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Farmacologia Adrenérgica
Freddie M. Williams e Timothy J. Turner
n 2. Como a fentolamina atua e por que ela foi útil nesta cir- Transportador de
cunstância clínica? L-aminoácidos aromáticos
n 3. Por que o médico não utilizou um antagonista dos receptores
-adrenérgicos para tratar a hipertensão da Sra. S? Tirosina
Na+
Tirosina-
Tirosina hidroxilase
atingir 100 mM. Para estabilizar a pressão osmótica decorren- A Captação normal de norepinefrina a partir da fenda sináptica
te do elevado gradiente de concentração para a norepinefrina e concentração de NE na vesícula sináptica
através da membrana vesicular, acredita-se que a norepinefri-
Citoplasma Fenda sináptica
na se condensa com ATP. Conseqüentemente, ocorre liberação
concomitante de ATP e de norepinefrina com a exocitose da ATP H+ ADP
vesícula.
Nas células da medula supra-renal, a norepinefrina é trans-
portada ou difunde-se das vesículas para o citoplasma, onde VMAT
Transportador de
a PNMT a converte em epinefrina. A seguir, a epinefrina é H+ NE (NET)
NE
novamente transportada em vesículas para armazenamento até Na+
NE NE
NE
sua liberação posterior por exocitose. A natureza não-seletiva
NE
do VMAT1 e do VMAT2 possui conseqüências farmacológicas NE
importantes, conforme discutido adiante. NE NE
A liberação de catecolaminas é iniciada por sinais que se
originam em um conjunto de áreas de processamento no SNC,
particularmente no sistema límbico. Esses neurônios do SNC
projetam axônios que fazem sinapse em neurônios pré-ganglio- B A cocaína inibe o transportador de NE
nares simpáticos nas colunas intermédio-laterais da medula espi-
nal. Os axônios pré-ganglionares projetam-se para os gânglios
simpáticos, onde liberam acetilcolina. Esse neurotransmissor ATP H+ ADP
inicia potenciais pós-sinápticos excitatórios nos neurônios pós-
ganglionares, ativando os receptores nicotínicos de acetilcolina Cocaína
(ACh) (canais seletivos de cátions, que despolarizam a mem- VMAT NET
brana neuronal). Os bloqueadores ganglionares, como o hexa- NE
H+
metônio e a mecamilamina, bloqueiam o receptor nicotínico
NE NE NE
de ACh ganglionar, sem exercer efeitos significativos sobre os
NE
receptores de ACh do músculo esquelético (ver Cap. 8). Os NE NE
NE
axônios pós-ganglionares simpáticos formam varicosidades ou
sinapses en passant nos órgãos-alvo ou sobre eles. A chegada
de um potencial de ação nessas terminações abre os canais
de Ca2+ regulados por voltagem, e o conseqüente influxo de
Ca2+ deflagra o processo de exocitose das vesículas sinápticas C A reserpina inibe o VMAT
contendo catecolaminas. A norepinefrina sofre rápida difusão
da varicosidade pré-sináptica e regula localmente as respostas
teciduais (por exemplo, tônus do músculo liso) através da ativa- ATP H+ ADP
ção dos receptores adrenérgicos pós-sinápticos (com a notável
exceção de que a ACh é o transmissor utilizado nas terminações
nervosas simpáticas das glândulas sudoríparas). Recentemen- VMAT NET
te, foi constatado que os receptores adrenérgicos também se Na+
localizam em terminações nervosas pré-sinápticas, e isso pode
constituir um mecanismo auto-regulador para modular a exten- NE
NE
são da liberação de neurotransmissor. NE
NE
Reserpina
RECAPTAÇÃO E METABOLISMO DAS
CATECOLAMINAS
Quando uma molécula de catecolamina exerce seu efeito em Fig. 9.2 Mecanismos de ação da cocaína e da reserpina. A. A norepinefrina
um receptor pós-sináptico, a resposta é levada a seu término (NE) que foi liberada na fenda sináptica pode ser captada no citoplasma
por um de três mecanismos: (1) recaptação de catecolaminas do neurônio pré-sináptico pelo transportador de NE seletivo (NET), um co-
no neurônio pré-sináptico; (2) metabolismo das catecolaminas a transportador de Na+-NE. A NE citoplasmática é concentrada em vesículas
um metabólito inativo; e (3) difusão das catecolaminas a partir sinápticas pelo transportador de monoaminas vesicular (VMAT) não-seletivo,
da fenda sináptica. Os dois primeiros mecanismos exigem pro- um antiportador de H+-monoaminas. Uma H+-ATPase utiliza a energia da
teínas de transporte específicas ou enzimas e, por conseguinte, hidrólise do ATP para concentrar prótons nas vesículas sinápticas, gerando,
constituem alvos para intervenção farmacológica. assim, um gradiente de H+ transmembrana. Esse gradiente de H+ é utilizado
A recaptação de catecolaminas no citoplasma neuronal é pelo VMAT para impulsionar o transporte de monoamina na vesícula sináptica.
mediada por um transportador seletivo de catecolaminas (por B. A cocaína inibe o transportador de NE, permitindo a permanência da
exemplo, transportador de norepinefrina ou NET), também NE liberada na fenda sináptica por um maior período de tempo. Através
conhecido como Captação 1 (Fig. 9.2). Este simportador utiliza desse mecanismo, a cocaína potencializa a neurotransmissão nas sinapses
o gradiente de Na+ de direção interna para concentrar as cate- adrenérgicas. C. A reserpina inibe o transportador de monoaminas vesicular,
colaminas no citoplasma das terminações nervosas simpáticas, impedindo o reenchimento das vesículas sinápticas com NE e levando
limitando, assim, a resposta pós-sináptica e permitindo aos à depleção do neurotransmissor na terminação adrenérgica. Através
neurônios reciclar o transmissor para liberação subseqüente. desse mecanismo, a reserpina inibe a neurotransmissão nas sinapses
No interior da terminação nervosa, as catecolaminas podem adrenérgicas.
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ser ainda mais concentradas em vesículas sinápticas através membros da superfamília de receptores acoplados à proteína
do VMAT, o mesmo transportador utilizado para o transporte G (ver Cap. 1).
da dopamina na vesícula para a síntese de catecolaminas. Por Ambos os receptores adrenérgicos ␣ e  estão acoplados
conseguinte, o reservatório de catecolaminas disponível para a proteínas de suporte citoplasmáticas que, por sua vez, estão
liberação provém de duas fontes: as moléculas que são sinte- acopladas a cascatas de sinalização distais. Por exemplo, os
tizadas de novo e as moléculas que são recicladas através de receptores 1 interagem com uma série de elementos citoes-
recaptação neuronal. queléticos, denominados proteínas PDZ. Os membros da famí-
O metabolismo das catecolaminas envolve as duas enzimas: lia de proteínas PDZ medeiam funções reguladoras, incluindo
a MAO e a catecol-O-metiltransferase (COMT) (Fig. 9.3). internalização dos receptores e acoplamento a proteínas adapta-
A MAO é uma enzima mitocondrial que é expressa na maioria doras, como Grb2 ou fatores de troca de guanina-nucleotídios,
dos neurônios. Ocorre em duas isoformas: a MAO-A e a MAO- que regulam pequenas proteínas G monoméricas. Além disso,
B. As duas isoformas possuem algum grau de especificidade uma série de estudos biofísicos, bioquímicos e estruturais reve-
de ligante: a MAO-A degrada preferencialmente a serotonina, laram que muitos receptores acoplados à proteína G, incluindo
a norepinefrina e a dopamina, enquanto a MAO-B degrada a os receptores adrenérgicos, formam dímeros funcionais. Por
dopamina mais rapidamente do que a serotonina e a norepinefri- exemplo, os receptores 1 podem formar homodímeros, bem
na. A COMT é uma enzima citosólica expressa primariamente como heterodímeros com receptores adrenérgicos 2, recepto-
no fígado. res adrenérgicos ␣2 e receptores de opiáceos ␦. As implicações
funcionais dessas estruturas quaternárias não estão bem esclare-
cidas, porém a formação de heterodímeros sugere, no mínimo,
RECEPTORES DE CATECOLAMINAS um mecanismo para a regulação de receptores heterólogos.
Os receptores adrenérgicos (também denominados adreno-
receptores) são seletivos para a norepinefrina e a epinefrina. Receptores ␣-Adrenérgicos
A dopamina em concentrações suprafisiológicas também pode
ativar alguns adreno-receptores. Esses receptores são dividi- Os receptores ␣-adrenérgicos são divididos em subclasses ␣1
dos em duas classes principais, denominadas ␣ e . Todas e ␣2 (Quadro 9.1). A maioria dos receptores ␣1 efetua a sua
as classes e subclasses de receptores de catecolaminas são sinalização através de vias mediadas por Gq, que geram IP3,
que mobiliza as reservas intracelulares de Ca2+, e DAG, que
ativa a proteinocinase C. Os receptores ␣1 são expressos no
Neurotransmissor
músculo liso vascular, no músculo liso do trato genitourinário,
OH
no músculo liso intestinal, no coração e no fígado. Nas célu-
HO NH2 las musculares lisas vasculares, a estimulação dos receptores
Catecol-O- Monoamina oxidase ␣1 aumenta o [Ca2+] intracelular, a ativação da calmodulina,
metiltransferase HO (MAO) a fosforilação da cadeia leve de miosina, a interação actina–
(COMT) Norepinefrina OH miosina aumentada e a contração muscular (ver Cap. 21). Por
HO H
conseguinte, o subtipo de receptor ␣1 é importante para mediar
OH
O NH2 HO
O elevações da pressão arterial, e os antagonistas dos receptores
Aldeído
redutase DOPGAL ␣1 constituem uma terapia lógica para a hipertensão. Como a
HO ativação dos receptores ␣1 também provoca contração do mús-
Aldeído
Normetanefrina OH desidrogenase culo genitourinário, os antagonistas dos receptores ␣1 são uti-
HO OH lizados clinicamente no tratamento sintomático da hipertrofia
MAO OH prostática (ver adiante).
HO HO OH Os receptores ␣2-adrenérgicos ativam a Gi, uma proteína G
DOPEG
OH
O inibitória. A Gi exerce múltiplas ações de sinalização, incluindo
O H HO
DOMA
inibição da adenilil ciclase (diminuindo, assim, os níveis de
HO
O COMT cAMP), ativação dos canais de K+ retificadores internamente
MOPGAL Aldeído dirigidos acoplados à proteína G (que provocam hiperpolari-
COMT
redutase OH zação da membrana) e inibição dos canais de Ca2+ neuronais.
O OH Cada um desses efeitos tende a diminuir a liberação de neu-
OH
O OH
rotransmissor do neurônio-alvo. Os receptores ␣2 são encon-
HO
MOPEG
trados tanto em neurônios pré-sinápticos quanto nas células
HO
O
pós-sinápticas. Os receptores ␣2 pré-sinápticos atuam como
Aldeído Ácido auto-receptores para mediar a inibição da transmissão sinápti-
vanililmandélico (VMA)
desidrogenase ca por retroalimentação. Os receptores ␣2 também são expres-
sos nas células  do pâncreas e nas plaquetas, onde medeiam
Principal metabólito
(excretado na urina)
a inibição da liberação de insulina e a inibição da agregação
plaquetária, respectivamente. Esta última observação levou ao
Fig. 9.3 Metabolismo da norepinefrina. A norepinefrina é degradada
a metabólitos por duas enzimas principais. A catecol-O-metiltransferase
desenvolvimento de agentes que atuam como inibidores especí-
(COMT) é uma enzima citosólica amplamente distribuída; a COMT no fígado ficos dos receptores ␣2 plaquetários (ver adiante). Entretanto, a
é particularmente importante no metabolismo das catecolaminas circulantes. principal abordagem farmacológica dos receptores ␣2 tem sido
A monoamina oxidase (MAO), que se localiza na superfície externa das no tratamento da hipertensão. Os agonistas dos receptores ␣2
mitocôndrias, é encontrada em muitos neurônios monoaminérgicos (incluindo atuam em locais do SNC para diminuir a descarga simpática
adrenérgicos). A COMT, a MAO, a aldeído redutase e a aldeído desidrogenase
metabolizam as catecolaminas e múltiplos intermediários, que são finalmente na periferia, resultando em diminuição da liberação de nore-
excretados. O ácido vanililmandélico (VMA) é o principal metabólito excretado pinefrina nas terminações nervosas simpáticas e, portanto, em
na urina. diminuição da contração do músculo liso vascular.
Farmacologia Adrenérgica | 121
Epinefrina
A epinefrina é um agonista nos receptores tanto ␣- quanto - CLASSES E AGENTES FARMACOLÓGICOS
adrenérgicos. Em baixas concentrações, a epinefrina possui
efeitos predominantemente 1 e 2, ao passo que, em altas É possível efetuar uma intervenção farmacológica em cada
concentrações, predominam os efeitos ␣1. A epinefrina, através uma das principais etapas da síntese, do armazenamento, da
de sua ação sobre os receptores 1, aumenta a força de con- recaptação, do metabolismo e da ativação dos receptores das
tração cardíaca e o débito cardíaco, com conseqüente aumen- catecolaminas. A discussão que se segue apresenta as diver-
to no consumo de oxigênio do coração e na pressão arterial sas classes de agentes por ordem de suas ações sobre as vias
sistólica. A vasodilatação mediada pelos receptores 2 provoca adrenérgicas, desde a síntese do neurotransmissor até a ativação
uma redução da resistência periférica e diminuição da pressão do receptor.
arterial diastólica. A estimulação dos receptores 2 também
aumenta o fluxo sangüíneo para o músculo esquelético, relaxa
o músculo liso brônquico e aumenta as concentrações de gli-
INIBIDORES DA SÍNTESE DE CATECOLAMINAS
cose e de ácidos graxos livres no sangue. Todos esses efeitos 1 Os inibidores da síntese de catecolaminas possuem utilidade
e 2 constituem componentes da resposta de “luta-ou-fuga”. A clínica limitada, visto que esses agentes inibem de modo ines-
epinefrina é utilizada no tratamento da crise asmática aguda e pecífico a formação de todas as catecolaminas (ver Fig. 9.1).
anafilaxia; a epinefrina aplicada localmente em altas doses pro- A ␣-metiltirosina é um análogo estrutural da tirosina que é
voca vasoconstrição e prolonga a ação dos anestésicos locais. A transportado nas terminações nervosas, onde inibe a tiroxina
epinefrina possui rápido início e breve duração de ação, sendo hidroxilase, a primeira enzima na via de biossíntese das cateco-
ineficaz por via oral. O aumento da excitabilidade cardíaca laminas. Esse agente é utilizado em certas ocasiões no trata-
induzido pela epinefrina pode levar a arritmias cardíacas, e a mento da hipertensão associada ao feocromocitoma (um tumor
acentuada elevação da pressão arterial pode provocar hemor- de células enterocromafins da medula supra-renal que produz
ragia cerebral. norepinefrina e epinefrina).
Farmacologia Adrenérgica | 123
O guanadrel também atua como falso neurotransmissor. A conseguinte, não é surpreendente que os ATC exibam um perfil
exemplo da guanetidina, esse fármaco pode ser utilizado no proeminente de efeitos adversos. Uma característica essencial
tratamento da hipertensão, porém não constitui mais o agente da terapia com ATC para a depressão consiste na existência de
de primeira linha. O perfil de efeitos adversos do guanadrel um período de latência de várias semanas antes da observação
assemelha-se ao da guanetidina. de uma melhora dos sintomas, embora esses fármacos come-
A anfetamina exerce várias ações adrenérgicas: (1) desloca cem a inibir imediatamente a recaptação de norepinefrina e
as catecolaminas endógenas das vesículas de armazenamento de serotonina. O mecanismo molecular responsável pelo início
(de modo semelhante à tiramina); (2) atua como inibidor fraco tardio dos efeitos benéficos continua sendo objeto de investi-
da MAO; e (3) bloqueia a recaptação de catecolaminas mediada gação. Paradoxalmente, os antidepressivos tricíclicos podem
pelo NET e DAT. Apesar da ligação da anfetamina aos recep- causar hipotensão postural (através de bloqueio ␣-adrenérgico)
tores adrenérgicos pós-sinápticos, possui pouca ação agonista e taquicardia sinusal (através de potencialização da ação da
nos receptores ␣- ou -adrenérgicos. A anfetamina possui efei- norepinefrina sobre os nervos simpáticos cardíacos). Os ATC,
tos acentuados sobre o comportamento, incluindo aumento do quando utilizados em altas doses ou em overdose, podem exer-
estado de alerta, diminuição da fadiga, depressão do apetite e cer um efeito semelhante à quinidina sobre os canais iônicos
insônia. Por conseguinte, tem sido utilizada no tratamento da cardíacos e, portanto, induzir arritmias (ver Cap. 18). Devido
depressão e da narcolepsia (episódios recorrentes de sonolência a seu papel importante no tratamento da depressão, os ATC e
e sono durante as horas do dia), bem como para suprimir o ape- outros inibidores da recaptação, incluindo a duloxetina, um
tite. Seus efeitos adversos podem ser consideráveis, incluindo inibidor serotoninérgico e da recaptação de norepinefrina misto,
fadiga e depressão após o período de estimulação central. são discutidos de modo mais pormenorizado no Cap. 13.
A efedrina, a pseudo-efedrina e a fenilpropanolamina são
agentes estruturalmente relacionados cujas ações são menos
pronunciadas que as da anfetamina. Enquanto a efedrina e a INIBIDORES DO METABOLISMO DAS
fenilpropanolamina têm seu uso restrito nos Estados Unidos, CATECOLAMINAS
a pseudo-efedrina é amplamente utilizada como descongestio-
nante de venda livre, sendo encontrada em alguns remédios Os inibidores da monoamina oxidase (IMAO) impedem a
para resfriado e supressores do apetite. desaminação secundária após recaptação das catecolaminas nas
O metilfenidato, um análogo estrutural da anfetamina, é terminações pré-sinápticas. Por conseguinte, ocorre acúmulo
amplamente utilizado em psiquiatria para o tratamento do trans- de maiores quantidades de catecolaminas nas vesículas pré-
torno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) em sinápticas para liberação durante cada potencial de ação. Os
crianças; acredita-se que seu principal efeito esteja relacionado IMAO são oxidados, em sua maioria, pela IMAO a inter-
com um aumento da atenção. mediários reativos que, em seguida, atuam como inibidores
No caso de todos os agentes relacionados com a anfeta- irreversíveis da IMAO. Os agentes não-seletivos dessa classe
mina, podem ocorrer dependência psicológica e fisiológica e (isto é, agentes que inibem tanto a MAO-A quanto a MAO-B)
tolerância. Esses agentes aumentam a pressão arterial tanto sis- incluem a fenelzina, a iproniazida (o fármaco utilizado no
tólica quanto diastólica, e os indivíduos que fazem uso dessas caso da introdução) e a tranilcipromina. Os inibidores sele-
substâncias podem apresentar agitação, tontura, tremor, irrita- tivos incluem a clorgilina, que é seletiva para a MAO-A, e a
bilidade, confusão, agressividade, disfunção erétil, ansiedade, selegilina, que é seletiva para a MAO-B. A brofaromina, a
alucinações paranóides, pânico e ideação suicida ou homicida. befloxatona, e a moclobemida são inibidores reversíveis mais
A gravidade do perfil de efeitos adversos está relacionada com recentes da MAO-A.
a eficácia do agente específico como estimulante do SNC. A A exemplo dos antidepressivos tricíclicos, os IMAO são
metanfetamina (ou “crank”, “cristal”, “bolinha”, “speed”, utilizados no tratamento da depressão. A selegilina também
“co-piloto” ou “pílula da morte”) é uma importante droga de foi aprovada para o tratamento da doença de Parkinson; seu
abuso. mecanismo de ação pode incluir tanto a potencialização da
dopamina nos neurônios nigroestriatais remanescentes quanto
a diminuição da formação de intermediários neurotóxicos. Con-
INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DE CATECOLAMINAS forme assinalado anteriormente, os pacientes em uso de IMAO
Os inibidores da recaptação de catecolaminas podem exercer devem evitar o consumo de certos alimentos fermentados con-
um efeito simpaticomimético agudo e poderoso ao prolongar o tendo grandes quantidades de tiramina e outras monoaminas,
tempo de permanência do neurotransmissor liberado na fenda visto que os IMAO bloqueiam a desaminação oxidativa dessas
sináptica. A cocaína é um potente inibidor do NET; ao contrário monoaminas no trato gastrintestinal e no fígado, permitindo a
de outros inibidores da captação (como a imipramina e a fluoxe- sua entrada na circulação e desencadeando uma crise hiperten-
tina), a cocaína elimina essencialmente o transporte de cateco- siva. O uso concomitante de IMAO e de inibidores seletivos da
laminas (ver Fig. 9.2). A cocaína é uma substância controlada recaptação de serotonina (ISRS) também está contra-indicado,
com alto potencial de dependência. É utilizada ocasionalmente visto que pode precipitar a síndrome da serotonina, caracte-
como anestésico local (ver Cap. 10), porém o seu papel mais rizada por inquietação, tremores, convulsões e, possivelmente,
importante é como droga de abuso (ver Cap. 17). coma e morte. Os inibidores reversíveis da MAO-A podem ter
Os antidepressivos tricíclicos (ATC), como a imipramina menos tendência a provocar efeitos adversos e interações. Os
e a amitriptilina, inibem a recaptação de norepinefrina media- IMAO e os ISRS também são discutidos nos Caps. 12 e 13.
da pelo NET nas terminações pré-sinápticas, permitindo, assim,
o acúmulo de norepinefrina na fenda sináptica. Entretanto, os AGONISTAS DOS RECEPTORES
ATC são promíscuos, inibindo a recaptação tanto da seroto-
nina quanto da norepinefrina nas terminações pré-sinápticas, Devido ao importante papel desempenhado pelos receptores
além de bloquear os receptores serotoninérgicos, ␣-adrenérgi- adrenérgicos na mediação do tônus vascular, do tônus do mús-
cos, histaminérgicos e muscarínicos em doses terapêuticas. Por culo liso e da contratilidade cardíaca, os agonistas e antagonis-
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tas seletivos desses receptores constituem a base da terapia para insulina. Como o isoproterenol é um ativador não-seletivo dos
a hipertensão, a asma e o infarto do miocárdio. Na discussão receptores 1- e 2-adrenérgicos, e o seu uso para alívio da
que se segue, os agentes são organizados de acordo com a sua broncoconstrição na asma é freqüentemente acompanhado de
especificidade pelos subtipos de receptores (ver Quadro 9.1 efeitos colaterais cardíacos indesejáveis, o uso desse fármaco
para uma visão geral dos subtipos de receptores importantes). foi suplantado, em grande parte, por agonistas 2-seletivos mais
novos (ver adiante).
Agonistas ␣-Adrenérgicos A dobutamina tem sido classicamente descrita como ago-
nista 1-seletivo. Entretanto, sabe-se, hoje em dia, que o efeito
Os agonistas adrenérgicos ␣1-seletivos aumentam a resistência global da dobutamina depende dos efeitos diferenciais dos dois
vascular periférica e, portanto, mantêm ou elevam a pressão estereoisômeros contidos na mistura racêmica (ver Cap. 1 para
arterial. Esses fármacos também podem causar bradicardia uma discussão dos estereoisômeros). O isômero (–) atua como
sinusal através da ativação de respostas vagais reflexas. Os agonista ␣1 e como agonista 1 fraco, enquanto o isômero (+)
agonistas ␣1 de administração sistêmica, como a metoxamina, atua como antagonista ␣1 e agonista 1 potente. As propriedades
têm aplicação clínica limitada; entretanto, são algumas vezes agonista ␣1 e antagonista anulam-se efetivamente uma à outra
utilizados no tratamento do choque. Diversos agonistas ␣1 de quando se administra a mistura racêmica, e o resultado clínico
administração tópica, como a fenilefrina, a oximetazolina e observado é aquele produzido por um agonista 1-seletivo. A
a tetraidrazolina, são utilizados nos medicamentos de venda dobutamina possui efeitos inotrópicos mais proeminentes do
livre Afrin® e Visine® (e outros) para produzir contração do que cronotrópicos, resultando em aumento da contratilidade e
músculo liso vascular no alívio sintomático da congestão nasal do débito cardíaco. A dobutamina é utilizada clinicamente no
e hiperemia oftálmica. Infelizmente, o uso desses medicamen- tratamento agudo da insuficiência cardíaca.
tos é freqüentemente acompanhado de hipersensibilidade de Os agonistas 2-seletivos mostram-se valiosos no tratamento
rebote e retorno dos sintomas. A fenilefrina também é adminis- da asma, visto que a estimulação dos receptores 1-adrenérgicos
trada por via intravenosa no tratamento do choque. no coração por agonistas  não-seletivos provoca efeitos cola-
A clonidina é o agonista ␣2 mais bem caracterizado. Esse terais cardíacos desconfortáveis (e, em certas ocasiões, perigo-
fármaco é comumente prescrito para tratamento da hipertensão. sos). Os dispositivos de liberação de fármacos facilitaram ainda
A clonidina também é utilizada como agente simpaticolítico no mais a estimulação seletiva dos receptores 2-adrenérgicos no
tratamento dos sintomas associados à abstinência de drogas. tecido-alvo. Por exemplo, o uso de inaladores com aerossóis
Os efeitos colaterais consistem em bradicardia causada pela permite a liberação da dose nas vias aéreas distais, onde o fár-
redução da atividade simpática e aumento da atividade vagal, maco é mais necessário. A liberação do fármaco nos pulmões
bem como boca seca e sedação. Outros agonistas ␣2 de ação também diminui a quantidade liberada sistemicamente, limitan-
central incluem os agentes raramente utilizados guanabenzo do, assim, a ativação dos receptores 1 cardíacos e receptores
e guanfacina. Esses fármacos apresentam um perfil de efeitos 2 do músculo esquelético. Os efeitos mais importantes desses
adversos semelhante ao da clonidina. agentes consistem em relaxamento do músculo liso brônqui-
A ␣-metildopa é um precursor (pró-fármaco) do agonista co e diminuição da resistência das vias aéreas. Entretanto, os
␣2, ␣-metilnorepinefrina. As enzimas endógenas catalisam o agonistas 2-seletivos não são totalmente específicos para os
metabolismo da metildopa a metilnorepinefrina, e a ␣-metil- receptores 2, e os efeitos adversos podem consistir em tremor
norepinefrina é então liberada pela terminação nervosa adre- do músculo esquelético (através de estimulação 2) e taquicar-
nérgica, onde pode atuar no nível pré-sináptico como agonista dia (através de estimulação 1).
␣2. Essa ação resulta em diminuição da descarga simpática do O metaproterenol é o protótipo dos agonistas 2-seletivos.
SNC e conseqüente redução da pressão arterial em pacientes Esse fármaco é utilizado no tratamento da doença obstrutiva
hipertensos. Como o uso da ␣-metildopa pode estar associado das vias aéreas e broncoespasmo agudo. A terbutalina e o
à ocorrência rara de hepatotoxicidade e anemia hemolítica auto- salbutamol são dois outros agentes dessa classe que possuem
imune, esse fármaco não constitui um agente de primeira linha eficácia e duração de ação semelhantes. O salmeterol é um
no tratamento da hipertensão. Entretanto, como demonstrou ser agonista 2 de ação longa, cujos efeitos duram cerca de 12
mais segura do que outros agentes anti-hipertensivos em mulhe- horas. A utilidade clínica dos agonistas 2-seletivos é discutida
res grávidas, a ␣-metildopa constitui freqüentemente o fármaco de modo mais pormenorizado no Cap. 46.
de escolha no tratamento da hipertensão durante a gravidez.
ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES
Agonistas -Adrenérgicos
Devido ao amplo espectro de estados mórbidos que respon-
A estimulação dos receptores 1-adrenérgicos provoca aumento dem à modulação da atividade dos receptores adrenérgicos, os
da freqüência cardíaca e da força de contração, resultando em antagonistas dos receptores ␣- e -adrenérgicos estão entre os
aumento do débito cardíaco, enquanto a estimulação dos recep- medicamentos mais amplamente utilizados na prática clínica.
tores 2-adrenérgicos causa relaxamento do músculo liso vascu-
lar, brônquico e gastrintestinal. O isoproterenol é um agonista
 não-seletivo, que pode ser utilizado para aliviar a broncocons- Antagonistas ␣-Adrenérgicos
trição. Esse fármaco diminui a resistência vascular periférica e a Os antagonistas ␣-adrenérgicos bloqueiam a ligação das cateco-
pressão arterial diastólica (efeito 2), enquanto a pressão arterial laminas endógenas aos receptores ␣1- e ␣2-adrenérgicos. Esses
sistêmica permanece inalterada ou ligeiramente elevada (efeito agentes causam vasodilatação, redução da pressão arterial e
1). Como o isoproterenol é um agente inotrópico positivo (que diminuição da resistência periférica. O reflexo barorreceptor
aumenta a contratilidade cardíaca) e cronotrópico (que aumenta procura habitualmente compensar a queda da pressão arte-
a freqüência cardíaca), ocorre aumento do débito cardíaco. O rial, resultando em aumentos reflexos da freqüência cardíaca
isoproterenol provoca menos hiperglicemia do que a epinefrina, e do débito cardíaco. A fenoxibenzamina bloqueia irrever-
visto que ele estimula a ativação -adrenérgica da secreção de sivelmente tanto os receptores ␣1 quanto ␣2. O bloqueio dos
126 | Capítulo Nove
Efeitos Adversos
Fármaco Aplicações Clínicas Graves e Comuns Contra-Indicações Considerações Terapêuticas
|
Mecanismo — Inibem o armazenamento das catecolaminas nas vesículas, resultando em aumento a curto prazo na liberação de catecolaminas das terminações sinápticas, porém com depleção a longo prazo do
reservatório disponível de catecolaminas
Reserpina Hipertensão Arritmias cardíacas, Doença gastrintestinal ativa Provoca lesão irreversível do VMAT, resultando em perda
hemorragia gastrintestinal, Depressão, terapia por eletrochoque da capacidade das vesículas de concentrar e armazenar a
trombocitopenia, pesadelos, Insuficiência renal norepinefrina e a dopamina
transtorno de ansiedade, Utilizada experimentalmente para avaliar se o efeito de um
impotência, depressão fármaco requer a sua concentração nas terminações pré-
psicótica sinápticas
Tontura, congestão nasal Raramente utilizado como agente terapêutico, devido à sua ação
irreversível e associação com depressão psicótica
Guanetidina Hipertensão Doença renal, apnéia Terapia com IMAO A guanetidina concentra-se nas vesículas transmissoras e
Guanadrel Hipotensão ortostática, Insuficiência cardíaca desloca a norepinefrina, resultando em sua depleção gradual;
retenção hídrica, tontura, Feocromocitoma o guanadrel possui um mecanismo de ação semelhante à
visão embaçada, impotência guanetidina
A inibição dos nervos simpáticos cardíacos provoca redução
do débito cardíaco; a inibição da resposta simpática leva à
ocorrência de hipotensão sintomática após exercício físico
Anfetamina Transtorno de déficit de atenção com Hipertensão, taquiarritmias, Doença cardiovascular avançada A anfetamina e o metilfenidato deslocam as catecolaminas
Metilfenidato hiperatividade (TDAH) síndrome de Gilles de Glaucoma endógenas das vesículas de armazenamento, inibem fracamente
Narcolepsia (somente a anfetamina) la Tourette, convulsões, Hipertireoidismo a MAO e bloqueiam a recaptação de catecolaminas mediada
transtorno psicótico com uso Terapia com IMAO pelo NET e DAT; podem ocorrer dependência e tolerância
prolongado Hipertensão grave
Inquietação, humor disfórico,
fadiga de rebote, risco
de dependência, perda
do apetite, irritabilidade,
disfunção erétil
Pseudo-efedrina Rinite alérgica Fibrilação atrial, batimentos Doença cardiovascular avançada Utilizada como descongestionante de venda livre;
Congestão nasal prematuros ventriculares, Terapia com IMAO freqüentemente encontrada em remédios para resfriados e
isquemia do miocárdio Hipertensão grave supressores do apetite
Hipertensão, taquiarritmia, A efedrina e a fenilpropanolamina foram restritas nos Estados
congestão de rebote, insônia Unidos
INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DE CATECOLAMINAS
Mecanismo — Inibem a recaptação de catecolaminas mediada pelo transportador de norepinefrina (NET), potencializando a ação das catecolaminas
Cocaína Ver Resumo Farmacológico: Cap. 10
Imipramina Ver Resumo Farmacológico: Cap. 13
Amitriptilina
INIBIDORES DA MONOAMINA OXIDASE (MAO)
Mecanismo — Inibem a MAO, aumentando os níveis de catecolaminas através do bloqueio da degradação das catecolaminas
Fenelzina Ver Resumo Farmacológico: Cap. 13
Iproniazida
Tranilcipromina
Clorgilina
Brofaromina
Befloxatona
Moclobemida
Selegilina
AGONISTAS ␣1-ADRENÉRGICOS
Mecanismo — Ativam seletivamente os receptores ␣1-adrenérgicos para aumentar a resistência vascular periférica
Metoxamina Hipotensão, choque Bradicardia (reflexa Hipertensão grave Uso clínico muito limitado no tratamento do choque
vagal), batimento ectópico
ventricular
Hipertensão, vasoconstrição,
náusea, cefaléia, ansiedade
Fenilefrina Hiperemia oftálmica Arritmias cardíacas, Glaucoma de ângulo estreito Utilizadas nos medicamentos de venda livre Afrin® e Visine®
Oximetazolina Congestão nasal hipertensão Hipertensão grave ou taquicardia (contra- (e outros) para alívio da congestão nasal e hiperemia oftálmica;
Tetraidrazolina Hipotensão (somente a fenilefrina) Cefaléia, insônia, indicação para a forma IV da fenilefrina) o uso desses fármacos é freqüentemente acompanhado de rebote
nervosismo, congestão nasal dos sintomas
de rebote A fenilefrina também é utilizada por via intravenosa no
tratamento do choque
AGONISTAS ␣2-ADRENÉRGICOS
Mecanismo — Ativam seletivamente os auto-receptores ␣2-adrenérgicos centrais e, portanto, inibem a descarga simpática do SNC
Clonidina Hipertensão Bradicardia, insuficiência Terapia com inibidores da MAO e doença A clonidina é utilizada no tratamento da hipertensão e dos
Guanabenzo Abstinência de opióides (somente a cardíaca, hepatotoxicidade hepática ativa (contra-indicações para o uso sintomas associados à abstinência de opióides
Guanfacina clonidina) (metildopa), anemia da metildopa) A metildopa constitui o fármaco de escolha para o tratamento
Metildopa Dor do câncer (somente a clonidina) hemolítica auto-imune da hipertensão durante a gravidez
(metildopa)
Hipotensão, constipação,
xerostomia, sedação, tontura
AGONISTAS -ADRENÉRGICOS
Mecanismo — Ativam os receptores -adrenérgicos
Isoproterenol Ver Resumo Farmacológico: Cap. 19
Dobutamina
Metaproterenol Ver Resumo Farmacológico: Cap. 46
Terbutalina
Salbutamol
Salmeterol
ANTAGONISTAS ␣-ADRENÉRGICOS
Mecanismo — Bloqueiam a ligação das catecolaminas endógenas aos receptores ␣1- e ␣2-adrenérgicos, causando vasodilatação, redução da pressão arterial e redução da resistência periférica
Fenoxibenzamina Hipertensão e sudorese associadas ao Convulsões Hipotensão grave A fenoxibenzamina bloqueia irreversivelmente os receptores ␣1
Farmacologia Adrenérgica
(Continua)
129
Resumo Farmacológico Capítulo 9 Farmacologia Adrenérgica (Continuação)
130
Efeitos Adversos
Fármaco Aplicações Clínicas Graves e Comuns Contra-Indicações Considerações Terapêuticas
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Prazosin Hipertensão Pancreatite, Hipersensibilidade ao prazosin, ao terazosin O prazosin, o terazosin e o doxazosin são antagonistas não-
Terazosin Hiperplasia prostática benigna hepatotoxicidade, lúpus ou ao doxazosin seletivos dos subtipos de receptores ␣1 nas arteríolas e veias
Doxazosin eritematoso sistêmico Em geral, não ocorre taquicardia reflexa
Hipotensão postural Em virtude do potencial de hipotensão postural grave, a
pronunciada com a primeira primeira dose é geralmente prescrita em pequena quantidade
dose, palpitações, dispepsia, ao deitar (assegurando, assim, que o paciente permaneça em
Capítulo Nove