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Nulidades
Artigo 119.º
Nulidades insanáveis
Constituem nulidades insanáveis, que devem ser oficiosamente declaradas em qualquer fase do procedimento, além das que como tal
forem cominadas em outras disposições legais:
a) A falta do número de juízes ou de jurados que devam constituir o tribunal, ou a violação das regras legais relativas ao modo de determinar
a respectiva composição;
b) A falta de promoção do processo pelo Ministério Público, nos termos do artigo 48.º, bem como a sua ausência a actos relativamente aos
quais a lei exigir a respectiva comparência;
c) A ausência do arguido ou do seu defensor, nos casos em que a lei exigir a respectiva comparência;
d) A falta de inquérito ou de instrução, nos casos em que a lei determinar a sua obrigatoriedade;
e) A violação das regras de competência do tribunal, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 32.º (incompetência territorial) ;
f) O emprego de forma de processo especial fora dos casos previstos na lei.
• Ac. TRP de 8-07-2015: O despacho proferido pelo juiz que preside à audiência em tribunal colectivo,
com o julgamento em curso, sem prévia deliberação do tribunal viola a imposição de decisão colegial
emergente da forma do processo e da competência do tribunal (artº 14º CPP) e está ferido de
nulidade insanável (artº 119º 1 e) e 122º CPP). – Caso: requerimento do MP ao abrigo do Artigo 340º
do CPP, decidido por mero despacho singular e fora da audiência
• Ac. TRL, de 27-03-2003: II. Toda a intervenção de juiz em sede de inquérito ou instrução que se não
traduza em realização de meros actos de expediente e que implique uma tomada de decisão, com
valoração dos indícios até então recolhidos, deve ser motivo de impedimento.
• III. E que a ocorrer, determinará a existência de nulidade insanável a qual implica a anulação do
julgamento, e consequente repetição com intervenção de juiz não impedido de particular
• Os tribunais superiores têm enquadrado a preterição de audição prévia do arguido (cfr. artº 495º, nº2
do CPP) como nulidade insanável e, por conseguinte, de conhecimento oficioso pelo tribunal, nos
termos do disposto no artº 119º, alínea c) do CPP, vide: Ac. TRL de 1-03-2005, CJ, T2, pág.123; Ac. TRL
de 10-02-2004 ; Ac. TRE de 18-01-2005 e Ac. TRP de 4-03-2009 .
Nos restantes casos não previstos: prazo de 10 dias – Artigo 105º n.º 1 do CPP
Exemplo: Artigo 397º n.º 3 do CPP
• I) Apenas a omissão de ato que a lei prescreva como obrigatório pode consubstanciar a nulidade de
insuficiência do inquérito prevista na al. d) do n.º 2 do art. 120º. Já a omissão de diligências,
nomeadamente de produção de prova cuja obrigatoriedade não resulte de lei, não dá origem a essa
nulidade (neste sentido, Ac. do STJ de 23-05-2012 (processo n.º 687/10.6TAABF.S1), disponível em
http://www.dgsi.pt.). (Ac. TRG de 09/12/2020, proc. N.º 2018/15.0T9BRG.G1
• II) Com efeito, partindo da correta ponderação da estrutura acusatória do processo penal (art. 32º, n.º
5, da Constituição da República Portuguesa), bem como dos princípios do contraditório e da
oficialidade, a solução maioritariamente seguida pela jurisprudência é a de que a insuficiência do
inquérito respeita apenas à omissão de atos obrigatórios e já não também a quaisquer outros atos de
investigação e de recolha de prova necessários à descoberta da verdade.
TRL de 24/05/2011, Proc. nº 1566/08.2TACSC.L1-5: “(…) em sede de inquérito, o juiz de instrução tem a sua competência
reservada aos actos tipificados na lei, designadamente os constantes dos artigos 268.º e seguintes do C.P.P., sendo gizada a sua
intervenção, sempre provocada (por motivo da inoficiosidade da intervenção jurisdicional no inquérito), segundo o modelo
garantista.
Quer isto dizer que o inquérito, enquanto aberto, é da exclusiva titularidade do Ministério Público e só permite a intervenção
pontual do juiz nos casos expressamente tipificados na lei. (…)
O juiz de instrução, no domínio do inquérito, é, sobretudo, um juiz de garantias e de liberdades, não tendo qualquer intervenção
de tipo hierárquico ou de supervisão jurisdicional dos actos do Ministério Público, para além dos consagrados nos artigos 268.º e
269.º do C.P.P.
As duas fases são autónomas - a intervenção do Ministério Público no inquérito e do juiz de instrução na fase eventual que se lhe
segue -, pelo que só em instrução – fase cuja direcção lhe compete – é que o juiz de instrução pode (deve) sindicar o inquérito
com vista a decidir da correcção da acusação ou do arquivamento.
(…) a arguição de nulidades do inquérito deve ser suscitada perante o Ministério Público, entidade que preside a essa fase
processual, com eventual reclamação para o superior hierárquico. Do despacho do Ministério Público (seja do inicial, seja do
despacho do superior hierárquico) não cabe reclamação para o juiz, nem recurso para o tribunal superior.
As nulidades do inquérito só podem ser conhecidas pelo juiz de instrução se requerida a abertura da fase processual da instrução
ou, na ausência de instrução, pelo juiz da causa no momento de recebimento dos autos (artigo 311.º, n.º 1 do C.P.P.), pois, nessa
fase, compete-lhe fazer o saneamento do processo e como tal conhecer das nulidades e outras questões prévias ou incidentais
que obstem à apreciação do mérito (e de que possa, então, conhecer, entenda-se).”