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Áreas rurais em faixa de


fronteira terão nova
legislação
Categoria: Geral | Publicado: quinta-feira, novembro 12, 2015 as 07:16 | Voltar

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O território brasileiro é muito vasto e, por causa disto, várias regras e


legislações relativas às propriedades no campo, que fazem divisa com
outros países, são desconhecidas e complexas. Para dar um passo
conclusivo sobre alguns aspectos nesta área, foi publicada em 23 de
outubro passado uma lei que visa pôr fim a uma das mais controversas
questões: o domínio particular em áreas rurais contidas na faixa de
fronteira do Brasil. A nova lei entra em vigor no próximo dia 7 de
dezembro.

“A faixa de fronteira seca corresponde à fronteira do Brasil com outros


dez países, abrangendo 11 Estados da Federação, mais de 500
municípios e mais de 30 cidades gêmeas, considerada área de segurança
nacional. Tal faixa não é homogênea, por diversos fatores geográficos,
sociais e econômicos”, avalia a diretora técnica da Sociedade Nacional
de Agricultura, a advogada Maria Cecília Ladeira de Almeida. Ela também
é professora de Direito Civil, Agrário e Ambiental da Faculdade de
Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Maria Cecília informa que, por causa destas características, é possível


dividir a fronteira nacional em três grandes regiões: Arco Norte, Arco
Central (RO, MT e MS) e Arco Sul (PR, SC e RS). Nestes arcos encontram-
se populações indígenas, com ou sem contato, descendentes de
imigrantes europeus, atividades extrativas, agrícolas familiares e
agronegócios, exploração madeireira mineral, exploração escrava, além
de contrabando de toda ordem.

“Neste universo estão aqueles que exercem a atividade agrária, nos seus
mais diversos perfis, quer como proprietário familiar, arrendatários,
parceiros, assentados, detentores de agronegócio, etc.”, esclarece.
SEGREGAÇÃO

De acordo com a diretora da SNA, a distância das faixas de fronteiras


dos grandes centros, muitas vezes da capital do Estado federado onde
estão localizadas, torna estes lugares segregados com populações,
muitas vezes, esquecidas das políticas públicas, sociais e econômicas
eficazes para o desenvolvimento.

“A própria incerteza dos eventuais proprietários, relativa aos títulos sobre


a terra que possuem, no sentido mais amplo da palavra, gera a enorme
insegurança para a definição de políticas públicas, para s aplicação de
investimentos, para o empreendedorismo, fatores que impulsionam o
desenvolvimento e que se encontram em outras regiões”, analisa.

Ainda segundo ela, não é difícil encontrar títulos emitidos pelos Estados
federados em área da União, ou sem, que tenham sido emitidos sem o
procedimento correto exigido na época de sua concessão ou alienação.

De acordo com Maria Cecília, “a necessária regularização fundiária do


País passa pela faixa de fronteira que merece um tratamento jurídico que
dê certeza ao seu ocupante do que possui e do quanto pode
transformar seu imóvel num bem de capital”.

Ela também ressalta que, quando se fala em cooperação e


interdependência internacional, globalização, entre outros, por via
terrestre, a faixa de fronteira é a primeira área de atuação.

“a necessária regularização fundiária do País passa pela faixa de


fronteira que merece um tratamento jurídico que dê certeza ao seu
ocupante do que possui e do quanto pode transformar seu imóvel num
bem de capital”, explica a diretora da SNA Maria Cecília Ladeira de
Almeida, advogada e professora de Direito Civil, Agrário e Ambiental.
Foto: Raul Moreira/Arquivo SNA

CONCEITO DE FAIXAS

De acordo com dados históricos, foi no Brasil do século 19que surgiu o


conceito de faixa de fronteira vinculado à ideia de segurança nacional,
em face das diversas guerras que se alastraram na América do Sul, como
a Guerra da Cisplatina, do Prata, do Paraguai, entre outros conflitos. Era
preciso firmar a soberania, legitimando a propriedade do País sobre seus
limites geográficos, enfim, sobre a faixa de fronteira.

A Constituição de 1891 (a primeira da República) inaugurou a questão,


determinando que o Congresso Nacional adotasse regime conveniente à
segurança das fronteiras. Daí para frente, as Constituições e legislações
infraconstitucionais disciplinaram a matéria, fixando, inclusive, limites
para a faixa de fronteira: 66 quilômetros (correspondentes a 10 léguas);
100 quilômetros e, finalmente 150 quilômetros de um ponto seco na
fronteira para o interior do Brasil.

“Hoje, por todos os fatores de segurança e desenvolvimento, é uma


exigência a certeza jurídica dos títulos dos que habitam tais regiões. Não
é possível continuar olhando para a enorme faixa de fronteira do Brasil e
considerá-la terra de ninguém”, argumenta.
Conforme explica, esse caos das situações de fato, aliados ao caos
legislativo que se construiu, ainda que com a melhor das intenções, faz
com que o legislador novamente venha apresentar nova legislação para
corrigir os equívocos passados, visando preservar os direitos adquiridos
e ratificando os títulos concedidos. “Essa medida é necessária para pôr
um fim a esse emaranhado legal e permitir que, com a segurança
fundiária, possa haver o tão almejado desenvolvimento, com as
ocupações regularizadas, com o incremento da produção agrícola,
inclusive extrativista, e com a redução da clandestinidade a que está
submetida a região”, evidencia a diretora da SNA.

Maria Cecília afirma que, da primeira impressão sobre a lei em questão,


verifica-se que o legislador considerou o trabalho de ratificação
hercúleo, de tal sorte que deu um prazo de quatro anos para que o
particular promova a sua ratificação perante o órgão competente, a
partir da data da publicação da lei, isto é, do dia 23 de outubro de 2015.
Portanto, a data fatal para a ratificação será dia 23 de outubro de 2019.

“Impossível dizer se é o bastante, a começar pelo despreparo aliado ao


desmanche das autarquias que devem atuar como entidades que
atuarão na ratificação”, observa a diretora da SNA.

RATIFICAÇÃO

As áreas passíveis de ratificação são todas aquelas que tenham registro


no competente cartório de registro de imóveis da circunscrição do
imóvel em questão, até a data da publicação da lei. Incluem-se os
imóveis obtidos por concessão de terras devolutas e alienação por
títulos expedidos pelos estados federados. Também estão incluídos no
processo de ratificação os desmembramentos e remembramentos de
referidas áreas.

“A partir daí, o legislador separa os procedimentos para a ratificação de


imóveis de até 15 módulos fiscais e para áreas acima de 15 módulos
fiscais. Finalmente, para os imóveis com mais de 2.500 hectares, há
outras exigências em consonância com a Constituição de 88.”

Os imóveis com área de até 15 módulos fiscais terão seus registros


ratificados, desde que não tenham o domínio questionado ou
reivindicado na esfera administrativa ou judicial pela Administração
Pública ou ação de desapropriação por interesse social para fins de
reforma agrária até a data da publicação da lei, isto é, 23 de outubro de
2015. “Naturalmente se houver sobreposição da área a ser ratificada com
outra área particular, a ratificação só acontecerá quando for resolvida a
questão entre particulares”, comenta.

De acordo com a advogada, para as áreas de mais de 15 módulos fiscais,


a obrigatoriedade da certificação do georreferenciamento, para iniciar o
processo de ratificação por si, já diz tudo, em termos de entrave.

“O georreferenciamento, previsto na Lei n.º 10.267/01, tem sofrido


diversas prorrogações quanto ao prazo fatal para o georreferenciamento
e certificação. Se por um lado, os interessados deixam para a última
hora, aguardando uma nova prorrogação, o que aconteceu
sistematicamente, por outro, o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) não foi aparelhado suficientemente com pessoal
necessário para atender a demanda criada, mesmo por que as pequenas
propriedades rurais deveriam ter seu georreferenciamento feito pelo
próprio Incra”, ressalta.

Nestes casos, ela explica que se o interessado não promover a ratificação


ou ela for impossível, no prazo de 4 anos, permitirá a União que requeira
o registro do imóvel em nome da União. Mas se não houver solução
para a ratificação requerida no prazo de 2 anos, isto não implicará em
ratificação compulsória.

“Em que pese o interesse público do tratamento diferenciado, não se


podendo ver tal diversidade como privilégio, mas como precaução com
o patrimônio público, não se pode deixar de pensar que, com isso, o
Poder Público pode se deixar levar por seu insistente descaso com a
regularização fundiária do País, iniciado com a legislação do Brasil
colônia e que, até hoje não, conseguiu eficazmente arrecadar o
patrimônio de terras devolutas, não conseguiu ter o mosaico das
propriedades rurais em todo Brasil. A segurança da regularização
fundiária é fundamental para o desenvolvimento do País”, enfatiza a
diretora da SNA

Ela salienta que, a partir daí, a legislação discrimina o seu alcance em


razão das diversas mudanças da largura da faixa de fronteira, em relação
ao tempo. Por exemplo: 66 quilômetros obtidos entre a entrada em vigor
da Constituição de 1891 até a entrada em vigor da Lei 4947/66, e assim
por diante.

Todavia, cria aqui um problema, pois entre os limites e restrições da


época. A obrigatoriedade da previa aprovação do Congresso Nacional
para áreas acima de 2.500 hectares surge em 1988, com a promulgação
da Constituição de então. Mas, como exigir tal aprovação em aquisições
anteriores? Para a dra. Maria Cecília, o governo precisa se mostrar
presente neste sentido. “O Congresso não se manifestava em épocas
passadas e não deve se manifestar agora, nas referidas ratificações.
Somente nas aquisições posteriores a 5 de outubro de 1988. Está se
ferindo o ato jurídico perfeito e o direito adquirido”, comenta.

A lei excepciona alguns procedimentos de ratificação, como os casos de


imóveis que já estejam envolvidos em processo judicial de
desapropriação, por interesse social para fins de reforma agrária, e que
não comprovem a legitimidade de seu destaque do patrimônio público,
embora tenham registro imobiliário. Nestes casos, ela afirma que deverá
haver a citação do estado membro da federação, para participar do
processo. O valor da indenização permanecerá depositado até que
resolvida a questão do destaque, cujo vencedor suportará então a
desapropriação, nos termos da Lei 8.629/93.

Existe, porém, uma controvérsia relativa as áreas que não forem


ratificadas, pois elas registradas em nome da União. E o que fazer com as
benfeitorias e acessões realizadas pelos particulares nas respectivas
áreas, enquanto ocuparam o imóvel? Para a dra. Maria Cecília, só existe
uma maneira de resolver esse impasse. “Reza a doutrina e a legislação
que toda e qualquer benfeitoria em imóvel público é de má-fé e, como
tal, não pode ser indenizada, com exceção das necessárias. Por outro
lado, também reza a legislação agrária que o poder público não pode
deter para si imóvel rural, devendo transferir para processos de
regularização fundiária. Dessa forma, as áreas arrecadadas e registradas
em nome da União serão destinadas a programas de regularização
fundiária. Neste caso, os ocupantes anteriores têm preferência na
aquisição de tais parcelas, como posseiros que agora serão
considerados, nos termos das demais legislações agrárias em vigor”,
detalha.

Por fim, dra. Maria Cecília afirma que, para se obter êxito nessa questão,
“é preciso que todos os envolvidos atuem com bom senso, pois a
segurança da dominialidade permitirá o empreendedorismo, o
incremento do setor agrícola, a mitigação da clandestinidade, enfim, o
desenvolvimento nacional”.
Publicado por: Iza Olmos Rodrigues de Lima

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