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Muscular
SUMÁRIO
1. Introdução...........................................................................................................3
Referências....................................................................................................................... 36
1. INTRODUÇÃO
Muitas células do nosso organismo possuem habilidades contráteis limitadas, po-
rém apenas as células musculares, que são especializadas na contração, permitem
a locomoção dos animais. Essas células especializadas na contração, além da loco-
moção, também realizam o bombeamento sanguíneo, constrição de vasos e movi-
mentos de propulsão.
As células musculares podem ser classificadas como lisas ou estriadas, sendo
que as estriadas têm esse nome porque as suas proteínas contráteis estão organi-
zadas em miofilamentos, que conferem uma aparência de estrias ao microscópio.
Além disso, o tecido muscular estriado também é diferenciado em estriado cardíaco
e estriado esquelético.
Citoplasma Sarcoplasma
Fisiologia Muscular 3
Figura 1: Tecido muscular.
Fonte: Aldona Griskeviciene/Shutterstock.com
Fisiologia Muscular 4
CORTE TRANSVERSAL DO MEE, MOSTRANDO AS
FIBRAS MUSCULARES DISPOSTAS LADO A LADO
Fisiologia Muscular 5
Se liga! Nos seres humanos, todos os músculos apresentam por-
centagens variadas de fibras de contração rápida e fibras de contração lenta,
porém algumas pessoas têm uma quantidade consideravelmente maior de
fibras de contração rápida e outras têm uma quantidade maior de fibras de con-
tração lenta. Essa disposição, que é hereditária, pode determinar, até certo pon-
to, as capacidades atléticas dos indivíduos.
Fisiologia Muscular 6
INTERCO-
NECTADOS
FIBRAS
TECIDO TECIDO
RETICULARES
CONJUNTIVO TECIDO CONJUNTIVO
E UMA LÂMINA
FIBROSO QUE CONJUNTIVO FROUXO (MENOS
BASAL QUE
CONECTA O TECIDO DENSO NÃO FIBROSO)
ENVOLVE CADA
MUSCULAR MODELADO DERIVADO DO
CÉLULA
AO ÓSSEO EPIMÍSIO
MUSCULAR
Perimísio
Endomísio
Nuclei
COMPÕEM A
MAIOR PARTE
DO CITOPLASMA
(SARCOPLASMA) DA
FIBRA MUSCULAR
A FIBRA MUSCULAR
É ENVOLVIDA PELO
SARCOLEMA, A MP DA
CÉLULA MUSCULAR
Fisiologia Muscular 7
Olhando a fibra muscular propriamente dita, grande parte do seu sarcoplasma é
ocupado por arranjos longitudinais de miofibrilas cilíndricas, que se estendem por
todo o comprimento da célula e estão alinhadas umas às outras.
Fisiologia Muscular 8
A microscopia ótica revela a presença de estrias transversais com faixas claras e es-
curas vistas em corte longitudinal.
As faixas escuras são conhecidas como BANDAS A e as faixas claras são conhe-
cidas como BANDAS I.
O centro de cada banda A é ocupado por uma BANDA H, pálida, que é dividida por
uma fina LINHA M.
Cada banda I é dividida por uma linha escura, a LINHA Z. A distância entre duas
linhas Z é conhecida como sarcômero.
O sarcômero é a unidade contrátil das fibras musculares esqueléticas.
Fisiologia Muscular 9
ESTRUTURA DE UM SARCÔMERO
Fisiologia Muscular 10
Quando uma onda de despolarização chega ao sarcolema, ela é transmitida pelos
túbulos T, resultando na abertura dos canais de cálcio no retículo sarcoplasmático a
partir das cisternas terminais, resultando na liberação de cálcio no sarcoplasma, nas
proximidades das miofibrilas.
As miofibrilas ficam paralelas umas às outras através dos filamentos intermediá-
rios de desmina e vimentina, que firmam as miofibrilas na periferia dos discos Z.
As mitocôndrias das fibras musculares são alongadas e podem estar paralelas ao
eixo longitudinal da miofibrila ou se enovelar ao redor delas.
Já as miofibrilas, apresentam miofilamentos grossos (miosina II) e miofilamentos
finos (actina), dispostos paralelamente, intercalados e em formato de bastão.
Os miofilamentos finos se originam no disco Z e se projetam em direção ao centro
de dois sarcômeros adjacentes; os miofilamentos grossos também formam arranjos
paralelos, porém eles estão dispostos de forma entremeada entre os miofilamentos
finos.
Se a fibra muscular estriada não estiver contraída, os miofilamentos espessos não
se estendem por todo o comprimento do sarcômero e os miofilamentos finos não se
encontram na região mediana do sarcômero. Com isso, quando a fibra está relaxada,
existem regiões onde somente miofilamentos finos estão presentes, que correspon-
dem à banda I.
A banda A é a região onde está contida toda a extensão dos miofilamentos es-
pessos, sendo que a banda H é a região onde somente encontramos miofilamentos
grossos.
Fisiologia Muscular 11
ESTRUTURA DA FIBRA MUSCULAR ESQUELÉTICA
MÚSCULO
ESQUELÉTICO
Fascículos
Tecido conectivo Vasos sanguíneos Nervos
musculares
Compostos por
fibras musculares
Sarcolema e
Sarcoplasma Vários núcleos
Túbulos T
Retículo Grânulos de
Miofibrilas Mitocôndrias
sarcoplasmático glicogênio
Sarcômeros
Troponina Miosina
Fisiologia Muscular 12
Contração muscular esquelética
O músculo esquelético é vastamente inervado, recebendo pelo menos dois tipos
de fibras nervosas: uma motora e uma sensorial. As fibras do nervo motor atuam no
estímulo inicial da contração.
Os corpos celulares dos nervos motores estão no encéfalo e os seus axônios mie-
línicos passam pelo tecido conjuntivo do músculo, onde começam a se ramificar e
perdem a sua bainha de mielina (não perdem as células de Schwann). O terminal de
cada axônio se torna dilatado e se transforma em uma placa motora. A junção neu-
romuscular corresponde à junção entre um axônio e uma fibra muscular.
O estímulo chega então à junção neuromuscular, sob a forma de acetilcolina, que
despolariza a membrana sarcolêmica e, quando esta despolarização atinge um cer-
to limiar, forma-se uma onda de despolarização que se propaga pela fibra muscular,
provocando a contração muscular.
Os íons cálcio deixam as cisternas terminais, entram no sarcoplasma e se ligam à
subunidade TnC da troponina, alterando a sua conformação. Com a mudança confor-
macional da troponina, a posição da tropomiosina na actina é alterada, revelando o
sítio ativo para a miosina na molécula de actina.
O ATP presente no subfragmento S1 da miosina é hidrolisado (porém o ADP e o Pi
permanecem ligados a esse subfragmento) e este complexo se liga ao sítio ativo da
actina.
Após a ligação, o Pi é liberado, resultando em uma forte ligação entre a actina e a
miosina e em uma alteração conformacional no subfragmento S1.
A molécula de ADP então é liberada e o miofilamento delgado é arrastado em dire-
ção ao centro do sarcômero, no evento conhecido como golpe de força.
Após isso, uma nova molécula de ATP se une ao subfragmento S1, desconectan-
do a actina da miosina.
Fisiologia Muscular 13
CONTRAÇÃO DAS FIBRAS MUSCULARES ESTRIADAS ESQUELÉTICAS – PARTE 1
IMPULSO
ELÉTRICO
chega ao
SARCOLEMA
através dos
TÚBULOS T
e segue para
RETÍCULO LIBERAÇÃO DE Ca++
CISTERNA TERMINAL
SARCOPLASMÁTICO INTRACELULAR
se liga à
SUBUNIDADE TnC
TROPONINA
gerando uma
MUDANÇA NA
CONFORMAÇÃO
localizada na
ALTERA A POSIÇÃO
ACTINA
DA TROPOMIOSINA
revelando
MIOSINA
Fisiologia Muscular 14
Saiba mais! O conceito de unidade motora é muito importante em
fisiologia muscular, pois nos ajuda a entender, ao menos parcialmente, o meca-
nismo pelo qual o sistema nervoso controla a força de contração muscular.
Como as unidades motoras de um dado músculo podem ser recrutadas in-
dependentemente umas das outras (já que dependem da ativação de moto-
neurônios distintos), a força de contração pode ser graduada em função da
quantidade de unidades motoras recrutadas pelo sistema nervoso em um dado
instante.
Além desse mecanismo de regulação da força de contração (denominando re-
crutamento), um outro importante mecanismo é utilizado pelo sistema nervoso
central. Nesse segundo mecanismo, o intervalo temporal entre potenciais de
ação sucessivos que trafegam por um dado motoneurônio determina o grau de
somação temporal dos abalos produzidos nas fibras musculares daquela uni-
dade motora. Dependendo, portanto, da frequência dos potenciais de ação em
um motoneurônio, as fibras musculares por ele inervadas poderão apresentar
perfis de contração que vão de abalos isolados ao tétano completo, onde não
se pode mais distinguir contrações isoladas, e quando o músculo desenvolve a
sua máxima força de contração.
Fisiologia Muscular 15
CONTRAÇÃO DAS FIBRAS MUSCULARES ESTRIADAS ESQUELÉTICAS – PARTE 2
ATP
HIDRÓLISE
se liga ao
1 COMPLEXO
LIGA AO PERMANECE
SÍTIO ATIVO LIGADO
alterando
ACTINA LIBERANDO Pi
FORMANDO UMA
FORTE LIGAÇÃO
4 2
ocorrendo o
GOLPE DE FORÇA
Fonte: Akor86/Shutterstock.com
Fisiologia Muscular 16
MECANISMO MOLECULAR DA CONTRAÇÃO MUSCULAR
Elevação
do Ca2+
citosólico
Fisiologia Muscular 17
As ligações “~” que unem os últimos radicais fosfato são de alta energia, e cada
uma delas armazena aproximadamente 7.300 calorias de energia por mol de ATP
nas condições normais de temperatura e pressão. Ou seja, quando um radical fosfa-
to é removido, ocorre a liberação de 7.300 calorias de energia para suprir o processo
de contração muscular. O mesmo ocorre quando o segundo radical fosfato é removi-
do da molécula.
A quantidade de ATP no músculo, mesmo em atletas bem treinados, é suficiente
para sustentar uma potência máxima por cerca de 3 segundos. Com isso, é necessá-
rio que novos ATPs sejam formados continuamente. E essa ressíntese de ATP ocorre
através dos sistemas de energia.
Os sistemas energéticos são:
Sistema fosfocreatina-creatina
A fosfocreatina é um componente químico que também apresenta uma ligação fosfa-
to de alta energia, podendo ser decomposta em creatina e íons fosfato, com liberação de
energia para a contração muscular.
Fisiologia Muscular 18
Se liga! A fadiga muscular é gerada pela diminuição do pH sanguí-
neo, o que causa uma inibição das pontes cruzadas de actina e miosina.
Sistema aeróbico.
Quando ocorre a utilização do oxigênio para a ressíntese do ATP, estamos no sis-
tema aeróbico. Ele corresponde à oxidação dos “alimentos” na mitocôndria. Esse sis-
tema é utilizado quando se exige grandes quantidades de ATP para períodos longos
de contração muscular, ainda que a potência seja reduzida, ou seja, em atividades
atléticas mais prolongadas (de resistência).
Fisiologia Muscular 19
SISTEMAS DE ENERGIA
CONTRAÇÃO ADENOSINA-
FONTE DE ENERGIA MUSCULAR FÓRMULA PO3~PO3~PO3-
LIGAÇÕES ~
DE ALTA ENERGIA
ATP
7300 CAL. CADA
Fisiologia Muscular 20
Saiba mais! O tamanho médio dos músculos de uma pessoa é
determinado, grande parte, pela hereditariedade, juntamente com os níveis de
testosterona, porém, com o treinamento, os músculos podem ser hipertrofiados
em até 30-60%. A hipertrofia muscular é resultado do aumento do diâmetro das
fibras musculares e no aumento das fibras musculares propriamente ditas.
As mudanças que ocorrem em uma fibra hipertrofiada são: aumento no núme-
ro de miofibrilas; até 120% de aumento nas enzimas mitocondriais; 60-80% de
aumento nos componentes do sistema ATP-CP (fosfatogênico); até 50% de au-
mento no estoque de glicogênio; e 75-100% de aumento nos estoques de trigli-
cerídeos. Com todas essas mudanças, a taxa máxima de oxidação e a eficácia
do sistema oxidativo também aumentam em torno de 45%.
Fisiologia Muscular 21
TECIDO MUSCULAR LISO
DUCTOS DE
HORMÔNIOS GLDS COMPOSTAS
VIAS
COND. RESPIRATÓRIAS
FISIOLÓGICAS
FEIXES INT.
SNA DA DERME
PAREDE DE
UNITÁRIO
VÍSCERAS OCAS
TECIDO
TIPOS MUSCULAR LOCALIZAÇÃO
LISO
CARACTERÍSTICAS
NÃO POSSUI
ESTRIAÇÕES
NÃO POSSUI
TÚBULOS T
Fisiologia Muscular 22
TIPOS DE TECIDO MUSCULAR LISO
AS CÉLULAS ESTÃO
AS CÉLULAS NÃO ESTÃO
CONECTADAS POR UNIÕES EM
CONECTADAS E CADA CÉLULA DEVE
FENDA E ELAS SE CONTRAEM COMO
SER ESTIMULADA INDIVIDUALMENTE
UMA SÓ CÉLULA
VARICOSIDADE VARICOSIDADE
DE NEURÔNIO
AUTONÔMICO
JUNÇÕES
COMUNICANTES
NEUROTRANSMISSOR
CÉLULA
MUSCULAR LISA
NEURÔNIO
RECEPTOR
Fonte: Alila Medical Media/Shutterstock.com
Fisiologia Muscular 23
As células musculares lisas são células alongadas e fusiformes, com extremida-
des finas, cujo comprimento médio é de cerca de 0,2 mm e um diâmetro de 5 a 6 µm.
Os núcleos das células musculares lisas são alongados e centralizados. Caso estes
estejam enrugados, enrolados ou helicoidal podem indicar que aquela célula estava
contraída no momento da fixação da lâmina. Seu citoplasma homogêneo é forte-
mente acidófilo, corando fácil pela eosina.
Cada célula é separada por uma membrana basal própria, com fibras reticulares
produzidas pela própria musculatura lisa, imersas nessa membrana basal, que pren-
dem as extremidades das células, reunindo-as. Além disso, a célula muscular lisa
também produz fibras de elastina e proteoglicanos, que compõem também a mem-
brana basal.
Os capilares sanguíneos irrigam as células lisas passando pela membrana basal
que as recobrem.
Na microscopia eletrônica, é possível ver que as organelas estão apertadas na re-
gião perinuclear, ao redor dos polos do núcleo.
Além disso, o músculo liso apresenta corpos densos, que são regiões amorfas e
arredondadas espalhadas pelo citoplasma da célula muscular. E os seus filamentos
intermediários são de desmina ou vimentina.
AS CÉLULAS
MUSCULARES LISAS
SÃO ALONGADAS E FIBRA MUSCULAR FIBRA MUSCULAR
FUSIFORMES, COM LISA CONTRAÍDA LISA RELAXADA
NÚCLEOS ALONGADOS
E CENTRALIZADOS
MIOFILAMENTOS DE
ACTINA E MIOSINA
CORPOS DENSOS
CONTRAÇÃO
Fisiologia Muscular 24
Se liga! Os miofilamentos leves da célula muscular lisa são cons-
tituídos de actina e tropomiosina, pois a troponina não está presente. Os mio-
filamentos grossos são constituídos de miosina II, assim como nas células
musculares estriadas esqueléticas.
HORMÔNIOS OU HORMÔNIOS OU
DESPOLARIZAÇÃO
NEUROTRANSMISSORES NEUROTRANSMISSORES
ABERTURA DE ABERTURA DE
CANAIS DE CÁLCIO CANAIS DE CÁLCIO IP3
VOLTAGEM-DEPENDENTES LIGANTE-DEPENDENTES
LIBERAÇÃO DE CÁLCIO
LIBERAÇÃO DE CÁLCIO
PELO RETÍCULO
INDUZIDA PELO CÁLCIO
SARCOPLASMÁTICO
AUMENTO DE CÁLCIO
Fisiologia Muscular 25
Já no sarcoplasma, o cálcio se liga à calmodulina, alterando a sua conformação e
formando o complexo cálcio-calmodulina, que se une à caldesmona, resultando na
liberação do sítio ativo para a actina e, em seguida, ativando a quinase de cadeia leve
da miosina.
As quinases de cadeia leve da miosina II, ao serem fosforiladas, se estiram sobre
o filamento de actina.
Sobre a ação da enzima ATPase da miosina II, o ATP é quebrado e libera energia
para mover a cabeça da miosina sobre a actina, a deslizando, processo semelhante
ao da contração da musculatura estriada esquelética.
Como os miofilamentos de actina e miosina II estão ligados a uma rede de estru-
turas chamadas corpos densos, quando uma célula se contrai as outras também são
estimuladas a se contrair (no músculo liso unitário).
Durante a contração, o núcleo da célula se deforma passivamente, assumindo as-
pecto rugoso, enrolado ou helicoidal.
Fisiologia Muscular 26
Os hormônios que podem atuar sobre o músculo liso podem ter efeito na concen-
tração sarcoplasmática de AMP-cíclico, aumentando ou diminuindo, que leva a uma
ativação ou uma inibição da enzima cinase independente da entrada de cálcio na cé-
lula, regulando a contração muscular.
↑ CÁLCIO
INTRACELULAR
Ca++-calmodulina (CaM)
↑ MiosinaATPase
MIOSINA-P + ACTINA
TENSÃO
Fisiologia Muscular 27
4. TECIDO MUSCULAR ESTRIADO
CARDÍACO
Esse tipo de tecido é encontrado apenas no coração e nas veias pulmonares, onde
estas se unem ao coração e ele é derivado do manto mioepicárdico, cujas células
originam o epicárdio e o miocárdio.
O miocárdio adulto é composto por uma rede anastomosada de células musculares
cardíacas ramificadas, organizadas em lâminas (camadas), que são separadas umas
das outras por bainhas de tecido conjuntivo que veiculam vasos sanguíneos, nervos e o
sistema autogerador de impulso cardíaco.
Os capilares que são derivados desses vasos se ramificam e invadem o tecido con-
juntivo intersticial, formando uma rica rede de leitos capilares, que envolvem cada célu-
la muscular cardíaca.
Diferentemente dos demais músculos, o tecido muscular cardíaco apresenta uma
contração involuntária e ritmo próprio, realizado por um sistema de células especia-
lizadas na geração e coordenação da função contrátil desse tecido.
Quase metade do volume de uma fibra cardíaca é ocupado por mitocôndrias,
sendo o glicogênio e os triglicerídeos os responsáveis pelo suprimento energético do
coração. Justamente pela alta demanda energética, esse tecido contêm uma grande
quantidade de mioglobina.
As células musculares cardíacas têm tamanhos variados, porém apresentam em
média 15 µm de diâmetro e 80 µm de comprimento. Possuem também, geralmente,
um núcleo único, central e oval, mas algumas delas podem ter dois núcleos. As cé-
lulas musculares atriais, além de menores, armazenam grânulos contendo peptídeo
natriurético atrial, uma substância que funciona como redutora da pressão arterial,
pois atua na redução da capacidade dos túbulos renais em reabsorver sódio e água.
O músculo cardíaco contêm miofibrilas típicas, com filamentos de actina e miosina,
assim como os encontrados no músculo estriado esquelético, e esses filamentos se dis-
põem lado a lado e deslizam juntos durante as contrações.
O sarcolema das células cardíacas formam junções altamente especializadas
que unem uma célula à outra: os discos intercalares. Em cada disco intercalado, as
membranas celulares se fundem, formando junções comunicantes (junções do tipo
gap) nas suas porções laterais, que permitem rápida difusão de íons.
Fisiologia Muscular 28
Os átrios são separados dos ventrículos por um tecido fibroso, que circunda as
aberturas das valvas atrioventriculares, o que faz com que, na realidade, o coração
tenha dois sincícios: o atrial e o ventricular.
O potencial de ação não é propagado do átrio para o ventrículo célula a célula,
pois ele não consegue ultrapassar essa barreira fibrosa. Em vez disso, ele é conduzi-
do pelo feixe-AV, que é um feixe de fibras condutoras.
OS DISCOS INTERCALARES
PERMITEM A CONTRAÇÃO
SINCRONIZADA DO TECIDO
CARDÍACO.
O NÚCLEO
GERALMENTE É ÚNICO,
CENTRAL E OVALADO.
Microscopia do músculo cardíaco.
Fonte: Jose Luis Calvo/Shutterstock.com
Fisiologia Muscular 29
A presença desse platô faz com que a contração da célula muscular cardíaca du-
re até 15 vezes mais do que a da célula muscular esquelética. Isso ocorre por dois
motivos:
Fisiologia Muscular 30
O POTENCIAL DE AÇÃO NO MÚSCULO CARDÍACO
POTENCIAL
DE AÇÃO NO EM MÉDIA, 105
MÚSCULO MILIVOLTS
CARDÍACO
DO LÍQUIDO
↑ DURAÇÃO DA APRESENTA INFLUXO DE
EXTRACELULAR
CONTRAÇÃO UM PLATÔ CÁLCIO
PELOS TÚBULOS T
APÓS O FECHAMENTO
REPOLARIZAÇÃO ↑ Permeabilidade
DOS CANAIS DE
ABRUPTA AO POTÁSSIO
CÁLCIO-SÓDIO LENTOS
Fisiologia Muscular 31
Acoplamento excitação-contração
Quando o potencial de ação é iniciado na membrana miocárdica, ele se difunde
para o interior das fibras cardíacas, passando ao longo dos túbulos T até as cister-
nas terminais do retículo sarcoplasmático, fazendo com que haja um influxo de cál-
cio para o sarcoplasma.
O ciclo das pontes cruzadas, onde há o deslizamento da actina sobre a miosina, é
igual ao que ocorre nas células musculares esqueléticas (discutido acima).
O que difere do músculo cardíaco para o esquelético é que além dessa fonte de
cálcio, ainda existe a entrada de cálcio advinda dos canais de cálcio dependentes de
voltagem, presentes nos próprios túbulos T, que ativam canais de receptores de ria-
nodina na membrana do retículo sarcoplasmático, provocando a liberação de mais
cálcio para o sarcoplasma, para seguirmos para as pontes cruzadas.
Essa fonte extra de cálcio é importante pois o retículo sarcoplasmático das cé-
lulas miocárdicas é menos desenvolvido do que o das células musculares, não ar-
mazenando cálcio suficiente para uma contração muscular efetiva. Inversamente ao
que ocorre no retículo sarcoplasmático, os túbulos T das fibras miocárdicas são ex-
tremamente desenvolvidos e realizam um contato direto com o líquido extracelular.
Bombas de cálcio-ATPase e trocadores de cálcio-sódio bombeiam cálcio para fora
das fibras miocárdicas após o potencial de ação cardíaco. Com isso, a contração se
encerra, até que ocorra um novo potencial de ação.
O músculo cardíaco começa a se contrair poucos milissegundos após o início do
potencial de ação e continua a se contrair após alguns milissegundos do térmico
desde potencial de ação. Com isso, a duração da contração no músculo atrial ocorre
em torno de 0,2 segundo e, no músculo ventricular, em torno de 0,3 segundo.
Fisiologia Muscular 32
Frequência cardíaca e contratilidade
O aumento da frequência cardíaca provoca um aumento na contratilidade por dois
motivos:
• Efeito escada positivo: isso ocorre porque, com o aumento da frequência car-
díaca, ocorre um aumento no número de platôs (número de correntes de influ-
xo), aumentando a quantidade de cálcio intracelular. Com isso, a contratilidade
também aumenta. Ademais, quanto mais cálcio entra na célula, mais cálcio o
retículo sarcoplasmático vai acumular no final do potencial de ação.
• Efeito potenciação pós-extrassistolia: Após o acontecimento de uma extrassís-
tole, existe uma sístole exacerbada, que ocorre por causa do acúmulo de cálcio
extra que ocorre no retículo sarcoplasmático. Com isso, ele fornece mais cálcio
na contração pós-extrassístole.
Mecanismo de Frank-Starling
A lei de Frank Starling diz que: “a energia de contração é proporcional ao compri-
mento inicial da fibra do músculo cardíaco”.
Essa frase ganhou uma explicação lógica após estudos de microscopia eletrônica,
que permitiram relacionar a contração desenvolvida pelo músculo com o compri-
mento sarcômeros.
Esses estudos evidenciaram que existe uma determinada variação de comprimento
em que o músculo desenvolve maior força, que é entre 2,05 e 2,25 µ. Nesse caso, até
esse tamanho, a relação tamanho-força é diretamente proporcional, e isso ocorre por-
que, nesse comprimento do sarcômero, toda porção ativa do filamento grosso pode
interagir com o filamento fino, possibilitando o maior número possível de ligações en-
tre a miosina e a actina.
Outro mecanismo que explica o aumento da contratilidade cardíaca é que uma
fibra cardíaca mais distendida significa que mais sangue está chegando ao coração.
Esse sangue exerce uma pressão que distende as câmaras. A distensão, especial-
mente no átrio esquerdo, aumenta a frequência cardíaca em 10-20%, o que, pelo me-
canismo explicado acima, também aumenta a força de contração.
Fisiologia Muscular 33
Se liga! Quando a fibra se estira demais e temos sarcômeros com
comprimentos maiores que 2,25µ, ocorre um decréscimo da força de contra-
ção, pois o filamento fino se afasta do centro do filamento grosso, implicando
perda de pontos de interação miosina-actina. A partir de 2,25 µ, o afastamento
dos filamentos finos será tanto maior quanto mais estirado estiver o sarcômero
e, com isso, ocorre a diminuição progressiva do número de pontos de interação
miosina-actina e da tensão gerada durante a contração.
Fisiologia Muscular 34
CONTRATILIDADE E HIPERTROFIA CARDÍACA
CONTRATI-
LIDADE
CARDÍACA
MECANISMO DE
FREQUÊNCIA CARDÍACA
FRANK STARLING
↑ INTERAÇÃO DAS
PONTES CRUZADAS ↑ PLATÔS
↑ Ca2+ INTRACEL.
↑ CONTRATILIDADE
HIPERTROFIA
CARDÍACA
FISIOLÓGICA PATOLÓGICA
Fisiologia Muscular 35
REFERÊNCIAS
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Porto Alegre (2017).
Berne & Levy Fisiologia. Elsevier Health Education; Edição 6, 2011.
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