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O ACORDO DE GBADOLITE

O Acordo de Gbadolite foi um “pacto” de cessar-fogo, nascido de várias


reuniões/cimeiras conjuntas entre o Governo de Angola, decorridas entre 25 de Abril à
22 de Junho de 1989. O Governo de Angola esteve representado pelo presidente José E.
dos Santos, e as “forças” da UNITA, representada pelo seu presidente / líder Jonas
Malheiro Savimbi, sob mediação de vários líderes africanos, encimados pelo antigo
presidente do ex-Zaire Mobutu Sese Seko. A cimeira culminou com a proclamação da
entrada em vigor do cessar-fogo em Angola às 00h00 do dia 24 de Junho de 1989.

ANTECEDENTES

O abrandamento da Guerra fria em 1989: com a aproximação do fim da “ era soviética”


e, com aproximação da queda do Muro de Berlim (Novembro de 1989), registou-se uma
mudança no desenvolvimento da guerra em Angola. Outro factor preponderante foi os
“acordos de Nova Iorque”: negociado entre Angola, Cuba e África do Sul, sob
observação dos EUA, que estabelecia a retirada de todas forças estrangeiras do território
angolano e determinava a aplicação da resolução 435/78( resolução que determinava a
autodeterminação do povo namibiano).

A PROPOSTA DE PAZ DO GOVERNO DO MPLA: “a solução africana”

O plano de paz para Angola do governo do MPLA continha a seguinte proposta:

-Respeito pela Constituição e pelas principais leis da República de Angola

-integração das forças da UNITA nas instituições da República de Angola

-Afastamento voluntário de Jonas Savimbi na politica angolana.

O MPLA buscava a rendição da UNITA e o exílio de Jonas Savimbi, mantendo o seu


sistema de partido único.

A PROPOSTA DE PAZ DA UNITA

-Revisão da Constituição

-Realização de eleições gerais em Angola.

-Garantia de não exílio de Jonas Savimbi e negociações directas entre o MPLA e a


UNITA.

-Formação de um governo de unidade e reconciliação nacional. ( Muekália, 2010)


COLISÃO INEVITÁVEL

Apesar de Gbadolite apelidar-se de “cimeira de paz”, as duas partes encontravam-se


desavindas. Tanto o governo como a UNITA viviam num clima de “desconfiança
mútua”, não conheciam as verdadeiras intenções de cada um e, duvidam mutuamente
dos respectivos planos de paz. ( Fernandes e Capumba, s/d).

De um lado, a UNITA “desconfiava” dos mediadores africanos, entre eles Mobutu,


Robert Mugabe, Kenneth Kaunda, Omar Bongo, e Denis Sassou Nguessou. Para a
UNITA a falta de “experiência” democrática dos mediadores podia “minar” o processo
de paz.

Do outro lado, o MPLA continuava relutante em “sentar-se à mesma mesa” que a


UNITA. Continuava firme em sua posição de vantagem, defendendo o exílio político de
Savimbi, enquanto iam-se convencendo moral e materialmente da possibilidade de uma
“ofensiva de sucesso” contra Mavinga.

O COMUNICADO FINAL DA CONFERÊNCIA

Depois de várias reuniões intermináveis e (quase) inconclusivas, marcadas por uma


mediação que procura relançamento político na arena internacional e, que granjeava-se
por ter sido o primeiro a reunir à mesma mesa José dos Santos e Jonas Savimbi, a
conferência emitiu o seguinte comunicado: a vontade de todos angolanos de porem fim
à guerra, a cessação de todas hostilidades no território, a entrada em vigor do cessar-
fogo às 00h00 do dia 24 de Junho de 1989 e a formação de uma comissão para
continuar o processo, sob mediação de Mobutu.

O LEGADO, 28 anos depois

Apesar de ter fracassado, Gbadolite foi o inicio do “trilhar do caminho da paz”. A partir
dele as partes passaram a falar mais em “negociação”, “processo de paz” e “
reconciliação”. Gbadolite marca também o primeiro encontro oficial de paz entre José
dos Santos e Jonas Savimbi. Gbadolite foi m dos primeiro passo da reconciliação
nacional dado em 1989. Hoje, 28 anos depois, este processo deu significativo avanço
através dos tratados de paz subsequentes e, que culminou com o memorando de Luena
em 2002. Gbadolite faz-nos repensar a História de Angola. Mostra que ontem os anti-
democráticos hoje “super democráticos”. Gbadolite mostra que estamos longe de
considerar a “reconciliação nacional” concluída e, que todos devemos trabalhar para tal
desiderato.(artigo escrito em 28 de julho de 2017)

O acordo de Gbadolite foi uma cimeira Zairense com objectivo de trazer uma
união de paz em via pacíca.
A ONU não teve um papel direto no Acordo de Gbadolite¹. No entanto, a ONU tem sido um
ator importante na promoção da paz e estabilidade em Angola desde o fim da guerra civil em
2002¹.
Fracasso em Gbadolite

Aos poucos, o conflito angolano cresceu. Ganhou alguma visibilidade internacional.


Angola tornou-se uma extensão da guerra fria, com a particularidade de os combates se
disputarem na arena real.

(04/04/2018 ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO 06H00)

No contexto de devastação do tecido humano e de infra-estruturas, a via negocial foi-se


impondo novamente como a única solução para o calar dos fuzis. Assim, chegámos a
Gbadolite. Quinta-feira, 22 de Junho de 1989. A terra natal do deposto presidente do
então Zaíre, Mobutu Sesse Seko, acolheu 19 Chefes de Estado africanos, o rei Hassan II
do Marrocos e o vice-presidente da Tanzânia. Perspectivava-se uma tentativa de paz
para Angola.
Consta que foi a primeira vez que José Eduardo dos Santos e Jonas Malheiro Savimbi
encontraram-se na condição de Presidente da República e líder do movimento rebelde.
A declaração final realçava a “evolução positiva dos acontecimentos”, fruto do qual se
determinou a vontade de “todas as filhas e filhos de Angola porem fim à guerra e
proclamar, perante o mundo, a reconciliação nacional”.
O derrube de torres condutoras de energia eléctrica, alguns dias depois do me-diático
encontro, deixou Luanda às escuras. A prática recorrente consistia num dos métodos de
pressão protagonizados pela UNITA, no âmbito da política que visava “bater onde dói
mais”. A responsabilidade recaiu sobre uma vaca perdida da manada, mas a trégua
rubricada em Gbadolite resumiu-se a um documento desprovido de qualquer valor, além
da referência histórica.

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