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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ARAGUAÍNA


CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS
Rua Paraguai, s/n, esquina com a Rua Uxiramas | Setor Cimba | 77824-838 |
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A BRASILIDADE DA LÍNGUA E A RUPTURA FORMAL DE OSWALD DE ANDRADE


NO MODERNISMO BRASILEIRO

Rosemary Ferreira Pereira


Professora: Elizabete Barros de Sousa Lima

Resumo: O processo cultural brasileiro é permeado por determinadas culturas, mas sobretudo por
influências estrangeiras. Este trabalho pretende abordar breve consideração sobre a temática
brasilidade utilizada no movimento modernista brasileiro, que será discutido a partir de revisão
bibliográfica, visando refletir de que forma tal tema foi trabalhado, sobretudo pelo autor Oswald
de Andrade, e utilizado na construção da identidade nacional, para a ruptura do formalismo
estético daquela época.
Palavras-chave: Modernismo; Brasilidade; Ruptura; Identidade nacional.

O movimento modernista brasileiro ocorrido no período compreendido entre os


anos de 1922 a 1945 surgiu na mesma época em que acontecia o fim da da grande guerra, e
refletia a história política e social do Brasil. Mudanças expressivas, sobretudo na literatura
ocorreram com a finalidade de compreender as variadas identidades da cultura brasileira, cujo
movimento atrelou-se intrinsecamente à Semana de Arte Moderna de 1922.
Pelos relatos históricos, no princípio do século XX, o pais vivia o início da
República Velha, que foi de 1894 a 1930, época em que se primava pelos interesses das
oligarquias rurais, "governo de poucos", ou seja a forma de governo em que o poder político está
concentrado num pequeno número pertencente a uma mesma família, um mesmo partido político
ou grupo econômico ou corporação. Essas oligarquias estavam envoltas à prática da política do
café com leite.
Nessa época o Brasil recebia imigrantes italianos e japoneses destinados a
trabalhar na lavoura de café ou nas indústrias de São Paulo, com isso a classe trabalhadora,
também chamada de proletariado era composta por mão de obra estrangeira.
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Esse movimento dividiu-se em algumas fases, sendo a primeira, que foi do período
de 1922-1930, também chamada de fase heroica ou de destruição, na qual se buscava uma
identidade nacional, liberdade formal, renovação estética , valorização da cultura e do folclore,
presença de versos livres, versos brancos, utilização do sarcasmo e da ironia.
Em seguida veio a segunda fase, que foi 1930-1945, nomeada de fase de
consolidação ou geração de 30, que por sua vez abordou temáticas nacionalistas, regionalistas e
de caráter social. Presença de uma criticidade literária, com a valorização da linguagem popular,
temas do cotidiano, dentre outros.
Por derradeira, e não menos importante inicia a terceira fase no período de 1945-
1960, a qual recebeu o nome de geração de 45, que trouxe uma poesia mais equilibrada e
objetiva, com o retorno da métrica e à forma, com produções inspiradas no Parnasianismo e
Simbolismo, se contrapondo à liberdade formal, nesta fase houve uma preocupação com a
estética e a perfeição.
Nesse diapasão, é possível perceber que inicialmente o movimento se mostra como
um processo revolucionário visando a ruptura com as influências estrangeiras, sem apegar-se à
estética formal, mas que na terceira fase faz um caminho totalmente reverso, quando resolve
inspirar-se no Parnasianismo.
Grandes autores fizeram parte desse movimento de renovação literária, dentre eles
Oswald de Andrade, paulistano, filho único, morou no Brás e no centro da cidade de São Paulo.
Era irreverente, polêmico, boêmio, aventureiro, jornalista, escritor e promotor de artes. Se
graduou advogado, mas escolheu ser a vida toda um homem sem profissão, este é o perfil dele
extraído da página eletrônica do Museu da língua Portuguesa.
No Modernismo, Oswald desejava que o Brasil compreendesse e analisasse as
influência estrangeiras para o desenvolvimento de uma nova cultura, que fosse revolucionária e
tivesse originalidade, para assim se sentir participante de um grupo, que fosse capaz de ser
identificado pelas peculiaridades que o compõe, para estabelecer a brasilidade, que na visão de
Santos (2012), “pode ser visto como instrumento de reconhecimento, bem como dispositivo de
subjetividade, que não funcionará apenas como referencial de costumes, hábitos e formas
linguísticas compartilhadas”.
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Essa brasilidade também era abordada na poesia de Oswald de Andrade, que


trazia determinado senso de humor, ironia, textos curtos, utilização de trocadilhos, e por essa
razão ficou conhecido pelos poemas-piadas.
A brasilidade abordada por Oswald pode ser vista no poema “A Europa Curvou-se
ante o Brasil", no qual o Brasil pode ser interpretado como Pais do Futebol, procurava
demonstrar a essência cultural do país:
"7 a 2
3a1
A injustiça de Cette
4a0
2a1
2a0
3a1
E meia dúzia nos portugueses"

Para Almeida( 2017), a brasilidade estaria relacionada a uma construção social e


simbólica que compreende o sentimento e o conjunto de características que se imagina estarem
vinculadas ao Brasil.
A brasilidade da língua e a ruptura formal de Oswald de Andrade, autor dos
Manifestos Pau-Brasil e Manifesto antropofágico, na visão de BRANDINO(2021), se revela da
seguinte forma:
O Manifesto Pau-Brasil, de 1924, no qual defende seu desejo de que a poesia brasileira
torne-se um produto cultural de exportação, como foi, historicamente, a árvore do Pau-
Brasil, propondo uma poesia revolucionária, que escapasse do padrão mimético em voga
na época; e o Manifesto antropófago ou antropofágico, de 1928, com teor ainda mais
político, defendendo a proposta da antropofagia, isto é, a arte brasileira deveria deglutir
a influência estrangeira inevitável, eliminando o que não interessa e gerando algo
completamente novo, puro e primitivo.

Oswald de Andrade se opunha ao formalismo acadêmico, rompia com a estética


formal, ou seja, buscava propostas renovadoras, conforme Gonçalves (2012, p. 23) a linguagem
de Oswald era, de provocação e ataque.
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Nessa linha de rompimento com a formalidade, a reconstrução da poesia e da


cultura, na perspectiva decorrente da sensibilidade reajustada à nova escala do mundo moderno,
far-se-á da estaca zero, para além das barreiras da sabedoria e da erudição que rebentaram,
mantendo a destruição no nível de uma depuração, — sem as lentes doutorais que deformam, sem
o partia pris dos hábitos da camada intelectual, — do modo brasileiro de ser e de falar.(Manifesto
pau-brasil).
Nesta senda, trago o recorte extraído do Manifesto da Poesia Pau-Brasil: “A língua
sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros.
Como falamos. Como somos”. A reafirmação da língua e uso dela sem rebuscamento, sem
erudição, e que a fala decorre daquilo que somos. Assim, é possível interrelacionarmos essa
abordagem, como o tema do preconceito linguístico. Somos formados pela nossa historicidade e
isso reflete no agir e no falar.
Essa abordagem sobre a forma tida como correta de escrever veio refletida em
suas poesias, conforme se observa no poema que seguirá abaixo transcrito, no qual observa-se
versos sem métrica, ausência de alguns sinais de pontuação, vocabulário coloquial, dentre outros.

Erro de português (1927) – Oswald de Andrade


Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

Outro poema no qual Oswald de Andrade evidencia a necessidade de redução de


espaço entre a linguagem falada e a escrita é o Pronominais. A colocação pronominal geralmente
utilizada com o uso da próclise, “Me dá algo”, coloquial, ao invés de “Dê-me algo”. Com esse
poema percebe-se a relação de hierarquia (Dê-me) versos a informalidade (Me dá).
Pronominais (1925) – Oswald de Andrade
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
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Mas o bom negro e o bom branco


Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Oswald de andrade, com seu lado irônico, debochado, a exemplo como se ver no
poema Erro de Português, visava inovar, se colocava contra as convenções impostas sobretudo
pelo seu desejo de romper com a influência europeia.
Razão disso, ele publica o Manifesto Pau-Brasil no qual seu desejo é exportar a
literatura, a poesia brasileira, assim como feito com o primeiro material enviado pra fora, no caso
o Pau Brasil.
Enfim, a busca pelo rompimento com o academicismo e o formalismo e a
insatisfação com a política e o sistema de governo daquela época contribuíram significativamente
par marcar um novo período, para mostrar o conteúdo que permeava a linguagem e literatura
brasileira.
O que se pretendeu manifestar nessas breves consideração é que ao reverso do
período ditatorial no qual o Brasil estava imerso naquela época, alguns escritores almejaram
romper com toda aquela prática de reprodução da cultura alheia. Essa época de veementes
discursos e insatisfação com o processo cultural do Brasil fez com que nossa cultura fosse vista a
partir da nossa brasilidade, bem como fazer refletir a importância do poeta daquela época na
nossa identidade nacional.

REFERÊNCIAS

BRANDINO, Luiza. "Oswald de Andrade"; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/literatura/oswald-andrade.htm. Acesso em 22 de novembro de
2021.

GONÇALVES, Marcos Augusto 1922 : a semana que não terminou / Marcos Augusto Gonçalves.
1a ed. — São Paulo : Companhia das Letras, 2012.

Manifesto pau-brasil. In: Do pau-brasil à Antropofagia e às utopias – Obras


completas –6. Rio de Janeiro, MEC/ Civilização Brasileira, 1972
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ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda
europeia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas.
3ª ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976.

https://www.museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/oswald.pdf. Acesso
em: 11 dez. 2021.

SANTOS, Francisco Sá Barreto dos. A dor e a delícia de ser o que é. A brasilidade e o caso de
pertencimento como disciplina.2012. João Pessoa-PB.

ALMEIDA, Rômulo Santos de. OSWALD DE ANDRADE E GILBERTO FREYRE: sentidos do


“nacional” e do “regional” na construção da brasilidade
https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/27603/1/DISSERTA%c3%87%c3%83O%20R
%c3%b4mulo%20Santos%20de%20Almeida.pdf. Acesso em: 11 dez. 2021

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