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Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Prevenção e Recuperação do Câncer
Objetivo
• Compreender a importância da nutrição para a prevenção de doenças de caráter oncoló-
gico e até mesmo nas condutas nutricionais a serem adotadas em pacientes já acometi-
dos por esse tipo de condição.
Caro Aluno(a)!
Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para
o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no
material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades
solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo,
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos
ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns
de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo,
além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico
espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Bons Estudos!
UNIDADE
Prevenção e Recuperação do Câncer
Contextualização
Somos submetidos às mais variadas condições, tal como viver em uma cidade
poluída com muita fumaça e partículas suspensas, que invariavelmente acabamos
inalando, ou até mesmo o hábito de fumar, não praticar exercícios físicos, submeter-
-se à radiação ou até mesmo a agentes químicos com potencial toxicológico; e estes
são alguns dos fatores capazes de influenciar no dano celular e favorecer o desenvol-
vimento de células tumorais.
Assim, imagine que você precisa orientar um paciente com histórico familiar de
parentes acometidos sob os mais diferentes tipos de câncer: será que você, nutricio-
nista, pode fazer alguma coisa para tentar prevenir o desenvolvimento dessa doença?
Bom estudo!
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Introdução
Segundo a American Cancer Society (2009), anualmente nos Estados Unidos, o
câncer é responsável por uma de cada quatro mortes; dessa forma, sugere-se que um
terço das mais de 560.000 mortes por câncer possa ser atribuído a comportamentos
alimentares e estilo de vida, tais como má alimentação, sedentarismo, uso de álcool,
sobrepeso e obesidade. Um adicional de quase 171.000 mortes por câncer é cau-
sado pelo uso do tabaco. Estima-se ainda que de 50 a 70% das mortes por câncer
sejam potencialmente evitáveis, se diminuídos os comportamentos de alto risco, com
aproximadamente 30% das mortes por câncer atribuídas à utilização de tabaco e,
pelo menos, um adicional de 30% à má nutrição.
Assim, pode-se listar seis alterações fundamentais na fisiologia celular para que
ocorra a transformação de uma célula normal em cancerígena:
• Autossuficiência em sinais de proliferação;
• Insensibilidade a sinais inibidores de crescimento;
• Evasão de apoptose;
• Potencial replicativo ilimitado;
• Angiogênese sustentada;
• Invasão tecidual e metástase.
É importante saber que cada uma dessas “capacidades”, possíveis de serem alcança-
das através de diferentes mecanismos moleculares, representaria a superação de distin-
tas estratégias, intrínsecas às células e aos tecidos contra o desenvolvimento tumoral, e
o acúmulo de tais alterações contribuiriam à crescente malignidade do câncer.
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Devemos compreender que o câncer não se resume a um conjunto de células ne-
oplásicas capazes de constituir um tecido tumoral, e sim numa somatória de fatores
que incluem modificações genéticas, antigênicas e até mesmo na participação de
outras células como as do sistema imune; logo, devemos incluir elementos do meio
em que as células neoplásicas crescem, o chamado microambiente tumoral, caracte-
rizado por dois eixos principais:
• Infiltrado inflamatório;
• Cinética tumoral.
Indivíduos com colite ulcerativa crônica têm chance 10 vezes maior de desenvolver carci-
noma colorretal, enquanto pacientes com hepatite crônica ou cirrose têm maior risco de
apresentar carcinoma hepatocelular.
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Carcinogênese
Sabemos que um agente viral, químico ou físico pode ser considerado carcinogê-
nico, ou seja, induzir ao câncer. O processo de carcinogênese é constituído em três
fases distintas:
• Iniciação: envolve a transformação da célula produzida pela interação de subs-
tâncias químicas, radiação ou vírus com o DNA celular. Essa transformação
ocorre rapidamente, mas as células resultantes podem ficar dormentes e serem
ativadas por um agente promotor;
• Promoção: as células iniciadas multiplicam-se e escapam dos mecanismos para
proteger o corpo de seu crescimento e disseminação. Um tecido novo e anor-
mal, chamado de neoplasma, sem função utilizável se estabelece;
• Progressão: as células tumorais se agregam em um neoplasma maligno pleno
ou um tumor.
Nutrição e Carcinogênese
Durante todas as fases da vida a nutrição é capaz de influenciar o processo car-
cinogênico em qualquer estágio, seja através do metabolismo carcinógeno, defesas
celulares (hospedeiro, diferenciação e crescimento do tumor).
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Tabela 1
Cor Fitoquímico Frutas e vegetais
Vermelha Licopeno Tomates e produtos de tomate, toranja rosa, melancia
Vermelha e roxa Antocianinas, polifenóis Berries, uvas, vinho tinto, ameixas
Laranja α e β -caroteno Cenouras, mangas e abóboras
Laranja e amarela β-criptoxantina, flavonoides Melão, pêssego, laranjas, mamão, nectarinas
Amarela e verde Luteína, zeaxantina Espinafre, abacate, melão, couve e nabo
Verde Sulforafanes, índoles Repolho, brócolis, couve-de-bruxelas, couve-flor
Branca e verde Sulfetos alíticos Alho-poró, cebola, alho, cebolinha
Fonte: Adaptada de MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2013
Álcool
O consumo de álcool está associado a maior propensão de desenvolver câncer
de boca, faringe, laringe, esôfago, pulmão, cólon, reto, fígado e mama (pré e pós-
-menopausa). A ingestão de 2 até 3 doses de bebidas alcoólicas diárias por longo
período pode aumentar de 2 até 3 vezes as chances de desenvolver algum desses
tipos de câncer.
Gordura
Há certa ligação entre alguns tipos de câncer e a quantidade de gordura da die-
ta, tudo isso em função de essa gordura ser oriunda de carne vermelha. É provável
que a ligação entre o consumo desse tipo de alimento e o câncer seja em função
da presença de aminas heterocíclicas ou hidrocarbonetos aromáticos policíclicos de
cozinha, além da formação de compostos N-nitroso cancerígenos do processamento
e da influência do ferro heme.
Significa que eu devo parar de comer carne? Não necessariamente! É possível ter uma dieta
saudável que inclua a carne vermelha; ademais, não podemos esquecer da importância do
ferro heme e de outros nutrientes que são proporcionados por esse tipo de alimento e que
contribuem para a saúde humana. Logo, é recomendado que se dê preferência para cortes
mais magros. Não se esqueça de considerar a quantidade e frequência de todos os alimentos.
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Mas é importante refletirmos sobre a questão do consumo de fibras e como podem
influenciar de maneira indireta na ingestão de outros componentes: a conta é simples,
se você come mais de um componente da dieta é natural que você coma menos do
outro. Pois bem, ao que concerne o assunto de consumo de fibras e câncer não se
sabe se os benefícios atribuídos ao maior consumo de fibras na dieta são características
diretas das fibras ou da redução no consumo de gorduras e carboidratos simples.
Sabemos também que alimentos como frutas e vegetais ricos em fibras são óti-
mas fontes de vitaminas, minerais e fitoquímicos, e que todos esses fatores podem
favorecer a manutenção à saúde e atuar contra o desenvolvimento de várias doenças,
inclusive o câncer.
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• Gordura corporal: seja o(a) mais magro(a) quanto possível dentro dos limites normais de
peso corporal;
• Atividade física: seja fisicamente ativo(a) como parte da vida cotidiana;
• Alimentos e bebidas que promovem ganho de peso: limite o consumo de alimentos
ricos em energia; evite bebidas açucaradas;
American Institute for • Alimentos vegetais: consuma mais alimentos de origem vegetal;
• Alimentos de origem animal: limite a ingestão de carnes vermelhas e evite carnes processadas;
Cancer Research • Bebidas alcoólicas: limite as bebidas alcoólicas;
• Preservação, processamento, preparação: limite o consumo de sal. Evite leguminosas
ou cereais (grãos) mofados;
• Suplementos alimentares: procure suprir as necessidades nutricionais por meio da dieta;
• Amamentação: mães devem amamentar; crianças devem ser amamentadas;
• Sobreviventes de câncer: sigam as mesmas recomendações.
Cálcio e Vitamina D
Embora o Brasil seja um país tropical com grande oferta de sol, sendo os raios Ul-
travioleta (UV) o principal estímulo para a síntese endógena de vitamina D, é possível
observar deficiências desse hormônio em todas as faixas etárias. Contudo, maiores
níveis séricos de 25 hidroxivitamina D estão associados a menores taxas de incidência
de cânceres de cólon, mama, ovário, rins, pâncreas, próstata, entre outros.
Café e Chá
O café contém vários compostos antioxidantes e fenólicos, com potencial e pro-
priedades anticancerígenas. No caso dos chás, essas bebidas também são capazes
de proporcionar substâncias com potencial antioxidante.
Tratando-se mais especificamente do chá verde, as folhas que foram cozidas,
prensadas, secas e não torradas possuem mais catequinas com atividade biológica,
antiangiogênica e antiproliferativas do que o chá preto, cujas folhas foram torradas.
Figura 4
Fonte: Getty Images
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Frutas e Vegetais
Em função dos inúmeros componentes existentes nesses alimentos e ainda a
grande variedade de frutas e vegetais, é difícil quantificar o benefício à saúde que o
consumo regular de frutas, verduras e legumes pode proporcionar, contudo, são reais!
Orgânicos e Câncer
Os alimentos orgânicos possuem uma quantidade consideravelmente menor de
resíduos de pesticidas quando comparados com alimentos convencionais.
Kefir
Muito se tem dito sobre os benefícios do consumo regular do kefir, um produto
oriundo da fermentação do leite em função da adição de grãos no leite pasteurizado.
Esses grãos contêm uma mistura de bactérias simbióticas multiplicáveis capazes de
beneficiar a saúde através de características antifúngicas, atuar contra bactérias com
potencial patogênico e, é claro, conferir vantagens para o trato digestivo e até mes-
mo no controle do colesterol.
Estudos in vitro têm demonstrado que o kefir foi capaz de reduzir a proliferação
de células de câncer de mama, o dano no material genético de células de adenocar-
cinoma, células gástricas, entre outras.
É claro que devemos refletir sobre estudos in vitro, considerando que esse tipo
de pesquisa utiliza células isoladas em um ambiente controlado, o que é bastante
diferente do organismo humano. Contudo, mesmo em modelos experimentais a
administração do kefir foi capaz de diminuir o crescimento de células tumorais, o
tamanho do tumor e até mesmo a citotoxicidade dessas células (RAFIC et al., 2012).
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Figura 5
Fonte: Getty Images
De maneira geral, podemos considerar que o consumo do kefir pode estar associa-
do à prevenção de células tumorais e desde que seja levada em consideração a aceita-
ção dos pacientes, podemos utilizar esse alimento no tratamento da doença quando já
estabelecida. Todos esses fatores costumam estar associados aos componentes bioati-
vos do alimento, que incluem esfingolipídios, peptídeos e polissacarídeos.
Quer aprender mais sobre como fazer e cuidar do kefir? Então assista ao vídeo “Kefir Manual
do Iniciante: Como cuidar do Kefir de Leite”, disponível em: https://youtu.be/QyJMYaJm_f8
Recomendações Nutricionais
para Pacientes com Câncer
Gasto Energético
Mas será que o câncer pode influenciar o gasto energético?
O gasto energético pode ser influenciado pelo câncer, podendo ocorrer hipo
ou hipermetabolismo dependendo do tipo de tumor; logo, é fundamental que você
acompanhe de perto o seu paciente.
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20% das mortes de pacientes com câncer ocorrem em função de causas secundárias
à desnutrição.
Terapia Nutricional
Conforme discorremos ao longo desta Unidade, a terapia nutricional tem por ob-
jetivo atuar de maneira preventiva, além de tratar o paciente oncológico, trabalhando
a resposta orgânica do corpo ao tratamento oncológico e até mesmo no controle dos
efeitos colaterais que tangenciam o tratamento terapêutico.
Necessidades Nutricionais
É claro que existem métodos rebuscados com ótima acurácia para a determinação
das necessidades nutricionais, como o caso da calorimetria (padrão ouro). Contudo,
devemos levar em consideração a viabilidade da utilização desse tipo de ferramenta.
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Tabela 2
Calorias Proteínas Gorduras
Pacientes com comprometimento
Obesos ou manutenção: 21-25 Kcal 20-30% do valor calórico total
hepático ou renal: 0,5-0,8 g/kg/d
Adultos sedentários: 25-30 Kcal Pacientes não estressados: 1-1,5 g/kg/d –
Para tentar promover ganho de massa
Pacientes hipermetabólicos ou com
corporal ou em pacientes anabólicos: –
perda aumentada 1,5-2 g/Kg/d
30-35 Kcal/Kg/d
Má absorção: 35 Kcal/dia ou mais – –
Fonte: Adaptada de Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral e Associação Brasileira de Nutrologia, 2010
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
SBOC – Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica
https://bit.ly/35s9jAD
SBC – Sociedade Brasileira de Cancerologia
https://bit.ly/31yVE9B
Vídeos
Eu Nutricionista
Veja e reveja temas relacionados à nutrição no canal do YouTube.
https://bit.ly/3dLXGbr
Leituras
Terapia Nutricional na Oncologia
https://bit.ly/31yf12O
Diretriz Braspen de Terapia Nutricional no Paciente com Câncer
https://bit.ly/37vuhRS
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Referências
AMERICAN CANCER SOCIETY. Cancer statistics, 2009. ACS Journal, 9 jul. 2009.
BAUDR, J. et al. Association of frequency of organic food consumption with cancer risk
findings from the Nutrinet-Santé prospective cohort study. Jama Internal Medicine, 2018
KERKAR, S.; RESTIFO, N. P. Cellular constituents of immune escape within the tumor
microenvironment. Cancer Res., 2012.
RAFIC, N. et al. Kefir and cancer: a systematic review of literatures. Archives of Iranian
Medicine, 2012.
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