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O Regime das

Nulidades

Noções Básicas de Processo Penal - O Regime


das Nulidades - Carla Freitas
Das Invalidades no Processo Penal

Noções Básicas de Processo Penal - O Regime das Nulidades - Carla Freitas


• Inexistência jurídica – o acto é inexistente quando sofre um mal incurável que
impossibilita a sua sobrevivência na ordem jurídica, seja em que circunstância for,
é insanável, não transita em julgado nem constitui caso julgado
• Sentença proferida por quem não tem poder jurisdicional;
• Se, depois de proferida sentença, o juiz proferir segunda sentença;
• Sentença condenatória de pessoa não acusada de crime;
• Não vem especificamente previsto no CPP – encontra reflexo no Artigo 468º CPP – decisões
inexequíveis
• Nulidade – sanção que atinge a instância ou o acto processual que não estejam
de acordo com as condições de validade impostas pelo direito.
• O processo é nulo quando falta de um dos pressupostos de formação regular da instância e de
desenvolvimento da relação processual
• Acto é nulo quando lhe falta a formalidade que lhe constitua elemento essencial
• Irregularidades – vícios menos graves do acto processual e são todos aqueles a
que a lei não sanciona com nulidade

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Princípio da legalidade - Artigo 118º do CPP
1 - A violação ou a inobservância das disposições da lei do
processo penal só determina a nulidade do acto quando esta
for expressamente cominada na lei.
2 - Nos casos em que a lei não cominar a nulidade, o acto ilegal é
irregular.
• A regra é de que toda a violação ou inobservância das regras
do processo penal configura irregularidade, excepto nos casos
expressamente previstos na lei.
• Se a norma legal não cominar a falha como nulidade, então
tratar-se-á de irregularidade

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• Nulidades absolutas ou insanáveis
• Nulidades gerais – As do Artigo 119º do CPP
• Elenca as nulidades insanáveis que não constam de outras disposições legais de forma expressa
• As nulidades insanáveis previstas na lei têm carácter taxativo
• São de conhecimento oficioso, a todo o tempo, sem necessidade de arguição, até ao trânsito em
julgado, o qual obsta ao seu conhecimento

Artigo 119.º
Nulidades insanáveis
Constituem nulidades insanáveis, que devem ser oficiosamente declaradas em qualquer fase do procedimento, além das que como tal
forem cominadas em outras disposições legais:
a) A falta do número de juízes ou de jurados que devam constituir o tribunal, ou a violação das regras legais relativas ao modo de determinar
a respectiva composição;
b) A falta de promoção do processo pelo Ministério Público, nos termos do artigo 48.º, bem como a sua ausência a actos relativamente aos
quais a lei exigir a respectiva comparência;
c) A ausência do arguido ou do seu defensor, nos casos em que a lei exigir a respectiva comparência;
d) A falta de inquérito ou de instrução, nos casos em que a lei determinar a sua obrigatoriedade;
e) A violação das regras de competência do tribunal, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 32.º (incompetência territorial) ;
f) O emprego de forma de processo especial fora dos casos previstos na lei.

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• Nulidades especiais:
• As especificamente previstas como tal constantes de outras normas jurídicas;
p. ex:
• Violação do princípio da publicidade da audiência – Artigo 321º n.º 1 do
CPP
• Não substituição do MP ou defensor que falta à audiência – Artigo 330º
n.º 1 do CPP
• Audiência de Julgamento na ausência do arguido não notificado
regularmente – Artigo 333º n.º 1 do CPP, Artigo 119º al. c) do CPP

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OUTRAS NULIDADES INSANÁVEIS

• Ac. TRP de 8-07-2015: O despacho proferido pelo juiz que preside à audiência em tribunal colectivo,
com o julgamento em curso, sem prévia deliberação do tribunal viola a imposição de decisão colegial
emergente da forma do processo e da competência do tribunal (artº 14º CPP) e está ferido de
nulidade insanável (artº 119º 1 e) e 122º CPP). – Caso: requerimento do MP ao abrigo do Artigo 340º
do CPP, decidido por mero despacho singular e fora da audiência

• Ac. TRL, de 27-03-2003: II. Toda a intervenção de juiz em sede de inquérito ou instrução que se não
traduza em realização de meros actos de expediente e que implique uma tomada de decisão, com
valoração dos indícios até então recolhidos, deve ser motivo de impedimento.

• III. E que a ocorrer, determinará a existência de nulidade insanável a qual implica a anulação do
julgamento, e consequente repetição com intervenção de juiz não impedido de particular

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OUTRAS NULIDADES INSANÁVEIS
• Ac. TRC de 19-02-2014: II. O segmento normativo da parte inicial da alínea b) do artigo 119.º do CPP -
do seguinte teor: «A falta de promoção do processo pelo Ministério Público, nos termos do artigo
48.º» - contempla não só situações omissivas do despacho acusatório quando a lei confere àquele
legitimidade para o efeito, mas também os casos em que o MP acusa sem legitimidade, ou seja, fora
da previsão do artigo 48.º do compêndio legislativo referido.

• III. Consequentemente, tendo o MP deduzido acusação em momento anterior ao da apresentação de


queixa juridicamente válida, verifica-se a nulidade insanável prevista naquele normativo, que
contamina tudo o que foi processado posteriormente - com excepção da queixa -, em consonância
com o disposto no artigo 122.º do CPP.

• Os tribunais superiores têm enquadrado a preterição de audição prévia do arguido (cfr. artº 495º, nº2
do CPP) como nulidade insanável e, por conseguinte, de conhecimento oficioso pelo tribunal, nos
termos do disposto no artº 119º, alínea c) do CPP, vide: Ac. TRL de 1-03-2005, CJ, T2, pág.123; Ac. TRL
de 10-02-2004 ; Ac. TRE de 18-01-2005 e Ac. TRP de 4-03-2009 .

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• Nulidades relativas ou dependentes de arguição
Artigo 120º do CPP
• Elenco taxativo inserido neste artigo e em outras disposições do CPP –
p.ex. Artigo 134º n.º 3 e Artigo 309º CPP
• Têm que ser arguidas nos prazos especialmente previstos, sob pena de se
considerarem sanadas, sanação que existirá sempre com a ocorrência de
caso julgado, ou seja, decisão final proferida no processo transitada em
julgado.
• Só pode arguir o interessado (intervenientes processuais) que possam
beneficiar da procedência da arguição, ou seja, que tem interesse que o
acto seja praticado de forma regular e sem vícios.

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Artigo 120.º
Nulidades dependentes de arguição
1 - Qualquer nulidade diversa das referidas no artigo anterior deve ser arguida pelos interessados e fica sujeita à
disciplina prevista neste artigo e no artigo seguinte.
2 - Constituem nulidades dependentes de arguição, além das que forem cominadas noutras disposições legais:
a) O emprego de uma forma de processo quando a lei determinar a utilização de outra, sem prejuízo do
disposto na alínea f) do artigo anterior;
b) A ausência, por falta de notificação, do assistente e das partes civis, nos casos em que a lei exigir a
respectiva comparência;
c) A falta de nomeação de intérprete, nos casos em que a lei a considerar obrigatória;
d) A insuficiência do inquérito ou da instrução, por não terem sido praticados actos legalmente obrigatórios,
e a omissão posterior de diligências que pudessem reputar-se essenciais para a descoberta da verdade.

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Nulidades relativas ou dependentes de arguição; Regime da arguição -
Artigo 120 n.º 3 do CPP
Processo comum
Se o interessado assiste ao acto – durante o seu decurso.
Falta de comparência do assistente e partes civis por falta de notificação – 5 dias após notificação do
despacho que designa dia para audiência
Nulidades no inquérito com despacho de arquivamento – 5 dias após a sua notificação
Nulidades do inquérito ou instrução – até ao encerramento do debate instrutório
Prazos especiais consagrados em normas que especificamente prevêem outras nulidades – 8 dias no caso
da decisão instrutória
Fora dos casos especialmente previstos neste artigo, prazo geral de 10 dias (Artigo 105º do CPP).
Processos especiais – no início da audiência

Nos restantes casos não previstos: prazo de 10 dias – Artigo 105º n.º 1 do CPP
Exemplo: Artigo 397º n.º 3 do CPP

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Nulidade de insuficiência de inquérito – Artigo 120º n.º 2 alínea d) do CPP

• I) Apenas a omissão de ato que a lei prescreva como obrigatório pode consubstanciar a nulidade de
insuficiência do inquérito prevista na al. d) do n.º 2 do art. 120º. Já a omissão de diligências,
nomeadamente de produção de prova cuja obrigatoriedade não resulte de lei, não dá origem a essa
nulidade (neste sentido, Ac. do STJ de 23-05-2012 (processo n.º 687/10.6TAABF.S1), disponível em
http://www.dgsi.pt.). (Ac. TRG de 09/12/2020, proc. N.º 2018/15.0T9BRG.G1

• II) Com efeito, partindo da correta ponderação da estrutura acusatória do processo penal (art. 32º, n.º
5, da Constituição da República Portuguesa), bem como dos princípios do contraditório e da
oficialidade, a solução maioritariamente seguida pela jurisprudência é a de que a insuficiência do
inquérito respeita apenas à omissão de atos obrigatórios e já não também a quaisquer outros atos de
investigação e de recolha de prova necessários à descoberta da verdade.

• III) O Ministério Público é livre, salvaguardados os atos de prática obrigatória e as exigências


decorrentes do princípio da legalidade, de levar a cabo ou de promover as diligências que entender
necessárias, com vista a fundamentar uma decisão de acusar ou de arquivar o inquérito e não
determina a nulidade do inquérito por insuficiência a omissão de diligências de investigação não
impostas por lei (Ac. do TC nº395/2004, de 2/6/2004, DR.1.Série de 9/10/2004).

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NULIDADES INQUÉRITO

TRL de 24/05/2011, Proc. nº 1566/08.2TACSC.L1-5: “(…) em sede de inquérito, o juiz de instrução tem a sua competência
reservada aos actos tipificados na lei, designadamente os constantes dos artigos 268.º e seguintes do C.P.P., sendo gizada a sua
intervenção, sempre provocada (por motivo da inoficiosidade da intervenção jurisdicional no inquérito), segundo o modelo
garantista.
Quer isto dizer que o inquérito, enquanto aberto, é da exclusiva titularidade do Ministério Público e só permite a intervenção
pontual do juiz nos casos expressamente tipificados na lei. (…)
O juiz de instrução, no domínio do inquérito, é, sobretudo, um juiz de garantias e de liberdades, não tendo qualquer intervenção
de tipo hierárquico ou de supervisão jurisdicional dos actos do Ministério Público, para além dos consagrados nos artigos 268.º e
269.º do C.P.P.
As duas fases são autónomas - a intervenção do Ministério Público no inquérito e do juiz de instrução na fase eventual que se lhe
segue -, pelo que só em instrução – fase cuja direcção lhe compete – é que o juiz de instrução pode (deve) sindicar o inquérito
com vista a decidir da correcção da acusação ou do arquivamento.
(…) a arguição de nulidades do inquérito deve ser suscitada perante o Ministério Público, entidade que preside a essa fase
processual, com eventual reclamação para o superior hierárquico. Do despacho do Ministério Público (seja do inicial, seja do
despacho do superior hierárquico) não cabe reclamação para o juiz, nem recurso para o tribunal superior.
As nulidades do inquérito só podem ser conhecidas pelo juiz de instrução se requerida a abertura da fase processual da instrução
ou, na ausência de instrução, pelo juiz da causa no momento de recebimento dos autos (artigo 311.º, n.º 1 do C.P.P.), pois, nessa
fase, compete-lhe fazer o saneamento do processo e como tal conhecer das nulidades e outras questões prévias ou incidentais
que obstem à apreciação do mérito (e de que possa, então, conhecer, entenda-se).”

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NULIDADES INQUÉRITO
TRL, 15/03/2021, processo 2413/11.3TAFAR-A. L1-9
– Durante a fase de inquérito compete ao Ministério Público a decisão sobre a arguição de irregularidades praticadas por
si durante o inquérito, desde que estas não estejam compreendidas nos actos cuja competência esteja reservada ao JIC
nessa mesma fase.
Dúvidas não existem de que, tratando-se de acto praticado em fase de inquérito, cabe ao Ministério Público, que o dirige
— vd. artigos 53. °, n.º 2, alínea b) e 263. °, n.º 1, ambos do Código de Processo Penal -, pronunciar-se sobre a invocada
invalidades/irregularidade. Embora balizado pelo princípio da legalidade, a que igualmente estão circunscritos os juízes e
os órgãos de polícia criminal, o Ministério Público goza de autonomia que lhe é conferida pelo disposto no artigo 219. °,
n.º 2 da Constituição da República Portuguesa. Daqui resulta que, em sede de inquérito, salvo tratando-se de actos em
que haja reserva de juiz — e sê-lo-ão os previstos no artigo 268.º e seguintes do Código de Processo Penal -, a
competência para conhecer de nulidades ou invalidades é da competência de quem dirige essa fase processual.
Naturalmente que sempre sem prejuízo de poderem vir a ser apreciadas em diferente fase processual por um juiz, em
sede de instrução ou de julgamento. A lei aponta um caminho: a magistratura do Ministério Público, embora
responsável, é hierarquizada, como decorre do disposto no artigo 219.º, n.° 4 da Constituição da República Portuguesa
pelo que o interessado podia ter reclamado hierarquicamente.

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NULIDADES INQUÉRITO
No mesmo sentido Paulo Dá Mesquita (Direcção do Inquérito Penal e Garantia Judiciária, pág. 309),
afirma que, (...) a metodologia funcional da Constituição da República Portuguesa não acolheu tal
conceito material de jurisdição. Portanto ao MP compete conhecer e apreciar as nulidades em fase
de Inquérito, (...) contudo esta decisão do MP, sendo definitiva na sequência procedimental do
Inquérito, não vincula o órgão judicial que tiver de intervir nas subsequentes fases processuais (...) o
MP detém um poder de cognoscibilidade que, contudo, não forma caso decidido, (...) existindo
ainda um poder judicial de controlo dessas invalidades, em sede de incidentes judiciais em que se
revelem os actos inválidos ou no decurso de fases dirigidas judicialmente. Perfilha a mesma posição
Maia Gonçalves (Código de Processo Penal Anotado, lia Edição, 2007, pág. 313).
Ainda no mesmo sentido podem ver-se os acórdãos do Tribunal da Relação do Porto de 26.02.2014
(Proc. 9585/11.5TDPRT.P1), de 15.02.2012 (Proc. 36/09.6TAVNH.P1) e de 2.11.2015 (Proc.
0541293); o acórdão da Relação de Guimarães de 20.09.2010 (Proc. 89/09.7GCGMR.G1); e o
acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 24.05.2011 (Proc. 1566/08.2TACSC. L1.5).

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Sanação das nulidades – Artigo 121º do CPP

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Declaração de nulidade e seus efeitos – Artigo 122º do CPP
• Invalidade
• Quer o acto em que a nulidade foi cometida, quer os actos dele dependentes ou conexos ficam
inválidos
• Acto declarado nulo perde toda a validade e não produz efeitos
• Reconstituição
• Repetição dos actos considerados nulos, sempre que possível
• Custas dessa repetição imputadas a quem deu origem, culposamente, à falta (arguido, assistente
ou partes civis).
• Falta cometida pelo MP ou Juiz – expensas do Estado
• Aproveitamento
• Caso existam actos susceptíveis de escaparem ou der serem subtraídos ao efeito da nulidade,
devem ser aproveitados.
• O despacho que declara a nulidade, identifica os actos que perdem a validade, ordena
os repetíveis e identifica os que são aproveitáveis.
• O despacho que indefira a arguição de nulidade é recorrível nos termos gerais.

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Irregularidades – Artigo 123º do CPP
• Tem carácter residual, englobando a generalidade das situações em que haja violação
da legalidade na prática de um acto não ferido de nulidade – não se aplica o princípio
da legalidade
• Perante a verificação de uma ilegalidade:
• Se vem contemplada na lei como nulidade – segue o seu regime
• Se não vem contemplada na lei como nulidade, a falta é considerada como irregularidade
• Não acarreta qualquer espécie de nulidade, absoluta ou relativa
• Não é de conhecimento oficioso, tendo que ser arguida pelos interessados, sob pena
de sanação:
• No próprio acto, em caso de assistência ou nos 3 dias posteriores ao seu conhecimento.
• Pode ser reparada oficiosamente em qualquer momento em que dela se deva tomar
conhecimento e puder afectar o valor do acto praticado.
• Mesmo sendo de menor gravidade, as irregularidades podem afectar de forma grave
os direitos e interesses dos intervenientes processuais – a decisão que recaia sobre a
sua arguição é recorrível

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NULIDADE DA ACUSAÇÃO – REJEIÇÃO
TRG de 06/12/2017, processo n.º 149/15.5PBCHC.G1
A omissão de alguma das formalidades impostas no art. 283.º n.º 3 do CPP é cominada com a nulidade.
Face ao aditamento do n.º 3 do art. 311.º do CPP operado pela Lei n.º 59/98, de 25 de Agosto, os vícios estruturais da
acusação passaram a sobrepor-se às nulidades previstas no art. 283.º, e converteram-se em matéria sujeita ao
conhecimento oficioso do Tribunal, não estando, portanto, dependente de arguição por parte dos sujeitos processuais.
Estatui o art.º 311.º, n.º 2, al. a), que a acusação é rejeitada se for considerada manifestamente infundada, concretizando
o n.º 3 do mesmo preceito, na parte que releva para o caso concreto, que a acusação considera-se manifestamente
infundada quando não contenha a narração de todos os factos.
Assim, os vícios apontados terão como consequência, não a anulação do acto inválido e de todos os subsequentes que
dele dependem, nos termos do art. 122.º do CPP, mas sim a rejeição da acusação, com o consequente arquivamento do
processo.
Neste sentido, o Acórdão da Relação de Lisboa de 30/01/2007, proc. n.º 10221/2006-5, in www.dgsi.pt, onde se afirma
que “perante a estrutura acusatória do nosso processo penal, constitucionalmente imposta (art. 32.º n.º 5 do CRP), o
tribunal – leia-se o juiz – na sua natural postura de isenção, objectividade e imparcialidade, cujos poderes de cognição
estão rigorosamente limitados ao objecto do processo, previamente definido pelo conteúdo da acusação, não pode nem
deve dirigir recomendações ou convites para aperfeiçoamento, muito menos ordenar, ao MP, para que este reformule,
rectifique, complemente, altere ou deduza acusação, como não o pode fazer relativamente aos demais sujeitos
processuais – assistente ou arguido”.
Face ao exposto, declara-se nula a acusação particular deduzida, nos termos do art.º 283.º, n.º 3, al. b) e c), do CPP,
determinando-se a sua rejeição, por ser manifestamente infundada, nos termos do disposto no art.º 311.º n.º 2, al. a) e
n.º 3, al. b) e c) do CPP e não se admite o pedido de indemnização civil deduzido.
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NULIDADE DA ACUSAÇÃO – REJEIÇÃO

Ac. TRC de 22/05/2013, Proc. 368/07.8TALRA.C1


I - Face ao aditamento do n.º 3 do artigo 311.º do CPP, operado pela Lei n.º 59/98, de 25 de Agosto, os vícios
estruturais da acusação passaram a sobrepor-se às nulidades previstas no artigo 283.º, do mesmo diploma, e
converteram-se em matéria sujeita ao conhecimento oficioso do tribunal, não estando, portanto, dependente de
arguição por parte dos sujeitos processuais.
II - Sendo a nulidade em causa de conhecimento oficioso, pode ser conhecida, a todo o tempo, até ao trânsito em
julgado da decisão final.
IV - Da consagração da estrutura acusatória resulta inadmissível que o juiz possa ordenar ao MP os termos em
que deve formular a acusação. Por maioria de razão, não pode também o juiz suprir os vícios de que a acusação
padeça.
V - Assim, não podendo ser sanada a nulidade da acusação, a existência desse vício, verificada antes do trânsito
em julgado da decisão final, produz a invalidade dessa peça processual e de tudo o que tiver sido processado
posteriormente e, consequentemente, conduz ao arquivamento do processo, por inexistência de objecto.

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NULIDADE DA ACUSAÇÃO – REJEIÇÃO

TRL, de 06/04/2016, processo n.º 402/12.0TAPDL-A.L1-3


A acusação deverá conter, “sob pena de nulidade”, todas as referências indicadas no nº 3 do artº 283º do CPP, com especial
relevância a narração dos factos, abrangendo naturalmente os factos que integram todos os elementos objectivos e subjectivo do
tipo de crime imputado ao arguido.
Assim, a dedução de acusação pública sem observância dos requisitos legais previstos no nº 3 do artº 283º constitui uma nulidade
dependente de arguição (sanável ou relativa) que, como tal, segue o regime dos artigos 120º e 121º do CPP, com os efeitos fixados
no Artigo 122º do CPP
Significa, segundo o regime das nulidades, que a mesma tem de ser primeiro arguida, e em local e tempo próprio. A arguição da
nulidade da acusação por omissão das matérias referenciadas no nº 3 deverá então fazer-se perante o próprio magistrado que
deduziu a acusação, no prazo de 10 dias a contar daquele em que tiverem sido notificados para qualquer termo posterior do
processo ou tiverem intervindo em algum acto nele praticado (Artigo 105º n.º 1 do CPP), cabendo reclamação hierárquica da
decisão.
Não tendo sido arguida, esta nulidade da acusação, enquanto tal, consolida-se, assim transitando o processo para a fase de
julgamento ou de instrução se no processo comum vier a ser requerida.
(…)
Do nosso ponto de vista, e salvo melhor opinião, não deve o Juiz de Instrução nesta fase declarar nula a acusação por insuficiente
ou deficiente narração dos factos que conduzam a aplicação de uma pena, nos termos do disposto no artº 283º, nº 3, do CPP.
Primeiro, porque a nulidade não foi arguida no tempo e lugar próprio mostrando-se então sanada, e nunca a declaração de
nulidade da acusação pelo Juiz de instrução poderia ter como consequência a remessa dos autos ao MP com vista à sanção de tal
anomalia.
No fundo, o legislador veio nesta fase conferir ao juiz de julgamento o controlo jurisdicional dos vícios estruturais da acusação,
cujas consequências levariam à admissão de uma acusação manifestamente infundada.
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• Nulidades da Sentença – Artigo 379º do CPP
• A sentença é nula se não contiver:
• A fundamentação
• Factos provados e não provados
• Motivos de facto e de direito que fundamentam a decisão
• Exame crítico das provas
A nulidade, resultante da falta ou insuficiência da fundamentação, só ocorre quando não existir o exame crítico das
provas e não também quando forem incorrectas ou passíveis de censura as conclusões a que o tribunal a quo chegou
posto que, percebidas as razões do julgador, podem os sujeitos processuais, com recurso, quando tal for necessário,
ao registo da prova, argumentar para que o tribunal de recurso altere a matéria de facto fixada mas aqui já se está
em sede de impugnação da matéria de facto e não de nulidade da sentença.
Ac. STJ de 18/12/2019, Processo n.º 733/17.2JAPRT.G1.S1:A apontada fundamentação insuficiente determina a
nulidade da sentença, nos termos dos artigo 379.º, n.º 1, alínea a), e 374.º, n.º 2, do CPP, estando vedado o seu
suprimento por este Supremo Tribunal por se tratar de facticidade e valoração da prova, não lhe competindo
substituir-se ao julgador na convicção que deva formar sobre a prova produzida.

• A decisão condenatória ou absolutória

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• A sentença é nula se:
• Condenar por factos diversos dos da acusação ou pronúncia, sem quem tenham sido
feitas as advertências a que se referem os Artigos 358º e 359º do CPP
• Houver omissão de pronúncia – não conhecer de questões que deveria conhecer
• Se conhecer de questões de que não podia tomar conhecimentos
• Arguição e conhecimento oficioso
• Arguição das nulidades da sentença apenas e só por via de recurso, sem prejuízo do
seu conhecimento oficioso – Artigo 379º n.º 2 do CPP
• O interessado é obrigado a requerer a interposição de recurso, sendo para tanto
ineficaz requerer ao Juiz do processo que conheça determinada nulidade.
• Sendo interposto Recurso da sentença, no qual seja arguida determinada nulidade,
antes de ordenar a remessa do processo ao tribunal superior, o tribunal a quo deve
sustentar ou reparar tal nulidade – 379º nº 2 e 414º nº 4 CPP
• Podem ser reparadas pelo tribunal que proferiu a sentença, mas não pelos tribunais
superiores, não obstante o disposto no Artigo 379º n.º 2 do CPP

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Nulidade do Artigo 379º n.º 1 alínea a) do CPP

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De notar, porém, que com a alteração a redacção introduzida pela Lei n º
20 / 2013, de 21 de Fevereiro o tribunal de recurso deverá proceder ao
suprimento das nulidades da sentença recorrida. Não obstante, parece
evidente, que continuam a subsistir uma maioria de casos, em que só o
tribunal recorrido, estará em condições de expurgar do texto decisório a
nulidade nele detectada, sob pena de ocorrer a supressão de um grau de
jurisdição, constitucionalmente assegurado. (Ac. STJ citado)

Acórdão da RL de 27/01/2010, relatado por Maria José Costa Pinto, in


www.gde.mj.pt, proc. 649/08.3PQLSB.L1-3,: “…IV - Constatando-se a
omissão de pronúncia, não pode a Relação substituir-se ao tribunal
recorrido e suprir a nulidade, pois de outra forma suprimir-se-ia o único
grau de recurso ao dispor do arguido, violando-se a garantia constitucional
do duplo grau de jurisdição prevista no art. 32.º da CRP.”.

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Correcção da sentença
• Não sendo nula, nos casos do 379º nº 1 alíneas a) a c) do CPP, a sentença que não
contenha os elementos previstos no Artigo 374º do CPP e cuja omissão não seja
causa de nulidade nos termos do Artigo 379º do mesmo código, padecerá de
irregularidades
• Casos em que o tribunal, oficiosamente ou a requerimento, pode proceder à
correcção da sentença - previstos no Artigo 380º n.º 1 alíneas a) e b) do CPP:
• Não observância, total ou integral, do disposto no Artigo 374º do CPP, sem que se verifique
nulidade;
• Contiver erro, lapso, obscuridade ou ambiguidade
• O interessado terá de identificar correctamente o vicio de que padece a sentença
pois apenas se se tratar de irregularidade é que a arguição se bastará com
requerimento avulso. Doutra maneira, se for nulidade terá de recorrer.
• Se já tiver subido recurso da sentença, a correcção é feita, quando possível, pelo
tribunal competente para conhecer do recurso.

Noções Básicas de Processo Penal - O Regime das Nulidades - Carla Freitas


Legislação e Documentos de apoio
• Código de Processo Penal Anotado – M. Simas Santos e M. Leal-Henriques (Ed. Rei dos Livros, Lisboa, 2ª Ed. 1º Vol)
• Código de Processo Penal actualizado
• Acórdão citados, todos disponíveis em www.dgsi.pt
• Ac. TRP de 07.06.2017 Falta de fundamentação. Exame critico da prova. Nulidade.
I - Toda a decisão penal em matéria de facto constitui, não só, a superação da dúvida metódica, mas também da
dúvida razoável sobre a matéria da acusação e da presunção de inocência do arguido.
II - Tal superação é sujeita a controlo formal e material rigoroso do processo de formação da decisão e do conteúdo
da sua fundamentação ?, a fim de assegurar os padrões de exigência inerentes ao Estado de Direito.
III - O artigo 374º, 2, do Código de Processo Penal exige, sob pena de nulidade da sentença penal, um exame crítico
dos meios concretos de prova analisados em julgamento. Este só será suficiente quando identificar cabalmente o
percurso lógico-dedutivo que presidiu à convicção firmada, não se confundindo com referências genéricas que, de
tão abstratas, genéricas e esvaziadas de conteúdo preciso, ou que apenas reproduzam - total, ou parcialmente - o
teor da prova produzida, não permitam perceber o que de útil, em concreto, o tribunal extraiu e valorou de cada
meio concreto de prova produzido em julgamento e o motivo pelo qual assim decidiu.
• Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 47/2005: as garantias de defesa e o princípio da legalidade em processo
criminal impõem que no julgamento se proceda à apreciação de todos os factos legalmente relevantes para a
responsabilidade criminal do arguido, repercutindo-se a violação destes princípios na fundamentação da sentença
desvirtuando a sua função essencial

Noções Básicas de Processo Penal - O Regime das Nulidades - Carla Freitas

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