser humano em relação às suas necessidades é
limitado pelo próprio saber, o que exige um profissional para auxiliá-lo;
 Quando em desequilíbrio, esta necessidade torna-se mais necessária;
 Todos os conhecimentos e técnicas acumuladas pela enfermagem
dizem respeito ao atendimento das necessidades básicas afetadas;
 A enfermagem assiste a estas necessidades do ser humano, com a
aplicação do conhecimento e princípios científicos das ciências físico-químicas,
biológicas e psicossociais.

Horta, assim, define o primeiro conceito, que vem a ser o de que a


enfermagem é a ciência e a arte de assistir o ser humano no atendimento de suas
necessidades básicas, de torná-lo independente desta assistência, quando possível,
pelo ensino do autocuidado; de recuperar, manter e promover a saúde em
colaboração com outros profissionais.
Segundo Horta (1979), assistir em enfermagem é fazer pelo ser humano
àquilo que ele não pode fazer por si mesmo, ajudar ou auxiliar quando parcialmente
impossibilitado de se autocuidar, orientar ou ensinar, supervisionar e encaminhar a

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outros profissionais. Este conceito de Horta impõe as seguintes proposições sobre
as funções do enfermeiro:

 Área específica: assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades


básicas e ensinar o autocuidado;
 Área de interdependência: atua na manutenção, promoção e recuperação da
saúde;
 Área social: atua no ensino, pesquisa, administração, responsabilidade legal e
participação na associação de classe.

Horta define alguns princípios para a enfermagem:


 A enfermagem respeita e mantém a unicidade, autenticidade e individualidade
do ser humano;
 A enfermagem é prestada ao ser humano e não à sua doença ou
desequilíbrio;
 Todo cuidado de enfermagem é preventivo, curativo e de reabilitação;
 A enfermagem reconhece o ser humano como elemento participante ativo no
seu autocuidado.

Segundo Horta (1979), a enfermagem para ser eficiente e eficaz necessita


atuar dentro de um método científico de trabalho, a que chamou de processo de
enfermagem. O processo de enfermagem é um processo de ações sistematizadas e
inter-relacionadas, visando assistir o ser humano, constituído por seis fases ou
passos:

 Histórico de enfermagem: consistindo no roteiro sistematizado para o


levantamento de dados que tornam possível a identificação dos problemas;
 Diagnóstico de enfermagem: consistindo na identificação das necessidades
do ser humano e a determinação do grau de dependência desse atendimento
em natureza e extensão;

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 Plano assistencial, que consiste na determinação global da assistência de
enfermagem que o ser humano deve receber diante do diagnóstico
estabelecido;
 Plano de cuidados/prescrição de enfermagem, que consiste na
implementação do plano assistencial pelo roteiro diário (ou período
aprazado), que coordena a ação da equipe de enfermagem na execução dos
cuidados adequados ao atendimento das necessidades básicas e específicas
do ser humano;
 Evolução de enfermagem, que consiste no relato diário (ou aprazado) das
mudanças sucessivas que ocorrem no ser humano sob assistência
profissional, avaliando-se a resposta do ser humano à assistência
implementada;
 Prognóstico de enfermagem, que consiste na estimativa da capacidade do ser
humano em atender suas necessidades básicas alteradas após a
implementação do plano assistencial e à luz dos dados fornecidos pela
evolução de enfermagem.

Horta faz, ainda, considerações importantes sobre diferenças quanto aos


significados do que segue:

 Assistência de enfermagem: aplicação, pelo enfermeiro, do processo de


enfermagem para prestar o conjunto de cuidados e medidas que visem
atender às necessidades básicas do ser humano;
 Cuidado de enfermagem: ação planejada, deliberada ou automática do
enfermeiro, resultante de sua percepção, observação e análise do
comportamento, situação ou condição do ser humano.

Os instrumentos básicos, segundo Horta, para a aplicação do Processo de


Enfermagem são:

 Habilidades;
 Conhecimentos;

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 Atitudes;
 Observação;
 Comunicação;
 Destreza manual;
 Planejamento;
 Avaliação;
 Criatividade;
 Trabalho em equipe;
 Utilização de recursos da comunidade.

Uma das fases mais importantes do trabalho do enfermeiro consiste na


coleta de dados que leva à identificação dos problemas de enfermagem, que é toda
situação e/ou condição apresentada pelo indivíduo, família ou comunidade que exija
assistência profissional. Para a identificação dos problemas de enfermagem, o
enfermeiro utiliza-se do exame físico e histórico, que deve ser o mais completo
possível, necessitando que o enfermeiro identifique e diagnostique os problemas de
saúde, quais sejam:

 O que o paciente acha de sua doença: qual a causa, por que adoeceu, o que
pensa que está acontecendo, o que significa para ele a doença, tratamento,
internação, hospital, alta, cirurgia, exames, enfermagem e outros aspectos
importantes;
 Que doenças já teve e suas experiências a respeito;
 Medos ou preocupações a respeito;
 Fase da doença: grave, aguda, crônica, subaguda, etc.;
 Resultados de exames de interesse.

Cumprida esta fase, chega-se ao diagnóstico e problemas de enfermagem,


ao plano assistencial, ao plano de cuidados de enfermagem, à evolução e ao
prognóstico de enfermagem.

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6.8 TEORIA DE MARGARET NEWMAN

FIGURA 8 - MARGARET NEWMAN

FONTE: Disponível em:


<http://healthasexpandingconsciousness.org/home/images/stories/newman.jpg >. Acesso em: 31 jul.
2013.

Margaret Newman nasceu em 1933, formando-se em economia doméstica


em 1954, no Texas. Tornou-se bacharel em Enfermagem em 1962; Mestre em 1964
e PhD em Ciência da Enfermagem e Enfermagem em Reabilitação, em 1971.
Participou como Docente nas Universidades do Tennessee, Nova Iorque e
Pennsylvania. Atualmente, é professora na Universidade de Minnesota e pertence
ao ANA, com diversos prêmios e participações em periódicos de enfermagem de
reconhecida repercussão internacional, tendo prestado consultorias em todo o
mundo.
Durante seu doutorado, dedicou-se ao desenvolvimento de uma teoria de
enfermagem voltada para a área do relacionamento entre o movimento, o tempo e o
espaço, inspirada nos problemas de saúde de sua mãe, a quem considerava
imobilizada no tempo e no espaço.
Em 1978, durante uma conferência, abordou os padrões temporais e
espaciais na saúde, considerando a doença como aspecto significativo e apregoava
uma melhor definição para a saúde. Foi influenciada por Rogers, Bentov, Bohm,

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Richard Moss e Arthur Young. Retirou de Rogers os conceitos de padrão e natureza
unitária dos seres humanos, definindo-o como aberto e interagindo com o ambiente,
sem limites verdadeiros, e o padrão como identificação da totalidade da pessoa.
Segundo Newman, a doença é uma manifestação do padrão. (WALLACE &
COBER, 1990). Os inspiradores de Newman defendiam o seguinte:

 Itzhak Bentov (1978): tinha a visão da consciência como algo evoluindo e


sendo coextensiva ao universo, e era favorável a Newman quanto ao conceito
da saúde como sendo a expansão da consciência;
 David Bohm (1980, 1981 e 1992): defendia a saúde como um padrão do todo,
com progresso normal em direção aos níveis superiores de organização;
 Richard Moss (1981): sua visão consistia em que o amor é o mais alto nível
da consciência, confirmando a visão de Newman sobre a natureza da Saúde
e da Enfermagem;
 Arthur Young (1976): discutia a importância do insight, do reconhecimento de
padrão e da escolha, sendo esse o ímpeto para a integração do conceito de
movimento, tempo e espaço em uma teoria de saúde.
Em 1994, Newman iniciou sua teoria dentro dos princípios do positivismo
lógico, identificando os conceitos e os pressupostos da teoria:

 A saúde engloba condições de doença ou patologia;


 Essas condições de patologia são consideradas manifestação do padrão total
do indivíduo;
 Esse padrão manifestado como patologia é primário, preexistindo a
mudanças estruturais ou funcionais;
 Extinguir a patologia não significa alterar o padrão deste indivíduo;
 Se estar doente for este padrão para o indivíduo se manifestar, passa a ser,
então, saúde para a mesma;
 Saúde é a expansão da consciência.

Também relacionou os seguintes conceitos:

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 Tempo e espaço têm um relacionamento exemplar;
 Movimento é um meio pelo qual espaço e tempo tornam-se realidade;
 Movimento é reflexo da consciência;
 Tempo é função do movimento;
 Tempo é uma medida da consciência.

Tempo e contagem do tempo, para a autora, relatam o ritmo dos fenômenos


vivos. Por exemplo, temos as variações na eficácia de uma terapêutica
medicamentosa e radioterápica em ciclo de 24 horas, em que as dosagens
terapêuticas em um dia poderão ser fatais em diferente período. Outro exemplo é a
dificuldade de pacientes adaptarem-se às rotinas de tempo instituídas pelos
hospitais.
O espaço é discutido em conjunto com o tempo e não individualmente. Para
Newman, a consciência é a informação do sistema, a capacidade do sistema de
interagir com o ambiente. À medida que os seres humanos se desenvolvem, a
consciência cresce ou expande-se. À medida que a consciência se expande,
coexiste mais com o universo, sendo a essência de toda a matéria, em que as
pessoas são a consciência e não possuem a consciência.
O padrão descreve o todo e caracterizam-se como movimento, diversidade e
ritmo. O movimento é constante, rítmico e as partes são diversas. O padrão é o
relacionamento e ocorre quando os campos de energia humana penetram um no
outro, resultando na transformação. Esta, por sua vez, acontece de repente e não
gradual ou linearmente.
O reconhecimento do padrão ocorre no interior do observador, podendo não
ser visualizado imediatamente. Newman sugere que conforme a estrutura do tempo
é expandida, mais nos mostra o padrão. Por exemplo, na verificação de pressão
arterial, quando o padrão pode ser obtido somente após mínimo de três leituras em
ocasiões diferentes, para termos o padrão do indivíduo como hipertenso ou
normotenso. Importante observarmos a integração do padrão do indivíduo com outro
padrão, como o da família, comunidade, e assim por diante.
Para Newman, a visão de saúde como ausência da doença é associada com
a discriminação de pessoas doentes como inferiores. Para a teórica, a saúde é vista

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como um padrão emergente que pode ser entendido em termos de energia, em que
“ver a doença como uma manifestação de padrão pode ajudar as pessoas a
conscientizarem seu padrão de interação pessoa-ambiente”.
Os seres humanos são unitários com o ambiente, onde não existem limites e
os são identificados por seus respectivos padrões. Os padrões do indivíduo são
integrantes com os da família, estes com os da comunidade, e estes com os da
sociedade. Os homens organizam-se de forma crescente e são capazes de tomar
decisões.
Discute a enfermagem como profissão com três estágios de
desenvolvimento: formativo (estabelece identidade e responde por suas práticas),
normativo (a enfermagem perde autoridade e é mais competitiva e persuasiva em
relação ao ambiente, em que se dirige para o hospital e tornam-se empregados),
integrador (terá relação com outros profissionais e com clientes, em cooperativa
mútua, como parceiros), aonde a enfermagem ainda não chegou.
Para Newman, o gerente de enfermagem exerce o papel de integrador
principal, existindo ainda outros dois papéis, que é o de líder de equipe e enfermeiro
de equipe. O líder serve de ligação entre a enfermeira de equipe e o gerente, para
integrar e coordenar as ações. Acredita que o cuidar é um imperativo moral para a
enfermagem. É algo que transforma todos nós e tudo o que fazemos, mais do que
ser algo que fazemos. Cuidar reflete o todo da pessoa, exige que sejamos abertos e
ser aberto pode ser vulnerável. Ser vulnerável leva ao sofrimento, que queremos
evitar, e isso pode prejudicar nossos esforços em direção aos níveis de consciência.
Sem o cuidado, a enfermagem não ocorre. E abraçar a experiência é
permitir a descoberta da expansão da consciência. O enfermeiro e o cliente tornam-
se parceiros na vivência durante o período de desequilíbrios e no surgimento de um
nível superior de consciência.

6.9 TEORIA DE MARTA ROGERS

FIGURA 9 - MARTA ROGERS

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FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-BCNj89musgI/T7-
dfVlXx7I/AAAAAAAAAB0/498DftEC0aE/s1600/Martha_Rogers%255B1%255D.jpg >.
Acesso em: 31 jul. 2013.

Marta Rogers, de naturalidade americana, desenvolveu sua Teoria de


Enfermagem apresentando-a em 1970, com atualização em 1992, com orientação
para campos da energia e padrão de ondas. Acreditava que o conhecimento do
passado é fundamento necessário para a compreensão presente da enfermagem,
para a evolução das teorias e dos princípios que devem orientar sua prática.
Considera que a realidade das mudanças evolutivas está refletida na
crescente complexidade do homem. Mediante o conhecimento sobre antropologia,
sociologia, astronomia, religião, filosofia, história e mitologia, Rogers desenvolveu o
que denominou de sistema aberto para a enfermagem. A base de sua teoria é a
Teoria Geral dos Sistemas.

Pressupostos:

 O ser humano é um todo unificado, possuindo uma integralidade individual e


manifestando características que são mais diferentes que a soma das partes;
 O indivíduo e o ambiente estão continuamente trocando matéria e energia um
com o outro;

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 O processo de vida dos seres humanos evolui irreversível e
unidirecionalmente ao longo de uma sequência de espaço de tempo;
 Os padrões identificam os seres humanos e refletem sua totalidade
inovadora;
 O indivíduo é caracterizado pela capacidade de abstração, visualização,
linguagem e pensamentos, sensação e criação.

Baseados nestes pressupostos estão os blocos constituintes:

 Campo de energia;
 Abertura;
 Padrão;
 Pandimensionalidade.

Segundo Rogers (1970), a enfermagem é o estudo de campos humano e


Ambiental, sendo dirigido à descrição dos processos de vida da humanidade, à
explicação, à previsão da natureza e da direção de seu desenvolvimento. Arte e
ciência humanística e humanitária dirigida para a descrição e explicação do ser
humano em sua totalidade sinergética, e para o desenvolvimento de generalizações.
Considera que a identificação dos indivíduos e o reflexo de sua totalidade
são padrões de vida que permitem a autorregulagem, o ritmo e o dinamismo,
proporcionando unidade à diversidade e refletindo um universo criativo e dinâmico. A
qualquer ponto do tempo, o indivíduo é a expressão da totalidade dos eventos
presentes naquele determinado momento e é influenciado pelos eventos
precedentes.
A teoria Rogers reforça o pressuposto de que o homem, ao contrário do que
vemos ocorrer, seja visto pela enfermagem não como um homem-unitário e em
torno desse conceito estabelece suas intervenções, mas que o homem seja visto
como um processo de interação mútua do indivíduo com o ambiente e suas
variáveis.

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6.10 TEORIA DE CALLISTA ROY

FIGURA 10 - CALLISTA ROY

FONTE: Disponível em:


<http://www.bc.edu/content/bc/offices/pubaf/news/2010/nursing_profs_inductedtohalloffame07302010/
jcr%3Acontent/newscontent/textimage_0/image.img.jpg >.
Acesso em: 31 jul. 2013.

Callista Roy, enfermeira formada em 1963, com Doutorado em Sociologia


em 1977, desenvolveu um modelo de adaptação que foi a base de seu trabalho de
graduação, sob orientação de Dorothy E. Johnson, pioneira da proposição da
enfermagem como ciência e arte e que desenvolveu o modelo de sistemas
comportamentais.
Sob essa influência, apresenta determinadas áreas de fundamental
importância para a prática da enfermagem, quais sejam:

 A pessoa que é receptora do atendimento de enfermagem;


 O conceito de ambiente;
 O conceito de saúde;
 A enfermagem.

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O receptor do cuidado de enfermagem pode ser o indivíduo, a família, a
comunidade ou a sociedade, cada qual com uma abordagem holística de adaptação.
Os aspectos individuais compõem um ser unificado e as pessoas sempre estão
interagindo com o ambiente, com permanente troca de informações, estímulos e
respostas, constituindo um sistema em que existem entradas, saídas, controles e
retroalimentação.
Esse sistema apresenta entradas na forma de estímulos e nível de
adaptação, e saídas com respostas comportamentais, que poderão ser
retroalimentadoras e determinantes de processos de controles (mecanismos de
enfrentamento). Essas entradas podem ter origem no meio externo à pessoa ou em
si próprio, e os estímulos poderão ter características classificadas como focal,
contextual e residual. O estímulo focal é o que mais impacto causa na pessoa,
determinando mudanças.
O estímulo contextual são aqueles que advêm do meio interno ou externo à
pessoa, com influência positiva ou negativa sobre a situação. O estímulo residual
são aqueles que, advindos do meio interno e/ou externo, não são claramente
identificados. Com esses estímulos entra em ação o sistema adaptativo, cujo nível
será determinado pela intensidade dos estímulos presentes.
As respostas são individuais e o nível de adaptação está sempre em
constante mudança. Essas respostas são identificadas pelas mudanças ocorridas e,
nesta situação, o enfermeiro se faz necessário para a identificação destas respostas,
por intermédio de sua percepção.
A adaptação a esses estímulos constitui a resposta do indivíduo e promove
o equilíbrio e integridade do sistema e, por consequência, da própria pessoa. As
respostas do indivíduo na forma de controle do processo constituem-se no
mecanismo de enfrentamento defendido por Roy, que podem ter natureza genética
ou de herança (sistema imunológico), ou de aprendizagem (por exemplo, uso de
antissépticos para ferimentos).
A regulação na busca do equilíbrio é identificada e pode ter origem externa
ou interna, tendo como resposta mecanismos reguladores como, por exemplo, os de
natureza química, neural ou endócrina. Ela considera, por exemplo, a existência de
subsistemas reguladores que respondem aos estímulos. Entre os muitos existentes

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está àquele que promove a retroalimentação respiratória, em que o aumento do
dióxido de carbono estimula os quimiorreceptores na medula a aumentar a
frequência respiratória como compensação.
Outro subsistema identificado por Roy é o subsistema cognato, relacionado
com as funções cerebrais superiores de percepção, processamento de informações,
julgamento e da emoção. A dor é reconhecida como estímulo interno de entrada que
leva o indivíduo a perceber, avaliar, julgar e decidir.

Roy identificou quatro modos de adaptação, quais sejam:

 O fisiológico, resposta física aos estímulos ambientais, como a oxigenação, a


nutrição, a eliminação, a atividade, o repouso e a proteção;
 O autoconceito, relacionado com a necessidade de integridade psíquica, em
que o foco é o ser pessoa e o ser físico, onde predominam os aspectos
psicológicos e espirituais da pessoa;
 Modo de função do papel, na qual a principal necessidade preenchida é a
integridade social, em que são identificados os papéis primário, secundário e
terciário. O papel primário determina a maioria dos comportamentos e é
definido pelo sexo, idade e estágio de desenvolvimento da pessoa,
determinando as realizações pelo papel secundário. O papel terciário é
temporário, escolhido com liberdade (por exemplo, os hobbies que temos);
 Modo de interdependência, em que as necessidades afetivas são
preenchidas, incluindo os valores humanos que são por ele identificados,
como a afeição, o amor e a afirmação.
O modelo de adaptação de Roy, enfim, é um excelente parâmetro para as
ações do enfermeiro, quando estão presentes as investigações do comportamento,
do estímulo, o diagnóstico de enfermagem, o estabelecimento de metas, a
intervenção e a avaliação.

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FIM DO MÓDULO I

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