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Distúrbios do movimento

induzidos por drogas

Marcela protógenes

RESUMO

O objetivo desta revisão é apre- (após 3 meses de exposição à droga).


sentar os distúrbios do movimento indu- O diagnóstico é, basicamente clí-
zidos por drogas (DMID), descrevendo nico, fundamentado em anamnese deta-
suas principais causas, aspectos fisiopato- lhada, exame neurológico e observação
lógicos, apresentação clínica e conduta te- cuidadosa. A sintomatologia dos distúr-
rapêutica. Os neurolépticos encontram-se bios de movimento induzidos por drogas
entre os principais responsáveis por esta é, geralmente, indistinguível das formas
complicação. A suspeita clínica é o ele- idiopáticas desta condição. Uma história
mento fundamental para reconhecimento medicamentosa minuciosa e suspeição clí-
adequado e manejo em cada caso. nica são de fundamental importância para
o seu reconhecimento, possibilitando um
PALAVRAS-CHAVE: Distúrbios do mo- diagnóstico precoce e manejo adequado de
vimento induzidos por drogas; Neurolép- cada caso.
ticos; Fisiopatologia; Tratamento. A seguir, serão discutidos os dife-
rentes tipos de DMID e seus agentes cau-
sais.
INTRODUÇÃO

Os distúrbios do movimento in- DROGAS E MECANISMOS


duzidos por drogas (DMID) representam
uma enorme variedade de sintomas mo- Os agentes comumente implicados
tores involuntários, fenomenologicamen- na indução dos distúrbios de movimento
te distintos, que incluem parkinsonismo, estão listados na Tabela 1. Os neurolépti-
coreia, discinesia tardia, distonia, acatisia, cos, que bloqueiam os receptores dopami-
tremor e mioclonias. nérgicos no striatum, são as drogas mais
Esses sintomas interferem no rela- comumente associadas aos DMID, com
cionamento social, performance de ativi- especial destaque ao haloperidol. A dose
dades motoras e atividades da vida diária, dos neurolépticos
podendo ocasionar grande prejuízo fun- convencionais associada ao efeito antipsi-
cional. São causados, principalmente, por cótico é similar à que produz sintomas ex-
drogas que interferem na neurotransmissão trapiramidais.
da dopamina e podem se manifestar como Por outro lado, os neurolépticos
um fenômeno agudo (primeira semana de atípicos, geralmente, produzem efeito an-
exposição à droga), subagudo (primeiros 3 tipsicótico com doses mais baixas que a
meses após exposição à droga) ou crônico necessária para induzir sintomas extra-

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piramidais, com um menor risco para os vendo o sistema motor corticoespinhal.
DMID. Os antieméticos, que bloqueiam Estima-se que um bloqueio de,
os receptores de dopamina no SNC, tam- aproximadamente, 65% dos receptores
bém são comumente implicados em vários dopaminérgicos mesolímbicos e 80% dos
DMID. receptores dopaminérgicos nigroestriatais
Os mecanismos responsáveis pe- seja necessário para desencadear os efeitos
los vários DMID são complexos e não extrapiramidais1.
completamente compreendidos. Entretan- As propriedades farmacodinâmi-
to, o termo ‘extrapiramidal’ infere que a fi- cas da clozapina e da quetiapina proíbem
siopatologia dos DMID está localizada nas estes agentes de alcançar o alvo de 70%
regiões cerebrais subcorticais, isto é, nos em qualquer dose. Estudos têm demonstra-
gânglios da base e no tálamo, não envol- do que essas duas drogas têm a menor taxa

Tabela 1. Principais causas dos DMID.


Parkinsonismo Neurolépticos; Antieméticos; Tetra-
benazina; Reserpina; Alfametildopa;
Flunarizina; Cinarizina; Verapamil;
Valproato; Lítio
Discinesia tardia Neurolépticos;
Antieméticos;
Antidepressivos tricíclicos
Coreia Anfetaminas;
Cocaína;
Anticolinérgicos;
Anticonvulsivantes (em especial a
fenitoína);
Antidepressivos tricíclicos;
Contraceptivos orais
Reação distônica aguda Neurolépticos;
Antieméticos;
Cocaína
Acatisia Neurolépticos;
Antieméticos;
Reserpina;
Tetrabenazina
Tremor Neurolépticos; Antieméticos; An-
tidepressivos tricíclicos; Inibidores
seletivos da recaptação de serotonina;
Lítio; Ácido valproico; Amiodarona;
Procainamida; Ciclosporina; Interfe-
ron; Tamoxifeno
Mioclonias Neurolépticos; Anticonvulsionantes
(fenitoína, carbamazepina, ácido
valproico, gabapentina, lamotrigina);
Lítio; Antidepressivos tricíclicos;
Inibidores seletivos da recaptação de
serotonina; Inibidores da monoamina-
oxidase; Bloqueadores dos canais de
cálcio; Morfina; Fentanil; Levodo-
pa; Bromocriptina; Propafenona;
Carvedilol

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de ocupação de receptores dopaminérgicos rkinson subclínica que tenha sido desmas-
D2 estriatais1. Com base nesses dados, em carada. Em pacientes com indicação preci-
pacientes com doença de Parkinson, esses sa de antipsicóticos, deve-se tentar a troca
agentes parecem ter a menor taxa de agra- para um atípico em baixa dose. Se forem
vamento dos sintomas motores de parkin- necessárias medicações antiparkinsonia-
sonismo. Como o tratamento com a cloza- nas, pode-se optar pelos anticolinérgicos e
pina requer uma monitorização contínua pela amantadina, que devem ser retirados
pelo risco de desenvolvimento de agranu- de forma progressiva posteriormente.
locitose, muitos médicos dão preferência à
quetiapina para o manejo das alucinações e
da psicose no paciente com doença de Pa- DISCINESIA TARDIA
rkinson.
Efeitos extrapiramidais relaciona- A discinesia tardia é um trans-
dos à dose podem ser observados com o torno do movimento hipercinético, onde
uso de olanzapina e risperidona. Esta úl- predominam os movimentos coreiformes,
tima, dos antipsicóticos atípicos, é a que podendo ocorrer também, com menor fre-
apresenta maior risco de DMID. quência, movimentos coreoatetoides, ba-
lísticos, distônicos, mioclônicos e tiques.
A coreia é caracterizada por movi-
PARKINSONISMO mentos involuntários irregulares, rápidos,
de pequena amplitude, curta duração e sem
O parkinsonismo induzido por sequência definida. Na discinesia tardia, a
drogas é um transtorno do movimento localização típica da coreia é orobucolin-
hipocinético caracterizado por tremor, ri- gual, podendo, no entanto, ser generali-
gidez, bradicinesia e instabilidade postu- zada. A discinesia tardia está associada
ral, sendo clinicamente indistinguível da ao uso crônico (pelo menos 3 meses) de
doença de Parkinson idiopática. Porém, o medicações que bloqueiam os receptores
início costuma ser subagudo (1 a 3 meses) dopaminérgicos, incluindo os antipsicó-
e bilateral. O mecanismo fisiopatológico ticos típicos e atípicos (exceto quetiapina
mais comum é através do bloqueio dos e clozapina) e os agentes antieméticos,
receptores D2 dopaminérgicos no siste- como a metoclopramida. Esta complicação
ma nigroestriatal. Os idosos e as mulheres é mais frequente em idosos e mulheres, e
apresentam um maior risco para esta com- sua prevalência aumenta com o tempo de
plicação. A principal causa é o uso contí- tratamento.
nuo de antipsicóticos típicos e atípicos e de A fisiopatologia exata da disci-
agentes antieméticos, como a metoclopra- nesia tardia é desconhecida, porém, a hi-
mida. Aproximadamente, 40% dos idosos persensibilidade dos receptores dopami-
tratados com antipsicóticos convencionais, nérgicos estriatais é a principal teoria. O
mesmo em doses muito baixas, desenvol- bloqueio crônico dos receptores dopami-
vem parkinsonismo. Outras medicações nérgicos pré-sinápticos leva a um aumen-
incluem alguns bloqueadores de canais de to da neurotransmissão glutamatérgica
cálcio, como flunarizina e cinarizina6. excitatória. O aumento da liberação e dos
O tratamento mais eficaz para o níveis extracelulares de glutamato nos ter-
parkinsonismo induzido por drogas é a eli- minais corticoestriatais gera um estresse
minação do agente causal, que geralmente neurotóxico, com destruição dos impulsos
leva à completa reversão dos sintomas. No neuronais, levando à hipersensibilidade
caso de persistência do quadro, deve-se dopaminérgica. Outras teorias incluem a
aventar a hipótese de uma doença de Pa- destruição de neurônios gabaérgicos es-

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triatais, produção de radicais livres em apresenta eficácia na redução da discine-
excesso e estresse oxidativo. A resolução sia de pico de dose. No entanto, este efeito
completa dos sintomas após suspensão do pode durar menos de um ano7. Estudos têm
agente causal é incomum. Os movimen- demonstrado que iniciar o tratamento da
tos coreicos costumam ser persistentes, doença de Parkinson precoce com prami-
podendo causar grande embaraço social e pexole, postergando o início da levodopa,
funcional ao paciente. retarda o desenvolvimento de discinesias e
O tratamento farmacológico, ge- flutuações motoras7.
ralmente, é necessário e inclui agentes
depletores de dopamina, como a tetrabena-
zina e a reserpina; bloqueadores dopami- COREIA
nérgicos, como a quetiapina e a clozapina;
benzodiazepínicos; beta-bloqueadores; A coreia induzida por droga é um
clonidina e vitamina E. Em pacientes com transtorno do movimento hipercinético
discinesia grave, refratária aos diferentes que ocorre como um fenômeno agudo ou
tratamentos farmacológicos, deve-se con- subagudo. Os movimentos são aleatórios,
siderar o tratamento cirúrgico, que consis- rápidos e de baixa amplitude. São tipica-
te em palidotomia e estimulação cerebral mente generalizados ou dimidiados e po-
profunda bilateral. Um estudo recente em dem interferir com a atividade voluntária e
10 pacientes mostrou 40% de melhoria nos com a marcha.
sintomas após 6 meses do tratamento3. A coreia induzida por droga, geral-
mente, ocorre num contexto de disfunção
DISCINESIA INDUZIDA PELA LE- prévia dos gânglios da base. Por exemplo,
VODOPA a coreia é um efeito adverso secundário ao
tratamento da doença de Parkinson com
A levodopa, tratamento mais efi- drogas dopaminérgicas. No entanto, estas
caz na doença de Parkinson, leva ao de- drogas não costumam causar coreia em
senvolvimento de discinesias em cerca pessoas sem doença de Parkinson.
de 40% dos pacientes após 4 a 6 anos de Em muitos casos de coreia indu-
uso3. Menos comumente, os agonistas do- zida por droga, existem antecedentes de
paminérgicos, como o pramipexole, tam- coreia de Sydenham. As medicações im-
bém levam a discinesias. Os movimentos plicadas no desenvolvimento da coreia in-
são predominantemente coreicos, podendo cluem estimulantes, como as anfetaminas,
ocorrer uma mistura de coreia, balismo, contraceptivos orais, alguns antidepressi-
distonia e, raramente, mioclonia; e ten- vos, anticolinérgicos e anticonvulsivantes.
dem a se iniciar do lado mais afetado. O A fenitoína é a droga antiepiléptica mais
desenvolvimento de discinesias está asso- comumente associada ao desenvolvimento
ciado à ocorrência de flutuações motoras, de coreia, embora a carbamazepina e o áci-
a um maior tempo de doença e a doses do valproico também tenham sido implica-
mais altas de levodopa. O início precoce dos.
da doença também aumenta o risco de dis- Também tem sido relatada a ocor-
cinesias. Mais comumente, as discinesias rência de movimentos coreicos com alguns
coincidem com o pico de concentração da antiepilépticos da nova geração, como a
levodopa (discinesia de pico de dose). gabapentina, felbamato e zonisamide15.
As estratégias de tratamento in- Drogas ilícitas, particularmente a cocaína,
cluem redução da dose da medicação dopa- também podem causar coreia. O melhor
minérgica e do intervalo posológico. Outra tratamento para esta complicação consiste
alternativa é a adição de amantadina, que na descontinuação do agente causal.

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REAÇÃO DISTÔNICA AGUDA pasmo, torcicolo, laterocolo, retrocolo e
anterocolo.
A distonia é um transtorno do mo- A primeira medida terapêutica
vimento caracterizado por contrações mus- consiste na eliminação do agente causal.
culares involuntárias e sustentadas, que No entanto, a taxa de remissão dos sinto-
produzem posturas anormais e movimen- mas costuma ser baixa, sendo, geralmen-
tos repetitivos, com contração simultânea te, necessário tratamento medicamentoso.
da musculatura agonista e antagonista. Para formas generalizadas de distonia,
Os movimentos distônicos são padroniza- podem ser usados tetrabenazina, tri-hexi-
dos, tendendo a ocorrer no mesmo local. fenidil, benzodiazepínicos (clonazepam ou
A reação distônica aguda é, tipicamente, diazepam), baclofeno e, em casos refratá-
causada por medicações que bloqueiam rios, clozapina ou quetiapina. Para formas
os receptores D2 dopaminérgicos no SNC, focais de distonia, injeções de toxina bo-
como os neurolépticos e os agentes antie- tulínica na musculatura afetada podem ser
méticos, como a metoclopramida. Tipica- úteis, aliviando o espasmo e a dor.
mente, inicia-se na primeira semana após
a introdução da medicação, em geral nas
primeiras 48 horas, e é mais comum em ACATISIA
pacientes jovens.
Clinicamente, observam-se movi- Acatisia é um transtorno do mo-
mentos espasmódicos da musculatura cer- vimento hipercinético caracterizado por
vical, boca e língua, podendo ocorrer tam- uma inquietação interior, às vezes, descrita
bém crise oculógira, com desvio forçado como ansiedade e um impulso irresistível
dos olhos para cima. Estima-se que de 2% de se mover, que faz com que os pacientes
a 3% dos pacientes expostos a bloqueado- permaneçam em movimento praticamente
res dopaminérgicos desenvolvam reação constante.
distônica aguda7. O paciente tem dificuldade de per-
O tratamento desta complicação é manecer sentado, costuma andar continua-
feito com anticolinérgico parenteral (dife- mente; balançar o corpo para frente e para
nidramina, triexifenidil ou biperideno) ou trás enquanto sentado ou de pé; levantar
benzodiazepínico, podendo ser necessária o pé como se marchasse no lugar; cruzar
manutenção oral por alguns dias. e descruzar as pernas quando sentado ou
realizar outras ações repetitivas e sem sen-
tido.
DISTONIA TARDIA A acatisia pode se apresentar como
um fenômeno agudo, subagudo ou tardio
A distonia tardia é uma síndrome e ocorre com medicações que alteram os
que ocorre após o uso prolongado (mais de níveis de dopamina no SNS, incluindo os
3 meses) de bloqueadores dopaminérgicos, neurolépticos típicos e atípicos, antieméti-
incluindo neurolépticos típicos e atípicos e cos, reserpina e tetrabenazina. Apresenta
antieméticos, com incidência estimada em uma ocorrência estimada em 20% a 30%
2%7. dos pacientes expostos a estas drogas7.
Os movimentos distônicos podem A primeira medida a ser toma-
ser focais, segmentares, dimidiados ou ge- da para o controle desta complicação é a
neralizados. Podem ser intermitentes ou redução da dose ou suspensão do agente
sustentados e são, geralmente, dolorosos. causal. Se essa medida não for possível ou
Tipicamente, acometem a musculatura suficiente, pode-se tentar o tratamento me-
craniana e cervical, levando a blefaroes- dicamentoso. A droga de primeira escolha

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é o propranolol. Se este for ineficaz ou não de serotonina e ácido gama-aminobutírico.
puder ser tolerado, outras drogas podem Diversas medicações têm sido
ser tentadas, incluindo benzodiazepínicos, implicadas na indução de mioclonias, in-
clonidina e amantadina. cluindo os bloqueadores de canais de cál-
cio, antidepressivos, lítio, neurolépticos e
TREMOR anticonvulsivantes.
O melhor tratamento consiste na
O tremor caracteriza-se por movi- identificação e eliminação do agente cau-
mentos involuntários oscilatórios e rítmi- sal. Se houver necessidade de tratamento
cos, sem finalidade. A forma mais comum medicamentoso, podem ser usados o clo-
de tremor induzido por drogas é parecida nazepam e o ácido valproico.
com o tremor fisiológico exacerbado, que
se manifesta como um tremor postural ou
cinético rápido (8 a 12 Hz) e de baixa am- TIQUES
plitude, acometendo os membros superio-
res. Os tiques são um transtorno do
Esta complicação pode ser induzi- movimento hipercinético que consiste em
da por uma série de medicações, incluindo movimentos ou sons repetitivos, estere-
estimulantes, neurolépticos, antieméticos, otipados e intermitentes. Geralmente, os
antidepressivos tricíclicos, inibidores se- pacientes descrevem uma necessidade e
letivos da recaptação de serotonina, lítio, urgência para realizar o movimento, sen-
ácido valproico, amiodarona, procaina- sação de alívio após a performance do
mida, ciclosporina e interferon. O tremor mesmo e capacidade para suprimir o mo-
induzido por drogas, tipicamente, come- vimento por algum tempo.
ça logo após a instituição da medicação Os tiques podem ocorrer em qual-
e piora com o escalonamento da dose. O quer parte do corpo, embora tenham uma
tratamento envolve a redução da dose ou predileção pela musculatura cervical e
remoção do agente causal. Medicações, craniana. São causados pelo aumento dos
comumente, usadas para tratar o tremor níveis de dopamina no SNC e podem estar
podem ser eficazes, incluindo propranolol, associados a uma série de substâncias, in-
primidona e benzodiazepínicos, como o cluindo anfetaminas, metilfenidato, cocaí-
clonazepam. na e lamotrigina.
O melhor tratamento consiste na
descontinuação do agente causal. Se hou-
MIOCLONIAS ver necessidade de tratamento medica-
mentoso, a clonidina e o clonazepam são
As mioclonias podem ser defini- as drogas de primeira linha. Em casos re-
das como um transtorno do movimento hi- fratários, podem ser tentados os neurolép-
percinético, caracterizado por contrações ticos.
involuntárias isoladas ou repetidas, abrup-
tas, breves, rápidas como choque e espas- SÍNDROME NEUROLÉPTICA MA-
módicas, envolvendo partes de músculos, LIGNA
músculos inteiros ou grupos de músculos.
As mioclonias induzidas por dro- A síndrome neuroléptica maligna é
ga são, tipicamente, generalizadas e po- uma grave complicação do tratamento com
dem ser bastante incapacitantes. medicações que bloqueiam os receptores
O mecanismo fisiopatológico en- dopaminérgicos, sendo mais comumente
volvido parece ser mediado pela captação observada com os neurolépticos típicos e

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atípicos, em especial com o haloperidol. dos na prática clínica. Ao se avaliar um pa-
Também pode ocorrer com o uso de lítio ciente com um transtorno do movimento, é
ou com a rápida suspensão das medicações importante que se obtenha toda sua histó-
dopaminérgicas no paciente com doença ria medicamentosa, incluindo medicações
de Parkinson. adicionadas recentemente e alterações de
Caracteriza-se por uma combina- dose.
ção de hipertermia, rigidez, disfunção au- O melhor tratamento para um dis-
tonômica e alteração do estado mental. As túrbio do movimento induzido por droga
manifestações clínicas associadas incluem consiste na eliminação do agente causal.
taquicardia, taquidispneia, labilidade da Caso esta medida não seja viável, deve-se
pressão arterial, diaforese, tremor, incon- tentar reduzir a dose da droga em questão
tinência urinária, disfagia, leucocitose, ou trocá-la por outra com menor potencial
acidose metabólica, elevação da creatina agressor. Se, ainda assim, o quadro persis-
quinase e alteração do estado mental que tir ou estivermos diante de um fenômeno
pode ser semelhante à catatonia. tardio, a terapia medicamentosa deve ser
Os pacientes podem desenvolver considerada.
esta síndrome em qualquer momento da A escolha do agente terapêutico é
terapia com bloqueadores dopaminérgi- guiada pelo tipo de distúrbio do movimen-
cos. Entretanto, cerca de 2/3 dos pacientes to em questão e pela coexistência de co-
costumam desenvolver os sintomas na pri- morbidades e medicações utilizadas pelo
meira semana do tratamento. A incidência paciente.
da síndrome neuroléptica maligna varia
de 0,5% a 2,4% nos pacientes expostos a
essas medicações, sendo mais comumente REFERÊNCIAS
observada em adultos jovens7.
A medida terapêutica mais im- 1. Claxton KL, Chen JJ, Swope DM. Drud-
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se resolvem em 1 ou 2 semanas, sendo des- sorders other than parkinsonism: A population-
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TITULAÇÃO DOS AUTORES
João Santos Pereira Especialização em Fisioterapia Neurofun-
cional pela Universidade Castelo Branco/
Doutor em Neurologia - Universidade Fe- RJ;
deral do Estado de São Paulo (UNIFESP); Fisioterapeuta.
Professor Associado da Disciplina de
Neurologia/UERJ; James Pitágoras de Mattos
Responsável pelo Setor de Distúrbios do Doutor emClínica Médica (Área de
Movimento/Neurologia - HUPE/UERJ; Concentração Neurologia) - UFRJ;
Membro titular da Academia Brasileira de Ambulatório de Distúrbios do Movimen-
Neurologia; to Serviço de Neurologia - Prof. Sergio
The Moviment Disorders Society Mem- Novis - HUCFF/UFRJ;
ber. Membro Titular da Academia Brasi-
leira de Neurologia e da The Move-
Ana Lucia Zuma Rosso ment Disorders Society.
Doutora em Clínica Médica (Área de
Concentração Neurologia) - UFRJ; Marcela Protógenes
Responsável pelo Ambulatório de Dis- Neurologista do Hospital da Aeronáu-
túrbios do Movimento Serviço de Neu- tica;
rologia - Prof. Sergio Novis - HUCFF/ Residência Médica em Neurologia -
UFRJ; HUPE/UERJ.
Membro Titular da Academia Brasi-
leira de Neurologia e da The Move- Marco Antônio Araújo Leite
ment Disorders Society. Doutor em Neurologia - UFF;
Professor Adjunto de Neurologia - UFF;
Antonio Luiz Santos Werneck Responsável pelo Setor de Desordens do
Doutor em Clínica Médica (Área de Con- Movimento - HAP/UFF;
centração Neurologia) - UFRJ; Professor do Programa de Pós-graduação
Professor de Neurologia - Faculdade de em Neurologia - UFF.
Medicina da Fundação Souza Marques e
Faculdade de Medicina da Unesa. Mariana Spitz
Doutora em Neurologia - USP;
Denise Hack Nicaretta Professora da Disciplina de Neurologia -
Doutora em Neurologia - UFF; UERJ;
Professora da Disciplina de Neurologia - Médica do Serviço de Neurologia do
UGF; Hospital dos Servidores do Estado do
Responsável pelo Ambulatório de Distúr- Rio de Janeiro.
bios do Movimento - Prof. Sergio Novis
- Santa Casa de Misericórdia/RJ;
Membro da Academia Brasileira de
Neurologia e da The Movement Disorders
Society.

Flávia Q.B. Waissman


Mestre em Neurociências - UFF;

Ano 9, Janeiro a Junho de 2010 9

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