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Capitéis da Antiguidade Clássica: Entenda a

diferença entre as Cinco Ordens







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Capitéis da Antiguidade Clássica: Entenda a diferença entre as Cinco Ordens

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© Matheus Pereira
 Escrito por Matheus Pereira

 Publicado em 26 de Março de 2018

Seja para iniciar a análise de um detalhe ou para impressionar alguém em uma roda de
conversa ou em uma viagem, o entendimento de uma edificação clássica inicia-se ao
ter consciência das diferentes ordens clássicas arquitetônicas. Dentro do referencial
bibliográfico pela história, o primeiro relato acerca das ordens foi escrito por Vitrúvio.
“[...] As ordens vieram propiciar uma gama de expressões arquitetônicas, variando da
rudeza e da firmeza até a esbelteza e a delicadeza. No verdadeiro projeto clássico, a
seleção da ordem é uma questão vital – é a escolha do tom” [1], que para o autor,
sintetiza a “gramática da arquitetura” [2].

Segundo John Summerson, autor do livro A Linguagem Clássica da Arquitetura, “[...]


um edifício clássico é aquele cujos elementos decorativos derivam direta ou
indiretamente do vocabulário arquitetônico do mundo antigo – o mundo ‘clássico’ [...].
Esses elementos são facilmente reconhecíveis, como, por exemplo, os cinco tipos
padronizados de colunas que são empregados de modo padronizado, os tratamentos
padronizados de aberturas e frontões, ou, ainda, as séries padronizadas de ornamentos
que são empregadas nos edifícios clássicos”. [3]
Em linhas gerais, há cinco ordens clássicas arquitetônicas: dórica, jônica e coríntia, de
caráter grego e ainda, as ordens toscana e compósita, de caráter romano. As
diferenciações a cada uma das nomenclaturas são evidenciadas na composição e/ou
ornamentação dos capitéis – extremidade superior da coluna, responsável por transferir
os esforços do entablamento ao fuste e descarregá-los sobre a base e/ou estilobata. Junto
ao capitel, há outros elementos constituintes das ordens clássicas – cornija, friso,
frontão, epistilo, fuste, pódio e estilobata.

Realizamos um breve referencial sobre as diferenças nos capitéis das cinco ordens
clássicas arquitetônicas:

Dórica

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Ordem Dórica. Image © Matheus Pereira
Como a mais antiga e simples das Ordens Clássicas gregas, surgiu durante o século VII
a.c.. Com linhas rudimentares e estética ligada à proporção do corpo masculino e seu
arquétipo robusto, foi empregada em edifícios gregos em homenagem a divindades
masculinas. Nas palavras de Vitrúvio, o dórico exemplifica “proporção, força e graça do
corpo masculino” [4], denotando equilíbrio, e para ele, deve ser usada em “igrejas
dedicadas aos santos mais extrovertidos (S. Paulo, S. Pedro ou S. Jorge)” [5]. Na
arquitetura grega, o desenho dos capitéis também são dispostos em função da
distribuição de cargas à coluna, e a partir desse pressuposto, por desenho simplificado, a
ordem dórica contempla edifícios mais baixos, com aproximadamente 8 módulos de
altura. Nesse modelo, o capitel é composto por duas partes, o équino e ábaco. O
primeiro diz respeito à espécie de uma almofada e o segundo a um elemento quadrado
que recebe diretamente as cargas do frontão.

Jônica

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Ordem Jônica. Image © Matheus Pereira
Com linhas orgânicas, leves e fluídas, alude às linhas do corpo feminino, caracterizando
a “esbelteza feminina” [6], como pontua Vitrúvio. Na composição do capitel,
influências orientais são vistas, como entalhes de folhas de palmeira, papiros e folhas
vegetais, possivelmente inspirados pela arquitetura egípcia. As colunas têm cerca de
nove módulos de altura – um módulo maior que a Ordem dórica. Para Vitrúvio, deve ser
empregada em templos dedicados a “santos tranquilos – nem muito fortes nem muito
suaves – e também para homens de saber” [7]. Na composição, apresenta uma base mais
larga, possibilitando receber maior carga; fuste esguio e abrindo-se levemente à medida
que chega à base; e capitel com volutas. Vale destacar que em algumas obras, capitéis
dessa ordem são substituídos por cariátides – figuras femininas esculpidas na pedra,
sustentando todo o entablamento.

Coríntia

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Ordem Coríntia. Image © Matheus Pereira
Caracterizando o estilo mais rebuscado dos três modelos baseados no desenho grego,
esta ordem apresenta uma série de detalhes e desenhos altamente pensados e elaborados
de modo a imitar a “figura delgada de uma menina”, como pontua Vitrúvio [8]. Brotos e
folhas de acanto caracterizam o grafismo tridmensionalizado pelo esculpir na pedra.
Possui dez módulos em altura, sendo a coluna mais esguia das três.

Toscana

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Ordem Toscana. Image © Matheus Pereira
Concebida pelos romanos, denota uma reinterpretação da ordem dórica. Com sete
módulos em altura – um módulo a menos que a coluna dórica apresenta simplificação
formal e consequentemente estrutural. Para Vitrúvio, é “adequada para fortificações e
prisões” [9]. Diferente dos três modelos de origem grega, onde o fuste apresenta
caneluras, nesta, o mesmo é liso, buscando a simplificação.

Compósita

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Ordem Compósita. Image © Matheus Pereira
Desenvolvida a partir da união das ordens clássicas jônica e coríntia, detém a mais
rebuscada das cinco ordens arquitetônicas. Com volutas jônica e brotos e folhas de
acanto coríntios, desdobra uma sobreposição de ornamentos. Apresenta dez módulo em
altura.

Notas:
[1] SUMMERSON, p.12, 2006.
[2] SUMMERSON, p.12, 2006.
[3] SUMMERSON, p.04, 2006.
[4] VITRÚVIO in SUMMERSON, p.11, 2006.
[5] VITRÚVIO in SUMMERSON, p.11, 2006.
[6] VITRÚVIO in SUMMERSON, p.11, 2006.
[7] VITRÚVIO in SUMMERSON, p.11, 2006.
[8] VITRÚVIO in SUMMERSON, p.11, 2006.

Referências Bibliográficas
SUMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2006.

A arquitetura grega

Origem e características da civilização grega.

A arquitetura pré-helênica floresceu nas Ilhas do Mar Egeu e atingiu a Grécia onde se
desenvolveu. A arquitetura grega sofreu influencia oriental trazida pelos hititas e fenícios. As
principais cidades eram Tirinto e Micenas. As civilizações egéias data de um período de 2000 a
3000 a.C. A Ilha de Creta, a maior das ilhas do mediterrâneo, foi o palco desse
desenvolvimento e tinha como uma das edificações de maior importância o Palácio de
Cnossos. Além dos fenícios, um fato que impulsionou a arquitetura grega foi a invasão dos
dóricos. A arquitetura grega não trouxe consigo nenhuma herança das abóbadas micênicas e
baseou todas as suas construções no simples modelo trilítico. O emprego do ferro no trabalho
da pedra permitiu o aperfeiçoamento dos cortes e o progresso na escultura, e na arquitetura.
O que se pode perceber é que o desenvolvimento gradual dos equipamentos e dos utensílios
de uso dos artistas teve influência direta no resultado formal encontrado nas edificações da
época. Primeiramente os instrumentos de trabalho eram constituídos de sílex de bronze e não
eram capazes de trabalhar as pedras com eficiência. A ausência do ferro deu origem a um tipo
de alvenaria ciclópica. As ferramentas de ferro permitem, num segundo estagio, encarar de
frente o problema da construção dando origem a um novo conceito construtivo.

Na tumba de Midas podemos apreciar os mais antigos exemplares de coberturas de duas


águas, de onde se derivou o frontão grego. O pendural, peça vertical de sustentação, sofre um
esforço de compressão e daí sua construção se apresentar em forma de alvenaria de tijolos.

Os edifícios gregos eram constituídos por blocos horizontais sustentados por paredes e
colunas: construção de pilar e lintel. Não existiam praticamente nem curvas nem arcos. A
simetria era característica das construções e foi em parte atingida através de um processo
conhecido como entasis destinado a eliminar as ilusões de ótica. Os edifícios a que os antigos
gregos dedicavam maior importância eram os templos. Os primeiros templos foram
construídos de madeira e tijolos de barro, mas no fim do séc VI a.C., passaram a ser
construídos de pedra calcária. O mármore, que pode ser polido e trabalhado até a perfeição,
tornou-se cada vez mais utilizado. Os templos não eram constituídos para abrigar
congregações; sua finalidade imediata era a de recolher a estátua de um deus. Um único
recinto antecedido de um átrio servia a este fim. Os templos eram geralmente construídos
sobre uma plataforma com três degraus que lhe davam acesso. Nos mais belos templos, os
quatro lados do edifício eram rodeados por uma colunata denominada peristilo. A entrada
principal estava orientada para o Leste. O conjunto das fachadas oriental e ocidental era
coroado por frontões. ATENAS: a deusa apresentava-se armada com lança, capacete e escudo,
trajando na mão direita erguida uma estátua da vitória e estava acompanhada por uma cobra.
O teto de madeira era decorado com pinturas e dourados. A luz penetra no templo apenas
pelas portas, que orientadas para o Leste banhavam de sol a estátua de Atenas quando as
portas eram aberta.

Amarravam as pedras com grampos de ferro, e as juntas se apresentavam com extrema


perfeição de encaixe, sendo assentadas por meio de alavancas. Os telhados era empregada a
madeira e todas as peças sofriam o esforço de compressão. As telhas eram confeccionadas em
terracota ou porcelana. Costumavam recobrir o mármore com cerâmica ou estuque pintado. A
pintura das construções tinha uma dupla finalidade: colorir o conjunto e ressaltar os relevos.
Pintavam também as estátuas, já que elas também eram parte importante na arquitetura. As
edificações obedeciam uma fisionomia relativamente permanente, constituída por:
embasamento + colunas + entablamento; sendo as colunas, por sua vez, subdivididas em
alguns casos em: base + fuste + capitel e o entablamento: arquitrave + friso + cornija.

Dentre as edificações, as mais características da civilização grega eram: o teatro, composto de


um semicírculo onde se localizava a orquestra, seguida de uma tribuna cercada de paredes por
onde entravam e saíam os atores e, envolvendo a orquestra a arquibancada, sempre ao ar
livre. Era de um modo geral, construído na encosta de uma colina, para que os degraus fossem
esculpidos na terra, resolvendo o problema de visibilidade e estabilidade; os odeons,
pequenos teatros destinados unicamente ä audições musicais; as ágoras, definida por uma
grande praça pública, rodeada de pórticos onde se reuniam os cidadãos; além dos ginásios,
estádios e hipódromos. A Acrópole grega era uma cidadela construída sobre um penhasco
sobre o qual eram implantados os templos.

Quando falamos em ordens construtivas, estamos definindo conjuntos de soluções decorativas


e construtivas que se apresentavam segundo uma certa constância das medidas e das
proporções. A exemplo delas temos:

Dórica: era simples e transmitia uma única impressão de solidez e força. A colunata não tinha
base, ergue-se direto sobre a plataforma. A superfície do fuste era dividida (comprimento) em
estrias largas e côncavas (caneluras). O capitel (que pode ser chamado de equino) era liso com
formato semelhante ao de uma almofada e sustentado por um ábaco (tem a função de
diminuir o vão entre as colunas) quadrado e liso. A arquitrave era também lisa, não
suportando diretamente a cornija, havendo entre eles o friso. Na fachada dos templos se
sobrepunha o frontão, que podia ter sua superfície decorada e servia para esconder o telhado.
Como exemplos de templos de ordem Dórica temos: Atenas em Corinto, Zeus em Olímpia,
Teseu em Atenas, Partenom em Atenas, Apolo em delos. Cinco nomes célebres são
responsáveis pela realização do templo de Atenas na Acrópole: Péricles - administrador e
protetor das artes, Ictinus, Calicrates, Mnesicles - arquitetos gregos e Phidias - escultor.

Jônica: Introduzida através do Mar Egeu. Era mais ornamentada que a dórica e mais
trabalhada. O fuste era mais alto e estreito e se erguia sobre uma base formada por uma série
de anéis. O capitel apresentava dois pares idênticos de espirais e volutas semelhantes a um
rolo de papel. O espaço entre as espirais era preenchido com uma escultura decorativa,
encontrada também no ábaco. A arquitrave era composta por 3 planos horizontais. Alguns
frisos eram lisos e outros decorados com esculturas em relevo. Como exemplos de templos
jônicos: Artemisa em Efeso, Ilissos em Atenas, Dionisio em Teos, Erecteo na Acrópole de
Atenas.

Coríntia: capitel mais bem ornamentado com folhas de acanto, rodeavam a parte inferior do
capitel, coroado por volutas simétricas ou folhas de lótus ou de palmeira. Os gregos o
consideravam como uma variante rica da ordem jônica. Segundo Vitrúvio, o primeiro capitel
coríntio foi executado por um ourives em Corinto (as formas frágeis e os finos detalhes são
mais apropriados para terem nascido do metal e não do mármore).

A cariátide consistia em um entablamento dórico ou jônico, sobre colunas cujo fuste é uma
figura humana a exemplo do Templo Erecteo. A arquitetura e a estatuária se completam
mutuamente num todo único e harmonioso. A razão dessa harmonia se dá pelo fato dos
escultores e arquitetos gregos praticarem ambas as artes, e serem ávidos na busca da
perfeição do traço.

As medidas, por exemplo a altura de uma colunata eram expressas em múltiplos do diâmetro
da base do fuste. Dórica 4x e 6x, Jônica 9x, Coríntia 10x. As esculturas nos templos utilizavam o
espaço (frontões triangulares, as métopas nos templos dóricos, e os longos frisos nos templos
jônicos) para empregar toda a sua arte retratando grandes acontecimentos da vida cotidiana ,
da história e da mitologia. O efeito do conjunto das esculturas dos frontões era acentuado pela
utilização de tinta vermelha, azul e dourada.

O Partenon, que constituía o templo da Deusa Atena, teve sua construção concluída em 436
a.C. Possuía uma estátua da Deusa Atena de ouro e marfim em sua sala principal, que era
antecedida por uma antecâmara. No séc. VI d.C. o edifício foi convertido em Igreja, sendo mais
tarde convertido em mesquita. No séc. XVII foi utilizado como arsenal e em 1687 sofreu vários
danos quando os venezianos cercaram Atenas. Era orientado com sua pronaus para o
quadrante leste e media 68x30x18m.

Praticado a partir do séc. V a.C., a construção de esculturas em bronze seguia um processo


particular. O artista começava a fazer um modelo de argila que lhe permitia experimentar e
fazer correções necessárias numa primeira fase. Podia-se assim acrescentar-se curvas e ajustar
contornos de uma forma que o mármore não permitia. Completado o modelo, o artista cobria-
o com uma fina camada de cera que lhe dava uma boa indicação sobre a forma como ficaria a
estátua de bronze uma vez terminada. Envolvia então o modelo com um molde de argila
fixado através de pequenas varas de ferro. A cera era depois derretida, deixando um espaço
entre o modelo e o molde exterior. Introduzia-se o bronze em fusão nesse espaço e o molde
era depois quebrado.

A planta da casa grega derivou do mégaron, subdividida em uma sala retangular com um
pórtico frontal suportado por colunas. Além das civilizações cretenses, o grego sofreram
influência egípcia, de povos do mediterrâneo oriental, assírios sendo percebidos nos
ornamentos arquitetônicos, flor de lotus, palmas, espirais e volutas que tem sua origem no
mundo oriental.

Os gregos também se desenvolveram nas correções de ótica. As linhas retas eram substituídas
por linhas curvas. As arquitraves côncavas, paredes internas e colunas eram inclinadas para
dentro, ábacos e cornijas sobressaiam das paredes, o fuste das colunas reduzia com a altura e
as estrias menos pronunciadas na parte superior diminuíam a sensação de tortuosidade.

______________________

Referências Bibliográficas:

. JANSON,H. W. Arquitetura Grega e Romana. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Capitulo –
Arquitetura (168-184)
. CARVALHO, Benjamin . A História da Arquitetura. Edições de Ouro
. HISTÓRIA GERAL DA ARTE - ARQUITETURA I,II,III,IV,V,VI . ediciones del Prado. tradução:
LETRAS, S, 1995
. MUMFORD, Lewis. A Cidade na História. Ed. Martin Fontes.

A arquitetura egípcia

Neste artigo são apresentadas algumas características gerais da arquitetura egípcia, suas
relações com aspectos formais e simbólicos, principais métodos e sistemas construtivos, os
avanços técnicos em relação à arquitetura primitiva e uma análise de alguns templos
importantes. Serão feitos ainda alguns apontamentos sobre a arquitetura de adobe na
mesopotâmia.
Se analisarmos o caráter dos templos reais da civilização egípcia percebemos que a construção
simbolizava a recriação para o rei morto da vida que ele levava na terra. Templos como as
pirâmides tinham um caráter predominantemente funerário. As tumbas eram construídas
basicamente por motivos religiosos, e o esforço para sua execução suplantava até mesmo as
necessidades de construção de habitações para a população. Nos seus rituais de inumação, os
egípcios envolviam os corpos em esteiras e os colocavam com a cabeça orientada para o
quadrante sul. (prescrições religiosas ao culto solar). A idéia primitiva da existência de uma
divindade e de uma vida após a morte é um fator decisivo e marcante das obras de arquitetura
egípcia. A idéia de reencarnação da alma irá condicionar quase todas as formas de
desenvolvimento das construções, gerando impactos decisivos na linguagem, orientação,
decoração, técnicas de construção, proteção, etc. A exemplo dos símbolo da serpente que
morde a própria calda, podemos encontrar símbolos diversos que trazem a idéias de vidas
sucessivas implantados nas faces das edificações. As principais divindades eram retratadas na
figura do Deus Sol (Rá = representado por um sol alado) e Horus (o sol nascente). A doutrina
esotérica egípcia é baseada na ressurreição e no renascimento. Eram extremamente
preocupados com a orientação solar das edificações: o que definia o posicionamento era
fundamentado no conceito de "força vital" emanada pelo sol, que deveria continuar a ser
captada pelo morto durante certos períodos do ano.

O processo de mumificação pode ser entendido como sendo responsável pela salvação da
alma. Quanto aos edifícios funerários, podemos hierarquizá-los primeiramente nas pirâmides e
depois nas mastabas.

Quanto aos métodos construtivos, as paredes e os muros eram inclinados em função da


técnica do empilhamento. As principais construções acompanham o Vale do Nilo. Existia um
predomínio de linhas horizontais e um desprezo pelas curvas. O egípcios são considerados
carpinteiros medíocres, e evitavam o uso de andaimes e escoramentos devido à escassez e à
má qualidade das madeiras da região. A pedra e a argila se impuseram definitivamente sobre a
madeira enquanto elemento construtivo das edificações, somente utilizadas nos poucos
andaimes. A pedra utilizada nos templos e nos túmulos era calcária. Nas residências, nos
palácios e nas construções militares eram utilizados os tijolos de argila misturados com palha e
secos ao sol. Os tijolos eram unidos por meio de argamassa de argila ou areia fina. Nunca
foram cozidos, mas eram usados apenas depois de completamente secos. Os ângulos
inclinados da alvenaria de tijolos eram conseguidos pelo assentamento escaliforme das
unidades. Os egípcios evitavam a construção de andaimes. Nas grandes construções, como as
pirâmides e certos templos, os andaimes eram substituídos por enormes rampas de terra ou
tijolo que eram retiradas depois de pronta a obra. A pedra era aparelhada somente na parte
que era visível, e usada em vários tamanhos conforme a necessidade estática. Às vezes
utilizavam monolitos de mais de 70 toneladas. A alvenaria de pedra era do tipo "pedra seca".
As fundações eram pouco profundas, repousando sobre um compacto leito de areia.

Os arquitetos egípcios solucionavam problemas de estabilidade e cobertura com o emprego de


tijolos de barro para construção de abóbadas de berço. Outro grande problema para eles era o
esforço de flexão sobre as vigas de pedra. Uma solução encontrada foi o "falso engaste". A
condição ideal era buscada através da colocação de uma grande carga distribuída sobre as
vigas, na direção vertical das paredes onde elas se apoiavam. O engastamento reduz as flechas
provenientes da flexão, o que se dá em virtude da anulação dos momentos negativos sobre os
apoios. As coberturas dos edifícios eram planas e construídas com vigas de pedra dispostas
horizontalmente e que se apoiavam em colunas. As colunas podiam ser monólitos ou
constituídas de tambores monolíticos. A elevação e o transporte das grandes massas de pedra,
eram feitos com o emprego de alavancas (ascensão) e de rampas (deslizamento). Os obeliscos
eram transportados através do Nilo, presos a duas ou mais barcas, e mergulhados na água, o
que reduzia consideravelmente o seu peso.

De todas as figuras geométricas, o triângulo foi o preferido do Vale do Nilo, seja pelo fato de
ser um polígono indeformável, seja por ser "trino" (a trindade estava impressa em todos os
princípios se sua doutrina religiosa) o fato é que eles empregaram largamente esta figura.
Entre os triângulos, um lhes chamou particularmente a atenção: o que exibia em seus lados a
relação três, quatro e cinco, e que era portanto um trilátero retângulo. Esta figura deve ter
sido de grande importância, pois como sabemos, permite a construção fácil e exata de linha
perpendiculares, até pelo emprego de uma simples corda. Na figura que se chama "regulador
de proporções", o cateto menor tripartido simbolizava Osiris, a base com quatro divisões
representava Isis e a hipotenusa fragmentada em cinco figurava Horus. O perfil das abóbadas
de tijolo era desenhado a compasso, com três centros feitos sobre os três vértices de dois
destes triângulos geminados. Outro triângulo retângulo possui a relação áurea - a hipotenusa e
o menor cateto guardam entre si a relação 1,618. Antes dos gregos, os egípcios procuraram
corrigir as ilusões de ótica, oriundas das grandes fachadas horizontais onde existe a repetição
sistemática de elementos como por exemplo as colunas. Os gregos compensavam a flecha
aparente por uma curva inversa, segundo um plano vertical, enquanto os egípcios a
compensavam no sentido de um plano horizontal.

"Nenhuma arquitetura tem como esta a exata correspondência das massas, ninguém sabe
talvez, melhor sacrificar a realidade para obter a aparência." Auguste Choisy

A arquitetura deste povo é inegavelmente única em relação às características plásticas. Nos


túmulos e templos, ela ostenta um caráter eminentemente grandioso, monumental, rica,
maciça e austera, com a predominância dos cheios sobre os vazados, e possuidora de uma
simetria rígida, que se manifesta até na colocação dos monumentos exteriores ao prédio,
como os obeliscos, esfinges, mastros e estátuas. Está perfeitamente enquadrada dentro da
concepção estática da forma estabelecida por Lúcio Costa, na qual "a energia plástica do
objeto, parece atraída por um suposto núcleo vital."

A pirâmide é um monumento tipicamente egípcio. Os seus primeiros exemplares eram


escaliformes. Os mais importantes destes monumentos estão em Giseh, próximo do Cairo e
foram erigidos durante a IV dinastia (3.733-3.566 AC) por três reis Cheops, Quefrem e
Miquerinos. A preocupação de defender cada vez mais a múmia da profanação dos vivos, fez
com que as primitivas mastabas se transformassem progressivamente nestes monumentos.
A Grande Pirâmide, a de Quéops, possui originalmente cerca de cento e quarenta metros de
altura e duzentos e trinta de lado e está com suas faces voltadas para os quatro pontos
cardeais. Foram empregados, aproximadamente dois milhões e trezentos mil blocos de pedra
na sua construção. Possui apenas estreitas galerias para o acesso às três câmaras funerárias e
tubos ventiladores. A mastaba era um tipo de túmulo que copiava fielmente a casa de
residência egípcia. Retangulares ou quadradas, eram todas muito sólidas. Possuem três
câmaras, sendo a entrada da mortuária disfarçada. Os hipogeus são sepulcros escavados na
rocha. Compõem-se de um pórtico que dá para a câmara de oferendas que por sua vez se liga
a câmara mortuária. Os templos egípcios não eram utilizados para preces comuns ou rituais
públicos, mas para rituais misteriosos e desfiles sacerdotais. Possuíam, geralmente, três partes
distintas: um pátio parcialmente descoberto, repleto de colunas, uma ante-sala hipostila e o
recinto sagrado, proibido ao povo.

O templo era uma obra longa. Sua construção levava às vezes centenas de anos para ser
concluída. Outra característica marcante nos templos do Vale do Nilo era a sua policromia
interior. Esses desenhos narravam de maneira singela a história do templo e dos deuses em
homenagem aos quais ele tinha sido construído, a vida dos faraós e seus construtores, e das
pessoas que colaboraram para a sua realização. Os obeliscos eram pilastras decorativas que
serviam como marcos históricos. Compunham-se de um vasto monólito, prismático de base
quadrangular, que se pode encontrar sempre aos par, nas entradas de alguns templos. A
esfinge era uma estátua situada à entrada da Grande Pirâmide, e voltada para o oriente. É
quase um monólito esculpido em pedra viva. As residências privadas eram de alvenaria de
tijolos e teto plano com terraço; as janelas eram invariavelmente abertas para um pátio ou
jardim interno. As defesas militares eram construídas em planaltos de quase vinte metros de
altura. Eram edificados de tijolos crus e as suas paredes atingiam dez metros de espessura e
eram dotadas de vigas e outros elementos estruturais embutidos na alvenaria.

A arquitetura de adobe na Mesopotâmia

Civilização assentada em uma zona pantanosa entre os rios Tigre e Eufrates, suas primeiras
habitações devem ter sido choças de juncos (planta pantanosa de regiões temperadas, caule
cilíndrico, delgado e flexível), com esteiras para tapar buracos e para impermeabilização
utilizavam substâncias betuminosas. Os povos mesopotâmicos também foram célebres
trabalhadores de blocos de argila: adobes. A argila era encontrada em abundância para a
fabricação de tijolos. Os adobes eram blocos prismáticos de barro seco ao sol de uns 35cm de
comprimento. Era costume dispô-los ainda úmidos, de forma que, ao secarem, constituíssem
blocos compactados. Por vezes, as paredes reforçavam-se com encadeados de madeira e
tijolo. A partir do IV milênio costumava-se esmaltar a face externa dos tijolos para preservar as
paredes de umidade. Raras vezes se utiliza a argamassa de cal para a fixação ou o betume. A
escassez e a má qualidade da pedra que se tinha determinaram a sua pouca utilização como
material de construção. A pedra e a madeira precisavam ser importadas.

As cidades eram planejadas com uma planta quadrada, e possuíam muralhas defensivas,
resultado da necessidade e se evitar invasões e dominações por outros povos. As muralhas
eram construídas com barro cru com 6 metros de espessura, estucadas e decoradas com cenas
das vidas dos Reis. Eles dominavam a técnica dos tijolos esmaltados e relevos.

Os tijolos eram usados, na maioria das vezes, crus e de preferência úmidos, o que dava ao
conjunto a solidez e aparência de um monobloco de argila. Era comum usar os tijolos crus
servindo como embasamento (miolo) para depois ser revestido com tijolos cozidos. O betume,
farto na Babilônia, também serviu como argamassa para os tijolos e para a impermeabilização
das galerias de escoamento de águas pluviais; eram grandes mestres de drenagem. Com a
intenção de manter tanto os cadáveres como os utensílios secos e conservados, instalaram
tubos e manilhas, com forma de um hiperbolóide de revolução para aumentar a sua
resistência. Na parte superior eram constituídos de calotas esféricas sobrepostas e perfuradas.

A pedra foi sempre para os povos antigos um material de luxo, que reservavam para a
escultura, quer livre, quer incorporada à decoração arquitetônica. As paredes se levantavam
sobre fundações de escassa profundidade. A espessura era variável. É muito característica a
decoração das paredes com mosaicos, que são também usados para decorar o fuste dos
pilares. Como suporte empregou-se a madeira (na maioria originária das palmeiras ou cedro) e
mais tarde os pilares de tijolos. A madeira devia ser transportada e, tal como no Egito, era
escassa; por isso foi raramente empregada nas construções.

As abóbadas: os babilônios foram verdadeiros mestres na construção das abóbadas. Com o


objetivo de se reduzir os vãos a se vencer com a cobertura, existia a preocupação de ir se
reduzindo a largura das galerias. Abobadas de berço: as paredes vão se aproximando aos
poucos até restringir-se a uma linha, uma seqüência de tijolos chamados chaves de abóbada.
Em todos os palácios haviam galerias de descarga de águas pluviais, cobertas por abóbadas de
berço.

Segundo escavações, a construção dos templos remonta o IV milênio a.C. O modelo do templo
é uma edificação quadrada formada por uma nave com câmaras laterais e capelas na
cabeceira. A entrada na lateral impede que a imagem seja vista a partir da porta: sistema em
cotovelo.

A idéia do recinto sagrado se desenvolve a partir do III milênio, normalmente um templo


situado numa esplanada a que se acede por uma escadaria. Esse templo era denominado
zigurate, uma pirâmide escalonada de vários pisos, que mantém um certo paralelismo com os
teocalli mexicanos. A construção desse tipo de edificação também se faz pelo processo de
empilhamento de pedra, muita das vezes feita sem a utilização de argamassa. Eram
normalmente de planta retangular, com esplanadas superiores acessadas por conjuntos de
escadas, com as paredes revestidas com tijolos coloridos e fortalecido com contra-fortes. Nas
tumbas reais eram realizadas escavações de uma fossa profunda, em cujo fundo se fizeram as
câmaras funerárias, com abobadas e cúpula, cobrindo-se com terra. Os primeiros
agrupamentos das habitações sumérias formaram-se com casas organizadas como recintos
retangulares, sem mais abertura do que a porta que dava para o pátio, centro da casa. Eram
construções de adobe, às vezes reforçado com canas. Nestas construções, as canas - que
foram o material estrutural utilizada primitivamente - curvaram-se para amarrá-las aos postes
centrais, para os extremos adquirirem forma de voluta.

Os palácios: alguns deles, como o de Mesalim de Kish, constituíam uma verdadeira cidade. Era
formado por dois corpos independentes de estreita planta retangular, coroados por amplas
esplanadas em que se dispunham jardins, o que garantia certo grau de umidade, benéfico para
melhorar a conservação dos adobes. Compreendia vários pátios com dependências anexas,
para além de templos com zigurates. O habitual era que o palácio, como o santuário,
constituísse um núcleo independente do casario, isolando-se dele por uma alta muralha. Esta
organização passará ao mundo assírio e mais tarde ao bizantino e ao islâmico, mantendo-se o
conceito de pequena cidade dominando a grande.
Nota-se um funcionalismo muito acentuado, sem a menor preocupação com a simetria. Os
corredores tortuosos e a disposição confusa sempre indicam uma preocupação com ataques
surpresa; defesa da casa e do proprietário.

PÉRSIA (Planalto do Iran): Ocupou um local abundante em pedra: o mármore de várias


colorações. Utilizavam alvenaria de tijolos e pedra, coberturas em madeira (que vinham dos
montes do Líbano através dos desertos da Síria, arrastados pelas planícies da Mesopotâmia em
dezenas de carros). A pedra e o mármore eram utilizados nas colunas (tambores). A alvenaria
de pedra possuía grandes peças com mais de 4 metros de comprimento, unidas uma à outra
com grampos de ferro cravados e envoltos com chumbo. O emprego da abóbada e da cúpula
pelos persas, estendeu-as até Constantinopla (Istambul) e fez surgir a estruturação da
arquitetura bizantina. Os persas não tinham conhecimento da abóbada de arestas. Utilizavam
a construção da cúpula esférica para os edifícios de planta octogonal.

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Referências Bibliográficas:

. HISTÓRIA GERAL DA ARTE - ARQUITETURA I,II,III,IV,V,VI . ediciones del Prado. tradução:


LETRAS, S, 1995
. CARVALHO, Benjamin . A História da Arquitetura. Edições de Ouro

A arquitetura românica

A definição da arquitetura enquanto "Românica" se refere às semelhanças existentes entre as


construções típicas do final do séc. XI e XII na Europa e as estruturas abobadadas a de grossa
paredes de alvenaria dos antigos romanos (séc. I e II). Enquanto no Oriente bizantino e
muçulmano a arquitetura se desenvolve de maneira magnificente, no Ocidente o progresso no
campo das criações mantêm-se estagnada: falta de tempo, falta de tranqüilidade, escassez de
recursos. Assistimos a luta inaudita, a procura incansável de um sistema estrutural seguro, de
fácil construção e dotado de beleza, que tinha de ser condicionado à realização por via de um
material contra-indicado sob todos os aspectos: a pedra. A designação "Românico" surgiu no
séc. XIX e significava "semelhante ao romano".

Podemos citar como característica das construções românicas a preocupação em se cobrir


grandes vãos e os desejos em anular esforços e empuxos proveniente de cargas brutais de
blocos de pedra. Tentativas de se transpor para o exterior das igrejas os apoios internos.
Devido em grande parte ao desastres e incêndios causados em razão de invasões e pilhagens,
que se resolveu abobadar os edifícios, uma idéia que rapidamente se difundiu. Em quase toda
a arquitetura religiosa dos períodos cristão primitivos, o telhado era feito de madeira, material
abundante na Europa. Mas vemos na Idade Média trágicas descrições de incêndios que
devastaram igrejas com telhados de madeira.

A utilização das abóbadas eram freqüentes. A unidade estrutural era composta pelas aduelas,
uma série de blocos de pedra em forma de cunhas. O arco vence um vão maior que o lintel,
sendo necessários menos suportes, uma grande vantagem para os construtores cristãos que
procuravam o mínimo de obstruções internas no interior das igrejas. O arco e a abóbada são
os elementos mais importantes do sistema construtivo dessa arquitetura. O arco aumentaria
as larguras das passagens entre as colunas, e as abóbadas supriam a deficiência originária das
dificuldades de serem cobertas grandes áreas de reuniões e práticas rituais. No início, somente
as absides eram abobadadas. O templo românico era uma cruz latina, composta por uma nave
longitudinal e um cruzeiro.

Dentre as desvantagens da abóbada de berço podemos citar: a distribuição de cargas ao longo


de duas linhas paralelas contínuas, produzindo grandes empuxos laterais que deveriam ser
eliminados por meio de paredes muito grossas e bem construídas; as colunas eram muito
delicadas pois somente suportavam a sobrecarga do telhado; a coluna alta apresenta vários
inconvenientes, por isso os arquitetos romanos as construíam grossas e baixas. O resultado era
a pouca altura da nave que não permitia que ela fosse bem iluminada, resultando em igrejas
muito escuras.

Outro problema estrutural românico foi a cobertura do cruzeiro que é o quadrado central
oriundo do cruzamento da nave central e o transcepto. Na arquitetura bizantina foi
solucionado o problema com uma cúpula sobre base quadrada, utilizada com o emprego de
elementos de contraventamento. Outra forma de serem anulados os empuxos laterais das
abóbadas de berço, era a interseção de duas delas, propiciando a descarga em apenas quatro
pontos separados. Assim foi inaugurada nestes templos a chamada abóbada de arestas. Outra
novidade foi o contraforte ou gigante, às vezes substituído por tirantes. Os materiais mais
diversos eram empregados em diferentes lugares, sendo a pedra o mais preferido, depois o
mármore e depois o tijolo. Apesar de ser melhor utilizada em função da liberdade e leveza
estrutural, a construção da abóbada de arestas se torna complicada para espaços que não
tenham um planta quadrada. Essas duas formas, a abóbada de berço e a abóbada de arestas
foram utilizadas na grande maioria das igrejas românicas. Visualmente transmitem a sensação
de solidez, calma e repouso, de ausência de esforço ou tensão.

Durante a Idade Média, as pessoas viajavam em peregrinações a lugares santos na esperança


de cura de uma enfermidade ou como alternativa a uma prisão, ou ainda porque a Igreja
Católica prometia salvação para as almas dos peregrinos. Muitas igrejas guardavam relíquias
de santos. Acreditava-se que elas possuíam milagrosos poderes curativos. Para acomodar os
peregrinos, que representavam uma enorme fonte de receita, os arquitetos projetaram uma
planta básica que criava um corredor contínuo em torno da periferia da igreja. Os visitantes
podiam caminhar, sem atrair atenções, admirando a estrutura da igreja, visitando as relíquias
que podiam ser expostos em pequenas capelas localizadas nessas naves laterais e no
deambulatório, enquanto as missas desenrolavam na nave central.

O papel das outras artes era muito importante nesse período. Numa época em que muito
poucas pessoas sabiam ler ou escrever, a igreja recorria substancialmente às pinturas e às
esculturas para comunicar-se com os seus membros. Os interiores das igrejas exibiam
freqüentemente pinturas de cenas religiosas nas paredes e nas abóbadas. Como acontece na
maioria das representações românicas de eventos religiosos, a composição é muito simétrica.
Mas o achatamento e o encurtamento arbitrários das figuras dos apóstolos, de modo a ajustá-
las claramente ao lintel, indicam uma nova atitude por parte do artista. Ele parece preocupar-
se menos com as proporções idealmente belas do que com a apresentação concisa de uma
história dentro do espaço disponível. Ex.: Ascensão de Cristo, tímpano da Porta Miègeville,
basílica de Saint-Sernin, em Toulouse.

No que tange às asas, quanto mais baixo era o nível social do proprietário, menos provável
seria que as construções permanecessem de pé. Podemos entanto ter uma idéia do aspecto
das casas dos camponeses medievais de, pelo menos, uma região da Europa examinando
alguns casebres de pedra na Galizia, norte da Espanha. O traçado dessa pallozas remonta aos
tempos célticos. Cada palloza é normalmente retangular, mas com os cantos arredondados
tendo a estrutura em pedra assentada sem argamassa e coberta por um telhado cônico. São
construídas próximas ao chão, de modo a conservar o calor, pois se trata de uma região fria.
Eram divididas ao meio por um tabique de madeira. A aspereza do clima também requeria
janelas exíguas para entrada de luz e ar.

Algumas poucas casas românicas remanescentes em centros urbanos sugerem como vivia a
população citadina no séc XII. A princípio a casa poderiam funcionar como loja no primeiro
pavimento e como residência no segundo pavimento. Os balcões eram assentados sobre
cavaletes e ao fim do dia retirados para se fechar a loja.

O período românico foi de transição. Os templos pediam mais luz, maiores proporções e mais
inspiração. A tradição românica não falava a favor de grandes alturas e nem de paredes
delgadas, vazada por grandes aberturas, uma vez que se apoiavam em um sistema de arcos a
abóbadas solicitadas a violentíssimos esforços. Era necessário substituir ou aperfeiçoar aqueles
dois elementos medulares, que eram o arco e a abóbada, que foi finalmente conseguido
escorando-se lateralmente o arco por outro arco (arco botante) e reforçando-se as arestas das
abóbadas com nervuras, que na realidade passam a suportar todo o peso da cobertura. Estas
nervuras descarregam em vários pilares ou colunas finas que rodeavam uma mais larga, que
suportava maior carga, resultando na esbeltez dos feixes góticos de varas de pedra.

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Referências Bibliográficas:

. CARVALHO, Benjamin . A História da Arquitetura. Edições de Ouro. s/d


. HISTÓRIA GERAL DA ARTE - ARQUITETURA I,II,III,IV,V,VI . ediciones del Prado. tradução:
LETRAS, S, 1995
. MUMFORD, Lewis. A Cidade na História. Ed. Martin Fontes.
. SHAVER-CRANDELL, Anne. História da arte da Universidade de Cambridge. A idade Média.
Trad: Álvaro Cabral. Ed Círculo do livro, São Paulo 1982.

Conceitos sobre arquitetura primitiva e derivações

Neste artigo poderão ser encontradas algumas definições e conceitos acerca da "arquitetura"
sob ótica da produção do espaço imediato ao corpo, da construção física da habitação e
paralelamente a execução de um "microclima" (que explicaremos adiante mais
profundamente), tendo em vista a relação entre as técnicas construtivas disponíveis em um
determinado período histórico com os ofícios e práticas de construção existentes, visando
finalmente a produção do "abrigo". Estarão presentes definições como: a abordagem
Vitruviana, uma análise etimológica do termo arquitetura, a abordagem tectônica, um olhar
sobre "tecnologia" e a idéia de "casa como uma extensão do corpo". São recuperados aqui os
trabalhos de Benjamim de Carvalho, cujas importantes publicações encontram-se algumas fora
de catálogo, do crítico inglês Kenneth Frampton, e do historiados mexicano Alberto Pérez-
Goméz. As relações conceituais estabelecidas entre autores citados buscam oferecer um
panorama inicial acerca dos princípios fundamentais da arquitetura e da produção do espaço
por comunidades primitivas.

A arquitetura primitiva pode ser compreendida primariamente, segundo Benjamim de


Carvalho, como uma imposição da necessidade de conservação da vida humana que se sujeita
aos efeitos do clima, da nocividade do tempo meteorológico, visando elaborar um abrigo para
o corpo inserindo-o em um "microambiente alterado". Instintivamente, o homem primitivo
orienta-se a um recinto fechado, onde ele acostuma-se a retornar frequentemente não apenas
para repousar, mas também para escapar às intempéries. Esse local, que pode se configurado
por um acidente geográfico, um espaço natural, sob o qual exerce-se uma intervenção humana
tem todas as qualidades básicas para ser definido como uma "habitação primitiva". As
ambiências internas de uma habitação primitiva qualquer é, sem dúvida, segundo o autor, um
"microclima", especialmente preparado pelo homem primitivo de modo a fornecer-lhe as
condições mínimas de higiene, repouso e segurança necessárias.

Essa abordagem conduz ao entendimento da habitação primitiva como um "microclima


artificial". Oferece uma vantagem considerável sobre microclimas naturais porque pode ser
parcialmente modificado, regulado e amenizado quando ocorrem situações de viciação ou a
ocorrência de fenômenos meteorológicos desfavoráveis e imprevistos. A partir desse ponto de
vista, Carvalho considera-a um "acidente geográfico", ou seja, uma "descontinuidade do
espaço natural intocado". Apesar de descontínua em relação ao ambiente natural, a
arquitetura das construções primitivas (o abrigo humano desenvolvido sob a intuição visando a
resolução de problemáticas espaciais) é fortemente influenciado pelo sítio onde se insere.
Concordamos com o autor que, via de regra, tais descontinuidades arquiteturais não poderiam
ser imediatamente transportadas de uma região para outra de clima inverso ou com condições
naturais diferentes daquelas que geraram suas resultantes formais, tal qual analogamente
ocorre com as especificidades locais da vegetação, dos animais e dos próprios seres
humanos. Há aqui um forte princípio de adaptação que condiciona a produção destes modelos
específicos de configuração dos abrigos primitivos.

A transcorrência da evolução humana fez com que, uma vez construído o abrigo elementar
pelo homem primitivo, de acordo com as limitações naturais e técnicas, ele começou a
perceber que o ato inicial de abrigar-se não era por si só suficiente. Carvalho nos lembra que,
paulatinamente, o ser primitivo inicia a introducão ao seu abrigo ainda rudimentar de
melhorias e aperfeiçoamentos que permitissem a ele um melhor rendimento frente seus
objetivos. Cabe destacar que neste contexto, as técnicas construtivas elaboradas sempre
foram o produto da manipulação e aplicação direta dos materiais de construção disponíveis e
geralmente adquiridos da região geográfica onde ele se insere.

Uma definição resultante destas primeiras considerações permite definir esse processo de
"melhoria substanciada" como uma "ordenação das peças, lugares e objetos, programados
segundo uma disposição, orientação e interdependência coerentes com a sua natureza e
necessidade". Além dessas considerações de ordem prática, o que faz da arquitetura uma das
mais intricadas das artes (aqui considerando um recorte da "arte como ofício", características
dos períodos antigos) é a conciliação dos fatores naturais-construtivos com princípios estéticos
(questões que não serão abordadas aqui neste artigo, mas discutidas posteriormente num
momento oportuno). O recorte "arte enquanto ofício" é conveniente para podermos
considerar o "arquiteto primitivo", antes de tudo, como um "artista", no sentido definido por
Carvalho de um "criador de formas condicionadas", cujo ofício implica na resolução de
aspectos práticos das mais diversas ordens e a simultânea expressão de valores subjetivos.
O arquiteto italiano Marcus Vitruvius Pollio, ou apenas Vitrúvio, desenvolveu, ainda no séc.I
a.C., um tratado de arquitetura denominado: "De Architectura Libri Decem" (os "Dez Livros da
Arquitetura"). Continha um conteúdo teórico rico em informações relativas aos métodos e
estratégias construtivas, e traçava toda uma linha doutrinal que, segundo o seu pensamento,
auto regeria a ação do arquiteto e o evolver da arquitetura. Carvalho nos apresenta a seguinte
passagem contida nos tratados de Vitrúvio: "É preciso que ele (o arquiteto) tenha facilidade de
redação, hábito de desenho e conhecimento de geometria; deve ter algumas tinturas de ótica,
conhecer a fundo a aritmética, ser versado em história, dar-se com atenção ao estudo da
música, não ser alheio à medicina e à jurisprudência, e estar a par da ciência astronômica que
nos inicia nos movimentos celestes (...) A arquitetura tem por objetivo a ordenação,
disposição, a eurritmia, simetria, conveniência e a distribuição". Vitrúvio realizou um dos
primeiros registros de codificação das construções e princípios de ordenação, e estabeleceu
novos parâmetros para uma epistemologia pregressa da arquitetura. Sustentou suas
abordagens em uma tríade conceitual definida como: firmitas, utilitas e venustas (firmeza,
utilidade e beleza).

Uma análise etimológica da palavra "arquitetura" revela sua origem no vocábulo grego
"architekton", que trata do entendimento de que o ato criativo está condicionado à produção
das necessidades primordiais de permanência. Carvalho nos conta que Platão via na obra de
arquitetura não a representação de um objeto conceituado, tal qual ocorria em outras artes de
figuração como a pintura e a escultura, mas o real-objeto. Para as artes, excetuando a
arquitetura, Platão definia seu processo como a elaboração de uma idéia abstrata que é
atribuída à uma forma específica, gerando um objeto concreto a partir de uma realização
imaginária. Comparando um pintor a um arquiteto, Platão define a pintura como nada mais
que uma imagem, "um fantasma, desprovido de existência verdadeira". Contrariamente a
arquitetura possuiria uma existência própria, seu aspecto funcional respaldaria sua condição
vital de proteção da presença humana, e neste caso a abstração é justificada pela importância
real de sua condição de interface para o ser humano. Obviamente trata-se de uma
consideração definitivamente específica de um momento histórico em que os fundamentos
clássicos ainda estavam em gestação. Apesar de limitada, essa abordagem é extremamente
importante para o entendimento das origens do termo "arquitetura" e sua conotação de
"primordialidade" sobre as outras artes e ofícios.

Em "Studies in Tectonic Culture", Kenneth Frampton nos apresenta um conceito-chave que,


segundo ele, pode ser utilizado como guia para as análises das manifestações arquitetônicas,
independente do momento histórico em que elas se situam. Frampton analisa o termo
"tectônico", enquanto fundamento inerente ao uso e à configuração de uma edificação no que
diz respeito: aos materiais utilizados, a maneira e disposição deles no conjunto da obra e ao
modo como a herança histórica assimila os diferentes materiais disponíveis. Segundo ele, o
potencial da arquitetura é "estabelecer significados autênticos naquilo que nós vemos,
sentimos e experimentamos"; o termo "tectônico" é, definitivamente, continua, fundamental
para as conclusões acerca do modo como os materiais influenciam aquilo que sentimos e
percebemos". Para Frampton, o conceito de "valor tectônico: está vinculado à
expressividade inerente a quaisquer construto humano em observância principalmente ao
modo de articulação dos materiais, das técnicas e detalhes construtivos, e da relação entre
estes e o contexto sociocultural e ambiental em que se encontram.

O conceito pode também ser aplicado para a avaliação dos que ele define como "
agrupamentos", partes específicas de edifícios e outros construtos, e também objetos. O livro
analisa diversos momentos históricos da arquitetura considerando o recorte do "ofício do ato
da construção", ou ainda, a arquitetura como a "arte dos agrupamentos". Nota-se que a arte é
aqui entendida como princípios de produção ue envolvem técnica e habilidade. Debruçado
sobre os trabalhos de Auguste Perret, Louis Kahn, Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright e
Carlos Scarpa, Frampton avalia como a forma construtiva e as características dos materiais
foram integrais para o desenvolvimento das expressões arquitetônicas. "O arquiteto ordena,
manipula, utiliza aquilo que dá origem aos espaços em que vivemos". Seguindo este raciocínio,
explora múltiplos conceitos de arte (enquanto ofício), tal qual comentamos anteriormente nas
abordagens de Carvalho, vinculada à construção ou fabricação de um produto, objeto ou
ambiente, de caráter artesanal. Seguindo este argumento, o conceito de valor tectônico
estabelece um retorno à "materialidade dos objetos", podendo ser compreendido como uma
"sintaxe da construção", como a aplicação de uma série de "formas de arte", novamente
lembrando do recorte ofício, profissão.

Resumidamente, tectônico, segundo Framptom, é a "arte de construir edifícios". A tecnologia,


continua ele, também significa "produção segundo a aplicação de conceitos pré-
determinados". O autor associa o termo tectônico à definição grega de tekton (produção),
relativo à técnica, compreendendo simultaneamente o conjunto dos processos especiais
relativos a uma determinada arte ou indústria, ou a aplicação dos conceitos científicos à
produção em geral. Tectônico pode ser definido como o "conjunto de artes e técnicas sociais
aplicadas para fundamentar o trabalho social, a planificação e a engenharia, como forma de
controle".

Carvalho comenta que Herbert Marcuse compreendia a tecnologia como um processo social,
mais do que simplesmente técnico. As técnicas, por sua vez, constituem um fator parcial, ou
seja, o aparato da industria, dos transportes e das comunicações. Já em um contexto
moderno industrial, a tecnologia compreende o modo de produção, a totalidade de
instrumentos, aparelhos e idéias, que caracterizam destacadamente a Era da Máquina. Ela é,
ao mesmo tempo, modo de organização, perpetuação ou mudança das relações sociais, e
manifestação dos padrões predominantes de pensamento e comportamento. Tecnologia é
instrumento de controle, nas suas mais distintas e complexas aplicações.

Para o arquiteto Alberto Pérez-Gomez, tecnologia implica muito mais do que o entendimento
de máquinas ou processos técnicos neutros. Ela é o "nosso mundo, a realidade histórica que
nós fabricamos". Neste sentido, a tecnologia não pode ser liberada do ponto de vista das artes
tradicionais, da metafísica e de suas implicações humanistas. Há um empuxo subjacente às
realizações técnicas que o autor define como uma "sede por transcendência", e uma carência
humana de efetivação de sua existência e liberação pessoal.

Sob a perspectiva sociológica, a tecnologia não pode ser definida apenas como a aplicação da
lógica, da razão e do conhecimento aos problemas de matérias primas do meio-ambiente.
Conceitos como "técnicas sociais" estão compreendidos na abordagem tecnológica e voltam-
se aos problemas de organização humana. Se a tecnologia envolve a criação de instrumentos
materiais (máquinas) utilizadas na interação do homem com a natureza, a abordagem
sociológica entende que ela também envolve a criação de instrumentos sociais (burocráticos,
legais, codificados) utilizadas para a organização humana. Se por um lado a tecnologia pode
ser compreendida como uma seqüência de operações criadas pelo homem como assistência
para se alcançar um objetivo, ela também abarca o corpo do conhecimento
humano envolvendo processos de comportamento, sistemas de relações, definição de
estratégias de controle social e legislações. Todas essas definições voltam-se para a aplicação e
transmissão do conhecimento. Em termos arquiteturais, todas são importantes, apesar de
grande parte da cultura arquitetural associá-la ao estudo sistemático de métodos, técnicas e
ferramentas aplicadas na adaptação do meio-ambiente físico às necessidades e desejos da
humanidade.

Retomando a discussão acerca da produção do espaço primitivo, podemos afirmar que é um


período de desenvolvimento tecnológico rudimentar voltado especificamente para a produção
do microclima. Com isso a tecnologia primitiva articula-se na definição de barreiras, no ajuste
climático, na configuração de ambiências, na orientação de um programa limitado de funções
e arranjos, definindo substancialmente o que chamamos de lugar. Em uma perspectiva
arquitetural inicial, o lugar pode ser entendido como um espaço que sofreu algum tipo de
interferência humana, ou ainda, um espaço deixado entre limites perceptivos
determinados. Heidegger percebe na análise da arquitetura possibilidades de não apenas
expressar os diferentes valores tectônicos dos materiais a partir dos quais ela é produzida, mas
também de revelar as diferentes instâncias e modos de organização para o qual o homem se
constrói diante do mundo que se forma à sua volta. Neste sentido, a casa, habitação do
homem primitivo, não pode ser tratada apenas como fruto de uma necessidade imposta pela
pressão de uma natureza hostil ou de uma adaptação não biológica, mas da ânsia ou da
urgência de limitar um espaço próprio, de se definir enquanto ser vivo diante da natureza,
apropriar-se do contexto, quer de caráter permanente, quer como posse acidental para fins
concretos, quer como construção de sua identidade. Não se trata, portanto, de uma
construção visando proteção estritamente biológica, mas uma afirmação frente à natureza,
uma relação mais ampliada do homem com o meioambiente.

Essa abordagem existencialista do habitat primitivo conduz ao entendimento de Carvalho de


que a habitação primitiva pode ser pensada como uma "segunda pele". Ela desempenha um
papel de intercâmbio/interface do homem com a natureza segundo múltiplas instâncias. Ela
estabelece condições de sensibilidade, de relação com o outro assim como nosso órgão
epitelial. Não resta dúvida de que o que inicialmente chama a atenção na morada humana
primitiva é a sua extraordinária adaptação ao meio em que se constrói; ela está diretamente
condicionada à sua localização e à sua orientação frente às condições climáticas e à
especificidade dos materiais disponíveis: a madeira no meio florestal, a pedra nas montanhas,
o adobe nas planícies aluviais além das peles de animais e fibras vegetais. No entanto, a
disposição dos objetos e a configuração das soluções construtivas é também orientada no
sentido de responder a um desejo existencial, de afirmação pessoal e comunitária, de posse e
exercício do viver. As culturas primitivas possuiam uma fortíssima relação com o sagrado,
tanto é que as construções com finalidades religiosas podem ser encontradas em praticamente
todas as civilizações e culturas.

Segundo Carvalho, o sagrado extrapola os limites da proteção humana primordial. Templos e


outros espaços simbólicos são lugares de interface do mundo terreno com um outro espaço,
"superior". Segundo ele, a noção de um espaço sagrado é anterior à idéia de um templo
religioso propriamente dito, no qual identificamos a presença de uma divindade
verdadeiramente definida. O espaço sagrado é um lugar de forte relação introspectiva,
ritualística, de oração e culto.

Em um breve apanhado histórico, cabe destacar que as primeiras construções de maior


importância que se conhecem são os monumentos funerários, datados do período Mesolítico.
Para Carvalho, as tumbas e os enterramentos com sinais de ritual remontam ao período
Paleolítico Médio e, assim como os monumentos, são elementos sem função utilitária
prática. No entanto, contrariando as colocações de Carvalho, essas construções possuem sim
uma finalidade prática, seja de manutenção higiênica, ou proteção do corpo e dos bens do
cadáver, embora concordemos que elas possam estar em segundo plano. Ao contrário do que
afirma o autor, sua forma não está desligada de qualquer função concreta.

"A morada dos mortos é a primeira arquitetura". Essa afirmação articula-se ao fato de que
grande parte das construções mais significativas e imponentes realizada pelos povos primitivos
estavam associadas aos templos funerários. A inumação do cadáver na terra é o ritual
funerário mais utilizado pelos povos primitivos. Desse tipo de estruturação se desenvolvem a
maioria dos exemplares dos túmulos encontrados. Etimologicamente, o termo túmulo remete
ao conceito de lembrança. Segundo Lewis Munford, "o respeito do homem antigo pelos
mortos (...) teve um papel maior ainda que as necessidades de ordem mais prática, ao fazer
que procurasse um local fixo, um ponto fixo. Os mortos foram os primeiros a ter uma morada
permanente: uma caverna, uma cova assinalada por um monte de pedras, um túmulo coletivo.
Constituíam marcos aos quais provavelmente retornavam os vivos a intervalos, a fim de
comungar com os espíritos ancestrais".

Como colocado anteriormente, o habitat primitivo em muitos casos apropriava-se de


ambientes naturais existentes. As cavernas eram ambientes bastante apropriados, onde
o homem primitivo não somente utilizava como ambiente de vida temporária, mas onde
periodicamente regressava. Nas camadas das grutas calcárias de Dordogne, na França, por
exemplo, é possível retraçar sucessivas ocupações pelo homem pré-histórico. Mais importante
que sua utilização para finalidades domésticas foi o papel que a caverna desempenhou na arte
e nos rituais. Embora algumas delas não tenham sido habitadas, como as de Lascaux e
Altamira, parecem ter sido centros cerimoniais de alguma espécie.

Carvalho comenta que alguns outros ambientes naturais também personificavam


propriedades e poderes sagrados que atraiam os homens primitivos: grandes pedras, bosques
sagrados, árvores monumentais, fontes santificadas. Eram marcos fixos que reuniam aqueles
que de alguma maneira compartilhavam das mesmas práticas. A fixação do homem a um
determinado local associa-se também a motivos sagrados e não simplesmente à
sobrevivência. Os antigos santuários do Paleolítico são locais onde primeiramente se
desenvolveram indícios da vida cívica: locais de regresso devido à fome ou fonte de água ou
alimento, ou algum tipo de escambo.

Considerações importantes acerca da fixação do homem no período Neolítico estão associadas


às inovações ocorridas na produção dos recipientes: utensílios de pedra e de cerâmica, os
vasos, jarros, tinas, potes, depósitos, etc. Sem recipientes vedados (como os jarros de pedra ou
argila), o aldeão neolítico não tinha como guardar seus alimentos, protegê-lo de roedores e
insetos. E sem casa permanente de morada, os filhos, os doentes e os velhos não poderiam ser
mantidos juntos e em segurança. Foi com a ajuda dos recipientes permanentes que a invenção
neolítica possibilitou uma relação mais firme do homem primitivo com uma região geográfica
específica.

Apesar da rudimentaridade das técnicas e do simplismo das relações sociais encontradas nos
primórdios das arquitetura, já era possível reconhecer aí indícios de uma formação cultural
baseada na intervenção direta sobre o ambiente e um modo não-autoconsciente de articular
estas intervenções. Maiores informações disponíveis nas fontes bibliográficas citadas abaixo.

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Referências Bibliográficas:

. CARVALHO, Benjamin (n/d). A História da Arquitetura. Edições de Ouro


. FRAMPTON, Kenneth (1996). Studies in Tectonic Culture – The Poetics of Construction in the
Nineteenth and twentieth Century Architecture. The MIT Press 2a edição.
. MUMFORD, Lewis (2008). A Cidade na História. Ed. Martin Fontes.
. PÉREZ-GOMEZ, Alberto (1997). Architectural Representation and the perspective hinge.
Cambridge, MIT Press.

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Como citar este artigo:

MASSARA, Bruno (2002). Conceitos sobre arquitetura primitiva e derivações. Artigo Online.
Disponível em <http://www.territorios.org/teoria/H_C_primitiva.html> Acessado em: inserir
data

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