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“CARTA ABERTA SOBRE EDUCAÇÃO: A REVOLUÇÃO NECESSÁRIA ÀS

ESCOLAS” por Arminda Silva


Neste tempo em que as novas tecnologias invadiram e tendem a dominar todas as áreas da
nossa vida e em que crianças de dois anos mexem no celular da avó e escolhem a música
que gostam, não podemos querer que as nossas crianças e jovens se sujeitem a escolas e
sistemas de ensino absolutamente démodé.
Assim sendo, também não pode a Escola continuar a seguir os modelos do século XVI, com
o risco de ela própria se “suicidar” por isso. A Escola ou faz uma revolução, ou morre.
Não faltará muito para que apareçam as primeiras escolas virtuais, sem necessidade de
professores e de edifícios, com todos os inconvenientes e frieza que isso contém. Pode
parecer um cenário improvável, mas é só uma questão de pensar mais além com os dados
que temos.
Para que haja esperança no futuro é necessário formar pessoas capazes de pensar-refletir
com imaginação, espírito criativo, capacidade crítica e comportamento ético.
Para tal é preciso mudar rapidamente de paradigma:

1. A ESCOLA NÃO É UM LUGAR PARA ENSINAR, MAS UM LUGAR PARA


APRENDER.
O ensino centra-se no professor. A aprendizagem centra-se no aluno; ele é o construtor da
sua própria aprendizagem. Isto implica que o professor imagine e crie metodologias de
autoaprendizagem que levem o aluno a descobrir e a pensar, sendo que o papel do professor
é acompanhar e orientar o aluno nesse caminho de descoberta.
Ex: no 1º ano o aluno pode aprender a ler sozinho, com um método-jogo de
autoaprendizagem da leitura, com o qual atinge uma velocidade de leitura praticamente
normal (nunca vai soletrar) contribuindo para o aumento da autoestima, porque é
estimulante, e para um relacionamento harmonioso entre todos os alunos, porque eles
precisam uns dos outros para jogar.
Na Matemática a manipulação do método Cuisenaire (um jogo versátil e divertido) leva o
aluno, sem esforço, desde as simples contagens às quatro operações básicas até à noção de
potência e raiz quadrada; pode ainda ser utilizado para outros conceitos.

2. A PROGRESSÃO ESCOLAR NÃO DEVE FAZER-SE MAIS POR TRANSIÇÃO DE


ANO, NEM BASEAR-SE SÓ EM TESTES DE AVALIAÇÃO.
A transição escolar deve acontecer por níveis, como nos jogos de celular, e não deve
obedecer a nenhum calendário. O aluno transita assim que superou o seu nível, podendo
haver alunos em diferentes níveis, ou o mesmo aluno estar em níveis diferentes nas diversas
disciplinas.
Ex: uma criança pode estar no nível 9 em História e no 5 em Matemática.
Cada nível deve conter os módulos programáticos. A aprendizagem deve fazer-se por
módulos e o aluno não deve passar de módulo enquanto o não manipular com muita
segurança.

3. A ESCOLA PRECISA DE SER UM ESPAÇO ABERTO ONDE A INFORMAÇÃO E A


COMUNICAÇÃO CIRCULE, O SABER NÃO PODE MAIS FICAR TRANCADO NAS
SALAS DE AULA.
O edifício escolar deve ser constituído por núcleos e não por salas de aula.
Ex: Deve existir um núcleo para a Matemática, outro para as Ciências, outro para as Artes
etc. A biblioteca pode ser o núcleo do Português .
Os núcleos devem conter materiais diversos tanto de consulta como de manipulação. Os
alunos não precisam ter materiais ou livros próprios, nem devem haver livros únicos ou
obrigatórios. A aprendizagem é uma experiência de descoberta e o aluno deve poder
circular no núcleo e descobrir, ou ser levado a isso, o que lhe convém.

4. O ENSINO EXPOSITIVO CENTRADO NO PROFESSOR NÃO TEM MAIS


CABIMENTO. A INDISCIPLINA NAS SALAS DE AULA HÁ MUITO QUE O VEM
PROVANDO.
Como já se percebeu, o papel do professor é orientar e facilitar a aprendizagem do aluno. É
também um avaliador, mas também não é o único, devendo a avaliação constar de três
momentos com diferentes ponderações: avaliação feita pelo professor, autoavaliação em
que o aluno propõe e defende a sua nota e a avaliação feita pelos pares.
A avaliação é um momento precioso para desenvolver a capacidade crítica e o sentido de
justiça, desde o 1º ano de escolaridade.

5. OS ALUNOS NÃO SÃO ARMAZÉNS PARA ENCHER DE CONHECIMENTOS.


O que é importante não é apenas o conhecimento, mas o que se faz com ele, ou seja: o aluno
deve ser capaz no fim de cada módulo de saber utilizar e manipular o conhecimento
adquirido em diferentes situações.

6. A ESCOLA DEVE FORMAR NÃO PARA O SABER-FAZER, MAS PARA O SABER-


PENSAR.
O aluno deve aprender a fazer mas não de uma forma mimética, mas refletindo e
compreendendo o que está a fazer.

7. UMA DISCIPLINA DE ÉTICA PRÁTICA DEVE FAZER PARTE DE TODOS OS


CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DESDE A INFANTIL ATÉ AO FIM DA
UNIVERSIDADE.
Como disciplina prática, deve-se incluir acontecimentos ocorridos na própria escola e outras
situações, que levem os alunos a refletir e a apresentar soluções.
A ética além de dever estar sempre presente no contexto do espaço escolar – entendendo-se
por espaço escolar todos os intervenientes: alunos professores, empregados, sendo que é
talvez necessário criar pequenos cursos de formação e tempos de reflexão nessa área, tanto
para empregados como para professores.
Fui professora muitos anos e me dói ver o estado a que a Escola chegou. Por isso, aqui
deixo um manifesto das minhas opiniões.
Como pessoa, acho que todos nós devemos e podemos contribuir com as nossas ideias para
um mundo melhor. Como dizia o presidente dos EUA, “a questão não é o que o país pode
fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo seu país”.

FONTE: Jornal Nota. A revolução inevitável: carta aberta de uma professora portuguesa
sobre reforma na educação. Disponível em: https://jornalnota.com.br/2018/03/21/revolucao-
inevitavel-carta-aberta-de-professora-portuguesa-sobre-reforma-na-educacao/. Acesso em:
04 out 2023.

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