/ I.

Jose Milton Andrlgu."o Fllho

OCEANOGRAFO 1987 _..

I
il

PUBLICACAO EDITADA PELA FUNDACAO ZOOBOTANICA DO RIO GRANDE DO SUL

 iNDICE

FlR
Zoobotânica
Editorial .... . . . . . . . . .. . ... . . ... . . . . ......... , .. . . 2

~OJOiJ©",,~&.© ~@@®@~~>'J~~""
Artigos
Jtj(j ~1~ i!J <\i~j\li'Jm @@ $i\J~
Escargot, escaragol ou caracol? ..... ... 8
EntIdade de di/ellO privado Instituída por As maravilhosas orquídeas. ....... . 14
aUlOlllacão da let estadual n O> 6 497. de
20. 12 n ISupe/visionilda pela Secreta" 3 Coleta e cultivo de cactos. . . 18
de Estado da Agricultura e Abastecim ento l Prot eção ambiental: U m movimento sem fronteiras. . . ... 22
Desmatam ento: Uma ameaça aos prima tas bra sileiros ..... . .... . . . • .... 24
Gove"'ddor do ESfado Ranicultura : Uma nova opção da pecuária . . . ......... .... 28
Pedro Jorge Simon
Exploração de algas marinhas no Chile. . .. .. .. ..... 32
Scqeréma da Agricultura e AbasleClmenlo
Jarbas Pires Machado
Parelheira: Uma cobra inofensiva que devora outras ...... 36
Com p0rtameP'Q de ! rm leão-mWipbg @m cativeiro. . .38
FlIndaciio Zoobolântca do N oticias. '... ... ...... . ..... . .... .... .... , ............... ....... 44
RIO Grande do Sul

Presidente Notas Bibliográficas: ....... .. . .51

Josê 'Nillibaldo Thomé

Dlfetora Superintendente Foto Capa: Petit Gris (Helix aspersa)

NQfa Helena Tatsch
Foto : IIka Portes
o/relora Execulilla do .Jardim Borãmco
Mari;1 C"S(lIl<1 Flor<1 Souza

0118/01 Execuf /VO do Museu de Ciêllc/as

NalUrais
G,lberfO Carvalho Ferraz
Escargot, Escaragol As Maravilhosas
Dlf e rQr ExeçutlVo do Parque Zoológico
OU Caracol? Orquídeas
Olisses Chilolina Pág. 8 Pág. 14
NATUREZA
EM REVISTA
Publlcacão ed itada pelo Núcleo de
Comunicacào Social
Regisuada sob n umero de ordem 18, a II.
75. do boro BI de "Malricuta d e Oficinas
Impresso/ase de Jomaise outros
PeriôcJicos, do Can ô rio de Registro
i Esoeçial de Pan o Alegle.
fd,ror
E);saber e M o n fleo Mart ;ns d a Silva

Comissão Editorial
Her1flQue Fetx. M árCia Tlterez:mha
Menna 8<1"elo das Neves e
Mafia Aparecida de Leão Marques
Consu/ror
rh81es de Lem ll
Proteção Ambiental: Desmatamento:
Diagramacão Um Movimento Uma Ameaça aos
Carmen Lucca.
/mpressao:
CORAG
sem Fronteiras Primatas Brasileiros
Pág. 22 Pág. 24
olsf"bUlCào:
Rubens Kremer

RedJcJo:
Rua Dr Salvador franÇiJ. 1427 - Porto
Alegre, RS
Ttragem .
10.000 exemplares
OS ;/f11(]OS as.çmarlos são dp
responsabilidades do (s) autor (es e
poderão ser parCial ou m tegralmente
reproduzidos, desde que cilada a fonle.

G O v

li & l1li111.• '1119

2
 ETOlOGIA

Comportamento
de um l IV

eao-Marinho
em Cativeiro*
.,
José M il ton '
An dnguetto Filho '
G
d
e:
ql

A
o objeto deste trabalho foi o l(lão-marinho Pepita, um macho adulto de Otaria lin,
flavescens (Shaw) (Pinnipedia, Otaiidae) Que se encontra cativo no Museu qUI
Oceanográfico da Fum;!ação Universidade do Rio Grande - MOFURG - ob~
, . desde agosto de 1975: Foi recolhido na praia do Cassino, bastante debilitado e
regurgitando óleo crú, possivelmente já com dois anos de idade. .
Par4
cria
Atualmente, .Pepito é o único animal cativo no MOFURG i no entanto, já citn.
, partilhou a jaula com pingüins e leões-marinhos em diversas ocasiões. Os pav
primeiros eram tolerados, embora algumas vezes despertassem comportamento no t
agressivo. Os leões machos eram tratados agressivamente. Uma fêmea ; Isaac. repl
permaneceu com Pepita entre agosto e dezembro de 1976, sendo seu áreé
relacionamento pacifico. Não se observou cortejamento ou cópula . co rr
Isaac fugiu para a Lagoa dos Patos, derrubando o portão da jaula. Pepito, no ma,
entanto, não a seguiu. ' , ' D rr
As observações se desenvolveram em períodOs semanais de três horas, entre Urn í
25 de março e 24 de maio. As temperaturas do ar registradas durante os an ir
períodos de observação mantiveram-se entre 19°C e 24°C; o pouco tempo de exp
observação e o fato de apenas um exemplar ter sido estudado não permitiram Per:
definir a influência das condições atmosféricas sobre o comportamento. Pre:
. .~

pe/(
den
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obs
Oe
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pró
 NATUREZA EM REVISTA
DESCRiÇÃO
DA JAULA E IMEDIAÇÕES
Pepito encontra-se em uma jaula de 27m por
3m provida de um tanque de 27m por 5m,
com 60cm de profundidade< Está localizada
nos fundos do MOFURG, a poucas dezenas
de metros da Lagoa dos Patos, voltada para
noroeste.
o tanque é cheio com água bombeada da
Lagoa, com salinidade média de 20%,
oscilando entre 4 e 32%. É freqüentemente
transbordado para a remoção de detrítos,
I sendo totalmente esvaziado e limpo lima vez
por ano. Isto ocorre no inverno para evitar a
desidratação do animal. Segundo funcionários
do Museu, Pepita fica inquieto se o tanque
está vazio, e permanece mergulhado durante
quase todo o dia no verão,
A figura 1 representa a jaula e imediações. As
linhas em traço duplo indicam a tela de arame
que cerca a jaula, Entre A e B o animal pode
observar a frente do Museu, Entre B e C a
parede do prédio projeta-se sobre a jaula
criando uma área coberta, com piso de
cimento(l!' Inicialmente esta área não era
pavimentada, e Pepita escavava depressões'
no terreno onde se alojava nos momentos de
repouso, II representa o tanque, III e IV são
áreas calcadas, V é um depósito. O
compressor indicado funciona periodicamente,
mas Pepito parece estar acostumado ao ruido.
O marca o local do comedouro e F assinala
uma posição de observacão fora das vistas do
animal. É protegido por um muro de tijolos
expostos cujos orificios permitem observar
Pepito, Provavelmente ele podia detectar a
presenca do observador em F pelo cheiro ou
pelo pouco ruido produzido< Se talo fez, não
dem0nstrou. De qualquer modo, pôde se
comprovar que a observação a partir de F
perturbava menos o animal. uma vez que não
provocava a resposta de voltar ii água quando
da aproximacão de pessoas (ver secão X) <
• guarda-pó e portar um balde ou objeto semelhante,
O ponto E representa uma posicão de
observação utilizada por Pepito.
O código de letras e algarismo aqui
estabelecido é utilizado nas descricões das
próximas seções.
II,
: I v ito "rnp"""
jPara q L:MgOQ do.. Pato'4
ATlVIDADE ALIMENTAR
E COMPORTAMENTOS ASSOCIADOS
A alimentação de Pepito consiste exclusiva«
mente de peixe, cedido pelas companhias de pesca
de Rio Grande e mantido em congelador a -5°C. Há
uma refeição por volta das 1O horas da manhã e
quase que diariamente também uma à tarde, às 17
horas< Cerca de 8kg de peixe são consumidos em
cada refeicão. O peixe é trazido até a jaula em um
balde e dai translerido a um monobloco que serve
de comedouro. O peixe é rejeitado se em estagio ini«
cial de decomposição ou se ainda congelado, e é
servido ainda bastante Irio,
A partir das 9 horas da manhã e 16 da tarde,
Pepito comeca a exibir um padrão de natação bas­
tante regular (ver seção IV) durante o qual, a cada
volta, faz uma pequena parada no ponto E e obser­
va a frente do Museu. Desse momento até terminar
a refeição seu comportamento é bastante menos
aletado pela presença de visitantes do que durante
o resto do dia. Ainda durante esse periodo, a aproxi­
macão de qualquer pessoa é acompanhada com
atencão. Se essa pessoa é um funcionário do MO­
FURG, Pepito pode exibir um comportamento bas­
tante curioso. Quando o homem aproxima·se da
jaula pela extremidade oposta àquela em que se en­
contra Pepito, este nada para ele rapidamente, atra·
vessando o tanque em cerca de 5s, nadando com os
Quatro membros, ondulando dorsoventralmente e
espalhando muita água. Segundo o pessoal do Mu­
seu este comportamento não é raro, sendo o lun
cionàrio reconhecido, aparentemente, por trajar
ainda que não traga peixe. Há, no entanto, outro
modo mais brando de responder à aproximacão do
tratador: Pepito nada diretamente ao ponto D, sem­
pre com a cabeça fora d'água, Um pouco mais rapi­
damente do que em circunstâncias normais, ou logo
,-----­

NATUREZA EM REVISTA NATL

sai da água e acompanha o tratador até o comedou­ intervalo entre si, e o intervalo de tempo médio en­ tipíc
ro, tre 1 e 2 é de 23 segundos. Ocasionalmente, pára aloja
A maior parte do alimento é constituída de pei­ numa das e)(tremidades do tanque, exala. inala, este
xes inteiros com cerca de 20cm de comprimento, exala, inala e reinicia o ciclo_ Sempre ocorre uma a pr
Há exemplares menores, bem como fragmentos de pausa no ponto E, ainda Que seja muito curta. Este é 16h
peixe. Os peixes grandes Pepita abocanha e atira o padrão usado durante a maior parte do dia, princi­ dia,
para o tanque com um movimento de pescoço, palmente Quando não há visitantes, Pepito só retira cion
mergulhando logo em seguida para engolir o peixe, o focinho da água para respirar; a presenca daque­ dese
dentro d'água, inteiro e sempre pela cabeça, para les pode interromper os ciclos, ou simplesmente ser dest
evitar que as nadadeiras danifiquem ou se prendam acompanhada pelo animal, que passa a tirar a cabe·
ao início do trato digestivo_ Os peixes e pedaços ça mais freqüentemente da água, e sempre que ou­
ens<
menores são comidos mesmo fora do tanque, sen­ tras pessoas chegam. As curvas nas extremidades
trint
do literalmente sugados pelo animal. E comum Pe· .do tanque são feitas com o dorso voltado para o
mar
pito entornar o comedouro,espalhandoo peixe. Pe­ centro da traíetória.
necl
daços maiores são abocanhados em número de 3 a As figuras 3 e 4 representam movimentos rne­
min
5 e levados para o tanque, sendo comidos dentro ou nos comuns, regulares em trajetória, sem pontos
volt
fora d'água. Os pedaços grandes podem ser masti­ preferenciais para respiracãó. Na figura 4 o traço
gados algumas vezes. Pepito consome toda a refei­ mais grosso indica partes do percurso em Que Pepi­
çoe:
cão em cerca de 10 minutos, repetindo a seQüência ta permane.ce com a cabeça emersa_ Não deixa de
min
de sair da água para pegar o peixe e voltar a ela para ocorrer a parada em E.
Pep
comê-lo um bom número de vezes. Terminado o
sol,
peixe do comedouro, Pepito passa a procurar os úl­ MOVIMENTOS fora
timos pedaços dentro do tanque. Sempre restam al­ ASSOCIADOS A TERMORREGULAÇÃO tua(
guns, podendo ser comidos posteriormente. Certa
apó
vez foi possível observá-lo comendo estes últimos .Foram observadas quatro situações em Que o
mar
pedaços à noite, por volta das 20 horas. comportamento estava associado à termorregula­
çõe
Segundo funcionários do Museu, Pepito Gome ção. Pepito realiza-os mesmo em presença de pes­ o fe
todo tipo de peixe, menos os bagres, ainda que lhes soas; no entanto, a aproximação destas, se está so­ vez
tenham sido removidos os esporões. Provavelmente zinho, faz com que abandone o comportamento. beç
isto se deva a uma experiência dolorosa anterior. A primeira situação ou atitude consiste em ficar
deitado sobre o ventre ou os flancos, exposto ao sol
PADRÕES
na área III. Ocasionalmente, distende os membros
posteriores ou ergue e agita lentamente um membro
DE NATAÇÃO anterior. Este movimento de abanar as nadadeiras é
con
• Pepito usualmente nada pela movimentação la­ indicado por Vaz-Ferreira e Palerm (19611 como típi·
um
teral de seus membros posteriores, utilizando os an­ co em Callorhinus ursinus (lobo-marinho do He
soa
teriores como lemes. Pode nadar tanto com o dorso misfério Norte) tendo como finalidade incrementar a
flan
como com o ventre voltado para baixo, sendo a se­ evaporação de água. Aparentemente, no caso de
DOS
gunda modalidade usada quando o animal Pepito, o abanar vem substituir os comportamentos ou.
movimenta-se com um objetivo especifico. como tar·
comer ou observar algo, e a primeira corno símples nas
locomoção no tanque_ Como vimos na seção ante­ me,
rior, pode nadar rapidamente valendo-se dos quatro Ir . '\ den
membros.
Ouanto aos padrões de natação e movimenta­
" ' " \~~'~:::::::=== ____--=-~::=::::::::::::,J{,
L'I
aml
cau
ção em geral, são bastante diversos: podem ser ou
não influenciados pela presenca de pessoas, confor
me a situação, e podem ser altamente regulares ou fi 9. ]

totalmente aleatórios.
Pepita pode apresentar tres percursos regula­ pOl
res de natação pelo tanque (figuras 2, 3 e 4). O pri­ ná(
meiro deles (fig, 2) é bastante regular, e o animal na­ foi
da quase sempre de costas. O percurso é realizado ass
em 55s em média, e Pepito respira 4 a 5 vezes, qua­ pel,
se sempre nos locais assinalados pelos pontos nu­ def
merados. As respirações 5 e 1, 2 e 3 têm pequeno gra
 ••

----------------,--------­
A NATUREZA EM REVtST A 41
•
1­ típicos da espécie, que são, cobrir-se de areia ou noridade, normalmente de baixa intensidade e curta
'8 alojar-se em pocos escavados nela. Foi observado duração.
l­ este primeiro tipo de componamento por duas vezes,
,a a primeira em dia de céu descoberto, a 21°e, às OUTROS
é 1Gh 40min, com vento fraco de leste, sendo que o MOVIMENTOS E ATITUDES
i· dia anterior fora chuvoso e O tanque estava excep­
'8 cionalmente cheio; a segunda, também com céu Para locomover-se em terra, Pepito caminha,ou
~- descobeno, a 21 oe, às 14 horas, com vento nor­ com movimentos separados e alternados dos quatro
~r deste fraco. membros, ou movendo as nadadeiras posteriores
,­ A segunda situação ocorreu também em dia em conjunto.
J­
ensolarado e de pouco vento, a 19"C. Uma hora e Algumas vezes, o leão permanecia alguns 01'­
,s
trinta minutos após a refeição da manhã, o leão· nutos 14 'a 6min) sobre o ponto E, apoiando ou não
o .marinho saiu do tanque para a área" onde perma­ os membros anteriores sobre a borda do tanque.
neceu sentado com o dorso exposto ao sol por 1O Olhava ora numa direcão ora noutra, emitindo rugi­
a­ minutos, até que a aproximação de pessoas o fez
)$
dos ocasionalmente. Por outro lado, deixava .. se fi­
voltar para a água. car por periodos de até 40 minutos sobre a área 11\,
:0
,,­ As duas últimas situacões referem-se a posi­ diante de visitantes, alternando movimentos de co­
ções dentro do tanque, que podem durar de 10 a 15 çar e de termorregulação com curtas caminhadas e
le minutos, aS quais pôde-se observar várias vezes. interacões com as pessoas (ver seção X).
Pepito deita-se de lado no fundo do tanque, sob o
sol, estendendo um dos membros anteriores para Finalmente, cabe descrever movimentos que
fora d'água e mantendo-o distendido. A última si­ podem corresponder a jogos e brincadeiras, embora
tuação é semelhante à anterior,' só que o animal realizados solitariamente. Todos esses movimentos,
apóia os membros posteriores na borda do tanque, relacionados a seguir, foram realizados dentro da
0;­ mantendo o corpo bem distendido. Nessas posi­ água, no mesmo dia, por volta de 10h30min, nos
a­ ções, respfra uma vez a cada 40s, retirando apenas 10 minutos subseqüentes à refeição. 0O tempo esta­
s­ o focinho da água quando não há visitantes, e uma va bom, com céu descoberto e a 20 e. Havia pes­
D- •
vez a cada 25s se há visitantes, retirando toda a ca­ soas presentes. A seqüência foi concluída com ati·
beca da água e observando as pessoas. tudes de termorregulação dentro do tanque,
ar
01 1) Apoiado no fundo do tanque ou flutuando
)S
MOVIMENTOS DE COÇAR sobre o franco esquerdo, estendeu o membro ante
'o rior direito para cima, torceu o corpo e dobrou os
Quando fora do tanque, a atividade de coçar é membros posteriores junto ao abdômen, mantendo­
é comum. Os movimentos são semelhantes aos de
lÍ­ os fora d'água.
um cao, e não são inibidos pela presença de pes· 21Flutuando sobre o dorso, dobrou as nadadei·
s­
soas. Estes movimentos consistem em cocar os ras posteriores sobre o abdômen.
a flancos com o membro posterior, cocar as regiões
le 31 Apoiado no fundo do tanque ou fluluando
posteriores, ancas e região púbica. com o focinho sobre o flanco direito, dobrou o corpo de modo a
)5
) ou os dentes e erguer o membro anterior para facili­ unir os membros anterior e posterior do lado esquer..
\
tar o coçar com O posterior. Utiliza as unhas ou ape­ do.
nas as expansões das nadadeiras, estas principal­ 4) Nadou em círculos, perseguindo a própria

~
mente para coçar o focinho. Estes movimentos po­
cauda.
dem associar~se em seqüências completas, onde
5) e 6) respectivamente uma cambalhota lateral
ambos os lados do corpo sao cocados do focinho à e uma frontal, provavelmente apoiando as nadadei­
cauda.
ras anteriores sobre o fundo do tanque.
7) Flutuando sobre o dorso, dobrou o corpo de

1J
o VOCALIZAÇÕES
O repertóriO observado é reduzido, e exibido
modo a juntar os membros posteriores aos anterio­
res.

pouco freqüentemente. Notou-se uma tendência a Algumas vezes emitiu grunhidos. Apenas o
não produzir sons na presenca de pessoas, mas não
1,í , i
foi passivei determinar padrões de vocalização, nem
associá-Ia a alguma atividade específica realizada
movimento 4 foi rápido; mesmo as cambalhotas se
deram lentamente. Durante toda a seqüência, a ca­
J
beça era retirada da água apenas para respirar, em
)

j
I
pelo animal. As vocalizações de Pepito podem ser
definidas como roncar, arrotar ou grunhir. São sons
graves, guturais, vibrantes, surdos ou de pouca 50­
média, a cada 155. Os movimentos duraram, cada
um, cerca de 305, cOm intervalos variáveis entre
eles, e não houve repetição.

~
 42 NATUREZA EM REVISTA
NA

ATIVIDADE NOTURNA
v€
A s observacões noturnas foram realizadas duas pC
vezes, entre 18 e 21 horas . cã
• -c- · .~., '~
dr
A primeira deu-se com tempo bom, céu enco­ .... , ';f..,'7<, ,:~< '," 0 11
,­ berto, 24°C de temperatura do ar e leve brisa de les­ qL
te . Por volta das 18 horas, Pepita estava termorre­ n~
gu iando dentro do tanque, como descrito na secão
V . Às 18h30min parou dentro do tanque a cerca de ta
3 metros do ponto C, passando a flutuar sobre o cc
corpo. A cabeça foi mantida im ersa, e as respira­ o
ções se davam em média a cada 305. Ao pc
acenderem-se as luzes externas do Museu , nadou at
até o ponto E, onde ficou a observar por alguns ins­ 11
Pepito em seu ponto de Observação.
tantes. Voltou a posição anterior, no mesmo local. af
Adormeceu às 19h10min, imobilizando a cabeça,
com as narinas e os olhos emersos, e as orelhas
imersas . A respiração tornou-se bastante suave,
realizando-se a cada lOs aproximadamente,

Na segunda oportunidade, céu descoberto, lua

cheia, 19° C de tempera tura do ar, ven to fort e de
nordeste. Às 19 horas o animal ainda comia res­
tos de peixe no tanque. Às 19h30mim já dormia,
do mesmo modo como descrito no parágra fo ante-'
riar. É interessante notar que a posicão é bastante
protegida do vento (ponto G na figura 11.
Aproximei-me dele e iluminei se us olh os com uma
lanterna, sem no entanto conseg uir aco rdá-lo. O fa- .
to provavelmente indica plena hab itu acã o ao cati­
veiro.
Peixes inteiros são engolidos pela cabeça.
COMPORTAMENTO H.

• NA PRESENÇA DE PESSOAS SI
As reações de Pepito frente a visitantes podem
ir da indiferenca à curiosidade,

A presença de pessoas não impede - às vezes

até mesmo estimula - que saia da água para ter­ V
morregular, coçar-se ou apenas repousar. No en­
tanto, se está fora do tanque sem pessoas por perto
e alguém se ap ro xima, logo volta para a água.
A áproximacão das primeiras pessoas é perce­
bida provavelmente pela audicão, mesmo quando
ainda se encontram diante do Museu. Ele desloca ­
se então para o po nto E e fica a fitá-Ias por alguns
instantes. A chegada de outras pessoas já não inter­
fere nos padrões de natação e termorregulação den­ V
tro d'água; o animal limita-se a acompanhá-Ias com
os olhos. O comporta m ento alimentar aparente­ x
mente não é interrompido de modo algum. A ativi­
dade de funcionários do MOFURG próximo ii jaula é
acompanhada com atenção; Pepito pára e fi ca a
observá ~ los com a cabeça e o pescoço fora da água . A se ta indica um pedaço de peixe arremessado para o tanque.
A NATUREZA EM REVISTA 43

Por outro lado, pode mostrar~se bastante sociá· CONCLUSÃO

vel e curioso. principalmente em dias de sol com
pouco vento e nas duas horas subseqüentes à refei·
cão. Ele intercala pequenos círculos em seus pa·
drões de natação, ficando com a cabeça emersa e
olhando para as pessoas; também pode sair do tan­
que. aproximar-se da grade e farejar. Normalmente
não emite sons nessas situacões.
Gritos e assobios parecem não afetá·lo; no en­
tanto. podem provocar respostas agressivas. O peso
coço é inclinado para frente, a cabeca é abaixada e
o focinho erguido. O movimento é acompanhado
por um rugido alto e prolongado, e se assemelha à
atitude agressiva descrita por VAZ -FERREIRA
119151. Por outro lado, é um grito do tratador que
afasta Pepito do portão e permite ao homem entrar
na jaula à hora das refeições.
o objetivo deste trabalho é descrever· o com~
portamento em cativeiro do espécime considera­
do. estando fora de seu escopo a discussão dos
estímulos e mecanismos segundo os quais esse
comportamento se processa. Contudo, os dados
aqui registrados, ao serem comparados com obser­
vações em campo, contribuem para identificar e
analisar as diferencas entre o comportamento em
cativeiro e no ambiente natural. Venfica-se que es­
tas diferencas são pequenas, permitindo reconhecer
muitos aspectos do comportamento, como termor­
regulacão e posturas de ameaça, e consistem em
adequações dos movimentos ao ambiente físico da
iaula. Sem dúvída, Pepita encontra-se muito bem
adaptado ás condições que lhe toram impostas._

hi
~.

~
'.,
v

,
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