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INTRODUÇÃO
A prática da oncologia clínica passou por mudanças radicais com a identificação
de tratamentos curativos para muitas neoplasias malignas anteriormente fatais, como
câncer testicular, linfomas e leucemia. A quimioterapia adjuvante e a terapia hormonal
podem prolongar a vida e impedir a recidiva da doença após ressecção cirúrgica de
cânceres localizados de mama, colo retal e de pulmão. A quimioterapia também é
utilizada como parte de uma abordagem multimodal no tratamento de cânceres
localmente avançados de cabeça e pescoço, mama, pulmão e esôfago, sarcomas de tecidos
moles e tumores sólidos pediátricos, permitindo, assim, uma cirurgia mais limitada e até
mesmo a cura desses casos que antigamente eram incuráveis.
Os fatores de estimulação de colônias restauram a função da medula óssea e
expandem a utilidade da quimioterapia em altas doses. Os agentes quimioterápicos estão
sendo cada vez mais utilizados no tratamento de doenças não malignas: os agentes
antitumorais citotóxicos tornaram-se fármacos padrões no tratamento de doenças
autoimunes, incluindo artrite reumatoide (metotrexato e ciclofosfamida), doença de
Crohn (6-mercaptopurina), transplante de órgãos (metotrexato e azatioprina), anemia
falciforme (hidroxiureia) e psoríase (metotrexato). Apesar desses sucessos terapêuticos,
poucas categorias de fármacos apresentam um índice terapêutico mais estreito e maior
potencial de causar efeitos prejudiciais do que os agentes antineoplásicos. É essencial
adquirir uma compreensão completa de sua farmacologia, incluindo interações
medicamentosas e farmacocinética clínica, para seu uso seguro e efetivo nos seres
humanos. Os compostos utilizados na quimioterapia de doenças neoplásicas exibem acen
tua da variação em sua estrutura e em mecanismo de ação, incluindo agentes alquilantes;
análogos antimetabólitos do ácido fólico, das pirimidinas e das purinas; produtos naturais,
hormônios e antagonistas hormonais; e uma variedade de agentes dirigidos para alvos
moleculares específicos.
Os agentes descobertos nessas triagens interagiam, em sua maioria, com o DNA
ou seus precursores, inibindo a síntese de novo material genético e causando lesão ampla
do DNA em células tanto normais quanto malignas. A rápida aquisição de conhecimentos
sobre a biologia do câncer levou à descoberta de alvos específi cos totalmente novos
(receptores de fatores de crescimento, vias de sinalização intracelulares, processos
epigenéticos, vascularidade dos tumores, defeitos no reparo do DNA e vias de morte
celular). Por exemplo, em muitos tumores, a proliferação e a sobrevida dependem da
atividade constitutiva de uma única via de fatores de crescimento ou a denominada
adicção de oncogenes (i.e., o “calcanhar de Aquiles”), de modo que a inibição dessa via
específi ca leva à morte celular (Weinstein e Joe, 2006). Assim, o imatinibe ataca a
translocação bcr-abl singular e específi ca na leucemia mielocítica crônica.
Na verdade, os fármacos dirigidos para alvos e os agentes citotóxicos continuarão
sendo utilizados em combinação. Por exemplo, os anticorpos monoclonais ou pequenas
moléculas dirigidas para alvos, quando utilizados como monoterapia contra tumores
sólidos, produzem baixos índices de resposta e benefícios modestos; entretanto, quando
usados em combinação com agentes citotóxicos e nos estágios iniciais da doen ça, os
anticorpos monoclonais, como o trastuzumabe e o bevacizumabe, são extremamente
efetivos (Romond e cols., 2005; Slamon e cols., 2001).
Ao mesmo tempo, as toxicidades dos agentes citotóxicos tornaram-se mais
controláveis com o desenvolvimento de medicamentos antieméticos mais apropriados e
com o fator de estimulação de colônias de granulócitos e a eritropoietina para restaurar a
função da medula óssea. Por fi m, os fármacos dirigidos para alvos estão ajudando a
vencer a resistência aos agentes quimioterápicos através de normalização do fluxo
sanguíneo, promoção da apoptose e inibição de sinais das vias de fatores de crescimento
para a sobrevida.
A angiogênese tumoral resulta em aumento da pressão intersticial e diminui a
liberação de fármacos nas células tumorais; os inibidores da angiogênese (p. ex.,
bevacizumabe) normalizam o fl uxo sanguíneo e a pressão intersticial (Batchelor e cols.,
2007), melhoram a liberação do fármaco e, portanto, atuam de modo sinérgico com os
agentes citotóxicos no tratamento dos cânceres de pulmão, mama e outros cânceres. A
resistência a fármacos continua sendo um grande obstáculo ao tratamento bem-sucedido
do câncer. A resistência resulta de uma variedade de alterações farmacocinéticas e
moleculares, que podem invalidar os tratamentos mais bem planejados, incluindo
absorção e liberação defi cientes do fármaco; variabilidade geneticamente determinada
no transporte, ativação e depuração do fármaco; e mutações, amplifi cações ou supressões
nos alvos dos fármacos.
Os defeitos no reconhecimento de quebras do DNA e a hiperexpressão de enzimas
de reparo específicas também podem contribuir para a resistência aos agentes citotóxicos
e a perda das vias apoptóticas pode levar a uma resistência a agentes tanto citotóxicos
quanto dirigidos para alvos. Os tumores de crescimento lento, com pequena fração de
crescimento (p. ex., carcinomas do cólon ou câncer de pulmão de células não pequenas),
são menos responsivos aos fármacos específi cos do ciclo. Os agentes mais efetivos são
aqueles que produzem altos níveis de lesão do DNA (p. ex., agentes alquilantes) ou
aqueles que permanecem em altas concentrações no interior da célula por perío dos
prolongados de tempo (p. ex., fluoropirimidinas).
Os resultados de estudos clínicos comparativos fornecem evidências sobre os
esquemas mais efetivos para tumores específicos. O benefício clínico dos agentes
citotóxicos era principalmente determinado por avaliação radiológica dos efeitos dos
fármacos sobre o tamanho do tumor; entretanto, os novos agentes dirigidos para alvos
podem simplesmente alentecer ou interromper o crescimento do tumor, de modo que seus
efeitos podem ser mais bem determinados pela avaliação do tempo de progressão da doen
ça. Mais recentemente, houve interesse crescente pelo desenvolvimento de fármacos
capazes de matar seletivamente o componente de células tronco dos tumores, visto que
se acredita que essas células sejam responsáveis pela contínua proliferação e pelo
repovoamento de tumores após exposição tóxica à quimioterapia ou à terapia dirigida
para alvos. Por exemplo, a medula óssea e os tecidos epiteliais contêm um compartimento
de células tronco normais que não se dividem; essas células exibem resistência aos
agentes citotóxicos e retêm a capacidade de regenerar a população de células normais.
II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As células tronco dos tumores exibem a mesma resistência à quimioterapia,
radioterapia e agressões oxidativas e, portanto, podem representar uma barreira signifi
cativa à cura das neoplasias (Diehn e cols., 2009). Embora as células de diferentes
tumores exibam diferenças na duração de seu trânsito pelo ciclo celular e na fração de
células que se encontram em proliferação ativa, todas apresentam um padrão semelhante
de progressão pelo ciclo celular):
Uma fase que precede a síntese de DNA (G1)
Uma fase de síntese de DNA (S)
Um intervalo após o término da síntese de DNA (G2)
a fase mitótica (M) durante a qual a célula, que contém um duplo
complemento de DNA, divide-se em duas células-fi lhas G1
Probabilidade de passar para um estado quiescente (G0) e permanecer
imóvel por longos perío dos de tempo
Alguns agentes quimioterápicos contra o câncer atuam em fases específi cas do
ciclo celular, principalmente na fase S e na fase M; outros agentes são citotóxicos em
qualquer ponto do ciclo celular e são denominados agentes inespecífi cos do ciclo celular.
Cada fase de transição no ciclo celular requer a ativação de cinases dependentes de
ciclinas específi cas (CDK), que, em suas formas ativas, acoplam-se a pro teínas
reguladoras correspondentes, denominadas ciclinas. Por sua vez, o impacto proliferativo
das CDK é atenuado por pro teí nas inibitórias, como p16. Com fre quên cia, as células
tumorais exibem alterações na regulação do ciclo celular, que levam a uma proliferação
inexorável (p. ex., mutações ou perda de p16 ou outros componentes inibitórios da
denominada via do retinoblastoma, aumento da atividade da ciclina ou CDK).
Como ausência do produto do gene p53 ou de outras pro teí nas 1673 do ponto de
controle, e se a função dos pontos de controle falhar, as células lesionadas não serão
desviadas para a via da apoptose, mas prosseguirão pela fase S e mitose. As células fi lhas
aparecerão como uma população de células com mutação e potencialmente resistentes a
fármacos. Por conseguinte, as alterações na regulação da cinética do ciclo celular e dos
pontos de controle constituem fatores críticos na determinação da sensibilidade a agentes
citotóxicos e compreensão do sucesso ou fracasso de novos agentes. Obtenção da
integração e efi cácia terapêuticas.
O tratamento dos pacientes com câncer exige uma habilidosa interação da
farmacoterapia com outras modalidades de tratamento (p. ex., cirurgia e radiação). Cada
modalidade de tratamento apresenta seus próprios riscos e benefícios, com o potencial de
interações tanto antagonistas quanto sinérgicas entre as modalidades, par ticular mente
entre fármacos e irradiação. Além disso, as características individuais de cada paciente
determinam a escolha das modalidades. Nem todos os pacientes conseguem tolerar
fármacos, e nem todos os esquemas farmacológicos são apropriados para determinado
paciente.
As funções renal e hepática, a reserva da medula óssea, o estado físico geral e os
problemas clínicos concomitantes devem ser todos considerados na realização de um
plano terapêutico.
Outras considerações menos quantifi cáveis entram na equação, como a história
natural do tumor, a disposição do paciente a enfrentar tratamentos difíceis e
potencialmente perigosos e a tolerância física e emocional do paciente quanto aos efeitos
colaterais, com o objetivo de atingir um equilíbrio entre os prováveis ganhos e riscos a
longo prazo para cada paciente. Um dos maio res desafi os da terapia consiste em ajustar
os esquemas de fármacos para obter um resultado terapêutico, porém sem toxicidade.
Embora seja costume basear a dose na área de superfície corporal de cada paciente, essa
prática não é necessariamente sustentada pelas evidências na literatura (Sawyer e Ratain,
2001). Hoje, os fármacos de administração oral são frequentemente prescritos utilizando
uma dose uniforme para todos os pacientes adultos.
O ajuste da dose com base na função renal, na função hepática ou na monitoração
farmacocinética facilita alcançar alvos específi cos, como a concentração plasmática
desejada do fármaco ou a área sob a curva (ASC) de concentração-tempo, uma medida
do padrão de exposição sistêmica ao agente em questão. Lamentavelmente, existem
poucas diretrizes satisfatórias para ajustar a dose com base na obesidade ou na idade do
indivíduo. Os pacientes idosos, par ticular mente aqueles com > 70 anos de idade,
apresentam menos tolerância à quimioterapia, devido à diminuição da depuração renal e
hepática dos fármacos, menor ligação às pro teí nas e menor reserva da medula óssea;
todavia, existe uma ampla variação entre os in di ví duos. A depuração dos fármacos
diminui em pacientes com obesidade mórbida, e a dose nesses pacientes provavelmente
não deve exceder 150% da dose usada para pacientes com área de superfície corporal
média (1,73 m2) (Rodvold e cols., 1988), com aumento do ajuste para a tolerância depois
de cada dose subsequente. Até mesmo pacientes com funções renal e hepática normais
exibem uma variabilidade signifi cativa na farmacocinética dos agentes antineoplásicos,
podendo reduzir sua efi cácia e causar toxicidade excessiva.
Os seguintes exemplos ilustram o potencial do uso de alvos farmacocinéticos para
melhorar a terapia:
1. A trombocitopenia causada pela carboplatina é uma função direta da ASC,
que, por sua vez, é determinada pela depuração renal do fármaco original.
Calvert e Egorin (2002) elaboraram uma fórmula para obter a ASC
desejada, com base na depuração da creatinina.
2. A monitoração dos níveis plasmáticos de 5-fl uorouracila permite um
ajuste da dose para melhorar a taxa de resposta em pacientes com rápida
depuração do fármaco e evitar a toxicidade naqueles com depuração lenta
do fármaco (Gamelin e cols., 2008).
3. A terapia com metotrexato em altas doses exige uma monitoração dos
níveis do fármaco para detectar pacientes com alto risco de insufi ciência
renal e mielossupressão grave.
Os pacientes com concentrações inapropriadamente elevadas de metotrexato em
momentos específi cos podem ser recuperados dos efeitos tóxicos pela administração de
leucovorina e, nos casos extremos, por diálise ou administração de uma enzima de
clivagem do metotrexato e fármaco órfão, a glucarpidase (carboxipeptidase G2
recombinante). Testes moleculares para seleção de pacientes para quimioterapia.
Os testes moleculares estão sendo cada vez mais empregados para identifi car
pacientes passíveis de se benefi ciar do tratamento, bem como aqueles que correm maior
risco de toxicidade (Roberts e Chabner, 2004). A realização de testes antes do tratamento
tornou-se uma prática-padrão para selecionar pacientes para a terapia hormonal do câncer
de mama e para o tratamento com anticorpos, como trastuzumabe (receptor her-2/neu) e
o rituximabe (CD20).
A ocorrência de diferenças herdadas em polimorfi smos de sequência de pro teí
nas ou nos níveis de expressão do RNA infl uenciam tanto a toxicidade quanto a resposta
aos agentes antitumorais. Por exemplo, as repetições em série na região promotora do
gene que codifi ca a timidilato sintase, o alvo da 5-fl uorouracila, determinam o nível de
expressão da enzima. A presença de números aumentados de repetições está associada a
um aumento da expressão gênica, menor incidência de toxicidade e diminuição da taxa
de resposta em pacientes com câncer colorretal (Pullarkat e cols., 2001).
Os polimorfismos do gene da diidropirimidina desidrogenase, cujo produto é
responsável pela degradação da 5-fl uorouracila, estão associados a uma redução da
atividade enzimática e a um risco signifi cativo de toxicidade farmacológica maciça, par
ticular mente nos raros casos de homozigotos para os genes polimórfi cos (Van
Kuilenburg e cols., 2002). Outros polimorfi smos parecem afetar a depuração e a
atividade terapêutica de agentes antineoplásicos, incluindo tamoxifeno (Schroth e cols.,
2007), metotrexato, irinotecana e 6-mercaptopurina (Cheok e Evans, 2006). Outros
aspectos da biologia molecular estão sendo incluídos na tomada de decisão clínica em
oncologia.
Nota de precaução. Embora os avanços na descoberta de fármacos e no perfil
molecular de tumores representem uma grande promessa para melhorar os resultados do
tratamento do câncer, uma nota final de precaução acerca de todos os esquemas de
tratamento merece ênfase. A farmacocinética e as toxicidades dos agentes antineoplásicos
variam de paciente para paciente. É imperativo reconhecer precocemente os efeitos
tóxicos, alterar as doses ou interromper o medicamento agressor para aliviar os sintomas
e reduzir os riscos, bem como proporcionar tratamento de suporte vigoroso (transfusões
de plaquetas, antibióticos e fatores de crescimento hematopoiéticos).
As toxicidades que afetam o coração, os pulmões ou os rins podem ser
irreversíveis se forem reconhecidas em uma fase tardia de sua evolução, produzindo lesão
orgânica permanente ou morte. Felizmente, essas toxicidades podem ser minimizadas
com o reconhecimento precoce e a adesão aos protocolos padronizados e diretrizes para
uso dos fármacos.
2. AGENTES CITOTÓXICOS
1-CICLOFOSFAMIDAS
O fármaco sofre ativacão metabólica hidroxilação) pela CYP2B, com transporte
subsequente do intermediário ativado até os locais de ação. A seletividade da
ciclofosfamida contra determinados tecidos malignos, pode resultar, em parte, da
capacidade dos tecidos normais de degradar os intermediários ativados através do aldeído
desidrogenase, glutationa tranferase e outras vias.
Absorção: A ciclotostamida é bem absorvida por via oral e ativada ao
intermediário 4-hidroxiciclotostamida ocorre em equilibrio com o tautômero acíclico,
aldofosfamida.
Destino: A 4-hidroxiciclotostamida pode ser ainda oxidada pelo aldeído oxidase
no fígado ou no tecido tumoral a metabólitos inativos. O metabolismo hidroxila da
ifosfamida é inativado, de modo semelhante, pelo aldeído desidrogenase. A 4-
hidroxiciclofosfamida e sen tautômero a aldofosfamida, são transportados na circulação
até as células tumorais, onde a aldofosfamida sofre clivagem espontânea, produzindo
quantidades estequiométricas de mostarda de fosforamida e acroleína.
Excreção: Hepática, urinária e fecal.
Usos terapêuticos:
Linfoma de Burkitt; Linfomas não Hodgkin, câncer da mama, outras
neoplasias malignas linfoides, câncer do ovário e tumores sólidos em
crianças.
Distúrbios autoimunes, incluindo granulomatose de Wegener.
Artrite Reumatóide e Síndrome nefrótica
Efeitos adversos: Ulcerações do TGI; CistiteToxicidade; pulmonar, renal,
hepática e cardíaca.
2.- IFOSFAMIDA
A ifosfamida é um analogo da ciclofosfamida. A ocorrencia de toxicidade grave
do trato urinario e do sistema nervoso central (SNC) limitou o uso da ifosfamida quando
foi introduzida pela primeira vez, no início da década de 1970. Entretanto, a hidratação
adequada e a co-administração de mesma reduziram sua toxicidade vesical.
Usos terapêuticos: A ifosfamida foi aprovada para o tratamento da recidiva do
câncer testicular de células germinativas e e frequentemente unnizada como tratamento
de primeira linha para sarcomas em crianças e adultos.
Farmacocinética: O composto original, a ifosfamida, possui uma meia-vida
plasmática de eliminação de ~ 1.5 hora após doses de 3,8-5 g/m- e uma meia-vida
ligeiramente mais curta em doses mais baixas, embora sua farmacocinética seja altamente
variável de um paciente para outro, em decorrência das taxas varáveis de seu metabolismo
hepático. A hidroxilação pelas C YP gera uma mostarda de fosforamida ativa.
Toxicidade: A ifosfamida tem praticamente o mesmo perfil de toxicidade da
ciclotostamida, embora produza maior supressão das pla quetas. neurotoxicidade,
nefrotoxicidade e, na ausência de mesna, lesão urotelial.
3.-MELFALANO:
Esse agente alquilante é utilizado principalmente para o tratamento do mieloma
múltiplo e, menos comumente, na quimioterapia em altas doses com transplante de
medula.
Ações farmacológicas e citotóxicas: assemelham-se aquela de outros agentes
alquilantes bifuncionais. O Fármaco não é vesicante.
Absorção, destino e excreção: O melfalano oral e absorvido de modo
inconsistente e, para a maioria das indicações, e administrada por infusão intravenosa. O
fármaco possui uma meia-vida plasmática de 45-90 min e ocorre excreção de 10-15% da
dose administrada em sua forma inalterada na urina. Os pacientes com diminuicão da
função renal podem desenvolver mielossupressão inesperadamente grave.
Usos terapêuticos: O melfalano para tratamento do mieloma mul-tiplo, também
pode ser utilizado em esquemas meloablativos, seguidos de reconstituição com células
tronco da medula óssea ou do sangue periférico.
Toxicidade clínica: A toxicidade clínica do melfalano é, em erande parte,
hematológica e assemelha-se aquela de outros agentes alquilantes. As náuseas e os
vômitos são menos frequentes. O fármaco provoca menos alopecia e, raramente,
disfunção renal ou hepática.
4.-CLORAMBUCILA
Esse agente é quase exclusivamente utilizado no tratamento da LLC e, nesta
doença, foi substituído, em grande parte, pela fludarabina e ciclofosfamida.
Acães farmacolóaicas e citotóxicas: Os efeitos tóxicos da clorambucila sobre a
medula óssea, os órgãos linfoides e os tecidos epiteliais assemelham-se aos observados
com as mostardas nitrogenadas.Como agente administrado por via oral, a clorambucila é
bem tolerada em pequenas doses diárias e proporciona uma titulação flexível das
contagens hematológicas. Podem ocorrer nauseas e vômitos com doses orais únicas > ou
igual de 20 mg.
Absorção, destino e excreção: A absorção oral é adequada e confiável. O
fármaco possui meia-vida plasmática de aproximadamente 1,5 hora e e hidrolisado a
produtos inativos.
Usos terapêuticos: Tratamento de LLC
Toxicidade clínica: Na LLC, o tratamento com clorambucila pode ser continuada
durante meses ou anos; o fármaco alcança seus efeitos gradualmente e, com frequência e,
sem toxicidade significativa para a medula óssea comprometida.
5.-BENDAMUSTINA
Este fármaco foi aprovado para o tratamento da LLC e do linfoma não Hodgkin.
A bendamustina é administrada na forma de infusão intravenosa de 30 min, em doses de
100 mg/m^2~ nos dias 1 e 2 de um ciclo de 28 dias. Pode-se indicar o uso de doses
menores em pacientes com tratamento previo maciço. A bendamustina é rapidamente
degradada através de interaçao com sulfidrila e formação de complexos de adição com
macromoleculas, e , < 5% do fármaco original são excretados em sua forma intacta na
urina. O fármaco original apresenta meia-vida no plasma de aproximadamente 30 min ler
chert e cols., 2007). O padrão de toxicidade e da bendamustina é típico dos agentes
alquilantes clássicos, com mielossupressão e mucosite rapidamente reversíveis, que, em
geral são toleráveis no esquema de 28 dias.
2.1.1. Toxicidade dos agentes alquilantes
1.- Mielotoxicidade
Os agentes alquilantes diferem nos seus padrões de atividade antitumoral e nos
locais e gravidade de seus efeitos colaterais. A maioria provoca toxicidade dos elementos
da medula óssea que limita a dose do fármaco e, em menor grau, da mucosa intestinal. Os
agentes alquilantes (p.ex.. Melfalano clorambucilaa, ciclofosfamida e ifosfamida causam,
em sua maioria, mielossupressão aguda, como contagem mínima de granulócitos do
sangue periférico em 6-10 dias e recuperação em 14-21 dias. Tanto a imunidade celular
quanto a humoral são suprimidas pelos agentes alounantes, que tem sido utilizado no
tratamento de várias doencas autoimunes.
A imunossupressão e reversível em doses habituais; e entretanto, podem ocorrer
infecções oportunistas, como pneumonia por Pneumocystis jiroveci, ou infecções
fúngicas com tratamento extenso, e foi descrita a ocorrência de reativação da hepatite B,
levando alguns autores a recomendar uma profilaxia antiviral em portadores de hepatite
B submetidos à quimioterapia intensiva com agentes alquilantes (Grewal e cols., 2007).
2.-Toxicidade da mucosa: Os agentes alquilantes são altamente tóxicos para as
células da mucosa em divisão e folículos pilosos, resultando em ulcerações da mucosa
oral, desnudação intestinal e alopecia.
3.-Neurotoxicidade: A administração de mostarda nitrogenada ou de BCNU
Frequentemente ocasiona náuseas e vômitos. A ifosfamida é o agente mais neurotóxico
dessa classe de fármacos e pode provocar alteração do estado mental coma, convulsões
generalizadas e ataxia cerebelar. Esses efeitos colaterais resultam da liberação de
cloroacetaldeído da cadeia lateral cloroetil ligada ao fosfato da ifosfamida.
O bussulfano em altas doses pode provocar convulsões; além disso, ele acelera a
depuração da fenitoína, um mefixamente anticonvulsinante.
4.- Leucemogênese
Os agentes alquilantes como classe, são altamente leucemogênicos. A leucemia
não linfocítica aguda, que frequentemente está associada a deleções parciais ou totais dos
cromossomos 5 ou 7, atinge a sua incidência máxima em aproximadamente quatro anos
após a terapia e pode acometer até 5% dos pacientes tratados com esquemas contendo
agentes alquilantes.
2.1.2. Agentes alquilantes diversos
Embora as mostardas nitrogenadas contendo grupos cloroetila constituam a classe
de agentes alquilantes mais amplamente utilizada, os agentes alquilantes alternativos com
maior estabilidade química e atividade bem definida em tipos específicos de cânceres
possuem valor na prática clínica
Etilenoiminas e metilmelaminas
Altretamina
Farmacologia e efeitos citotóxicos: A altretamina, anteriormente connecida
como hexametilmelamina, assemeIha-se estruturalmente a trietilenomelanina
(tretamina). Todavia, testes in vitro realizados para estabelecer a atividade alquilante da
altretamina e seus metabólitos foram negativos, e o mecanismo preciso de ação citotóxica
da altretamina permanece desconhecido.
Absorção, destino, excreção: Após administração oral, a altretamina é bem
absorvida pelo trato Gl e sofre rápida desmetilação no fígado.Os principais metabólitos
consistem em pentametimelamina e tetrametilmelamina, com meia vida de eliminação de
4-10h.
Toxicidades clínicas: As principais toxicidades da altretamina consistem em
mielossupressão e neurotoxicidade. A altretamina provoca neurotoxicidade tanto
periférica, quanto central ( ataxia, depressão, confusão, sonolência, alucinações, tontura
e verugem). Os sintomas neurológicos desaparecem com a interrupção da terapia.
1.- TIOTEPA
A tiotepa consiste em três grupos etilenoimina estabilizados pela sua fixação à
base tiofosforil nucleofílica. Na atualidade é utilizada princialmente em esquemas de
quimioterapia em altas doses. Tanto a tiotepa quanto o seu metabólito primário
dessulfurado, a trietilenofosforamida (TEPA), na qual é rapidamente convertida pelas
CYP hepáticas, formam ligações cruzadas com o DNA.
Absorção, destino e excreção: A TEPA passa a constituir a forma predominante
do fármaco presente no plasma em poucas horas após a administração de tiotepa. O
composto original possui meia-vida plasmática e 1,2-2h, em comparação com a meia-
vida mais longa de 3-24 h da TEPA.
Toxicidades clinicas: As toxicidades da tiotepa são essencialmente iguais aquelas
dos outros agentes alquilantes. isto e, mielossupressão e menos grau, mucosite.
Alquilsulfonatos
2.- BUSSULFANO
Absorção, destino e excreção: O bussulfano é bem absorvido após administraçao
oral, em doses de 2-6 me dia. com meia-vida plasmática de 2-3 h. O fármaco e contugado
com Goe Dela elutationa S-transterase AlA e metabolizado subsequentemente por vias
dependentes de CYP; o principal metabólito urinário é o ácido metanossultonico.
Usos terapêuticos: No tratamento da leucemia mielógena crônica LMC), a dose
inicial oral de bussultano varia de acordo com a contagem total de leucócitos e a gravidade
da doença.
Toxicidade: Os principais efeitos tóxicos do bussulfano estão relacionados as suas
propriedades mielossupressoras, e a ocorrência de trombocitopenia prolongada pode
constituir um risco. Em certas ocasiões, os pacientes apresentam nauseas, vômitos e
diarreia. Seu uso a longo prazo leva a impotencia, esterilidade, amenorreia e
malformações fetais. Raramente os pacientes desenvolvem astenia e hipotensão, uma
sindrome semeinante a doença de Addison, porém sem qualquer anormalidade na
produção de corticosteroides.
3.-NITROSUREIAS
As nitrosureias desempenham um papel importante no tratamento dos tumores
cerebrais e são utilizadas, em certas ocasiões, no tratamento de linfomas e em esquemas
de altas doses com reconstituição da medula óssea. Funcionam como agentes alquilantes
bifuncionais, porém diferem das mostardas nitrogenadas convencionais nas suas
propriedades tanto farmacológicas quanto toxicológicas.
5.- ESTREPTOZOCINA
Este antibiótico possui uma metilnitrosu-reia (MNU) fixada ao carbono 2 da
glicose. Apresenta alta afinidade pelas células das ilhotas de Langerhans e provoca
diabetes em animais de laboratório.
Absorção, destino e excreção: A estreptozocina sofre rápida degradação após sua
administração intravenosa. A meia-vida do fármaco é de aproximadamente 5 min. Apenas
10-20% de uma dose e recuperada em sua forma intacta na urina.
Usos terapêuticos: A estreptozocina e uninizada exclusivamente no tratamento
do carcinoma de células das ilhotas pancreáticas humano eem tumores carcinoides
malignos.
Toxicidade clínica: As náuseas são frequentes. Em ~ 66% dos casos ocorrem
toxicidades renal ou hepática leves e reversíveis, em ° 10% dos pacientes, a toxicidade
renal pode ser cumulativa com cada dose, podendo levar a insuficiência renal irreversível
. A proteinúria constitui um sinal precoce da lesão tubular e insuficiência renal iminente.A
estreptozocina não deve ser administrada com outros fármacos nefrotóxicos. Em 20% dos
pacientes, ocorre toxicidade hematológica— anemia, leucopenia ou trombocitopenia.
2.2. ANTIMETABÓLITOS
2.2.1. Análogos do ácido fólico
O ácido fólico é um fator nutricional essencial, que é convertido, por redução
enzimática, em uma série de cofatores de tetraidrofolato (FH4), que fornecem grupos
metila para a síntese de precursores do DNA (timidilato e purinas) e RNA (purinas). A
interferência no metabolismo do FH4 reduz a capacidade celular de transferência de um
carbono e a necessidade das reações de metilação na síntese de ribonucleotídeos de purina
e monofosfato de timidina (TMP), inibindo, assim, a replicação do DNA.
O interesse pelos antagonistas do folato aumentou ainda mais com o
desenvolvimento da terapia de combinação curativa para a leucemia lifocítica aguda
infantil; nessa forma de terapia, o metotrexato desempenhou um papel crítico tanto no
tratamento sistêmico quanto na terapia intratecal. A introdução de esquemas de altas
doses com “resgate” da toxicidade do hospedeiro pelo folato reduzido, a leucovorina
(ácido folínico, fator citrovorum, 5-formil tetraidrofolato, N5-formil FH4), estendeu
ainda mais a eficiência desse fármaco para o tratamento de linfomas tanto sistêmicos
quanto do SNC, sarcoma osteogênico e leucemias. O reconhecimento de que o
metotrexato, um inibidor da diidrofolato redutase (DHFR), também inibe diretamente as
enzimas dependentes de folato da síntese de novo de purinas e timidilato levou ao
desenvolvimento de análogos de antifolato, que são especifi camente dirigidos contra
essas outras enzimas dependentes de folato. Além de sua atividade antineoplásica, o
metotrexato também tem sido utilizado com resultados benéfi cos na terapia da psoríase.
Além disso, o metotrexato inibe as reações imunes celulares e é empregado para
suprimir a doen ça de enxerto versus hospedeiro no transplante de medula óssea alogênica
e transplante de órgãos, bem como no tratamento da dermatomiosite, da artrite
reumatoide, da granulomatose de Wegener e da doen ça de Crohn. O principal alvo do
metotrexato é a enzima DHFR . A inibição da DHFR leva à depleção parcial dos cofatores
do FH4 (ácido 5-10 metilenotetraidrofólico e ácido N-10 formiltetraidrofólico), que são
necessários para a síntese respectiva de timidilato e purinas.
. O trimetrexato, um análogo lipossolúvel que carece de um glutamato terminal,
foi um dos primeiros a ser testado quanto à sua atividade clínica. O análogo possui
atividade antitumoral modesta, principalmente em combinação com leucovorina como
resgate. Todavia, mostra-se benéfi co no tratamento da pneumonia por P. jiroveci
(Pneumocystis carinii) (Allegra e cols., 1987a), no qual a leucovorina proporciona um
resgate diferencial para o hospedeiro, mais não para o parasito. O novo análogo de folato
mais importante, o MTA ou pemetrexede, possui uma estrutura de pirrol-pirimidina. É
avidamente transportado para o interior das células através do carreador de folato
reduzido. É prontamente convertido em poliglutamatos, que inibem a TS e a glicina amida
ribonucleotídeo transformilase, bem como a DHFR. Demonstrou ter atividade contra o
câncer de ovário, o mesotelioma e os adenocarcinomas de células não pequenas do
pulmão (Vogelzang e cols., 2003).
Mecanismo de ação: Para atuar como cofator em reações de transferência de um
carbono, o folato precisa ser inicialmente reduzido pela DHFR a FH4.
Os efeitos tóxicos do metotrexato podem ser interrompidos pela administração de
leucovorina, uma coenzima do folato totalmente reduzida, cuja função consiste na
repleção do reservatório intracelular de cofatores de FH4. A exemplo da maioria dos
antimetabólitos, o metotrexato é apenas parcialmente seletivo para as células tumorais e
mata rapidamente as células normais em divisão, como as do epitélio intestinal e da
medula óssea. À semelhança do metotrexato, o pemetrexede induz a p53 e a parada do
ciclo celular, porém esse efeito não parece depender da indução distal da p21. O
pralatrexato foi aprovado para o tratamento do linfoma de células T cutâneo (O’Connor
e cols., 2007).
Mecanismos de resistência aos antifolatos: Na quimioterapia experimental e na
quimioterapia clínica, a resistência adquirida ao metotrexato afeta cada etapa conhecida
de sua ação, incluindo: • Comprometimento do transporte de metotrexato no interior das
células
Estruturas do ácido fólico e antifolatos: O sombreado identifi ca as
características estruturais comuns e as áreas de modifi cação. Resíduos de glutamil (1 a
6)
• Produção de formas alteradas de DHFR, que exibem 1693 afi nidade diminuída
pelo inibidor
• Aumento das concentrações de DHFR intracelular por amplifi cação gênica ou
alteração da regulação gênica
• Capacidade diminuída de sintetizar poliglutamatos de metotrexato
• Expressão aumentada de um transportador de efl uxo do fármaco da classe MRP
Absorção, destino e excreção: O metotrexato é prontamente absorvido pelo trato
GI em doses < 25 mg/m2; entretanto, ocorrem absorções incompletas de doses maio res,
que são rotineiramente administradas por via intravenosa. As concentrações máximas no
plasma de 1-10 μM são obtidas após doses de 25-100 mg/m2, e são alcançadas
concentrações de 0,1-1 mM após infusões de altas doses de 1,5-20 g/m2. Após
administração intravenosa, o fármaco desaparece do plasma de maneira trifásica
(Sonneveld e cols., 1986). A fase de distribuição rápida é seguida de uma segunda fase,
que refl ete a depuração renal (meia-vida de ~ 2-3 h). A terceira fase apresenta uma meia-
vida de ~ 8-10 h. Essa fase terminal de desaparecimento, quando indevidamente
prolongada pela presença de insufi ciência renal, pode ser responsável por efeitos tóxicos
importantes do fármaco sobre a medula óssea, o epitélio GI e a pele.
O metabolismo do metotrexato nos seres humanos é habitualmente mínimo.
Entretanto, após a administração de altas doses, os metabólitos são prontamente
detectáveis, incluindo o 7-hidroximetotrexato, que é potencialmente nefrotóxico.
O metotrexato possui valor limitado em adultos com LMA, exceto para o
tratamento e a prevenção da meningite leucêmica. A administração intratecal de
metotrexato tem sido empregada no tratamento ou na profi laxia da leucemia ou do
linfoma meníngeos, bem como para o tratamento da carcinomatose meníngea. Essa via
de administração proporciona altas concentrações do fármaco no LCS e mostra-se
também efetiva em pacientes cuja doen ça sistêmica tornou-se resistente ao metotrexato.
A dose intratecal recomendada para todos os pacientes com > 3 anos de idade é de 12 mg
(Bleyer, 1978).
Toxicidades clínicas. Conforme assinalado anteriormente, as principais
toxicidades dos antifolatos afetam a medula óssea e o epitélio intestinal e são corrigidas
em 10-14 dias. Os pacientes com mielossupressão podem correr risco de hemorragia
espontânea ou infecção potencialmente fatal, podendo exigir a transfusão profi lática de
plaquetas e a administração de antibióticos de amplo espectro se o indivíduo estiver febril.
Em geral, os efeitos colaterais desaparecem completamente em duas semanas;
entretanto, pode ocorrer mielossupressão prolongada em pacientes com
comprometimento da função renal, que apresentam excreção tardia do fármaco.
3.4.TALIDOMIDA
Entre os agentes com atividade antiangiogênica, os análogos imunomoduladores
(IMiD), talidomida e lenalidomida, possuem uma história extremamente incomum, bem
como uma multiplicidade de efeitos biológicos e imunológicos. Sua classificação como
antiangiogênicos é conveniente, porém empírica.
Ela foi reintroduzida na prática clínica inicialmente em virtude de sua efi cácia
clínica no eritema nodoso da hanseníase, para o qual teve aprovação em 1998 (ver
Capítulo 56). Pesquisas adicionais revelaram seus efeitos antiangiogênicos e
imunomoduladores, e esses achados desencadearam a realização de estudos clínicos
experimentais no câncer, mais notavelmente contra o mieloma múltiplo (MM). Tanto a
talidomida quanto a lenalidomida possuem potente atividade em pacientes com MM
recém-diagnosticados e intensamente pré-tratados, com recidiva/refratários (Richardson
e cols., 2007). A lenalidomida também possui notável atividade clínica no subgrupo 5q-
da síndrome mielodisplásica (SMD) e foi aprovada para essa indicação. Um perfi l
específico de disposição de genes identifi ca pacientes portadores de SMD que não
possuem a anormalidade 5q-, mas que respondem à lenalidomida (Ebert e cols., 2008).
O Mecanismos de ação: Os mecanismos precisos responsáveis pelos efeitos
clínicos desses fármacos ainda não estão totalmente esclarecidos. Foram propostos pelo
menos quatro mecanismos distintos, porém potencialmente complementares, para
explicar a atividade antitumoral dos IMiD:
• Efeitos antiproliferativos/pró-apoptóticos diretos. Esses fármacos inibem os
efeitos antiapoptóticos do NH-κB e o membro da família Bcl-2 antiapoptótica, A1/Bfl -1
(Mitsiades e cols., 2002a).
• Inibição indireta do crescimento e da sobrevida das células tumorais ao abolir as
interações celulares com moléculas de adesão (Hideshima e cols., 2000).
• Inibição da produção, da liberação e da sinalização da interleucina-6 (IL-6) e do
fator de necrose tumoral α (TNF α), resultando em efeitos antiangiogênicos.
• Imunomodulação através do aumento da citotoxicidade mediada por células
destruidoras naturais (NK) e células T. Seu antagonismo das vias antiapoptóticas e seus
efeitos antiangiogênicos podem explicar o sinergismo clínico com os glicocorticoides e
bortezomibe contra o MM (Mitsiades e cols., 2002b).
Farmacocinética e uso terapêutico: A talidomida, em pH fi siológico, existe como
mistura racêmica de isômeros não polares S(-) e R(+) permeáveis a células e de rápida
interconversão, cujo equilíbrio favorece o produto R. O enantiômero R está associado às
atividades teratogênicas e biológicas, ao passo que o enantiômero S responde pelas
propriedades sedativas da talidomida. A talidomida é administrada em doses de 200-
1.200 mg/dia.
.A absorção da talidomida pelo trato GI é lenta e altamente va riá vel [4 h, em
média, para atingir as concentrações máximas (Tmáx), com faixa de 1-7 h]. A talidomida
distribui-se pela maioria dos tecidos e órgãos, sem ligação signifi cativa às pro teí nas
plasmáticas. Os níveis máximos são alcançados em 3-4 h, e a meiavida de
desaparecimento dos enantiômeros é de ~ 6 h. A eliminação da talidomida ocorre
principalmente por hidrólise espontânea em todos os líquidos corporais; o enantiômero S
é depurado mais rapidamente do que o enantiômero R. A talidomida e seus metabólitos
são excretados na urina, e a porção não absorvida do fármaco é excretada de modo
inalterado nas fezes; todavia, a depuração do fármaco ativo é primariamente atribuída à
hidrólise.
A meia-vida do fármaco original no plasma é de 9 h com a dose de 400 mg. Cerca
de 70% da dose de lenalidomida administrada por via oral são excretados na forma intacta
pelos rins. A ASC aumenta progressivamente em pacientes com insufi ciência renal
moderada a grave (depuração da creatinina < 50 mL/min). Com base em considerações
farmacocinéticas, são recomendados ajustes da dose para 10 mg/dia com uma depuração
da creatinina de 30-50 mL/h e para a mesma dose, a cada 2 dias, para uma depuração da
creatinina < 30 mL/h em pacientes com insufi ciência renal.
Os efeitos adversos mais comuns relatados em pacientes com câncer consistem
em sedação e constipação, e o efeito adverso mais grave é a neuropatia sensorial
periférica, que ocorre em 10-30% dos pacientes com MM ou outras neoplasias malignas,
por meio de um processo que depende da dose e do tempo (Richardson e cols., 2004). A
neuropatia relacionada com a talidomida consiste em parestesias periféricas dolorosas e
assimétricas, com perda sensorial, que se manifesta comumente na forma de dormência
nos dedos dos pés e nos pés, cãibras musculares, fraqueza, sinais de comprometimento
do trato piramidal e síndrome do túnel do carpo.
3.5.INIBIÇÃO DO PROTEASSOMA: BORTEZOMIBE
O bortezomibe, um inibidor da degradação proteica mediada pelo proteassoma,
assumiu um papel central no tratamento do MM.
Mecanismo de ação: O bortezomibe liga-se à subunidade β5 do núcleo 20S do
proteassoma 26S e inibe reversivelmente a sua atividade semelhante à quimiotripsina
(Adams, 2004). Esse evento interrompe múltiplas cascatas de sinalização intracelulares,
levando à apoptose. A consequência mais importante da inibição do proteassoma consiste
em seu efeito sobre o NF-κB, um fator de transcrição essencial, que promove a resposta
à lesão celular e a sobrevida da célula.
Absorção, destino e excreção: A dose inicial recomendada de bortezomibe é de
1,3 mg/m2 administrada em injeção intravenosa nos dias 1, 4, 8 e 11 de cada ciclo de 21
dias (com um perío do de repouso de 10 dias por ciclo). O intervalo entre as doses deve
ser de pelo menos 72 h. A administração do fármaco deve ser suspensa até resolução de
qualquer toxicidade não hematológica de grau 3 ou toxicidade hematológica de grau 4, e
as doses subsequentes devem ser reduzidas em 25%. Após a administração intravenosa
de 1-1,3 mg/m2, o bortezomibe exibe meia-vida terminal no plasma de 5,5 h (Papandreou
e cols., 2004). A concentração plasmática máxima mediana é, em média, de 509 ng/mL
após uma injeção intravenosa de 1,3 mg/m2.
Usos terapêuticos e toxicidade: O bortezomibe foi aprovado pelo FDA como
terapia inicial para o MM e como terapia para o MM após recidiva com outros fármacos
(Kane e cols., 2003). O bortezomibe também teve o seu uso aprovado para o linfoma de
células do manto refratário ou que sofre recidiva.
3.6.INIBIDORES DO MTOR: ANÁLOGOS DA RAPAMICINA
A rapamicina (sirolimo) é um produto de fermentação de um fungo, que inibe o
funcionamento apropriado de uma serina/treonina proteinocinase em células de
mamíferos designada pelo epônimo de alvo da rapamicina dos mamíferos, ou mTOR,
uma PI3 cinase efetora de sinalização.
A rapamicina e seus congêneres, o tensirolimo e o everolimo, são fármacos de
primeira linha bem estabelecidos na imunossupressão pós-transplante. Mais
recentemente, os inibidores do mTOR tiveram aplicações importantes em oncologia para
o tratamento do câncer renal e hepatocelular e linfomas de células do manto.
Mecanismos de ação e resistência: As rapamicinas inibem um complexo
enzimático, mTORC1, que ocupa uma posição distal na via da PI3 cinase (Figura 62-4).
O mTOR forma o complexo mTORC1 com um membro da família da proteína de ligação
de FK-506, a FKBP12. Entre outras ações, o complexo mTORC1 fosforila a S6 cinase e
também retira o efeito inibitório da 4EBP sobre o fator de iniciação elf-4E, promovendo,
assim, a síntese de proteína e o metabolismo.
Absorção, destino e excreção: O FDA aprovou tanto o tensirolimo quanto o
everolimo para o tratamento do câncer renal. O tensirolimo prolonga a sobrevida e retarda
a progressão da doen ça em pacientes com câncer renal avançado e de risco baixo ou
intermediário, em comparação com o tratamento-padrão com interferona-α.
Toxicidade clínica: Os análogos da rapamicina apresentam padrões de toxicidade
muito semelhantes. Os efeitos colaterais mais proeminentes consistem em exantema
maculopapular discreto, mucosite, anemia e fadiga, ocorrendo, cada um deles, em 30-
50% dos pacientes. Em uma minoria de pacientes, verifi ca-se o desenvolvimento de
leucopenia ou de trombocitopenia com ciclos progressivos de tratamento, e esses efeitos
são revertidos com a interrupção da terapia. Os efeitos colaterais menos comuns
consistem em hiperglicemia, hipertrigliceridemia e, raramente, infi ltrados pulmonares e
doen ça pulmonar intersticial.
3.7. MODIFICADORES DA RESPOSTA BIOLÓGICA
Os modificadores da resposta biológica incluem citocinas ou anticorpos
monoclonais que afetam de modo benéfico a resposta biológica do paciente para
determinada neoplasia. Nesse grupo estão incluídos agentes que atuam indiretamente para
mediar seus efeitos antitumorais (p. ex., intensifi cando a resposta imune às células
neoplásicas) por meio ou diretamente, de sua ligação a receptores nas células tumorais,
liberando toxinas ou radionuclídeos.
Anticorpos monoclonais
As células cancerosas expressam antígenos que representam alvos atraentes para
a terapia com base em anticorpos monoclonais Na atualidade, os anticorpos monoclonais
foram aprovados pelo FDA para tratamento de neoplasias linfoides e tumores sólidos. Os
agentes disponíveis incluem:
Rituximabe e o alentuzumabe para neoplasias malignas linfoides;
Trastuzumabe para o câncer de mama;
Bevacizumabe para câncer de cólon e de pulmão;
Cetuximabe e panitumumabe para o câncer colorretal e o câncer de cabeça e
pescoço.
Nomenclatura adotada para designar os anticorpos monoclonais terapêuticos
utiliza a terminação:
–ximabe para os anticorpos quiméricos;
–umabe para os anticorpos totalmente humanizados.
Curiosidade: Os anticorpos monoclonais não modificados matam as células
tumorais por meio de uma variedade de mecanismos entretanto, os mecanismos de
importância clínica para a maioria dos anticorpos permanecem incertos .
1.- RITUXIMABE
O rituximabe é um anticorpo monoclonal quimérico cujo alvo é o antígeno CD20 das
células B
Farmacocinética e dosagem: Meia vida- ~ 22 dias
Via de administração: infusão intravenosa
Como evitar reações adversas: O pré-tratamento com anti-histamínicos,
paracetamol e glicocorticoides diminui o risco de reações de hipersensibilidade.
Resistência e toxicidade: Pode ocorrer resistência ao rituximabe por meio de
infrarregulação do CD20, comprometimento da citotoxicidade celular dependente de
anticorpos, diminuição da ativação do complemento
2.- OFATUMUMABE
O ofatumumabe é um segundo anticorpo monoclonal, que se liga ao antígeno
CD20 em sítios nas alças extracelulares maior e menor do CD20, distintos do sítio alvo
do rituximabe.
Usos: O ofatumumabe foi aprovado para o tratamento de pacientes portadores de
LLC após ausência de resposta à fludarabina e alentuzumabe.
Efeitos tóxicos: imunossupressão e infecções oportunistas, reações de
hipersensibilidade.
3.- ALENTUZUMABE
O alentuzumabe é um anticorpo monoclonal humanizado IgG-κ. O alentuzumabe
pode induzir a morte das células tumorais por meio de ADCC e CDC.
Farmacocinética e dosagem
Via: intravenosa
Infusão: difenidramina e paracetamol, devido à ocorrência de hipersensibilidade.
Meia vida: 1h-12 dias(depois de múltiplas doses)
Atividade clínica:linfomas de baixo grau de células B e de células T e na LLC.
Toxicidade: reações agudas à infusão e depleção dos neutrófilos normais e das
células T
4.- INTERLEUCINA 2
Mecanismo de ação: A IL-2 estimula a proliferação das células T ativadas e a
secreção de citocinas pelas células NK e pelos monócitos.
A estimulação da IL-2 aumenta a destruição citotóxica pelas células T e células
NK. O mecanismo de morte das células tumorais ainda não está precisamente definido,
porém acredita-se que seja o resultado de um aumento da destruição por células efetoras
imunes.
Farmacocinética:
Via: intravenosa
Meia vida: ~13~90min
Excreção: IL-2 metabólito inativo na urina
Uso clínico: O fármaco foi aprovado para uso no câncer de células renais
metastático e no melanoma metastático
Toxicidade: Os efeitos tóxicos da IL-2 são dominados pela síndrome de
extravasamento capilar que pode causar: hipotensão, edema, dificuldades respiratórias,
confusão, taquicardia, insufi ciência renal oligúrica e problemas eletrolíticos, incluindo
hipopotassemia, hipomagnesemia, hipocalcemia e hipofosfatemia.
4. PRODUTOS NATURAIS NA QUIMIOTERAPIA DO CÂNCER:
HORMÔNIOS E AGENTES RELACIONADOS
As pesquisas nos campos da fertilidade, do controle da natalidade e da menopausa
levaram à produção de valiosos análogos e antagonistas hormonais para o tratamento do
câncer de mama e do câncer de próstata. Essas moléculas interrompem o eixo estimulador
criado por reservatórios sistêmicos de androgênios e estrogênios, inibem a produção de
hormônios ou a ligação a seus receptores e, por fi m, bloqueiam a complexa expressão de
genes que promovem o crescimento e a sobrevida de tumores. Esses fármacos
demonstraram ser efetivos para aumentar o tempo de sobrevida do paciente e retardar ou
impedir a recidiva do tumor nos cânceres de mama e próstata.
4.1. GLICOCORTICOIDES
Neste capítulo, são consideradas apenas as aplicações desses fármacos no
tratamento da doen ça neoplásica. Os glicocorticoides atuam através de sua ligação a um
receptor fi siológico específi co, que é translocado para o núcleo e que induz respostas
antiproliferativas e apoptóticas nas células sensíveis. Em virtude de seus efeitos
linfolíticos e de sua capacidade de suprimir a mitose nos linfócitos, os glicocorticoides
são utilizados como agentes citotóxicos no tratamento da leucemia aguda em crianças e
do linfoma maligno em crianças e adultos. Na leucemia linfoblástica aguda ou
indiferenciada da infância, os glicocorticoides podem produzir melhora clínica imediata
e remissões hematológicas objetivas em ≤ 30% das crianças.
Embora essas respostas sejam frequentemente caracterizadas pelo
desaparecimento completo de todas as células leucêmicas detectáveis do sangue
periférico e da medula óssea, a duração da remissão é breve. As remissões ocorrem mais
rapidamente com os glicocorticoides do que com os antimetabólitos, e não há evidência
de resistência cruzada a agentes não relacionados.
Os glicocorticoides são extremamente úteis no controle da anemia hemolítica
autoimune e da trombocitopenia associada à LLC. Os glicocorticoides, par ticular mente
a dexametasona, são utilizados em associação com radioterapia para reduzir o edema
relacionado com tumores em áreas críticas, como o mediastino superior, o encéfalo e a
medula espinal. A administração, a cada 6 h, de doses de 4-6 mg, possui efeitos notáveis
na restauração da função neurológica em pacientes com metástases cerebrais; todavia,
esses efeitos são temporários. Mudanças agudas na dose de dexametasona podem levar a
uma rápida recrudescência dos sintomas. A dexametasona não deve ser interrompida de
modo abrupto em pacientes submetidos a radioterapia ou a quimioterapia para metástases
cerebrais. Pode-se proceder a uma redução gradual da dosagem se for obtida uma resposta
clínica à terapia antitumoral definitiva. Os efeitos antitumorais dos glicocorticoides são
mediados pela sua ligação ao receptor de glicocorticoides, que ativa um programa de
expressão gênica que leva à apoptose.
Dispõe-se de vários glicocorticoides que exercem efeitos semelhantes em doses
equivalentes (ver Capítulo 42). Por exemplo, a prednisona é habitualmente administrada
por via oral, em doses altas de até 60-100 mg ou mais, durante os primeiros dias, sendo
então reduzida de modo gradual para níveis de 20-40 mg/dia.
A dexametasona constitui o agente preferido para a indução de remissão no
mieloma múltiplo, habitualmente em associação com melfalano, antraciclina, vincristina,
bortezomibe ou talidomida.
4.2. PROGESTINAS
Os agentes progestacionais têm sido utilizados como terapia hormonal de segunda
linha no câncer de mama metastático dependente de hormônio, bem como no controle do
carcinoma endometrial previamente tratado com cirurgia e radioterapia. Além disso, as
progestinas estimulam o apetite e restauram uma sensação de bem-estar em pacientes
caquéticos com estágios avançados de câncer e síndrome da imunodeficiência
Embora a própria progesterona seja pouco absorvida quando administrada por via
oral e deva ser utilizada com um carreador oleoso quando administrada por via
intramuscular, existem preparações de progesterona sintética. A medroxiprogesterona
pode ser administrada por via intramuscular, em doses de 400-1.000 mg/se mana.
O acetato de megestrol (40-320 mg/dia, em doses fracionadas) constitui uma
alternativa de agente oral mais comumente utilizado. A hidroprogesterona (não
disponível nos EUA) é habitualmente administrada por via intramuscular, em doses de
1.000 mg, 1 ou mais vezes/semana. Foram observados efeitos benéficos em cerca de um
terço das pacientes portadoras de câncer endometrial. A resposta do câncer de mama ao
megestrol é prevista pela presença de receptores de estrogênio (RE) e pela evidência de
resposta ao tratamento hormonal anterior.
O efeito da terapia com progestina no câncer de mama parece depender da dose,
e algumas pacientes apresentam segundas respostas após um escalonamento do megestrol
para 1.600 mg/dia. O uso clínico das progestinas no câncer de mama foi suplantado, em
grande parte, pelo advento do tamoxifeno e dos inibidores da aromatase (IA). Foram
também relatadas respostas aos agentes progestacionais em carcinomas metastáticos de
próstata e de rim.
4.4.INIBIDORES DA AROMATASE
Os inibidores da aromatase bloqueiam a função da enzima aromatase, que
converte androgênios
Estrutura dos principais inibidores da aromatase e do substrato natural, a
androstenediona. Atualmente, os IA são considerados 1761 como padrão para o
tratamento adjuvante de mulheres na pós-menopausa portadoras de câncer de mama com
receptores hormonais positivos, como terapia inicial ou administrados em sequência após
o tamoxifeno. A atividade da aromatase é o produto do gene CYP19. A CYP19 é
altamente expressa na placenta humana e nas células da granulosa dos folículos ovarianos,
onde sua expressão depende da estimulação cíclica das gonadotropinas. A aromatase
também é encontrada, em níveis mais baixos, em vários tecidos não glandulares,
incluindo gordura subcutâ nea, fígado, músculo, cérebro e glândula mamária normal, bem
como no tecido do câncer de mama.
A enzima aromatase é responsável pela conversão dos androgênios suprarrenais
em androstenediona gonadal e da testosterona aos estrogênios, estrona (E1) e estradiol
(E2), respectivamente. Nas mulheres, após a menopausa, essa conversão constitui a
principal fonte de estrogênios circulantes, enquanto a produção de estrogênio em
mulheres na pré-menopausa ocorre principalmente nos ovários. Em mulheres na pós-
menopausa, os IA podem suprimir a maior parte da atividade da aromatose periférica,
resultando em profunda privação de estrogênio. Essa estratégia de privação do estrogênio
para as células do câncer de mama RE+ contrasta com a atividade antagonista exercida
pelos MSRE e ISRE nos RE. Com base na sua sequência de desenvolvimento, os IA são
classifi cados em primeira, segunda ou terceira gerações. Além disso, são ainda classifi
cados em IA tipo 1 (esteroides) ou tipo 2 (não esteroides), de acordo com sua estrutura e
seu mecanismo de ação. Os inibidores tipo 1 são análogos esteroides da androstenediona.
4.4.1 Inibidores da aromatase de terceira geração
Os inibidores de terceira geração, desenvolvidos na década de 1990, incluem o
agente esteoide tipo 1, o exemestano, e os imidazóis não esteroides tipo 2, o anastrozol e
letrozol. Na atualidade, os IA de terceira geração são utilizados como parte da terapia-
padrão para o tratamento do câncer de mama de estágio inicial e avançado em mulheres
na pós-menopausa.
1.- ANASTROZOL
O anastrozol é um IA triazólico potente e seletivo.
Mecanismo de ação: A exemplo do letrozol, o anastrozol liga-se
competitivamente e de modo específi co ao heme da CYP19. O anastrozol, na dose de 1
ou 10 mg, administrada 1 vez/dia durante 28 dias, reduz a aromatização dos androgênios
corporais totais em 96,7 ou 98,1%, respectivamente.
Absorção, destino e excreção: O anastrozol sofre absorção rápida após sua
administração oral, e as concentrações plasmáticas máximas são alcançadas após 2 h. A
administração de doses repetidas aumenta as concentrações plasmáticas, e o estado de
equilíbrio dinâmico é alcançado depois de sete dias. Embora a velocidade de absorção
seja diminuída por um desjejum rico em gordura, a refeição não altera signifi cativamente
a concentração final no estado de equilíbrio dinâmico alcançada com múltiplas doses.
Usos terapêuticos: O anastrozol, em uma dose de 1 mg/dia por via oral, foi
aprovado para terapia hormonal adjuvante inicial em mulheres na pós-menopausa
portadoras de câncer de mama em estágio inicial e como tratamento para o câncer de
mama avançado. No câncer de mama de estágio inicial, o anastrozol é signifi cativamente
mais efetivo do que o tamoxifeno ao retardar o tempo de recidiva do tumor e ao diminuir
a probabilidade de tumor contralateral primário (Baum e cols., 2002).
Efeitos adversos e toxicidade: Em comparação com o tamoxifeno, o anastrozol
tem sido associado a uma incidência signifi cativamente mais baixa de sangramento e
corrimento vaginais, ondas de calor, câncer endometrial, eventos vasculares cerebrais
isquêmicos, eventos tromboembólicos venosos e trombose venosa profunda, incluindo
embolia pulmonar.
2.- LETROZOL
O letrozol foi aprovado para terapia hormonal adjuvante inicial em mulheres na
pós-menopausa com câncer de mama de estágio inicial e como tratamento para o câncer
de mama avançado.
Ações: Em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama primário, o letrozol
inibe a aromatização do estrogênio em 99% e reduz a aromatização local dentro dos
tumores. O fármaco não exerce nenhum efeitosignifi cativo sobre a síntese de esteroides
suprarrenais ou dos hormônios tireoidianos e não altera os níveis de vários outros
hormônios. O letrozol também reduz os marcadores celulares de proliferação em grau
signifi cativamente maior do que o tamoxifeno em tumores humanos dependentes de
estrogênio com hiperexpressão de HER1 e de HER2/neu.
Absorção, destino e excreção: O letrozol é rapidamente absorvido após
administração oral, e os níveis plasmáticos máximos são alcançados ~ 1 hora após sua
ingestão. O letrozol possui uma biodisponibilidade de 99,9%. As concentrações
plasmáticas de letrozol no estado de equilíbrio dinâmico são alcançadas após 2 a 6
semanas de tratamento. Após o seu metabolismo pelas CYP2A6 e CYP3A4, o letrozol é
eliminado como metabólito carbinol inativo, principalmente através dos rins. A
depuração corporal total é baixa (2,2 L/h), e a meia-vida de eliminação é de
aproximadamente 41 h.
Usos terapêuticos: A dose habitual de letrozol é de 2,5 mg VO, 1 vez/ dia. No
câncer de mama de estágio inicial, a continuação da terapia endócrina adjuvante com
letrozol (além do perío do padrão de cinco anos do tamoxifeno) melhora a sobrevida livre
de doen ça, em comparação com o placebo, e também produz uma melhora da sobrevida
global no subgrupo de pacientes com linfonodos axilares positivos (Goss e cols., 2004).
Efeitos adversos e toxicidade: O letrozol é bem tolerado, e os eventos adversos
mais comuns relacionados ao tratamento consistem em ondas de calor, náuseas e
adelgaçamento dos cabelos. Em pacientes cujos tumores progrediram a despeito da
terapia antiestrogênica, o letrozol foi pelo menos tão bem ou mais bem tolerado do que o
megestrol.
3.- EXEMESTANO
O exemestano, administrado por via oral, é um análogo mais potente do substrato
natural da aromatase, a androstenediona, e diminui os níveis de estrogênio mais
efetivamente do que o seu predecessor, o formestano.
Mecanismo de ação: Em contraste com os inibidores competitivos reversíveis da
aromatase (anastrozol e letrozol), o exemestano inativa de modo irreversível a enzima e
é designado como “substrato suicida”. Sua administração em doses de 25 mg/dia inibe a
atividade da aromatase em 98% e reduz os níveis plasmáticos de estrona e de estradiol
em ~ 90% em mulheres na pós-menopsausa.
Absorção, destino e excreção: O exemestano é rapidamente absorvido pelo trato
GI, alcançando níveis plasmáticos máximos depois de 2 h. Sua absorção aumenta em 40%
após uma refeição rica em gordura. O exemestano liga-se extensamente às pro teí nas
plasmáticas e apresenta meia-vida terminal de ~ 24 h. É extensamente metabolizado no
fígado a metabólitos inativos.
Usos terapêuticos: O exemestano, na dose de 25 mg administrada por via oral, 1
vez/dia, foi aprovado para tratamento da progressão da doen ça em mulheres na pós-
menopausa que concluíram um tratamento adjuvante com tamoxifeno de 2 a 3 anos de
duração, com base nos resultados de um estudo clínico randomizado em mulheres
portadoras de câncer de mama RE+.
Toxicidade clínica: Em geral, o exemestano é bem tolerado. A interrupção devido
aos efeitos tóxicos do fármaco é incomum (2,8%). Foi relatada a ocorrência de ondas de
calor, náuseas, fadiga, aumento da sudorese, edema periférico e aumento do apetite.
4.5. TERAPIA HORMONAL NO CÂNCER DE PRÓSTATA
O câncer de próstata localizado é frequentemente passível de cura com cirurgia
ou radioterapia. Entretanto, quando surgem metástases distantes, a terapia hormonal passa
a constituir o principal tratamento. As condutas-padrões reduzem a concentração de
androgênios endógenos ou inibem seus efeitos. A terapia de privação androgênica (TPA)
constitui o tratamento-padrão de primeira linha (Sharifi e cols., 2005).
A TPA é realizada através de castração cirúrgica (orquiectomia bilateral) ou
castração clínica (utilizando agonistas ou antagonistas do hormônio de liberação das
gonadotropinas [GnRH]). Outras abordagens com terapia hormonal são utilizadas como
tratamento de segunda linha e incluem antiandrogênios, estrogênios e inibidores da
esteroidogênese (ver discussão mais adiante, nesta seção). A TPA é considerada um
tratamento paliativo, mas não curativo (Walsh e cols., 2001). A TPA pode aliviar os
sintomas relacionados ao câncer, produzir respostas objetivas e normalizar o nível sérico
de antígeno prostático específi co (PSA) em > 90% dos pacientes.
A TPA proporciona importantes benefícios em termos de qualidade de vida,
incluindo redução da dor óssea e diminuição nas taxas de fraturas patológicas,
compressão da medula espinal e obstrução ureteral (Huggins e cols., 1941). Além disso,
prolonga a sobrevida dos pacientes (Sharifi e cols., 2005). A duração da resposta à TPA
para pacientes com doen ça metastática mostra-se va riá vel, porém tipicamente é de 14 a
20 meses (Crawford e cols., 1989; Eisenberger e cols., 1998). A progressão da doen ça
apesar do uso da TPA signifi ca um estado resistente à castração.
Os efeitos colaterais comuns da privação androgênica consistem em rubor
vasomotor, perda da libido, impotência, ginecomastia, fadiga, anemia, ganho de peso,
diminuição da sensibilidade à insulina, alteração dos perfi s lipídicos, osteoporose,
fraturas e perda da massa muscular (Saylor e Smith, 2009).
1.- FLUTAMIDA
A flutamida possui meia-vida de 5 h e, portanto, é administrada em uma dose de
250 mg, a cada 8 h. O seu principal metabólito, a hidroxifl utamida, é biologicamente
ativo; existem pelo menos cinco outros metabólitos menores (Luo e cols., 1997). Os
efeitos colaterais comuns consistem em diarreia, hipersensibilidade das mamas e dos
mamilos. Com menos frequência, ocorrem náuseas, vômitos e hepatotoxicidade
(Wysowski e Fourcroy, 1996; Wysowski e cols., 1993).
2.- BICALUTAMIDA
A bicalutamida possui meia-vida sérica de 5 a 6 dias e é administrada 1 vez/dia,
em uma dose de 50 mg/dia quando associada a um agonista do GnRH. Ambos os
enantiômeros da bicalutamida sofrem glicuronidação a metabólitos inativos, e tanto os
compostos originais quanto os metabólitos são eliminados na bile e na urina. A meia-vida
de eliminação da bicalutamida apresenta-se aumentada na insufi ciência hepática grave,
porém não é alterada na presença de insufi ciência renal. A bicalutamida é bem tolerada
em doses maio res, sendo rara a ocorrência de efeitos colaterais adicionais.. Embora a
facilidade de sua administração e sua toxicidade favorável sejam atraentes, as
preocupações quanto a uma sobrevida inferior dos pacientes limitaram o uso da
bicalutamida como monoterapia.
3.- NILUTAMIDA
A nilutamida é um antiandrogênio de segunda geração, com meia-vida de
eliminação de 45 h, possibilitando a sua administração em dose única de 150 mg/dia. Os
efeitos colaterais comuns consistem em náuseas leves, intolerância ao álcool (5-20%) e
diminuição da adaptação à escuridão (25-40%); raramente, ocorre pneumonite intersticial
(Decensi e cols., 1991; Pfi tzenmeyer e cols., 1992). É metabolizada a cinco produtos
conhecidos, todos eles excretados na urina. A nilutamida parece não oferecer nenhum
benefício em relação aos agentes de primeira geração e apresenta um perfi l de toxicidade
menos favorável (Dole e Holdsworth, 1997).
4.- ESTROGÊNIOS
Os níveis elevados de estrogênios podem reduzir a testosterona para níveis de
castração em 1 a 2 semanas através de retroalimentação negativa sobre o eixo hipotálamo-
hipófi se. O estrogênio também pode competir com os androgênios pelos receptores de
hormônios esteroides e, por conseguinte, pode exercer um efeito citotóxico sobre as
células do câncer de próstata (Landström e cols., 1994). Inúmeros compostos estrogênicos
foram testados no câncer de próstata. Os estrogênios estão associados a um aumento dos
infartos do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais e embolia pulmonar e aumento da
taxa de mortalidade, bem como impotência, perda da libido e letargia. Um benefício é a
capacidade dos estrogênios de evitar a perda óssea (Scherr e cols., 2002).
Em virtude de seus efeitos tóxicos cardiovasculares e mortalidade inaceitável em
qualquer nível de dose, o DES não está indicado para tratamento do câncer de próstata e
não está disponível na América do Norte para essa fi nalidade. Outros estrogênios
sintéticos exibem uma toxicidade cardiovascular associada semelhante à do DES, porém
sem a efi cácia deste último.
4.5.3. Inibidores da esteroidogênese.
No estado de castração, a sinalização dos RA, apesar dos baixos níveis de
esteroides, sustenta o crescimento continuado do câncer de próstata. A sinalização do RA
pode ocorrer devido aos androgênios produzidos a partir de fontes não gonadais,
mutações do gene RA ou amplifi cação do gene RA. As fontes não gonadais de
androgênios incluem as glândulas suprarrenais e as próprias células do câncer de próstata
(Figura 63-4). A androstenediona, produzida pelas glândulas suprarrenais, é convertida
em testosterona nos tecidos periféricos e nos tumores (Stanbrough e cols., 2006).
Por conseguinte, essa classe de agentes antifúngicos pode atuar através de vários
mecanismos distintos, podendo ser útil no tratamento de outros cânceres. A abiraterona é
um inibidor irreversível da atividade da 17α- -hidroxilase e CYP17 C-17,20-liase com
maior potência e seletividade em comparação com o cetoconazol. A abiraterona, através
de sua administração contínua, aumenta os níveis de ACTH, resultando em excesso de
mineralocorticoides. Por conseguinte, o acetato de abiraterona é administrado com
glicocorticoides diariamente, em doses baixas, como a prednisona. Estudos clínicos de
fase III em andamento avaliarão a efi cácia e o momento apropriado de administração da
terapia com abiraterona para pacientes com câncer de próstata.
5. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Abramson N, Costantino JP, Garber JE, et al. Effect of factor V Leiden and
prothrombin G20210.—>A mutations on thromboembolic risk in the National
Surgical Adjuvant Breast and
Bowel Project Breast Cancer Prevention trial. J Natl Cancer Inst, 2006,
98:904–910.
Attard G, Reid AHM, Yap TA, et al. Phase I clinical trial of a selective
inhibitor of CYP17, abiraterone acetate, confi rms that castration-resistant
prostate cancer commonly remains hormone driven. J Clin Oncol, 2008,
26:4563–4571.
Bailar JC III, Byar DP. Estrogen treatment for cancer of the prostate. Early
results with 3 doses of diethylstilbestrol and placebo. Cancer, 1970, 26:257–
261.