Você está na página 1de 4

I.

Do Direito

1. Da Gratuidade de Justiça (Cris)


 Os Requeridos apresentaram declaração de Hipossuficiência e comprovantes de sua
situação econômica. Eles não são capazes de arcar com os gastos judiciais sem
prejudicar o seu sustento.

 Outrora a comprovação da hipossuficiência poderia ser considerada suficiente, pois de
acordo com o art. 98 do Novo CPC, “A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou
estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais
e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.”, pois
considerando o art. 99 do Novo CPC, § 3º “Presume-se verdadeira a alegação de
insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural.”
O debate dos autos envolve pessoas de baixo poder aquisitivo que tentam manter a sua
propriedade e o local onde celebram sem fins lucrativos atividade religiosa da qual
tiram o seu sustento. Em prol desse segmento da sociedade a Constituição Federal prevê
no art. 5º, inciso LXXIV: “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos
que comprovarem insuficiência de recursos;”.

2. Do Caso Fortuito e Força Maior em Decorrência da Pandemia de Covid-19 (Cris)


 Cita autor que o Requerido deixou de adimplir várias parcelas no ano de 2020, ou seja,
ele próprio reconhece que o inadimplemento ocorreu no momento em que a
Pandemia Global em decorrência da COVID-19 estava instalada em todo o mundo e
comprometendo o sistema econômico de vários países e não antes.
 Conforme narrado nos fatos, na época da negociação do imóvel, o Requerido e sua
família retiravam a maior parte de sua renda da barbearia situada na ________.
Entretanto, o referido salão e fonte financeira teve que ser fechado em decorrência de
prejuízos, restrições sanitárias em razão da COVID-19.
 Os eventos realizados na igreja eram outra fonte de renda para a quitação dos
valores revertidos à compra do lote, bem como para manutenção das necessidades da
igreja. Os eventos e retiros realizados costumavam reunir uma quantidade mínima de
___. Em decorrência da pandemia os trabalhos foram interrompidos durante vários
meses, comprometendo assim boa parte do valor utilizado para o pagamento das
parcelas contratadas.
As atividades estão retornando, mas a passos lentos, pois ainda existem restrições
impostas pelas autoridades sanitárias e pelo governo. Ainda persiste o senso de
responsabilidade dos Dirigentes, que presa pela saúde dos participantes e amigos da
igreja, bem como o temor da população em adentrar em locais com outras pessoas. Por
conta do afastamento social e a fim de promover a não aglomeração, o local é aberto,
com a livre circulação de ar, a maior parte das pessoas ficam em área ao ar livre, o que
limita o número de participantes para ____ pessoas, apenas ___ % da capacidade de
ocupação da igreja. Por conta do afastamento social e a fim de promover a não
aglomeração a Igreja tem limitado o número de pessoas e a sua capacidade de ocupação,
pois a pandemia ainda não acabou. E essa medida tem sido uma sangria no ingresso de
receitas da atividade religiosa.

Em um escrito de meados de 1762 antes de Cristo o epílogo do Código de Hamurabi


dizia: “os poderosos não podem oprimir os fracos, a justiça deve proteger as viúvas e
os órfãos (…) para que seja feita justiça para com os oprimidos”. Em pelo menos
quatro ocasiões houve anulações gerais de dívida naquele reino, algumas dessas tiveram
necessidade não em festividades, mas em adversidades, como grandes secas ou pragas.
O rei era sábio e tinha conhecimento que uma sociedade que não tinha capacidade de
honrar as suas dívidas se tornava uma massa escrava e obstruiria a prosperidade e
segurança do reino. Essa tradição mesopotâmica inspirou outras civilizações ao longo
de eras, gregos, egípcios, romanos e mais recentemente os Estados Unidos com o New
Deal, após a queda da bolsa de valores em 1929.

Esse valor tradicional de preservação financeira da sociedade no enfrentamento de


calamidades foi recepcionado pela legislação brasileira. O artigo 393 do Código Civil
prevê: “O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força
maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O
caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era
possível evitar ou impedir.” Conhecido academicamente como Caso Fortuito ou Força
Maior.
A COVID-19 é uma calamidade que se insere exatamente nessa previsão jurídica. Ela
ainda não terminou, mas a sociedade a injusta sociedade brasileira já amarga
incontáveis prejuízos. A crise foi tão séria que o Estado brasileiro decretou a lei 14.010
de Junho de 2020 em caráter excepcional para dispor “sobre o Regime Jurídico
Emergencial e Transitório das relações jurídicas de Direito Privado (RJET) no período
da pandemia do Coronavírus (Covid-19) .”

Nesse passo, pode-se asseverar:


“Dessa maneira, em um primeiro momento, afirma-se que o caso fortuito e de força
maior são eventos danosos, naturais, estatais, sociais ou humanos, prováveis (ou não),
que produzem efeitos inevitáveis ou impossíveis de ser impedidos, com o fortuito e a
força maior tendo por núcleo comum a inevitabilidade das consequências, como se
deduz dos arts. 234, 393, parágrafo único, 575, caput 636, 650, 667, § 1o, 862 e 868 do
CC. Ressalva-se que nem toda inevitabilidade se configura como caso fortuito ou de
força maior, sendo necessário que ela tenha consequências contra o adimplemento de
uma obrigação negocial ou a reparação de uma obrigação extranegocial. Essa
inevitabilidade de efeitos deve ser estranha à atividade do agente, deixando-o
impossibilitado de agir para impedir tal evento” (NORONHA, 2010, p. 652-653).

Portanto, não há duvidas que essa é definitivamente uma situação de caso fortuito ou
força maior, amparada pela Teoria da Imprevisão, os efeitos desse surto não eram
possíveis de evitar ou impedir. É uma situação excepcional. A Lei que instituiu a
Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, trouxe disposição expressa aos
contratos civis e empresariais, que “presumem-se paritários e simétricos até a presença
de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessapresunção” “a revisão
contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada” (inciso III, do art. 421-
A, do Código Civil Brasileiro).

A gravidade e excepcionalidade foram tão severas que o Estado brasileiro tomou


diversas medidas excepcionais para a contenção da pandemia, os impactos foram
incontestes na capacidade de locomoção, interação e no contato físico da população.
Entre as medidas adotadas destacam-se: restrições de acesso ao Brasil por via aérea e
terrestres de estrangeiros(as) não residentes7, solicitação pelo Presidente da República
de reconhecimento de calamidade pública; decretada pelo Congresso Nacional, por
meio Decreto Legislativo no 6, de 20 de março 2020 8, a edição da Medida Provisória
925/2020 com medidas emergenciais para a aviação civil brasileira;9, a criação da
Medida Provisória 921/2020 – crédito para enfrentamento do Covid-19 – pendente de
apreciação pelo Congresso Nacional;10 a entrada em vigor da Lei Federal n.o
13.979/2020, que dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde
pública de importância internacional e a recente edição da Medida Provisória 927, que
promove alterações em uma série de regras trabalhistas.”

O Requerido e a família suplicam à Justiça, em situação excepcional, que haja


ponderação e esforços para que se privilegie a revisão contratual em detrimento do fim
da relação. Eles tentaram o diálogo e a negociação o tempo todo com o Autor, de todas
as maneiras, inclusive para por fim a essa demanda judicial. Houve um acordo
negociado com o advogado dele, fora dos autos, com concordância de ambas as partes,
mas então o Autor sem mais nem menos, ignorou o acordo e pediu seguimento no feito.
O Autor celebrou o contrato com todas as facilidades, baseado na amizade e confiança,
agora resolveu se comporta como o inspetor Javert do romance de Victor Hugo.

O Requerido e a sua família dedicaram a vida deles à uma igreja, e que também
comporta as suas residências, razão pelo qual buscam alcançar a redução da
obrigação, dilação do prazo para o seu cumprimento, alteração do modo de
executá-la, ou mesmo uma suspensão temporária dos efeitos do contrato durante a
crise se socorrendo nos termos do art. 393 do Código Civil.

À luz do enunciado 175 da III Jornada de Direito Civil16: “se a pandemia de covid-19
e seus efeitos econômicos e sociais serão considerados como fatos imprevisíveis e,
consequentemente, se serão autorizadores da aplicação dos dispositivos do CC
supramencionados.”

 Jurisprudência (art.393)
 Extrato de movimentação da conta do Thomas na época da barbearia e de
atualmente
 Ficha com numero de participantes antes e depois da pandemia

Você também pode gostar