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Disciplina: Microbiologia Clínica Veterinária

Primeiro período – Curso Medicina


Veterinária

Profa. Dra. Ana Beatriz Rossetti Santos


2023
Aula 1 - Biossegurança no Laboratório

Introdução ao laboratório de Microbiologia

Profa. Dra. Ana Beatriz Rossetti Santos


2023
Uso dos EPIs: orientações Uso dos EPIs: orientações
para Colocação para Retirada

Jaleco de manga comprida.... Fechado!!


Você sabia que a higienização das mãos pode
salvar vidas?
Médico húngaro Ignaz Phillip Semmelweis - descobriu relação entre febre puerperal
(doença devastadora que afetava mulheres logo após o parto – causada por
Streptococcus) e a realização de autópsias por médicos que cuidavam destas
mulheres = médicos carregavam as bactérias dos cadáveres para as mulheres (causa
inicial da infecção é a entrada de germes por meio de mãos sujas, instrumentos
cirúrgicos, contato com roupas sujas).

A enfermidade praticamente só ocorria nos hospitais – partos realizados em casa, por parteiras, raramente eram
seguidos pela febre puerperal.

OBS: Ignaz morreu de infecção após cortar o dedo, aos 47 anos, em 1865.
EXEMPLO DE POP (Procedimento Operacional Padrão)
IMPORTANTE = Acondicionar resíduos laboratoriais
contaminados em recipientes adequados

Exemplo: perfurocortantes (com Exemplos :


risco biológico )  Lixo branco - resíduos hospitalares/laboratoriais
 Lixo preto - resíduos comuns
Classificação dos principais tipos de riscos
* Vestimenta inadequada –
o correto é usar calça
comprida.

** Sapatos inadequados –
o correto é usar sapatos
fechados.

*
**
Produtos químicos perigosos - devem conter etiqueta facilmente compreensível,
contendo informações essenciais sobre a sua classificação, os perigos que oferecem e
medidas de segurança

Exemplo de Rótulo conforme ABNT NBR 14725 (norma que


regulariza a necessidade de informações sobre questões de
segurança, saúde e meio ambiente, relacionadas ao produto químico)
Colocadas à disposição dos usuários e de seus representantes no ambiente de
trabalho em que os produtos são manipulados e/ou armazenados.

As FISPQs são de uso obrigatório em diversos produtos químicos. Finalidade:


informação sobre procedimentos de segurança, riscos à integridade física,
saúde, acidentes, formas de armazenar, transportar, combate ou neutralização a
intoxicação, ao fogo ou ações de emergência.
Exemplo de Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico (FISPQs)
Equipamentos de proteção coletiva – Protegem o meio
ambiente, a saúde e a integridade de ocupantes de áreas
expostas a perigos
Capela exaustão contra vapores/gases:
 Janela vidro - possível visualizar o
experimento
 Motor de exaustão blindado - sucção
dos gases resultantes das reações
químicas – Impede a inalação de gases
perigosos.
 Manter área de trabalho organizada – o
acúmulo de vidraria, reagentes e
equipamentos prejudica fluxo de ar e
facilita ocorrência de acidentes.
Cabines de
segurança biológica/
Capelas fluxo laminar
Cabine segurança biológica tipo I

Fornece proteção pessoal e


ambiental, mas não a proteção de
produtos, pois o ar ambiente não
esterilizado é aspirado sobre a
superfície de trabalho. As cabines
Classe I são adequadas para trabalhar
com material biológico do Grupo de
Risco 1 (RG1), Grupo de Risco 2
(RG2) e Grupo de Risco 3 (RG3).

Filtro HEPA – High Efficiency


Particulate Arrestance - Filtros de ar
com alta eficiência na separação de
partículas

O ar ambiente é aspirado pela abertura frontal - os braços do operador alcançam a superfície de trabalho
dentro do gabinete enquanto ele observa a superfície de trabalho através de uma janela de vidro.
O fluxo direcional de ar empurra as partículas de aerossol que podem ser geradas na superfície de
trabalho para longe do funcionário do laboratório e é então descarregada da cabine através de um filtro
HEPA.
O filtro HEPA retém 99,9% das partículas de ≥ 0,3 µm de diâmetro (retenção efetiva de todos os agentes
infecciosos conhecidos. Apenas o ar de exaustão livre de micróbios seja descarregado do gabinete e/ou
recirculado na superfície de trabalho.
Cabine segurança biológica tipo I
Ar aspirado
Ar contaminado
Cabine segurança biológica tipo II

Cabine de Segurança Biológica Classe


II - fornece proteção ao pessoal, ao
produto e ao meio ambiente.
Encontrada em laboratórios clínicos e
de pesquisa que trabalham com
agentes infecciosos nos Grupos de
Risco 2, 3 e 4 (se forem usados trajes
de pressão positiva) ou com cultura de
tecidos.
Existem quatro tipos (A1, A2, B1 e B2)
- As principais diferenças entre os tipos
são a proporção de ar expelido da
cabine para o ar que é recirculado
dentro da cabine e o tipo de sistema de
exaustão presente.

Frente aberta com fluxo de ar interno para proteção pessoal, fluxo de ar laminar
filtrado HEPA para baixo sobre a superfície de trabalho para proteção do produto e
ar exausto filtrado HEPA para proteção ambiental. O ar ambiente e o ar recirculado
são filtrados por HEPA antes de fluir para baixo sobre a área de trabalho.
Cabine segurança biológica tipo II
Ar aspirado
Ar contaminado
Cabine segurança biológica tipo III

A cabine de segurança biológica


Classe III fornece o mais alto
nível de proteção pessoal e é
usado para agentes do Grupo
de Risco 4. É adequado para
trabalhar em laboratórios de
Nível de Biossegurança 3 e 4.

Este tipo de gabinete é totalmente fechado e testado sob pressão para garantir que nenhuma
partícula possa vazar para o ambiente. O ar fornecido é filtrado por HEPA e o ar de exaustão é
descarregado para a atmosfera através de dois filtros HEPA. O operador acessa a superfície de
trabalho por meio de luvas de borracha resistentes que fazem parte do gabinete. Vários porta-luvas
podem ser unidos para estender a superfície de trabalho.
Cabine segurança biológica tipo III
Cabine segurança biológica tipo III
Tipos de cabine de Segurança Biológica
Autoclave - equipamento utilizado para esterilização – promove a morte de microrganismos
usando vapor saturado sob pressão – o calor úmido facilita a eliminação dos microrganismos.

Altas temperaturas x pressão =


um dos métodos mais eficazes
de esterilização
Autoclave horizontal
Autoclave vertical
Teoria da Abiogênese ( Teoria da geração
espontânea)
 Determinava que a vida poderia surgir a partir de
materiais sem vida, inanimados.
Acreditava-se que:
 Sapos nasciam de pântanos.
 Roedores nasciam de grãos mofados
 Larvas surgiam da carne estragada
espontaneamente
Delineamento experimental que desestabilizava a teoria da
abiogênese = Jarras cobertas com uma fina rede permitindo
entrada do ar fresco = Larvas surgiam somente nas carnes
das jarras abertas (porque as moscas entravam e
depositavam seus ovos).
Cientista italiano Francesco Redi.
Teoria da Biogênese = Teoria germinal das doenças =
Germes podem invadir organismos e causar doenças
(contraria a ideia de que a matéria bruta poderia originar
um novo ser)

Louis Pasteur
Químico francês Louis Pasteur (1860) – Adicionou caldo nutritivo a
um balão de vidro com gargalo alongado – aqueceu o gargalo
deixando-o com “formato de pescoço de cisne” – prosseguiu com a
fervura do caldo a uma temperatura até que o meio se tornasse
estéril (ausência de microrganismo) – Entretanto, o caldo
continuou em contato com o ar e o balão ficou em repouso por
muito tempo.
O que aconteceu depois?
Depois da fervura o líquido
permaneceu estéril, mesmo tendo
ficado em repouso e em contato
com o ar. Por que permaneceu
estéril?

Resposta: Empecilho físico – sinuosidade do gargalo – ar


fresco passava pelo tubo, mas os microrganismos ficavam
retidos nas curvas e não chegavam ao meio líquido (meio
não se tornava contaminado).
Pasteur quebrou o gargalo de alguns frascos após verificar que não
havia ocorrido contaminação - ao quebrar o gargalo expôs o caldo
inerte aos microrganismos suspensos no ar – ocorreu proliferação de
germes – os meios se tornaram contaminados
Robert Koch
 Médico alemão que se dedicou ao
estudo das bactérias
 Identificou Mycobacterium tuberculosis
- derrubou ideia de que a doença era
herdada geneticamente.
(microrganismos ficaram conhecidos
como bacilos de Koch).
 Produziu culturas puras de bactérias
(um único tipo de bactéria por cultura)
 Semeaduras feitas em fatias de
batatas e gelatina solidificada (gelatina
derretia a 37oC).
 Semeaduras passaram a ser feitas em
ágar (polissacarídeo extraído de algas
marinhas) – avanço para o cultivo de
microrganismos e isolamento para
diagnósticos.
Postulados de Koch
 Provar que: determinado microrganismo seria
responsável por determinada doença.

Conceito: “Um microrganismo, uma doença”

 Trabalhou com bactéria Bacillus anthracis –


doença altamente letal e contagiosa
principalmente em animais ruminantes
herbívoros que pastam em áreas com solo
contaminado.

 Coletou material de animal com a doença e


isolou a bactéria em cultura pura no laboratório
- inoculou a bactéria em animal sadio e
observou a mesma doença – coletou material
deste animal inoculado e recuperou a mesma
bactéria.
Postulados de Koch
Risco biológico é a probabilidade da
exposição ocupacional a agentes biológicos.

Consideram-se Agentes Biológicos:


 microrganismos geneticamente modificados ou não;
• culturas de células;
• parasitas;
• toxinas;
• príons.
Riscos Biológicos

Classe de risco 1: baixo risco individual para o trabalhador e para a


coletividade, com baixa probabilidade de causar doença ao ser humano. Ex.:
Lactobacillus spp, Lactococcus spp, Saccharomyces, Bacillus subtilis, Bacillus
polimyxa, cepas não patogênicas de E. coli.

Classe de risco 2: risco individual moderado para o trabalhador e com baixa


probabilidade de disseminação para a coletividade. Podem causar doenças
ao ser humano, para as quais existem meios eficazes de profilaxia ou
tratamento. Ex: Escherichia coli, Salmonella spp, Streptococcus spp,
Staphylococcus aureus,Treponema pallidum, Vibrio cholerae, Trypanosoma
cruzi, Candida albicans, Schistosoma mansoni, HTLV*, HIV*, Hepatites virais,
vírus da Dengue, Zika, vírus da Rubéola, Sarampo, Caxumba,
Citomegalovírus, Herpes (HSV, HZV), Rotavírus, dentre outros.
* Podem ser de Classe 2 ou 3 a depender do procedimento laboratorial.
Riscos Biológicos

Classe de risco 3: risco individual elevado para o trabalhador e com


probabilidade de disseminação para a coletividade. Podem causar doenças e
infecções graves ao ser humano, para as quais nem sempre existem meios
eficazes de profilaxia ou tratamento. Ex: Mycobacterium tuberculosis*, Bacillus
anthracis, Coccidioides immitis, Clostridium botulinum, Escherichia coli
enterohemorrágica, Shigella dysenteriae, Hantavírus, vírus da Febre Amarela,
vírus da Chikungunya, Influenza A H5N1 e H1N1, dentre outros.
*NOTA: Podem mudar de classe a depender da atividade laboratorial realizada.
Os laboratórios de Tuberculose possuem uma classificação de risco particular

Classe de risco 4: risco individual elevado para o trabalhador e com


probabilidade elevada de disseminação para a coletividade. Apresenta grande
poder de transmissibilidade de um indivíduo a outro. Podem causar doenças
graves ao ser humano, para as quais não existem meios eficazes de profilaxia
ou tratamento. Ex: Sabiá (vírus de alta letalidade que causa a febre hemorrágica
brasileira), Marburg (vírus causador de febre hemorrágica de Marburg –
relacionado ao ebolaealtamente infeccioso), Ebola, Varíola (major) Herpesvírus
Simiae.
NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA

 A avaliação do grau de risco, baseada na classificação


dos agentes etiológicos, insere cada laboratório em um
nível de Biossegurança específico.

 As classes de risco biológico dos microrganismos


definem o grau de proteção ao pessoal do laboratório,
ao meio ambiente e à comunidade, e definem os Níveis
de Biossegurança ou de contenção laboratorial,
denominados NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4, em ordem
crescente de risco. Tais níveis consistem em
combinações de práticas e técnicas laboratoriais,
equipamentos de segurança e instalações do
laboratório, permitindo ao profissional exercer suas
atividades com segurança.
Assepsia: Procedimento ou conjunto de procedimentos que visam impedir a
penetração de microrganismos em um local que não os contenha.

Antissepsia: Inibição do crescimento em tecidos vivos, através do uso de


substâncias bacteriostáticas ou bactericidas.
Antissepsia
1 - válvula de ar fechada; 2 - válvula de ar quase fechada; 3 - válvula de ar semi-
aberta; 4 - válvula de ar totalmente aberta
Exercício para fixação de conteúdo
Resposta – alternativa 4
Exercício para fixação de conteúdo
Resposta – Lactobacillus sp
Exercício para fixação de conteúdo
Classe de risco 1 (baixo risco individual e para a comunidade): inclui os agentes biológicos
conhecidos por não causarem doenças no homem ou nos animais adultos sadios.
Classe de risco 2 (moderado risco individual e limitado risco para a comunidade): inclui os
agentes biológicos que provocam infecções no homem ou nos animais, cujo potencial de
propagação na comunidade e de disseminação no meio ambiente é limitado, e para os quais
existem medidas terapêuticas e profiláticas eficazes.
Classe de risco 3 (alto risco individual e moderado risco para a comunidade): inclui os agentes
biológicos que possuem capacidade de transmissão por via respiratória e que causam
patologias humanas ou animais, potencialmente letais, para as quais existem, usualmente,
medidas de tratamento e/ou de prevenção. Representam risco se disseminados na
comunidade e no meio ambiente, podendo se propagar de pessoa a pessoa.
Classe de risco 4 (alto risco individual e para a comunidade): inclui os agentes biológicos com
grande poder de transmissibilidade por via respiratória ou de transmissão desconhecida. Até o
momento, não há medida profilática ou terapêutica eficaz contra infecções ocasionadas por
esses. Causam doenças humanas e animais de alta gravidade, com alta capacidade de
disseminação na comunidade e no meio ambiente.
Resposta – Classe 3

A tuberculose é uma doença que tem tratamento,


porém, se não tratada adequadamente, pode ser fatal.
Exercício para fixação de conteúdo
Verificar qual alternativa abaixo está correta e justificar as incorretas
Resposta:

e
Exercício para fixação de conteúdo

(IBFC/2015) A classificação dos agentes biológicos, na Norma


Regulamentadora (NR) 32, distribui os agentes em classes de risco,
considerando o risco que representam para a saúde do trabalhador, sua
capacidade de propagação para a coletividade e a existência ou não de
profilaxia e tratamento. A classe de risco 4 tem como características:

a. Risco individual baixo e Risco de propagação à coletividade baixo.


b. Risco individual elevado e Risco de propagação à coletividade elevado.
c. Risco individual elevado e Risco de propagação à coletividade baixo.
d. Risco individual moderado e Risco de propagação à coletividade
moderado.
Resposta
Letra b.
Classe de risco 4: risco individual elevado para o trabalhador e com
probabilidade elevada de disseminação para a coletividade. Apresenta
grande poder de transmissibilidade de um indivíduo a outro. Podem
causar doenças graves ao ser humano, para as quais não existem
meios eficazes de profilaxia ou tratamento.

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