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Ainda no século XXI é possível observar algumas feridas abertas no Estado Brasileiro no que
tange à desigualdade social. A despeito de haver uma constituição cidadã que inaugurou um período
próspero de asseguração de muitos direitos, inclusive aqueles considerados fundamentais, numa
perspectiva de direito internacional, pode-se observar que o Brasil permanece pecando quanto ao
acesso à moradia, bem como segurança, sobretudo para pessoas oriundas de uma situação de
vulnerabilidade social ou afrodescendentes.
Numa perspectiva histórica, pessoas pretas foram excluídas do acesso à moradia desde o
período pós abolicionista, Cavalcanti (2021) defende que o Estado acabou falhando na reforma
agrária, não determinou políticas de terra sérias para registro e a política internacional foi muito
tímida.
Neste sentido, ao privilegiar um grupo quando do acesso à terra e possibilidades de produção,
como no caso dos imigrantes europeus no processo eugenização do Brasil (europeização da população
brasileira), ainda, tendo em vista a necessidade de expandir rapidamente o setor da plantação de café,
principal ramo do Brasil.
De modo bem simples, essa combinação de libertar pessoas escravizadas sem reparação,
indenizações ou acesso à terra, resultou no grande número de pessoas negras morando em locais de
periferia, em situação de precariedade e risco. Algo que vemos desde o século XIX. Sendo assim, o
tema do acesso à moradia sempre foi latente, contudo apenas no final do século XX com sua inserção
na Magna Carta no art. 6º.
Com o advento da Emenda Constitucional n° 26/2000 o direito à moradia foi incluído no rol
dos direitos sociais, não mais se falando no sistema antigo do Banco Nacional de Habitação. Na
mesma medida, também houve movimentação em sentido de aprimorar este direito por intermédio da
criação do Estatuto da Cidade, criado em julho de 2001.
No mesmo ínterim, a CF 1988 traz em seu art. 6º o direito social de “Segurança”, isto é
Direito à Segurança, um tema tão caro à moradia, já que, conforme se vê, negros desde o século XIX
estão em situação de vulnerabilidade social, desemprego, em situação moradia irregular e em
condição de marginalização, o que os coloca em evidência quando do tema da segurança pública, já
que as abordagens policiais são muito truculentas quando da incursão da polícia militar nas
comunidades ou abordagens policiais nas ruas direcionadas aos homens negros tendo por base o
princípio da suspeição.
Ainda, o art. 144 da Constituição de 1988 revela que : “A segurança pública, dever do
Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: [...]”.
O art. 144 cita a palavra incolumidade, isto é, isenção de perigo, de dano; segurança e, como
vimos, nem todo cidadão se sente protegido pelo Estado, restando este último omisso quanto a
cidadãos periféricos, negros, baixa renda e em situação de moradia precária, já que são pessoas que
são mais afetadas quando das enchentes e deslizamentos, restando ao Estado a função de resolver tal
situação, mas mesmo o aluguel social, bene´ficio oferecido por alguns órgãos como prefeitura, repasse
do Estado, não são cumpridos.
Acerca deste tema, visa-se destacar dois pontos: em relação à moradia, a quem é dado o
acesso e como facilitar, em um país de proporções continentais, condições que favoreçam ao cidadão
e não aos bancos a possibilidade de adquirir um imóvel sem necessidade de financiar por 30 anos com
altas taxas de juros? No que tange ao tema da Segurança Pública, como ressignificar o sentido de
proteção da sociedade, quando a instituição Polícia Militar possui um modus operandi distinto dentro
da periferia e na zona sul, deixando explícito que, para situações distintas, diferentes medidas, isto é,
dois pesos e duas medidas a depender do cidadão ( região).
A entrevista será centrada em 3 questões específicas para cada Direito, e 3 questões para
situações que envolvam a intersecção dos dois direitos, já que estão intimamente conectados numa
visão holística acerca das obrigações estatais.
Considera-se uma situação em um fórum no qual há a participação de três representantes dos
governos Estadual e Federal.
PERGUNTAS:
1) Tendo em vista o caráter letal das abordagens policiais nas incursões nas regiões
periféricas, quais ações serão tomadas visando parar tal prática que atravessa o século
causando morte e dor, mostrando um modus operandi que não é universal, mas sim
direcionado a determinados grupos?
2) Que ações podem ser tomadas para reformulação do processo formativo desses
policiais ( academia de polícia), de modo que se possa trazer uma nova perspectiva
em como se fazer abordagens policiais e a quem fazer, tendo em vista que isso pode
gerar um aumento na judicialização das abordagens, uma vez que há uma falta de
preparo que tornem esses policiais mais centrados e que ajam de modo não letal?