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Tratamento

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Nutricional Aqui
Prevenção e Recuperação do Câncer

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Jefferson Comin

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Prevenção e Recuperação do Câncer

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:

Fonte: Getty Images


• Introdução;
• Carcinogênese;
• Nutrição e Carcinogênese;
• Recomendações Nutricionais para Pacientes com Câncer;
• Via de Administração da Terapia Nutricional.

Objetivo
• Compreender a importância da nutrição para a prevenção de doenças de caráter oncoló-
gico e até mesmo nas condutas nutricionais a serem adotadas em pacientes já acometi-
dos por esse tipo de condição.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para
o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no
material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades
solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo,
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos
ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como suges-


tões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpre-
tação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns
de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo,
além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico
espaço de troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Prevenção e Recuperação do Câncer

Contextualização
Somos submetidos às mais variadas condições, tal como viver em uma cidade
poluída com muita fumaça e partículas suspensas, que invariavelmente acabamos
inalando, ou até mesmo o hábito de fumar, não praticar exercícios físicos, submeter-
-se à radiação ou até mesmo a agentes químicos com potencial toxicológico; e estes
são alguns dos fatores capazes de influenciar no dano celular e favorecer o desenvol-
vimento de células tumorais.

A alimentação também é parte essencial para o desenvolvimento ou até mesmo


a prevenção de células tumorais e o câncer.

Assim, imagine que você precisa orientar um paciente com histórico familiar de
parentes acometidos sob os mais diferentes tipos de câncer: será que você, nutricio-
nista, pode fazer alguma coisa para tentar prevenir o desenvolvimento dessa doença?

É isto que discutiremos ao longo desta Unidade.

Bom estudo!

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Introdução
Segundo a American Cancer Society (2009), anualmente nos Estados Unidos, o
câncer é responsável por uma de cada quatro mortes; dessa forma, sugere-se que um
terço das mais de 560.000 mortes por câncer possa ser atribuído a comportamentos
alimentares e estilo de vida, tais como má alimentação, sedentarismo, uso de álcool,
sobrepeso e obesidade. Um adicional de quase 171.000 mortes por câncer é cau-
sado pelo uso do tabaco. Estima-se ainda que de 50 a 70% das mortes por câncer
sejam potencialmente evitáveis, se diminuídos os comportamentos de alto risco, com
aproximadamente 30% das mortes por câncer atribuídas à utilização de tabaco e,
pelo menos, um adicional de 30% à má nutrição.

A formação de células tumorais é dependente de uma sequência de mutações ou


alterações genéticas que podem ocorrer por uma variedade de fatores tanto intrínse-
cos como, por exemplo, mutações genéticas herdadas ou erros aleatórios na replica-
ção do ácido desoxirribonucleico (DNA); quanto extrínsecos, a partir da instabilidade
e do dano genético induzido por fatores ambientais como a exposição à radiação,
substâncias químicas ou infecção viral. Contudo, uma única mutação dificilmente
proporcionará a formação de um tumor, para que isso ocorra são necessárias cerca
de duas a seis (ou mais) modificações genéticas, que progressivamente interferirão
nos mecanismos responsáveis pela proliferação, diferenciação e morte celular.

Assim, pode-se listar seis alterações fundamentais na fisiologia celular para que
ocorra a transformação de uma célula normal em cancerígena:
• Autossuficiência em sinais de proliferação;
• Insensibilidade a sinais inibidores de crescimento;
• Evasão de apoptose;
• Potencial replicativo ilimitado;
• Angiogênese sustentada;
• Invasão tecidual e metástase.

É importante saber que cada uma dessas “capacidades”, possíveis de serem alcança-
das através de diferentes mecanismos moleculares, representaria a superação de distin-
tas estratégias, intrínsecas às células e aos tecidos contra o desenvolvimento tumoral, e
o acúmulo de tais alterações contribuiriam à crescente malignidade do câncer.

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UNIDADE
Prevenção e Recuperação do Câncer

Figura 1 – As seis alterações fundamentais que levam à malignidade


Fonte: Adaptado de HANAHAN; WEINBERG, p. 58

Curiosamente, sabemos que para o desenvolvimento de um tumor não basta a óbvia


participação da célula tumoral com as alterações citadas. Na verdade, o desenvolvimen-
to desse tecido é dependente da contribuição de células não cancerígenas em diversos
processos de progressão tumoral, tais como a angiogênese, metástase e proliferação
celular. Logo, devemos ver o tumor como um tecido complexo e em que células “nor-
mais” são cooptadas a funcionar de acordo com essa nova dinâmica tecidual, ditada
principalmente pelas células cancerígenas (ONUCHIC; CHAMMAS, 2010).

Figura 2 – Microambiente tumoral


Fonte: KERKAR; RESTIFO, 2012

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Devemos compreender que o câncer não se resume a um conjunto de células ne-
oplásicas capazes de constituir um tecido tumoral, e sim numa somatória de fatores
que incluem modificações genéticas, antigênicas e até mesmo na participação de
outras células como as do sistema imune; logo, devemos incluir elementos do meio
em que as células neoplásicas crescem, o chamado microambiente tumoral, caracte-
rizado por dois eixos principais:
• Infiltrado inflamatório;
• Cinética tumoral.

A respeito do infiltrado inflamatório há uma relevante importância na atuação de


células do sistema que adentram o tecido tumoral e interferem no desenvolvimento e
progressão do tumor como um todo. É sabido de uma importante associação entre
inflamação e câncer, mostrando que a inflamação crônica é um dos fatores epigené-
ticos que mais contribuem para o surgimento e a progressão do tumor.

Indivíduos com colite ulcerativa crônica têm chance 10 vezes maior de desenvolver carci-
noma colorretal, enquanto pacientes com hepatite crônica ou cirrose têm maior risco de
apresentar carcinoma hepatocelular.

Tratando-se da cinética tumoral, temos os mecanismos inerentes ao comporta-


mento e desenvolvimento das células que compõem o tecido. Através da citometria
de fluxo é possível analisar o conteúdo de cada célula do tecido, avaliando conteúdo
do DNA das células, e com a utilização de marcadores fluorescentes que se combi-
nam com o material genético (ONUCHIC; CHAMMAS, 2010).

Veja como funciona a citometria de fluxo no vídeo “O que é Citometria de Fluxo?”.


Disponível em: https://youtu.be/gJBL1uuTj2M

É importante saber que a carcinogênese é o processo de desenvolvimento do


câncer, sendo a Oncologia o estudo de todas as formas de câncer.

O desenvolvimento da célula tumoral/câncer é dependente de modificações ge-


néticas; dessa forma, emerge o termo oncogenes, que faz referência aos genes al-
terados que promovem o crescimento do tumor e alteram os mecanismos de morte
celular programada (apoptose). Em contrapartida, há os genes supressores tumorais
que se opõem aos oncogenes – estes genes são desativados em células cancerosas.

Podemos citar alguns exemplos de genes supressores do tumor, incluindo a Poli-


pose Adenomatosa Coli (APC); os tipos de câncer de mama BRCA1 e BRCA2; e o
supressor de tumores p53 (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2013).

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UNIDADE
Prevenção e Recuperação do Câncer

Carcinogênese
Sabemos que um agente viral, químico ou físico pode ser considerado carcinogê-
nico, ou seja, induzir ao câncer. O processo de carcinogênese é constituído em três
fases distintas:
• Iniciação: envolve a transformação da célula produzida pela interação de subs-
tâncias químicas, radiação ou vírus com o DNA celular. Essa transformação
ocorre rapidamente, mas as células resultantes podem ficar dormentes e serem
ativadas por um agente promotor;
• Promoção: as células iniciadas multiplicam-se e escapam dos mecanismos para
proteger o corpo de seu crescimento e disseminação. Um tecido novo e anor-
mal, chamado de neoplasma, sem função utilizável se estabelece;
• Progressão: as células tumorais se agregam em um neoplasma maligno pleno
ou um tumor.

Nutrição e Carcinogênese
Durante todas as fases da vida a nutrição é capaz de influenciar o processo car-
cinogênico em qualquer estágio, seja através do metabolismo carcinógeno, defesas
celulares (hospedeiro, diferenciação e crescimento do tumor).

Estudos observacionais, de coorte, transversais ou caso controle têm demonstra-


do como os hábitos alimentares e o perfil do consumo alimentar são capazes de in-
fluenciar o desenvolvimento de tipos específicos de câncer, ou obviamente evitá-los.
Contudo, é muito difícil estudar a relação entre a comida e o desenvolvimento da do-
ença, uma vez que um único alimento possui milhares de substâncias, algumas bem
estudadas e outras nem tanto (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2013).

Entre os carcinógenos mais frequentes há os pesticidas naturais, produzidos por


plantas para a sua própria proteção contra fungos, insetos ou animais predadores,
há também as micotoxinas, que são metabólitos secundários produzidos por bolor
nos alimentos.

Os alimentos são capazes de proporcionar inibidores de carcinógenos como, por


exemplo, os antioxidantes (vitaminas A, C, E, selênio, carotenoides, zinco) e fitoquí-
micos. Já os agentes dietéticos que ajudam no aumento da carcinogênese podem
equivaler à gordura na carne vermelha ou os hidrocarbonos aromáticos policíclicos
que surgem quando se grelha a carne em alta temperatura. Vejamos alguns fitoquí-
micos protetores de câncer que são encontrados em vegetais e frutas:

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Tabela 1
Cor Fitoquímico Frutas e vegetais
Vermelha Licopeno Tomates e produtos de tomate, toranja rosa, melancia
Vermelha e roxa Antocianinas, polifenóis Berries, uvas, vinho tinto, ameixas
Laranja α e β -caroteno Cenouras, mangas e abóboras
Laranja e amarela β-criptoxantina, flavonoides Melão, pêssego, laranjas, mamão, nectarinas
Amarela e verde Luteína, zeaxantina Espinafre, abacate, melão, couve e nabo
Verde Sulforafanes, índoles Repolho, brócolis, couve-de-bruxelas, couve-flor
Branca e verde Sulfetos alíticos Alho-poró, cebola, alho, cebolinha
Fonte: Adaptada de MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2013

Álcool
O consumo de álcool está associado a maior propensão de desenvolver câncer
de boca, faringe, laringe, esôfago, pulmão, cólon, reto, fígado e mama (pré e pós-
-menopausa). A ingestão de 2 até 3 doses de bebidas alcoólicas diárias por longo
período pode aumentar de 2 até 3 vezes as chances de desenvolver algum desses
tipos de câncer.

Leia a respeito do alcoolismo, disponível em: https://bit.ly/2TgS6Ez

Gordura
Há certa ligação entre alguns tipos de câncer e a quantidade de gordura da die-
ta, tudo isso em função de essa gordura ser oriunda de carne vermelha. É provável
que a ligação entre o consumo desse tipo de alimento e o câncer seja em função
da presença de aminas heterocíclicas ou hidrocarbonetos aromáticos policíclicos de
cozinha, além da formação de compostos N-nitroso cancerígenos do processamento
e da influência do ferro heme.

Além do mais, as dietas ricas em gordura tendem a ser elevadas em calorias e


contribuem para o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade.

Em contrapartida, o consumo de mais ácidos graxos na forma de ômega 3 (peixes,


óleo de linhaça, nozes, certas algas) em relação a ácidos graxos ômega 6 (óleo de milho,
cartamo e girassol) pode potencialmente reduzir o risco de câncer de cólon e próstata.

Significa que eu devo parar de comer carne? Não necessariamente! É possível ter uma dieta
saudável que inclua a carne vermelha; ademais, não podemos esquecer da importância do
ferro heme e de outros nutrientes que são proporcionados por esse tipo de alimento e que
contribuem para a saúde humana. Logo, é recomendado que se dê preferência para cortes
mais magros. Não se esqueça de considerar a quantidade e frequência de todos os alimentos.

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UNIDADE
Prevenção e Recuperação do Câncer

Ingestão de Energia e Peso Corporal


Nos últimos tempos muito se tem dito sobre a restrição de calorias, seja por métodos
mais conservadores ou até mesmo por estratégias como o popular jejum intermitente.
Sabe-se que modelos experimentais (camundongos, ratos etc.) quando submetidos a
uma restrição calórica manifestam inibição no crescimento e surgimento da maioria
dos tipos de câncer. Contudo, pouco se sabe sobre esses achados em humanos.

Em contrapartida, já é bem difundido e estabelecido que a obesidade e o sobrepe-


so por si são agravantes para o desenvolvimento desse tipo de doença. É importante
considerar que além da obesidade, idade, hiperglicemia e a incidência da síndrome
metabólica desempenham seus papéis nos níveis circulantes de fator do crescimento
semelhantes à insulina de tipo 1 (IGF-1), e que essa molécula é capaz de favorecer o
desenvolvimento de câncer através do estímulo ao crescimento de células tumorais
(MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2013).

Logo, é importante ressaltar a relevância do controle de massa corporal, e que


dados mais precisos sobre o estado nutricional do paciente devem ser coletados du-
rante a avaliação nutricional e antropométrica.

Veja uma representação esquemática envolvendo o crescimento celular em uma


célula saudável (letra a) e o papel do hormônio do crescimento (GH) e do IGF no
desenvolvimento do câncer:

Figura 3 – Relação entre o câncer, o hormônio do crescimento (GH)


e o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF)
Fonte: BOGUSZEWSKI; BOGUSZEWSKI, 2019

Fibras, Carboidratos e Índice Glicêmico


Sabemos dos diferentes benefícios do consumo regular de fibras à saúde humana,
fora a importância dos carboidratos e como esses dois fatores são capazes de influen-
ciar o índice glicêmico.

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Mas é importante refletirmos sobre a questão do consumo de fibras e como podem
influenciar de maneira indireta na ingestão de outros componentes: a conta é simples,
se você come mais de um componente da dieta é natural que você coma menos do
outro. Pois bem, ao que concerne o assunto de consumo de fibras e câncer não se
sabe se os benefícios atribuídos ao maior consumo de fibras na dieta são características
diretas das fibras ou da redução no consumo de gorduras e carboidratos simples.
Sabemos também que alimentos como frutas e vegetais ricos em fibras são óti-
mas fontes de vitaminas, minerais e fitoquímicos, e que todos esses fatores podem
favorecer a manutenção à saúde e atuar contra o desenvolvimento de várias doenças,
inclusive o câncer.

Alimentos Defumados, Grelhados e Preservados


Os nitratos podem ser rapidamente reduzidos a nitritos que interagem com substra-
tos dietéticos como as aminas e amidas; como resultado há compostos nitrosaminas
e nitrosamidas que são conhecidos como mutagênicos e carcinógenos. Os nitratos
são adicionados como conservantes em carnes processadas.
Sabemos que os N-nitrosos (CON) como as nitrosaminas e nitrosamidas podem
ser produzidos de forma endógena no estômago e cólon de pessoas que consomem
grandes quantidades de carne vermelha. Uma estratégia bastante interessante é en-
corajar o consumo de frutas e vegetais que proporcionem vitamina C e até mesmo
fitoquímicos capazes de retardar a conversão de nitritos em nitrosaminas (MAHAN;
ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2013).
E aquele churrasquinho? Tem problema? Bom, a carbonização ou cozinhar a
carne em altas temperaturas sobre uma chama aberta pode causar a formação de
Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HAP) e aminas heterocíclicas, ambos asso-
ciados à mutagenicidade e carcinogenicidade de células.

Ao fazer o churrasco, você já reparou na gordura que escorre da carne e goteja na


grelha? Assar ou fritar alimentos de forma normal não produz grandes quantidades
de HAP em comparação com a mesma quantidade produzida quando cozidos sobre
o fogo aberto. Outro ponto é que quanto maior o gotejamento de gordura sobre as
chamas, como observado em carnes vermelhas gordas, há maior formação de HAP.

Tarifa Matadora. Disponível em: https://bit.ly/3d0CK00

Nutrientes para a Prevenção do Câncer


Alguns produtos naturais como os polifenóis em frutas e legumes, além do chá ver-
de, curcumina a partir do curry, e resveratrol a partir de uvas e frutas vermelhas são
alternativas. Ácidos fenólicos, flavonoides, estilbenos e lignanas são polifenóis mais
abundantes, de modo que o potencial quimiopreventivo desses compostos deriva de
sua capacidade de modular alterações epigenéticas em células cancerosas. Veja neste
quadro as recomendações para a prevenção do câncer:

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Prevenção e Recuperação do Câncer

Quadro 1 – Recomendações para prevenção do câncer


• Adoção de estilo de vida fisicamente ativo. Os adultos devem participar de, pelo menos,
30 minutos de exercício físico de intensidade moderada a vigorosa, acima das atividades
habituais, em 5 ou mais dias da semana e de 45 a 60 minutos de atividade intencional, pelo
American Cancer Society menos 5 dias por semana;
• Alcance e mantenha a massa corporal saudável ao longo da vida;
• Coma uma variedade de alimentos saudáveis, coloridos, com ênfase em fontes vegetais;
• Limite o consumo de álcool.

• Gordura corporal: seja o(a) mais magro(a) quanto possível dentro dos limites normais de
peso corporal;
• Atividade física: seja fisicamente ativo(a) como parte da vida cotidiana;
• Alimentos e bebidas que promovem ganho de peso: limite o consumo de alimentos
ricos em energia; evite bebidas açucaradas;
American Institute for • Alimentos vegetais: consuma mais alimentos de origem vegetal;
• Alimentos de origem animal: limite a ingestão de carnes vermelhas e evite carnes processadas;
Cancer Research • Bebidas alcoólicas: limite as bebidas alcoólicas;
• Preservação, processamento, preparação: limite o consumo de sal. Evite leguminosas
ou cereais (grãos) mofados;
• Suplementos alimentares: procure suprir as necessidades nutricionais por meio da dieta;
• Amamentação: mães devem amamentar; crianças devem ser amamentadas;
• Sobreviventes de câncer: sigam as mesmas recomendações.

Fonte: Adaptado de MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2013

Cálcio e Vitamina D
Embora o Brasil seja um país tropical com grande oferta de sol, sendo os raios Ul-
travioleta (UV) o principal estímulo para a síntese endógena de vitamina D, é possível
observar deficiências desse hormônio em todas as faixas etárias. Contudo, maiores
níveis séricos de 25 hidroxivitamina D estão associados a menores taxas de incidência
de cânceres de cólon, mama, ovário, rins, pâncreas, próstata, entre outros.

Café e Chá
O café contém vários compostos antioxidantes e fenólicos, com potencial e pro-
priedades anticancerígenas. No caso dos chás, essas bebidas também são capazes
de proporcionar substâncias com potencial antioxidante.
Tratando-se mais especificamente do chá verde, as folhas que foram cozidas,
prensadas, secas e não torradas possuem mais catequinas com atividade biológica,
antiangiogênica e antiproliferativas do que o chá preto, cujas folhas foram torradas.

Figura 4
Fonte: Getty Images

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Frutas e Vegetais
Em função dos inúmeros componentes existentes nesses alimentos e ainda a
grande variedade de frutas e vegetais, é difícil quantificar o benefício à saúde que o
consumo regular de frutas, verduras e legumes pode proporcionar, contudo, são reais!

Sabe-se que o consumo de frutas pode proporcionar proteção contra o câncer de


boca, faringe, laringe, esôfago, colo do útero, pulmão e estômago. Já vegetais sem
amido como o espinafre, tomate e pimentão podem oferecer proteção contra câncer
de boca, faringe, laringe e esôfago; todos os legumes, mas em particular os verdes e
amarelos, provavelmente protegem contra o câncer de estômago.

Orgânicos e Câncer
Os alimentos orgânicos possuem uma quantidade consideravelmente menor de
resíduos de pesticidas quando comparados com alimentos convencionais.

Em uma pesquisa realizada em 2018, foram incluídos dados alimentares de par-


ticipantes de ambos os gêneros e diferentes faixas etárias e que fazem o consumo
regular de alimentos orgânicos. O estudo investigou a estimativa e a relação entre o
consumo de alimentos orgânicos e o risco de contrair a doença. Como conclusão,
uma maior frequência no consumo de alimentos orgânicos foi associada com um
risco reduzido de ter câncer.

Embora a pesquisa ressalte a necessidade da confirmação de seus respectivos


dados obtidos através de análises de regressão, o mesmo dá ênfase à importância de
estimular o consumo de alimentos orgânicos como estratégia preventiva ao câncer
(BAUDR et al., 2018).

Kefir
Muito se tem dito sobre os benefícios do consumo regular do kefir, um produto
oriundo da fermentação do leite em função da adição de grãos no leite pasteurizado.
Esses grãos contêm uma mistura de bactérias simbióticas multiplicáveis capazes de
beneficiar a saúde através de características antifúngicas, atuar contra bactérias com
potencial patogênico e, é claro, conferir vantagens para o trato digestivo e até mes-
mo no controle do colesterol.

Estudos in vitro têm demonstrado que o kefir foi capaz de reduzir a proliferação
de células de câncer de mama, o dano no material genético de células de adenocar-
cinoma, células gástricas, entre outras.

É claro que devemos refletir sobre estudos in vitro, considerando que esse tipo
de pesquisa utiliza células isoladas em um ambiente controlado, o que é bastante
diferente do organismo humano. Contudo, mesmo em modelos experimentais a
administração do kefir foi capaz de diminuir o crescimento de células tumorais, o
tamanho do tumor e até mesmo a citotoxicidade dessas células (RAFIC et al., 2012).

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Prevenção e Recuperação do Câncer

Figura 5
Fonte: Getty Images

De maneira geral, podemos considerar que o consumo do kefir pode estar associa-
do à prevenção de células tumorais e desde que seja levada em consideração a aceita-
ção dos pacientes, podemos utilizar esse alimento no tratamento da doença quando já
estabelecida. Todos esses fatores costumam estar associados aos componentes bioati-
vos do alimento, que incluem esfingolipídios, peptídeos e polissacarídeos.

Quer aprender mais sobre como fazer e cuidar do kefir? Então assista ao vídeo “Kefir Manual
do Iniciante: Como cuidar do Kefir de Leite”, disponível em: https://youtu.be/QyJMYaJm_f8

Recomendações Nutricionais
para Pacientes com Câncer
Gasto Energético
Mas será que o câncer pode influenciar o gasto energético?

O gasto energético pode ser influenciado pelo câncer, podendo ocorrer hipo
ou hipermetabolismo dependendo do tipo de tumor; logo, é fundamental que você
acompanhe de perto o seu paciente.

Um dos determinantes da perda de peso e caquexia observadas no câncer é o


aumento do gasto energético. Sabe-se que há correlação positiva entre a duração da
doença e o hipermetabolismo. Já no caso de pacientes acometidos por câncer no
aparelho digestivo é possível observar o hipometabolismo.

Tumores hepatocelulares parecem ser hipermetabólicos quando muito grandes, e


tumores sólidos também costumam estar associados ao aumento do gasto energético.

Já sobre o estado nutricional do paciente, é mais importante nos atentarmos a


esse fator, pois um estado nutricional comprometido (depauperado) pode ter impacto
negativo no tempo e na qualidade de vida do paciente. Sabe-se ainda que cerca de

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20% das mortes de pacientes com câncer ocorrem em função de causas secundárias
à desnutrição.

Terapia Nutricional
Conforme discorremos ao longo desta Unidade, a terapia nutricional tem por ob-
jetivo atuar de maneira preventiva, além de tratar o paciente oncológico, trabalhando
a resposta orgânica do corpo ao tratamento oncológico e até mesmo no controle dos
efeitos colaterais que tangenciam o tratamento terapêutico.

Mas o que é a terapia nutricional se não há avaliação nutricional? Na verdade,


é de extrema importância fazer a Avaliação Global Subjetiva (AGS-PPP) produzida
pelo paciente.

Conheça a avaliação global subjetiva e a sua validação em português no material,


disponível em: https://bit.ly/3nmsB2r

Infelizmente, devemos considerar que medidas antropométricas e bioquímicas co-


mumente utilizadas na avaliação nutricional podem sofrer influência de fatores não
nutricionais durante o câncer, logo, a sua utilização deve ser repensada e analisada
de maneira crítica.

As recomendações de início da terapia nutricional são feitas para as seguintes situações:


• Pacientes em risco nutricional grave, que serão submetidos a grandes operações
por câncer do trato gastrointestinal, têm indicação de TN;
• TN é indicada para pacientes recebendo tratamento oncológico ativo (quimio,
imuno e radioterapia), com inadequada ingestão oral. Dentre estes encontram-
-se aqueles com ingestão alimentar < 70% do gasto energético estimado por
período maior que 10 dias e aqueles que não poderão alimentar-se por períodos
maiores do que sete dias;
• TM pode ser indicada em pacientes sem qualquer terapia adjuvante que estejam
ingerindo < 70% das necessidades nutricionais e nos quais a deterioração do
estado nutricional esteja ligada à piora da qualidade de vida.

Necessidades Nutricionais
É claro que existem métodos rebuscados com ótima acurácia para a determinação
das necessidades nutricionais, como o caso da calorimetria (padrão ouro). Contudo,
devemos levar em consideração a viabilidade da utilização desse tipo de ferramenta.

Sabemos ainda que as necessidades nutricionais do paciente com câncer podem


variar, dependendo do tipo e da localização do tumor, do grau de estresse, da pre-
sença de má-absorção e da necessidade de ganho de peso ou anabolismo.

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UNIDADE
Prevenção e Recuperação do Câncer

Tabela 2
Calorias Proteínas Gorduras
Pacientes com comprometimento
Obesos ou manutenção: 21-25 Kcal 20-30% do valor calórico total
hepático ou renal: 0,5-0,8 g/kg/d
Adultos sedentários: 25-30 Kcal Pacientes não estressados: 1-1,5 g/kg/d –
Para tentar promover ganho de massa
Pacientes hipermetabólicos ou com
corporal ou em pacientes anabólicos: –
perda aumentada 1,5-2 g/Kg/d
30-35 Kcal/Kg/d
Má absorção: 35 Kcal/dia ou mais – –
Fonte: Adaptada de Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral e Associação Brasileira de Nutrologia, 2010

Via de Administração da Terapia Nutricional


No caso de pacientes com o trato gastrointestinal íntegro é recomendado utilizar
sempre a via enteral.

A terapia nutricional parenteral é indicada quando houver outras complicações


que impeçam a ingestão adequada de alimentos por 7 a 14 dias, podendo ser utili-
zada concomitantemente à nutrição enteral.

É interessante saber que a terapia nutricional enteral pode minimizar os efeitos


colaterais gastrointestinais e hematológicos em pacientes desnutridos ou com dificul-
dade de deglutição e/ou absorção de nutrientes.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
SBOC – Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica
https://bit.ly/35s9jAD
SBC – Sociedade Brasileira de Cancerologia
https://bit.ly/31yVE9B

Vídeos
Eu Nutricionista
Veja e reveja temas relacionados à nutrição no canal do YouTube.
https://bit.ly/3dLXGbr

Leituras
Terapia Nutricional na Oncologia
https://bit.ly/31yf12O
Diretriz Braspen de Terapia Nutricional no Paciente com Câncer
https://bit.ly/37vuhRS

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UNIDADE
Prevenção e Recuperação do Câncer

Referências
AMERICAN CANCER SOCIETY. Cancer statistics, 2009. ACS Journal, 9 jul. 2009.

BAUDR, J. et al. Association of frequency of organic food consumption with cancer risk
findings from the Nutrinet-Santé prospective cohort study. Jama Internal Medicine, 2018

BOGUSZEWSKI, C. L.; BOGUSZEWSKI, M. C. D. S. Growth hormone’s links to cancer.


Endocr. Rev., v. 40, n. 2, 2019.

KERKAR, S.; RESTIFO, N. P. Cellular constituents of immune escape within the tumor
microenvironment. Cancer Res., 2012.

MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S.; RAYMOND, J. L. Krause: alimentos, nutrição e


dietoterapia. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

ONUCHIC, A. C.; CHAMMAS, R. Câncer e o microambiente tumoral. Revista de


Medicina, São Paulo, p. 21-31, 19 mar. 2010.

RAFIC, N. et al. Kefir and cancer: a systematic review of literatures. Archives of Iranian
Medicine, 2012.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL; ASSOCIA-


ÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA. Terapia nutricional na oncologia. Projeto Di-
retrizes, 2010.

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