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VII- ANÁLISE DA JAZIDA ATRAVÉS DE CLASSIFICAÇÕES DE SOLO

O objetivo das classificações dos solos, sob o ponto de vista da


engenharia, é o de poderem, a partir de propriedades mais simples de
um solo, estimarem propriedades mais complexas deste solo.

Por exemplo, quando se tem possibilidade de utilização de mais


de uma jazida de solo, para a construção do aterro de uma barragem, é
importante concentrar o estudo, naquela, ou naquelas que se julgue que
se comportariam melhor no aterro. Ou seja, é importante que o solo
compactado apresente baixa permeabilidade, baixa deformabilidade e
boa característica de resistência ao cisalhamento. É possível obter-se
estas características do solo através de ensaios laboratoriais específicos,
mas, em uma fase preliminar de estudos, em anteprojetos, estes ensaios
demandariam tempo e custos, o que geralmente não cabe no orçamento
desta.

Sendo assim, procura-se nas classificações, através de


características mais simples dos solos, como granulometria, limite de
liquidez e limite de plasticidade, estimar o provável comportamento do
solo ou, pelo menos, o de orientar o programa de investigação
necessária para permitir a adequada análise de uma provável
característica mais complexa do solo.

Dentre os vários sistemas de classificação existentes, citamos:


- Classificação por tipo de solos;
- Classificação genética geral;
- Classificação granulométrica;
- Classificação unificada (U.S. Corps of Engineers).

VII.1- CLASSIFICAÇÃO POR TIPO DE SOLO

Nesta classificação utiliza-se apenas a análise


análise táctil-
táctil-visual,
visual sendo
um sistema descritivo.

Sua utilização é bastante simples e pode trazer informações


bastante úteis na fase inicial de estudos, através da identificação de
solos mais arenosos, solos mais argilosos, solos orgânicos, plasticidade
dos solos argilosos, etc. Estas características já podem indicar o
comportamento do solo da área de empréstimo em termos de
trabalhabilidade na compactação, permeabilidade quando compactado e
necessidade de remoção da obra (bota-fora) (solos orgânicos), etc.

Apresenta-se na Tabela VII.1, informações sobre procedimentos


para identificação táctil-visual de solos.

VII.2- CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA GERAL

É um sistema de classificação também de natureza descritiva,


sendo necessário para a sua utilização um conhecimento da gênese dos
solos, ou de uma forma que seja mais simples, fazer uma análise de sua
macroestrutura, da cor e da posição da amostra no subsolo.
Tabela VII.1- Identificação de solos – Procedimentos e características
(Bueno&Vilar, 1999).
TIPOS DE SOLOS PROCEDIMENTOS E CARACTERÍSTICAS
Areias e solos •Tacto → áspero
arenosos •Observação visual → incoerente
Areias finas, siltes, •Tacto → pequena resistência do torrão seco
areias siltosas ou (esfarela facilmente).
pouco argilosas. •Torrão seco desagrega rapidamente, quando
submerso.
•Dispersão em água → sedimenta rápido e a
água permanece turva, por pouco tempo.
Argilas e solos •Tacto → úmido: saponáceos
argilosos (com pouca •Tacto → secas: farinhosas
areia ou silte) •Torrão seco bastante resistente e não
desagrega quando submerso.
•Plasticidade
•Mobilidade da água intersticial
Turfas e solos •Cor → geralmente cinza, castanho-escura;
turfosos (solos preta.
orgânicos) •Partículas fibrosas
•Cheiro característico de matéria orgânica em
decomposição
•Inflamáveis quando secos
•Pouca a média plasticidade
Na classificação Genética Geral, o solo é dividido em três
categorias (Bueno&Vilar, 1999):

a- Solo Superficial
Solo que constituí o horizonte superficial, normalmente contendo
matéria orgânica. Nesse horizonte concentra-se o campo de estudo da
pedologia. Possui estrutura, cor e constituição mineralógica diferente das
camadas inferiores. A espessura varia de alguns centímetros a alguns
metros.

b- Solo de Alteração
Solo proveniente da decomposição das rochas graças aos
processos de intemperismo. Em condições normais, acha-se subjacente
ao solo superficial. É um solo residual e pode, freqüentemente, no Brasil,
atingir até dezenas de metros com a profundidade.

c- Solo Transportado
Solo originado do transporte e deposição de material, por meio dos
processos geológicos de superfície. A granulometria é mais ou menos
uniforme, de acordo com o agente transportador. Em condições normais,
pode constituir as camadas aflorantes ou estar subjacente ao solo
superficial. Atinge, por vezes, espessuras de centenas de metros.

Utilizando-se esta classificação para o solo da área de empréstimo


de uma barragem, pode-se dizer:
- os solos orgânicos devem ser descartados na construção do
aterro e também como base do aterro;
- os solos transportados, por ter uma granulometria mais ou menos
uniforme, possuem uma boa trabalhabilidade como material de
compactação, isto dependendo da proporção entre areia e argila
presentes;
- os solos residuais, aqueles que permanecem no lugar onde foram
formados, a partir da rocha matriz, geralmente não tem granulometria
uniforme e sua composição granulométrica varia com o tipo de rocha e
com o tempo de intemperismo sofrido. Em sua composição
granulométrica podem ser encontrados materiais como pedras até
argilas. Devido a esta variabilidade granulométrica, a decisão por sua
utilização como solo do aterro da barragem, deve ser criteriosamente
estudada.

VII.3- CLASSIFICAÇÃO GRANULOMÉTRICA

A composição granulométrica do solo, como visto no Capítulo VI.2,


fornece a porcentagem dos diâmetros que compõem o solo.

A sua composição granulométrica, no caso da construção de um


aterro, dependendo da proporção entre argila, silte e presente, já pode
indicar como será o comportamento do aterro, em termos de
trabalhabilidade, permeabilidade, etc. É importante salientar que não é
somente a proporção entre os materiais que dita o comportamento do
material, sendo este diretamente relacionado ao tipo de argila presente.

VII.2- CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA GERAL

Esta classificação vem sendo utilizada desde 1942, quando foi


proposta por Arthur Casagrande, fornecendo informações a respeito do
comportamento de aterros, a partir dos resultados da curva
granulométrica dos solos e dos limites de consistência e permeabilidade.

Neste sistema, todos os solos são identificados pelo conjunto de


duas letras: um prefixo e um sufixo. A primeira letra indica o tipo principal
de solo e a segunda letra corresponde a dados complementares dos
solos. As cinco letras que indicam o tipo principal de solo são:
G → pedregulho
S → areia
M → silte
C → argila
O → orgânico
As quatro letras que correspondem a dados complementares do
solo são:
W → bem graduado
P → mal graduado
H → alta compressibilidade
L → baixa compressibilidade
A letra Pt é utilizada para turfas.

Sendo assim, por exemplo, um solo SW, corresponde a uma areia


bem graduada, e um solo CH a uma argila de alta compressibilidade.

Para a sua utilização, os solos foram subdividos em subgrupos, os


quais são apresentados nas Figuras VII.1 eVII.2.
Figura VII.2 – Classificação Unificada (in Bueno&Vilar, 1999).
TRABALHABILIDA COMPRESSIBILI
PERMEABILIDA RESISTÊNCIA γd,máx. para wot. CARACTE
DIVISÕES SÍM DE COMO DADE VALOR COMO
SUBGRUPO DE QUANDO COMPACTADA E (Proctor Normal) RÍSTICAS DE
PRINCIPAIS BOLO MATERIAL DE COMPACTADA E FUNDAÇÃO
COMPACTADO SATURADA g/cm3 DRENAGEM
CONSTRUÇÃO SATURADA
Pedregulhos: mistura areia
pedregulho bem graduada; pouco GW Excelente Permeável Excelente Desprezível De 2,00 a 2,20 Excelente
PEDREGULHOSOS

ou nenhum fino
PEDREGULHOS E

Pedregulhos: mistura areia


pedregulho mal graduada; pouco GP Boa Muito desprezível Boa Desprezível De 1,80 a 2,00 Excelente
ou nenhum fino
Pedregulhos siltosos: mistura Semipermeável a Boa a excelente
SOLOS

GM Boa Boa Desprezível De 1,92 a 2,20 Regular a má


pedregulhos - areia - silte Impermeável
Pedregulhosargilosos: mistura
GC Boa Impermeável Regular a Boa Muito pequena De 1,84 a 2,10 Má
pedregulhos - areia - argila
Areias, ou areias pedregulhosas
SOLOS GRANULARES

bem graduadas; pouco ou nenhum SW Excelente Permeável Excelente Desprezível De 1,76 a 2,10 Excelente
fino
AREIAS E SOLOS

Areias, ou areias pedregulhosas


Má a boa – depende do
mal graduadas; pouco ou nenhum SP Regular Permeável Boa Muito pequena De 1,60 a 1,92 Excelente
peso específico
ARENOSOS

fino
Areias siltosas; misturas areias - Semipermeável a
SM Regular Boa Pequena De 1,76 a 2,00 Regular a má
siltes impermeável
Areias argilosas; misturas areias -
SC Boa Impermeável Regular a Boa Pequena De 1,68 a 2,00 Má a boa Má
argilas
Siltes inorgânicos, pó de pedra,
SILTES E ARGILAS

areias finas siltosas ou argilosas; Semipermeável a Muito má; susceptível


ML Regular Regular Média De 1,52 a 1,92 Regular a má
siltes argilosos de baixa impermeável de liquefação
COM LL< 50%

plasticidade
Argilas inorgânicas baixa – média
plasticidade; argilas arenosas; siltes CL Regular a Boa Impermeável Regular Média De 1,52 a 1,92 Má a boa Má
SOLOS FINOS

argilosos; argilas magras


Siltes orgânicos: argilas siltosas de Semipermeável a
OL Regular Baixa Média De 1,28 a 1,60 Má Má
baixa plasticidade impermeável
Siltes inorgânicos, solos micáceos
Semipermeável a
ou diatomáceos de alta MH Má Baixa a regular Alta De 1,12 a 1,52 Má Regular a má
ARGILAS COM

impermeável
compressibilidade
Argilas inorgânicas de alta
SILTES E

LL > 50%

CH Má Impermeável Baixa Alta De 1,20 a 1,68 Regular a má Má


plasticidade; argilas gordas
Argilas orgânicas de média a alta
OH Má Impermeável Baixa Alta De 1,10 a 1,60 Muito má Má
plasticidade; siltes orgânicos
SOLOS Turfa e outros solos altamente
Pt Compactação extremamente difícil; não utilizados como aterro; devem ser removidos das fundações; recalques excessivos; resistência baixa
ORGÂNICOS orgânicos

Figura VII.2 – Classificação Unificada


VIII-– VOLUME DE ÁREA DE EMPRÉSTIMO NECESSÁRIA – NÚMERO
DE VIAGENS DE CAMINHÃO – VOLUME DE ÁGUA A ACRESCENTAR

Após a definição da geometria do aterro, torna-se possível calcular


o seu volume, ou volume de solo compactado.

Partindo-se do volume de solo a ser compacto, e também já se


conhecendo as características da área de empréstimo, obtidas através
de ensaios de laboratório, para efeito da execução da obra, torna-se
necessário conhecer:

1- O volume de área de empréstimo necessária, para que o aterro

seja construído com a Massa Específica Seca Máxima (γdmax.), definida


no ensaio de compactação;

2- O volume de água a acrescentar ou retirar, da área de


empréstimo, para que o aterro seja construído no Teor de Umidade
Ótima (wotim), definida no ensaio de compactação;

3- O número de viagens de caminhões basculantes transportando


o solo, da área de empréstimo ao local da construção do aterro.

Para se conhecer o especificado nos itens acima, utiliza-se dos


dados do ensaio de compactação (Proctor Normal ou Modificado) e dos
Índices Físicos do solo natural e do solo compactado.
VIII.1- VOLUME DA ÁREA DE EMPRÉSTIMO NECESSÁRIA

O solo do aterro deve atingir, depois de compactado, a Massa

Específica Seca Máxima (γdmax.), definida no ensaio de compactação


Proctor.

Isto significa que o aterro possui, por unidade de volume, uma


determinada massa de sólidos:

γ d = M S / VT → MS = γd / VT → Para VT = 1 m3 (por exemplo) →

→ MS = γd → Para unidade de γd em kg/m3 (por exemplo) →

→ MS = γd (kg/m3) → MSaterro = γdaterro (kg)

Sendo assim, é necessário levar uma quantidade de solo da área


de empréstimo que forneça para o aterro a massa de sólidos necessária

por unidade de volume, ou seja, MSaterro = γdaterro (kg).

Por analogia, a massa de sólidos, na área de empréstimo, para um


volume unitário, será igual a Massa Específica Seca da área de

empréstimo: MSempréstimo = γdempréstimo (kg).

Sendo o γdempréstimo < γdaterro, obtém-se a relação conhecida


como Fator de Homogeneização de volumes, utilizada para o cálculo do
volume da área de empréstimo necessário para construir determinado
volume de aterro compactado:
Fh = fp . (γdaterro / γdempréstimo), onde:

fp = fator de segurança para compensar perdas que possam


ocorrer durante o transporte dos solos e possíveis excessos na
compactação dos mesmos. Por exemplo, para 5% de perdas, fp = 1,05;

γdaterro = Massa Específica Seca Máxima, do aterro compactado;


γdempréstimo = Massa Específica Seca Máxima da área de
empréstimo.

Desta maneira, o volume de uma área de empréstimo deverá ter o


seguinte volume para possibilitar a construção do aterro:

Vempréstimo = Fh . Vaterro

VIII.2- NÚMERO DE VIAGENS DE CAMINHÕES NECESSÁRIAS

Partindo-se do volume do aterro (Vaterro) e conhecendo-se o


volume que cada caminhão (Vcaminhão) consegue transportar, pode-se
obter o número de viagens de caminhões necessárias à construção do
aterro. No entanto, é preciso que também se considere no cálculo, um
outro fator, devido ao “empolamento”.
Empolamento é a característica do solo aumentar de volume,
quando é escavado de uma jazida e lançado sobre a caçamba de um
caminhão. O valor deste aumento de volume deve ser avaliado no início
de cada obra, mas para efeitos de anteprojetos, pode-se considerar um
aumento de volume de cerca de 20 a 30%.

Sendo assim, o número de viagens de caminhão é dado por:

n = E . (Vaterro / Vcaminhão), onde:

E = Empolamento. Por exemplo, para aumento de volume de 20%


este fator será: E = 1,20
Vaterro = Volume do aterro a ser construído;
Vcaminhão = Volume que cada caminhão consegue transportar.
Construção da Barragem de Paranoá – 1957 – Brasília

LOCAL DE IMPLANTAÇÃO
PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA

“You pay for a site investigation whether you have one or


not”

“Você paga pela investigação geotécnica, quer você tenha


uma, quer você não tenha uma”

“Foundation of Engineering Geology”


“Waltham, A.C.
IX - LOCAL DE IMPLANTAÇÃO A BARRAGEM

Em um projeto de implantação de uma barragem, perante a


finalidade da obra, define-se o volume de água que se espera do
reservatório, e também, no caso da finalidade ser geração de energia
elétrica, também se define a altura que se espera para a barragem.

Sendo assim, os primeiros estudos a serem feitos são os


topográficos.
topográficos Procura-se encontrar a melhor solução técnico-econômica,
de maneira que se implante a barragem em um lugar em que o vale seja
mais estreito, minimizando assim o volume do aterro.

As condições geotécnicas do local são importantes, pois


dependendo destas condições, os recursos destinados as obras, podem
não cobrir determinados gastos. Por exemplo, obras de maior porte,
podem exigir tratamento da fundação por injeções, trincheira de vedação
mais profunda, etc.

A distância de transporte e a qualidade dos materiais de


construção são fatores importantes a se considerar, pois os custos de
transporte de material podem inviabilizar a obra.

O desvio do rio durante o período de construção da barragem pode


ser um fator condicionante para a escolha do local do eixo. Um local
muito estreito requer a construção de túneis, enquanto que em um vale
mais aberto é possível a escavação de um canal ou a construção de
galerias de concreto.

Após a consideração dos fatores citados, e definindo-se por um


eixo, são necessários os estudos geotécnicos do eixo, os quais estão
diretamente ligados a ensaios de campo e laboratório com o material do
subsolo no eixo da barragem.

Os tipos de ensaios a serem realizados e a quantidade destes


ensaios, vão depender do tamanho e importância da obra, além dos
resultados das investigações preliminares. Por exemplo, podemos ter
duas barragens idênticas de 10m de altura, sendo uma para
armazenamento de água em uma propriedade rural e a outra para
contenção de resíduos tóxicos de uma mineradora. Sem dúvida, apesar
das obras serem idênticas, a barragem de rejeitos deve merecer uma
atenção maior, antes e depois da construção.

Desta maneira, torna-se importante a realização de um cuidadoso


programa de prospecção geotécnica no eixo da barragem.

IX.1 – INFORMAÇÕES EXIGIDAS NUM PROGRAMA DE


PROSPECÇÃO

As informações básicas que se busca em um programa de


exploração do subsolo são (Bueno&Vilar, 1999):
a) a área em planta, profundidade e espessura da camada de solo
identificado;

b) a compacidade dos solos granulares e a consistência dos solos


coesivos;

c) a profundidade do topo da rocha e as suas características, tais


como: litologia, área em planta, profundidade e espessura de cada
extrato rochoso; mergulho e direção das camadas, espaçamento de
juntas, planos de acamamento, presença de falhas e ação do
intemperismo ou estado de decomposição;

d) a localização do nível d’água e a quantificação do artesianismo,


se existir;

e) a colheita de amostras indeformadas, que possibilitem


quantificar as propriedades do solo com que trata a Engenharia:
compressibilidade, permeabilidade e resistência ao cisalhamento.

IX.2 – PRINCIPAIS TIPOS DE PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA

Os tipos de prospecção utilizados correntemente na Engenharia


Civil são (Bueno&Vilar, 1999):

IX.2.1 – PROCESSO INDIRETOS


São processos de base geofísica. Não fornecem os tipos de solos
prospectados, mas tão somente correlações entre estes e suas
resistividades elétricas ou suas velocidades de propagação de ondas
sonoras. Os ensaios mais utilizados são:
- Resistividade elétrica;
- Sísmica de refração.

IX.2.1 – PROCESSO SEMIDIRETOS

Fornecem apenas características mecânicas dos solos


prospectados (não retiram amostra de solo). Os valores obtidos, por
meio de correlações indiretas, possibilitam informações sobre a natureza
dos solos. Os ensaios mais utilizados são:
- Vane test;
- Cone de penetração estática;
- Ensaio pressiométrico.

IX.2.1 – PROCESSO DIRETOS

São perfurações executadas no subsolo. Nestas, pode-se fazer


uma observação direta nas camadas, em furos de grandes diâmetros, ou
uma análise por meio de amostras colhidas de furos de pequenas
dimensões. Os processos mais utilizados são:
- Poços;
- Trincheiras;
- Sondagens a trado;
- Sondagens de simples reconhecimento (SPT);
- Sondagens rotativas;
- Sondagens mistas.

Para barragens de pequeno porte, geralmente só se utilizam os


processos diretos na prospecção geotécnica.

Informações detalhadas dos processos diretos e semidiretos


citados podem ser encontradas em Schanaid (2000).

IX.3 – PROPRIEDADES DO SUBSOLO A SEREM INVESTIGADAS NO


EIXO DA BARRAGEM

Primeiramente é importante que se conheça os tipos de solo


presentes no subsolo, abaixo do eixo da barragem. Também é
importante que se conheça a posição do lençol freático (N.A). Estas
duas informações podem ser obtidas da Sondagem a Trado (até certa
profundidade) e através da Sondagem de Simples Reconhecimento
(SPT).

As propriedades do subsolo, de resistência,


resistência deformabilidade e
permeabilidade,
permeabilidade também precisam ser investigadas.

As características de resistência ao cisalhamento devem ser


obtidas através da realização de ensaios específicos em laboratório,
como será visto no Capítulo XI. Para tanto será necessário a retirada de
amostras indeformadas do local. Uma noção desta resistência, muito útil
no início das investigações, é a fornecida indiretamente, através de
correlações, pela Sondagem de Simples Reconhecimento (SPT).

As características de deformabilidade devem ser obtidas em


laboratório, através da realização de ensaios de adensamento, em
amostras indeformadas (Capítulo XII). Para tanto, estas amostradas
devem ser retiradas do subsolo do local.

As características de permeabilidade geralmente são obtidas em


laboratório e através de ensaios de campo. Estes procedimentos são
apresentados no Capítulo X.

IX.3 – OBTENÇÃO DE AMOSTRAS INDEFORMADAS NO EIXO


DA BARRAGEM

Conforme apresentado no Capítulo VI referente à área de


empréstimo, as amostradas indeformadas na região do eixo da
barragem, também podem ser obtidas superficialmente e em
profundidade, tomando-se os devidos cuidados para se conservar sua
estrutura e umidade.

O procedimento é retirar-se blocos indeformados (por exemplo,


30x30cm), pois os ensaios a serem realizados necessitam de corpos de
prova com certas dimensões pré-estabelecidas (por exemplo, cilindro
com 5cm de diâmetro x 10cm de altura). Depois de retirados e
protegidos, os blocos devem ser mantidos em câmera úmida, para evitar
a perda de umidade.
Apresenta-se nas Figuras IX.1 e IX.2, detalhes da retirada de
blocos indeformados em fundações de barragens.

Foto IX.1- Retirada de bloco indeformado em


fundação de barragem.
Foto IX.1- Retirada de bloco indeformado em
fundação de barragem.

IX.3 – INVESTIGAÇÕES A TRADO NO EIXO DA BARRAGEM

O trado é um equipamento bastante utilizado em investigações


geotécnicas preliminares, principalmente em áreas de empréstimo e no
eixo de pequenas barragens.

A prospecção por trado é de simples execução, rápida e


econômica. No entanto, as informações obtidas são apenas do tipo de
solo, espessura de camada e posição do lençol freático, não fornecendo
um índice de resistência do solo. As amostras obtidas são do tipo
deformadas.
Por ser um processo geralmente manual (existem equipamentos
mecânicos) e certos solos serem de difícil perfuração, o equipamento
tem suas limitações. O nível d’água também é um limitante. Geralmente
se torna muito difícil a perfuração a partir de 6m de profundidade,
podendo-se chegar a mais de 10m em certos solos.

IX.3 – INVESTIGAÇÕES ATRAVÉS DE POÇOS

A abertura de poços exploratórios permite um exame visual das


camadas do subsolo no eixo da barragem, por meio do perfil exposto em
suas paredes.

Permitem a coleta de amostras deformadas e indeformadas, em


forma de blocos, conforme apresentado no Capítulo VI.

Os poços geralmente são perfurados manualmente, com o auxilio


de pás e picaretas.

A profundidade atingida é limitada pela presença do N.A., ou


desmoronamento, quando então se faz necessário revestir o poço.

Apresenta-se na Figura IX.3 um poço aberto, para a coleta de


amostras deformadas e indeformadas.
Figura IX.3- Poço para retirada de amostras

IX.3 – INVESTIGAÇÕES ATRAVÉS DE TRINCHEIRAS

As trincheiras são valas feitas ao longo de um comprimento,


geralmente com o auxílio de uma escavadeira. Permitem um exame
visual contínuo do subsolo, segundo uma direção, e tal como nos poços,
permitem a obtenção de amostras deformadas e indeformadas.

Apresenta-se na Figura IX.4 uma trincheira aberta para


investigação do subsolo.
Figura IX.4- Verificação do subsolo através de trincheira

IX.3 – INVESTIGAÇÕES ATRAVÉS DA SONDAGEM DE SIMPLES


RECONHECIMENTO (SPT).

A Sondagem de Simples Reconhecimento, ou Standart Penetration


Test (SPT) é reconhecidamente a mais popular, rotineira e econômica
ferramenta de investigação em praticamente todo o mundo, permitindo
uma indicação da densidade dos solos granulares, também aplicado à
identificação da consistência de solos coesivos e mesmo de rochas
brandas.

O ensaio SPT constitui-se em uma medida de resistência dinâmica


conjugada a uma sondagem de simples reconhecimento. A perfuração é
realizada por tradagem até encontrar-se o N.A., sendo a partir daí,
realizada por circulação de água utilizando-se um trépano de lavagem
como ferramenta de escavação.

Amostras representativas do solo são coletadas a cada metro de


profundidade por meio de amostrador padrão, de diâmetro externo de
50mm.

O procedimento de ensaio consiste na cravação do amostrador no


fundo da escavação, a cada metro de profundidade, usando um peso de
65,0 kg, caindo de uma altura de 750mm. Primeiramente, em cada
metro, escava-se 550mm do solo e então se introduz o amostrador, que
é cravado 450mm, até completar um metro.

Na cravação dos 450mm do amostrador, conta-se o número de


golpes necessários para a cravação de cada 150mm. Cravam-se
primeiramente os 150mm iniciais, e ao número de golpes necessários
para a cravação dos últimos 300mm do amostrador
amostrador, dá-se o nome de
Índice de Resistência à Penetração do ensaio SPT, o que é comumente
chamado de NSPT.

Desta maneira, através do ensaio SPT obtém-se:

1- Uma amostra representativa do solo a cada metro de


profundidade;
2- A posição do lençol freático;

3- Um valor numérico, a cada metro de profundidade, que é o


Índice de Resistência à Penetração do solo, ou NSPT, correspondente ao
número de golpes necessários para a cravação dos últimos 300mm do
amostrador.

As vantagens do ensaio SPT com relação aos demais são:


simplicidade do equipamento, baixo custo e obtenção de um valor
numérico de ensaio que pode ser relacionado com regras empíricas de
projeto. Tem também como vantagem a facilidade de encontrar
empresas que o executam.

Tem como principal desvantagem:

1- Fornece apenas um valor de resistência a cada metro;

2-Muitas vezes, certas empresas não possuem pessoas


qualificadas para sua execução;

3- Muitas vezes, certas empresas não seguem os


procedimentos estabelecidos por Norma, para sua execução.

São apresentadas nas Figuras IX.5 a IX.14 fotos da realização do


ensaio SPT
Figura IX.5- Sondagem SPT sendo executada

Figura IX.6- Amostrador da sondagem SPT.


Figura IX.7- Marcação na haste dos três trechos de 15cm para controle
de cravação do amostrado com 45cm de comprimento.

Figura IX.8- Massa de 75 kg para cravação do amostrador.


Figura IX.9- Retirada do amostrador após cravação.

Figura IX.10- Solo extraído pelo amostrador.


Figura IX.11- Solo extraído pelo amostrador.

Figura IX.12- Solo extraído pelo amostrador.


Figura IX.13- Amostras extraídas pelo amostrador.

Figura IX.14- Colocação de revestimento para passar a utilizar sistema


de perfuração por lavagem (após encontrar o N.A.).
CAMADA DE SOLO EMBUTIDA EM ROCHA SÃ

“EM UMA SONDAGEM ROTATIVA A PARTE MAIS


IMPORTANTE É A NÃO RECUPERADA”
“VICTOR F.B. DE MELLO”
As fotos da camada horizontal é de uma típica lente
"intertrapp", só que note que em uma das extremidades ocorreram aqueles
processos de injeção de material fluido "lama". A referência do trabalho
que
trata destas feições vai em anexo.
Geólogo Marcelo Bogo

Bom dia, David

As fotos estão ótimas.

Trata-se de uma camada de arenito entre derrames de basalto, conhecida pela


denominação arenito intertrapiano ou simplesmente arenito intertrap.

Os derrames correspondem à extrusão de lavas de alta fluidez, como as que


ocorrem nos vulcões do Havaí. Como a fonte de lava não era contínua,
sucessivos derrames ocorreram, com espessura muito variável, entre 1m e
150m, atingindo mais de 1.500m de espessura total.

Na época da extrusão dos basaltos o clima era desértico e, quando o tempo


entre um derrame e outro era longo, formavam-se camadas de areia,
posteriormente recobertas pelo derrame seguinte. Finas camadas de areia
penetravam pelas fraturas do derrame superior devido à pressão de vapor da
água aquecida dando origem ao "veios" de arenito como os da última foto.

Abraços

Vaz
19/04/2009 - Rochas como um livro aberto para ler o passado.
Entre os muitos afloramentos que geólogos visitam durante suas excursões a campo,
alguns são excepcionais e autoexplicativos. Um destes encontramos na Pedreira Municipal
de Novo Hamburgo, uma cidade logo ao Norte de Porto Alegre. Nesta pedreira a rocha
basáltica é detonada para produzir brita. Dê uma olhada na foto abaixo:
"Lendo as Rochas", podemos aprender o que aconteceu durante alguns meses ou anos
muito tempo atrás: em torno de 130 milhões de anos antes do presente, um derrame de
lava formou um lago de lava espesso, com mais de 20 metros de espessura, entre grande
dunas de areias grosseiras vermelhas. O clima era árido, talvez algumas chuvas durante
uma breve "estação chuvosa" , o "inverno" daquele ambiente. O derrame de lava esfriou
e você pode imaginar a paisagem: rochas pretas, muito irregulares, muito quentes ao sol,
cobrindo toda a paisagem. No topo do derrame de lava, uma fratura se estendia vários
metros para dentro do derrame. Ás vezes, tempestades de areia ou poeira escureciam o
céu, jogando areia para dentro da fissura. Alguns pedaçoes pequenos de lava também
caíram para dentro da fissura. Alguns meses ou anos depois, ninguém vai descobrir isso,
um novo grupo de pequenos vulcões entrou em erupção, expelindo lava em chafarizes
com muitas centenas de metros de altura. Terremotos e nuvens de gases quentes e
tóxicos foram seguidas por lava extremamente líquida que corria sobre o terreno,
cobrindo tudo que encontrava pela frente. O primeiro derrame de lava foi coberto pelo
novo derrame e a lava caiu, entre outros, para dentro da fissura, formando algo que
parece uma "língua de lava" - exatamente aquela da primeira foto. Durante meses (ou
anos?) a lava lentamente esfriou de 1200 Graus Celsius para temperatura ambiente. Um
ambiente extremamente hostil para qualquer forma de vida. E agora este breve momento
da história geológica deste região está exposto - mas apenas até a próxima detonação na
pedreira.
X- INTRODUÇÃO AO FLUXO DE ÁGUA NOS SOLOS

Em um projeto de uma barragem, é importante a análise do fluxo


de água pelas fundações e pelo maciço de terra compactado. Também é
importante a avaliação da infiltração que vai ocorrer em toda a região
inundada, pois esta perda de água pode ser significativa e inviabilizar o
empreendimento.

O correto entendimento de como se processa este fluxo e sua


quantificação, vão permitir que os sistemas de proteção da barragem,
trincheira de vedação e sistema de filtros, sejam dimensionados de
forma segura e econômica.

Os estudos devem se iniciar com a determinação da


permeabilidade dos materiais de fundação e do aterro compactado, isto
tanto no sentido vertical, como no sentido horizontal.

De maneira geral, pode-se dizer que o estudo do fluxo de água nos


solos é importante, porque este fluxo influência um grande número de
problemas práticos, que podem ser agrupados em três tipos:

a- No cálculo das vazões, como, por exemplo, na estimativa da


quantidade de água que chega aos filtros de uma barragem, na
quantidade de água que se infiltra em uma escavação, etc.;
b- Na análise de recalques (deslocamentos verticais) de obras,
porque, freqüentemente, os recalques estão associados à diminuição de
índice de vazios, que ocorre pela expulsão de água destes vazios; e

c- Nos estudos de estabilidade, porque a tensão efetiva ( que


comanda a resistência ao cisalhamento do solo) depende da pressão
neutra (pressão na água), que por sua vez, depende das tensões
provocadas pela percolação de água.

X.1- A PERMEABILIDADE DOS SOLOS

O solo é constituído de uma fase sólida e de uma fase fluida (água


e/ou ar). A fase fluída ocupa os vazios deixados pelas partículas sólidas
que compõem o esqueleto do solo.

A água pode estar presente no solo sob várias formas. Nos solos
grossos, essa água se encontra livre entre as partículas sólidas,
podendo estar sob equilíbrio hidrostático ou podendo fluir sob a ação da
gravidade, desde que haja uma carga hidráulica. Para os solos finos, a
situação se torna mais complexa, uma vez que passam a atuar forças de
superfície de grande intensidade. Assim, nestes solos, existe uma
camada de água adsorvida, a qual pode estar sujeita a pressões muito
altas, por causa das forças de atração existentes entre as partículas. O
restante de água existente nesses solos finos se encontra livre, podendo
fluir por entre as partículas, desde que haja um potencial hidráulico para
tal.
A maior ou menor facilidade que as partículas de água encontram
para fluir por entre os vazios do solo, constitui a propriedade chamada
permeabilidade do solo.

A permeabilidade dos solos depende principalmente de:

a- Do tamanho e do arranjo dos grãos, pois tanto o diâmetro e a


forma dos canalículos de fluxo dentro do solo, bem como sua
tortuosidade dependem disto;

b- Do índice de vazios, pois quanto mais compacto estiver o solo,


menor sua permeabilidade, pois os tamanhos e formas dos canalículos
serão menores;

c- Da densidade e viscosidade da água, pois quanto mais pesada e


viscosa for a água, maior será a dificuldade com que atravessará os
poros do solo. Como a viscosidade é função direta da temperatura, a
permeabilidade também o será. Ela cresce com o aumento da
temperatura.

Para o entendimento do que ocorre com a presença de água no


solo, apresenta-se inicialmente a Figura X.1, onde não há movimento de
água, pois na bureta que alimenta a parte inferior do permeâmetro, a
água atinge a mesma cota da água no permeâmetro. Nesta situação,
tem-se:
Figura X.1- Tensões no solo em um permeâmetro sem fluxo (in Pinto,
2000)

- a pressão total aplicada na base da peneira:

σT = (Z . γW + L . γn);

- a pressão neutra (pressão na água) aplicada na base da peneira:

µ = (Z + L) . γW ;

- a pressão efetiva na base da peneira corresponde à diferença


entre σT e µ, ou ao produto da altura da areia pelo seu peso específico

submerso: σE = σT - µ = L . γSubmerso . Esta é a pressão que a areia


transmite à peneira sobre a qual se apoia. Como será visto no
CapítuloXX, em uma massa de solo, a pressão total será igual a pressão

efetiva, mais a pressão neutra: σT = σE + µ.


Em Mecânica dos Solos considera-se que o escoamento de água é
laminar, no qual as partículas dos fluídos se movem em camadas,
segundo trajetórias retas e paralelas. Utiliza-se a Lei de Darcy, válida
para escoamento laminar. Experimentalmente, Darcy, em 1850, verificou
que os diversos fatores geométricos, indicados na Figura X.2,
influenciavam a vazão da água, expressando a equação que ficou
conhecida como Lei de Darcy:
Q = k . (∆h / L) . A, onde:
Q = vazão;
A = área do permeâmetro;
k = uma constante para cada solo, que recebe o nome de
coeficiente de permeabilidade.

Figura X.2- Água percolando em um permeâmetro (in Pinto,2000).

A relação ∆h / L = i é chamada de Gradiente Hidráulico, e


representa a perda de carga (h), que decorreu da percolação da água
numa distância L. Desta maneira, a equação geralmente é expressa da
forma:

Q=k.I. A

A vazão dividida pela área indica a velocidade com que a água sai
do solo. Esta velocidade, v, é chamada de velocidade de percolação. Em
função dela a Lei de Darcy fica sendo:

v=k.i

X.2- DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE


EM LABORATÓRIO

Em laboratório utilizam-se os permeâmetros que são aparelhos


destinados a medir a permeabilidade dos solos. Utiliza-se a Lei de Darcy,
para o cálculo do Coeficiente de Permeabilidade (k).

Utilizam-se dois tipos de ensaios de permeabilidade em laboratório:

1- Ensaio com carga constante, para solos arenosos e mais


permeáveis;
2- Ensaio com carga variável, para solos mais argilosos e
com baixa permeabilidade.

No ensaio a carga constante,


constante para solos mais permeáveis, o
permeâmetro geralmente se apresenta com a configuração apresentada
na Figura X.3. Depois do corpo de prova saturado (percola-se água de
baixo para cima para a saturação), mantida a carga h durante um certo
tempo, a água percolada é colhida e seu volume é medido. Conhecidas
a vazão e as características geométricas, o coeficiente de
permeabilidade é calculado diretamente pela Lei de Darcy:

K = Q / (i . A)

Nas Figuras X.4 a X.5, são apresentadas fotos de ensaio a carga


constante em laboratório.

Figura X.3- Esquema de permeâmetro de carga constante


(in Pinto, 2000)
Figura X.4- Ensaio de permeabilidade a carga constante.
Figura X.5- Medida da vazão em determinado tempo.

O ensaio a carga variável,


variável a determinação do coeficiente de
permeabilidade (k) pelo permeâmetro de carga constante é pouco
precisa. Realiza-se então o ensaio a carga variável, como
esquematizado na Figura X.6.

Verifica-se o tempo que a água na bureta superior leva para baixar


da altura inicial hi à altura final hf. Em um instante t qualquer, a partir do
início, a carga é h e o gradiente h/L. A vazão será:
Q = k . (∆h / L) . A
Figura X.6- Esquema de permeâmetro de carga variável
(in Pinto, 2000).

A vazão da água passando pelo solo igual á vazão da água que


passa pela bureta pode ser expressa como:
Q = (-a . dh) / dt, onde:
a = área da bureta;
-a . dh = volume que escoou no tempo dt.

Igualando-se as duas expressões da vazão, obtém-se a expressão


dh/h = -k . (A / a . L) dt, que integrada da condição inicial (h = hi , t =
0) à condição final (h = hf, t = tf), obtendo-se a expressão utilizada em
laboratório:

K = 2,3 (a . L) / (A . t) .  log (hi / hf) 


Nas Figuras X.7 a X. são apresentadas fotos do ensaio de
permeabilidade a carga constante, e detalhes da montagem de corpos
de prova para o ensaio.

Figura X.7- Ensaio de permeabilidade a carga variável.


Figura X.8- Areia no permeâmetro, a ser submetida ao ensaio de
permeabilidade à carga constante.

Figura X.9- Corpo de prova argiloso a ser submetido ao ensaio e


permeabilidade a carga variável. Entre o corpo de prova (centro) e a
parede do cilindro, é colocada argila bentonítica para vedar este espaço.
X.3- DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE
EM CAMPO

Na implantação de uma barragem, torna-se importante se


conhecer tanto o coeficiente de permeabilidade (k) do solo da fundação
da barragem, antes da execução da obra, bem como do aterro
compactado, durante sua execução, como forma de controle de
qualidade.

Através de retirada de amostras indeformadas da fundação da


barragem, pode-se determinar o coeficiente de permeabilidade do solo.
As amostras indeformadas para a execução dos ensaios, tanto podem
ser retiradas superficialmente, como em profundidade, através da
abertura de poços para este fim.

Também para o aterro, para verificação se seu coeficiente de


permeabilidade esta de acordo com o previsto, também se pode retirar
blocos indeformados, para obtenção de amostras para realização de
ensaios em laboratório.

Porém, os ensaios de laboratório apesar de serem precisos, em


relação à amostra ensaiada, muitas vezes as amostras não são bem
representativas do solo em uma escala maior. Além disto, a obtenção de
muitas amostras em campo e a realização de ensaios laboratoriais,
pode-se tornar onerosa para a obra.
Por outro lado, apesar dos ensaios de campo serem menos
precisos que os de laboratório, eles se realizam no solo em sua situação
real, podem ser realizados facilmente em profundidade, em diversas
camadas do subsolo, ou aterro, e são menos onerosos para obra. Sendo
assim, os ensaios para a determinação do coeficiente de permeabilidade
(k) em campo, fazem parte da rotina das atividades relacionadas à
construção de barragens.

Os ensaios de permeabilidade em campo podem ser realizados de


diversas maneiras, das quais destacam-se:
- ensaios em sondagens;
- ensaios em poços;
- ensaios em cava.

Apresenta-se nos itens X.2.1 a X.2.3, informações básicas destes


ensaios, devendo-se buscar informações detalhadas em manuais
especializados, como em ABGE, 1996 (Ensaios de permeabilidade em
solos. Boletim 04).

X.3.1- ENSAIOS DE PERMEABILIDADE EM SONDAGENS

Normalmente utiliza-se o equipamento da sondagem de simples


reconhecimento (SPT), ou equipamento de sondagem rotativa, para
abertura do furo e seu revestimento até a profundidade do ensaio.
Apresenta-se nas Figuras X.10 a X.16, detalhes deste ensaio. Pode-se
realizar os seguintes tipos de ensaio:
1- Ensaio de infiltração.
Enche-se o furo de água até a boca, tomando-se este instante
como tempo zero. O nível de água no furo deve ser mantido constante,
alimentado por uma fonte apropriada, medindo-se o volume de água
introduzido durante um certo intervalo de tempo (vazão);

2- Ensaio pontual de bombeamento


Começa-se a bombear a água do furo, tomando-se este instante
como tempo zero. Anota-se, na folha do ensaio, o tempo, a variação do
N.A. e o volume d’água retirado do furo, até se estabelecer um
rebaixamento constante (nível d’água no furo, praticamente constante);

3- Ensaio de rebaixamento
Enche-se o furo até a boca, tomando-se este instante como tempo
zero. Interrompe-se o fornecimento d’água, tomando-se este instante
como zero, e a intervalos curtos no início, e mais longos em seguida,
acompanha-se o rebaixamento do nível d’água do furo;

4- Ensaio de recuperação
Bombeia-se a água do furo até se obter um rebaixamento de pelo
menos 1m abaixo do nível d’água do terreno, até se atingir condições de
fluxo permanente, ou próximas (vazões constantes).
X.3.2- ENSAIOS DE PERMEABILIDADE EM POÇOS

Os poços de inspeção geotécnica, quando não ultrapassam o nível


d’água do subsolo, permitem apenas a execução de ensaios do tipo
infiltração e rebaixamento. Abaixo do N.A. admitem também ensaios de
bombeamento e recuperação. Apresenta-se na Figura X.17, detalhes
deste ensaio.

X.3.3- ENSAIOS DE PERMEABILIDADE EM CAVAS

Matsuo (1953) desenvolveu este tipo de ensaio para cavas


regulares, estabelecendo uma metodologia simples para sua realização.
As cavas utilizadas segundo este método são rasas, de forma regular e
de seção trapezoidal. Dada a divulgação que este ensaio teve, passou a
ser conhecido, no meio técnico, por ensaio Matsuo. Apresenta-se nas
Figuras X.18 a X.19, detalhes deste ensaio.

Figura X.10- Ensaio de infiltração em sondagem (ABGE, 1996).


Figura X.11 – Ensaio de permeabilidade em sondagem.

Figura X.12– Ensaio de permeabilidade em sondagem.


Figura X.13 – Ensaio de permeabilidade em furo a trado.

Figura X.14 – Ensaio de permeabilidade em furo a trado.


Figura X.15 – Ensaio de permeabilidade em furo a trado.

Figura X.16 – Ensaio de permeabilidade em furo a trado.


ENSAIO DE PERMEABILIDADE NO ATERRO – PCH ZÉ FERNANDO
Figura X.17 – Ensaio de permeabilidade em poço.
Figura X.18 – Ensaio de permeabilidade em cava.

Figura X.19 – Ensaio de permeabilidade em cava.

X.4- VALORES TÍPICOS DO COEFICIENTE DE


PERMEABILIDADE

Dependendo de sua granulometria, e do seu estado de


compactação ou compacidade, pode-se ter uma ordem de grandeza do
que esperar do coeficiente de permeabilidade (k) do solo.

Para as argilas sedimentares, como ordem de grandeza, os


seguintes valores podem ser considerados (Pinto,2000):
SOLO k (m/s)
Argilas <10-9
Siltes 10-6 a 10-9
Areias argilosas 10-7
Areias finas 10-5
Areias médias 10-4
Areias grossas 10-3
pedregulhos >10-3

O coeficiente de permeabilidade do solo mede a resistência


“viscosa” ao fluxo de água e varia numa faixa muito ampla de valores,
Figura X.20.

Valores de k (cm/s)

-11 -9 -7 -5 -3 -1 1
10 10 10 10 10 10 10
argilas siltes areias pedregulhos

Figura X.20 – Faixas de valores de coeficiente de permeabilidade


(Massad, 2003).

Em casos, como por exemplo, em areias grossas com diâmetro


maiores ou iguais a 2mm, o fluxo é turbulento. O fluxo só é laminar para
solos na faixa granulométrica entre as areias grossas e as argilas, e com
gradientes variando de 1 a 5.
X.5- VARIAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE
DE CADA SOLO

a) Influência do estado do solo


A equação de Taylor correlaciona o coeficiente de permeabilidade
com o índice de vazios do solo. Quanto mais fofo o solo é mais
permeável é:
γ e3
k =φ . C
2 w

µ 1+e
onde:
φ = diâmetro da esfera (grãos)
γw = massa específica da água
µ = viscosidade da água
C = coeficiente de forma
e 13
k1
=
(1 + e 1 )
k2 e 23
(1 + e 2 )

b) Influência do Grau de Saturação (Sr)


A percolação de água não remove todo o ar existente num solo
não saturado. Desta forma, o coeficiente de permeabilidade de um solo
não saturado é menor do que ele apresentaria se estivesse totalmente
saturado.
c) Influência da Estrutura e Anisotropia
A permeabilidade depende não só da quantidade de vazios do
solo, mas também da disposição dos grãos. Solos residuais apresentam
permeabilidades maiores em virtude do macroporos de sua estrutura.
Este é também marcante no caso de solos compactados.
Os solos não são isotrópicos com relação à permeabilidade. Solos
sedimentares costumam apresentar maiores coeficientes de
permeabilidade na direção horizontal do que na vertical.

d) Peso específico e viscosidade


São propriedades do fluido que exercem influência significativa.
Estas duas propriedades variam com a temperatura.

µT
k20 = .kT
µ20
onde:
k20 = permeabilidade a 20ºC
kT = coeficiente de permeabilidade a temperatura T
µ = viscosidade da água
X.6- FORÇAS DE PERCOLAÇÃO

Havendo um movimento de água através do solo, ocorre uma


transferência da energia da água para as partículas sólidas do solo, por
causa do atrito viscoso que se desenvolve. A energia transferida é
medida pela perda de carga e a força correspondente a essa energia é
chamada de força de percolação. Tal força transfere-se de grão a grão
(é, portanto, uma força efetiva) e tem o mesmo sentido do fluxo d’água.

O conhecimento do mecanismo, e a determinação do valor dessa


força são de fundamental importância para a Engenharia, uma vez que
ela é responsável, muitas vezes, por problemas de instabilidade em
cortes, aterros e barragens. Deve-se ainda a essa força o aparecimento
dos fenômenos de “piping” e de areia movediça, bem como a
instabilidade do fundo de escavações em areia (“heave”).

A Figura X.21 permite visualizar como a energia se transmite para


as partículas de solo. A amostra de areia de comprimento (L) e de área
(A) esta submetida à força (P1) graças à carga (h1) do reservatório da
esquerda e à força (P2), em virtude de (h2). As forças P1 e P2 serão:

P1 = γw . h1 . A e P2 = γw . h2 . A

A força resultante, que deve ser consumida por atrito, sera:

Fp = P1 – P2 = γw . A . (h1 – h2)
NA

∆h

NA
h1

L h2

AREIA A
P1 FP P2

Figura X.21- Aparecimento de forças de percolação

Na Figura X.21, o gradiente hidráulico é:

i = (h1 – h2) / L = ∆h / L

Portanto a força de percolação será:

Fp = γw . i. A . L = γw . i. V ;

a qual é aplicada uniformemente num volume (V) igual a A x L. Dessa


forma, a força por unidade de volume corresponderá a:

fp = i . γw
Surge agora uma nova alternativa para o cálculo do equilíbrio
estático de massa de solo sujeita à percolação de água. Assim, duas
opções podem ser seguidas:

a) utilizar o peso total do elemento de solo combinado com a força


neutra atuante na superfície deste elemento;

b) utilizar o peso efetivo combinado com a força efetiva, por causa


da percolação, aplicada ao elemento de solo, no sentido do fluxo.

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