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Resenha 20

GRUPO: B

Referência bibliográfica

HANLON, Joseph. Seguindo o caminho desenhado pelos doadores para lidar com a
dívida secreta de $2,2 bilhões de Moçambique. Maputo, Setembro de 2017

Apresentação do autor e da obra

Joseph Hanlon, nascido em 1941, doutorado em Física pela Tufts University, E.U.A.,
escreve sobre Moçambique desde 1978. É professor convidado de Desenvolvimento e
Resolução de Conflitos na Universidade Aberta em Milton Keyes, Inglaterra, e
professor convidado no Crisis States Research Centre da London School of Economics.
Além deste artigo o autor também fez outras publicações dentre as quais destacam-se as
seguintes: Empréstimos "ilegítimos": os credores, não os mutuários são responsáveis;
Moçambique: Quem dá as cartas?.

Perspectiva teórica

Ao afastar a elite moçambicana do socialismo, os credores e doadores promoveram um


modelo específico em que os negócios domésticos se baseiam em clientelismo,
generosidade do governo e dos doadores, e busca de benefícios. A expectativa era que
os empresários e membros da elite servissem aos interesses estrangeiros.

Breve síntese da obra

Quando as revelações sobre as importações de armas e barcos de pesca, financiadas por


empréstimos secretos de $2,2 bilhões, vieram à tona em 2016, o Fundo Monetário
Internacional (FMI) suspendeu seus empréstimos, e um consórcio de 14 doadores
interrompeu o apoio orçamental. Essa resposta aparentemente censurável ou
surpreendente, deve ser entendida como uma consequência directa de condições
meticulosamente estabelecidas pelos mesmos credores e doadores ao longo de quatro
décadas. Esses atores buscavam transformar a liderança de Moçambique de uma
orientação socialista para capitalista durante a Guerra Fria, evoluindo posteriormente
para a inserção de Moçambique em uma forma específica de globalização comummente
conhecida como neoliberalismo.
Em paralelo, o advento do neoliberalismo testemunhou um aumento na aplicação de
conceitos de gestão, destacando a "gestão de mudança" como um deles. Neste contexto,
argumenta-se que, nas últimas quatro décadas, testemunhamos uma forma adaptativa de
gestão de mudança, conforme a elite moçambicana transitou de uma ideologia socialista
para capitalista e, subsequentemente, apoiou a globalização em alinhamento com os
interesses dos credores, doadores e corporações estrangeiras. Este processo converteu
partes da elite socialista em um grupo designado como "compradores", termo que
remonta ao século XVIII e denota indivíduos locais agindo em favor de empresas e
agências estrangeiras.

Superar a resistência à mudança, uma faceta crucial da gestão de mudanças, foi um


objectivo central dos credores e doadores em Moçambique. Utilizando uma combinação
de incentivos e sanções, esses atores influenciaram não apenas as políticas
governamentais, mas também indivíduos dentro da elite. As recompensas foram
distribuídas em termos de empregos privilegiados, benefícios financeiros e favores,
enquanto aqueles que resistiram às mudanças foram rotulados como a "velha guarda
comunista" e privados dessas vantagens.

Os credores e doadores, representados por mais de 30 agências em Moçambique, agiram


em conjunto na maioria das vezes para impor políticas e conduzir a transição do país do
socialismo para o capitalismo neoliberal. Embora houvesse desacordos ocasionais entre
diferentes agências, a coalizão geralmente agia de forma coesa para efectuar mudanças
significativas. O FMI e o Banco Mundial, em particular, exerciam poder indirecto,
condicionando a ajuda e influenciando as políticas neoliberais. Em 2016, durante as
negociações sobre os $2,2 bilhões em empréstimos secretos, os doadores concordaram
em permitir que o FMI liderasse as discussões com o governo.

Não obstante as boas intenções percebidas pelos credores e doadores, suas políticas
inadvertidamente contribuíram para o aumento da corrupção e a promoção de uma
cultura de sigilo. A imposição contínua de condições e decisões que favorecem os
"compradores" em detrimento daqueles comprometidos com um desenvolvimento
interno genuíno levou a efeitos prejudiciais e, muitas vezes, devastadores.

Reflexão critica
Hanlon analise o contexto histórico, económico e político de Moçambique antes e
depois da introdução do neoliberalismo. Essa analise permite-nos numa primeira
instancia, saber em que em sociedades nos encontramos, numa segunda instancia ajuda-
nos a perceber as razões por detrás da corrupção e de uma situação de dependência na
qual nos encontramos, além serve como instrumento de analise em ciência política,
administração publica e economia.

Embora o artigo traga contribuições significativas ele não é isento de críticas uma vez
que cinge-se apenas em olhar para imposições do neoliberalismo como factor da actual
dependência que o país se encontra. Devia olhar também factores naturais como as
mudanças climáticas, epidemias, etc

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