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REDE DE CUIDADOS À PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Carina Mota de Almeida - RA 28300005


Michel Jhonny Ferreira - RA 28117153
Jéssica Yumi Mitsuyassu - 28301794
Maria Elizângela de Souza - RA 28287669
Dayane Cristine da Silva Lima - 28300066
Viviane Ferreira - RA 28242637

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, em 2010, registrava-se maior prevalência de todos os tipos de

deficiência na população de 65 anos ou mais, o que apresenta uma íntima

ligação entre o processo de envelhecimento e a resultante ausência de sua

função. Ademais, essa circunstância exige a execução e o consequente

aumento da rede de serviços de reabilitação para receber a crescente procura

da população brasileira, tanto de idosos quanto de pessoas com algum tipo de

deficiência.

Diante desse panorama, 23,9% possuem pelo menos uma das deficiências:

visual, auditiva, motora, mental ou intelectual, sendo em primeiro lugar a

deficiência visual afetando 18,6%; em segundo lugar está a deficiência motora,

ocorrendo em 7,0%, seguida da deficiência auditiva, em 5,10% e da deficiência

mental ou intelectual, em 1,40%.

Na atual cenário do Brasil, os serviços públicos de saúde de reabilitação ainda

se constituem pelo fracionamento e a ruptura assistencial. Por conseguinte,

devido a ocorrência de vulnerabilidade na combinação entre as instâncias

gestoras do sistema, a gerência dos serviços e as equipes profissionais que

atuam na ponta, é estimado a urgência na ordenação, programação e

concretização de interferências baseadas nas diretrizes da rede de cuidados.


Portanto, a Atenção Básica à Saúde (ABS) é a porta de entrada do sistema em

rede, coordenando intervenções do primeiro nível de atenção e procedendo

respectivos encaminhamentos para demais pontos de atenção da rede de

cuidados da pessoa com deficiência. Para tal, a Integração favorecerá a gestão

coordenada do cuidado, proporcionando a integralidade aos seus usuários, a

articulação de ações de promoção da saúde e prevenção, tratamento e

reabilitação de doenças e agravos. Por fim, procurando regressar essa situação

de desagregação e ruptura do cuidado e assistência da população, a

reorientação do modelo de atenção à saúde no Brasil tem como principal

estratégia a estruturação de uma rede primária de atenção baseada na

Estratégia da Saúde da Família (ESF) e que dê amparo às demandas de saúde

da população.

De acordo com a Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência, a

assistência a essas pessoas deve se basear na pressuposição de que, além da

necessidade de atenção à saúde específica da sua própria condição, esses

indivíduos também podem ser acometidos por doenças e agravos comuns aos

demais, necessitando, portanto, de outros tipos de serviços além daqueles

estritamente ligados à sua deficiência. Nesse sentido, a assistência à saúde da

pessoa com deficiência não poderá ocorrer somente nas instituições específicas

de reabilitação, devendo ser a ela assegurado o atendimento em toda a rede de

serviços no âmbito do (SUS).

2. OBJETIVOS GERAIS

Analisar as implicações da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no

âmbito do Sistema Único de Saúde.


3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Apresentar as barreiras para implantação de cuidados da Pessoa com

Deficiência.

4. PANORAMA GERAL

A garantia à saúde das pessoas com deficiência é prevista na Constituição

Federal, sendo esta competência repartida entre União, Estados e Município.

Além disso, existe a Lei nº 7.853/89 que instrumentaliza os direitos individuais e

coletivos da pessoa com deficiência e a lei nº 8080/90, definida como Lei

Orgânica da Saúde, a qual orienta a prioridade de atendimento para pessoas

com deficiência.

Seguindo esse espírito, o Governo Federal através do Ministério da Saúde,

portaria nº 1.060, de 5 de junho de 2002, estabeleceu a Política Nacional de

Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência, que tem como objetivo geral:

[...] reabilitar a pessoa com deficiência na sua capacidade funcional e no

seu desempenho humano – de modo a contribuir para a sua inclusão

plena em todas as esferas da vida social – e proteger a saúde do citado

segmento populacional, bem como prevenir agravos que determinem o

aparecimento de deficiências (BRASIL, 2002).

Esse objetivo deve ser alcançado por meio de diretrizes que envolvem: a

promoção da qualidade de vida, a prevenção de deficiências; a atenção integral

à saúde, a melhoria dos mecanismos de informação; a capacitação de recursos

humanos, e a organização e funcionamento dos serviços.


Por fim, a Portaria nº 4.279 GM/MS, de 30 de dezembro de 2010 oficializou as

diretrizes para a organização das RAS no âmbito do SUS com através da

implementação da Rede de Cuidado à Pessoa com Deficiência (RCPD).

Como componentes básicos dessa rede podemos citar a Atenção Básica; a

Atenção Especializada em Reabilitação auditiva, física, intelectual, visual,

ostomia e em múltiplas deficiências; a Atenção hospitalar e de a urgência e a

emergência, que devem apresentar articulação entre si, visando garantir a

integralidade do cuidado e o acesso aos pontos de atenção e ou serviços de

apoio, garantindo a equidade na atenção aos usuários (BRASIL, 2012).

Como propostas de ação da RCPD destacam-se: a ampliação de acesso aos

centros especializados em reabilitação (CERs); a ampliação de oferta de órteses

e próteses; a ampliação da atenção odontológica; a ampliação da triagem

neonatal e a elaboração e publicação de diretrizes terapêuticas. Porém,

necessário se fazia assegurar incentivos financeiros para o componente Atenção

Especializada da RCPD aos Estados, Municípios e Distrito Federal, o que foi

feito através da Portaria 835, de 25 de abril de 2012/MS, tendo sido estabelecido

que cada Instituição envolvida no processo deveria apresentar os projetos físicos

de construção e de ampliação e ou de reforma, seguindo as regras sanitárias

definidas pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2012).

5. ASPECTOS ORGANIZACIONAIS DA REDE DE CUIDADOS PARA A

PESSOA COM DEFICIÊNCIA

A Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência organiza-se através dos

seguintes componentes: Atenção Básica UBS/NASF/Serviço Odontológico,


Atenção Especializada em Reabilitação Auditiva, Física, Intelectual, Visual,

Ostomia e em Múltiplas Deficiências CER, CEO, outros serviços de reabilitação

habilitados ou não, Atenção Hospitalar e de Urgência e Emergência Hospitais,

Pronto Socorro, UPA, SAMU 192 e equipes de atenção domiciliar. Os

componentes da RCPD serão articulados entre si, de forma a garantir a

integralidade do cuidado, o acesso pactuado a cada ponto de atenção e/ou aos

serviços de apoio (SÃO PAULO, 2020, p.37).

No Estado de São Paulo os cuidados se articulam através da Rede de

Reabilitação Lucy Montoro, que oferece tratamento reabilitação para pacientes

com deficiências físicas incapacitantes, motoras e sensório-motoras além de

reabilitação visual em algumas Unidades. Essa rede conta com uma equipe

multidisciplinar sendo médicos fisiatras, enfermeiras, fisioterapeutas,

nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais,

educadores físicos e fonoaudiólogos (SÃO PAULO, 2020, p.37).

A Rede de Reabilitação Lucy Montoro também conta, desde 2009, com a

Unidade Móvel com o objetivo de atender as demandas mais urgentes de

fornecimento de órteses, próteses, cadeiras de rodas e meios auxiliares de

locomoção em todo o Estado (SÃO PAULO, 2020, p.37).

6. A REDE DE CUIDADOS PARA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA E A

ODONTOLOGIA

A Rede de Cuidados para a Pessoa com Deficiência no Brasil foi instituída em

2012, a partir da criação do intitulado Centro de Especialidades Odontológicas


na rede pública de saúde, com o propósito de contribuir para a melhoria nos

níveis de saúde desses cidadãos.

Por meio de incentivo financeiro específico, destinado ao atendimento integral

da pessoa com deficiência e capacitação dos dentistas e auxiliares da rede de

saúde bucal, buscou-se ampliar o cuidado e reduzir as dificuldades de acesso

das pessoas com deficiência aos serviços odontológicos.

O atendimento a pacientes com necessidades especiais, incluindo as pessoas

com deficiência, está entre as especialidades mínimas para o credenciamento

de um CEO. Cabe salientar que o CEO não constitui um centro de especialistas

e sim de especialidades, por isso a não obrigatoriedade de seus profissionais

apresentarem o título de especialista para trabalhar em um desses centros.

Uma das maiores dificuldades no atendimento dos CEOs é a questão de

estrutura para o atendimento de casos de alta complexidade, casos, por

exemplo, que necessitem de anestesia geral. Crianças, adolescentes e adultos

com lesão decorrente de paralisia cerebral, que necessitam de atendimento

odontológico acabam tendo que ser encaminhados para unidades de Atenção

Hospitalar, visando a resolução em nível intersetorial, como recomendam as

portarias do Ministério da Saúde. (MACHADO ET AL, 2018)

Essa carência de materiais, equipamentos e estrutura até mesmo de

profissionais de odontologia habilitados para der a esse tipo de intervenção

resultam em frustração para as famílias, equipes das Redes de Cuidados, além

de muitos desgastes das pessoas com deficiência, pois impõem exaustivo ir e

vir sem conseguir fazer o tratamento odontológico que tanto necessitam.

(MACHADO ET AL, 2018)


7. DESAFIOS

Em um estudo de caso foi realizado na região de saúde denominada São José

do Rio Preto (SJRP) realizado por Mota e Bousquat (2023) através de entrevistas

semiestruturadas e aplicação de questionários com três categorias de atores-

chaves representantes dos níveis estadual, regional e municipal: gestor,

prestador e sociedade foram extraídas algumas discussões e significados

importantes para o tema abordado.

Um dos problemas apontados pelos gestores entrevistados é que:

[...]o Plano de Ação Regional para a RCPD não pactua fluxos

assistenciais, definição de vagas, linhas de cuidado e fluxos

prioritários para exames de usuários que estejam em

acompanhamento na reabilitação. Segundo um gestor, no

momento do diagnóstico da capacidade dos serviços, algumas

instituições filantrópicas, mesmo sendo pontos de atenção

contratualizados pelas prefeituras da região para o atendimento

de PCD física e intelectual, foram ignoradas para a composição

e o diagnóstico da Rede. (MOTA; BOUSQUAT, 2023)

Foi observado durante as entrevistas que os serviços filantrópicos possuem uma

lógica própria para o acesso dos usuários, prestando serviços de saúde

diretamente com a Prefeitura (MOTA; BOUSQUAT, 2023). Dessa forma, as

entidades filantrópicas não estão restritas à competência territorial e nem estão

comprometidas com a continuidade do serviço de saúde. Isso é um problema

visto que estas instituições recebem uma quantidade significativa de recursos. O

Estado não consegue transpor estas regras para que os serviços estejam
adequadamente inseridos no plano regional de atenção à PCD, inviabilizando a

construção de um protocolo único de acesso, ou seja, de uma efetiva regulação.

Os representantes da sociedade afirmaram que há necessidade de mais

serviços de reabilitação. Parte desse problema se deve à desigualdade de

distribuição territorial dos serviços. Isso causa um efeito de dependência dos

municípios menores em relação ao município polo, impactando nas relações de

poder e conflitos intergovenamentais e regionais. O que influencia diretamente

no acesso dos recursos pela população. Tais fatores seriam exemplificados

através da disputa por recursos humanos e financeiros e pelo grau de influência

dos prestadores (MOTA; BOUSQUAT, 2023).

Outra barreira relatada pelos usuários é a dificuldade de acesso. Como a maioria

dos Centros de Reabilitação estão localizados em áreas urbanas da RCPD

muitos pacientes moradores de zonas mais afastadas tem dificuldade de acessar

esses serviços. Essa situação se agrava quando levamos em consideração a

realidade do transporte público e a situação econômica dos usuários da Rede.

(MOTA; BOUSQUAT, 2023)

A implantação de serviços em municípios de baixa densidade populacional é

dificultada pela indispensabilidade de certo grau de densidade tecnológica, que

se concentra nas grandes cidades. Ainda assim, a integração entre os serviços

de APS, AE e reabilitação, todos próximos à residência do usuário,

potencializaria sua recuperação (MOTA; BOUSQUAT, 2023)

8. CONCLUSÃO

A Rede de Cuidado à Pessoa com Deficiência (RCPD) representou um avanço


no que tange ao acesso da pessoa com deficiência à saúde integral no entanto
existe ainda uma dificuldade muito grande entre os entes em gerir essa rede de
forma adequada.

Os entes federados estão constantemente em disputa. O município possui baixa


capacidade financeira e administrativa, fazendo com que o Estado assuma um
papel de protagonismo em relação à RCPD com a criação de Centros
especializados e a delimitação das regiões de saúde. O ministério da saúde, por
sua vez é o principal encarregado do repasse financeiro. De um modo geral é
notório a falta de articulação entre as equipes, infraestrutura e capacitação
profissional para atendimento das pessoas com deficiência.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Portaria No 793, de 24 de abril de 2012. Institui a Rede de Cuidados à


Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde.2012. Diário
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Brasília: Senado Federal, 1988.
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BRASIL. (1990) Lei nº 8080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as


condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e
o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm.

BRASIL. (2011). Decreto nº 7612, de 17 de novembro de 2011. Institui o Plano


Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Plano Viver sem Limite.:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7612.htm.

BRASIL. Presidência da República. Secretaria Nacional de Promoção dos


Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD). Coordenação-Geral do Sistema de
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Disponível em:
http://www.mte.gov.br/legislacao/portarias/2005/p_20051111_485.pdf.
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LOPES, Leidiana de Jesus Silva et al. Um olhar sobre a rede de assistência à


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MACHADO, Wiliam César Alves; et al. Integralidade na Rede de Cuidados da


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