Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – UEPA

DISCENTE: MARCOS FELIPE OLIVEIRA RIBEIRO

CLÁSSICAS DO PENSAMENTO SOCIAL: MULHERES E FEMINISMO NO SÉCULO


XIX

(HARRIET MARTINEAU)

(1802–1876)

BELEM / PA

2023
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ — UEPA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAS E EDUCAÇÃO — CCSE

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

TURMA: 1ª SEMESTRE / VESPERTINO

DATA DE ENTREGA: 21/08/2023

Trabalho avaliativo apresentado à disciplina


Sociologia Histórica ministrada pelo Docente:
Mário Jorge Brasil Xavier.

BELÉM / PA

2023
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

DAFLON, Verônica Toste; SORJ, Bila. 1. Harriet Martineau (Norwich, Inglaterra, 1802–
1876). In: Clássicas do pensamento social: Mulheres e feminismo no século XIX.
1ª edição. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2021. p. 19-37.

CREDENCIAIS DA AUTORA:

Harriet Martineau (Norwich, Reino Unido, 1802 – Ambleside, Reino Unido,


1876), foi uma economista, jornalista, ativista, escritora e sociologia britânica, nasceu
na grã Bretanha em uma família de huguenotes1 franceses, ficando conhecida como
a primeira mulher socióloga e uma das fundadoras da Sociologia. Uma de suas
principais contribuições para a sociologia, foi a tradução do curso de filosofia positiva
do francês Auguste Comte para a língua inglesa, promovendo a divulgação das ideias
do filósofo, além de ser uma grande intelectual pública, defensora da abolição da
escravatura e defensora dos direitos das mulheres.

Com o noivado rompido, a morte do pai, e a falência dos negócios da família,


Martineau se tornou responsável pelo seu próprio sustento, foi então que ela começou
a escrever. E apesar de não poder estudar em uma universidade como seus irmãos,
Harriet publicou diversos artigos, livros de viagem, livros de história, romances, contos
infantis, textos jornalísticos e desenvolveu diversos estudos e pesquisas nas áreas da
religião, relações familiares, política norte americana, suicídio, divisão do trabalho,
caráter nacional, educação das mulheres, relação entre instituições e indivíduos, e
situação social da mulher. Suas principais obras são : Ilustrações de economia
política(1832), Sociedade na América (1837), Como observar a moral e costumes
(1838), A hora e o homem (1841), Os meninos Crofton (1841), Vida oriental (1848),
Educação domiciliar (1849), Cartas da Irlanda (1852), Inglaterra e seus soldados
(1859), Autobiografia de Harriet Martineau (1877).

1No século XVII, “huguenotes” era o nome designado aos protestantes na França, principalmente aos
calvinistas.
RESUMO DA OBRA:

A obra inicia destacando e indagando a escassez de abordagens sociológicas


clássicas produzidas por mulheres e sobre mulheres. Observa-se que muitos autores
considerados clássicos do século XIX e início do século XX, negligenciaram questões
de gênero em suas teorias e definições do mundo social, perpetuando ideias
androcêntricas e a ideologia da domesticidade dominante no pensamento social do
século XIX, que consiste na ideia de que homens e mulheres, por natureza, estão
destinados a diferentes ambientes e esferas da vida, o campo político, público e do
mercado corresponde aos homens, enquanto que o espaço doméstico, privado, do lar
e da família está diretamente ligado às mulheres.

No entanto, é apresentado como uma exceção, a mulher Harriet Martineau,


uma pioneira no campo da Sociologia, ou como ela mesmo denominou “Ciência da
sociedade”, onde desenvolveu um método sistemático de estudo do mundo social,
explorando tópicos como casamento, relações entre sexos, infância, política de casa,
trabalho doméstico e status social das mulheres, defendendo que, essas questões
tem importância tanto quanto os temas tradicionais da sociologia como : as instituições
políticas, a indústria, o mercado, a legislação, a imprensa e as classes sociais.

Com sua abordagem sistemática, ela desafiou as normas da época ao trazer à


tona a importância das questões de gênero na sociologia, que constitui parte integral
da pesquisa sobre sociedade em toda a sua obra, influenciando futuros estudos
chamados de interseccionais. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos,
Martineau reconheceu a relevância do doméstico e do privado, além de destacar as
desigualdades e interações complexas que permeiam a sociedade, dessa forma,
abrindo um caminho para uma perspectiva sociológica mais ampla e inclusiva,
enfatizando a importância da análise de gênero, classes sociais e raças, que são
elementos que produzem as desigualdades e que se combinam de várias formas.

No capítulo é apresentado ao leitor trechos de três obras da autora : Como


observar a moral e os costumes, serviço doméstico e sociedade na América.

Os trechos do livro escrito em 1838 “Como observar a moral e os costumes”,


considerado um guia etnográfico, é para todos que desejam conhecer mais sobre os
diversificados mundos sociais. Os trechos discutem a importância de um método, da
observação detalhada e sistemática na pesquisa das ciências sociais, a autora
enfatiza a necessidade de evitar generalizações apressadas, além de definir um
objeto de pesquisa e utilizar métodos para organizar as observações. Isso é
perceptível na seguinte passagem:

O viajante não deve fazer generalizações de imediato,


independentemente de quanto a sua compreensão seja
verdadeira — e de quão sólido seja o seu conhecimento de um
ou mais fatos (DAFLON ; SORJ, 2021, p. 26-27).

Martineau destaca a importância de controlar preconceitos e predisposições ao


estudar outras culturas e grupos sociais, deixando claro a necessidade de empregar
um método rigoroso para evitar conclusões falhas. A autora também aborda a relação
entre observador e observado, destacando que o observador deve ter segurança
sobre oque deseja saber, além de estar preparado e equipado com princípios para
interpretar corretamente o que vê, logo, a pesquisa sociológica requer preparo
intelectual e empatia, a fim de evitar o julgamento baseado nos próprios valores do
observador ao observar outras culturas. Também vale ressaltar que a mente do
observador é meio pelo qual o trabalho é feito, e caso não funcione bem, o mesmo
fornecerá um produto ruim, independentemente do material disponível para análise.
Em síntese, é recomendo que o observador com empatia busque compreender o que
é observado e evite conclusões precipitadas.

Além disso, é ressaltado que durante as viagens, é essencial falar com diversas
pessoas e estudar as instituições e registros sociais como meio de obter informações
relevantes e confiáveis. A abordagem de Martineau enfatiza a necessidade de uma
investigação sensata da moral e dos costumes, observando tanto as pessoas quanto
as coisas, e respeitando a diversidade cultural, além de examinar elementos como
religião, moral predominante, vida doméstica e ideia de liberdade e progresso ao
estudar uma sociedade. Em suma, o trecho traz a abordagem metodológica e
filosófica de Martineau em relação à pesquisa sociológica, deixando evidente a
necessidade de uma observação cuidadosa, e que seja livre de preconceitos ao
estudar as complexidades da sociedade.

O outro trecho denominado de “Serviço doméstico” escrito por Martineau em


1838, trata das relações de poder e desigualdades socias presentes no trabalho
doméstico, além de abordar a sua relevância social que chegou a ser frequentemente
ignorada e negligenciada pelos seus contemporâneos. É explorado a relação de poder
desigual entre empregadores e empregados, destacando como a sujeição ao serviço
doméstico reflete questões de gênero, classe e poder, quanto a isso, é argumentado
pela autora que a falta de compreensão e empatia entre as classes contribui para a
propagação de preconceitos.

É argumentado que a sociedade subestima esse tipo de trabalho, muitas vezes


considerado inferior e insignificante, e que o trabalho doméstico é uma mistura
complexa entre os elementos de escravidão e contrato de trabalho. Martineau também
ressalta que a educação, tanto dos empregadores quanto dos empregados, é
fundamental para quebrar essas barreiras e trazer mudanças sociais, onde a empatia
e conhecimento mútuo entre as classes sociais são necessários, para que a educação
possa promover uma mudança positiva e quebrar preconceitos, tornando o serviço
mútuo, algo honroso em vez de vergonhoso. Em síntese, é oferecido uma visão
profunda sobre as complexidades das relações sociais, desafiando as noções
tradicionais sobre o serviço doméstico.

E por último encerra com o trecho da obra "Sociedade na América" que resulta
de dois anos(1834-1836) de pesquisa de campo nos Estados Unidos, sendo publicada
posteriormente em 1837. Apresentando um relato detalhado e objetivo, Martineau se
esforça para garantir o rigor científico, fornecendo as circunstâncias das observações,
ela explora o valor de sua perspectiva como mulher, destacando como isso lhe
concede acesso à vida doméstica e à intimidade das pessoas pesquisadas,
enriquecendo sua análise sociológica.

Ao longo de sua jornada, Martineau visita uma variedade de instituições, desde


prisões e hospitais até plantações e fábricas, permitindo-lhe examinar amplamente a
sociedade americana. A autora enfatiza a importância de compreender as práticas e
os comportamentos morais da sociedade, incluindo temas como escravidão,
discriminação contra imigrantes e pessoas negras livres, bem como a posição social
das mulheres. A obra também destaca suas conclusões gerais sobre a relação entre
moral e comportamento nos Estados Unidos, onde Martineau identifica e critica as
chamadas "anomalias" presentes na sociedade americana, como a escravidão no Sul,
a discriminação racial, preconceitos contra imigrantes e a desigualdade de gênero,
que contradizem seus valores morais universais de cidadania e igualdade.
COMENTÁRIO:

Ao meu ver, a análise crítica que Harriet Martineau traz, revela seu pioneirismo
e sua importância para a história da Sociologia, ao introduzir no campo das ciências
socias questões de gênero e desigualdade social, justamente em uma época em que
tais temas eram amplamente negligenciados. É notável, sua abordagem meticulosa à
pesquisa, conforme demonstrado em trechos como "Como observar a moral e os
costumes", que destaca a importância de evitar generalizações apressadas e de se
envolver em um estudo cuidadoso e empático das complexidades sociais, é
importante ressaltar que essa obra introduz aos métodos das ciências sociais antes
mesmo de Émile Durkheim o fazer. Sem dúvida, Martineau traz diversas contribuições
para nós estudantes, professores ou pesquisadores, sobre como observar um objeto
de pesquisa e fazer uma pesquisa de fato. Sem falar também que ela ousou abordar
o trabalho doméstico e suas desigualdades, desafiando as noções tradicionais sobre
essas temáticas que são atuais e relevantes para discussão

A análise rigorosa de Martineau na obra "Sociedade na América" evidencia seu


compromisso em compreender a sociedade de forma completa, explorando
instituições variadas e destacando temas como escravidão, discriminação racial e
desigualdade de gênero, que são temas atuais e que estão presentes no cotidiano, as
conclusões de Harriet Martineau criticam as "anomalias" sociais nos Estados Unidos,
que contradizem valores universais de cidadania e igualdade. Um ponto positivo da
obra é o seu enfoque inclusivo, trazendo à tona não apenas questões econômicas e
políticas, mas também aquelas ligadas ao cotidiano, ao doméstico e ao papel das
mulheres, que são temas essenciais, pois serve para entendemos melhor o
funcionamento da sociedade.

Portanto, é relevante ao longo dessa obra como Harriet Martineau desafia as


normas de seu tempo, defendendo uma abordagem sociológica que considera a
multiplicidade de perspectivas, a importância das relações de gênero, classe e raça,
e a necessidade de empatia e compreensão nas pesquisas sociais, que são
fundamentais para nossas análises, a fim de evitarmos preconceitos. Sua contribuição
ecoa até os dias atuais, influenciando e aprimorado estudos interseccionais, além de
ser uma excelente obra para desenvolver nosso senso crítico e conhecimentos, é uma
obra que busca reforçar uma Sociologia mais abrangente e inclusiva, diferente
daquela sociologia tradicional a qual estamos acostumados.

Você também pode gostar