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Teorias de Grupo

Creici Lamonato
O que sabemos sobre grupos?

E sobre teorias de grupo?


• Mello Filho (2011) nos diz que o homem sempre
viveu na dependência dos grupos naturais.

• A família é o principal grupo, no qual se dão os


primeiros processos de desenvolvimento.

• A escola, as salas de trabalho, os clubes que


frequentamos são outros exemplos de grupos
humanos.
• Para Zimerman (1997) o ser humano é gregário por
natureza e somente existe, ou subsiste, em função de
seus inter-relacionamentos grupais.

• Sempre, desde o nascimento, o indivíduo participa de


diferentes grupos, numa constante dialética entre a
busca de sua identidade individual e a necessidade de
uma identidade grupal e social.

• Um conjunto de pessoas constitui um grupo, um


conjunto de grupos constitui uma comunidade e um
conjunto das comunidades configura uma sociedade.
• O indivíduo passa a maior parte do tempo de sua vida
convivendo e interagindo com distintos grupos:

• Família nuclear (pais, avós, irmãos, babá, etc...)

• Creches, escolas maternais e bancos escolares...

• Mais tarde... Constituição de novas famílias e de


grupos associativos, profissionais, esportivos, sociais,
etc...
Conceituação de grupo

• Todo indivíduo é um grupo (na medida em


que, no seu mundo interno, um grupo de
personagens introjetados, como os pais,
irmão, etc., convive e interage entre si).

• Da mesma maneira como todo grupo pode


comportar-se como uma individualidade.
Conceituação de grupo
• É muito vaga e imprecisa a definição de termo “grupo”
portanto ele pode designar conceituações muito
dispersas num amplo leque de acepções.

• Grupo pode definir: um conjunto de três pessoas.

• Para alguns autores uma relação bipessoal já configura


um grupo.

• Como também pode conceituar uma família, uma


turma ou gangue de formação espontânea;
O que caracteriza um grupo

• Não é um mero somatório de indivíduos;

• Ele se constitui como nova entidade, com leis e


mecanismos próprios e específicos.

• Todos os integrantes do grupo estão reunidos,


face a face, em torno de uma tarefa e de um
objetivo comum ao interesse deles.
O que é afinal um grupo?

Texto: o campo grupal


Psicologia grupal

É a área destinada ao estudo das manifestações


coletivas do psiquismo humano.
(Osório, 2003, p.7)
Histórico
• Atribui-se a inauguração do recurso de grupo ao
médico americano J. Pratt que a partir de 1905,
em um enfermaria com mais de 50 pacientes
tuberculosos.

• Criou o método de “classes coletivas”, as quais


consistiam em uma aula prévia ministrada por ele
sobre higiene e os problemas da tuberculose,
seguida de perguntas dos pacientes e da sua livre
discussão com o médico.
Histórico
• Psicologia das multidões de Gustav Le Bon
(1841-1931), dá ponta pé inicial para a
reflexões de Freud sobre os comportamentos
coletivos dos seres humanos à luz da
psicanálise.

• Estudos de Kurt Lewin (1890-1948) com o


perfil dos face-to-face groups.
Contribuições teóricas a
psicologia grupal

• Dinâmica de grupo: ela obteve as noções


básicas de campo grupal, das distintas formas
de liderança e do exercício da autoridade.

• Psicanálise: sua teoria dos afetos e a


compreensão das motivações inconscientes
das ações humanas.
Contribuições teóricas a
psicologia grupal

• Teoria dos vínculos e dos grupos operativos: a


forma de discernir os objetivos dos grupos e
das instituições e o modo de abordá-los
operativamente, a partir dos vínculos
emocionais.

• Psicodrama: a visualização dos papéis


designados no cenário dos sistemas humanos.
Contribuições teóricas a
psicologia grupal

• Teoria sistêmica: a possibilidade de perceber e


discriminar o jogo interativo dos indivíduos no
contexto grupal e, a partir dessa percepção,
catalisar as mudanças possíveis no sistema.
Teoria da comunicação humana.

• Comunitária, gestáltica, filosófica, sociológica.


Principais escolas (psicanalíticas)

• Escola Francesa – os estudos surgem a partir


da década de 60 – René Kaes – ancoragem
(forma de apoio).

• Escola Argentina – Psicoterapia del grupo –


Geraldo Stein, L. Grinberg, E. Rodrigué.
As escolas psicanalíticas de grupo
• Escola Americana: Trigant Burrow, Slavson,
Schilder e outros autores;

• Escola Inglesa: Bion e Foulkes;

• Escola Argentina: Pichon-Riviere;

• Escola Francesa: Didier Anzieu.


Alguns outros autores importantes
• Freud – não trabalhou diretamente com
grupoterapia, mas trouxe importantes
contribuições à psicologia dos grupos
humanos com: Psicologia das massas e análise
do ego (1921); Mal-estar na civilização (1930).

• Moreno – introduziu a expressão terapia de


grupo em 1930.
• Kurt Lewin – criador da teoria “dinâmica de
grupo”.

• S. H. Foulkes – psicanalista britânico


inaugurou a prática da psicoterapia
psicanalítica de grupo a partir de 1948 em
Londres.
• W. R. Bion – psicanalista fortemente
influenciando por Melanie Klein. Conceitos de
grupo de trabalho e pressupostos básicos.

• Pichon-Riviére – psicanalista argentino. Pai


dos grupos operativos, e do esquema
conceitual referencial operativo (ECRO).
Área de atuação

• Clínica

• Educacional

• Institucional / Organizacional
Classificação dos grupos
• Para Zimerman (2000) existem grupos de
todos os tipos, e uma primeira subdivisão que
se faz necessária é:

• a que diferencie os grandes grupos


(pertencem à área da macrossociologia) dos
pequenos grupos (microssociologia).
Classificação do grupo

• O critério adotado é a finalidade a que se


propõe o grupo e parte da divisão em dois
grandes ramos genéricos:

• Operativos e

• Terapêuticos.
Grupos
↙ ↘
Operativos Terapêuticos
Grupo operativo

• A teoria dos grupos operativos foi elaborada


por Pichon-Riviere, a partir dos referenciais
teóricos da psicanálise e da dinâmica de grupo
(Kurt Lewin).
Grupos operativos
• A atividade do coordenador dos grupos
operativos deve ficar centralizada unicamente
na tarefa proposta.

• Grupo operativo é um conceito bastante


amplo, que abrange vários tipos de grupos.
Grupo operativo

• “É um conjunto de pessoas com um objetivo


comum, que procuram abordar trabalhando
como equipe”. (BLEGER, 1998, p.59)

• O grupo operativo tem objetivos, problemas,


recursos e conflitos que devem ser estudados e
considerados pelo próprio grupo à medida que
vão aparecendo; serão examinados em relação
com a tarefa e em função dos objetivos
propostos.
• Grupo operativo como um conjunto de pessoas,
ligadas no tempo e espaço, articuladas por sua
mútua representação interna, que se
propunham, explícita ou implicitamente, a uma
tarefa, interatuando em uma rede de papéis com
o estabelecimento de vínculos entre si.

• Os objetivos conscientes do grupo delimitam a


sua tarefa externa.
• Segundo definição de seu criador, Enrique J.
Pichon-Rivière (1977), o grupo operativo consiste
de um grupo de pessoas centrados numa tarefa.

• O fundamental na tarefa grupal consiste em


superar e resolver situações fixas e
estereotipadas, flexibilizando e permitindo
questionamentos sobre o que era considerado
imutável.
Grupo operativo

“Cada grupo escreve sua própria história e deve


ser respeitado em suas características
peculiares, sem pretender forçar seu
rendimento; o grupo trabalho no melhor nível
que pode, em cada momento e como
totalidade.” (BLEGER, 1998, p.93)
Operativos
• Ensino aprendizagem (através da técnica de
grupos de reflexão);

• Institucionais (empresas, escolas, igreja, exército,


associações, etc.);

• Comunitários (programas de saúde mental);

• De reflexão.
O que caracteriza um grupo
propriamente dito?

• Para Zimerman (1997) um grupo é


caracterizado quando preenche as seguintes
condições básicas mínimas, seja ele de
natureza operativa ou terapêutica:

• 11 itens (folha).
Grupo operativo voltado ao ensino
aprendizagem

• De acordo com o argentino Bleger (1998), no


campo de ensino, o grupo prepara-se para
aprender e isto só se alcança enquanto se
aprende, quer dizer, enquanto se trabalha.

• A ideologia fundamental desse tipo de grupo é


que o essencial é “aprender a aprender”.
Grupo operativo voltado ao ensino
aprendizagem

“Na proposição tradicional, existe uma pessoa


ou grupo que ensina e outro que aprende.
Esta dissociação deve ser suprimida, porém,
tal supressão cria necessariamente ansiedade,
devido à mudança e abandono de uma
conduto estereotipada.” (BLEGER, 1998, p.62)
Grupos institucionais
• Cada vez mais essa atividade está sendo utilizada nas
instituições em geral.

• Ex: escolas promovendo reuniões que congregam pais,


mestres e alunos, com vistas a debaterem questões
relacionadas a formação humana.

• Ex: nas empresas, grupos dirigidos por psicólogos


organizacionais – que se destinam a aumentar o
rendimento de produção da empresa através de grupos
operativos centrados na tarefa de obtenção de um
clima de harmonia entre os diversos subgrupos.
Grupo comunitários
• Esses grupos são facilmente encontrados no campo da
saúde mental.

• São utilizados na prestação tanto de cuidados


primários de saúde (prevenção), como secundários
(tratamento) e terciários (reabilitação).

• São de comprovada utilidade a realização de grupos,


por exemplo, com gestantes, adolescentes sadios,
líderes naturais da comunidade, pais, etc.
Grupo de reflexão
• Pertence a categoria mais abrangente de grupos
operativos.

• Podem ser chamados de grupo de discussão ou de grupo


de integração.

• É um instrumento rico para utilização na área do ensino-


aprendizagem, na educação.

• É uma indicação prioritária em todos os programas


educacionais, que visam fundamentalmente aliar ao
propósito da informação o da formação, especialmente no
que se refere à aquisição de atitudes internas.
Grupo terapêutico
De auto-ajuda
• São compostos por pessoas portadoras de uma
mesma categoria de necessidades, as quais, em
linhas gerais, especialmente no campo da
medicina por exemplo:

• Adictos (obesos, fumantes, alcoolistas,


drogadictos, etc.)
• Cuidados primários de saúde (biabéticos,
hipertensos, etc.)
• Reabilitação (infartados, espancados, etc.)
Grupos psicoterápicos propriamente
dito
• De acordo com Fernandes (2003) são grupos
nos quais se busca, além do aprendizado,
também um progresso pessoal, com
procedimentos que poderão ter abordagem
profunda e a longo prazo, ou mesmo sobre
algum foco mais imediato.

• Devem ser coordenados por psicólogos ou


psiquiatras.
Grupos psicoterápicos

• Base psicanalítica;
• Psicodrama;
• Teoria sistêmica;
• Cognitivo-comportametal.
Papéis
Papéis – Pichón- Riviere
• Papéis segundo Ramalho (2010), nos grupos operativos
são muito importantes para Pichon, pois para ele o
papel surge no acontecer grupal, no relacionamento eu
- grupo e são condutas organizadas para satisfazer
necessidades e expectativas individuais e do grupo.
Todo papel tem aspectos explícitos e implícitos.

• Cada papel corresponde a um outro papel, que é o seu


complementar: pai – filho, paciente – médico, etc. E
não há a possibilidade da existência de um papel sem o
seu complementar.
Papéis instituídos e não instituídos
• São papéis instituídos:
• a) Coordenador – sua função é facilitar a articulação do
grupo com a tarefa; colabora com o processo grupal
desocultando os fatos implícitos;

• b) Observador – observa e registra o processo grupal,


ou seja, registra a história do grupo;

• c) Integrantes – sua função é variável, dependendo dos


objetivos do grupo.
Já os papéis não instituídos são:
• a) o porta-voz – explicita aquilo que está implícito no
grupo e, com isso, permite a tomada de consciência;

• b) o bode-expiatório – surge quando o grupo não


aceita o que foi dito pelo porta-voz, este se torna o
bode-expiatório;

• c) o líder de mudança – surge quando se aceita o que o


porta-voz disse, e este se torna um líder, que expressou
o que o grupo sentia e que contribuiu para a realização
da tarefa.
Grupo terapêutico
• Os papeis que comumente costumam ser assumidos
durante a evolução do grupo são:
• Bode expiatório
• Porta-Voz
• Radar
• Instigador
• Atuador pelos demais
• Sabotador
• Vestal
• Obstrutor
• Apaziguador
• Líder.
Psicoterapia Grupal
Psicoterapia de grupo
• A formação de um grupo dessa natureza, quer
seja em uma instituição, quer em clínica
privada, passa por quatro etapas sucessivas:
• Planejamento;
• Encaminhamento;
• Seleção e;
• Composição do grupo.
Planejamento
• Diante da resolução de criar e compor um
grupo, Zimerman (2000) diz, que é necessário
responder algumas questões:

• Quem vai ser o coordenador? (qual é o seu


referencial?)

• Para qual finalidade o grupo está sendo


composto?
• Como ele funcionará? (homogêneo ou
heterogêneo, aberto ou fechado, com ou sem
cooterapia, qual será o enquadre do número
de participantes, o número de reuniões
semanais, tempo e duração das mesmas).
• Vale afirmar que a primeira recomendação
técnica para quem vai organizar um grupo é a
de que ele tenha uma ideia bem clara do que
pretende com esse grupo.

• E de como vai operacionalizar esse seu


intento; caso contrário, é muito provável que
o seu grupo patinará num clima de confusão,
de incertezas e de mal-entendidos.
Encaminhamento
• A etapa da divulgação, tendo em vista o
encaminhamento de pacientes para a
formação de um grupo, é importante.

• Grupo mínimo de 4 pessoas (menos que isso


pode comprometer a formação de um gestalt
grupal.)
• O terapeuta tem que ter uma definição clara
quanto ao nível de seus objetivos terapêuticos
e, portanto, de qual tipo de paciente ele
aguarda que lhe seja encaminhado.

• O terapeuta de grupo deverá entrevistar o


paciente que lhe foi encaminhado.
Seleção
• Dentre os critérios de seleção um é
especialmente importante:

• A motivação do paciente (que ele reconheça


que está necessitando de tratamento, e que
está disposto a fazer mudanças psíquicas, para
adquirir melhores condições de qualidade de
vida).
Composição do grupo
• Pode-se afirmar que os critérios dos
indivíduos estão intimamente conectados com
os da composição da totalidade grupal.

• Grupos homogêneos e heterogêneos.


Setting grupal
• De acordo com Zimerman (2000), o enquadre é
conceituado como a soma de todos os
procedimentos que organizam, normatizam e
possibilitam o processo terapêutico.

• Assim resulta de uma conjunção de regras,


atitudes e combinações (local, horários, número
de sessões semanais, tempo de duração, férias,
honorários, número de paciente, etc.)
• Os principais elementos que devem ser
levados em conta na configuração de um
setting grupal são:

• Se é um grupo homogêneo ou heterogêneo;


• Grupo fechado ou aberto;
• Número de participantes – de 4 a 15;
• Número de sessões – uma a três por semana;
• Tempo de duração da sessão – de 90 a 120
minutos (quando for uma por semana);
• Tempo de duração da grupoterapia – com
prazo para término ou duração indefinida;
• Simultaneidade com outros tratamentos;
• Participação ou não de um observador ou de
um co-terapeuta.
Regras:
• Regra da neutralidade – implica na necessidade
de o terapeuta manter-se neutro e não ficar
envolvido na rede de emoções de seus paciente.

• Regra do amor à verdade – o objetivo maior de


qualquer terapia analítica é o da aquisição de um
pleno sentimento de liberdade interna, e esse
passa necessariamente pela verdade.

• Regra do sigilo.
Autores
• Enrique Pichon
• Jacob Moreno
• Kurt Lewin

• Estudar textos disponibilizados no portal.


Referências
• MELLO FILHO, Julio de. Grupo e corpo:
psicoterapia de grupo com pacientes
somáticos. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2011.
• OSORIO, Luiz Carlos. Psicologia grupal: uma
nova disciplina para o advento de uma era.
Porto Alegre: Artmed, 2003.
• ZIMERMAN, David E. Como trabalhar com
grupos. Porto Alegre: Artes médicas, 1997.

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