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Disciplina:
Metodologia da História I – Prof. Ms. Leandro Salman Torelli e Prof. Ms. Reginaldo de Oliveira Pereira
Meu nome é Leandro Salman Torelli. Graduei-me em História pela Unesp e defendi
mestrado em História Econômica pelo Instituto de Economia da Unicamp. Nesta
Universidade, tive a oportunidade de fazer um curso de Historiografia com o Prof.
Fernando Novais, que me despertou profundo interesse por essa área de teoria e
metodologia da História. Em parceria com o amigo Prof. Reginaldo, escrevi este material
com a perspectiva de que desperte em você também o interesse por essa temática, tão
importante nos estudos atuais de História. Um grande abraço!
e-mail: leantorelli@yahoo.com.br
Meu nome é Reginaldo de Oliveira Pereira. Sou mestre em História pela Universidade
Estadual Paulista – Campus de Franca. De modo especial, o estudo de Metodologia da
História sempre me chamou a atenção e foi por esse motivo que aceitei o desafio de
escrever um material que tratasse das modificações pelas quais passou o fazer histórico
ao longo do tempo. Espero que a leitura seja útil e agradável e sirva de ponto de partida
para um estudo mais aprofundado no decorrer do curso de História.
e-mail: reginaldo@claretiano.edu.br
Prof. Ms. Leandro Salman Torelli
Prof. Ms. Reginaldo de Oliveira Pereira
METODOLOGIA DA HISTÓRIA I
Guia de Disciplina
Caderno de Referência de Conteúdo
© Ação Educacional Claretiana, 2008 – Batatais (SP)
Preparação Revisão
Aletéia Patrícia de Figueiredo Felipe Aleixo
Isadora de Castro Penholato
Aline de Fátima Guedes
Maiara Andréa Alves
Camila Maria Nardi Matos
Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Elaine Cristina de Sousa Goulart Projeto gráfico, diagramação e capa
Lidiane Maria Magalini Eduardo de Oliveira Azevedo
Luciana Mani Adami Joice Cristina Micai
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luiz Fernando Trentin
Luis Antônio Guimarães Toloi
Patrícia Alves Veronez Montera
Raphael Fantacini de Oliveira
Rosemeire Cristina Astolphi Buzelli Renato de Oliveira Violin
Simone Rodrigues de Oliveira Tamires Botta Murakami
GUIA DE DISCIPLINA
1 APRESENTAÇÃO................................................................................................VII
2 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA..........................................................................VII
3 CONSIDERAÇÕES GERAIS..................................................................................VIII
4 BIBLIOGRAFIA BÁSICA.......................................................................................IX
5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR...........................................................................IX
INTRODUÇÃO À DISCIPLINA
AULA PRESENCIAL.......................................................................................... 2
Ementa
Objetivo geral
( ) Presencial ( X ) A distância
ATENÇÃO!
É importante que você releia no Guia Acadêmico do seu curso as informações
referentes à Metodologia e à Forma de Avaliação da disciplina Metodologia
da História I, descritas pelo tutor na ferramenta “cronograma” na Sala de
Aula Virtual – SAV.
3 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Neste Guia de disciplina, desenvolvemos os aspectos essenciais para o estudo
da Metodologia da História I, destacando os temas gerais e específicos para a
compreensão das questões que fomentaram, até meados do século 20, o exercício e a
produção histórica.
4 BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BLOCH, M. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001.
5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos de Estado. 8. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
HOBSBAWM, E. Tempos Interessantes: uma vida no século XX. São Paulo: Companhia
das Letras, 2002.
LANGLOIS, C.; SEIGNOBOS, C. Introdução aos estudos históricos. São Paulo: Renascença,
1946.
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© Metodologia da História I • •
IX
Batatais – Claretiano
GUIA DE DISCIPLINA
Licenciatura em História
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1993.
______. Para a Crítica da Economia Política; Salário, preço e lucro; O rendimento e suas
fontes. São Paulo: Abril Cultural, 1982. (Coleção Os Economistas).
Ótimos estudos!
INTRODUÇÃO À DISCIPLINA
AULA PRESENCIAL
Objetivos
• Conhecer e entender a organização da disciplina
Metodologia da História I, bem como as formas de
participação para a compreensão e o aprendizado dos
conteúdos.
Conteúdo
• Apresentação geral da estrutura de desenvolvimento da
disciplina e dos temas e discussões mais relevantes sobre
a Metodologia da História.
O QUE É, PARA QUE
UNIDADE 1
SERVE E COMO SE
ESCREVE A HISTÓRIA?
Objetivos
• Estudar o significado, para que serve e como se escreve
a História na perspectiva dos autores contemporâneos
desta disciplina.
Conteúdos
• Significado(s) de História.
ATENÇÃO!
1
Ao iniciar seus estudos sobre
a metodologia da História,
é importante considerar as
INTRODUÇÃO
seguintes técnicas que poderão
potencializar sua aprendizagem: Nesta unidade, iremos estudar os conceitos e os significados atribuídos ao termo
• tente estabelecer um horário e
lugar fixo para o estudo; “História”. Abordaremos, ainda, o que é e para que serve estudar História, além de refletir
• procure ter à mão todos os sobre qual é o papel desse exercício intelectual na sociedade.
recursos e materiais de que
irá necessitar;
• participe ativamente do estudo: Em seguida, procuraremos elucidar como se escreve a História, de que maneira
com compreensão, atenção e se pesquisa e se constrói uma visão historiográfica e qual é o espaço da reconstituição e
concentração;
• faça as reflexões sugeridas;
da interpretação dos fatos históricos.
• distribua os períodos de estudo
racionalmente. Por fim, discutiremos as relações entre a História e as outras Ciências Sociais,
como a Antropologia, Sociologia, Economia, Política etc.
2 SIGNIFICADO(S) DE HISTÓRIA
Qualquer pessoa que fosse inquirida com a pergunta “O que é História?” se
sentiria, geralmente, à vontade para responder. Possivelmente, ela diria que História é
aquilo que aconteceu em tempos passados e consideraria essa resposta suficientemente
clara para elucidar a dúvida. Mas será mesmo que isso é o suficiente para concluir o
significado de História? Vejamos.
É bom lembrarmos que nem todos os povos que fizeram História se preocuparam
em reconstituí-la, em narrá-la. Muitos, na verdade, procuraram explicar seu passado de
outras formas, utilizando-se, por exemplo, dos mitos.
Podemos, então, dizer que várias civilizações procuravam explicações para seu
passado e para sua origem fora da História.
É claro que esses povos primitivos, como já dissemos, tiveram História, uma
vez que houve acontecimentos humanos ao longo do tempo; contudo, nunca produziram
História, pois não registraram nem narraram os acontecimentos presenciados e vivenciados
por eles.
Dessa forma, podemos afirmar que a História, nesse segundo sentido, nasce na
Grécia Antiga entre os séculos 6º e 5º a.C. A partir desse momento, o homem passou a
sentir necessidade de registrar os fatos do passado, procurando ser fiel a eles.
Sobre a evolução desse processo até os dias atuais, isto é, como o homem
escreveu e escreve sua História, veremos nas próximas unidades. O que nos interessa no
momento é definir que História tem esse duplo caráter: acontecimento humano no tempo
e reconstituição desses acontecimentos por meio da escrita sobre o passado.
Desse modo, o trabalho do historiador é registrar os fatos, ser fiel a eles, mas,
também, buscar interpretá-los, reconstituindo o passado de maneira a dar-lhe sentido.
Assim, toda História escrita é uma análise do passado, mas com as preocupações do
presente.
Nos termos colocados por Carr (1996, p. 79), “não há indicador mais significativo do
caráter de uma sociedade do que o tipo de História que ela escreve ou deixa de escrever”.
Como escreveu Carr (1996, p. 63), História é “um processo contínuo de interação
entre o historiador e seus fatos, um diálogo interminável entre o passado e o presente”.
Assim, é impossível construir uma “História definitiva” ou “História verdadeira”, uma
“História única”, pois o historiador lida a todo o momento com essa dualidade de, por um
lado, reconstituir o passado, e, por outro, interpretá-lo.
Bloch (2001, p. 43) dá alguns indicativos que podem auxiliar na resposta para
essa questão: “mesmo que a história fosse julgada incapaz de outros serviços, restaria
dizer, a seu favor, que ela entretém”.
Mas, evidentemente, o autor vai além dessa observação. Afirma que a História só
sobrevive se mantiver seu caráter estético, ou seja, sua beleza poética. Assim, a História
caminha entre a beleza e o rigor conceitual, entre o texto bem escrito, por um lado, e o
bem construído teoricamente, por outro. A História é “uma ciência em marcha” e, além
disso, está “na infância”, pois necessita ser (re)pensada a todo o momento, algo que à
época de Bloch estava apenas começando.
Define o eminente historiador que o objeto da História, ou seja, aquilo que ela
deve investigar, não é uma entidade metafísica como “o tempo”, mas sim o
homem e, mais precisamente, os homens no tempo, suas ações e práticas em
todas as suas manifestações.
Nesse sentido, para Bloch (2001), onde houver seres humanos, existirá História
e, assim, algo a ser elucidado pelo historiador. Além disso, ele diz que somente um
historiador atento ao presente, conhecedor de seu tempo, pode inquirir, satisfatoriamente,
os homens do passado, pois “o presente bem referenciado e definido dá início ao
processo fundamental do ofício de historiador: compreender o presente pelo passado e,
correlativamente, compreender o passado pelo presente” (BLOCH apud LE GOFF, 2001,
p. 25).
Para encerrar essa primeira abordagem sobre o que significa o estudo da História,
gostaríamos de citar uma metáfora de Carr. Segundo ele, em um determinado momento,
os historiadores definiam que História era um amontoado de fatos. Portanto,
Essa concepção, nos últimos 50 anos, vem sendo substituída por uma mais
condizente com a realidade da produção histórica, isto é:
de que maneira ele seleciona e analisa os documentos e o que para ele se configura um
fato histórico? Essas são as questões que iremos abordar neste tópico.
Borges (1985, p. 48) lembra que, “desde que existem sobre a Terra, os homens
estão em relação com a natureza (para produzirem sua vida) e com os outros homens.
Dessa interação é que resultam os fatos, os acontecimentos, os fenômenos que constituem
o processo histórico”. Desse modo, o objetivo fundamental do historiador deve ser a
reconstituição do passado. Para isso, são necessários levantamentos e estudos de fontes
documentais desse passado.
É bom lembrar que quem produz o documento está imbuído de sua visão de
mundo, de sua forma de interpretar a situação em que se envolveu, de maneira que não
é neutro nem está acima dos fatos para julgá-los com “imparcialidade”. Como afirma Carr
(1996, p. 55), “os fatos e os documentos são essenciais ao historiador. Mas que não se
tornem fetiches”.
Novamente, podemos nos apoiar em Carr para elucidar essa relação entre
documento e interpretação dos fatos.
Para ele, “o historiador começa com uma seleção provisória de fatos e uma
interpretação, também, provisória, a partir da qual a seleção foi feita”. Enquanto está
trabalhando no tema, “tanto a interpretação e a seleção quanto a ordenação de fatos
passam por mudanças sutis e talvez parcialmente inconscientes, através da ação recíproca
de uma ou da outra”. Por isso, “o historiador e os fatos históricos são necessários um ao
outro”, pois “o historiador sem seus fatos não tem raízes e é inútil; os fatos sem seu
historiador são mortos e sem significado” (CARR, 1996, p. 65).
Logo, essa ação mútua de historiador sobre os fatos e estes sobre o historiador
“envolve a reciprocidade entre presente e passado, uma vez que o historiador faz parte do
presente e os fatos pertencem ao passado” (CARR 1996, p. 65).
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Batatais – Claretiano
UNIDADE 1
Licenciatura em História
Febvre utilizou-se desse argumento para estudar a obra do escritor francês do século
INFORMAÇÃO:
Para aprofundar seus estudos 16, Rabelais, que muitos historiadores diziam ser ateu. Entretanto, Febvre (1989) demonstrou
acerca desse assunto, sugerimos que era impossível ser ateu no século 16 na Europa, utilizando-se de diversos meios para isso,
a leitura das seguintes obras:
Lucien Febvre. Olhares sobre a demonstrando que aqueles que diziam isso estavam sendo anacrônicos.
História. Lisboa: Edições ASA,
1996. Para Novais (2005), que é um dos mais importantes historiadores brasileiros, o
Lucien Febvre. Combates pela
História. Lisboa: Presença, 1989. problema do anacronismo aparece de maneira cristalina em um tipo de História específico:
a chamada História “Nacional”, que tem por objeto a nação e o Estado Nacional. Vejamos
como ele apresenta o problema:
Na procura por essa boa História, além de ter que selecionar documentos e
fatos históricos para reconstituir o passado e procurar estabelecer fios condutores para
uma interpretação satisfatória dos acontecimentos humanos, o historiador deve fugir
da tentação de atribuir aos protagonistas dos acontecimentos que estuda o
conhecimento dos resultados de sua ação, na medida em que é impossível que estes
o saibam e, portanto, impossível, também, analisá-los dessa perspectiva.
4
ou, ainda, entrar em contato com
HISTÓRIA E OUTRAS CIÊNCIAS HUMANAS seu tutor.
Se a História, por seu lado, tem um objeto não delimitado, o grande debate
dentro das Ciências Sociais é justamente saber onde delimitar os seus objetos. Qual é a
fronteira que divide a Sociologia da Antropologia, por exemplo?
Apesar do ataque que a História sofreu das outras Ciências Sociais, o fundamental
é que, do ponto de vista do objeto, temos uma vantagem comparativa: o objeto da
História é toda a ação humana no tempo.
Por causa dessa amplitude de seu objeto, foi possível que, no momento em
que ocorreu uma crise das Ciências Sociais no último quarto do século 20, a História
respondesse a essa crise com uma ampliação dos objetos de estudo, dedicando-se a
temas que antes estavam negligenciados (o sexo, o amor, a família, a criança, a mulher, PARA VOCÊ REFLETIR:
entre outros), como veremos na disciplina Metodologia da História II. Você acha que a História pode
ser considerada o carro-chefe
das Ciências Sociais?
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Batatais – Claretiano
UNIDADE 1
Licenciatura em História
Fica claro, portanto, que a História é um ramo do conhecimento muito mais antigo
que as Ciências Sociais e responde a outras demandas. Além disso, o objeto de estudo da
História é muito mais amplo e abrange todo o acontecimento humano no tempo.
Esta obra divide-se em três partes, cada uma das quais pretende ser uma tentativa de
explicação de conjunto.
A primeira trata de uma história, quase imóvel, que é a do homem nas suas relações
com o meio que o rodeia, uma história lenta, de lentas transformações, muitas vezes
feita de retrocessos, de ciclos sempre recomeçados [...].
Acima desta história imóvel, pode distinguir-se uma outra, caracterizada por um ritmo
lento: se a expressão não tivesse sido esvaziada do seu sentido pleno, chamar-lhe-
íamos de bom grado história social, a história dos grupos e agrupamentos. Qual a
influência dessas vagas de fundo no conjunto da vida mediterrânica, eis a pergunta
que a mim próprio pus na segunda parte da minha obra, ao estudar, sucessivamente,
as economias, os Estados, as sociedades, as civilizações, e ao tentar, por fim, e para
melhor esclarecer a minha concepção de história, mostrar como todas estas forças
profundas atuam no complexo domínio da guerra. [...]
O tempo longo seria aquele em que as transformações são muito lentas, quase
imóveis, no qual o fundamental está na relação “homem e espaço”. Já o tempo de média
duração seria aquele em que as transformações ocorrem no nível das estruturas sociais,
com movimentos longos, resultando em grandes sínteses econômicas, sociais, políticas,
culturais. Por fim, o tempo curto, o tempo jornalístico, seria o tempo do registro imediato,
o tempo das paixões, dos acontecimentos e da instantaneidade.
Observamos, pois, que cada uma das Ciências Sociais ajusta-se mais a um
determinado tempo do que a outro, e, na relação desses tempos, seria possível estabelecer
o contato entre as diversas ciências do homem. A História seria, nesse sentido, o carro-
chefe do processo, na medida em que ela, como vimos, é a ciência social que melhor
compreende o homem no tempo.
5 CONSIDERAÇÕES
Nesta primeira unidade, procuramos discutir os conceitos básicos do significado
da ciência histórica. Inicialmente, analisamos o significado do termo “História”; em
seguida, procuramos dar conta das questões sobre o método de pesquisa e de estudo da
História.
Por fim, procuramos discutir a relação, nem sempre amistosa, mas necessária,
entre a História e as outras ciências humanas.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Batatais – Claretiano
Anotações
A ESCRITA DA HISTÓRIA
UNIDADE 2
NA ERA PRÉ-INDUSTRIAL:
NA ANTIGUIDADE,
NA IDADE MÉDIA
E NO RENASCIMENTO
Objetivo
• Estudar os princípios fundamentais que nortearam o
processo de escrita da História, destacando seus métodos
e relações com o tempo em que foram produzidos, ao
longo dos seguintes períodos: Antiguidade Clássica
(Grécia e Roma), Idade Média no Ocidente europeu e
Renascimento europeu entre os séculos 15 e 16.
Conteúdos
• A Escrita da História na Antiguidade.
ATENÇÃO!
1
Lembre-se de que a organização
de um horário de estudo é útil
para estabelecer hábitos e,
INTRODUÇÃO
assim, possibilitar que você
utilize o máximo de seu tempo e Na unidade anterior, vimos alguns conceitos gerais sobre a metodologia da
de sua energia. Pense nisso...
Não se esqueça de consultar as História e algumas implicações envolvidas na produção da memória de uma época, ou
informações contidas no Guia seja, os cuidados que devem ser tomados ao se rememorar e reconstituir o passado.
de disciplina e na página inicial
desta disciplina.
Nesta unidade, discutiremos como foi escrita a História ao longo da Antiguidade
Clássica (Grécia e em Roma), na Idade Média (Europa Ocidental) e, por fim, no período
da Renascença europeia.
Nosso objetivo será, portanto, perceber como, durante um período tão extenso,
a escrita da História foi se transformando e qual papel exerceu no contexto cultural do
período em estudo.
Logo, é nesse contexto e com esse papel que surge a História. Segundo Fontana
(1998, P. 18), “da fusão de revolução política e mudanças religiosas surgiu a interpretação
histórica da idade clássica: uma interpretação aristocrática, porém favorável à democracia
e hostil aos velhos mitos em que se assentava a sociedade da realeza e da oligarquia” .
Os “pais” da História
Heródoto de Halicarnasso (c. 485 – c. 424 a.C.) era um historiador por intenção.
Isso ele deixa claro já na inauguração de sua obra sobre as Guerras Médicas (490-479),
em que diz que escrevia para “impedir que caíssem no esquecimento as grandes façanhas
realizadas pelos Gregos e os Bárbaros” (CARBONELL, 19987, p. 16).
Outro homem grego importante para a História é Tucídides (c. 460 – c. 400 a.C.),
que se estabelece como historiador fazendo justamente uma crítica radical a Heródoto.
Figura 1 Busto de Tucídides. Afirma Carbonell (1987, p. 17) que: “com a História da Guerra do Peloponeso,
de Tucídides, nascem simultaneamente o método e a inteligência do historiador: a crítica
das fontes e a procura racional do encadeamento causal”.
Já que as fontes seriam apenas o que pudesse ser observado, era tirada do
historiador qualquer possibilidade de analisar aquilo que estivesse distante de seu tempo
de vida. O saber histórico em Tucídides é, exclusivamente, o observado.
3
irmãs, chamadas “as cantoras
CLIO CRISTÃ: HISTORIOGRAFIA NA ERA MEDIEVAL divinas”, habitava o monte
Hélicon.
Segundo a mitologia, reunindo-
O conturbado fim do Império Romano do Ocidente e o crescimento cada vez maior se sob a assistência de Apolo,
junto à fonte Hipocrene, as
da igreja cristã é o cenário da emergência de um novo tipo de escrita da História. musas presidem as artes e
as ciências. Clio tem o dom
Fontana (1998, p. 28) afirma a existência de “uma historiografia cristã que, de inspirar os governantes
e restabelecer a paz entre
ainda que escrita em latim, não surge da romana clássica por um processo de evolução ou os homens, e a essa função
degeneração, mas antes responde a uma nova concepção da sociedade – à necessidade é especialmente devotada.
Além disso, ela é a musa da
de justificar um novo sistema de relações entre os homens”. História e da criatividade, aquela
que divulgava e celebrava
Esse novo sistema de relações entre os homens se dará em vista dos seguintes realizações. Ela preside a
eloquência, sendo a fiadora das
fatores: relações políticas entre homens
e nações. É representada
• Crise generalizada do fim do Império Romano do Ocidente. como uma jovem coroada de
louros, trazendo, na mão direita,
• Processo de invasões dos povos germânicos do norte da Europa. uma trombeta e, na esquerda,
um livro intitulado Thucydide.
• Ruralização profunda pela qual passou o Ocidente europeu entre os séculos Outras representações suas
3º e 8º da era cristã. apresentam-na segurando
um rolo de pergaminho e uma
pena, atributos que, às vezes,
Nesse cenário, houve uma instituição que veio se consolidando no período final
também acompanham Calíope.
do Império Romano, a qual sobreviveu à crise e conseguiu tornar-se o centro fundamental Clio é considerada a inventora
das referências culturais da sociedade europeia ocidental. Essa instituição é a Igreja da guitarra, de forma que, em
algumas de suas estátuas, ela
(ANDERSON, 1994). traz esse instrumento em uma
das mãos e, na outra, um plectro
(palheta).
Dentro da Igreja, começaram a emergir os pensadores, inclusive historiadores,
que passaram a justificar o novo modelo social que surgiu como resultado dessa lenta
transição da chamada Antiguidade Clássica para a denominada Idade Média.
ATENÇÃO!
Assim, um novo sistema social, o feudalismo, apareceu como a solução para Portanto, podemos concluir
dessa afirmação que mudanças
a intensa ruralização que a sociedade da Europa ocidental sofreu ao longo da crise de na sociedade serão refletidas no
transição. Surge, dessa forma, a historiografia cristã. modo como a História é escrita.
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Batatais – Claretiano
UNIDADE 2
Licenciatura em História
Essa forma de observar a História surge com Santo Agostinho, que, no século
5º, estabelece uma filosofia da História fundamentada na visão cristã.
Foi um modo de produção regido pela terra e por uma economia natural, na
qual nem o trabalho nem os produtos do trabalho eram bens. O produtor
imediato – o camponês – estava unido ao meio de produção – o solo – por
uma específica relação social. A fórmula literal deste relacionamento era
proporcionada pela definição legal de servidão: os servos juridicamente
tinham mobilidade restrita. Os camponeses que ocupavam e cultivavam a
terra não eram seus proprietários. A propriedade agrícola era controlada
privadamente por uma classe de senhores feudais, que extraía um
excedente de produção dos camponeses através de uma relação político-
legal de coação.
Dessa forma, a Igreja, que, segundo Fontana (1998), sem essa justificativa
histórica teria sua posição social colocada em perigo, veio em socorro do sistema feudal,
criando a chamada “teoria das três ordens”, de maneira que a mais famosa é a do bispo
Adalberon de Laon, realizada provavelmente entre 1025 e 1027. Segundo esse bispo:
vez, têm outra condição. Esta raça de infelizes não tem nada sem sofrimento.
Fornecer a todos alimentos e vestimenta: eis a função do servos. A casa de
Deus, que parece uma, é portanto tripla: uns rezam, outros combatem e outros
trabalham. Todos os três formam um conjunto e não se separam: a obra de uns
permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos
outros (JUNIOR, 1986, p. 72).
Surgia, então, a teoria das três ordens: o clero, a nobreza feudal guerreira e
os servos camponeses. Nesse sentido, Fontana (1998, p. 34) lembra que “a Igreja reagia
assim contra sua marginalização na nova ordem feudal, oferecendo-lhe uma legitimação,
ao mesmo tempo que a defendia e se defendia contra um inimigo comum: a heresia
popular igualitária”.
É importante ressaltar que o grande historiador dessa fase foi Joaquim de Fiori
(c.1132-1202).
Abade da Calábria, Joaquim de Fiori articulou em seus textos a visão das três
ordens com alguns discursos proféticos, algo que lhe causou reprovações no Concílio de
Latrão, apesar do tom geral de elogios a sua obra. As mesmas críticas sofreu a obra de
Frei Dolcino, que levou a discussão profética para a construção de uma sociedade mais
justa, influenciando, decisivamente, os movimentos de reforma dentro da Igreja e as
heresias populares.
Já no século 14, a Idade Média assistia à decadência do modelo das três ordens
com o chamado renascimento comercial e das cidades. Nesse período, uma grave crise
atingiu em cheio o mundo feudal. As revoltas camponesas, a peste e a fome espalharam-
se pela Europa ocidental, ocasionando transformações cada vez mais radicais no sistema.
Novamente, Fontana (1998, p. 38) esclarece as relações entre as transformações sociais
e a escrita da História:
• A crítica documental.
• A chegada de novos instrumentos de pesquisa.
• A difusão das produções em texto escrito.
Ainda que a suspeita de que se tratava de uma fraude havia sido já exposta
por diversos autores, foi o humanista Lorenzo Valla, a serviço de Alfonso,
o Magnânimo, de Nápoles, e obrigado a defender o seu soberano contra as
pretensões políticas do papado, quem fez uma crítica demolidora do documento
e pôs em evidência os anacronismos, erros de linguagem e inexatidões de toda
a ordem que continha.
Figura 4 A Escola de Atenas, afresco de Rafael (Raffaelo Sanzio). Roma, Stanza della Segnatura,
Palácio do Vaticano.
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Batatais – Claretiano
UNIDADE 2
Licenciatura em História
Para Pasquier, o historiador deveria fazer uma crítica profunda às fontes e definir
rumos em que pudesse explicar, logicamente, a sociedade com não menos eficácia do que
as equações matemáticas.
Por fim, Bodin, que divide a História em três ramos: o natural, o sagrado e o
humano, defende que o historiador deve se ocupar do ramo humano, buscando construir
uma ciência que dê conta de explicar racionalmente a ascensão e queda dos impérios e
civilizações (CARBONELL, 1987).
No século 17, contudo, essa corrente histórica foi varrida da França para o
surgimento de outra que defendia a Igreja e o Absolutismo, uma espécie de Renascimento
da História Cristã medieval, mas com características da sua época, destacando-se a defesa
do absolutismo.
Dessa forma, não é possível construir uma ponte imediata entre o Renascimento
italiano e a Ilustração francesa ou o liberalismo inglês (temas da próxima unidade). Fica
claro, pois, que o período do século 15 ao 18, trata-se de uma fase de transição, em
que estruturas da antiga sociedade feudal coexistem com estruturas da nova sociedade
capitalista. Esse fenômeno manifesta-se na produção histórica, impossibilitando a
elaboração de uma síntese da forma em que se escreveu a História na chamada Idade
Moderna.
5 CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, procuramos analisar o surgimento do pensamento histórico,
desde a Antiguidade até o período da modernidade.
6 E-REFERÊNCIAS
Chamada numérica
Lista de figuras
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, P. Passagens da Antigüidade ao Feudalismo. 5. ed. São Paulo: Brasiliense,
1994.
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Batatais – Claretiano
Anotações
DA HISTÓRIA “ILUSTRADA”
UNIDADE 3
DO ILUMINISMO
À HISTÓRIA “CIENTÍFICA”
DOS POSITIVISTAS
Objetivos
• Compreender as principais características da História
iluminista.
Conteúdos
• A História dos Iluministas.
• A Escola Metódica.
ATENÇÃO!
1
Ao iniciar seus estudos, procure
ter à mão todos os recursos
de que irá necessitar, tais
INTRODUÇÃO
como: dicionário, caderno para
anotações, canetas, lápis, Nas unidades anteriores, vimos o que é, para que serve e como se escreve
obras etc. Desse modo, você a História, bem como seu desenvolvimento na Antiguidade, na Idade Média e no
poderá evitar as interrupções
e aproveitar seu tempo para Renascimento.
ampliar sua compreensão. Pense
nisso... Nesta unidade, vamos estudar o pensamento histórico dos movimentos que
contribuíram para o surgimento da nossa historiografia moderna e para a consolidação da
História como disciplina.
Vamos lá!
Mas, afinal, qual a relação que podemos estabelecer entre esse período de
mudanças e uma nova maneira de ver, conceber, interpretar e escrever a História? O
chamado século das luzes realmente foi decisivo no estabelecimento de uma nova forma
de se entender a História? Existiu nesse período um grupo de autores que influenciaram
gerações futuras de historiadores?
Devemos mencionar ainda que, durante o século 18, sob o impacto das ideias
iluministas, ganharam forma as chamadas filosofias da História, cuja visão teleológica
afirmava que a evolução da humanidade estava orientada para um determinado fim.
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Batatais – Claretiano
UNIDADE 3
Licenciatura em História
Além disso, conforme ensina Fontana (1998, p. 67), Voltaire foi responsável pelo
alargamento das perspectivas históricas, já que se empenhou “em superar o estreito marco
da história política tradicional, para construir em seu lugar, ‘a do espírito humano’”.
Assim, podemos dizer que, para Voltaire, cabia à História se envolver com
os estudos dos motivos e das paixões que guiam as ações humanas, privilegiando as
mudanças nos costumes e nas leis. Ademais, esse campo do saber deveria abrir-se a tudo
o que é humano, à diversidade das civilizações. No que diz respeito à escrita da História,
o historiador deveria procurar ser agradável, escrevendo de maneira breve e evitando
acrescentar demasiadamente detalhes inúteis e descrições numerosas em sua narrativa
(BOURDÉ; MARTIN, 1983).
De acordo com o exposto até aqui, você deve ter percebido que a concepção
histórica de Voltaire privilegia os aspectos culturais da humanidade; daí a sua preocupação
com as mudanças nos costumes, com a diversidade das civilizações.
Esse iluminista também atribui uma grande importância aos feitos dos grandes
homens (príncipes, militares, imperadores), conforme podemos depreender de sua divisão
em quatro grandes épocas para distinguir a evolução da História humana:
• A distinção feita entre o que é meramente fruto do acaso e aquilo que tem
uma importância estrutural para explicar os fenômenos históricos, o que
possibilitaria, na concepção de Montesquieu, um estudo científico da evolução
histórica.
• “Sua visão da evolução humana, como passagem por uma sucessão de etapas
definidas pela forma na qual os homens obtêm a sua subsistência” (FONTANA,
1983, p. 69-70).
Desse modo, o próprio processo histórico por que passou o homem o transformou
num prisioneiro, corrompendo seu modo de vida original caracterizado pela liberdade e
independência. Em outras palavras, a origem da corrupção do ser humano está em seu
contato com a civilização, que o afastou gradativamente de seu contato com a natureza e
produziu a desigualdade entre as pessoas, bem como os problemas criados por ela.
Quanto a Condorcet (1743-1794), cujo verdadeiro nome era Marie Jean Antoine
Nicolas de Caritat, devemos destacar seu papel na modificação da imagem que até então
se tinha do tempo histórico: o de uma linha reta temporal. Esse iluminista apresenta
um modelo de compreensão dos acontecimentos constituído por uma escadaria, no qual
acontecimentos diversos se desenrolam em seus variados degraus .
Além disso, ele colocou em relevo que a direção da marcha da História depende
da permanência de algumas precondições e da intervenção dos indivíduos para antecipar
o tempo daquilo que aconteceria de modo inevitável no futuro.
Surge, a partir daí, uma nova maneira para explicar a realidade e os fenômenos
humanos, que afirma haver uma lógica interna de funcionamento obtida pelas ações do
homem e pelos princípios que ordenam a vida em sociedade.
Esse pensador identifica uma organização dinâmica da sociedade que sempre VOCÊ SABIA QUE:
evolui para um melhor bem-estar coletivo. Dessa forma, é possível explicar e prever tanto O liberalismo era um modelo de
pensamento que reclamava o
o comportamento dos indivíduos quanto as relações sociais do homem, já que a natureza progresso por meio da liberdade.
humana é vista como universal e imutável. Suas principais características
eram: a não-intervenção
do Estado na economia, o
individualismo, a liberdade de
mercado, a livre concorrência,
5 ESCOLA METÓDICA
a liberdade de contrato e a livre
iniciativa.
No decorrer do século 19, ocorreu uma incessante tentativa de estabelecimento PARA VOCÊ REFLETIR:
de uma historiografia científica – acompanhando os passos das propostas iluministas – Você já ouviu falar do
neoliberalismo? Consegue
que apresentasse métodos e critérios de trabalho para o historiador. enxergá-lo como uma retomada
do liberalismo? Reflita sobre
Nesse contexto, implantou-se na França, entre os anos de 1880 e 1930, a Escola isso...
Metódica, tornando-se uma das grandes responsáveis pela consolidação da História como
disciplina e pela profissionalização do gênero histórico.
Seus princípios aparecem em dois textos: um foi redigido por Gabriel Monod,
para o lançamento da Revue Historique, em 1876; o outro é a obra Introdução aos estudos
históricos, escrita por Charles Seignobos e Charles-Victor Langlois em 1898.
reunir um número suficiente de dados, descrevendo apenas o que estava contido nas
fontes, sem se ater a nenhum tipo de especulação teórica, evitando, assim, qualquer tipo
de subjetividade (BOURDÉ; MARTIN, 1983).
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Batatais – Claretiano
UNIDADE 3
Licenciatura em História
Dessa forma, após a escolha do tema a ser estudado, o historiador deve realizar
a busca, a localização, a reunião e a classificação dos documentos, em uma atividade
conhecida como heurística. Além do mais, a crítica das fontes fazia-se uma etapa
fundamental, uma vez que tinha o objetivo de verificar a autenticidade e a credibilidade
ou não dos registros deixados.
De acordo com essa lei dos três estados, o desenvolvimento histórico e cultural
da humanidade teria se desenvolvido em três etapas:
Vale lembrar que cada ramo do conhecimento passa por esses três estados, de
forma que apenas se torna ciência no estado positivo.
Essa ênfase no aspecto político foi alvo de crítica por parte dos marxistas,
que passaram a privilegiar os aspectos econômicos, baseando-se na análise dos modos
VOCÊ SABIA QUE:
de produção – asiático, escravista, feudal, capitalista e socialista – como explicação do A frase “Ordem e Progresso”,
processo histórico, temas estes que serão tratados na próxima unidade. escrita em nossa Bandeira, é um
lema positivista, o que demonstra
a forte influência dessa doutrina
entre nossos republicanos.
7 CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, fizemos a trajetória histórica da construção historiográfica dos
pensadores iluministas. Mostramos a profunda relação entre sua forma de ver o mundo e
de pensá-lo e sua construção histórica, baseada em uma noção de progresso da civilização
humana.
Esse modelo foi profundamente questionado a partir do século 20, como veremos
na próxima unidade.
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Batatais – Claretiano
UNIDADE 3
Licenciatura em História
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BODEI, R. A história tem um sentido? Bauru: Edusc, 2001.
LANGLOIS, C.; SEIGNOBOS, C. Introdução aos estudos históricos. São Paulo: Renascença,
1946.
UNIDADE 4
REVOLUÇÃO: MATERIALISMO
HISTÓRICO E DIALÉTICO
Objetivos
• Estudar o surgimento, a consolidação e o desenvolvimento
da teoria marxista.
Conteúdos
• Karl Marx e seu tempo: o surgimento do materialismo
histórico.
ATENÇÃO!
1
Durante o estudo desta unidade,
procure realizar as reflexões
sugeridas. Faça seu cronograma
INTRODUÇÃO
e não se apresse em prosseguir
seus estudos. Afinal, as reflexões Na unidade anterior, estudamos o Iluminismo e o positivismo, bem como suas
são importantes para possibilitar
que você se envolva por inteiro influências na produção historiográfica.
na aprendizagem. Pense nisso...
Agora, nesta última unidade, veremos o período chamado “materialismo
histórico”, a sua origem, o seu desenvolvimento e como se tornou muito influente na
História, mais especificamente com a teoria de Karl Marx e Friedrich Engels. A maneira
como os autores citados conceberam sua teoria faz com que não haja diferenciação
para eles entre escrever e fazer História. No entanto, nosso objetivo nesta unidade será
discutir a influência e a penetração dessa teoria do materialismo histórico na produção
historiográfica nos últimos 160 anos.
Karl Marx costumava dizer que não era “marxista”, o que já diz muito sobre o
que ele achava daquilo que vinham dizendo e fazendo em seu nome, mas o que ele criou
tomou proporções muito maiores do que pudesse controlar. Vamos, então, estudar essas
proporções no campo da produção historiográfica.
Mas que lei era essa descoberta por Marx? Em que contexto ela foi produzida?
Como podemos observar sua influência na produção historiográfica desde então? Essas
são as questões que iremos tratar nas páginas que se seguem.
(2) Engels
Nessa mesma época, depois das barulhentas revoluções de 1830 (que tinham
no liberalismo e no nacionalismo as suas bandeiras), a Europa começava a assistir novos
INFORMAÇÃO
COMPLEMENTAR:
levantes populares em 1848, agora com um novo ingrediente ideológico a se juntar aos
Procure pesquisar por obras antigos: o comunismo.
cinematográficas que tratam
da época em questão, meados
do século 19, em que são Em Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848, os seus autores, Marx
abordadas as condições de e Engels (1993, p. 66), diziam o seguinte:
trabalho dos operários das
fábricas. Certamente, isso lhe A história de toda a sociedade até hoje é a história de luta de classes [...] Homem
ajudará a entender melhor
livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestres e companheiros, numa
o contexto em que estavam
incluídos os conceitos marxistas. palavra, opressores e oprimidos, sempre estiveram em constante oposição
Sugerimos que você assista, uns aos outros, envolvidos numa luta ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta,
especialmente, o filme Germinal, que terminou sempre ou com uma transformação revolucionária de toda a
do cineasta Claude Berri, na sociedade, ou com o declínio comum das classes em luta.
França, 1996.
Lançada a noção geral da teoria de História dos autores, Marx passou a dedicar-
se profundamente à pesquisa da organização do sistema capitalista.
Nessa fase, Marx procurou fazer a análise profunda das instituições econômicas
da sociedade capitalista. Dessa pesquisa surgiu sua obra mais importante, O Capital,
publicada originalmente em 1867. Contudo, em 1859, apareceu um texto fundamental do
universo marxista: o prefácio de Para a Crítica da Economia Política.
Vejamos no texto a seguir a forma mais clarividente que Marx considerava por
materialismo histórico.
Mas o fato é que esses dois autores criaram um novo método de estudo das
relações humanas no tempo e uma teoria de intervenção política revolucionária de grande
influência no século 20. Esses dois fatores são indissociáveis um do outro.
Em outras palavras, a dialética da luta de classes era muito usada para o combate
da burguesia, do capitalismo, mas havia poucos estudos sobre o materialismo histórico,
que, no fundo, daria toda a base para o conceito da luta de classes.
Por isso, devemos observar que ocorreram nessa fase muitas tentativas
frustrantes e frágeis, do ponto de vista político, realizadas pelo stalinismo. No entanto,
algumas manifestações teóricas do materialismo histórico foram muito profícuas nesse
contexto.
No início de 1924, Lênin morreu. Num espaço de três anos, a vitória de Stalin
no PCUS selou o destino do socialismo e do marxismo na URSS nas décadas
seguintes. O aparelho político de Stalin suprimira ativamente as práticas
revolucionárias das massas dentro da Rússia e, no exterior, as desencorajava
e sabotava. A consolidação de um estrato burocraticamente privilegiado acima
da classe operária era assegurada por um regime policial cuja ferocidade
desconhecia limites. Nestas condições, a unidade revolucionária entre teoria
e prática que tornara possível o bolchevismo clássico foi irremediavelmente
destruída. Na base, as massas foram caladas, sua espontaneidade e autonomia
pulverizadas pela casta que confiscara o poder no país; no topo do Partido,
os expurgos afastaram os últimos companheiros de Lênin. Todos os trabalhos
teóricos sérios foram interrompidos após a coletivização. [...] O marxismo foi,
em grande medida, reduzido a uma simples evocação na Rússia, ao passo que
Stalin atingia seu apogeu. O país mais avançado do mundo no desenvolvimento
do materialismo histórico, superando toda a Europa pela variedade e vigor
de seus teóricos, foi transformado, em não mais que uma década, em uma
atrasada terra de semi-analfabetos, notável apenas pelo rigor de sua censura e
pela crueza de sua propaganda.
Para organizar nossas ideias sobre o estudo das correntes comunistas que
coexistiam e se opunham, temos de reafirmar o que já dissemos no início deste tópico:
Outra mudança prática foi o deslocamento geográfico: se, antes, a maior parte
dos pensadores estavam na Europa oriental e do sul, nessa nova fase, deslocou-se para
a Europa ocidental e do norte, com a incorporação de pensadores, também, da América,
especialmente dos Estados Unidos.
ATENÇÃO!
Para discutir e analisar os
conteúdos estudados nesta Hobsbawm dedicou-se ao estudo das estruturas sociais da sociedade burguesa, assim
unidade com profundidade, como à vida e à consciência de classe dos trabalhadores ingleses, ambos no século 19. Mais
não se contente apenas com
os conteúdos aqui tratados ou recentemente, procurou trabalhar sobre as estruturas político-sociais do século 20.
com o que o tutor sugerir na
Sala de Aula Virtual. Procure, Já Anderson trabalhou sobre a gênese da sociedade burguesa, analisando
pois, consultar sites, ler obras,
entrevistas em jornais e revistas o desenvolvimento da sociedade ocidental desde a Antiguidade Clássica. Depois,
que tratem sobre o assunto. passou a dedicar-se ao estudo do marxismo no século 20 e tendências culturais mais
contemporâneas.
Nessa sua afirmação, percebemos que Vilar procura estabelecer uma relação
entre o marxismo por ele praticado e a historiografia surgida na França no século 20,
conhecida como Escola dos Annales. Talvez resida aí o canal para que o marxismo continue
vivo no século 21, tema que estudaremos no próximo tópico.
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Batatais – Claretiano
UNIDADE 4
Licenciatura em História
Em outras palavras, para Anderson (1983), o que se deve fazer é uma reafirmação
dos princípios do materialismo histórico e buscar reorganizar a classe operária para a
conquista socialista, única alternativa viável para a sociedade desigual atual.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta última unidade, estudamos o surgimento e a expansão das ideias marxistas
e sua relação com a produção historiográfica do século 20.
7 E-REFERÊNCIAS
Chamadas numéricas
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, P. A crise da crise do marxismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.
HOBSBAWM, E. Tempos Interessantes: uma vida no século XX. São Paulo: Companhia
das Letras, 2002.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1993.
MARX, K. Para a Crítica da Economia Política; Salário, preço e lucro; O rendimento e suas
fontes. São Paulo: Abril Cultural, 1982. (Coleção Os Economistas)
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Anotações