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Farmacologia Adrenérgica
Freddie M. Williams e Timothy J. Turner

Introdução Classes e Agentes Farmacológicos


Caso Inibidores da Síntese de Catecolaminas
Bioquímica e Fisiologia da Função Adrenérgica Inibidores do Armazenamento das Catecolaminas
Síntese, Armazenamento e Liberação das Catecolaminas Inibidores da Recaptação de Catecolaminas
Recaptação e Metabolismo das Catecolaminas Inibidores do Metabolismo das Catecolaminas
Receptores de Catecolaminas Agonistas dos Receptores
Receptores ␣-Adrenérgicos
Agonistas ␣-Adrenérgicos
Receptores ␤-Adrenérgicos
Regulação da Resposta dos Receptores Agonistas ␤-Adrenérgicos
Efeitos Fisiológicos e Farmacológicos das Catecolaminas Antagonistas dos Receptores
Endógenas Antagonistas ␣-Adrenérgicos
Epinefrina Antagonistas ␤-Adrenérgicos
Norepinefrina Conclusão e Perspectivas Futuras
Dopamina Leituras Sugeridas

das enzimas responsáveis pela degradação das catecolaminas. Por


INTRODUÇÃO ser um fármaco novo, seus efeitos adversos potenciais ainda não
estão bem definidos, de modo que o médico aconselha a Sra. S
A farmacologia adrenérgica envolve o estudo de agentes que a comunicar qualquer efeito diferente que possa surgir em decor-
atuam sobre vias mediadas pelas catecolaminas endógenas — a rência do medicamento.
norepinefrina, a epinefrina e a dopamina. Esses neurotransmis- Esperançosa, mas sem esperar a ocorrência de mudanças signi-
sores modulam numerosas funções vitais, incluindo a freqüên- ficativas, a Sra. S começa a tomar a medicação. Dentro de algumas
cia e a força da contração cardíaca, a resistência (constrição e semanas, começa a sentir-se motivada e torna-se ativa pela primeira
dilatação) dos vasos sangüíneos e bronquíolos, a liberação de vez em 20 anos. Exultante diante dessa nova sensação de energia,
insulina e a degradação da gordura. Os fármacos que atuam a Sra. S recupera sua vida passada como debutante e socialite e
sobre a síntese, o armazenamento, a liberação e a recaptação resolve oferecer uma recepção com queijos e vinhos em grande
de norepinefrina e epinefrina e cujos alvos consistem nos estilo. Convida os melhores e mais ilustres da cidade, e a festa
receptores pós-sinápticos desses transmissores são freqüente- parece estar sendo um sucesso. À medida que se levanta para
mente utilizados no tratamento da hipertensão, da depressão, agradecer a presença de seus convidados, a Sra. S celebra com um
do choque, da asma, da angina e de muitos outros distúrbios. grande gole de seu favorito Chianti 1954. No final da festa, sente
Este capítulo analisa a base bioquímica e fisiológica da ação uma forte dor de cabeça e náusea. Lembrando da recomendação
adrenérgica e, em seguida, discute a ação das diferentes classes de seu médico, pede a um amigo que a leve imediatamente até o
de agentes adrenérgicos. hospital mais próximo. Na sala de emergência, o médico de plantão
registra uma pressão arterial de 230/160 mm Hg. Constatando
que a Sra. S está apresentando uma emergência hipertensiva, o
n Caso médico imediatamente administra fentolamina (um antagonista dos
receptores ␣-adrenérgicos). A pressão arterial da Sra. S normaliza-se
Ano de 1960. A Sra. S vem se sentindo deprimida há vários anos. rapidamente, e, na investigação clínica subseqüente, o médico iden-
Fez uso de diversos medicamentos na tentativa de aliviar seus tifica uma nova e atualmente famosa interação fármaco–alimento
sentimentos de inutilidade e falta de motivação, porém nada parece envolvendo os inibidores da MAO.
ajudar. Recentemente, entretanto, seu médico prescreveu ipronia-
zida, um novo medicamento que parece estar surtindo efeito em QUESTÕES
muitos casos de depressão. Explicou para ela que os pesquisado-
res acreditam que o fármaco atua ao inibir a enzima existente no n 1. Qual a explicação em termos de mecanismo para a interação
cérebro, denominada monoamina oxidase (MAO). A MAO é uma dos inibidores da MAO com vinho tinto e queijo envelhecido?
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n 2. Como a fentolamina atua e por que ela foi útil nesta cir- Transportador de
cunstância clínica? L-aminoácidos aromáticos
n 3. Por que o médico não utilizou um antagonista dos receptores
␤-adrenérgicos para tratar a hipertensão da Sra. S? Tirosina
Na+
Tirosina-
Tirosina hidroxilase

BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA DA FUNÇÃO Diidroxifenilalanina


ADRENÉRGICA Neurônio (L-DOPA)
Descarboxilase
adrenérgico
dos L-aminoácidos
O sistema nervoso autônomo mantém a homeostasia através da Potencial de ação
aromáticos
ação combinada de seus ramos simpático e parassimpático. O Dopamina
sistema nervoso simpático prevalece em condições de estresse, VMAT Transportador de NE
produzindo uma resposta de “luta ou fuga”, que ajuda o organis-
mo a sobreviver a esses desafios. A discussão que se segue Na+
trata da bioquímica da ação das catecolaminas, desde a síntese Ca2+ H+ Dopamina NE
Dopamina
até o metabolismo e a ativação dos receptores. A seguir, são ␤−hidroxilase
discutidas as funções fisiológicas das catecolaminas endóge- NE
nas, a epinefrina, a norepinefrina e a dopamina, com ênfase
NE
na especificidade de expressão dos receptores em diferentes
sistemas de órgãos.
Receptor α2-adrenérgico MAO
(auto-receptor) NE
DOPGAL
SÍNTESE, ARMAZENAMENTO E LIBERAÇÃO DAS
CATECOLAMINAS
As catecolaminas são sintetizadas pela oxidação do aminoácido
tirosina. Essa síntese ocorre basicamente nas terminações ner- Fenda sináptica
vosas simpáticas, mas também é observada em certo grau nos
corpos celulares neuronais. A síntese de epinefrina predomina
nas células da medula supra-renal, enquanto os neurônios
adrenérgicos produzem, em sua maior parte, norepinefrina
α1 β1 β2
(Fig. 9.1). A tirosina, o precursor da síntese de catecolaminas,
é transportada para dentro dos neurônios através de um trans- Receptores adrenérgicos
portador de aminoácidos aromáticos, que utiliza o gradiente de pós-sinápticos
Na+ através da membrana neuronal para concentrar a tirosina, Célula pós-sináptica
a fenilalanina, o triptofano e a histidina. A primeira etapa na
síntese das catecolaminas, a oxidação da tirosina a diidroxi-
fenilalanina (DOPA) pela enzima tirosina hidroxilase (TH),
constitui a etapa que limita a velocidade do processo. A DOPA
é convertida em dopamina por uma descarboxilase genérica de Fig. 9.1 Vias de síntese, armazenamento, liberação e recaptação de
catecolaminas. As catecolaminas endógenas, a dopamina, a norepinefrina e
aminoácidos aromáticos. A seguir, a dopamina é hidroxilada a epinefrina, são todas sintetizadas a partir da tirosina. A etapa que limita a
na posição 9 (ou posição ␤) pela dopamina ␤-hidroxilase, velocidade no processo de síntese das catecolaminas, a oxidação da tirosina
produzindo norepinefrina. Nos tecidos que produzem epinefri- citoplasmática a diidroxifenilalanina (L-DOPA), é catalisada pela enzima tirosina-
na, a norepinefrina é então metilada em seu grupo amino pela hidroxilase. A seguir, a descarboxilase de L-aminoácidos aromáticos converte
feniletanolamina-N-metiltransferase (PNMT). a L-DOPA em dopamina. O transportador de monoamina vesicular (VMAT)
transloca a dopamina (e outras monoaminas) no interior de vesículas sinápticas.
A localização subcelular dessas várias etapas de síntese Nos neurônios adrenérgicos, a dopamina ␤-hidroxilase intravesicular converte a
está ligada ao armazenamento posterior do neurotransmissor. dopamina em norepinefrina (NE). A seguir, a norepinefrina é armazenada na
A conversão da tirosina em dopamina ocorre no citoplasma vesícula até a sua liberação. Nas células da medula supra-renal, a norepinefrina
do neurônio. A seguir, a dopamina é transportada em vesícu- retorna ao citosol, onde a feniletanolamina N-metiltransferase (PNMT) converte
a norepinefrina em epinefrina. A seguir, a epinefrina é transportada de volta
las sinápticas por um antiportador de prótons helicoidal que à vesícula para armazenamento (não indicado na figura). A ␣-metiltirosina
atravessa 12 vezes a membrana, denominado transportador inibe a tirosina hidroxilase, a enzima que limita a velocidade no processo de
de monoaminas vesicular (VMAT). A dopamina no interior síntese das catecolaminas (não indicada na figura). A norepinefrina liberada
da vesícula é convertida em norepinefrina pela dopamina ␤- pode estimular os receptores ␣1-, ␤1- ou ␤2-adrenérgicos pós-sinápticos ou os
hidroxilase. receptores ␣2-adrenérgicos pré-sinápticos. A norepinefrina liberada também
pode ser captada em terminações pré-sinápticas pelo transportador de NE
Existem três transportadores vesiculares distintos que dife- seletivo. A NE no citoplasma do neurônio pré-sináptico pode ser ainda captada
rem quanto à especificidade de substrato e localização. O em vesículas sinápticas pelo VWAT (não indicado) ou degradada a DOPGAL (ver
VMAT1 e o VMAT2 (também conhecido como Captação 2 Fig. 9.3) pela monoamina oxidase (MAO) associada à mitocôndria.
[Fig. 9.2]) transportam a serotonina (5HT), a histamina e todas
as catecolaminas, porém diferem na sua expressão: o VMAT1 é
expresso na periferia (glândulas supra-renais, gânglios simpáti- os nervos motores (ver Cap. 8). Esses antiportadores utilizam o
cos), enquanto o VMAT2 é expresso primariamente no sistema gradiente de prótons gerado por uma H+-ATPase na membrana
nervoso central (SNC). O transportador de acetilcolina vesicu- vesicular para concentrar a dopamina no interior da vesícula. As
lar (VAChT) é expresso nos neurônios colinérgicos, incluindo concentrações de norepinefrina no interior da vesícula podem
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atingir 100 mM. Para estabilizar a pressão osmótica decorren- A Captação normal de norepinefrina a partir da fenda sináptica
te do elevado gradiente de concentração para a norepinefrina e concentração de NE na vesícula sináptica
através da membrana vesicular, acredita-se que a norepinefri-
Citoplasma Fenda sináptica
na se condensa com ATP. Conseqüentemente, ocorre liberação
concomitante de ATP e de norepinefrina com a exocitose da ATP H+ ADP
vesícula.
Nas células da medula supra-renal, a norepinefrina é trans-
portada ou difunde-se das vesículas para o citoplasma, onde VMAT
Transportador de
a PNMT a converte em epinefrina. A seguir, a epinefrina é H+ NE (NET)
NE
novamente transportada em vesículas para armazenamento até Na+
NE NE
NE
sua liberação posterior por exocitose. A natureza não-seletiva
NE
do VMAT1 e do VMAT2 possui conseqüências farmacológicas NE
importantes, conforme discutido adiante. NE NE
A liberação de catecolaminas é iniciada por sinais que se
originam em um conjunto de áreas de processamento no SNC,
particularmente no sistema límbico. Esses neurônios do SNC
projetam axônios que fazem sinapse em neurônios pré-ganglio- B A cocaína inibe o transportador de NE
nares simpáticos nas colunas intermédio-laterais da medula espi-
nal. Os axônios pré-ganglionares projetam-se para os gânglios
simpáticos, onde liberam acetilcolina. Esse neurotransmissor ATP H+ ADP
inicia potenciais pós-sinápticos excitatórios nos neurônios pós-
ganglionares, ativando os receptores nicotínicos de acetilcolina Cocaína
(ACh) (canais seletivos de cátions, que despolarizam a mem- VMAT NET
brana neuronal). Os bloqueadores ganglionares, como o hexa- NE
H+
metônio e a mecamilamina, bloqueiam o receptor nicotínico
NE NE NE
de ACh ganglionar, sem exercer efeitos significativos sobre os
NE
receptores de ACh do músculo esquelético (ver Cap. 8). Os NE NE
NE
axônios pós-ganglionares simpáticos formam varicosidades ou
sinapses en passant nos órgãos-alvo ou sobre eles. A chegada
de um potencial de ação nessas terminações abre os canais
de Ca2+ regulados por voltagem, e o conseqüente influxo de
Ca2+ deflagra o processo de exocitose das vesículas sinápticas C A reserpina inibe o VMAT
contendo catecolaminas. A norepinefrina sofre rápida difusão
da varicosidade pré-sináptica e regula localmente as respostas
teciduais (por exemplo, tônus do músculo liso) através da ativa- ATP H+ ADP
ção dos receptores adrenérgicos pós-sinápticos (com a notável
exceção de que a ACh é o transmissor utilizado nas terminações
nervosas simpáticas das glândulas sudoríparas). Recentemen- VMAT NET
te, foi constatado que os receptores adrenérgicos também se Na+
localizam em terminações nervosas pré-sinápticas, e isso pode
constituir um mecanismo auto-regulador para modular a exten- NE
NE
são da liberação de neurotransmissor. NE
NE

Reserpina
RECAPTAÇÃO E METABOLISMO DAS
CATECOLAMINAS
Quando uma molécula de catecolamina exerce seu efeito em Fig. 9.2 Mecanismos de ação da cocaína e da reserpina. A. A norepinefrina
um receptor pós-sináptico, a resposta é levada a seu término (NE) que foi liberada na fenda sináptica pode ser captada no citoplasma
por um de três mecanismos: (1) recaptação de catecolaminas do neurônio pré-sináptico pelo transportador de NE seletivo (NET), um co-
no neurônio pré-sináptico; (2) metabolismo das catecolaminas a transportador de Na+-NE. A NE citoplasmática é concentrada em vesículas
um metabólito inativo; e (3) difusão das catecolaminas a partir sinápticas pelo transportador de monoaminas vesicular (VMAT) não-seletivo,
da fenda sináptica. Os dois primeiros mecanismos exigem pro- um antiportador de H+-monoaminas. Uma H+-ATPase utiliza a energia da
teínas de transporte específicas ou enzimas e, por conseguinte, hidrólise do ATP para concentrar prótons nas vesículas sinápticas, gerando,
constituem alvos para intervenção farmacológica. assim, um gradiente de H+ transmembrana. Esse gradiente de H+ é utilizado
A recaptação de catecolaminas no citoplasma neuronal é pelo VMAT para impulsionar o transporte de monoamina na vesícula sináptica.
mediada por um transportador seletivo de catecolaminas (por B. A cocaína inibe o transportador de NE, permitindo a permanência da
exemplo, transportador de norepinefrina ou NET), também NE liberada na fenda sináptica por um maior período de tempo. Através
conhecido como Captação 1 (Fig. 9.2). Este simportador utiliza desse mecanismo, a cocaína potencializa a neurotransmissão nas sinapses
o gradiente de Na+ de direção interna para concentrar as cate- adrenérgicas. C. A reserpina inibe o transportador de monoaminas vesicular,
colaminas no citoplasma das terminações nervosas simpáticas, impedindo o reenchimento das vesículas sinápticas com NE e levando
limitando, assim, a resposta pós-sináptica e permitindo aos à depleção do neurotransmissor na terminação adrenérgica. Através
neurônios reciclar o transmissor para liberação subseqüente. desse mecanismo, a reserpina inibe a neurotransmissão nas sinapses
No interior da terminação nervosa, as catecolaminas podem adrenérgicas.
120 | Capítulo Nove

ser ainda mais concentradas em vesículas sinápticas através membros da superfamília de receptores acoplados à proteína
do VMAT, o mesmo transportador utilizado para o transporte G (ver Cap. 1).
da dopamina na vesícula para a síntese de catecolaminas. Por Ambos os receptores adrenérgicos ␣ e ␤ estão acoplados
conseguinte, o reservatório de catecolaminas disponível para a proteínas de suporte citoplasmáticas que, por sua vez, estão
liberação provém de duas fontes: as moléculas que são sinte- acopladas a cascatas de sinalização distais. Por exemplo, os
tizadas de novo e as moléculas que são recicladas através de receptores ␤1 interagem com uma série de elementos citoes-
recaptação neuronal. queléticos, denominados proteínas PDZ. Os membros da famí-
O metabolismo das catecolaminas envolve as duas enzimas: lia de proteínas PDZ medeiam funções reguladoras, incluindo
a MAO e a catecol-O-metiltransferase (COMT) (Fig. 9.3). internalização dos receptores e acoplamento a proteínas adapta-
A MAO é uma enzima mitocondrial que é expressa na maioria doras, como Grb2 ou fatores de troca de guanina-nucleotídios,
dos neurônios. Ocorre em duas isoformas: a MAO-A e a MAO- que regulam pequenas proteínas G monoméricas. Além disso,
B. As duas isoformas possuem algum grau de especificidade uma série de estudos biofísicos, bioquímicos e estruturais reve-
de ligante: a MAO-A degrada preferencialmente a serotonina, laram que muitos receptores acoplados à proteína G, incluindo
a norepinefrina e a dopamina, enquanto a MAO-B degrada a os receptores adrenérgicos, formam dímeros funcionais. Por
dopamina mais rapidamente do que a serotonina e a norepinefri- exemplo, os receptores ␤1 podem formar homodímeros, bem
na. A COMT é uma enzima citosólica expressa primariamente como heterodímeros com receptores adrenérgicos ␤2, recepto-
no fígado. res adrenérgicos ␣2 e receptores de opiáceos ␦. As implicações
funcionais dessas estruturas quaternárias não estão bem esclare-
cidas, porém a formação de heterodímeros sugere, no mínimo,
RECEPTORES DE CATECOLAMINAS um mecanismo para a regulação de receptores heterólogos.
Os receptores adrenérgicos (também denominados adreno-
receptores) são seletivos para a norepinefrina e a epinefrina. Receptores ␣-Adrenérgicos
A dopamina em concentrações suprafisiológicas também pode
ativar alguns adreno-receptores. Esses receptores são dividi- Os receptores ␣-adrenérgicos são divididos em subclasses ␣1
dos em duas classes principais, denominadas ␣ e ␤. Todas e ␣2 (Quadro 9.1). A maioria dos receptores ␣1 efetua a sua
as classes e subclasses de receptores de catecolaminas são sinalização através de vias mediadas por Gq, que geram IP3,
que mobiliza as reservas intracelulares de Ca2+, e DAG, que
ativa a proteinocinase C. Os receptores ␣1 são expressos no
Neurotransmissor
músculo liso vascular, no músculo liso do trato genitourinário,
OH
no músculo liso intestinal, no coração e no fígado. Nas célu-
HO NH2 las musculares lisas vasculares, a estimulação dos receptores
Catecol-O- Monoamina oxidase ␣1 aumenta o [Ca2+] intracelular, a ativação da calmodulina,
metiltransferase HO (MAO) a fosforilação da cadeia leve de miosina, a interação actina–
(COMT) Norepinefrina OH miosina aumentada e a contração muscular (ver Cap. 21). Por
HO H
conseguinte, o subtipo de receptor ␣1 é importante para mediar
OH
O NH2 HO
O elevações da pressão arterial, e os antagonistas dos receptores
Aldeído
redutase DOPGAL ␣1 constituem uma terapia lógica para a hipertensão. Como a
HO ativação dos receptores ␣1 também provoca contração do mús-
Aldeído
Normetanefrina OH desidrogenase culo genitourinário, os antagonistas dos receptores ␣1 são uti-
HO OH lizados clinicamente no tratamento sintomático da hipertrofia
MAO OH prostática (ver adiante).
HO HO OH Os receptores ␣2-adrenérgicos ativam a Gi, uma proteína G
DOPEG
OH
O inibitória. A Gi exerce múltiplas ações de sinalização, incluindo
O H HO
DOMA
inibição da adenilil ciclase (diminuindo, assim, os níveis de
HO
O COMT cAMP), ativação dos canais de K+ retificadores internamente
MOPGAL Aldeído dirigidos acoplados à proteína G (que provocam hiperpolari-
COMT
redutase OH zação da membrana) e inibição dos canais de Ca2+ neuronais.
O OH Cada um desses efeitos tende a diminuir a liberação de neu-
OH
O OH
rotransmissor do neurônio-alvo. Os receptores ␣2 são encon-
HO
MOPEG
trados tanto em neurônios pré-sinápticos quanto nas células
HO
O
pós-sinápticas. Os receptores ␣2 pré-sinápticos atuam como
Aldeído Ácido auto-receptores para mediar a inibição da transmissão sinápti-
vanililmandélico (VMA)
desidrogenase ca por retroalimentação. Os receptores ␣2 também são expres-
sos nas células ␤ do pâncreas e nas plaquetas, onde medeiam
Principal metabólito
(excretado na urina)
a inibição da liberação de insulina e a inibição da agregação
plaquetária, respectivamente. Esta última observação levou ao
Fig. 9.3 Metabolismo da norepinefrina. A norepinefrina é degradada
a metabólitos por duas enzimas principais. A catecol-O-metiltransferase
desenvolvimento de agentes que atuam como inibidores especí-
(COMT) é uma enzima citosólica amplamente distribuída; a COMT no fígado ficos dos receptores ␣2 plaquetários (ver adiante). Entretanto, a
é particularmente importante no metabolismo das catecolaminas circulantes. principal abordagem farmacológica dos receptores ␣2 tem sido
A monoamina oxidase (MAO), que se localiza na superfície externa das no tratamento da hipertensão. Os agonistas dos receptores ␣2
mitocôndrias, é encontrada em muitos neurônios monoaminérgicos (incluindo atuam em locais do SNC para diminuir a descarga simpática
adrenérgicos). A COMT, a MAO, a aldeído redutase e a aldeído desidrogenase
metabolizam as catecolaminas e múltiplos intermediários, que são finalmente na periferia, resultando em diminuição da liberação de nore-
excretados. O ácido vanililmandélico (VMA) é o principal metabólito excretado pinefrina nas terminações nervosas simpáticas e, portanto, em
na urina. diminuição da contração do músculo liso vascular.
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QUADRO 9.1 Ações dos Receptores Adrenérgicos


SUBTIPO DE RECEPTOR MEDIADORES DA SINALIZAÇÃO TECIDO EFEITOS
␣1 Gq/Gi/Go Músculo liso vascular Contração
Músculo liso genitourinário Contração
Músculo liso intestinal Relaxamento
Coração ↑ Inotropismo e excitabilidade
Fígado Glicogenólise e gliconeogênese
␣2 Gi/Go Células ␤ do pâncreas ↓ Secreção de insulina
Plaquetas Agregação
Nervo ↓ Liberação de norepinefrina
Músculo liso vascular Contração
␤1 Gs Coração ↑ Cronotropismo e inotropismo
Coração ↑ Velocidade de condução do nó AV
Células justaglomerulares renais ↑ Secreção de renina
␤2 Gs Músculo liso Relaxamento
Fígado Glicogenólise e gliconeogênese
Músculo esquelético Glicogenólise e captação de K+
␤3 Gs Tecido adiposo Lipólise

Receptores ␤-Adrenérgicos nistas dos receptores ␤1-adrenérgicos também são utilizados na


prevenção de um segundo infarto do miocárdio em pacientes
Os receptores ␤-adrenérgicos são divididos em três subclasses,
que já sofreram infarto, bem como no tratamento da insufi-
denominadas ␤1, ␤2 e ␤3 (Quadro 9.1). Todas as três subclasses
ciência cardíaca leve a moderada. Como os antagonistas dos
ativam uma proteína G estimuladora, Gs. A Gs ativa a adenilil
receptores ␤-adrenérgicos reduzem a velocidade de condução
ciclase, resultando em elevação dos níveis de cAMP intrace-
lular. O aumento do cAMP ativa proteinocinases (particular- do nó AV, esses agentes são utilizados no tratamento de algumas
mente a proteinocinase A), que fosforilam proteínas celulares, formas de taquicardia supraventricular (ver Cap. 18).
incluindo canais iônicos. A natureza exata das diferenças de Os receptores ␤2-adrenérgicos são expressos no músculo
sinalização entre os subtipos de receptores ␤-adrenérgicos não liso, no fígado e no músculo esquelético. No músculo liso,
está bem esclarecida, visto que todos parecem acoplar-se de a ativação dos receptores estimula a Gs, a adenilil ciclase, o
modo eficiente à Gs. Foi sugerido que a especificidade pode ser cAMP e a proteinocinase A. A proteinocinase A fosforila diver-
conferida pela composição exata das subunidades da proteína sas proteínas contráteis, especialmente a cinase da cadeia leve
G encontrada no complexo receptor. Por conseguinte, a sele- de miosina. A fosforilação da cinase da cadeia leve de miosina
tividade farmacológica parece residir na distribuição tecidual diminui a sua afinidade pela cálcio-calmodulina, resultando em
específica de cada subtipo de receptores ␤-adrenérgicos e, pos- relaxamento do aparelho contrátil. As evidências disponíveis
sivelmente, na ativação das vias de sinalização distais especí- também sugerem que a ativação dos receptores ␤2-adrenérgicos
ficas de cada tecido. pode relaxar o músculo liso brônquico através de ativação dos
Os receptores ␤1-adrenérgicos localizam-se primariamente canais de Gs independente da K+. O efluxo aumentado de K+
no coração e nos rins. Nos rins, são encontrados principalmente leva à hiperpolarização das células musculares lisas brônquicas
nas células justaglomerulares renais, onde a ativação do recep- e, portanto, opõe-se à despolarização necessária para produzir
tor induz a liberação de renina (ver Cap. 20). A estimulação contração. Devido ao profundo relaxamento do músculo liso
dos receptores ␤1 cardíacos provoca aumento tanto no inotro- brônquico mediado pelos receptores ␤, os agonistas ␤2 inala-
pismo (força da contração) quanto no cronotropismo (freqüên- dos constituem fármacos especialmente úteis no tratamento da
cia cardíaca). O efeito inotrópico é mediado pela fosforilação asma. Nos hepatócitos, a ativação da cascata de sinalização
aumentada dos canais de Ca2+, incluindo os canais de cálcio da Gs dá início a uma série de eventos de fosforilação intra-
no sarcolema e fosfolambam no retículo sarcoplasmático (ver celulares, que resultam em ativação da glicogênio-fosforilase
Cap. 19). O aumento do cronotropismo resulta de um aumento e catabolismo do glicogênio. Por conseguinte, o resultado da
mediado pelos receptores ␤1 na taxa de despolarização da fase estimulação dos hepatócitos pelos receptores ␤2-adrenérgicos
4 das células marca-passo do nó sinoatrial. Ambos os efeitos consiste em aumento dos níveis plasmáticos de glicose. No
contribuem para um aumento do débito cardíaco (lembre que músculo esquelético, a ativação dessas mesmas vias de sinali-
o débito cardíaco = freqüência cardíaca ⫻ volume sistólico). zação estimula a glicogenólise e promove a captação de K+.
A ativação dos receptores ␤1 também aumenta a velocidade Recentemente, foi descoberto que os receptores ␤3-adrenér-
de condução no nó atrioventricular (AV), visto que o aumento gicos são expressos especificamente no tecido adiposo. A esti-
da entrada de Ca2+ estimulado pelos receptores ␤1 aumenta da mulação dos receptores ␤3 determina um aumento da lipólise.
taxa de despolarização das células do nó AV. Essa ação fisiológica levou à especulação de que os agonistas
Os efeitos importantes dos receptores ␤-adrenérgicos sobre ␤3 poderiam ser úteis no tratamento da obesidade e do dia-
a força da contração e a freqüência cardíaca fazem com que os betes melito não-insulino-dependente, porém é preciso ainda
antagonistas desse subtipo de receptores constituam agentes de desenvolver esses agentes farmacológicos seletivos para uso
interesse no tratamento da hipertensão e da angina. Os antago- clínico.
122 | Capítulo Nove

REGULAÇÃO DA RESPOSTA DOS RECEPTORES Norepinefrina


A capacidade dos agonistas dos receptores de iniciar uma sinali- A norepinefrina é um agonista nos receptores ␣1 e ␤1, porém
zação distal é proporcional ao número de receptores ativados. possui relativamente pouco efeito sobre os receptores ␤2.
Por conseguinte, a ocorrência de mudanças na densidade dos Devido à ausência de ação nos receptores ␤2, a administra-
receptores existentes sobre a superfície celular irá alterar a ção sistêmica de norepinefrina aumenta não apenas a pressão
eficácia aparente de um agonista. Assim, as alterações tanto arterial sistólica (efeito ␤1), como também a pressão arterial
a curto prazo (dessensibilização) quanto a longo prazo (infra- diastólica e a resistência periférica total. A norepinefrina tam-
regulação) no número de receptores adrenérgicos funcionais bém aumenta a freqüência cardíaca, porém esse efeito é tipi-
são importantes na regulação da resposta do tecido. camente superado pela atividade vagal reflexa em resposta à
Quando um agonista ativa o receptor adrenérgico, a dissocia- elevação da pressão arterial. Por conseguinte, a norepinefrina
ção das proteínas G heterotriméricas leva a uma sinalização dis- aumenta o volume sistólico, porém o débito cardíaco permane-
tal, bem como a um mecanismo de retroalimentação negativa ce inalterado, visto que a freqüência cardíaca é, em última
que limita as respostas dos tecidos. O acúmulo das subunidades análise, diminuída. A norepinefrina é utilizada com freqüência
␤␥ na membrana recruta uma cinase do receptor acoplado à no tratamento de emergência do choque distributivo.
proteína G (GRK), que fosforila o receptor nos resíduos da
extremidade C-terminal, que atuam como importantes alvos Dopamina
de proteínas inativadoras. Alternativamente, a proteinocinase
Apesar de a dopamina ser um neurotransmissor proeminente
A e a proteinocinase C podem fosforilar as proteínas G. O
do SNC, a sua administração sistêmica tem poucos efeitos
estado fosforilado de uma proteína G pode ligar-se a outra
sobre o SNC, visto que ela não atravessa facilmente a barreira
proteína, denominada ␤-arrestina, que inibe estericamente a
hematoencefálica. A dopamina ativa um ou mais subtipos de
interação receptor-proteína G, silenciando efetivamente a sina-
receptores de catecolaminas nos tecidos periféricos, e o efeito
lização do receptor. Em uma escala temporal maior, o complexo
predominante depende da concentração local do composto. Em
receptor–␤-arrestina é seqüestrado, através de um mecanismo
baixas doses (<2 ␮g/kg por min), uma infusão intravenosa con-
dependente de clatrina, em um compartimento endocítico para
tínua de dopamina atua predominantemente sobre os receptores
internalização, um processo denominado infra-regulação.
dopaminérgicos D1 nos leitos vasculares renal, mesentérico e
Cada um desses processos é importante na regulação da res-
coronariano. Os receptores dopaminérgicos D1 ativam a ade-
ponsividade do tecido a curto ou a longo prazo.
nilil ciclase nas células musculares lisas vasculares, resultando
em aumento dos níveis de cAMP e em vasodilatação. Com
EFEITOS FISIOLÓGICOS E FARMACOLÓGICOS DAS uma velocidade suprafisiológica de infusão (2-10 ␮g/kg por
min), a dopamina atua como agente inotrópico positivo através
CATECOLAMINAS ENDÓGENAS da ativação dos receptores ␤1-adrenérgicos. Com velocidades
As catecolaminas endógenas, a epinefrina e a norepinefrina, ainda mais altas de infusão (>10 ␮g/kg por min), a dopamina
atuam como agonistas nos receptores ␣- e ␤-adrenérgicos. Em atua sobre os receptores ␣1-adrenérgicos vasculares, causan-
concentrações suprafisiológicas, a dopamina também pode atu- do vasoconstrição. A dopamina é utilizada no tratamento do
ar como agonista nos receptores ␣ e ␤. O efeito global de cada choque, particularmente nos estados de choque causados por
catecolamina é complexo e depende da concentração do agente baixo débito cardíaco e acompanhados de comprometimento
e da expressão dos receptores específica do tecido. da função renal, resultando em oligúria.

Epinefrina
A epinefrina é um agonista nos receptores tanto ␣- quanto ␤- CLASSES E AGENTES FARMACOLÓGICOS
adrenérgicos. Em baixas concentrações, a epinefrina possui
efeitos predominantemente ␤1 e ␤2, ao passo que, em altas É possível efetuar uma intervenção farmacológica em cada
concentrações, predominam os efeitos ␣1. A epinefrina, através uma das principais etapas da síntese, do armazenamento, da
de sua ação sobre os receptores ␤1, aumenta a força de con- recaptação, do metabolismo e da ativação dos receptores das
tração cardíaca e o débito cardíaco, com conseqüente aumen- catecolaminas. A discussão que se segue apresenta as diver-
to no consumo de oxigênio do coração e na pressão arterial sas classes de agentes por ordem de suas ações sobre as vias
sistólica. A vasodilatação mediada pelos receptores ␤2 provoca adrenérgicas, desde a síntese do neurotransmissor até a ativação
uma redução da resistência periférica e diminuição da pressão do receptor.
arterial diastólica. A estimulação dos receptores ␤2 também
aumenta o fluxo sangüíneo para o músculo esquelético, relaxa
o músculo liso brônquico e aumenta as concentrações de gli-
INIBIDORES DA SÍNTESE DE CATECOLAMINAS
cose e de ácidos graxos livres no sangue. Todos esses efeitos ␤1 Os inibidores da síntese de catecolaminas possuem utilidade
e ␤2 constituem componentes da resposta de “luta-ou-fuga”. A clínica limitada, visto que esses agentes inibem de modo ines-
epinefrina é utilizada no tratamento da crise asmática aguda e pecífico a formação de todas as catecolaminas (ver Fig. 9.1).
anafilaxia; a epinefrina aplicada localmente em altas doses pro- A ␣-metiltirosina é um análogo estrutural da tirosina que é
voca vasoconstrição e prolonga a ação dos anestésicos locais. A transportado nas terminações nervosas, onde inibe a tiroxina
epinefrina possui rápido início e breve duração de ação, sendo hidroxilase, a primeira enzima na via de biossíntese das cateco-
ineficaz por via oral. O aumento da excitabilidade cardíaca laminas. Esse agente é utilizado em certas ocasiões no trata-
induzido pela epinefrina pode levar a arritmias cardíacas, e a mento da hipertensão associada ao feocromocitoma (um tumor
acentuada elevação da pressão arterial pode provocar hemor- de células enterocromafins da medula supra-renal que produz
ragia cerebral. norepinefrina e epinefrina).
Farmacologia Adrenérgica | 123

INIBIDORES DO ARMAZENAMENTO DAS dopamina. A reserpina, quando administrada em baixas doses,


provoca extravasamento do neurotransmissor no citoplasma,
CATECOLAMINAS onde a catecolamina é destruída pela MAO. Em altas doses,
As catecolaminas originam-se de dois reservatórios—a síntese a taxa de extravasamento do neurotransmissor pode ser alta o
de novo e a reciclagem do transmissor. Um agente capaz de suficiente para superar a MAO no neurônio pré-sináptico. Nes-
inibir o armazenamento das catecolaminas nas vesículas pode sas condições, existe uma elevada concentração de transmis-
ter dois efeitos. A curto prazo, esse agente pode aumentar a sor no citoplasma neuronal, e o neurotransmissor pode passar
liberação efetiva das catecolaminas das terminações sinápticas, do plasma para o espaço sináptico por meio do NET atuando
imitando, dessa maneira, a estimulação simpática (“simpatico- de modo inverso. O efluxo de catecolaminas possui um efei-
mimético”). Entretanto, dentro de um período mais longo de to simpaticomimético transitório. Como a inibição do VMAT
tempo, o agente causa depleção do reservatório de catecolami- pela reserpina é irreversível, novas vesículas de armazenamento
nas disponíveis e, portanto, atua como simpaticolítico (inibidor devem ser sintetizadas e transportadas até a terminação nervosa
da atividade simpática) (Fig. 9.4). para restaurar a função vesicular apropriada. A fase de recupe-
A reserpina liga-se firmemente ao antiportador vesicular, ração pode levar dias a semanas após a interrupção da admi-
o VMAT (ver Figs. 9.1 e 9.2). O fármaco provoca lesão irre- nistração de reserpina. A reserpina também pode ser utilizada
versível do VMAT, resultando em vesículas que perdem a sua experimentalmente para avaliar se determinado fármaco precisa
capacidade de concentrar e de armazenar a norepinefrina e a ser concentrado nas terminações pré-sinápticas para exercer a
sua ação. No passado, a reserpina era utilizada no tratamento
da hipertensão. Entretanto, em virtude da natureza irreversível
de sua ação e de sua associação com depressão psicótica, a
A Efeito agudo de um simpaticomimético indireto reserpina deixou de ser interessante, visto que, na atualidade,
dispõe-se de fármacos mais seguros e mais eficazes para o
tratamento da hipertensão.
A tiramina é uma amina, presente na dieta, normalmente
NE metabolizada no trato gastrintestinal e no fígado pela MAO.
NE Em pacientes que fazem uso de inibidores da MAO (IMAO,
G VMAT NET ver adiante), a tiramina é absorvida no intestino, transportada
G NE NE pelo sangue e captada por neurônios simpáticos, onde é trans-
NE portada até as vesículas sinápticas pelo VMAT. Através desse
G G NE
NE mecanismo, um estímulo agudo com grandes quantidades de
NE G NE NE tiramina pode provocar deslocamento agudo da norepinefrina
NE vesicular e liberação não-vesicular maciça de norepinefrina
MAO das terminações nervosas, através de reversão do NET. Ali-
NE
mentos fermentados, como o vinho tinto e o queijo enve-
Mitocôndria
lhecido, possuem altas concentrações de tiramina; este foi
DOPGAL
o motivo pelo qual, no caso descrito na introdução, a Sra. S
sofreu uma crise hipertensiva pouco depois de sua festa de
B Efeito crônico de um simpaticomimético indireto queijos e vinhos. Embora a própria tiramina seja pouco retida
nas vesículas sinápticas, seu metabólito hidroxilado, a octopa-
mina (cuja síntese é catalisada pela dopamina ␤-hidroxilase
vesicular), pode ser armazenado em altas concentrações nas
vesículas. Em condições de tratamento crônico com IMAO e
ingestão dietética modesta de tiramina, a norepinefrina pode
VMAT NET ser gradualmente substituída pela octopamina nas vesículas
G
de armazenamento. Como a octopamina possui atividade ago-
G
G
G NE
nista na maioria dos receptores adrenérgicos de mamíferos,
as respostas pós-sinápticas à estimulação simpática podem
NE G NE diminuir gradualmente, levando, por fim, ao desenvolvimento
de hipotensão postural.
MAO A guanetidina (a exemplo da tiramina) é transportada ati-
vamente nos neurônios pelo NET, onde se concentra nas vesí-
Mitocôndria DOPGAL culas transmissoras e desloca a norepinefrina, resultando em
sua depleção gradual (Fig. 9.4). A guanetidina (à semelhança
Fig. 9.4 Efeitos agudos e crônicos dos simpaticomiméticos indiretos. Os da octopamina) não é um agonista nos receptores adrenér-
simpaticomiméticos indiretos possuem efeitos diferentes sobre a descarga gicos pós-sinápticos, de modo que a sua liberação vesicular
simpática, dependendo de sua administração aguda ou crônica. A. Quando
administrado de modo agudo, um simpaticomimético direto, como a guanetidina
após estimulação simpática não desencadeia uma resposta pós-
(G), desloca a norepinefrina (NE) armazenada nas vesículas sinápticas dos sináptica. No passado, a guanetidina era utilizada no tratamento
neurônios adrenérgicos. Isso resulta em efluxo maciço de norepinefrina da hipertensão não controlada. A guanetidina inibe os nervos
através do transportador de NE que atua de modo reverso; o transbordamento simpáticos cardíacos, resultando em diminuição do débito car-
resultante de norepinefrina na sinapse provoca acentuada estimulação díaco, e bloqueia a vasoconstrição mediada de modo simpático,
simpática. B. Quando administrado de modo crônico, um simpaticomimético resultando em diminuição da pré-carga cardíaca. A hipotensão
indireto, como a guanetidina (G), concentra-se nas vesículas sinápticas e
substitui a norepinefrina. Além disso, a monoamina oxidase (MAO) degrada sintomática que ocorre após o exercício ou na posição ortos-
o pequeno reservatório de norepinefrina que permanece no citoplasma. Ambos tática (hipotensão postural) pode resultar da inibição dessas
os efeitos contribuem para a diminuição da estimulação simpática. respostas simpáticas pela guanetidina.
124 | Capítulo Nove

O guanadrel também atua como falso neurotransmissor. A conseguinte, não é surpreendente que os ATC exibam um perfil
exemplo da guanetidina, esse fármaco pode ser utilizado no proeminente de efeitos adversos. Uma característica essencial
tratamento da hipertensão, porém não constitui mais o agente da terapia com ATC para a depressão consiste na existência de
de primeira linha. O perfil de efeitos adversos do guanadrel um período de latência de várias semanas antes da observação
assemelha-se ao da guanetidina. de uma melhora dos sintomas, embora esses fármacos come-
A anfetamina exerce várias ações adrenérgicas: (1) desloca cem a inibir imediatamente a recaptação de norepinefrina e
as catecolaminas endógenas das vesículas de armazenamento de serotonina. O mecanismo molecular responsável pelo início
(de modo semelhante à tiramina); (2) atua como inibidor fraco tardio dos efeitos benéficos continua sendo objeto de investi-
da MAO; e (3) bloqueia a recaptação de catecolaminas mediada gação. Paradoxalmente, os antidepressivos tricíclicos podem
pelo NET e DAT. Apesar da ligação da anfetamina aos recep- causar hipotensão postural (através de bloqueio ␣-adrenérgico)
tores adrenérgicos pós-sinápticos, possui pouca ação agonista e taquicardia sinusal (através de potencialização da ação da
nos receptores ␣- ou ␤-adrenérgicos. A anfetamina possui efei- norepinefrina sobre os nervos simpáticos cardíacos). Os ATC,
tos acentuados sobre o comportamento, incluindo aumento do quando utilizados em altas doses ou em overdose, podem exer-
estado de alerta, diminuição da fadiga, depressão do apetite e cer um efeito semelhante à quinidina sobre os canais iônicos
insônia. Por conseguinte, tem sido utilizada no tratamento da cardíacos e, portanto, induzir arritmias (ver Cap. 18). Devido
depressão e da narcolepsia (episódios recorrentes de sonolência a seu papel importante no tratamento da depressão, os ATC e
e sono durante as horas do dia), bem como para suprimir o ape- outros inibidores da recaptação, incluindo a duloxetina, um
tite. Seus efeitos adversos podem ser consideráveis, incluindo inibidor serotoninérgico e da recaptação de norepinefrina misto,
fadiga e depressão após o período de estimulação central. são discutidos de modo mais pormenorizado no Cap. 13.
A efedrina, a pseudo-efedrina e a fenilpropanolamina são
agentes estruturalmente relacionados cujas ações são menos
pronunciadas que as da anfetamina. Enquanto a efedrina e a INIBIDORES DO METABOLISMO DAS
fenilpropanolamina têm seu uso restrito nos Estados Unidos, CATECOLAMINAS
a pseudo-efedrina é amplamente utilizada como descongestio-
nante de venda livre, sendo encontrada em alguns remédios Os inibidores da monoamina oxidase (IMAO) impedem a
para resfriado e supressores do apetite. desaminação secundária após recaptação das catecolaminas nas
O metilfenidato, um análogo estrutural da anfetamina, é terminações pré-sinápticas. Por conseguinte, ocorre acúmulo
amplamente utilizado em psiquiatria para o tratamento do trans- de maiores quantidades de catecolaminas nas vesículas pré-
torno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) em sinápticas para liberação durante cada potencial de ação. Os
crianças; acredita-se que seu principal efeito esteja relacionado IMAO são oxidados, em sua maioria, pela IMAO a inter-
com um aumento da atenção. mediários reativos que, em seguida, atuam como inibidores
No caso de todos os agentes relacionados com a anfeta- irreversíveis da IMAO. Os agentes não-seletivos dessa classe
mina, podem ocorrer dependência psicológica e fisiológica e (isto é, agentes que inibem tanto a MAO-A quanto a MAO-B)
tolerância. Esses agentes aumentam a pressão arterial tanto sis- incluem a fenelzina, a iproniazida (o fármaco utilizado no
tólica quanto diastólica, e os indivíduos que fazem uso dessas caso da introdução) e a tranilcipromina. Os inibidores sele-
substâncias podem apresentar agitação, tontura, tremor, irrita- tivos incluem a clorgilina, que é seletiva para a MAO-A, e a
bilidade, confusão, agressividade, disfunção erétil, ansiedade, selegilina, que é seletiva para a MAO-B. A brofaromina, a
alucinações paranóides, pânico e ideação suicida ou homicida. befloxatona, e a moclobemida são inibidores reversíveis mais
A gravidade do perfil de efeitos adversos está relacionada com recentes da MAO-A.
a eficácia do agente específico como estimulante do SNC. A A exemplo dos antidepressivos tricíclicos, os IMAO são
metanfetamina (ou “crank”, “cristal”, “bolinha”, “speed”, utilizados no tratamento da depressão. A selegilina também
“co-piloto” ou “pílula da morte”) é uma importante droga de foi aprovada para o tratamento da doença de Parkinson; seu
abuso. mecanismo de ação pode incluir tanto a potencialização da
dopamina nos neurônios nigroestriatais remanescentes quanto
a diminuição da formação de intermediários neurotóxicos. Con-
INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DE CATECOLAMINAS forme assinalado anteriormente, os pacientes em uso de IMAO
Os inibidores da recaptação de catecolaminas podem exercer devem evitar o consumo de certos alimentos fermentados con-
um efeito simpaticomimético agudo e poderoso ao prolongar o tendo grandes quantidades de tiramina e outras monoaminas,
tempo de permanência do neurotransmissor liberado na fenda visto que os IMAO bloqueiam a desaminação oxidativa dessas
sináptica. A cocaína é um potente inibidor do NET; ao contrário monoaminas no trato gastrintestinal e no fígado, permitindo a
de outros inibidores da captação (como a imipramina e a fluoxe- sua entrada na circulação e desencadeando uma crise hiperten-
tina), a cocaína elimina essencialmente o transporte de cateco- siva. O uso concomitante de IMAO e de inibidores seletivos da
laminas (ver Fig. 9.2). A cocaína é uma substância controlada recaptação de serotonina (ISRS) também está contra-indicado,
com alto potencial de dependência. É utilizada ocasionalmente visto que pode precipitar a síndrome da serotonina, caracte-
como anestésico local (ver Cap. 10), porém o seu papel mais rizada por inquietação, tremores, convulsões e, possivelmente,
importante é como droga de abuso (ver Cap. 17). coma e morte. Os inibidores reversíveis da MAO-A podem ter
Os antidepressivos tricíclicos (ATC), como a imipramina menos tendência a provocar efeitos adversos e interações. Os
e a amitriptilina, inibem a recaptação de norepinefrina media- IMAO e os ISRS também são discutidos nos Caps. 12 e 13.
da pelo NET nas terminações pré-sinápticas, permitindo, assim,
o acúmulo de norepinefrina na fenda sináptica. Entretanto, os AGONISTAS DOS RECEPTORES
ATC são promíscuos, inibindo a recaptação tanto da seroto-
nina quanto da norepinefrina nas terminações pré-sinápticas, Devido ao importante papel desempenhado pelos receptores
além de bloquear os receptores serotoninérgicos, ␣-adrenérgi- adrenérgicos na mediação do tônus vascular, do tônus do mús-
cos, histaminérgicos e muscarínicos em doses terapêuticas. Por culo liso e da contratilidade cardíaca, os agonistas e antagonis-
Farmacologia Adrenérgica | 125

tas seletivos desses receptores constituem a base da terapia para insulina. Como o isoproterenol é um ativador não-seletivo dos
a hipertensão, a asma e o infarto do miocárdio. Na discussão receptores ␤1- e ␤2-adrenérgicos, e o seu uso para alívio da
que se segue, os agentes são organizados de acordo com a sua broncoconstrição na asma é freqüentemente acompanhado de
especificidade pelos subtipos de receptores (ver Quadro 9.1 efeitos colaterais cardíacos indesejáveis, o uso desse fármaco
para uma visão geral dos subtipos de receptores importantes). foi suplantado, em grande parte, por agonistas ␤2-seletivos mais
novos (ver adiante).
Agonistas ␣-Adrenérgicos A dobutamina tem sido classicamente descrita como ago-
nista ␤1-seletivo. Entretanto, sabe-se, hoje em dia, que o efeito
Os agonistas adrenérgicos ␣1-seletivos aumentam a resistência global da dobutamina depende dos efeitos diferenciais dos dois
vascular periférica e, portanto, mantêm ou elevam a pressão estereoisômeros contidos na mistura racêmica (ver Cap. 1 para
arterial. Esses fármacos também podem causar bradicardia uma discussão dos estereoisômeros). O isômero (–) atua como
sinusal através da ativação de respostas vagais reflexas. Os agonista ␣1 e como agonista ␤1 fraco, enquanto o isômero (+)
agonistas ␣1 de administração sistêmica, como a metoxamina, atua como antagonista ␣1 e agonista ␤1 potente. As propriedades
têm aplicação clínica limitada; entretanto, são algumas vezes agonista ␣1 e antagonista anulam-se efetivamente uma à outra
utilizados no tratamento do choque. Diversos agonistas ␣1 de quando se administra a mistura racêmica, e o resultado clínico
administração tópica, como a fenilefrina, a oximetazolina e observado é aquele produzido por um agonista ␤1-seletivo. A
a tetraidrazolina, são utilizados nos medicamentos de venda dobutamina possui efeitos inotrópicos mais proeminentes do
livre Afrin® e Visine® (e outros) para produzir contração do que cronotrópicos, resultando em aumento da contratilidade e
músculo liso vascular no alívio sintomático da congestão nasal do débito cardíaco. A dobutamina é utilizada clinicamente no
e hiperemia oftálmica. Infelizmente, o uso desses medicamen- tratamento agudo da insuficiência cardíaca.
tos é freqüentemente acompanhado de hipersensibilidade de Os agonistas ␤2-seletivos mostram-se valiosos no tratamento
rebote e retorno dos sintomas. A fenilefrina também é adminis- da asma, visto que a estimulação dos receptores ␤1-adrenérgicos
trada por via intravenosa no tratamento do choque. no coração por agonistas ␤ não-seletivos provoca efeitos cola-
A clonidina é o agonista ␣2 mais bem caracterizado. Esse terais cardíacos desconfortáveis (e, em certas ocasiões, perigo-
fármaco é comumente prescrito para tratamento da hipertensão. sos). Os dispositivos de liberação de fármacos facilitaram ainda
A clonidina também é utilizada como agente simpaticolítico no mais a estimulação seletiva dos receptores ␤2-adrenérgicos no
tratamento dos sintomas associados à abstinência de drogas. tecido-alvo. Por exemplo, o uso de inaladores com aerossóis
Os efeitos colaterais consistem em bradicardia causada pela permite a liberação da dose nas vias aéreas distais, onde o fár-
redução da atividade simpática e aumento da atividade vagal, maco é mais necessário. A liberação do fármaco nos pulmões
bem como boca seca e sedação. Outros agonistas ␣2 de ação também diminui a quantidade liberada sistemicamente, limitan-
central incluem os agentes raramente utilizados guanabenzo do, assim, a ativação dos receptores ␤1 cardíacos e receptores
e guanfacina. Esses fármacos apresentam um perfil de efeitos ␤2 do músculo esquelético. Os efeitos mais importantes desses
adversos semelhante ao da clonidina. agentes consistem em relaxamento do músculo liso brônqui-
A ␣-metildopa é um precursor (pró-fármaco) do agonista co e diminuição da resistência das vias aéreas. Entretanto, os
␣2, ␣-metilnorepinefrina. As enzimas endógenas catalisam o agonistas ␤2-seletivos não são totalmente específicos para os
metabolismo da metildopa a metilnorepinefrina, e a ␣-metil- receptores ␤2, e os efeitos adversos podem consistir em tremor
norepinefrina é então liberada pela terminação nervosa adre- do músculo esquelético (através de estimulação ␤2) e taquicar-
nérgica, onde pode atuar no nível pré-sináptico como agonista dia (através de estimulação ␤1).
␣2. Essa ação resulta em diminuição da descarga simpática do O metaproterenol é o protótipo dos agonistas ␤2-seletivos.
SNC e conseqüente redução da pressão arterial em pacientes Esse fármaco é utilizado no tratamento da doença obstrutiva
hipertensos. Como o uso da ␣-metildopa pode estar associado das vias aéreas e broncoespasmo agudo. A terbutalina e o
à ocorrência rara de hepatotoxicidade e anemia hemolítica auto- salbutamol são dois outros agentes dessa classe que possuem
imune, esse fármaco não constitui um agente de primeira linha eficácia e duração de ação semelhantes. O salmeterol é um
no tratamento da hipertensão. Entretanto, como demonstrou ser agonista ␤2 de ação longa, cujos efeitos duram cerca de 12
mais segura do que outros agentes anti-hipertensivos em mulhe- horas. A utilidade clínica dos agonistas ␤2-seletivos é discutida
res grávidas, a ␣-metildopa constitui freqüentemente o fármaco de modo mais pormenorizado no Cap. 46.
de escolha no tratamento da hipertensão durante a gravidez.
ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES
Agonistas ␤-Adrenérgicos
Devido ao amplo espectro de estados mórbidos que respon-
A estimulação dos receptores ␤1-adrenérgicos provoca aumento dem à modulação da atividade dos receptores adrenérgicos, os
da freqüência cardíaca e da força de contração, resultando em antagonistas dos receptores ␣- e ␤-adrenérgicos estão entre os
aumento do débito cardíaco, enquanto a estimulação dos recep- medicamentos mais amplamente utilizados na prática clínica.
tores ␤2-adrenérgicos causa relaxamento do músculo liso vascu-
lar, brônquico e gastrintestinal. O isoproterenol é um agonista
␤ não-seletivo, que pode ser utilizado para aliviar a broncocons- Antagonistas ␣-Adrenérgicos
trição. Esse fármaco diminui a resistência vascular periférica e a Os antagonistas ␣-adrenérgicos bloqueiam a ligação das cateco-
pressão arterial diastólica (efeito ␤2), enquanto a pressão arterial laminas endógenas aos receptores ␣1- e ␣2-adrenérgicos. Esses
sistêmica permanece inalterada ou ligeiramente elevada (efeito agentes causam vasodilatação, redução da pressão arterial e
␤1). Como o isoproterenol é um agente inotrópico positivo (que diminuição da resistência periférica. O reflexo barorreceptor
aumenta a contratilidade cardíaca) e cronotrópico (que aumenta procura habitualmente compensar a queda da pressão arte-
a freqüência cardíaca), ocorre aumento do débito cardíaco. O rial, resultando em aumentos reflexos da freqüência cardíaca
isoproterenol provoca menos hiperglicemia do que a epinefrina, e do débito cardíaco. A fenoxibenzamina bloqueia irrever-
visto que ele estimula a ativação ␤-adrenérgica da secreção de sivelmente tanto os receptores ␣1 quanto ␣2. O bloqueio dos
126 | Capítulo Nove

receptores ␣1 resulta em diminuição progressiva da resistência Antagonistas ␤-Adrenérgicos


periférica. Esse efeito leva, por sua vez, a um aumento do débito
Os antagonistas ␤-adrenérgicos bloqueiam as ações cronotrópi-
cardíaco através de estimulação nervosa simpática reflexa. O
cas e inotrópicas positivas das catecolaminas endógenas nos
bloqueio dos auto-receptores ␣2 permite a liberação de maior
receptores ␤1, resultando em diminuição da freqüência cardíaca
quantidade de norepinefrina pelos neurônios noradrenérgicos, e e da contratilidade do miocárdio. Esses fármacos reduzem a
verifica-se o desenvolvimento de taquicardia em conseqüência pressão arterial nos pacientes hipertensos, porém carecem de
do aumento da estimulação dos receptores ␤1. Além disso, a efeito nos indivíduos normotensos. O uso a longo prazo de blo-
fenoxibenzamina inibe a captação de catecolaminas tanto nas queadores dos receptores ␤-adrenérgicos provoca uma queda
terminações nervosas adrenérgicas quanto nos tecidos extra- da resistência vascular periférica, embora o mecanismo desse
neuronais. Em virtude de seus numerosos efeitos diretos e indi- efeito permaneça incerto. Tanto a diminuição da resistência vas-
retos sobre o sistema nervoso simpático, a fenoxibenzamina é cular periférica quanto a redução do débito cardíaco contribuem
geralmente utilizada apenas na conduta pré-operatória do feo- para o efeito anti-hipertensivo desses fármacos. Os antagonis-
cromocitoma. A fentolamina é um antagonista dos receptores tas dos receptores ␤-adrenérgicos não-seletivos também blo-
␣-adrenérgicos não-seletivo e reversível. Esse fármaco também queiam os receptores ␤2 no músculo liso brônquico, podendo
pode ser utilizado na conduta pré-operatória do feocromocito- causar broncoconstrição potencialmente fatal em pacientes
ma. A fentolamina foi o fármaco ideal para uso no caso descrito com asma ou com doença pulmonar obstrutiva crônica. Além
na introdução, visto que bloqueou a vasoconstrição mediada disso, o bloqueio não-seletivo dos receptores ␤ pode mascarar
pelos receptores ␣-adrenérgicos responsável pela hipertensão os sintomas de hipoglicemia em pacientes diabéticos. Por essas
da Sra. S. razões, foram desenvolvidos inibidores seletivos dos receptores
O prazosin possui uma afinidade 1.000 vezes maior pelos ␤1-adrenérgicos.
receptores ␣1 do que pelos receptores ␣2. O bloqueio seletivo Os antagonistas farmacológicos dos receptores ␤-adrenérgi-
dos receptores ␣1 exercido pelo prazosin nas arteríolas e nas cos podem ser divididos em antagonistas ␤ não-seletivos, anta-
veias resulta em diminuição da resistência vascular periférica gonistas ␤ e ␣1 não-seletivos, agonistas parciais e antagonistas
e dilatação dos vasos venosos (de capacitância). Este último ␤1-seletivos (Quadro 9.2). Os bloqueadores seletivos dos recep-
efeito diminui o retorno venoso ao coração. Devido a essa redu- tores ␤2-adrenérgicos não têm nenhuma utilidade clínica.
ção da pré-carga cardíaca, o prazosin tem pouca tendência a O propranolol, o nadolol e o timolol interagem igualmente
aumentar o débito cardíaco e a freqüência cardíaca. Por con- com os receptores ␤1 e ␤2 e não bloqueiam os receptores ␣.
seguinte, não ocorre tipicamente taquicardia reflexa. Em certas Esses agentes são utilizados no tratamento da hipertensão e da
ocasiões, o prazosin é utilizado como agente anti-hipertensivo. angina. O propranolol é extremamente lipofílico; na presença
Como os pacientes podem sofrer acentuada hipotensão postural de níveis plasmáticos terapêuticos, a concentração alcançada no
e síncope com a primeira dose, esta dose é geralmente pres- SNC é alta o suficiente para resultar em sedação e diminuição
crita em pequenas quantidades ao deitar (para assegurar que o da libido. Utiliza-se uma formulação ocular de timolol no tra-
paciente permaneça em decúbito). Outros agentes dessa classe tamento do glaucoma.
incluem o terazosin e o doxazosin; esses fármacos apresentam O labetalol e o carvedilol bloqueiam os receptores ␣1, ␤1
meia-vida mais longa do que o prazosin, permitindo o uso de e ␤2 (o labetalol também atua como agonista parcial fraco nos
doses menos freqüentes. receptores ␤2, porém possui um efeito 5 a 10 vezes maior como
Como os receptores ␣1-adrenérgicos medeiam a contra-
ção do músculo liso tanto genitourinário quanto vascular, os
antagonistas ␣1 possuem notável aplicação clínica no trata- QUADRO 9.2 Seletividade dos Antagonistas dos Receptores
mento sintomático da hiperplasia prostática benigna (HPB). Beta-Adrenérgicos
Os antagonistas dos receptores ␣1-adrenérgicos podem ser
mais eficazes do que a finasterida (um inibidor da 5␣-reduta- FÁRMACO NOTAS
se; ver Cap. 28) no tratamento clínico da HPB. Recentemen-
Antagonitas ␤-Adrenérgicos Não-Seletivos
te, foi descoberto que existem três subtipos de receptores
Propranolol Meia-vida curta
␣1, denominados ␣1A, ␣1B e ␣1C. As evidências indicam uma
Nadolol Meia-vida longa
expressão preferencial do receptor ␣1A no músculo liso geni-
Timolol Lipofílico, alta penetração no
tourinário. O tansulosin é um antagonista específico dos SNC
receptores ␣1A; esse fármaco exerce pouco efeito sobre os
subtipos ␣1B ou ␣1C. A especificidade aumentada do tansu- Antagonistas ␤ e ␣1 Não-Seletivos
losin para os receptores ␣1A pode diminuir a incidência de Labetalol Também agonista parcial nos
hipotensão ortostática em relação àquela associada ao pra- receptores ␤2
zosin e a outros antagonistas seletivos dos receptores ␣1- Carvedilol Meia-vida intermediária
adrenérgicos sem subtipos. Agonistas Parciais ␤-Adrenérgicos
O bloqueio seletivo dos auto-receptores ␣2 por fármacos Pindolol ␤ não-seletivo
como a ioimbina resulta em liberação aumentada de norepi- Acebutolol ␤1-seletivo
nefrina, com estimulação subseqüente dos receptores ␤1 cardía-
cos e receptores ␣2 da vasculatura periférica. Os antagonistas Antagonistas Adrenérgicos ␤1-Seletivos
␣2-seletivos também provocam um aumento na liberação de Esmolol Meia-vida curta (4 minutos)
insulina através de bloqueio dos receptores ␣2 nas ilhotas do Metoprolol Meia-vida intermediária
pâncreas, suprimindo a secreção de insulina. A ioimbina foi Atenolol Meia-vida intermediária
utilizada no passado para o tratamento da disfunção erétil; toda- Celiprolol Também agonista nos
via, o seu uso foi amplamente substituído pelos inibidores da receptores ␤2
fosfodiesterase tipo 5. SNC, sistema nervoso central.
Farmacologia Adrenérgica | 127

␤-bloqueador). O bloqueio dos receptores ␣1 resulta em vasodi- n Conclusão e Perspectivas Futuras


latação, enquanto o bloqueio ␤1 impede um aumento simpático
A farmacologia adrenérgica envolve fármacos que atuam em
reflexo da freqüência cardíaca; ambos os efeitos contribuem
cada etapa da neurotransmissão adrenérgica, desde a síntese de
para uma redução da pressão arterial. Como o labetalol pode
catecolaminas até a estimulação dos receptores ␣ e ␤. Os fár-
causar lesão hepática, devem-se efetuar provas de função hepá-
macos discutidos neste capítulo constituem a base da terapia de
tica regularmente em pacientes em uso desse fármaco. Tanto o
labetalol quanto o carvedilol são prescritos para o tratamento transtornos psiquiátricos, da hipertensão, da angina, do choque,
da hipertensão; ainda não foram demonstradas as vantagens e da asma, do feocromocitoma e de outras afecções. Com base
desvantagens a longo prazo desses fármacos em relação àquelas no conhecimento de seus mecanismos moleculares e celulares
de outros bloqueadores ␤. de ação e de como essas ações afetam os processos da neuro-
O pindolol é um agonista parcial nos receptores ␤1 e ␤2. O transmissão adrenérgica, é possível antecipar as ações farma-
fármaco bloqueia a ação da norepinefrina endógena nos recep- cológicas benéficas desses fármacos, bem como seus efeitos
tores ␤1 e mostra-se útil no tratamento da hipertensão. Como adversos importantes. Por exemplo, experimentos de clonagem
agonista parcial, o pindolol também provoca estimulação par- gênica identificaram três subtipos de receptores ␣1 e três subti-
cial dos receptores ␤1, resultando em menor redução global pos de receptores ␣2. A relevância clínica desses subtipos ainda
da freqüência cardíaca em repouso e da pressão arterial em não foi totalmente estabelecida, porém o desenvolvimento de
comparação com aquela produzida por antagonistas ␤ puros. agonistas e antagonistas mais seletivos poderá levar a terapias
Por conseguinte, o pindolol pode ser preferível para pacien- mais efetivas (e menos tóxicas) para a hipertensão e a hiper-
tes hipertensos que apresentam bradicardia ou diminuição da trofia prostática. Embora se disponha atualmente de uma ampla
reserva cardíaca. O acebutolol é um agonista parcial nos recep- variedade de bloqueadores ␤ para uso clínico, a conseqüência
tores ␤1-adrenérgicos; todavia, não exerce nenhum efeito nos funcional do uso de determinado bloqueador ␤ numa situação
receptores ␤2. Esse agente também é utilizado no tratamento clínica específica freqüentemente não está ainda delineada. As
da hipertensão. pesquisas futuras irão determinar, por exemplo, se o uso de
O esmolol, o metoprolol e o atenolol são antagonistas adre- um agonista parcial será mais eficaz em certas populações de
nérgicos ␤1-seletivos. A meia-vida de eliminação constitui a pacientes, assim como os parâmetros específicos para uso de
principal característica que diferencia esses agentes. O esmolol antagonistas dos receptores ␤-adrenérgicos em pacientes com
possui uma meia-vida extremamente curta (3–4 min), enquanto insuficiência cardíaca.
o metoprolol e o atenolol têm meias-vidas intermediárias (4–9
horas). Em virtude de sua meia-vida curta, o esmolol é utilizado n Leituras Sugeridas
para bloqueio ␤ de emergência, como no caso da tempesta-
Kirstein SL, Insel PA. Autonomic nervous system pharmacogenomics:
de tireoidiana (ver Cap. 26). Os estudos clínicos realizados a progress report. Pharmacol Rev 2004;56:31–52. (Revisão dos
sugeriram que os bloqueadores ␤, em particular o metoprolol, conceitos atuais de farmacogenômica e sua aplicação na farma-
prolongam a expectativa de vida de pacientes com insuficiência cologia dos adrenoreceptores.)
cardíaca moderada a leve, bem como de pacientes que sobre- Lefkowitz RJ, Shenoy SK. Transduction of receptor signals by beta-
viveram ao primeiro infarto de miocárdio (ver Cap. 24). O arrestins. Science 2005;308:512–517. (Revisão dos avanços recen-
celiprolol é um antagonista ␤1-seletivo e agonista ␤2-seletivo. tes na sinalização adrenérgica.)
Resumo Farmacológico Capítulo 9 Farmacologia Adrenérgica
128

Efeitos Adversos
Fármaco Aplicações Clínicas Graves e Comuns Contra-Indicações Considerações Terapêuticas
|

INIBIDORES DA SÍNTESE DE CATECOLAMINAS


Mecanismo — Inibem a tirosina hidroxilase, a enzima que limita a velocidade na via de biossíntese das catecolaminas
␣-Metiltirosina Hipertensão associada a Hipotensão ortostática, Hipersensibilidade à metiltirosina Raramente utilizada
feocromocitoma sedação
INIBIDORES DO ARMAZENAMENTO DAS CATECOLAMINAS
Capítulo Nove

Mecanismo — Inibem o armazenamento das catecolaminas nas vesículas, resultando em aumento a curto prazo na liberação de catecolaminas das terminações sinápticas, porém com depleção a longo prazo do
reservatório disponível de catecolaminas
Reserpina Hipertensão Arritmias cardíacas, Doença gastrintestinal ativa Provoca lesão irreversível do VMAT, resultando em perda
hemorragia gastrintestinal, Depressão, terapia por eletrochoque da capacidade das vesículas de concentrar e armazenar a
trombocitopenia, pesadelos, Insuficiência renal norepinefrina e a dopamina
transtorno de ansiedade, Utilizada experimentalmente para avaliar se o efeito de um
impotência, depressão fármaco requer a sua concentração nas terminações pré-
psicótica sinápticas
Tontura, congestão nasal Raramente utilizado como agente terapêutico, devido à sua ação
irreversível e associação com depressão psicótica
Guanetidina Hipertensão Doença renal, apnéia Terapia com IMAO A guanetidina concentra-se nas vesículas transmissoras e
Guanadrel Hipotensão ortostática, Insuficiência cardíaca desloca a norepinefrina, resultando em sua depleção gradual;
retenção hídrica, tontura, Feocromocitoma o guanadrel possui um mecanismo de ação semelhante à
visão embaçada, impotência guanetidina
A inibição dos nervos simpáticos cardíacos provoca redução
do débito cardíaco; a inibição da resposta simpática leva à
ocorrência de hipotensão sintomática após exercício físico
Anfetamina Transtorno de déficit de atenção com Hipertensão, taquiarritmias, Doença cardiovascular avançada A anfetamina e o metilfenidato deslocam as catecolaminas
Metilfenidato hiperatividade (TDAH) síndrome de Gilles de Glaucoma endógenas das vesículas de armazenamento, inibem fracamente
Narcolepsia (somente a anfetamina) la Tourette, convulsões, Hipertireoidismo a MAO e bloqueiam a recaptação de catecolaminas mediada
transtorno psicótico com uso Terapia com IMAO pelo NET e DAT; podem ocorrer dependência e tolerância
prolongado Hipertensão grave
Inquietação, humor disfórico,
fadiga de rebote, risco
de dependência, perda
do apetite, irritabilidade,
disfunção erétil
Pseudo-efedrina Rinite alérgica Fibrilação atrial, batimentos Doença cardiovascular avançada Utilizada como descongestionante de venda livre;
Congestão nasal prematuros ventriculares, Terapia com IMAO freqüentemente encontrada em remédios para resfriados e
isquemia do miocárdio Hipertensão grave supressores do apetite
Hipertensão, taquiarritmia, A efedrina e a fenilpropanolamina foram restritas nos Estados
congestão de rebote, insônia Unidos
INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DE CATECOLAMINAS
Mecanismo — Inibem a recaptação de catecolaminas mediada pelo transportador de norepinefrina (NET), potencializando a ação das catecolaminas
Cocaína Ver Resumo Farmacológico: Cap. 10
Imipramina Ver Resumo Farmacológico: Cap. 13
Amitriptilina
INIBIDORES DA MONOAMINA OXIDASE (MAO)
Mecanismo — Inibem a MAO, aumentando os níveis de catecolaminas através do bloqueio da degradação das catecolaminas
Fenelzina Ver Resumo Farmacológico: Cap. 13
Iproniazida
Tranilcipromina
Clorgilina
Brofaromina
Befloxatona
Moclobemida
Selegilina
AGONISTAS ␣1-ADRENÉRGICOS
Mecanismo — Ativam seletivamente os receptores ␣1-adrenérgicos para aumentar a resistência vascular periférica
Metoxamina Hipotensão, choque Bradicardia (reflexa Hipertensão grave Uso clínico muito limitado no tratamento do choque
vagal), batimento ectópico
ventricular
Hipertensão, vasoconstrição,
náusea, cefaléia, ansiedade
Fenilefrina Hiperemia oftálmica Arritmias cardíacas, Glaucoma de ângulo estreito Utilizadas nos medicamentos de venda livre Afrin® e Visine®
Oximetazolina Congestão nasal hipertensão Hipertensão grave ou taquicardia (contra- (e outros) para alívio da congestão nasal e hiperemia oftálmica;
Tetraidrazolina Hipotensão (somente a fenilefrina) Cefaléia, insônia, indicação para a forma IV da fenilefrina) o uso desses fármacos é freqüentemente acompanhado de rebote
nervosismo, congestão nasal dos sintomas
de rebote A fenilefrina também é utilizada por via intravenosa no
tratamento do choque
AGONISTAS ␣2-ADRENÉRGICOS
Mecanismo — Ativam seletivamente os auto-receptores ␣2-adrenérgicos centrais e, portanto, inibem a descarga simpática do SNC

Clonidina Hipertensão Bradicardia, insuficiência Terapia com inibidores da MAO e doença A clonidina é utilizada no tratamento da hipertensão e dos
Guanabenzo Abstinência de opióides (somente a cardíaca, hepatotoxicidade hepática ativa (contra-indicações para o uso sintomas associados à abstinência de opióides
Guanfacina clonidina) (metildopa), anemia da metildopa) A metildopa constitui o fármaco de escolha para o tratamento
Metildopa Dor do câncer (somente a clonidina) hemolítica auto-imune da hipertensão durante a gravidez
(metildopa)
Hipotensão, constipação,
xerostomia, sedação, tontura
AGONISTAS ␤-ADRENÉRGICOS
Mecanismo — Ativam os receptores ␤-adrenérgicos
Isoproterenol Ver Resumo Farmacológico: Cap. 19
Dobutamina
Metaproterenol Ver Resumo Farmacológico: Cap. 46
Terbutalina
Salbutamol
Salmeterol
ANTAGONISTAS ␣-ADRENÉRGICOS
Mecanismo — Bloqueiam a ligação das catecolaminas endógenas aos receptores ␣1- e ␣2-adrenérgicos, causando vasodilatação, redução da pressão arterial e redução da resistência periférica
Fenoxibenzamina Hipertensão e sudorese associadas ao Convulsões Hipotensão grave A fenoxibenzamina bloqueia irreversivelmente os receptores ␣1
Farmacologia Adrenérgica

Fentolamina feocromocitoma Hipotensão postural, Coronariopatia (fentolamina) e ␣2


taquicardia, palpitações, A fentolamina é um antagonista reversível e não-seletivo dos
|

xerostomia, sedação, miose, receptores ␣-adrenérgicos


ausência de ejaculação Utilizadas na conduta pré-operatória do feocromocitoma

(Continua)
129
Resumo Farmacológico Capítulo 9 Farmacologia Adrenérgica (Continuação)
130

Efeitos Adversos
Fármaco Aplicações Clínicas Graves e Comuns Contra-Indicações Considerações Terapêuticas
|

Prazosin Hipertensão Pancreatite, Hipersensibilidade ao prazosin, ao terazosin O prazosin, o terazosin e o doxazosin são antagonistas não-
Terazosin Hiperplasia prostática benigna hepatotoxicidade, lúpus ou ao doxazosin seletivos dos subtipos de receptores ␣1 nas arteríolas e veias
Doxazosin eritematoso sistêmico Em geral, não ocorre taquicardia reflexa
Hipotensão postural Em virtude do potencial de hipotensão postural grave, a
pronunciada com a primeira primeira dose é geralmente prescrita em pequena quantidade
dose, palpitações, dispepsia, ao deitar (assegurando, assim, que o paciente permaneça em
Capítulo Nove

tonteira, sedação, aumento decúbito)


da freqüência urinária, O terazosin e o doxazosin possuem meia-vida mais longa do
congestão nasal que o prazosin
Os antidepressivos tricíclicos podem aumentar o risco de
hipotensão postural
Tansulosin Hipertensão (prostática benigna) Iguais aos do prazosin, Hipersensibilidade ao tansulosin O tansulosin é um antagonista dos receptores ␣1A subtipo-
exceto que provoca menos seletivo, que possui maior especificidade para o músculo liso
hipotensão postural do trato genitourinário; por conseguinte, o tansulosin está
associado a uma menor incidência de hipotensão ortostática
Ioimbina Impotência orgânica e psicogênica Broncoespasmo, nervosismo, Inflamação crônica dos órgãos sexuais ou da A ioimbina é um antagonista ␣2-seletivo que provoca aumento
tremor, ansiedade, agitação, próstata da liberação de norepinefrina, estimulando os receptores ␤1
elevação da pressão arterial, Uso concomitante com fármacos que alteram cardíacos e receptores ␣1 vasculares periféricos
antidiurese o humor Leva também a um aumento da liberação de insulina, devido ao
Úlceras gástricas e duodenais bloqueio dos receptores ␣2 nas ilhotas do pâncreas
Gravidez
Pacientes psiquiátricos
Doença renal e hepática
ANTAGONISTAS ␤-ADRENÉRGICOS
Mecanismo — Bloqueiam os receptores ␤-adrenérgicos; essa classe de fármacos pode ser dividida em antagonistas ␤ não-seletivos, antagonistas ␤ e ␣1 não-seletivos, agonistas parciais e antagonistas ␤1-seletivos
Propranolol Hipertensão Broncoespasmo, Asma brônquica e doença pulmonar O propranolol, o nadolol e o timolol bloqueiam igualmente os
Nadolol Angina bloqueio atrioventricular, obstrutiva crônica receptores ␤1 e ␤2
Timolol Insuficiência cardíaca bradiarritmias Choque cardiogênico O propranolol é extremamente lipofílico; sua concentração
Feocromocitoma Sedação, diminuição Insuficiência cardíaca não-compensada no SNC é suficientemente alta para resultar em sedação e
Glaucoma (formulação ocular de da libido; mascaram os Bloqueio AV de segundo e terceiro graus diminuição da libido
timolol) sintomas de hipoglicemia, Bradicardia sinusal grave Utiliza-se uma formulação ocular de timolol no tratamento do
depressão, dispnéia, sibilos glaucoma
Labetalol Hipertensão Iguais aos do propranolol Iguais às do propranolol O labetalol e o carvedilol bloqueiam os receptores ␣1, ␤1 e ␤2
Carvedilol Angina Além disso, o labetalol pode O labetalol pode causar lesão hepática; é preciso monitorar as
causar hepatotoxicidade provas de função hepática
Pindolol Hipertensão Iguais aos do propranolol Iguais às do propranolol O pindolol é um agonista parcial dos receptores ␤1 e ␤2; é
Acebutolol Angina preferido para pacientes hipertensos que apresentam bradicardia
ou diminuição da reserva cardíaca
O acebutolol é um agonista parcial nos receptores adrenérgicos
␤1, porém carece de efeito nos receptores ␤2
Esmolol Hipertensão Iguais aos do propranolol, Iguais às do propranolol O esmolol, o metoprolol e o atenolol são antagonistas
Metoprolol Angina com exceção de adrenérgicos ␤1-seletivos
Atenolol Insuficiência cardíaca broncoespasmo de menor O esmolol possui meia-vida extremamente curta (3–4 min) e,
Celiprolol Tempestade tireoidiana (esmolol) intensidade por conseguinte, é utilizado para bloqueio ␤ de emergência,
como no caso da tempestade tireoidiana; o celiprolol é um
antagonista ␤1-seletivo e agonista ␤2-seletivo

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