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COORDENAÇÃO DE PSICOLOGIA

Docente: Inocêncio Fortunato Kuyanga

Aluno/a:_____________________________________________

2021-2022
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA DISCIPLINA/CADEIRA

 Designação: Língua Portuguesa  Semestre: 1.º


 Característica: Material de Apoio  Carga horária semanal: 2 horas
 Autor/redactor: Inocêncio Fortunato Kuyanga  Carga horária semestral/total: 32 horas
 Curso: Licenciatura em Psicologia  Tel.: +244 935 514 177 / +244 914 293 747
 Ano: 1.º  E-mail: ifkuyanga@gmail.com

FUNDAMENTAÇÃO DA DISCIPLINA/CADEIRA
A Língua Portuguesa é um campo do saber propedêutico, a base epistemológica de
qualquer iniciativa científica por parte da classe académica angolana. É uma disciplina de tamanha
importância, ajuda o aluno a desenvolver habilidades para dissecar o seu pensamento com base
aos pressupostos comunicativos exigidos; quer no âmbito da oralidade, quer no âmbito da escrita.
Qualquer profissional que se prese, precisa de conhecer e dominar esta área sob alçada de
apresentar um discurso linguisticamente coeso e coerente.

OBJECTIVOS DA DISCIPLINA/CADEIRA
Gerais:
 Desenvolver habilidades comunicativas: comunicação oral e comunicação escrita;
 Desenvolver atitudes académicas: ética, senso crítico (interno e externo), e raciocínio lógico;
 Propiciar a arte investigativa no âmbito da Língua Portuguesa.

Específicos:
 Abordar sobre a língua (conceito e níveis)
 Abordar sobre a linguagem (conceito e funções)
 Abordar sobre os fundamentos epistemológicos da comunicação, do discurso e conceitos
operatórios;
 Dissecar sobre situações concretas da língua: fonética e fonologia, ortografia, acentuação e
pontuação (uso da vírgula).

SISTEMATIZAÇÃO DO ENSINO
Distribuição da carga horária
Temas
AT AP ATP Total
1: Epistemologia da comunicação, do discurso e do texto
2 2 4
2: Fonética e fonologia 4 2 6
3: Recomendações ortográficas 1 1 2
1ª Prova parcelar
4: A crase 2 2 4
5: Uso da vírgula 1 1 2
6: Pronominalização 2 2 4
2.ª Prova parcelar
7: Língua e estilo 4 2 6
8: Relação entre as palavras – fonética & gráfica – semântica 2 2 4
TOTAL 24 12 32
Exame final

I
Legenda: AT = Aulas Teóricas; AP = Aulas Práticas; APT = Aulas Teórico-práticas

METODOLOGIA DE ENSINO

O conteúdo deste programa será desenvolvido através das seguintes estratégias básicas:
 Aulas teóricas (expositivas)
 Aulas teórico-práticas
 Debate
 Interpretação e comentário
 Produção escrita

MODALIDADES DE AVALIAÇÃO

1ª 𝑃𝑟𝑜𝑣𝑎 𝑃𝑎𝑟𝑐𝑒𝑙𝑎𝑟 + 2ª 𝑃𝑟𝑜𝑣𝑎 𝑃𝑎𝑟𝑐𝑒𝑙𝑎𝑟 Legenda:


= 𝑅𝑃 = 60 % RP: Resultado Parcelar
2
𝐸𝑥𝑎𝑚𝑒 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑙 = 𝐸𝑅 = 40 % EF: Exame final
𝑅𝑃 + 𝐸𝐹 = 100 %

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

Para o cumprimento dos objectivos preconizados, desenvolveu-se uma série de temas,


detalhados no índice e no respectivo material de apoio. De forma sucinta, segue-se a disposição
de temas:
Tema 1: Epistemológicos da comunicação e do discurso
Tema 2: Fonética e fonologia
Tema 3: Recomendações ortográficas
Tema 4: A crase
Tema 5: Uso da vírgula
Tema 6: Colocação dos pronomes oblíquos átonos – pronominalização
Tema 7: Língua e estilo
Tema 8: Relação entre as palavras – fonética & gráfica - semântica

II
BIBLIOGRAFIA COMENTADA

 Agnaldo Martino (2014): “Português esquematizado®: gramática, interpretação de


texto” (3.ª ed.) – São Paulo: Saraiva.
É uma obra de fácil acesso, com ilustrações relevantes. Foi útil na concepção deste
material, sobretudo, no âmbito da fonética e fonologia.

 Carlos Álvares (2001): “Uma Introdução ao Estudo do Texto Literário: Noções de


Linguística e Literariedade” - Lisboa: Didáctica Editora.
É uma obra crucial, linguagem propícia e relevância na abordagem. Foi útil na temática
atinente à comunicação, o autor traz uma proposta peculiar, actual e actuante sobre a categorização
tipológica da comunicação.

 Celso Cunha e Lindley Cintra (2014): “Nova Gramática do Português Contemporâneo”


(21.ª ed.) - Lisboa: JSC.
É das obras mais ricas do português contemporâneo, reveste-se de um pendor instrutivo
proeminente para alcançar a eficiência comunicativa. Foi útil na dualidade temática: Acentuação
e Pontuação.

 Domingos Paschoal Cegalla (2009): “Novíssima gramática da Língua Portuguesa” – Rio


de Janeiro: Companhia Editora Nacional.
Cegalla é dos autores mais citados no estudo da prescrição linguística da modernidade.
Com uma linguagem peculiar e de fácil decifração, na sua gramática (clássica para muitos), traz
uma abordagem rechiada de ilustrações pontuais. A sua obra foi útil na concatenação das ideias
do capítulo língua e estilo.

 Evanildo Bechara (2009): “Moderna gramática portuguesa” (3.ª ed) – Rio de Janeiro:
Nova Fronteira.
Uma obra bastante pertinente, explora aspectos linguísticos e questões modernas do mesmo
campo.

 Maria Helena Miguel e Maria Antónia Alves (2016): “Saber +: Manual de Língua
Portuguesa para o ensino universitário – Luanda: Norprint.pt.
As professoras citadas trazem uma abordagem pertinente, uma abordagem própria para o
ensino universitário. A obra das mesmas foi útil na dissecação de conceitos operatórios atinentes
à pronominalização.

Outros autores importantes são: Glaucia Lopes Cansian e Regiane Pinheiro Dionísio Porrua
(2011), José Manuel de Castro Pinto (2006), Lurdes de Castro Moutinho (2000), Maria Beatriz
Florido e Maria Emília Duarte da Silva (1986), Maria Cecília Garcia e Benedita Aparecida Costa
dos Reis (2016), Maria Filomena Jaime Airosa (2015), Maria Helena Mira Mateus e Esperança
Cardeira (2007), Vasco Moreira e Hilário Pimenta (2007). De realçar que, todas as obras aparecem
no final do material – em forma de referências bibliográficas.

III
ÍNDICE

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA DISCIPLINA/CADEIRA…………………………………………....................I


FUNDAMENTAÇÃO DA DISCIPLINA/CADEIRA……………………………………………………....................I
OBJECTIVOS DA DISCIPLINA/CADEIRA………………………………………………………………………....I
SISTEMATIZAÇÃO DO ENSINO………………………………………………………………………....................I
METODOLOGIA DE ENSINO…………………………………………………………………………....................II
MODALIDADES DE AVALIAÇÃO……………………………………………………………………...................II
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS……………………………………………………………………....................II
BIBLIOGRAFIA COMENTADA………………………………………………………………………....................III
TEMA 1: EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, DO DISCURSO E DO TEXTO……………………………1
1.1. Língua e seus níveis .......................................................................................................................... 1
1.1.1. Níveis de língua .......................................................................................................................... 1
1.2. Linguagem: conceito, tipos de linguagem, funções da linguagem .................................................... 2
1.2.1. Tipos de linguagem .................................................................................................................... 2
1.2.2. Funções da linguagem ................................................................................................................ 2
1.3. A comunicação .................................................................................................................................. 3
1.3.1. Elementos da comunicação e sua esquematização ..................................................................... 3
1.3.2. Tipos de comunicação ................................................................................................................ 4
1.3.3. Interferências ou barreiras na comunicação e feedback ............................................................. 5
1.4. Discurso directo, discurso indirecto e discurso indirecto livre .......................................................... 5
1.5. Epistemologia do texto ...................................................................................................................... 6
1.5.1. Denotação e conotação ................................................................................................................... 6
1.5.2. Texto literário e texto não literário ................................................................................................. 7
1.5.3. Alguns textos utilitários: aviso, correio electrónico, circular, edital, ofício, contrato .................... 8
TEMA 2: FONÉTICA E FONOLOGIA……………………………………………………………………9
2.1. Conceitos operatórios: fonética e fonologia ...................................................................................... 9
2.2. Fonema e Grafema ............................................................................................................................ 9
2.2.1. Fonemas vocálicos e consonantais ............................................................................................. 9
2.2.2. Encontros vocálicos .................................................................................................................. 10
2.2.3. Encontros consonantais ............................................................................................................ 11
2.3. Dígrafo ............................................................................................................................................ 11
2.4. A sílaba / divisão silábica ................................................................................................................ 12
2.5. Translineação .................................................................................................................................. 12
2.6. Acentuação ...................................................................................................................................... 13
2.6.1. Acento tónico ........................................................................................................................... 13
2.6.2. Classificação das palavras quanto ao lugar ocupado pelo acento tónico.................................. 13
2.6.3 Acentos gráficos e sinais gráficos auxiliares ............................................................................. 13
2.7. Regras de acentuação ...................................................................................................................... 13
2.7.1. Acentuação das palavras agudas ou oxítonas e monossílabas .................................................. 13
2.7.2. Acentuação das palavras graves ou paroxítonas....................................................................... 14
2.7.3. Acentuação das palavras esdrúxulas ou proparoxítonas........................................................... 14
TEMA 3: RECOMENDAÇÕES ORTOGRÁFICAS……………………………………………………..15
3.1. Principais dificuldades ortográficas ................................................................................................ 15
a) A – OU HÁ? .............................................................................................................................................. 15
b) ACERCA DE, HÁ CERCA DE OU A CERCA DE? ............................................................................... 15
c) AO ENCONTRE DE OU DE ENCONTRO A? ....................................................................................... 15
d) AFIM OU A FIM? ..................................................................................................................................... 16
e) AO INVÉS DE OU EM VEZ DE? ............................................................................................................ 16
f) AO NÍVEL DE, EM NÍVEL DE OU A NÍVEL DE? ............................................................................... 16
g) AONDE OU ONDE?................................................................................................................................. 16
h) A PRINCÍPIO OU EM PRINCÍPIO? ........................................................................................................ 17
i) EM FACE DE OU FACE A? .................................................................................................................... 17
j) MAIS, MAS OU MÁS? ............................................................................................................................ 17
k) MAL OU MAU? ....................................................................................................................................... 17
l) POR QUE, PORQUE, POR QUÊ OU PORQUÊ? .................................................................................... 17
m) SE NÃO OU SENÃO? .......................................................................................................................... 18
n) TÃO POUCO OU TAMPOUCO?............................................................................................................. 18
TEMA 4: A CRASE………………………………………………………………………………………19
4.1. Uso da crase: regra geral ................................................................................................................. 19
4.2. A crase e os pronomes demonstrativos: aquele(s), aquela(s) e aquilo ............................................ 19
4.3. Crase e os pronomes relativos: a qual / as quais ............................................................................. 19
4.4. Crase e as locuções femininas ......................................................................................................... 19
4.5. Crase antes de topónimos ................................................................................................................ 20
4.6. Crase e as expressões indicativas de horas ...................................................................................... 20
4.7. Casos especiais ................................................................................................................................ 20
4.7.1. Crase antes das palavras “terra”, “casa” e “distância” ............................................................. 20
4.7.2. Crase e a expressão “à moda” “implícita” ................................................................................ 20
4.8. Proibição do uso da crase ................................................................................................................ 21
4.9. Casos facultativos ............................................................................................................................ 21
TEMA 5: USO DA VÍRGULA…………………………………………………………………………...22
TEMA 6: COLOCAÇÃO DOS PRONOMES OBLÍQUOS ÁTONOS - PRONOMINALIZAÇÃO……………...24
6.1. Conceito de pronominalização ........................................................................................................ 24
6.2. Pronominalização do complemento directo .................................................................................... 24
6.3. Pronominalização do complemento indirecto ................................................................................. 24
6.4. Pronominalização de ambos os complementos (directo e indirecto) .............................................. 24
6.5. Posição dos pronomes pessoais de complemento e suas regras ...................................................... 25
6.5.1. Posição enclítica (ênclise) ........................................................................................................ 25
6.5.2. Posição mesoclítica (mesóclise) ............................................................................................... 26
6.5.3. Proclítica (próclise) .................................................................................................................. 26
TEMA 7: LÍNGUA E ESTILO……………………………………………………………………………27
7.1. Qualidades essenciais da linguagem ............................................................................................... 27
7.2. Vícios de linguagem ........................................................................................................................ 27
7.3. Competência linguística e competência comunicativa .................................................................... 28
7.4. Figuras de estilo............................................................................................................................... 28
7.4.1. Figuras de palavras (ou tropos) ................................................................................................ 28
7.4.2. Figuras de construção (ou de sintaxe) ...................................................................................... 31
7.4.3. Figuras de pensamento ............................................................................................................. 32
TEMA 8: RELAÇÃO ENTRE AS PALAVRAS – FONÉTICA & GRÁFICA - SEMÂNTICA………...34
a) Homonímia ..................................................................................................................................... 34
b) Homografia..................................................................................................................................... 34
c) Homofonia ...................................................................................................................................... 34
d) Paronímia ....................................................................................................................................... 34
a) Relações de semelhança/oposição: sinonímia/antonímia ............................................................... 34
b) Relações de hierarquia: hiperonímia/hiponímia ............................................................................. 34
c) Relações de parte-todo: holonímia/meronímia ............................................................................... 35
d) Estrutura lexical: campo lexical/campo semântico ........................................................................ 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………………………………………………………………36
LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

TEMA 1: EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, DO DISCURSO E DO TEXTO

1.1. Língua e seus níveis


A língua é um código dominado pelos membros de uma comunidade linguística, ou seja,
um conjunto de meios de expressão oral e escrita que esses mesmos membros possuem e que
lhes permite comunicar.
Do ponto de vista linguístico, a língua forma dicotomia com a fala. Assim, podemos fazer
a seguinte distinção:
Língua Fala
 código dominado pelos indivíduos de  utilização concreta desse código por cada
uma comunidade linguística. indivíduo, em cada acto verbal que realiza.
 sistemática – regularidade  assistemática – variedade
 abstracta  concreta
 potencial  real
 colectiva  individual

1.1.1. Níveis de língua


Os níveis de língua são: língua cuidada, língua corrente, língua familiar, língua popular,
língua técnico-científica, língua literária e poética.
A língua cuidada, na sua génese, recorre à expressão bem elaborada, à perfeição estrutural
e precisão vocabular.

Recebe o nome de língua corrente à que usa termos e estruturas correntes de acordo com
a norma ou padrão.

A língua usada nas relações diárias, entre amigos ou parentes, com vocabulário pouco
rigoroso – recebe o nome de língua familiar.

Língua popular é à que revela despreocupação nas construções sintácticas e na correcção


do vocabulário; é marcadamente oral e espontânea. Pode surgir como:
Regionalismos: expressões ou falares típicos da população de diferentes regiões.
Gíria: expressões ou falares característicos de certos grupos profissionais e sociais:
médicos, juristas, desportistas, professores, etc.
Calão: expressões ou formas marginais, falares obscenos. Hodiernamente, é visível a
interferência do calão na linguagem familiar.

Denomina-se língua técnico-científica a língua que recorre a termos técnicos e/ou


científicos. De forma metodológica, vale espelhar uma possível distinção entre os elementos
compostos: A língua técnica está mais ligada à terminologia de ramos técnicos. A língua
científica recorre a palavras que se usam para designar conceitos puros, lógicos e operatórios ou
para permitir reflexões científicas.

A língua literária e poética é o registo linguístico empregado, sobretudo, na literatura.


Envolve figuras de estilo para criar ambientes emotivos e poéticos.

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

1.2. Linguagem: conceito, tipos de linguagem, funções da linguagem


A linguagem é um conjunto complexo de processos – resultado de uma certa actividade
psíquica profundamente determinada pela vida social que torna possível a aquisição e o emprego
concreto de uma língua qualquer. Podemos ainda afirmar que, a linguagem - é o uso sistemático
e convencional de sons, sinais ou símbolos escritos, que tornam factível o processo de
comunicação.

1.2.1. Tipos de linguagem


Há três tipos de linguagem: verbal, não-verbal e mista.
 Linguagem verbal: é a forma de se comunicar por intermédio da palavra (oral e/ou escrita).
Pela sua génese, a linguagem verbal - pode ser oral ou escrita.
Oral: ocorre através do diálogo em presença, do telefone, da rádio, da televisão, etc.
Escrita: ocorre através de livros, cartas, jornais, mensagens telefónicas etc.

 Linguagem não-verbal: é a forma de se comunicar sem o auxílio palavra (oral e/ou escrita).
Pode ser:
o Gestual: através de gestos (linguagem de mudos, piscar de olho, expressões corporais);
o Sonora: através de sons (buzina, sirene, toque de campainha);
o Simbólica: através de símbolos, numa relação metafórica (o coração representando o amor);
o Icónica: através de ícones, numa relação de semelhança.

 Mista: é a forma de se comunicar simultaneamente verbal e não-verbal (cartazes, banda


desenhada, etc.)
Nota: - A linguagem verbal tem um espaço privilegiado, é a mais usada e, permite uma interacção entre
os intervenientes da comunicação (emissor e receptor).

1.2.2. Funções da linguagem


A linguagem pode ganhar várias funções, tudo depende da finalidade comunicativa. Num
acto de comunicação (oral ou escrita) pode ser notável a presença de várias funções da linguagem,
entretanto, há sempre uma que predomina. Para o efeito, destacam-se as seguintes funções:

 Função referencial ou informativa (denotativa)


Na função referencial ou informativa - predomina a informação, ou seja, o emissor procura
basicamente informar. O exemplo recai para textos de jornais, livros científicos, didácticos…

 Função emotiva ou expressiva


Na função emotiva ou expressiva - predomina o aspecto afectivo do emissor, centra-se na
descrição e análise de estados emotivos e experiências individuais. É uma função predominante
em poemas ditos ou escritos na 1.ª pessoa (eu), nos diários pessoais, relatos de acontecimentos na
1.ª pessoa. Nesta função é notável o uso de sinais de pontuação como reticências e o ponto de
exclamação.
Ilustração:
- Que mal! Não contava com este final…
Não façam isso… como fica o meu nome?! A minha carreira! A minha família!

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

 Função apelativa
Na função apelativa da linguagem – o emissor pretende agir de algum modo sobre o
receptor, quer movê-lo a uma determinada acção. Esta função é marcada pela presença de vocativo,
de imperativo e de terminologia própria para motivar o receptor. É notória em discursos políticos,
avisos, publicidades, pedidos, preces religiosas, poemas ou narrativas em que predomina a 2.ª
pessoa (tu, vós).

 Função poética (conotativa)


Na função poética predomina o sentido conotativo das palavras, o que acontece
frequentemente nos textos literários. Caracteriza-se pelo uso das figuras de estilo por parte do
emissor. Entretanto, não é exclusividade dos textos literários, tem marcado presença na
publicidade ou nas expressões do dia-a-dia em que há o uso frequente de metáforas (provérbios,
anedotas, trocadilhos, músicas)
Ilustração:
- O que há de mais perfeito no porto é o perfeito Vinho do Porto. (slogan publicitário)

 Função fática
Na função fática da linguagem – o emissor e o receptor procuram verificar a funcionalidade
do canal da comunicação, se se mantém o contacto entre os dois participantes do acto
comunicativo.
Ilustração:
Breve diálogo
-- Bom dia, caro colega. Estiveste na aula passada?
-- Não. Houve novidades, meu caro?
-- Sim.
-- Podes fazer um breve resumo?
-- Com certeza.

 Função metalinguística
Na função metalinguística predomina a metalinguagem, o propósito do emissor é descrever
o código utilizando o próprio código. Dicionários, glossários, gramáticas – são alguns exemplos.
Esta função estende-se para as referências à linguagem verbal ou as explicações que o emissor dá
sobre o seu próprio discurso (por exemplo, isto é, quer dizer…).

1.3. A comunicação
Do ponto de vista linguístico - comunicar é transmitir, passar conhecimento, informação,
ordem, opinião ou mensagem a alguém.
A palavra comunicação vem do latim comunicativo, derivado de comunicare, cujo
significado seria “tornar comum”, como “partilhar”, “repartir”.
Comunicar implica participação, interacção, troca de mensagens e de informações.

1.3.1. Elementos da comunicação e sua esquematização


Os elementos da comunicação são: emissor, receptor, mensagem, código, canal, referente
ou contexto.
 Emissor: é o agente que transmite a mensagem (remetente - codificador). Esta mensagem pode
ser verbal (oral e/ou escrita), não-verbal ou mista;
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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

 Receptor: é o agente que recebe a mensagem e faz a sua descodificação (destinatário). O


receptor tem três fases: fono-morfossintáctica – ouvir a mensagem; morfossintáctica-
descodificar a mensagem; semântica – entender a mensagem;
 Mensagem: é a informação transmitida;
 Código: é o sistema linguístico escolhido para a transmissão e recepção da mensagem;
 Canal: meio pelo qual a mensagem é transmitida;
 Referente ou contexto: são as circunstâncias que envolvem a transmissão da mensagem, os
referentes e as respectivas referências (indivíduos, coisas ou ideias), o tempo (momento em
que a mensagem é transmitida) e o lugar (onde se transmite).

Esquematização da comunicação

1.3.2. Tipos de comunicação


A comunicação pode ser unilateral e bilateral.
Comunicação unilateral - de um emissor para um ou mais destinatários - não há
reciprocidade. Apresenta as seguintes subcategorias:
 Unilateral – directa – privada: exposição de um professor a um pequeno grupo;
 Unilateral – directa – pública: discurso político a uma multidão;
 Unilateral – indirecta – privada: carta enviada por uma pessoa a outra;
 Unilateral – indirecta – pública: comunicação de massa – imprensa, rádio, televisão, etc.

Comunicação bilateral – quando o emissor e o receptor alternam seus papéis. Apresenta


as seguintes subcategorias:
 Bilateral – directa – privada: conversação entre duas pessoas;
 Bilateral – directa – pública: mesa-redonda na Rádio, Televisão ou espaço público para discutir
qualquer tema;
 Bilateral – indirecta – privada: conversação telefónica entre duas pessoas;
 Bilateral – indirecta – pública: videoconferência de mais de duas pessoas.

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1.3.3. Interferências ou barreiras na comunicação e feedback


Barreiras na comunicação - é toda forma de interferência na mensagem, entre o emissor e
o receptor. Podem originar-se no canal, no emissor, no receptor ou no código, ou em dois ou três
elementos ao mesmo tempo.

 Principais barreiras na comunicação:


Barreia Abordagem Ilustração
Percepção selectiva O indivíduo tende a ignorar Um cristão devoto tende a interpretar
mensagens que colidem com a sua negativamente um budista.
perspectiva de vida.
Diferenças culturais Pessoas de diferentes culturas Um falante do Huambo tem formas típicas de se
interpretam distintamente as palavras dirigir a um adulto, o que pode contrariar
e a linguagem não-verbal. tendências de outras regiões.
Contexto temporal O momento que a mensagem é - O elogio é mais eficaz se realizado após o acto.
comunicada pode interferir nos seus
efeitos.
Interferência psicológica Agressividade, antipatia, aspereza, São autênticos condicionadores.
problemas psicológicos.
Erros redactoriais Escrever bem é um dos caminhos Uma redacção com má grafia e erros pode tornar
para a descodificação por parte do a mensagem imperceptível;
receptor.
Nível de escolaridade O nível académico gera diferenças de Um estudante da 6.ª num diálogo com alguém do
repertório lexical; 1.º ano da Faculdade, o resultado pode ser
inesperado.
Interferência física O estado físico do indivíduo exerce Um indivíduo com problemas visuais, sem
grande influência no processo de membros superiores (linguagem gestual), com
comunicação. problemas no aparelho fonador – tem grandes
probabilidades de fracassar na transmissão da
mensagem e consequente compreensão.

Feedback--acção de retorno da mensagem.

1.4. Discurso directo, discurso indirecto e discurso indirecto livre


 Discurso directo: é o modo de enunciação em que o narrador põe a personagem, real ou
fictícia, a falar.
Ilustração:
Texto A (frase modelo)
o Estes papéis que estão aqui são para tu passares à máquina ainda hoje.
Texto B
o A Isabel disse à colega: - Estes papéis que estão aqui são para tu passares à máquina ainda
hoje.
Em B, temos a retoma textual do enunciado A; a mensagem surge aí tal qual foi produzida
na sua situação específica, o que recebe o nome de reprodução directa ou discurso directo.
Nota - características do discurso directo
a) a fala dos interlocutores (ou das personagens) é visível;
b) geralmente faz uso de um verbo declarativo (dizer, indagar, responder, afirmar, perguntar, etc.);
c) é marcado pelo uso da pontuação: dois pontos, travessão, aspas ou mudança de linha.

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

 Discurso indirecto: é a técnica de enunciação em que o narrador relata os acontecimentos,


integra as falas dos personagens no seu próprio discurso.
Texto C
o A Isabel disse à colega que aqueles papéis que estavam ali eram para ela passar à máquina
ainda naquele dia.
Nesta ilustração, vimos que, não se retoma textualmente o enunciado A; pelo contrário, ele
é reorganizado, reestruturado de modo particular – o que recebe o nome de discurso indirecto.
Nota: características do discurso indirecto
a) a fala dos interlocutores (ou das personagens) não é visível, é informada pelo narrador.
b) também faz uso de um verbo declarativo (dizer, indagar, responder, afirmar, perguntar, etc.).
c) a fala do personagem aparece na 3ª pessoa do singular ou do plural

Conversão de discursos
Discurso directo Discurso indirecto
1. Pessoa (uso da) 1.ª ou 2.ª pessoa 3.ª pessoa
- presente - imperfeito
2. Enunciação - pretérito perfeito - pretérito mais-que-perfeito
de verbos - futuro do indicativo - condicional
- imperativo - conjuntivo
- futuro do conjuntivo - pretérito imperfeito do conjuntivo
3. Forma interrogativa - directa - indirecta
- de 1.ª pessoa (este, esta, - de 3.ª pessoa (aquele, aquela, aquilo,
4. Pronomes isto, meu, minha) ou de 2.ª dele, dela, seu, sua):
- determinantes (esse, essa, isso, teu, tua)
5. Mudança sintáctica - vocativo - complemento directo
6. Advérbios - aqui, cá, agora, já - ali, lá, então, logo
- hoje, ontem, amanhã - naquele dia, no dia anterior, no dia
seguinte

 Discurso indirecto livre: é um modo de enunciação em que o narrador integra características


do discurso directo e do discurso indirecto. Neste discurso, há aproximação do narrador e a
personagem, há impressão de que falam em uníssono.
Ilustração:
o Aqueles papéis que estavam ali eram para ela passar à máquina.
o João Fanhoso fechou os olhos, mal-humorado. A sola dos pés doía, doía. Calo miserável!
(Mário Palmério)
Nota: características do discurso indirecto livre
a) não há presença de verbos declarativos (dizer, indagar, responder, afirmar, perguntar, etc.).
b) não há presença de marcadores gráficos para indicar falas de personagens (dois pontos, travessão,
aspas, mudança de linha)
c) pressupõe duas condições: a absoluta liberdade sintáctica do escritor (factor gramatical) e a sua
completa adesão à vida da personagem (factor estético).

1.5. Epistemologia do texto


1.5.1. Denotação e conotação
A denotação consiste no significado normal, corrente, isto é, aquele que o uso consagrou.
Dito de outro modo, é o significado literal e estável de uma palavra ou expressão.

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

A conotação consiste nos valores especiais que são acrescentados ao significado corrente
de uma determinada palavra. Dito de outro modo, é o significado secundário associado a uma
palavra ou expressão que não corresponde ao seu sentido literal.
Ilustração: chave e quente
o Perdi a chave desta gaveta. (sentido próprio/denotativo)
o O café deve ser servido quente. (sentido próprio/denotativo)
o Encontrei a chave deste problema. (sentido figurado/conotativo)
o Conquistou-me o seu olhar quente. (sentido figurado/conotativo)

1.5.2. Texto literário e texto não literário


O texto literário é subjectivo, conotativo e plurissignificativo, tem como intenção
acrescentar valores semânticos ligados a expressões da língua, enriquecendo-a de sentidos
figurados, desviando-se da norma. Relaciona-se com a imaginação.
O texto não literário utiliza a língua de acordo com a norma – é denotativo, objectivo, isto
é, relaciona-se com a realidade.
Dá maior importância ao conteúdo, predominando a função informativa, busca a clareza.

Estrutura do texto literário: lírico, narrativo, dramático


 Texto lírico: é o que, artisticamente, permite exprimir as emoções, os sentimentos e
pensamentos íntimos que nascem ou se apresentam ao espírito, ou seja, ao mundo interior do
eu”

 Texto Narrativo: é o que relata acontecimentos ou situações (a chamada acção). No mesmo


diapasão, um narrador, explícito ou não, descreve esses eventos, que são originados ou sofridos
por personagens. As categorias fundamentais da narrativa são: acção, personagens, espaço,
tempo e narrador.

 Texto Dramático: é todo aquele que tem como objectivo ser representado. Apresenta a acção
ou um acontecimento de um modo vivo, movimentando personagens que monologam ou
dialogam, actuando num cenário.

Textos não literários: descritivo, argumentativo, expositivo, dialogal, instrutivo


 Texto descritivo: é uma tipologia textual em que o autor apresenta características de
fenómenos, pessoas, animais, objectos, espaços, etc.

 Texto argumentativo: é uma tipologia textual que tem como objectivo convencer alguém de
uma determinada ideia ou refutar uma opinião alheia. Apresenta a seguinte sequência:
a) Introdução: situação da ideia (tese) a ser defendida.
b) Desenvolvimento: apresentação de argumentos de razão que se destinam a apoiar ou
refutar a tese inicial. Devem ser devidamente fundamentados por meio de comparações,
citações, alusão histórica, dentre outras estratégias argumentativas.
c) Conclusão: reafirmação da tese que se procurou provar com a exposição de argumentos.
Exemplos: sermão, debate, etc.
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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

 Texto expositivo: é uma tipologia textual que tem como objectivo expor conceitos,
desenvolver, explicar um assunto ou uma determinada situação. Tem a seguinte constituição:
a) Apresentação do problema – apresentação do facto que vai ser explicado.
b) Questionamento – corresponde a uma pergunta (explícita ou implícita)
c) Explicação ou resposta à questão.
d) Conclusão – síntese das ideias principais.
Exemplos: artigos científicos, textos de manuais escolares, conferências, etc.

 Texto dialogal / conversacional: é uma tipologia textual caracterizada pelo diálogo entre os
interlocutores. Exemplos: entrevista, conversa telefónica, etc.

 Texto instrucional: é uma tipologia textual utilizada com fins de orientar o interlocutor para
que este execute algo.
Exemplos: manual de instrução, regras de um jogo, receita culinária, etc.

1.5.3. Alguns textos utilitários: aviso, correio electrónico, circular, edital, ofício, contrato
 Aviso: texto utilizado para manter a comunicação social institucional.
 Correio electrónico: texto curto e objectivo com ou sem anexo.
 Circular: é um documento noticioso remetido a diferentes pessoas, órgãos ou entidades.
Destina-se a ordenar, avisar ou instruir.
 Edital: é uma tipologia textual que tem a finalidade de convocar, avisar ou informar. Pode ser
dividido em: edital de concorrência; edital de concurso; edital de convocação; edital de
leilão.
 Ofício: é um documento expedido entre os órgãos de serviços públicos.

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

TEMA 2: FONÉTICA E FONOLOGIA

2.1. Conceitos operatórios: fonética e fonologia


Fonética: é o campo da linguística que estuda as características físicas, articulatórias,
acústicas e perceptivas da produção, propagação e percepção dos sons da fala, fornecendo métodos
para a sua descrição e classificação.
A fonética pode ser estudada em duas perspectivas:
o Uma fonética diacrónica (evolutiva) – fonética histórica.
o Uma fonética sincrónica (estática) – fonética descritiva.
A fonética histórica tem por objectivo a descrição e a explicação da evolução dos sons
(alterações fonéticas) no decorrer dos tempos.
A fonética descritiva ocupa-se do estudo dos sons numa determinada época.
A fonética divide-se em três grandes ramos: fonética articulatória, fonética acústica e
fonética perceptiva.
 Fonética articulatória: estudo da produção dos sons pelos órgãos de fala (aparelho fonador);
 Fonética acústica: estudo da estrutura física dos sons, da onda sonora;
 Fonética perceptiva: estudo da recepção e integração dos sons pelos órgãos da audição e
diferentes zonas cerebrais.
Fonologia: é a disciplina da linguística que estuda os sistemas sonoros das línguas. Num
outro prisma visual, a fonologia - é considerada como a parte da gramática que trata dos sons
produzidos pelo ser humano para a comunicação, em relação a determinada língua.
Segundo o dicionário terminológico da Língua Portuguesa, da variedade de sons que o
aparelho vocal humano pode produzir só um número relativamente pequeno é usado
distintivamente em cada língua. Os sons estão organizados num sistema de contrastes, analisados
em função de diferentes constituintes fonológicos, como, por exemplo, o fonema ou a sílaba.

2.2. Fonema e Grafema


- Fonema: é o som da fala que estabelece distinção de significado entre as palavras de uma
língua. É a unidade mínima sonora e distintiva de uma palavra.
Ilustração: sua e tua. Os elementos distintivos são os fonemas /se/ e /te/.
Nota: - Os fonemas devem ser graficamente expressos entre barras: /me/, /te/, etc.

- Grafema ou letra: é a representação gráfica de um som.


Ilustração:
Grafema/letra Fonema/som
M – eme /me/
J – jota /je/
K – kapa /ke/

Nota: - Um facto a ter em conta é, justamente, a compreensão de que nem sempre o número de grafemas
corresponde ao número de fonemas. Por exemplo, a palavra táxi tem 4 grafemas e 5 fonemas.
t, a, x, i. = 4 grafemas
/te/, /a/, /ke/, /se/, /i/ = 5 fonemas

2.2.1. Fonemas vocálicos e consonantais


Tal como o título espelha, os fonemas - podem ser vocálicos e consonantais.
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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

 Fonemas vocálicos: são os sons resultantes da emissão de ar que passa livremente pela
cavidade bucal. São eles: A, E, I, O, U. Na mesma senda, dividem-se em dois grupos: vogais
e semivogais.

 Vogal: é o som produzido sem uma obstrução do tracto vocal. É a base da sílaba. Em
português, as vogais são classificadas da seguinte forma:
a) quanto à zona de articulação c) quanto à intensidade
– anteriores: ê, é, i (reis, réis, riso) – tónicas: (saco)
– média ou central: a – átonas: (sacar)
– posteriores: ó, ô, u (moro, morro, muro)
b) quanto ao timbre d) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal
– abertas: a, é, ó – orais: a, e, i, o, u
– fechadas: ê, ô –nasais: (como em santa, lendo, mim, ouça, funda)
– reduzidas: a, e, o

 Semivogal: é o som produzido com características articulatórias e acústicas semelhantes às


das vogais e que ocorre junto de uma vogal formando com ela um ditongo. Desta feita, os
grafemas I e U, quando acompanham uma outra vogal numa mesma sílaba, são as semivogais.
Os grafemas E e O também serão semivogais quando forem átonos, acompanhando outra
vogal.
Nota: - A semivogal é fraca, se comparada à vogal.

Ilustração:
Pai tou –ro Mãe
/a/ é vogal /o/ é vogal /a/ é vogal
/i/ é semivogal
Mau /u/ é semivogal /e/ é semivogal
a/ é vogal pão cá -rie
/u/ é semivogal /a/ é vogal /i/ é semivogal
/o/ é semivogal /e/ é vogal

 Fonema consonantal: é o som produzido com uma obstrução ou estreitamento do tracto vocal
em que a passagem do ar é total ou parcialmente bloqueada.
De forma mais clara, vale ressaltar que, os fonemas consonantais são os ruídos
ocasionados pela obstrução da passagem de ar pelo aparelho fonador (língua, dentes, lábios etc.).
De acordo com os novos pressupostos ortográficos, os fonemas consonantais – são: B, C, D, F, G,
H, J, K, L, M, N, P, Q, R, S, T, V, W, X, Y, Z.

2.2.2. Encontros vocálicos


Encontro vocálico: é a união de dois ou mais fonemas vocálicos em uma única sílaba.
Este processo de união pode aparecer das seguintes formas: ditongo, tritongo e hiato.
 Ditongo: ocorre quando juntamos dois sons vocálicos numa única sílaba: ca-iu; viu; tou-ro;
den -tais.
Os ditongos são classificados de acordo com a sua formação e a sua pronúncia.
1.º De acordo com a formação, o ditongo pode ser:

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a) Crescente: formado por semivogal + vogal: história, qual, quadro, cemitério.


b) Decrescente: formado por vogal + semivogal: touro, coisa, muito, peixe.
2.º De acordo com a pronúncia, o ditongo pode ser:
a) Oral: quando o som sai completamente pela boca: história, dentais.
b) Nasal: quando o som sai pelo nariz: pão, mãe, também, cantaram.
Nota: - AM e EM, em final de palavras, representam ditongos decrescentes nasais. Perceba que os sons
que ouvimos são: /tã -bei/ e /cã -ta -rau/.

 Tritongo: formado por semivogal + vogal + semivogal numa única sílaba: iguais; quão;
Paraguai. O tritongo se classifica, quanto à pronúncia, como:
a) Oral: quando o som sai apenas pela boca: iguais.
b) Nasal: quando o som sai pelo nariz: quão.

 Hiato: ocorre quando colocamos, simultaneamente, em uma palavra duas vogais, que
pertencem a sílabas diferentes: sa -í -da; co -o -pe -rar; sa-ú-de.

2.2.3. Encontros consonantais


 Encontro consonantal: é o encontro entre consoantes dentro da palavra sem vogal
intermediária. Podemos considerar três tipos de encontros consonantais:
a) Encontro consonantal perfeito: agrupamento de consoantes pertencentes a uma mesma
sílaba, como bl, br, cl, cr, dr, fl, fr, gl, gr, pl, pr, tl, tr, vr.
Exemplos: pro -ble-ma; psi -co -lo -gi -a; pe -dra.
b) Encontro consonantal imperfeito: agrupamentos consonantais, mas cujas consoantes
pertencem a sílabas diferentes, como gn, rf, rt, st, pt, ct. Exemplos: dig -no; per -fei -to; ar-tis
–ta,ap-to; as-pec-to.
c) Encontro consonantal fonético: quando uma consoante tem realização equivalente a duas
consoantes distintas, como sucede com o X, que, em diversos casos, se pronuncia (ks): a-xi-
la; a-ne-xo; etc.
Nota: - Repare que nos encontros consonantais, apesar de as consoantes aparecerem lado a lado, cada
uma conserva o seu som próprio, característico.

2.3. Dígrafo
 Dígrafo: é o encontro de duas consoantes que representam um único fonema: passo (paço),
chá (xá), manhã, palha. Há dígrafos para representar consoantes e vogais nasais.
Para consoantes Para vogais nasais
Separáveis Inseparáveis am ou an: campo, canto
rr: carro ch: chá em ou en: tempo, vento
ss: passo lh: malha im ou in: limbo, lindo
sc: nascer nh: banha om ou on: ombro, onda
sç: nasça qu: quero um ou un: tumba, tunda
xc: excepto gu: guerra
xs: exsudar Obs.: todos inseparáveis

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2.4. A sílaba / divisão silábica


Sílaba é a junção de fonemas numa única emissão de ar. Cada vez que se expele o ar do
pulmão passando pelo aparelho fonador, temos uma sílaba.
A base da sílaba em Língua Portuguesa é sempre uma vogal; portanto, não existe sílaba
sem vogal.
De acordo com o número de sílabas, a palavra será classificada como:
a) Monossílaba — uma única sílaba: chá, pé;
b) Dissílaba — duas sílabas: café, sofá, digna;
c) Trissílaba — três sílabas: socorro, agora, cónego;
d) Polissílaba — quatro ou mais sílabas: limonada.
A divisão silábica é feita pela soletração. Basta pronunciar com calma a palavra para
sabermos quantas sílabas ela contém. Há algumas regras que facilitam a separação de sílabas:

1.ª Separam-se:
a) hiato: sa -í -da, ba -la -ús -tre;
b) encontro consonantal imperfeito: dig -no, ca -rac -te -rís -ti -ca;
c) dígrafos RR, SS, SC, SÇ, XC, XS: car-ro, as-sa-do, des-cer, des-ço.
d) Ditongo decrescente + vogal: separam-se grupos formados por ditongo decrescente + vogal
(aia, eia, oia, uia, aie, eie, oie, uie, aio, eio, oio, uio, uiu).
Exemplos: prai–a, tei–a, joi–a, sa-bo-rei–e, es-tei–o, ar-roi–o, etc.
Nota: - Evitar confusão com tritongo, pois que, é o encontro de uma semivogal com uma vogal e outra
semivogal (SV+V+SV). Nessas palavras, a formação é feita com vogal (a, e, o) + semivogal (i,u) + uma
outra vogal (a,e,o). A formação do tritongo é diferente, sendo semivogal + vogal + semivogal: Paraguai
(“u” e “i” são semivogais e “a” é vogal).

2.ª Não se separam:


a) ditongo: cá -rie, á -gua;
b) tritongo: i -guais, quão, Pa-ra-guai;
c) encontro consonantal perfeito: pro -va, clas -se;
d) dígrafos CH, LH, NH, GU, QU, AM, EM, IM, OM, UM, AN, EN, IN, ON, UN:
cha-lei-ra, te-lha, vi-nho, guer-ra, que-ro, âm-bar, Em-bu, im-pa-la, om-bro.

2.5. Translineação
Na translineação (partição das palavras em fim de linha), além das normas estabelecidas
para a divisão silábica, seguir-se-ão os seguintes critérios:
 Dissílabos como aí, saí, rua, ódio, unha, etc. - não devem ser partidos, para que uma letra não
fique isolada no fim ou no início da linha;
 Na partição de palavras de mais de duas sílabas, não se isola sílaba de uma só vogal: agos-to
(e não a-gosto), La-goa (e não lago-a), ida-de (e não i-dade);
 Na partição de compostos hifenizados, ao translinear, repetir-se-á o hífen (se a partição
coincidir com o final de um dos elementos do vocábulo composto). Ex.: saca-/-rolhas;
 Não se deve, em final ou início de linha, quando a separação resultar na formação de palavras
estranhas ao contexto. Ex.: presi-/-dente.

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

2.6. Acentuação
2.6.1. Acento tónico
Por um lado, em cada palavra existe uma sílaba que é pronunciada com maior intensidade
que as restantes – é a chamada sílaba tónica. A vogal da sílaba tónica recebe o acento tónico –
(automóvel, café, cadeira, nunca, órfão, irmão, sátira, lúbrico, êxtase, tabu, má).
Por outro lado, existem elementos átonos, isto é, que não têm acentuação própria,
pronunciados com menor intensidade (elementos sem negrito dos exemplos anteriores).
Notas:
1. Não pode confundir-se acento tónico com acento gráfico porque, embora coincidam muitas vezes,
nem sempre isso acontece:
2. Existem palavras que não têm acento gráfico, mas não deixam de possuir acento tónico: alto, tabu,
cadeira.
3. É raro, mas existem palavras que o acento gráfico não corresponde à sílaba tónica: àquele, àqueloutro.

2.6.2. Classificação das palavras quanto ao lugar ocupado pelo acento tónico
 Agudas ou oxítonas: quando o acento recai na última sílaba – café, irmão, tabu, má.
 Graves ou paroxítonas: quando o acento recai na penúltima sílaba – automóvel, cadeira,
nunca, órfão.
 Esdrúxulas ou proparoxítonas: quando o acento recai na antepenúltima sílaba – sátira,
lúbrico, êxtase.

2.6.3 Acentos gráficos e sinais gráficos auxiliares


A acentuação gráfica é, de forma sucinta, o acto ou efeito, modo ou método de acentuar na
escrita ou na fala. A acentuação tem como realce a identificação da pronúncia correcta das palavras
e a natureza das sílabas (tónicas e átonas).
O processo de acentuação é feito com o auxílio dos acentos gráficos e sinais gráficos
auxiliares:
Acentos gráficos Sinais gráficos auxiliares
Acento agudo (´): indica que a sílaba é tónica e que Til (~): indica a nasalação – mãe, põe. Nem
a vogal deve ser pronunciada de forma aberta -- sempre indica a tonicidade da sílaba, como
(café, máquina); em: órgão, órfão, bênção;

Acento grave (`): indica que há crase (a+a=à). Como Trema (¨): usado em substantivos próprios
ilustram as palavras à, àquele, àquela, àquilo; estrangeiros e palavras derivadas destes,
como em: Müller, mülleriano;
Acento circunflexo (^): indica que a sílaba é tónica
e que a vogal deve ser pronunciada de forma fechada Apóstrofo (''): indica a supressão de
ou nasalada.--- estômago, lâmpada, pêssego. fonemas em palavras, como em: Sant’Ana.

2.7. Regras de acentuação


2.7.1. Acentuação das palavras agudas ou oxítonas e monossílabas
1. Recebem acento “agudo” as palavras oxítonas e monossílabas tónicas terminadas em a, e, o
abertos, e acento circunflexo as palavras que terminam em e, o fechados, seguidas ou não de s
– sofá, café, pó, fé / avô, você, lê, pôr.
Notas:
1. Incluem-se nesta regra as formas verbais em que depois de a e o se assimilaram o r, o s, ou z ao l do
pronome (lo, la, los, las): contá-la, fá-lo-ei, fê-los, pô-los.
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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

2. As palavras monossílabas átonas não são acentuadas, não possuem autonomia fonética e semântica.
Não apresentam um significado fora de um contexto frásico. Podem ser: artigos definidos e indefinidos,
pronomes oblíquos átonos, preposições, conjunções e pronomes relativos.
Exemplos: O carro é do rapaz. /Gosto de Filosofia / A Maria e o André fazem um belo casal.

2. Nos ditongos abertos ei, oi, eu: anéis, herói, céu.


3. Nas vogais i e u que não formam ditongos: aí, país, baú.
4. Nas palavras terminadas no ditongo nasal em ou ens: alguém, também, armazéns.

2.7.2. Acentuação das palavras graves ou paroxítonas


Acentuam-se apenas quando a falta de acento pode causar erro ou dificuldade de pronúncia.
Destacam-se os seguintes casos:
1. Quando as palavras agudas ou paroxítonas terminam em i ou u, com ou sem s: júri(s), lápis,
Vénus, ânus.
2. Quando terminam em l, n, r, x e ps: fácil, íman, açúcar, tórax, bíceps.
3. Quando terminam nas vogais nasais e ditongos nasais ã(s), ão(s), um, uns: órfã(s), órgão(s),
álbum, álbuns.
4. Quando contêm o ditongo tónico aberto oi , paranóia, jóia, heróico.
5. Quando possuem um i ou u tónico precedido de vogal com que não forma ditongo: cafeína,
juízes, miúdo.
Notas: - Existem casos em que o acento é dispensável:
o Quando esse i ou u é precedido de ditongo: baiuca, bocaiuva.
o Em sílaba terminada por m, n ou r, ou quando se segue nh: Coimbra, ainda, rainha.
o Quando o i tónico é precedido de gu ou qu: linguista, aquista.
o Quando o u tónico é precedido de i e seguido de outra consoante: semiusto

6. Quando é a 1ª. pessoa do plural do pretérito simples do indicativo dos verbos de tema em
a, para distinguir de igual pessoa do presente do indicativo:
o Amámos (pretérito perfeito) --------------------------- amamos (presente)
o Ficámos (pretérito perfeito) ---------------------------- ficamos (presente)

2.7.3. Acentuação das palavras esdrúxulas ou proparoxítonas


As palavras esdrúxulas ou proparoxítonas são sempre acentuadas: cátedra, molécula,
horóscopo, sátira, lúbrico, êxtase…

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TEMA 3: RECOMENDAÇÕES ORTOGRÁFICAS

Ortografia: a palavra ortografia é formada pelos elementos de origem grega ortho (s), que
quer dizer correcto (a), e grafia, que quer dizer escrita, e significa forma correcta de escrever as
palavras.
O referencial teórico em volta do assunto é vasto, entretanto, o nosso foco serão os
principais fenómenos que, na nossa humilde visão, traduzem as principais dificuldades da classe
académica. Desta feita, far-se-á uma incursão sobre os seguintes aspectos:

3.1. Principais dificuldades ortográficas


A tónica deste capítulo recai para o estudo de palavras que, pela sua natureza de
aplicabilidade, causam algumas dúvidas e, consequente, o atiçar de um conjunto de dificuldades.

a) A – OU HÁ?
Quando usar?
Usa-se o A na descrição de algo por acontecer, indica uma acção futura:
o Daqui a pouco vai chover.
o Chegarei daqui a dez dias.
Usa-se o HÁ na descrição de algo que já aconteceu, indica uma acção passada:
o Chegamos há 30 minutos.
o Terminei o ensino médio há 3 anos.

b) ACERCA DE, HÁ CERCA DE OU A CERCA DE?


Usa-se a expressão ACERCA DE para substituir “A RESPEITO DE”, “RELATIVAMENTE
A”, “QUANTO A” E “SOBRE”:
o O professor falou acerca de uma obra literária angolana.
o Falamos acerca da covid-19 em Angola.
Usa-se HÁ CERCA DE para substituir a expressão “FAZ APROXIMADAMENTE”, indica
tempo transacto:
o Falo inglês há cerca de um ano.
o Sou casado há cerca de 4 anos.
Usa-se A CERCA DE para substituir as expressões “APROXIMADAMENTE” ou “MAIS OU
MENOS”:
o Cerca de 10 crianças foram elogiadas pelo professor de Língua Portuguesa;
o Estamos a cerca de 200 metros da Escola Superior Pedagógica do Bengo.

c) AO ENCONTRE DE OU DE ENCONTRO A?
Usa-se AO ENCONTRE DE para significar “estar de acordo com”, em direcção a, favorável
a, para junto de:
o Vou ao encontro do meu amor.
o Vamos ao encontro de referências bibliográficas paro o êxito do nosso trabalho investigativo.
Usa-se DE ENCONTRO A para significar “contra”, “em oposição a”, “para chocar-se com”:
o A decisão tomada pela Direcção da Escola foi de encontro às reivindicações da Associação de
Estudantes.

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

o A posição do docente foi de encontro às expectativas dos discentes.

d) AFIM OU A FIM?
Afim é um adjectivo que significa “igual”, “semelhante”:
o A Ana e a Maria têm comportamentos afins.
o Gosto de ler artigos do Isata e do Isidro, têm ideias afins.
A fim faz parte da locução “a fim de” que significa “para”, “com o propósito”, “com o
intuito” e indica finalidade:
o Apresentou algumas teorias a fim de provar a sua inteligência.
o Investiu nos livros a fim de adquirir mais conhecimentos.

e) AO INVÉS DE OU EM VEZ DE?


Ao invés indica oposição, ideia contrária:
o Subiu, ao invés de descer.
o Chorou, ao invés de sorrir.
Em vez de é uma expressão usada com o significado de “em lugar de”, entretanto, pode
significar “ao contrário de”, o mesmo que “ao invés de”:
o Teremos aulas de Introdução à Psicologia em vez de Língua Portuguesa.
o O professor, em vez de diminuir a minha nota, aumentou-a.

f) AO NÍVEL DE, EM NÍVEL DE OU A NÍVEL DE?


Ao nível de significa à mesma altura, no nível de:
o A mentira está ao nível da inveja, são duas atitudes horríveis.
o A cidade fica ao nível do mar.
Em nível de significa no âmbito de, em termos de:
o A cerimónia será em nível da província.
o A decisão foi em nível de primeira instância.
A expressão a nível de tem sido muito usada na comunicação diária, entretanto, tem sido
muito criticada pelos gramaticistas. Expressões como: A nível nacional; a nível institucional, são
comuns, mas não são gramaticalmente aceites. Há uma luta conjuntural entre descritivistas e
prescritivistas.

g) AONDE OU ONDE?
Aonde indica movimento, é usado com verbo proporcional a esta realidade (ir, voltar, chegar,
etc.):
o Aonde vamos?
o Ainda não sei aonde iremos.
o Aonde vamos?
Nota: - Aonde pode ser substituído por: para onde, para que lugar, a que lugar.
Onde indica permanência, usado com verbo que não indica movimento (estar, ficar, ser,
morar, etc.):
o Onde está o exercício deixado na aula transacta?
o Onde fica a Secretaria da Instituição?
o Onde mora o colega António?
Nota: - Onde pode ser substituído por: em que lugar, em qual lugar, em que parte.
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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

h) A PRINCÍPIO OU EM PRINCÍPIO?
A princípio significa no começo, inicialmente:
o A princípio faremos uma leitura individual.
o A princípio, nutria uma certa simpatia pela psicologia, mas passei a gostar da neurociência.
o A princípio, o jogo estava morto, mas depois ganhou ritmo.
Em princípio significa em tese, de um modo geral, teoricamente:
o Em princípio, todos os alunos passarão por um exame.
o Em princípio, vocês serão óptimos profissionais.
o Em princípio, todos devem ser considerados inocentes

i) EM FACE DE OU FACE A?
EM FACE DE é uma locução pode substituir as expressões: devido a, em virtude de, por
causa de, etc.:
o Em face do que foi dito, denota-se a inoperância dos serviços administrativos.
o Em face do índice de desemprego, o Governo criou políticas alternativas.
FACE A: é uma expressão que existe na comunicação coloquial, entretanto, reprovada
pelos gramáticos, é considerada errada. Recomenda-se a utilização de em face de.

j) MAIS, MAS OU MÁS?


Mais – advérbio de intensidade: k) MAL OU MAU?
o Todos precisam de mais confiança. Mal opõe-se ao bem:
o É mais fácil criticar, o difícil é ajudar. o O aluno lê mal.
Mas – conjunção adversativa: o O professor fala mal.
o O aluno leu muito bem, mas não convenceu Mau opõe-se ao bom:
o professor. o Ele é um mau companheiro.
o Tentou fugir, mas não conseguiu. o Ele é um mau exemplo para os jovens.
Más – adjectivo, antónimo de boas:
o Nunca tive más intenções.

l) POR QUE, PORQUE, POR QUÊ OU PORQUÊ?


O uso dos porquês tem sido um “calcanhar de Aquiles”, neste quesito, vamos definir cada
elemento e apresentar alguns exemplos:
Por que: tem pendor interrogativo (questões directas – início da frase; questões indirectas
– meio da frase). Funciona também como pronome relativo:
o Por que não amar de verdade?
o Não sei o motivo por que a verticalidade atrai inimigos.
Porque: utiliza-se em respostas. Exerce a função de uma conjunção subordinativa causal ou
coordenativa explicativa:
o Não comprei o livro porque não tinha dinheiro.
o Eu não fui à escola porque estava doente.
Por quê: tem pendor interrogativo (questões directas – fim da frase; questões isoladas:
o O delegado não apareceu por quê?
o Querem fazer a prova hoje? Por quê?

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

Porquê: tem pendor de substantivo. Indica o motivo, a razão. Aparece precedido de (artigo,
pronome ou numeral):
o Não ficou claro o porquê de tanto barulho na aula passada.
o Este porquê não me convenceu.
o Preciso de um porquê para validar a vossa prova.

m) SE NÃO OU SENÃO?
Se não – se é a conjunção subordinativa condicional, não é advérbio. Classe sinonímica:
caso não.
Senão – é conjunção coordenativa adversativa. Significa caso contrário, a não ser ou
mas. Exemplos (para os dois casos):
o Se não fosse o parecer do Montalvo, estaria numa posição desfavorável.
o Não farei outra coisa hoje senão ler novos apontamentos.

n) TÃO POUCO OU TAMPOUCO?


Tão pouco – significa muito pouco:
o Tenho tão pouco dinheiro para investir na minha carreira académica.
o Tenho tão pouco tempo para futilidades.
Tampouco – advérbio e significa também não, nem:
o Não quero aprofundar o diálogo com a Ana, tampouco com a Leontina.
o A Ana não foi à escola, tão pouco ao curso de culinária.

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

TEMA 4: A CRASE

Por definição, crase – é a fusão ou união da preposição “a” e o artigo ou pronome


demonstrativo “a”, graficamente expressa por (à). O acento grave (`) serve de símbolo da crase ou
contracção.
Esquematização de fusões

a+a=à
a (s) [artigo] a + as = às
pronomes demonstrativos a + aquele(s) = àquele(s)
a [preposição] + [ [ aquele(s), aquela(s), a + aquela(s) = àquela(s)
aquilo] a + aquilo = àquilo
pronomes relativos a + a qual = à qual
[ a qual / as quais ] a + as quais = às quais

Nota: - A crase é resultante da preposição “a” mais a inicial “a”. Este fenómeno ocorre se o
que é dito anteriormente exige preposição “a”

4.1. Uso da crase: regra geral


Como regra geral, a crase - é usada sempre que:
a) o termo antecedente exija a preposição a.
b) o termo consequente aceite o artigo a.
Exemplo:
o Fui à cidade. (a + a = preposição + artigo e substantivo feminino)
O que não ocorre nos seguintes casos:
o Conheço a cidade. (verbo transitivo directo – não exige preposição / + artigo e substantivo
feminino).
o Vou a Benguela. (verbo que exige preposição a / preposição / palavra que não aceita artigo).

4.2. A crase e os pronomes demonstrativos: aquele(s), aquela(s) e aquilo


Regra: se na substituição dos pronomes mencionados por este(s), esta(s) ou isto aparecer o
a antes deles, haverá crase:
o Refiro-me àquele rapaz. (Refiro-me a este rapaz)
o Peça o livro àquela aluna. (Peça o livro a esta aluna)
o Recebi aquele livro. (Recebi este livro)

4.3. Crase e os pronomes relativos: a qual / as quais


Regra: haverá crase se o verbo da oração exigir a preposição a:
o Aquela é a professora, à qual me referia. (Eu me referia a (algo) + a professora)
o A Isabel ouvia as ordens da mãe, às quais sempre desobedecia. (A Isabel desobedecia a (algo)
+ as ordens)

4.4. Crase e as locuções femininas


Prepositivas – à busca de, à custa de, à semelhança de, à espera de, junto a, etc.:
o Eu continuarei à espera de uma resposta favorável.
o A casa era sempre escura, sem janelas, à semelhança de prisões.
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Nota: - De modo geral, as locuções prepositivas femininas que terminam na preposição a, quando
seguidas de palavras femininas que puderem vir acompanhadas de determinantes, exigem o acento grave
indicativo da crase. Exemplo:
o Graças à dedicação do grupo, o trabalho foi terminado.

Adverbiais – à direita, à esquerda, à tarde, à noite, à toa, às pressas, às vezes etc.:


o À tarde ela estuda, mas à noite ela trabalha.
o Acabei de vestir-me às pressas.
Conjuntivas – à proporção que, à medida que:
o A ansiedade aumentava, à proporção que se aproximava o dia do exame.
o À medida que ele ganhava poder, a relação com os colegas declinava.

4.5. Crase antes de topónimos


Regra: troque o destino pela procedência – se aparecer a preposição da = ocorrência da
crase; se aparecer a preposição de = proibição da crase):
o Vou à Caála. (venho da Caála = com crase)
o Vou a Luanda. (venho de Luanda = sem crase)

4.6. Crase e as expressões indicativas de horas


A crase é obrigatória na indicação exacta de horas:
o A prova será às 10 horas.
o A cerimónia começará às 20 horas.
Notas:
• Tempo passado: emprega-se o verbo haver - (terminei a prova há 1 hora = faz 1 hora).
• Tempo futuro: emprega-se “a” – (a consulta será daqui a dois dias)

4.7. Casos especiais


4.7.1. Crase antes das palavras “terra”, “casa” e “distância”
Terra - regra: a palavra terra, no sentido de chão firme, tomada em oposição a mar ou ar,
se não vier determinada, não aceita o artigo e não ocorre a crase. Se, entretanto, vier determinada,
aceita o artigo e ocorre a crase:
o Já chegaram a terra. (sem crase)
o O navio retornou a terra para reparos no casco. (sem crase)
o Já chegaram à terra dos antepassados. (com crase)
o Os astronautas retornaram à Terra após missão na Lua. (com crase)

Casa e distância – regra: apenas quando essas palavras vierem especificadas (definidas):
o Volte a casa cedo. (sem crase)
o Volte à casa dos seus pais. (com crase)
o Minha casa fica à distância de 400 metros daqui. (com crase)
o Permaneçam à distância de 2 metros uns aos outros. (com crase)
o Meu pai trabalha a distância. (sem crase)
o Vi o colega a distância. (sem crase)

4.7.2. Crase e a expressão “à moda” “implícita”


Regra: apenas quando a expressão à moda (de) estiver subentendida:
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o Vestiu-se à Fredy Costa. (à moda de Fredy Costa)


o Fez um triplo à Miguel Lutonda. (à moda de Miguel Lutonda)

4.8. Proibição do uso da crase


• Antes de nomes masculinos: - Andou a passo de camaleão. (sem crase)
• Antes de verbos (infinitivo): - Estou a escrever/vestir/comer. (sem crase)
• Antes de a (singular) + palavra no plural: O ministro se referiu a universidades. (sem crase)
• Antes do artigo indefinido “uma”: - A escolarização obedece a uma hierarquia. (sem crase)
• Antes de pronomes de tratamento:
o Venho oferecer a Vossa Excelência os meus préstimos. (sem crase)
o Queria dizer a verdade a você. (sem crase)
Nota: - A crase pode ocorrer com os seguintes pronomes de tratamento: senhora, senhorita e dona.
Exemplo: - Dirijo-me à senhora. (com crase)

• Antes dos pronomes em geral: - Eu me referi a esta menina.


• Com as expressões formadas de palavras repetidas:
o Venceu de ponta a ponta.
o Tinha-o cara a cara.
 Antes de que, quem e cujo.
 Antes de numerais cardinais: - Vamos contar de 1 a 20.
Temos três casos excepcionais:
1. Indicação de horas:
o A nossa aula começa às 8 horas.
2. Quando houver subentendido diante do numeral, um substantivo feminino definido, que
não se repete por questão de estilo.
o Li da página 1 à 10 (da página 1 à página 10)
3. Quando houver explicitamente junto ao numeral um substantivo feminino determinado
(do qual o numeral é apenas um dos determinativos):
o Dirigiu-se à duas crianças abandonadas.

4.9. Casos facultativos


• Antes de nomes próprios femininos: - Entreguei o livro a/à Jandira
• Antes de pronomes possessivos femininos: - Venho pedir-lhe um auxílio a/à nossa escola.
 Depois da preposição “até”: - Fui até a/à praça. / A aula de Português vai até as/às 10 horas.

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TEMA 5: USO DA VÍRGULA

Vírgula (,)
A vírgula (,) marca uma pausa de pequena duração. Emprega-se não só para separar
elementos de uma oração, mas também orações de um só período.
No interior da oração serve:
1.º Para separar elementos que exercem a mesma função sintáctica (sujeito composto,
complementos, adjuntos), quando não vêm unidos pelas conjunções e, ou e nem:
o Nós vivemos num canto da colónia, longe de tudo, sem recursos, sozinhos. (Castro
Soromenho)
Nota: - Quando as conjunções e, ou e nem vêm repetidas numa enumeração, costuma-se separar por
virgula os elementos coordenados, como neste exemplo:
º Nem eu, nem tu, nem ela, nem qualquer outra pessoa desta história poderia responder mais. (Machado
de Assis)

2.º Para separar elementos que exercem funções sintácticas diversas, geralmente com a finalidade
de realçá-los. Em particular, a vírgula é usada:
a) para isolar o aposto, ou qualquer elemento de valor meramente explicativo:
o Conheço, sim, o cansaço do nosso corpo. (José Tenreiro)
b) para isolar o vocativo:
o Como está, ilustre professor?
c) para isolar os elementos repetidos:
o Só minha, minha, minha, eu quero!... (Luandino Vieira)
d) para isolar o adjunto adverbial antecipado:
o Fora, a ave agitou-se medonhamente. (Óscar Ribas)

3.° Emprega-se ainda a vírgula no interior da oração:


a) para separar, na datação de um escrito, o nome do lugar:
o Caála, 22 de Setembro de 2020
o Luanda, 2020
b) para indicar a supressão de uma palavra (geralmente o verbo) ou de um grupo de palavras:
o No céu azul, dois fiapos de nuvens. (A. F. Schmidt)

Entre orações, emprega-se a vírgula:


1.° Para separar as orações coordenadas assindéticas:
o Pois eu caçava, visgava, açapava. (Luandino Vieira)

2.° Para separar as orações coordenadas sindéticas, salvo as introduzidas pela conjunção e:
o Não comas, que o tempo é chegado. (José Saramago)
Nota: - Separam-se geralmente por vírgula as orações coordenadas unidas pela
conjunção e, quando têm sujeito diferente:
o E eles riem, e eles cantam, e eles dançam. (Óscar Ribas)

3.° Para isolar as orações intercaladas:


o Lá vem ele com as raízes, resmungou Paulino, baixando a cabeça. (Castro Soromenho)

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4.° Para isolar as orações subordinadas adjectivas explicativas:


o Eu, que tinha ido ensinar, agora me via diante de trinta examinadoras. (Genolino Amado)
Nota: - Como sabemos, as orações subordinadas adjectivas classificam-se em restritivas e explicativas.
As restritivas, necessárias ao sentido da frase, ligam-se a um substantivo (ou pronome) antecedente sem
pausa, razão por que dele não se separam, na escrita, por vírgula. Já as explicativas, denotadoras de uma
qualidade acessória do antecedente - e, portanto, dispensáveis ao sentido essencial da frase — separam-
se dele por uma pausa, indicada na escrita por vírgula. Comparem-se, por exemplo, estes dois passos:
o Não se lembraria do beijo que me jogara de longe, dos cravos que me atirara... (Ribeiro Couto)
o Os dois espanhóis e meu tio, que o ouviam, olharam para mim. (Jorge de Sena)
No primeiro, há duas orações adjetivas restritivas: que me jogara de longe e que me atirara; no
segundo, uma oração adjetiva explicativa: que o ouviam. Daí a diversidade de pontuação.

5.° Para separar as orações subordinadas adverbiais, principalmente quando antepostas à principal:
o Se eu o tivesse amado, talvez o odiasse agora. (Ciro dos Anjos)

6.° Para separar as orações reduzidas de infinitivo, de gerúndio e de particípio, quando


equivalentes a orações adverbiais:
o A não ser isto, é uma paz regalada. (Castro Soromenho)
o Sendo tantos os mortos, enterram-nos onde calha. (José Saramago)
o Fatigado, ia dormir. (Lima Barreto)

Nota: - Não se usa vírgula:


1) Entre o sujeito e o verbo da oração, quando juntos:
o O João come banana.
2) Entre o verbo e seus complementos, quando juntos:
o O réu confirmou todo seu depoimento.

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TEMA 6: COLOCAÇÃO DOS PRONOMES OBLÍQUOS ÁTONOS - PRONOMINALIZAÇÃO

6.1. Conceito de pronominalização


Pronominalização é a substituição do nome pelo respectivo pronome.
Pronominalizar é substituir o complemento directo ou complemento indirecto pelo
respectivo pronome pessoal de complemento (pronomes átonos ou oblíquos).
Para saber se o complemento é directo ou indirecto, as literaturas sugerem o seguinte:
No caso do complemento directo fazem-se as seguintes questões:
o o que?
o quem?
No caso do complemento indirecto faz-se a questão:
o a quem?
Para o efeito, por questões metodológicas, é necessário introduzir os conceitos de
complemento directo e complemento indirecto:
Complemento directo - é o ser ou objecto sobre o qual recai a afirmação ou negação
expressa pelo verbo. Existe nos verbos transitivos directos e nos transitivos directos e indirectos:
o O colega emprestou-lhe a caneta.
o O professor chamou pelo delegado.

Complemento indirecto indica o destinatário da afirmação ou negação expressa pelo


verbo. Existe nas construções com verbos transitivos indirectos, e com verbos transitivos directos
e indirectos: Exemplos:
o A Margarida deu um lápis ao António.
o A minha mãe ofereceu um caderno à filha da nossa empregada.

6.2. Pronominalização do complemento directo


A pronominalização do complemento directo é feita com os seguintes pronomes: o, a, os,
as, me, te, se, nos, vos:
o O António admira a Maria = O António admira-a.
o A rapariga pediu um telemóvel aos pais = A rapariga pediu-o aos pais.
o O João gosta do André e do Mário = O João gosta-os.

6.3. Pronominalização do complemento indirecto


No caso da pronominalização do complemento indirecto, os pronomes usados são os
seguintes: me, te, lhe, nos, vos, lhes.
o Este livro pertence ao meu colega João = Este livro pertence-lhe.
o A escola ofereceu uma lembrança aos professores que se reformaram = A escola
ofereceu-lhes uma lembrança.
6.4. Pronominalização de ambos os complementos (directo e indirecto)
A pronominalização pode ser feita simultaneamente. É possível pronominalizar os
complementos (directo e indirecto) numa determinada frase. Uma particularidade a ter em conta,
o verbo deve ser bitransitivo, ou seja, passível de seleccionar os dois complementos (directo e
indirecto). Este acto ocorre por meio de dois processos: a contracção e a hifenização.
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a) Por contracção: resulta da junção dos complementos indirectos (me, te, lhe, lhes) aos
complementos directos (o, a, os, as), ao contraírem-se, estes pronomes ganham uma nova
forma: mo, ma, mos, mas, to, ta, tos, tas, lho, lha, lhos, lhas:
o A Florinda comprou-me dois livros. = A Florinda comprou-mos;
o O Montalvo dar-te-á um chapéu. = O Montalvo dar-to-á;
o Talvez entreguem as blusas à Leontina. = Talvez lhas entreguem.
Nota: – Neste tipo de operação, o pronome que representa o complemento directo define
o género e o número desse complemento.

b) Por hifenização: ocorre por meio do uso do hífen entre os complementos indirectos
representados pelos pronomes nos, vos e os complementos directos com a forma lo, la, los,
las.
Uma particularidade neste processo - é a eliminação do s dos complementos indirectos, tal
como é ilustrado no exemplo a seguir:
o Pede ao professor de Língua Portuguesa que nos conceda uma prova = Pede ao
professor de Língua Portuguesa que no-la conceda.

6.5. Posição dos pronomes pessoais de complemento e suas regras


Existem três tipos de colocação pronominal: depois do verbo – posição enclítica; no interior
do verbo – posição mesoclítica; antes do verbo – posição proclítica.

6.5.1. Posição enclítica (ênclise)


O pronome aparece na posição enclítica nas seguintes situações:
a) Quando o verbo estiver no gerúndio: d) Quando o período é iniciado por um
o Modificou a frase, tornando-a ambígua. verbo:
o Alice não prestou atenção, fazendo-se de o Cansei-me de esperar.
boba. Simpatizei-me com pessoas inteligentes.

b) Diante de vírgula ou pausa antes do verbo: e) Após a preposição a:


o Se não tiver outro jeito, alisto-me no exército. o Estou a fazer-lhe um pedido.
o Em se dizendo coordenador do festival, o Estou a dizer-te a verdade.
ofereceu-nos dois ingressos.
f) Quando o verbo estiver no infinitivo:
c) Nas orações imperativas afirmativas: o Gostaria de convidar-te para jantar.
o Amem-se uns aos outros. o Viver é adaptar-se.
o Sigam-me.

Notas: - Quando o pronome oblíquo é O, A, OS, AS, devemos considerar o seguinte:


o Quando o verbo termina em R, S ou Z, cortam-se essas letras e acrescenta-se L antes do
pronome oblíquo: enviar + o = enviá-lo; quis + o = qui-lo; fiz + o = fi-lo
o Quando o verbo termina em M, ÃO ou ÕE, acrescenta-se N antes do pronome oblíquo:
ajudem + a = ajudem-na; dão + o = dão-no; põe + o = põe-no

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

6.5.2. Posição mesoclítica (mesóclise)


A posição mesoclítica do pronome pode ocorrer nas seguintes situações:
a) Com verbos no futuro do presente: Nota: – Nos casos em que a próclise é
o A prova realizar-se-á nesta terça-feira. obrigatória, o pronome fica proclítico mesmo
o Convidar-me-ão para solenidade de posse diante de verbos no futuro.
da nova directora. o Todos o ajudariam na pesquisa;
o Não se aceitarão passaportes vencidos.
b) Com verbos no futuro do pretérito:
o Dar-te-ia um beijo se recitasses um poema.
Convidá-la-ia para viajar comigo, se pudesse.

6.5.3. Proclítica (próclise)


A próclise ocorre quando há uma palavra atrativa, que é reconhecida por:
a) Em + gerúndio: e) Pronomes Relativos:
o Em se querendo, faz-se o bem. o O candidato que me questionou não está aqui;
o O homem que nos abordou era professor.
b) Advérbios:
o Aqui se aprende. f) Pronomes Demonstrativos:
o Nunca se importou com isso. o Aquilo me incomodou.

c) Pronomes Indefinidos: g) Conjunções Subordinativas:


o Ninguém me contou. o Quando me contaram a verdade, não quis acreditar.
o Alguém me paga.
h) Frases interrogativas, exclamativas e optativas
d) Pronomes Interrogativos: (exprimem desejo):
o Quantos me disseram isso? o Como se chama a criança?
o Quem te disse? o Deus a abençoe!

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TEMA 7: LÍNGUA E ESTILO

7.1. Qualidades essenciais da linguagem


• Correção - obediência à disciplina gramatical, o respeito das normas linguísticas que vigoram
na língua-padrão.
• Concisão - consiste em dizer o essencial, evitando as digressões inúteis.

• Clareza - qualidade primordial (mais a correcção) da expressão escrita ou falada. Espelha a lisura
do pensamento e facilita-lhe a pronta percepção.
• Precisão - escolha acertada do termo próprio, da palavra exacta para a ideia que se quer exprimir.

• Naturalidade – articulação original, sem necessidade de usar termos difíceis ou frases


rebuscadas.

• Originalidade - qualidade inata ao falante ou escritor, um dom natural, que a arte não dá, mas
pode estimular e aprimorar.
• Harmonia – correcta disposição das palavras, de tal maneira que o período se imponha pelo
ritmo, equilíbrio e harmonia.

• Colorido e elegância - virtudes que dão à obra literária o acabamento ideal e o toque da perfeição.
Decorrem do uso criterioso das figuras e dos ornatos de estilo, e exigem imaginação fértil e
brilhante e o perfeito domínio da técnica literária.

7.2. Vícios de linguagem


Vícios de linguagem são incorreções e defeitos no uso da língua falada ou escrita.
• Ambiguidade - defeito da frase que apresenta duplo sentido:
o Aldair, vi o Roberto no serviço com sua irmã. [sua: de quem?]
• Barbarismo - emprego de palavras erradas relativamente à pronúncia, forma ou significação:
o Proporam # propuseram.
o Cidadões # cidadãos.
o Adevogado # advogado.
• Cacofonia ou cacófato - som desagradável ou palavra de sentido ridículo resultante da
contiguidade de certos vocábulos na frase:
o A boca dela…
o Nunca Brito vinha aqui…
• Estrangeirismo - uso de palavras, expressões ou construções próprias de línguas estrangeiras,
sobretudo, quando existem, em português, termos equivalentes:
o Outdoor - cartaz, painel.
o Gentleman – cavalheiro.
o Menu – cardápio.
Arcaísmo - uso de palavras ultrapassadas:
o Vosmecê – você.
o Velida – bela.
o Coita – dor, aflição.
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• Hiato – som desagradável formado pela sucessão de fonemas vocálicos:


o Ou eu o ouvia ali, ou não o ouviu mais.
o Perdeu-o o homem que estava à beira da morte.
• Colisão - sucessão desagradável de consoantes iguais ou idênticas:
o Pintor português pinta portas e paredes por preços populares.
• Eco - concorrência de palavras que têm a mesma terminação (rima na prosa):
o A flor tem odor e frescor.
• Obscuridade – sentido duvidoso decorrente do emaranhado da frase, da má colocação das
palavras, da impropriedade dos termos, da pontuação defeituosa ou do estilo empolado.

• Pleonasmo (vicioso): redundância, presença de palavras supérfluas na frase:


o Entrar para dentro; sair para fora.
• Solecismo: erro de sintaxe (concordância, regência, colocação):
o Falta cinco alunos.
o Vou assistir o jogo.
o Revoltarão-se.
• Preciosismo, rebuscamento: linguagem artificial, cheia de subtilezas e vazia de ideias,
maneirismo.

• Plebeísmo: uso de palavras e expressões vulgares.


o Kumbu – dinheiro.
o Coroa - pessoa idosa.

7.3. Competência linguística e competência comunicativa


Competência linguística: designa o conhecimento da língua, em várias vertentes: sons da
língua – fonologia; formação e forma das palavras – morfologia; organização das palavras na frase
– sintaxe; identificação da significação – semântica.

Competência comunicativa: é a capacidade de quem fala ou escreve saber seleccionar as


formas linguísticas adequadas ou apropriadas a cada situação: quando falar, sobre que falar, com
quem, onde, de que modo.

7.4. Figuras de estilo


Figuras de estilo são recursos especiais de que se vale quem fala ou escreve, para
comunicar à expressão mais intensidade e estética. Podem ser:
a) Figuras de palavras (ou tropos)
b) Figuras de construção (ou de sintaxe)
c) Figuras de pensamento

7.4.1. Figuras de palavras (ou tropos)


Figuras de palavras são desvios de significação a que são submetidas as palavras, quando
se deseja atingir um efeito expressivo.
Ilustração:
o O tigre é uma fera. [fera= animal feroz: sentido próprio, literal, usual]
o Pedro era uma fera. [fera = pessoa muito brava: sentido figurado, ocasional]
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7.4.1.2. Principais figuras de palavras (ou tropos)


Metáfora – é a aproximação de duas realidades distintas, visando realçar as suas
semelhanças, em que uma substitui a outra. É semelhante à comparação, mas sem utilizar um termo
de cunho comparativo:
o Ser jovem é uma doçura.
o Amor é fogo que arde sem se ver. (Camões)
o Muitos jovens perdem a razão quando vivem o fogo de uma paixão.

Comparação – é a aproximação de dois conceitos realçando um deles por confronto com


outro, através do uso de um termo de cunho comparativo:
o Ela é esperta como um coelho.
o Tal qual o pai, ele tornou -se médico.

Catacrese: é uma espécie de metáfora em que se emprega uma palavra no sentido figurado
por hábito ou esquecimento de sua etimologia:
o Vou embarcar num autocarro. (autocarro não é barco)
o O Isata enterrou uma agulha na pele. (pele não é terra)

Metonímia – uso de um termo por outro em função de uma relação de contiguidade. Há


metonímia quando se emprega:
a) a causa pelo efeito ou o contrário:
o Vivo do meu trabalho. (do produto do trabalho = alimento)
o Respeita os meus cabelos brancos. (Respeita a minha idade – os cabelos brancos são o
efeito da velhice)

b) o autor pela obra:


o Estou a ler Agualusa. (= a obra de Agualusa)
o Li Pepetela muitas vezes. (= a obra de Pepetela)

c) o continente pelo conteúdo:


o Eles sempre foram amantes do copo. [= da(s) bebida(s) ]
o Comi um prato de funje. (= funje contido no prato)

d) o instrumento pelo usuário:


o Ele é um bom garfo. (= comilão)
o Os microfones estavam ansiosos para ouvir a Ministra da Saúde. (=repórteres)
e) o símbolo pelo simbolizado:
o Que as armas cedam à toga. (= que a força militar acate o direito)
o A coroa foi disputada pelos irmãos. (= poder)

f) o lugar pelo produto feito no mesmo:


o Aprecio o madeira. (= o vinho fabricado na ilha da Madeira)
o O meu amigo é fumante de um bom Havana. (= cigarro fabricado em Havana)

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g) o abstracto pelo concreto ou o contrário:


o A virtude vence. (= os virtuosos)
o Não deixou ela chorar, tem um coração nobre. (= sentimento)

h) a parte pelo todo:


o Sem comida, sem teto, a vida é dura. (= casa)
o O Tito tem duas bocas para alimentar. (= pessoas)

i) o singular pelo plural:


o O homem é racional. (= os homens)
o O médico tem um bom salário. (= os médicos)

j) o indivíduo pela espécie ou classe:


o Na calada da noite, revelou-se um judas. (= traidor)
o Chegaram os átilas da escola moderna. (= destruidores)

k) a qualidade pela espécie:


o Os mortais (= os homens)
o Os irracionais (= os animais)

l) a matéria pelo objecto:


o Fiquei sem metais para comprar banana (= moedas)
o Já estão a tocar os bronzes da Paróquia da Caála (= os sinos)

m) o inventor pela invenção:


o Gutenberg possibilitou a difusão do conhecimento. (- a invenção de Gutenberg —
imprensa)

n) a marca pelo produto:


o Este é o meu Toshiba. (computador).
o O Lenovo da Margarida é bonito. (telefone)

Antonomásia - designa os seres por meio de algum de seus atributos ou de um facto que
os celebrizou:
o O poeta da Sagrada Esperança (= Agostinho Neto)
o O pai da psicanálise (= Sigmund Freud)
Perífrase: consiste em substituir uma palavra ou conceito breve por uma expressão
analítica longa e indirecta com o mesmo significado:
o Venho da cidade das mulheres belas, terra das acácias rubras. (= venho de Benguela)
o Quando surgiram os primeiros raios de sol, saiu de casa. (= quando amanheceu)

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LÍNGUA PORTUGUESA Inocêncio Fortunato Kuyanga

Nota: - Muitos autores preferem chamar antonomásia ou perífrase, entretanto, vale destacar que,
as duas figuras têm o mesmo efeito em fenómenos diferentes. Antonomásia envolve pessoas,
perífrase envolve coisas ou espaços.

Sinestesia - consiste no cruzamento de palavras que transmitem sensações diferentes. Tais


sensações podem ser físicas ou psicológicas:
o Um doce abraço para os meus pais. (sensações de gosto e tato)
o O cheiro gostoso das plantas é medicinal. (sensações de olfato e gosto)

7.4.2. Figuras de construção (ou de sintaxe)


Figuras de construção ou de sintaxe – são construções que se afastam das estruturas
regulares ou comuns e que visam transmitir à frase mais concisão, expressividade. Podemos
destacar as seguintes:

Elipse – consiste na omissão de um termo ou oração que facilmente podemos subentender


no contexto:
o Nossa professora estava satisfeita, como, aliás, todas as suas colegas. (Isto é: como, aliás,
estavam satisfeitas todas as suas colegas.)
o As mãos eram pequenas e os dedos, finos e delicados. (elipse da forma verbal “eram”)
Nota: - A elipse uma espécie de economia de palavras, entretanto, interessa a elipse como figura
de estilo.

Pleonasmo (estilístico) – consiste no emprego de palavras redundantes, com o fim de


reforçar ou enfatizar a expressão:
o Vi a Isabel com os meus próprios olhos.
o Triste jovem! Chorou lágrimas profundas.
Nota: - Quando o pleonasmo não é estético, passa a ser vicioso como: descer para baixo, entrar
para dentro, subir para cima.

Assíndeto – consiste na supressão de conjunções, sobretudo da copulativa “e”, para


imprimir mais vivacidade à frase:
o A estudante entrou, apresentou a tarefa, saiu.
o Olhou para a jovem, beijou-a, abraçou-a.

Polissíndeto – consiste na repetição intencional do conector (geralmente e). É eficaz para


sugerir movimentos contínuos ou séries de acções que se sucedem rapidamente:
o Ele cai e levanta e torna a cair.
o É bonita e inteligente, e inocente, e de trato fácil, é uma maravilha de mulher.
Hipérbato – consiste em alterar a ordem normal dos termos ou orações com o fim de lhes
dar destaque:
o Estranha, de mãos dadas vinha a mulher com ele. (= A mulher estranha vinha com ele de
mãos dadas.)
o Tão leve estou que já nem sombra tenho. (Mário Quintana) – (= Estou tão leve que já nem
sombra tenho.)

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Anacoluto – consiste na quebra ou interrupção do fio da frase, ficando termos


sintacticamente desligados do resto do período, sem função:
o Aquela prova, não gostei das questões que me apresentaram.
o Essas jovens de hoje, são bonitas e inteligentes.
Nota: - O termo sem nexo sintáctico coloca-se, em geral, no início da frase para se lhe dar realce.

Anáfora – consiste na repetição da mesma palavra ou expressão no início de varias


orações, períodos ou versos:
o Grande no pensamento, grande na acção, grande na glória.
o Tudo interessante, tudo de origem, tudo bonito.

Aliteração – consiste na repetição intencional do mesmo som consonantal no início, no


meio ou no final de palavras sucessivas:
o O rato roeu a roupa do rapaz.
o Ele nasceu, cresceu e permaneceu naquela localidade.
o Assonância - consiste na repetição intencional do mesmo som vocálico no início, no meio
ou no final de palavras sucessivas:
o Ela é a Ana, ama e é amada!
o O meu chapéu é de modelo europeu.

Onomatopeia – consiste no emprego de uma palavra ou conjunto de palavras que sugerem


sons ou ruídos de seres e coisas:
o O tic-tac do relógio da minha sala é descompassado.
o Trim-trim! Trim-trim! Quem está a tocar?

Silepse – é uma concordância feita não com o termo, mas com a ideia transmitida pelo
mesmo. Pode ser:
a) de género – a concordância é feita com o género do termo a que se refere e não com o
termo em si:
o Vossa Majestade será informado acerca de tudo. (Vossa Majestade = o rei)
o De longe, viu o seu amor, vestida de véu e grinalda. (amor = mulher, esposa)

b) de número – a concordância é feita com o número (singular ou plural) que é transmitido


pela ideia do termo, e não com o número real do termo:
o Corria gente de todos os lados, e gritavam. (Mário Barreto)
o A Associação fechou, mas continuam actuantes.
c) de pessoa – a concordância é feita com a pessoa que se tem em mente, e não com a pessoa
(1.ª, 2.ª ou 3.ª) na qual o termo efectivamente se encontra:
o Os angolanos somos acolhedores.
o Estudantes de Psicologia queremos mais rigor e cientificidade.

7.4.3. Figuras de pensamento


Antítese - consiste na aproximação de palavras ou expressões de sentido oposto:
o Não há alegria sem tristeza, riqueza sem miséria.
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o Vida e morte, beleza e horror, rotina de um ser vivo.

Paradoxo – consiste em usar, intencionalmente, um contrassenso:


o O poeta compreendera o mal de ser feliz. (Olavo Bilac)
o O amor é uma triste consolação.
Notas:
o Alguns autores preferem denominar paradoxo ou oximoro;
o O paradoxo confunde-se, na maioria dos casos, com a antítese, entretanto, diferem-se:
a antítese opõe palavras que já são de natureza opostas. O paradoxo opõe ideias
opostas entre si.

Apóstrofe – consiste na interpelação enfática de pessoas ou coisas (presentes ou ausentes,


reais ou fictícias):
o Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes? (Castro Alves)
o Desce do espaço imenso; ó águia do oceano. (Castro Alves)
Eufemismo – consiste em suavizar a expressão de uma ideia triste, molesta ou
desagradável:
o Ele foi desta para melhor. (morreu)
o Você faltou com a verdade. (mentiu)

Gradação – é uma sequência de ideias dispostas em sentido ascendente ou descendente:


"O primeiro milhão possuído excita, acirra, assanha a gula do milionário." (Olavo Bilac)
Uma palavra, um gesto, um olhar bastava para despertar suspeita. (Domingos Ceggala)

Nota: - A gradação ascendente denomina-se também clímax, e a descendente, anticlímax.

Hipérbole – é o recurso de expressão pelo qual se engrandece ou diminui de forma


exagerada uma afirmação:
o A jovem chorou rios de lágrimas.
o Posso repetir mais de cem vezes.

Ironia – consiste em dizemos o contrário do que pensamos, quase sempre com intenção
sarcástica:
o Parabéns! Tiveste a classificação de zero.
o Grande gesto, bater em senhoras indefesas.

Personificação – consiste em emprestar vida e acção a seres inanimados ou abstractos:


o As árvores cantavam de alegria.
o O sol acordou mais brilhante.

Retificação - consiste em retificar uma afirmação anterior:


o O Isidro é inteligente, ou melhor, um génio.
o Li o livro “O que a África não disse”. Não, minto. Li “A África que incomoda”.

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TEMA 8: RELAÇÃO ENTRE AS PALAVRAS – FONÉTICA & GRÁFICA - SEMÂNTICA

Sobre a relação fonética e gráfica entre as palavras podemos destacar os seguintes


fenómenos: homonímia, homografia, homofonia e paronímia.

a) Homonímia
As palavras homónimas têm a mesma pronúncia e a mesma grafia, mas significados
diferentes: amo (senhor) / amo (verbo amar); são (saudável) / são (verbo ser) …

b) Homografia
As palavras homógrafas têm a mesma grafia, mas pronúncia e significado diferentes: apoio
(suporte) / apoio (verbo apoiar); acordo (combinação) / acordo (verbo acordar); sede (vontade de
beber água) sede (matriz).

c) Homofonia
As palavras homófonas têm a mesma pronúncia, mas grafia e significado diferentes: à/há;
trás/traz; cem/sem…

d) Paronímia
As palavras parónimas têm grafia e pronúncia parecidas, significados diferentes:
comprimento/cumprimento; descrição/discrição; despensa/dispensa…

No âmbito da semântica, as palavras apresentam as seguintes relações:

a) Relações de semelhança/oposição: sinonímia/antonímia


 Sinonímia – relação semântica entre duas ou mais palavras que podem ser usadas no mesmo
contexto, sem que se produza alteração de significado do enunciado em que ocorrem: fiel/leal;
débil/fraco/frágil; distante/afastado.

 Antonímia – relação semântica entre duas ou mais palavras que, embora partilhando algumas
propriedades semânticas que as relacionam, têm significados opostos: grande / pequeno;
quente / frio; bonito / feio.

b) Relações de hierarquia: hiperonímia/hiponímia


 Hiperonímia – relação de hierarquia semântica entre palavras, em que o significado de uma
(designada por hiperónimo), por ser mais geral, inclui o de outras (designadas por hipónimos):
o A palavra "animal" é um hiperónimo de "peixe". A palavra "peixe" é um hiperónimo de
"sardinha".
 Hiponímia – relação de hierarquia semântica entre palavras, em que o significado de uma
(designada por hipónimo), por ser mais específico, se encontra incluído no de outra (designada
por hiperónimo):
o As palavras “peixe” e “ave” são hipónimos de "animal".

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c) Relações de parte-todo: holonímia/meronímia


 Holonímia – relação de hierarquia semântica entre palavras, em que o significado de uma
(designada de holónimo) refere um todo do qual a outra (designada de merónimo) é parte
constituinte:
o Carro / volante -> carro estabelece uma relação de holonímia com volante; corpo / braço;
barco / vela.

 Meronímia – relação de hierarquia semântica entre palavras, em que o significado de uma


(designada de merónimo) remete para uma parte constituinte da outra (designada de
holónimo):
o A palavra “dedo” é um merónimo da palavra “mão”.

d) Estrutura lexical: campo lexical/campo semântico


 Campo lexical – conjunto de palavras associadas, pelo seu significado, a um determinado
domínio conceptual:
o O conjunto de palavras "jogador", "árbitro", "bola", "baliza", "equipa", "estádio" faz parte
do campo lexical de "futebol".

 Campo semântico – conjunto dos significados que uma palavra pode ter nos diferentes
contextos em que se encontra:
o Campo semântico de "peça": "peça de automóvel", "peça de teatro", "peça de bronze", "és
uma boa peça", "uma peça de carne", etc.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Cegalla, D. P. (2009). Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Companhia


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Cunha, C., & Cintra, L. (2014). Nova Gramática do Português Contemporâneo (21ª ed.). Lisboa:
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Garcia, M. C., & Reis, B. A. (2016). Gramática da Língua Portuguesa: Teoria e Prática. São
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Neto, T. d. (2014). História da Educação e Cultura de Angola: Grupos Nativos, Colonização e a


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Pinto, J. M. (2006). Novo Prontuário Ortográfico (8.ª ed.). Lisboa: Plátano editora.

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