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Nutrigenética e Câncer

Globalmente, o câncer é uma das principais causas de morte (1 a cada 6) e um grande


desafio para o aumento da expectativa de vida, sendo considerado um importante
problema de saúde em todos os países.

Taxa padronizada por idade


a cada 100.000 habitantes.

Taxas de mortalidade padronizadas por idade estimadas em 2020, todos os tipos de câncer, ambos os sexos e todas
as idades. Fonte: Modificado de WHO, 2022.
São esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-
2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da
incidência.
Os cânceres são um grupo de doenças caracterizadas por crescimento anormal dos
tecidos, perda de diferenciação estrutural e funcional, além de apresentarem
propriedades invasivas e metastáticas.
O câncer é uma doença multifatorial

✓ Longevidade

✓ Urbanização

✓ Globalização

✓ Exposição aos fatores de risco ambientais


e ocupacionais

✓ Fatores reprodutivos e hormonais

✓ Histórico familiar de câncer


Embora uma variedade de possíveis alterações genéticas possa se combinar para causar
câncer, a extensão de capacidades anormais que as células cancerosas compartilham é
muito mais restrita.
O câncer é uma doença complexa causada por alterações genéticas e epigenéticas no
controle da divisão celular.
Fatores ambientais, incluindo dieta, também desempenham um papel importante no
desenvolvimento do câncer

A percepção de que componentes


individuais da dieta podem alterar o
estado epigenético dos genes e que
essas alterações epigenéticas e suas
concomitantes mudanças na
expressão gênica podem ser a via
molecular pela qual a dieta altera o
risco de doenças é uma noção mais
moderna, impulsionada em grande
parte por estudos em modelos
animais
Diferentemente das alterações genéticas, que são irreversíveis, padrões epigenéticos
aberrantes que resultam na carcinogênese são reversíveis

• Com isso, estabelece-se a possibilidade de desenvolvimento de novas terapias baseadas na


restauração de marcas e eventos epigenéticos característicos de células normais.

• Nutrientes e compostos bioativos de alimentos (CBA) têm destaque nesse cenário, por
serem capazes de modular eventos envolvidos com todas as etapas da carcinogênese.
Pesquisadores consideraram a alimentação um contribuinte tão importante quanto o
tabagismo para o desenvolvimento do câncer

Doll e Peto, estimaram que cerca de 35%


de todas as mortes causadas por câncer
poderiam ser tanto atribuídas quanto ate
mesmo prevenidas por modificações a
serem realizadas na alimentação.
World Cancer Research Foundation e o American Institute for Cancer Research
(WCR/AICR) publicaram, em 2007, o documento “Alimentos, nutrição, atividade física
e a prevenção do câncer: uma perspectiva global”

Evidências científicas foram traduzidas em orientações


simples

• Manter o peso dentro dos limites recomendados;


• Limitar o consumo de alimentos e bebidas que
promovem ganho de peso;
• Ser fisicamente ativo;
• Limitar o consumo de carne vermelha;
• Evitar a ingestão de carnes processadas;
• Consumir frutas e hortaliças;
• Limitar o consumo de álcool;
• Limitar a ingestão de sal.
Há evidências acumuladas sobre como dieta, nutrição e atividade física podem ter um
impacto nos processos biológicos que sustentam o desenvolvimento e a progressão do
câncer

• Nutrição inadequada promove um microambiente nutricional desordenado nos níveis celular e


molecular. Isso pode criar um ambiente propício ao acúmulo de danos no DNA e, portanto, ao
desenvolvimento do câncer.

• A obesidade está associada a mediadores inflamatórios e anormalidades metabólicas e


endócrinas, que promovem o crescimento celular e exercem efeitos antiapoptóticos, ou seja,
as células cancerígenas não se autodestroem mesmo após graves danos no DNA.

• Fatores nutricionais podem influenciar mecanismos envolvidos no reparo do DNA.

• Os compostos dietéticos podem influenciar as vias pelas quais os carcinógenos são


metabolizados.
Há evidências acumuladas sobre como dieta, nutrição e atividade física podem ter um
impacto nos processos biológicos que sustentam o desenvolvimento e a progressão do
câncer

• A dieta pode influenciar as mudanças epigenéticas nas células.

• O consumo de bebida alcoólica pode aumentar a produção de metabólitos que são


genotóxicos e carcinogênicos.

• A capacidade funcional reduzida, que ocorre com uma nutrição inadequada (e com o
envelhecimento), reduz a resistência a estresses endógenos ou exógenos.

• A atividade física tem sido fundamental para promover sistemas imunológicos e hormonais
saudáveis.
Gordura corporal e características do câncer
Gordura corporal e características do câncer

Manutenção da sinalização proliferativa -


Muitas das anormalidades metabólicas e
endócrinas associadas à obesidade, tais
como níveis elevados de insulina em jejum e
estradiol, bem como mediadores
inflamatórios associados à obesidade,
exercem atividades proliferativas.
Gordura corporal e características do câncer

Resistência à morte celular - Células


cancerígenas podem diminuir a apoptose e
sobreviver mesmo após danos graves ao
DNA. Muitas das anormalidades metabólicas
e endócrinas associadas à obesidade, tais
como níveis elevados de insulina em jejum e
estradiol, bem como mediadores
inflamatórios associados à obesidade,
exercem efeitos antiapoptóticos.
Gordura corporal e características do câncer

Ativação de invasão e metástase – A gordura


corporal é um importante determinante do
microambiente tecidual. A obesidade também
está relacionada com a reprogramação
metabólica em células cancerígenas, tornando-
as mais propensas a produzir metástases
Gordura corporal e características do câncer

Indução da angiogênese - As células


estromais adiposas podem influenciar a
vascularização tumoral com aumentos
associados na atividade proliferativa das
células tumorais.
Gordura corporal e características do câncer

Instabilidade genômica e mutação - A


obesidade visceral também está associada a
eventos de instabilidade genômica, tanto in
vitro quanto in vivo, no adenocarcinoma
esofágico
Gordura corporal e características do câncer

Inflamação promotora de tumor - a obesidade


é agora reconhecida como um estado
inflamatório crônico que predispõe ao câncer.
Interações complexas entre fatores celulares,
moleculares e metabólicos são a base da tríade
nutrição-inflamação-câncer. Por exemplo, a
obesidade está associada à secreção elevada de
várias citocinas pró-inflamatórias e à proteína
C-reativa
Estudos epidemiológicos demonstram que a relação entre a alimentação e o câncer é
ambígua

• A ingestão de carnes vermelhas, de gordura animal e de


frituras pode aumentar o risco do desenvolvimento de câncer.

• Por outro lado, a ingestão de frutas, hortaliças, peixes e seus


óleos é associada com a redução do risco do desenvolvimento
de doenças malignas.
Estudos epidemiológicos demonstram que a relação entre a alimentação e o câncer é
ambígua
Polimorfismos de nucleotídeo único (SNP) relacionados ao aumento do risco do
desenvolvimento de câncer e interações com alimentos ou nutrientes

• Enzimas de fase I (ativação)


• Enzimas de fase II (destoxificação)
Polimorfismos de nucleotídeo único (SNP) relacionados ao aumento do risco do
desenvolvimento de câncer e interações com alimentos ou nutrientes

• Enzimas de reparo do DNA


Polimorfismos de nucleotídeo único (SNP) relacionados ao aumento do risco do
desenvolvimento de câncer e interações com alimentos ou nutrientes
Polimorfismos de nucleotídeo único (SNP) relacionados ao aumento do risco do
desenvolvimento de câncer e interações com alimentos ou nutrientes
A pesquisa em nutrigenômica busca entender como os nutrientes presentes nos
alimentos podem modular a expressão dos genes e influenciar processos biológicos
relacionados ao câncer.

Processos determinantes da carcinogenese e alguns alimentos


que contem CBA capazes de modular tais eventos.
Cúrcuma

A cúrcuma contém um composto chamado curcumina, que tem propriedades


antioxidantes e anti-inflamatórias. Estudos mostraram que a curcumina pode influenciar a
expressão de genes relacionados ao crescimento de células cancerígenas, inibindo seu
desenvolvimento e promovendo a apoptose (morte celular programada).
Chá verde

O chá verde contém catequinas, que são compostos bioativos com propriedades
antioxidantes. Pesquisas indicam que as catequinas podem influenciar a expressão gênica
em vias relacionadas à regulação do crescimento celular, angiogênese (formação de novos
vasos sanguíneos) e apoptose, sugerindo um potencial papel protetor contra o câncer.
Brócolis e outros vegetais crucíferos

Esses vegetais contêm compostos, como o sulforafano e a indol-3-carbinol, que podem


influenciar a expressão de genes envolvidos na desintoxicação de substâncias
carcinogênicas, supressão do crescimento de células cancerígenas e indução da apoptose.
Uvas e vinho tinto

As uvas e o vinho tinto são fontes de compostos polifenólicos, incluindo o resveratrol.


Estudos sugerem que o resveratrol pode modular a expressão de genes relacionados à
proliferação celular, apoptose, angiogênese e inflamação, exercendo efeitos protetores
contra o câncer.
Ômega-3

Os ácidos graxos ômega-3, encontrados em peixes gordurosos, sementes de linhaça e


nozes, podem influenciar a expressão gênica associada à inflamação e à proliferação
celular. Esses ácidos graxos têm sido associados a um menor risco de certos tipos de
câncer, como câncer de mama, cólon e próstata.
Entre os padrões alimentares mais estudados em nutrigenômica, está a dieta
mediterrânea.

A dieta mediterrânea é um padrão alimentar com base


em alto consumo de cereais integrais, frutas e hortaliças
in natura, nozes, castanhas e azeite de oliva extravirgem;
consumo moderado de peixes, aves e vinho tinto; e
baixa ingestão de produtos lácteos, carnes vermelhas,
doces e ácidos graxos saturados.
Nos últimos anos, pesquisas têm evidenciado a importância da microbiota na saúde
humana, incluindo seu papel no câncer.

• Estudos têm demonstrado que o


desequilíbrio da microbiota, conhecido
como disbiose, pode contribuir para o
desenvolvimento e progressão de
certos tipos de câncer.

• Portanto, entender a relação entre


microbiota e câncer é uma área de
pesquisa promissora que pode
fornecer novos insights sobre a
prevenção, diagnóstico e tratamento
da doença.
Nutrigenômica e câncer

A genômica nutricional auxilia a compreender como as interações entre genes e


nutrientes podem modular as alterações genéticas e epigenéticas que promovem o
aumento da expressão de genes supressores de tumor e de genes relacionados ao
reparo de danos ao DNA, bem como a diminuição da expressão de oncogenes.

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