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UC - FUNDAMENTOS DE FARMACOLOGIA MOLECULAR E

TOXICOLOGIA

Introdução à Farmacogenômica
e Toxicogenômica

Prof. Fábio Kummrow


fkummrow@unifesp.br

2023
Introdução à Farmacogenômica e Toxicogenômica

➢ Conceitos:

✓ “Ômicas”: técnicas desenvolvidas para a detecção e


quantificação de grandes lotes de biomoléculas em
execuções únicas.

- Esses métodos variam de acordo com o alvo: microarranjo


(microarray) e sequenciamento de última geração (NGS) para
DNA e RNA; espectrometria de massa (MS) para proteínas e
ressonância nuclear magnética (RMN) para metabólitos.
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➢ Conceitos:

✓ Genômica: todo e qualquer estudo do genoma


(complemento celular dos genes);

✓ Farmacogenômica: é o ramo que se encarrega do estudo


da relação entre a variabilidade na expressão genética e a
resposta individual à terapêutica farmacológica.

✓ Toxicogenômica: o estudo da relação entre a estrutura e a


atividade do genoma e os efeitos biológicos adversos de
agentes tóxicos.
Introdução à Farmacogenômica e Toxicogenômica
➢ Conceitos:
✓ Transcriptômica: avalia mudanças na expressão gênica
mediante a análise de RNA;
✓ Proteômica: é o estudo do conjunto de proteínas e
peptídeos responsáveis pela estrutura, pela sinalização
metabólica, por processos de transporte e defesa em
sistemas vivos;
✓ Metabolômica: envolve a identificação e a quantificação de
metabólitos que são os produtos intermediários ou finais
do metabolismo .
Introdução à Farmacogenômica e Toxicogenômica

➢ Conceitos:
Introdução à Farmacogenômica e Toxicogenômica

➢ Conceitos:
✓ A farmacogenômica é uma das principais ferramentas da
medicina personalizada:
- Permite ajustar a terapia farmacológica, considerando o
genótipo do doente, para obter a melhor resposta e maior
segurança;
- Proporciona a cada doente um diagnóstico mais precoce,
avaliação de riscos e tratamentos otimizados que promete
um aumento na qualidade dos cuidados de saúde.
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➢ Fatores que podem alterar as concentrações de um


fármaco/toxicante e dos seus produtos de
biotransformação:

- Fatores fisiológicos (idade, gênero, estado nutricional);


- Patológicos (por exemplo, doenças hepáticas e renais);
- Ambientais (por exemplo, exposição aos poluentes);
- Interações entre fármacos ou mesmo devido a
determinados hábitos (ingestão de álcool e consumo de
tabaco)...
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Fatores que determinam a resposta à um fármaco ou toxicante:


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➢ Fatores genéticos também podem estar relacionados com a


alteração da eficácia dos fármacos e desencadeamento de
reações adversas/intoxicações:

- Estima-se que 99,99% do genoma humano seja idêntico em


todos os indivíduos;
- Uma sequência específica do DNA é denominada alelo
individual (são dois - um herdado da mãe e outro do pai);
- Mutações levam a polimorfismos;
- Uma mutação pode ocorrer de diversas formas, e portanto,
existem vários tipos de polimorfismos;
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➢ Tipos de mutações envolvidos em polimorfismos:

1) Microssatélites e minissatélites - consistem na repetição


de pequenas, ou ligeiramente maiores, sequências de
nucleótidos;
2) Variações no número de cópias (copy number variant) -
consistem na repetição do gene completo;
3) Quando um ou mais nucleotídeos são inseridos, deletados
ou alterados. Estes últimos, os polimorfismos de nucleotídeo
único (Single Nucleotide Polimorphism - SNP). Tipo mais
comum de polimorfismo.
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➢ Alterações genéticas:

- Variações no DNA podem alterar a estrutura das proteínas


levando a atividade aumentada, diminuída ou nula;
- Proteínas funcionais afetadas por polimorfismos incluem:
enzimas metabolizadoras, transportadores, receptores e
outros alvos indiretos;
- Portanto, os alelos de uma pessoa para um gene que
codificam essas proteínas acima podem explicar a
variabilidade interindividual na eficácia e/ou toxicidade;
- Relação com reação adversa a medicamentos (RAM)...
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➢ Variações toxicocinéticas e toxicodinâmicas associadas


aos polimorfismos genéticos podem se manifestar em:

- Enzimas responsáveis pela biotransformação de


determinado fármaco/toxicante;
- Transportadores de determinado fármaco/toxicante;
- Alvos biológicos de determinado fármaco/toxicante;
- Outros genes biomarcadores.
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➢ A genotipagem de loci farmacologicamente relevantes tem


vários benefícios para a previsão do fenótipo:
1) Os resultados não são influenciado por fatores
fisiológicos ou uso de medicação concomitante;
2) A genotipagem pode ser realizada com amostragem não
invasiva sem predispor o indivíduo a uma determinada
substância e seus potenciais efeitos adversos;
3) Uma única amostra pode fornecer dados para múltiplas
substâncias (fármacos ou toxicantes) em uma única
análise.
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➢ Possíveis respostas ao tratamento com o mesmo fármaco


ou exposição ao mesmo toxicante numa população:
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➢ Polimorfismos podem levar a perfis metabólicos


alterados, o que se traduz em diferentes fenótipos:

- Metabolizadores pobres (PM): são indivíduos com ausência da


enzima funcional em decorrência de deleção do gene ou da
homozigotia para os alelos responsáveis por metabolismo
deficiente;
- Metabolizadores intermediários (IM): são indivíduos
heterozigóticos para um alelo funcional e um não funcional ou
deficiente, resultando numa atividade diminuída da enzima
metabolizadora;
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➢ Polimorfismos podem levar a perfis metabólicos


alterados, o que se traduz em diferentes fenótipos:

- Metabolizadores extensivos (EM): são indivíduos homozigóticos


para os alelos funcionais (fenótipo mais comum na população);
- Metabolizadores ultrarrápidos (UM): são indivíduos que têm
múltiplas duplicações do gene que codifica a enzima, o que se
traduz num aumento de produção da mesma.
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➢ Polimorfismos podem levar a perfis metabólicos


alterados, o que se traduz em diferentes fenótipos:
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➢ Exemplo de polimorfismo em enzimas (CYP2D6):

✓ A isoforma 2D6 do citocromo P450 (CYP) é responsável por ~ 20%


de toda a expressão de enzimas hepáticas;
✓ É responsável pelo metabolismo de ~ 25% de todos os fármacos
registrados;
✓ Claras evidências demonstram uma relação causal entre variantes
alélicas do gene CYP2D6 e resposta variável a certos fármacos (ex.:
metoprolol);
✓ Mais de 100 variações, principalmente polimorfismos de
nucleotídeo único e variantes no número de cópias são
conhecidas.
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➢ Exemplo de polimorfismo em enzimas (CYP2D6):

✓ Prevalência prevista para os fenótipos decorrentes dos diferentes


genótipos - CYP2D6:
- Metabolizadores ultrarrápidos (UM): 1–21%
- Metabolizadores extensivos (EM): 67–90%
- Metabolizadores intermediários (IM): 0,4–11%
- Metabolizadores pobres (PM): 0,4–5,4%
- Essa variação é grande em função das populações estudadas.
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➢ Polimorfismos em transportadores:

✓ Transportadores e proteínas relacionadas ao transportador


desempenham um papel importante na absorção, disposição,
toxicidade e eficácia de um fármaco/toxicante e podem ocorrer
importantes interações medicamentosas mediadas por
transportadores;
✓ Essas interações podem ser inibitórias, indutivas ou ambas, e
podem envolver transportadores de influxo ou efluxo:
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➢ Polimorfismos em transportadores:

✓ Essas interações são importantes quando:


1) a eliminação do fármaco/toxicante ou a distribuição em um
tecido-alvo for mediada majoritariamente pelo transportador;
2) a interação resultar diretamente da concentração do
fármaco/toxicante no local de ação.
✓ Exemplo: a bomba de efluxo da glicoproteína P (P-gp) pertence aos
transportadores da família ATP-binding cassete (ABC) e é
codificada pelo gene MDR1 (ou ABCB1);
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➢ Polimorfismos em transportadores:

✓ Em humanos, a P-gp está presente em vários tecidos que são


importantes para a absorção, distribuição e eliminação do
fármaco - por exemplo: a P-gp é expressa na superfície luminal de
tecidos de barreira (ex.: intestino delgado e cérebro), bem como
em órgãos com funções de eliminação (ex.: fígado e rins);
✓ Devido à ampla especificidade do substrato da P-gp, os inibidores
ou indutores da P-gp podem produzir interações medicamentosas
significativas;
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➢ Polimorfismos em transportadores:
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➢ Polimorfismos em alvos biológicos :

✓ Os fármacos/toxicantes geralmente exercem seus efeitos se


ligando e modulando subsequentemente a atividade de proteínas
específicas, ácidos nucleicos ou outros alvos moleculares (ex.:
membrana), como os β2-adrenoceptores, receptores de insulina,
enzima conversora de angiotensina...
✓ Fatores como interações medicamentosas e principalmente
polimorfismos em genes que codificam esses alvos podem
influenciar a sensibilidade aos fármacos/toxicantes;
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➢ Polimorfismos em alvos biológicos :

✓ Esses polimorfismos são considerados importantes nos casos em


que as variações interindividuais nas concentrações plasmáticas
do fármaco/toxicante são mínimas, mas onde grandes diferenças
farmacodinâmicas podem ser observadas;
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➢ Biomarcadores de suscetibilidade:

- Biomarcadores de suscetibilidade: podem ser definidos como


indicadores da capacidade inata ou adquirida que um organismo
tem para responder a ação decorrente da exposição a um
determinado fármaco/toxicante ou ainda a diferentes congêneres
de uma mesma classe ou grupo químico.
✓ Particularmente a suscetibilidade genética é de grande
importância;
✓ Outros fatores importantes são: doenças pré-existentes ou
exposições adicionais via dieta, associadas ao estilo de vida ou
ainda a atividade laboral.
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➢ Biomarcadores de suscetibilidade:

✓ Os biomarcadores de suscetibilidade compreendem


principalmente fatores que afetam a fármaco/toxicocinética
(absorção, biotransformação e excreção) e a
fármaco/toxicodinâmica (efeitos biológicos subcelulares) das
substâncias e englobam enzimas envolvidas na ativação ou
detoxificação, enzimas pertencentes a sistemas de reparo do DNA
e alterações em alvos biológicos (ex. receptores).
✓ Polimorfismos – papel de destaque para identificação de
biomarcadores de suscetibilidade
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➢ Biomarcadores de suscetibilidade:

✓ Polimorfismos – associados a atividade enzimáticas diretamente


envolvidos nas diferenças interindividuais frente a ação de
fármacos/toxicantes (destaque para variação no metabolismo de
fármacos e drogas de abuso);
✓ Polimorfismos em enzima:
- Fase I: citocromo P450 (CYP2D6; CYP2C19; CYP2C9; CYP2B6;
CYP3A5; CYP2A6)
- Fase II: glutationa-S-transferases (GSTM1; GSTM2: GSTP1) e N-
acetiltransferases (NAT1; NAT2)
- Enzimas envolvidas no reparo do DNA
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Muito obrigado!
Prof. Fábio Kummrow - fkummrow@unifesp.br

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