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COPIA E TRADUCÇÃO INTERDICTAS

ANNO 4.% S. WIGUEL, JUNHO DE 1921 I;


U/ 2
' 1
íi

um EDucRDOR miCMneLEnsE

O Padre iúà& José #Amaral


Fstá ainda por escrever a historia da instrucção nos Açores, desde os primi-
tivos tempos da colonização até aos dias, que agora correm iliuminados pelos mo-
dernos processos pedagógicos. Emqiianto se ncão fizer esse livro, destinado a pro-
jectar intensa claridade na vida de povos insulados no meio do Atlântico, bom
será evocar a memoria de alguns dos mais illustres obreiros, que, com o seu tra-
balho tecido ora de dores ora de contentamentos, arrotearam as intelligencias de
successivas gerações, cimentando assim os destinos da sociedade açoriana.
Esses beneméritos alveneis, muitos dos quais passaram a vida obscuramente,
sendo hoje completamente ignorados ou esquecidos, ergueram o bello edifício da
civilizaç<ão açorica e por isso teem incontestável direito á nossa gratidão e á nossa
saudade. Abençoada seja, pois, a sua memoria; celebrados
sejam os seus nomes pelos séculos a dentro. ">n
E' com effeito luminosa a historia dos educadores. \ ^^\
N'ella se vê a lucta que travaram, a energia moral que de-
senvolveram, o esforço e dedicação que empregaram para
realisar o seu objectivo.
hoje commemoramos um educador michaelense, o Pa- / / _>. 1

dre João José d'Amaral, que foi dos mais 'ervorosos após- •' '^j'

tolos da instrucção nos Açores. Saudemos reconhecidos es- w


te venerando -vulto; façamos respeitosos a continência a es-
'

te velho legionário das pugnas do pensamento. .. ',, ^>


-'
*

O Padre João José d'Amaral nasceu em Agua de Pau, n o ^ i ' i •


^^ ' aar^ Joaojose
no primeiro de outubro de 1872, d'uma familia de modestos
lavradores.
d Amaral
I)edicando-se ao estudo, tez n'este taes progressos que aos dezoito annos era
já professor de Lógica em Ponta Delgada, não sem opposição dos frades francisca-
nos, a cargo de quem estivera até então a regência d'esta aula. Em 1813 ensinava
Philosophia Racional. ^

Por carta Regia de 18 de junho de 1832 foi nomeado professor de Philoso-


phia e Rhetorica, cadeira que acabava de ser creada por Decreto de 6 do mesmo
mez e anno.
1002 REVISTA MICHAELENSE

Por Alvará da Prefeitura da Província Oriental dos Açores de 18 d'agosto de


1835 foi nomeado membro da com missão incumbida de elaborar o plano para a
fundação da Bibliotheca Publica de Ponta Delgada, que foi soleninemente aberta
em 11 de janeiro de 1846, pronunciando o Padre Amaral a Oração Inauglifai
que, quatro dias depois, appareccu impressa no numero 47 do jornal intitulado
O Cartista dos Açores.
Vo\ um dos fundadores da Sociedade Promotora <P Agricultura Michaelense,
a cuja installação assistiu cm 11 de janeiro de W\'S, c publicou vários artigos
sobre assumptos agrícolas, repartindo assim os Ir.hores da sua intclligencia pela
erra, que se desentranha em fructos, e pela mocidade estudiosa, de cuja alma
tbrotam os futuros progressos, os rutiles ideaes.
Ha grandes e profundas simillianças entre o agricultor e o professor. "O
mestre, diz um illustre escriptor portuguez, é um lavrador do pensamento que
ora lavra terrenos abundantes, ora charnecas maninhas; lança á terra a semente
que germina convertendo-se em searas c florestas, ou ficando estéril em gan-
daras más».
Assim como o agricultor não se cinge a espalhar o grão, pois que também
trata de corrigir os terrenos e de arrancar as ervas damninhas, que n'elles cres-
cem espontaneamente, assim o professor não se limita a instruir os alumnos; edu-
ca-os, isto c, corrige-lhes o caracter, procurando annullarem suas almas todas as
inclinações ruins.
Em virtude do Alvará de 20 de maio de 1S45 fez o Padre João José d'Ama-
ral parte da Com missão encarregada de estudar o procc. so de extinguir o in-
secto destruidor das larangeiras, em cimformidade com as prescripções da Carta
de Lei de 13 de fevereiro d'aquclle anno, sendo exonerado d'este encargo em
4 de julho de 184f), bem como os seus collegas, por Alvará, em que o Gover-
nador Civil declara que "prestaram valiosos .^erviçoS".
Foi jubilado por Carla Regia de 5 de fevereiro de 1850, na qual se diz que
regeu a Cadeira de Philosophia e Rhetorica e que "O seu serviço foi sempre bom,
effectivo e com aproveitamento dos discipulos".
lendo Castilho sabido n'aquoIlc anno para í.isbóa, foi o Padre João Joséd'A-
maral nomeado, por [decreto de 2 de Setembro de 1851, Commissario dos E:stu-
dos do Districto de Ponta Delgada, cargo c]ue fora antes desempenhado pelo im-
mortal poeta.
N'esta qualidade teve que organisar o Lyceu e para isso reuniu no dia 23 de
fevereiro de 1852 os professores, t|ue deviam compor o corpo docente, distribu-
indo-se as cadeiras e sendo eleito. Reitor o Padre Amaral, sob cuja diiecção, tão
curta como esclarecida, prosperou o novo estabelecimento, cujas aulas funcciona-
vam, no Convento da Graça, onde os Agostinhos, antes da extincção das ordens
religiosas, professavam Artes e Tlieologia.
O Padre João José d'Amaral falleceii na fajã de Baixo cm 1<) de julho de
1853. Os estudantes mandaram celebrar solemnes exeiínias, em que pregou o Pa-
dre António Joaquim 1'erreira, cujo discurso foi depois publicado em folheto. Mais
tarde, por subscripção publica, foi-lhe erigido um mausoléo, em que foram gra-
vadas, entre outras, as seguintes palavras:
A' memoria do justo. Ao poeta, sacerdote typo e IViilosopho levanta cm tcste-
munlio d' eterna saudade e veneração a Ilha de San A1i<juel.
A gratidão ó uma bella e odorífera flor, que, desabrochanifo n^s corações ge-
nerosos e bem formados, perfuma com deliciosas fragrâncias os favores recebidos.
Antonino, imperador romano, ergueu estatuas de oiro aos mestres, que o linltam
ensinado. Bem «abia o piedoso César que o ensino é uma riqueza mais preciosa
. do que todos os thesouros, por que é um alvião poderoso, que revolve o terreno
das intelligencias, fazendo d'elle brotar os mais brilhantes ideaes e fecundando as
instituições, que dignificam c opulentam o futuro com as conquistas do Progresso
e da Civilização. A instrucção é, com cffeito, a abundância dos pobres, a força
.

fteVISTA MICHAELENSE 1003

dos o justo oráullio dos ricos, o factor poderoso do desenvolvimento mo-


fracos,
ral e material dos povos.
Não é unn mentira a inscripção que a saudade e a gratidão dos michaeien-
ses insculpiram no mármore tumular do grande educador. O Padre João José
d'Amaral, que pode e deve ser apresentado como exemplo das mais acrisoladas
virtudes civicas e religiosas, cultivou, na verdade, a Piíilosopliia c as Musas. Foi
um estudioso e um erudito. Sabia o france/., o inglez, o latim, o grego; dedicava-se
com amor ás questões históricas, agrícolas e administrativas.
l'or tudo isto, pelos seus formosos talentos e superior cultura intellectual, e
ainda pela nova orientação que deu aos estudos públicos, não podia o professor
micliaeiense deixar de exercer grande e salutar influencia na geração do seu tem-
po. Altamente considerado, foi um dos que mais lutou pelas prosperidades da sua
Pátria, a quem extremamente amou e dedicadamente serviu. Modesto, despido de
ambições pessoaes, trabalhou ininterruptamente para que o torrão, que lhe servia
de. berço, progreiliss'^ material e espiritualmente. Õ engrandecimento da leiva, on-
de foi nado e cieado, foi o sonho, que iriou toda a sua vida, convertendo-se, após
a sua morte, na gloria coruscante, que liie illumina o tumulo e consagra o nome.
Sem receio de exaggero, [iode dizer-se que no período dos últimos vinte an-
nos da sua existência não houve commissão incumbida de serviço importante, en-
tre cujos membros se
não o Padre João
visse
José d'Amaral, como um
dos mais activos e intelli-
gentes, sendo assim enor-
me a sua acção social.
a
s Não passou obscuro
í nem ocioso no mundo,
não. Encheu com o seu
trabalho, com a sua fe-
cunda operosidade, o âm-
bitoda sua ilha e é por
issoque ainda hoje oc-
cupa tão largo espaço na
memoria dos homens.
Concluindo a sua pe-
n /, V A - / 15 7
regrinação terrestre, fe-
kuu U,itita /
lia taia de Baixo e casa onde morou c mor- ^^j^Qyqj olhos á luz do
reu o Padre João José d' Amaral
^ia; mas as trevas' da
morte transformaram-se-lhe em aurora de vida esplendente. .

Indaguemos agora qual a orientação philosophica do Padre João José d'Ama-


ral e vejamos qual o seu methodo de ensino.
A sua leitura predi'ecta era a obra philosophica de Dugald Stewart, distincto ora-
dor e sábio philosopho, que pertencia á Escola Escoceza. Esta escola, fundada por
Thomas Reid, baseií-se no estudo imparcial e profundo do entendimento humano.
Controverte o ic^ealismo de Oeorge Berkeley e o scepticismo de David Hume.
Reie, que nasceu em 1710 e morreu em 1796, foi professor de Philosophia e
NUthematica em Aberdeen e depois de Philosophia Moial em Olasgow, deixando
vários trabalhos, um dos quais— /«(^«/ai' iiito the Human Mind—é a sua obra capi-
tal e o fundamento da doutrina escoceza.
A evidencia dos seus princípios, a pureza da sua moPiíl, a elegância do seu
estylo bem como a clareza dos seus pensamentos, tornaram clássicos os trabalhos
de Reid e fizeram d'elles o guia de todos os principiantes nos estudos philoso-
phicos.
Dugald Stewart, que foi discípulo de Reid, publicou a sua vida e foi seu suc-
.

1004 REVISTA MICHAELCNSe

cessor como
chefe da Escola Esco:eza, tendo captivado tinto a estima do mestre
que dediccu uma das suas mais importantes obras— £5sai's on tiie hlií'l-
este lhe
lectual Powers.
Ora, entre Dugaid Stewart e o Padre João José d'Amaral ha um notável pon-
to de similhança. Stewart, que nasceu em 1751 e morieu em 1828, contem^ioraneo
ainda do Padre Amaral, foi professor de Philosophia Moral na Universidade de
Edimburgo e era muito querido dos seus discípulos, porque, preleccionando, tor-
nava agradável e interessante uma matéria árida por natureza. Na ohví— Hiiloso-
phy of the Human Mind — n^d^ de novo disse em philosophi;i o philosopho esco-
cez, mas soube tornar attrahente e impressivo o que já era conhecido.
O professor michaelense, dotado de indole jovial, era tambcm muito estimado
dos seus alumnos. Ao sentar-sc na cathedra, antes de '-omeçar a lição, contava
sempre uma historieta, que os puiíha em hilaridade, ami-nizando assim a aridez do
assumpto sobre que ia preleccionar. Dizia elle que a ancdocta era o melhor meio
de despertar o interesse c attrahir a attenção dos rapazes. Sabia milhares de aii?-
doctas que reproduzia com muita pillieria c com que deliciava a quantos o escu-
tava m
Quanto ao methodo de ensino do Padre Amaral, di-lo um seu admirador, Àti-
tonio Júlio de Mello, que fora seu discípulo c mais tarde professo»- da cadeira de
Philosophia na Ribeira Grande. Em um livro publicado t\\\ 1870 c intitulado Ele-
mentos de Étnica ou Philosophia Moral, affirma servir-se do systenia das perguntas
e respostas usado pelo seu querido mestre como o melhor processo de trauímittir
e fazer comprchendt |-

as definições e thet)riâs.
Se, ehi fate da mo-
dcrha pedagogia, deixa
tnuito a desejar, como
methodo, o livro feito
por perguntas e respos-
tas, devemos comtudo
aprecia-lo pelos seus ex-
cellentes resultados nos
tempos em que mais vi-
gorou.
Obras de ensino dei-
xou o Padre João José
d'Amaral apenas duas,
que foram publicadas
'A ,9lt2Mní?3 of.-?r.nn3?' pela •'Sociedade Auxilia-
Egreja de Nossa Senhora dos Anjos da Fajã de Baixo dora das l.cttras Açorea-
nas EAcmcntos ou Pri-
:

meiras Lições de Qeoí^raphia e Astronomia de J. A. Cominiin^s traduzidos e auunini-


tados e Glossário Rhetorico para Uso dos Alumnos do Curso de Rhetorica e Poética
do Lyceu Nacional de Ponta Delgada.

Acerca do Padre Amaral podem consultar-se, entre outros trabalhos, os se-


guintes :

a)Dicionário Bibliographico Portu^uez, de Innocencio Erancicco da Silva tomo


III, 39 e tomo X, p. 284;
p.
b) Diccionario Universal Portuguez, volume 1, p. 021;
c) O Preto no Branco, semanário de Ponta-delgada, com varias notas firmadas
pelo erudito bibliothecario Alexandre de Sousa Alvim;
d) Relatório da Liga Michaelense de Instrucção Publica, Annos de ]UI()-913
e
Breve Noticia Histórica sobre a Instrucção Publica no Districto de Ponta Delgada.
A parte histórica d'este Relatório, elaborada pelo nobre prçsidente da Liga, Marquez

R evista MiCHÁfcLENsÊ 1005

de jacome Corrêa, é um valioso subsidio para a historia da instfucção em San


Miguel.
Na se;retaria do Lyceu de Ponta Delgada existe um retrato a óleo do Padre
João José d'Amaral. O amador, que o pintou, poz-líie na mão direita Ui"; livro em
cuja capa se lê: A sciencia é o ornato do rico e a riqueza do fjobre.
Bem calie esta bella divisa ao educador micliaclense, '^ue, vivendo pobre, opu-
lentou com as luzes do seu saber o forão em que nasceu e que, consagrando-se
ao labor da instrucv"ão, como infatigável e benenie:rito obreiro, foi dos que mais
trabaliiaram no grandioso edifício da civilização açoreana, cujas primeiras pedras
foram carreadas pelos discípulos da tiscola de Sagres, os heróicos cavalleiros de
Christo enviados pelo Infante [). Henrique de immarcessivel gloria.

Padre Ernesto Ferreira


1 006 KCVISTA >U CHAEL ENSe

R reuolução na Rússia
Entre a politica russa da corte e a propaganda socialista e revolucionaria dos
anarchistas e democratas extremavam-se os campos. A politica dos Tzars tinha de
ha muito sido uma politica europeia pacifista, deixando a nação extender a sua ac-
ção commercial livremente para os paizes longínquos como para os paizes próxi-
mos. Os cereaes que a Rússia produz em cerca de 348 milhões de moios eram
exportados para os paizes do occidente como para a Ailemanha (15 milhões de
tonneladas) e os petróleos do Ural que na década anterior á guerra foram de me-
tade do consumo do mundo, do mesmo. Alem d'isso o commercio quasi interna-
cional comprava aos mercadores russos pelles em Frankfort e n'algumas cidades
Suissas.
Uma estreita amizade ligava os povos russos com os francezes por conveni-
ências financeiras, tendo estes-muito perto de 5 milhões de contos emprestados na
Rússia; e d'ahi resultava uma alliança que se consolidava d'anno para anno e que
foi mais tarde reforçada pela Inglaterra por conveniências d'equilibrio politico eu-
ropeu e que ficou chamando-se na historia tríplice entendimento em opposição da
tríplice alliança entre a Itália, a Ailemanha e a Áustria.
A acção revolucionaria russa deu lugar a enérgicas repressões policiaes e os
propagandistas da causa nihilista viram-se attacados nos seus preparativos unifica-
dores e obrigados a dispersar antes de poderem pôr em execução qualquer plano
social. Presos uns, obrigados a emigrar outros, foram estes juntando-se nos meios
de Londres e Paris e de algumas cidades allemãs, aos quaes os principaes depor-
tados depois de julgamento para a Sibéria se vinham também reunir depois d'eva-
didos dos presídios.
Mais tarde falaremos n'estes socialistas que assentaram os seus princípios so-
ciaes e políticos n'um comniunisnio marxista com os quaes fizeram a revolução
de 1917; mas por agora trataremos d'accentuar porque é que a politica Imperial
externa desagradava aos próprios moderados russos logo que a guerra actual lhes
mostrou os erros trazidos pelo novo estado de coisas no oriente. A própria revira-
volta politica dos revolucionários de outubro de 1917 quanto ás suas relações ex-
ternas nos demonstra o sentimento do democratismo russo, com a paz de Brest-
Litovsk concluída com os allemães e que deu lugar á retirada para França das suas
forças no Oriente avaliadas em cerca de 45 divisões; (1.200.000 homens) e com a
publicação dos papeis e tratado com a Allemaniia concluid) perto de Viburgo no
archipelago Finlandez no verão de 1905 pelo qual os dois paizes se compromettiam
adefender-se para o futuro mutuamente contra quahuer acto hostil inimigo.
Este tratado assignado em occasiões muito extraordinárias entre os dois Im-
peradores em Bjorkoe e que foi publicado na integra pelos jornaes russos e trans-
cripto pelos francezes e inglezes era uma prova de que os democratas agora no
governo queriam dar em como a politica externa do Imperialismo nem sempre
tivera sido fiel aos compromissos com a França.

O texto d'esse tratado era o seguinte:

S. S. M. M. imperiaes, o ímiierador de Todas as Russias d'itm lado e o Impe-


rador da Ailemanha do outro, afim de asseí^urar a paz da Europa, se pnzeram
d'accordo sobre os pontos se<ruintes do Tratado que se segue, relativo a uma allian-
ça defensiva:
Artigo 1.' —Se um Estado europeu qualquer atacar um dos dois Impérios, a par-
te alliada comoromette-se a ajudar o seu co-contractante com todas as forças de ter-
ra e mar.
'

REVISTA MICHAEIÍNSÍ 1007

Artigo 2."—As altas partes conttadnntês coitlprorúettem-se a não concluir paz


seoarada com qualquer ininiioo.
A/ligo 3." ~ O presente tratado enfra em vigor no momento de conclusão de paz
entre a Rússia e o Japão e deverá ser denunciado com aviso ptevio de um anno.
Artigo 4." O
tratado tendo entrado em vigof, a Rússia empretienderú o neces-
•iutio para o tornar conhecido d Ivança e propoiá a esta a sua adliesão cofho alliada.

(ass.) Nicolau, OiiiUrermè

De facto n Imperador (uiillierni^ previa cim acontecimentos do Oriertté


os
uma iiidifferença para o futuro da por todas as for-
politica externa russa e tentara
mas abordar o Izar e trazel-o para uni principio de li.íiações que poderiam mais
tarde unir os dois paizes e leval-os a uma forte alliança entre as duas nações até
então separadas de compromissos. A yierra com o Japão tocava o seu termo, e da
acção conjuncta das duas naçõ^-s em território cliinez, com detrimento para os ja-
ponezes, resultara a triste situa.;ão em qu.: iria ficar, depois de enormes sacrifícios
de vidas e de despezas vãs, a Rússia. O imperador (juilherme que tinha sido um
inspirador d'essa politica associando a própria Pi anca e a Rússia ao ultimatum ao
Japão a se^juir ao tratido de .-timono cki cujos effeitos foram pôr em foKo os ama-
rtilos contra a liuropa, causando a revoiti dos boxérs em IQOO e que depois se
apoderou de Kiau- Iciíeau, ao mesmo tempo que incitava o Izar a apoderar-se de
Liao-Toung com Porto Arlluir que tivera sido retirado aos japonezes, o impera-
dor Cniiitierme que designa o Czar de almirante do Pacifico e que o aventurara na
politica d extremo oriente, estava assistindo a(js resultados de ter deixado o paiz
)

ami^o i;olido na aventura contra os amarellos e receiava uma agrura de relações


de que a Allemanlia não tinha nada a lucrar.
( )s planos de (juillierme a:j;ora com a entrevista e tratado de Bjorkoe visa-
vam t.imbem a congrassar o^ esforços da politica do seu paiz para conservar a In-
glaterra no seu «isolamento esplendido» e impedil-a que continuasse a «entente»
com a Trança que começava com o accordo relativo ao tgypto e a Marrocos
em 1004.
A politica
russa desde essa epocha evolucionou para o regimen parlamentar
da Douma e a representação democrática nos destinos do paiz animou mais o pro-
blema da politica econ miica externa da Rússia conjugado com a questão agraria
da expropriação da terra; de maneira que quando a Rússia entrou na defeza dos
Sérvios em 1914contra a Áustria e que a mobilisação concentrou para ellaa gran-
de massa das forças vivas da nação, as perturbações causadas pela usura dos
meios de transporte e pela falta de renovamento d'elles por se acharem as fabri-
casem manifesta deficiência de producção, fez estalar o descontentamento que op-
primia as populações ruraes e as [íopulações revolucionarias das Capitães da í^ro-
vincia.
O próprio Kerenski que parecia ter reunido em volta de si as sympathias e as
esperanças do paiz, já não era reconhecido como solucionador do problema pre-
parado por Stolypine e soffria os destinos dos chamados "cadets" (K. D. Consti-
tucional democratas). Foi então que se apoderaram do governo as assembléas dos
Soviets e que Lenine e Trotski estabeleceram os s^us programmas communistas.
Raiou então uma era nova que dentro do tremendo conflicto em que milhares de
vidas succubiram parecia acalentar certos ânimos patriotas. O desalento era geral;
emquanto os camponezes se atiravam á cara com faiinhas e grãos nas aldeias por
não terem meio de os transportar para os mercados das Capitães, n'e3tas passa-
va-se fome e miséria; as officinas não trabalhavam; as minas estavam por explorar;
as industrias metillurgicas cessavam de produzir; os jornaes não se publicavam
porque não existiam typographos; o commercio da aguardente (wodka) cessara e
o povo habituado á bebida tornava-se agora fera com a falta do uso d'ella. A re-
volução foi por isso sanguinária e demolidora; matando-se gente, fuzilando-se,
executando-se com a mesma indifferença pela vida do próximo, como se pilhavam
looô REVISTA MICHAELENSE

OS palácios e as instituições publicas sem o menor escrúpulo pela propriedade a-


Iheia. E como deveriam haver semelhantes sentimentos se se tratava d'implantar
praticamente ideias sociaes d'estatisação de propriedade que durante mais de meio
século foram discutidas nos meios socialistas e que serviram apenas n'elles de mo-
derar a aòção da accumuiação do Capital em detrimento do trabalho?
Essa legislação que, no dizer d'um professor da Universidade de Retrogrado,
inão era composta de leis mas de moções revolucionarias, porque n'ellas não exis-
tia o espirito de continuidade trazido das tradições, deu logar á expropriação com-
pleta da propriedade alheia e assim os bancos, os bens rústicos, as officinas, as fa-
bricas, as minas, tudo íoi occupado por ofíiciacs do governo, estabelecendo, pela
sua inexperiência e falta d'auctoridade com que assumiam os cargos dirigentes,
um novo cahos nos organismos productores do paiz.
Esse tratado de 1905 de Bjorkoe com o Império Allemão foi assignado já em
plena desorganisação social russa; a 22 de janeiro, depois d'um conflicto entre ope-
rários e a direcção da fabrica Pontiloff de Pctrogrado, o padre Oapone levava uma
deputação ao Palácio d'!nverno do Imperador que foi recebida a tiros d'espingar-
da; e a seguir a este incidente, que deixou Petrogrado emocionado, levantaram-se
greves nos caminhos de
ferro, nas imprensas,
nas padarias e na Cri-
méa os marinheiros re-
voltaram-se.
A ordem e o socego
voltaram até ao verão
com as preoccupações
politicas ligadas ao es-
tabelecimento do regi-
men parlamentar, com
uma reforma da Cons-
tituição russa, creando
a Douma, mas em bre-
ve os trabalhistas, ven-
do-se na impossibilida-
de de se fazerem re-
presentar na Assembléa
legislativa, recomeçam a
KERENSKI obra de propaganda a-
narchista que leva a ef-
No Palácio de Kremlin de Moscou
feito outra greve de ca-
minhos de ferro e cria o primeiro Soviet (13 de outubro, de deputados trabalhis-
tas que constitue d'alii para o futuro o centro do movimento revolucionário, ain-
da que não tenha ligação alguma com os socialistas. O seu presidente Kransta-
leff é um homem independente e Lenine então na Finlândia dirigindo jornaes bol-
chevistas e fazendo propaganda socialista desviava-se de se misturar ao movimento
operário; no emtanto os partidos políticos avançados logo depois da constituição
do Soviet são convidados a fazer-se representar nas assembléas. A 30, a greve
geral era proclamada sem poderem os trabalhistas realisar o irvtento por falta de
concurso dos camponezes e do apoio dos libcraes; o Soviet dos deputados ope-
rários é capturado e o movimento geral rompido.
De facto a Douma, composta de 524 membros, tinha 200 representantes cam-
ponezes, os radicaes que formavam a maioria com o concurso de outros partidos
pequenos, o das reformas democráticas e o da ordem legal, tinham lôl; os octom-
bristas possuíam cerca de 30 deputados e os socialistas 17, os nacionaes autono-
mistas polacos, lithuanianos e esthonianos formavam um conjuncto de 70,
Toda esta representação accentuadamente democrática fazia pressão sobre o
BEVIStA MlCHÀEL EWSe 1009

governo para o estabelecimento da partilha das terras compreliendidas nos donii-


nios (coroa), nos apanágios dos conventos extendendo-se mesmo á expropriação
forçada de certas terras de proprietários agrários, entre a classe dos caniponezes.
Esta imposição dos camponezes, que era apoiada pelo partido cadet que a tinha
incluido no seu programma, solucionava o problema do proletariado agrário, de
ha muito na ordem do dia nas questões sociaes e politicas da Rússia e fomentada
pelos Conselhos dos zemtvos (assembléas municipaes). Desde que em 1801 o go-
verno de Alexandre 11, tiniia creado a municipalização da terra no «mir» o qual o
distribuía á exploração dos indivíduos com direitos de successão, esta ideia com-
munista pareceu responder ás aspirações das classes em favor das quaes a medi-
da tinha sido outorgada; porem os camponezes não ficaram satisfeitos e quizeram
a entrega d'essas terras directamente á sua posse.
Desde então a lucta nunca mais cessou de existit chamando a si os liberaes e
todos aquelies que viam nas reivindicações populares um constante foco de revol-
ta e nihilismo ameaçador da ordem e tranquillidade da Rússia.
N'esta3 condições a Douma nunca pôde realizar a obra do progresso para que
estava destinada e os partidos liberal, socialista e popular convergem a sua acção
contra o Governo que escuta o Conselho d'lmperio e o próprio Tzar.
N'pstas condicções a obra de Douma é nulla.
O partido liberal é constitucional e parlamentarista, mas é democrático, o socia-
lista é revolucionário, e o popular visa ao poder por todas as formas possíveis.
A Douma é contra o governo em todas as circumstancias impedindo-o de tra-
balhar e logo que a sua politica se apresenta é o Conselho do Império que pe-
dia a sua dissolução ao Tzar. Na 1.* Douma o governo deOoremykine tendo apre-
sentado um projecto de lei para abrir um credito de 50 milhões de rublos para
soccorrer a população attingida por más colheitas, a Douma apenas lhe concede
15 milhões. A 1.' Douma a 17 de julho de 1Q06 ia abordar a discussão do pro-
jecto de appello ao paiz que servia de resposta a um communicado do governo
sobre a questão agraria, quando o Presidente do Ministério resolveu apresentar ao
Tzar uma proposta de dissolução visto esta estar a adoptar para com o Governo
uma attitude revolucionaria; 4 dias depois tumultos e greves esperavam-se em Re-
trogrado.
Desde então, emquanto a propaganda revolucionaria prepara a acção directa
e unida das forças proletárias da nação, não cessam os movimentos; a guarda
imperial suble\'a-se, Cronstad revolta-se, o Ministro Stolypine é victima d'um at-
tentado em que morrem muitos dos seus convidados e morre d'outro em Kief; em
toda a Rússia se dão manifestações terroristas e não só os altos dignitários e func-
cionarios são attingidos como a classe burocrática; e as pilhagens exercem-se nas
egrejas, nos banco^, nas caixas económicas. Os actos criminosos são numerosos
para continuar a enumeral-os.O governo de Stolypine imaginava alterar a situação
distribuindo a terra aos camponezes, entregando-lhes o direito de hypothecas e
propriedades, isentando-a d'im postos e fazendo-a partilhar do direito de voto co-
mo proprietários ás assembleias eleitoraes e ás dos zemtvos; mas o projecto de lei
que tornava o mujic um verdadeiro cidadão fazendo-o sahir da classe especial
em que se achava, não satisfazia á vontade da I^ouma que queria a expropriação
forçada da terra quer da pequena como da grande propriedade, e que era explo-
rada pelos revolucionários.
Stolypine no entanto conseguiu introduzir uma serie de medidas que chega-
ram até á revolução e que foram consideradas como solucionadoras da reforma
que impunha.
O primeiro ukase (decreto) data de 25 de novembro de 1900 e libertava o
camponez do "mir» e teve a sancção da terceira Douma mas com fortes opposi-
ções dos revolucionários que viam ah! as suas ideias communistas attingidas, e dos
conservadores que consideravam uma infracção ás tradições e um passo dado o
favor da egualdade de cUsse; a outra medida era a compra proporcionada pela
laio REVISTA MICHAELENSE

banco chamado dos camponezes das propriedades pertencentes á Coroa ou apa-


nágios (propriedade da família Imperial) e 10 milhões de hectares torani postos
assim á venda.
Como já disse, os revolucionários não paravam de fazer uma propaganda fur-
te para se apoderarem do Governo. Os novos aprovisionamentos dão causa a
uma revolta popular que precede de dias o encerramento da fabrica Pontiloff, res-
pondendo os operários por uma s^reve (23 de fevereiro de 1^17). No dia seguinte
a greve estende-se ao serviço dos tramways as mulheres formam um cortejo e
;

clamam por pão; a greve geral estava decretada para 25 de íeveieiro e ha coiifli-
ctos pelas ruas sanguinolentos; no dia seguinte um ukase suspende a Douma a qual
não attende e resolve manter-se creando um conselho encarregado de restabele-
cer a ordem. Ós quartéis mexem-se: o primeiro acto de insubordinação dá-se no
regimento de Paulo, e segue-se logo o de Valliynia, o de Lithuania e o de Treo-
bajensky. Forma-se uma manifestação que se dirige á Douma e convida o Comité
ExeciUivo d'esta a tomar a direcção do movimento e no dia 13 de Março todcs os
ktrgimentos da guarnição de Retrogrado desfilam perante a Douma.
A revolução triumpha mas entre os revolucionários dois campos se disputam
a direcção, os liberaes e os socialistas d'um lado, o popuLir do outro, agrupado
nos Soviets. Estes ainda hesitam nu fusão mas em breve buscam nos seus deputa-
dos Avksentieff, Dane,
Tchornoff e Kerensky os
defensores da sua causa.
Kerensky como leaJer
dos trabalhistas e pelas
suas quaHdades d'intelli-
gencia vae ser o chefe.
Não passou d'um go-
verno provisório que em-
pregou os seus esforços
a manter a ordem e te
governo de Kerensky.
Quando elle preparava
com o Preparlamento.que
era uma assembléa cons-
tituída por membros de
todas as classes, a Assem-
bléa Constituinte que foi
votada por 123 votos con-
tra 103, a revolução bol-
chevista rebentou nos Esciiptorio do Palácio d' Inverno de Petrogrado que foi do
Imperador c usado por Kercrisliv, malbaratado pelos
quartéis e 4 dias depois Revolucionários
estava na rua cortando
os fios telegraphicos e telephonicos, occupando 05 bancos e os palácios.
O Congresso nacional dos Soviets reune-se para deliberar sobre a situação e
do outro lado a Douma Municipal também com o concurso dos Bolchevistas. L'
constituído na noite de 2ó (outubro) um Comité Nacional de defeza da Pátria e da
Revolução composto de representantes de todos os partidos socialistas, do Conse-
lho Provisório da Republica e da Douma Municipal e que se propõe tomar a ini-
ciativa da creação d'um novo governo Provisório, o qual apoiando-se nas forças
da democracia, conduzirá o paiz á Constituinte e salval-o-lia da anarchia e da
contra-revolução.
O Congresso dos Soviet-; estatue organisar para governar o paiz, n'Lniia outra
sessão tida no mesmo dia, um governo que terá por nome o Conselho dos Com-
missarios do Povo, cuja presidência era dada a Lenine e o das relações exteriores
a Trotzki.
REVISTA WIICHAELENSE 1011

Eram que iriam fazer entrar a Rússia na phase politica da


esses bolchevistas
paz com a Allemanha esperança de que, estabelecendo o regimen communista
iia
no interior abririam também uma saiiida ao commercio paralysado.
Antes porem de entrar na apreciação d'essa politica é no seu insuccesso é ne-
cessário saber-se quem eram os revolucionários e onde tinham formado as suas
opiniões e porque é que se chamavam Bolchevistas.
Os Conselheiros do Commissariado do Povo eram Wladimir Oulianof (Leni-
ne) nobre por hereditariedade, filho d'um Conselheiro d'Eistado do Ooverno de
Limbirsk, com direito a fixcellencia que lhe dava a sua posição de Tchin. Nasceu
em Linbirsk em 10 d' Abril de \M0 e fez estudos na Universidade de Kasan d'on-
de foi excluído por participar n'uma agitação revolucionaria, sendo o irmão seu n'es-
sa occasião, 1887, enforcado por se achar implicado n'um contra-attentado a vida de
Alexandre 111; em Genebra agrupou-se a vários revolucionários russos perseguidos
da policia em 1895 e no anno seguinte, occupando-se da propaganda socialista cm
Retrogrado, acaba por ser julgado e condemnado a 3 annos d'exilio na Sibéria.
Em IQOO emigra para o extrangeiro, onde fez parte do Comité central do
partido trabalhista social democrata, funda o jornal em 1901 Iskra (A Centelha) e
em 1903, no segundo congresso e^n Londres, do partido, clle é o chefe da
fracção da maioria (majoritarios-bolcheviki) contra a pa-^te menor (minoritarios-
menchwiki) cujo chefe era .Wortof. Por o::casião da segunda revolução em 1908
Lenine volta á Rússia installando-se em Kookala na Finlândia e dirige a activida-
de dos bolchevistas do partido social democrata; salie outra vez da Rússia durante
a guerra, continuando a propaganda como membro do Bureau Internacional do
partido socialista, n'uma orientação pacifista c internacionalista, collabora nos jor-
naes Social, Democrata, Communista e Torbacks; e é um dos organisadores da
Conferencia de Zimervcaid e o chefe do grupo da esquerda d'ella. Em 1917 volta
á Rússia e representa o papel na Revolução que mais tarde lhe deu o primeiro
cargo da Republica communista.
Davidof Bronstein, Commissario do Povo nos Negócios externos, nasceu em
1877 de pães israelitas nos arredores de Elisabethgrado governo de Kherson e
foi deportado por 4 annos para a Sibéria por culpabilidade d'uma conspiração pro-
movida pelo Syndicato Trabalhista do Sul da Rússia em 1899, d'onde se evade.
Eoi presidente do Soviet dos deputados operários de Retrogrado em 1905, o qiie
lhe mereceu uma condemnação de perda de direitos civis e de exilio para o go-
verno de Tobolsk, fugindo d'ahi para Vienna e Paris, d'ondt é expulso por pro-
paganda pacifista; vae á America e ao Canadá, entrando na Rússia depois da Re-
volução.
Launotchorski, Commissario do Povo na Instrucção Publica, que se tornou ce-
lebre pelo seu appello ao povo e demissão do Conselho a seguir aos saques nos e-
dificios públicos de Moscou pedindo que não demolissem os beneficies e as rique-
zas que á custa de tanto sangue e de tantos sacrifícios tinham sido adquiridos pa-
ra bem do povo; é como Lenine filho d'um Conselheiro d'Estado de Moscou, é
preso em 1899, em 1902 e em 1905; em 1907 faz propaganda revolucionaria em
Berlim na colónia Russa d'aquella cidade, junta-se ao partido socialista mesmo no
extrangeiro e faz parte de todos os Congressos e collabora no jornal Proletaire de
Paris de caracter internacionalista.
O Commissario do Povo do Commercio e da Industria, Noghine, tinha 39 an-
nos e era tido das grandes auctoridades do socialismo. Prezo em 1898
como uma
em Retrogrado, foi exilado para Poltava por trez annos, mas não termina a pena
evadlndo-se em Londres; de volta a Retrogrado no anno seguinte foi de novo pre-
so e exilado por trez annos d'onde se evade outra vez; é preso em Nícolaief e
mandado para Arkangel d'onde foge ainda; é preso outra vez em Moscou cun-.-
príndo a pena de trez annos de prisão; em 1908 é outra vez preso por tomar par-
te na Conferencia das Instituições Cooperativas, mas torna a fagir emquanto cum-
pria a pena de 4 annos de degredo na Sibéria e vae para o extrangeiro; de volta
2

1 01 REVISTA MlCHAELBNSE

a Moscou e lançando-se na propaganda, soffie nova perseguição policial, mas foge


de Toboisk para caliir outra vez nas mãos das auctoridades em Oula no exercí-
I

cio de propaganda.
O Commissario do Povo nas I'inanças Svartxof foi profjssor formado pelo
Instituto dos professores das Escholas; suspeito de terrorista e fabricante d'explo-
sivos em 18Q5, fÍL'a debaixo da vigilância da policia trez annos e é preso em Toula
por propaganda junto dos operários. Depois é exilado para a Sibéria por trez an-
nos, é preso outra vez em Moscou em U)05, em U)OS e em H)ll em que foi exi-
lado para Astrakan.
Avilov, Commissario dos Correios e Telegraphos, era um antigo operário typo-
grrplio Ljue soffreu prisões por trez annos por propaguida re/olucionaria em
1Q07; membro depois da Sociedade Secreta de Moscou, sae da Rússia e alista-se
nos cursos d'uma eschola d'agitadores e propagandistas do partido.
Djougaciwili, Commissario das Nacionalidades, era empregado de banco e sof-
fre 4 prisões de que se evade.
Kicof era traductor de linguas e leve que saliir da Rússia pov intimação da
policia; de volta foi exilado para Arkangel d'onde foge, e foge depois de Maniski.
Alem d'estes ha ainda outros revolucionários que tiveram um passado conhe-
cido como ^verdlov, presidente do Comité Central executivo dos Soviets; Zinovief,
presidente do Soviet dos Commissarios do Povo do norte em Petrogrado c que
representou com Kamenev um papel importante durante o terrorismo; Ouritzki,
gerente dos negócios da Comniissão das eleições da Constituinte e depois presi-
dente do Comité da lucta contra a revoluçfio que occasionou o seu assassinato.
Petral e Tchitcherine, que subslituiram Trotzky no commissariado dos negó-
cios extrangeiros; Pakrovzki; membro da delegação de Brest-Litovsk; Boukharine,
que dirigiu o grupo Bolciíevista á Constituinte e que tinha uma grande auctoridade
nos Conselhos políticos; Ouritzki, israelista que foi engenheiro constructor e com-
missario da venda de florestas e um agitador; Petrov, que substituiu Trotzky no
(Commissario dos Negócios F.xtrangeiros,foi preso innumeras vezes por prop:igan-
da revolucionaria; Tchitcherine, conselheiro d'Estado e empregado do Ministério
dos Negócios extrangeiros, que teve que saliir da Rússia e só voltou em principio
de 1Q18 onde occupa o Commissariado dos Negócios Extrangeiros; Pekrovski, que
participou na Conferencia de Brest Litovsk, foi professor da faculdade de Moscou
e de varias escholas e preso varias vezes por participar nos movimentos socialis-
tas; Boukarine, propagandista e filho d'um antigo conselheiro da Corte.
Todos estes homens participaram das ideias socialistas mais ou menos na ori-
entação de todos os congressos.
Eram marxistas, porem a Internacional soffria com a adaptação ao movimen-
to interno russo características que é necessário distinguir porque ellas crearam
duas correntes de propaganda definidas, perfeitamente distinctas uma da outra.
Eoi no Congresso de Londres de 1903 que se deu o facto quando se discutia
a formação e a constituição do partido socialista russo. Morton, que era o leader do
movimento mais escutado, pretendia ramificar a aggremiação consideiando como
fazendo parte d'ella qualquer um individuo que adherisse ao seu programmaou lhe
((restasse auxilio sob a direcção de qualquer das suas organisações; Lenine mais
disciplinar e orientador exigia um pacto do alliciado e só o queria considerar par-
tidário por adhesão formal a uma das organizações partidárias. Da divisão dos
dois campos d'acção com características centralistas que se chamaram por ser eni
maior numero Bolchevistas (majoritaiios) e federalistas, nasceram lambem dois
programmas d'acção directa diversos. (3$ federalistas ou minchevistas (minoritá-
rios) prevendo a revolução eram d'opinião que o partido não devia tratar de occu-
par o poder eliminando os partidos de caracter liberal mas conservar-se sempre o
l^arlido d'extrema opposição revolucionaria creando finalmente, com o concurso
do povo revolucionário, uma Assemblea ( jiiislituinle; os bolchevislab congrassa-
vam os seus esforços para o combate de todas as forças que poderiam absorver a
'

REVISTA MICHAELENSE 1013

acçáo revolucionaria c aspiravam <á republica dcinocratica pjlo levantamento em


massa do povo c pela implaiitiçã') d'uai ( iovemo Provisório.
I-oram n'estas liases que durante 13 annos, desd.' 1904, trabalharam simulta-
neamente as duas facções do partido socialista revolucionário, soffrendo com a
guerra, que ns surpreliendeu em plena propagandai ilma modificação com a cam-
panha pacifista ellcctáda por l.erliile acoriípantiada d'um platlo de Urdscámenícj d^
Jiclos revolucionários c de vehementes protestos contra a altitude dos socialistas
dos paizes belliy:erantes que clle considerava traidores á causa da Internacional por
terem votado nos parlamentos pelos <íovernos. Lenine pede que seja dada a í^ran-
de batalha contra o slavopliilismo, contra o monarchismo e contra o tzarismo e
que a propaganda redobre de violência junto dos soldados no campo de guerra
para que sejam voltadas as armas dos ir-
mãos d'armas proletários contra a reacção
hurgiic/a dos governos de fodos os paizes;
accrescentando que essa propaganda deve
ser dirigida em ti tos os paizes e em todas
as línguas.
Lenine vae mais longe ainda na sua ac-
ção revolucionaria; pede o estabelecimento
duma republica russo-polacaT.llemã e a h. 4^'«
formação de Hstados fnidos da F.urop,-.
A politica pacifista de Lenine calava
bem no espirito das classes operarias des-
mprali^adas e indisciplinadas pela acção
revolucionaria. Os que se achavam no tra-
balho viram sorrir-lhes melhores dias e
mais proveitosos luí^ros aos seus esforços;
aos que estavam mobilisados nascera-lhes
a esperança de voltarem alegres e felizes
para junto de suas familias.
A proposta de ligações com a Alle-
manha e mesmo a federação com ella que
se conjugava bem coin as theorias allemãs
da Mittel-Fiuropa, parecia-lhes que abri-
riam á Rússia um livre e amplo mercado
ás produções d'exportação. P.ram claras as
ideias; os ânimos por isso se exaltaram na
conquista da sua realisação.
A Revolução triumphou nas condições TROTZKl
já contadas a traços largos e que não traz detalhes porque esse não é o nosso in-
tento; mas, SC os planos revolucionários triumpharam, o mesmo não aconteceu com
os successos sociaes nem com os de politica externa e interna que pareciam resol-
vidos com as orientações socialistas de Lenine.
As ligações, de facto, da Rússia com a Allemanha iam determinar a retirada
das forças alle:i'âs para a frente occidental; e os soldados russos retomariam os
seus trabalhos nos campos e nas ofíicinas e de novo a engrenagem económica com
o restabelecimento das relações commerciaes com os paizes vizinhos, Áustria e Al-
lemanha voltariam á bòa harmonia d'outrora. Depois, logo concluída a paz, não
só o regimen commercial russo ficaria garantido com a victoria dos Impérios Cen-
traes como traria uma hegemonia ao uriente egual á dos, tempos passados.
Os Estados Unidos da America do Norte no entretanto desde Abril em estado
de guerra com a Allemanha contrababnçam as forças alhadas e restituem-nas á
maioria de tropas cem que estavam a luctarantesda paz de trcst.eao mesmo tem»
po permittem-llies destacar tropas p?ra restabelecer um regimen de paz no nbroeste
russo pedido por todos os foragidos e pelos partidários de Kerenski eiiiigradps.
tCVlSTA UlCHACUNSfe
1014

Os russds debatendo-se iriternamerité cotrl inimigos incapazes de restabele*


cerem a ordeni e a fraterrlidáde sociaes, tinham agcira os próprios alliados a fa^
Éér-llies ã guerra. Era plano qiie se conjugava bem cóm o plano de guerra
Um
riàvái nò Egeu Marniara e corte de com municaçilo àtravez os Dardanellos.
é
e coni a iiivasâo da Siria pelo Sdez e di Meja:?aita;rlia p-Mo golfo pérsico de cvie
resultou a conquista da Turquia asiática pelos iiiglezes.
A Orecia voltada pela acção de \'enizellos a favor dos alliados coni O Monte-
negro, a Servia e a Roumania, trouxeram aos alliados a garantia das costas lo Egeu
e «"stes, cuja cimpaniia contra a península turca de Oallipoli tinha sido infructifera,
retiraram muitas forças para os outros pontos. Os Impérios Centraes acliavam-se
bloqueados pelo mar, circumdados em todos os seus limites por forças alliadas, in-
capazes de estenderem mais longe os recursos da sua energia para retirarem de
lá proveito ás subsistências das populações ou ú satisfacçfio das necessidades con-
sumidoras d'elles c baquearam, complicando ainda mais a situação dos seus novos
amigos russos.
A mão oppressora d'um governo despótico, que durante séculos exercera a sua
dureza por sobre povos livies, ia ser levantada pelo Tratado da f^az entre os dois
grupos de paizes belligerantes erigindo a Esthonia, a Letónia, a l.ithuania, a Ukrai-
na, a Polónia em nacionalidades independentes n'um regimen politico republicano,
e a independência d'esses povos representa um desmembramento do grande impé-
rio unido. A Rus-ia, que seria contemplada n'um tratado de paz com a victoria dos
alliados, com a occupação de Constantinopla e dos Dardanellos via-se agora sem
um visto território no occidente e com uma Republica confinando a poucas lé-
guas ao sul da capital, |.esando-lhe encargos graves no final da grande guerra.
O regimen democrático e communista, que custara tanto sangue e tantos sa-
crifícios de trabalho e de capital ao paíz, findava agora minguado em extensão e
população, debatendo-se ainda em revolução interna e n'uma segunda guerra con-
tra as províncias separadas.
A alliança os francezes preconisada p^'lo Tzar e pelo governo revollicio-
com
nario de Kerensky não era uma politica externa vã. O
commercio outra vez para-
lysado, tendo o inimigo ao sul a tapar as communicações com os allemães e os ro-
maicos no mar negrn, a perspectiva não era de molde a inspirar a confiança ao
paiz; o cahos da administração do Estado complicava-se rom o descontentamento
dos commerciantes.
A farinha custava 100 mil reis e mais o kilo mas trocava-se de bom grado
por uns cadernos de papel porque com a centralisação da venda do papel só
quem o requisitasse em papel sellado allegando necessidade de o ter é que o
obtinha mas para isso esperava ás vezes 3 mezes. Os géneros eram em geral tro-
cados porque os seus preços tinham augmentado excessivamente, e o Governo,
que tudo occupava,distribuia-os pelos funccíonarios públicos- A':ontecia,o que era
natural, que a policia destacada para a fiscalisição da entrada d'es»es géneros nas
cidades nada apprehendia deixando-se corromper.
Os salários dos operários soffrem taes augmentos que a producção não dá
para sustentar as fabricas; estas mesmas diminuem. Em 1 de Abril de 1^18 em
Moscou 79 explorações de uma totalidr^de de 211, occupando 23 mil operários, ti-
nham fechado as suas portas; no Volga a navegação era nulla e o commercio das
madeiras e de naphta estava substituído pelo transporte de tropas e o pão e o pe-
tróleo não eram embarcados porque os guardas vermelhos e os camponezes ap-
prehcndiam-nos immediatamente; as tripulações, que ganhavam OOO a 700 rublos_
mensaes, estacionavam sobre os cães inactivas.
Em Retrogrado do 1." de Janeiro a 1 d'Abril o numero d'operarios das fabri-
cas desceu de 56 por cento constando n'essa data de 157.491. A construcção de
caminhos de ferro desce de metade. Já no primeiro de novembro de 1916 os com-
boios circulantes em numero de 20.316 eram inferiores cm quantidade aos que
REVISTA MICHAELENSE 1011

serviam nas redes rtlssas ém 1*)12 para as quaes trabaiiiavatn 17 fabricas; a fUncii-
çâo e o carvão, perdida a região industrial da Pnlonia, só com a do Ddriets, tiãb
satisfaz ás cXifíchcias da guerra.
A .Rússia duiànlc a íiix-^rra dcbáieu-se na giierra civil que. iria cdntiniiar com
o restabelecimento da paz com a Allemanlia pelo tratado de Brest-l.itovsk. Ó Go-
verno derramou o teru r por todo o iiaix pela força das armas da guarda verme-
lha e n'cssa prolongada lucía saufíuinaria dia a dia as circumstancias de vida e
bem estar foram peiorando sempre. De todas as expropriat;ões c nacioiialisações
que apparentementc pareciam enriquecer o estado russo resultou aue o orçamen-
to para a primeira metade do anno de lOU) das des|)e7as publicas trazia uma des-
pe/a na impcutancia de ..'OO.OOO.OOO rublos ao passo que as receitas presentes eram
I

de 397 milhões
O que é que ficou do cruel e saufiuinolcnto conflicto ? Um regimen!
Mas um regimen que por não ser o resultado d'uma evolução lenta com a qual
se constitue uma educação solida baseada na experiência com solução de conti-
nuidade, não produziu fructos, mas aggravou situações, complicou a riqueza pu-
blica, talhou todas as liberdades As bellezas theoricas do communismo
sociaes.
bem moderna baseada no systema da hoterogeni-
aftingiveis pela scicncia politica
dade dos seus re.gimens, respeitando o listado a rodagem das forças vivas nacio-
nacs no pé em que estão e traiisforman Jo-as quanio se offercce vantagem para a
communidade, mais uma vez mostraram a inutilidade de_ serem estabelecidas por
meios violentos ou generalisados. A guerra impondo a necessidade de centralisar
as administrações do Estado debaixo da direcção do (joverno, certos ramos d'ac-
tividadc, como foram meios de transporte, fabricações d'expiosivos e armamento e
estaleiros para cons.rucção de navios, deu um melhor exemplo do que essas ex-
propriações bem remuneradas poderiam servir ein proveito da communidade.
Fim todo o caso esse regimen coinmunisti deve ser aqui relatado.
Imitando a Revolução Franceza de 178') os Bolchevistas proclamam os Direi-
tos dos Povos da Russi» n'estes termos {2 de novembro de 1917) (1) :

Os camponezes estão libertos do jugo dos grandes proprietários porque d'a-


qui para o futuro a pro-
priedade privada não
existe mais e o capita-
lista terá nas suas fa-
bricas o controlo do
operariado; os generaes
serão amovíveis e elei-
tos aos cargos afim d'
emancipar os soldados
e os marinheiros da ar-
bitrariedade dos auto-
cratas.
Essa libertação da
propriedade estava ex-
Sala das Sessões dos Delegados á Conferencia pressa n'outro decreto
de Brcst-l.itvosk por esta forma :

"Os direitos á gran-


de propriedade rusti'-a foiani annullados sem expropriação. As propriedades rústi-
cas assim como as terras do.^ apana.gios (da familia Imperi.il) dos mosteiros, das
cgrejas, com. o g,-\do e material agrícola, bens immobiliarios e seus accessorios fo-
ram transmittidos á disposição dos .Comités agrários cantonaes e do Soviet do
Distri':-to até á Assemblea Constituinte." v

Toda a transacção ^ia proprieduie ficava por esse facto prohibida de se effe-
ctuar.

(I) As datas russas diffcrcni das nossas de 13 dias.


mc> REVISTA MICHAELENSE

As minas, a naphta, o carvão, o sal etc, ficaram propriedade do Estado; os


caiiaes. ribeiras, lassos e bosques passaram para as commiinas;a pequena proprie-
dade municipal pertence aos detentores d'ella, porem segundo a importância dos
impostos a elias sujeitos só uma le.gfisiação especial pcrmittiu fazer a divisão do seu
);oso segundo as. suas dimensões; os recintos d'exploração industrial taes como es-
tufas, jardins, liortas etc, entravam nos bens communs ou do Estado segundo a
sUa importância; as candelárias foram confiscadas.
O direito de goso dos terrenos pertence a todo o homem ou mulher com as
suas familias que estejam em condições de trabalhar, recebendo uma pensão do Es-
tado quando não possam trabalhar assim como os inválidos ou incapazes e é repar-
tido egualmente segundo as condições de vida e costumes da localidade, podendo
esse usofructo ser confe-
rido por lar ou porcom-
nnnia como fosse decidi-
do nas aldeias. A refor-
ma da redistribuição das
terras impõe-se periodi-
i-amente afim de satisfa-
zer a bôa harmonia da
população alterada em
numero d'liabitantes com
o tempo e verificando-se
que esse augmentodc po-
pulação teria influencia
contraria ao progresso
da localidade, a gente
que exceder á lotação
terá que se deslocar com
os seus bens moveis a ex-
pensas do Estado. Eoram
creados seguros obriga-
tórios por morte, invali-
dez ou doença; e fundos
Lenine em frente (/'uma cabeça de DANTON agrários de reserva para
auxiliar as foiças productivas.
As heranças por testamento são supprimidas entrando na partilha dos bens
dos fallecidos o Estado, salvo quando o valor seja inferior a 10 mil rublos (1) e es-
se mesmo valor é fixado como máximo de qualquer donativo. Todo o individuo
maior de 18 annos que não exerça trabalhos obrigatórios como militares, artistas,
advogados etc, estão isentos da prestação obrigatória.
Regulando a economia nacional foi creado um conselho d'economia nacional
afim d'organisar a actividade económica da nação, uma secção de metaes precio-
sos, uma conjuncção de comité de milhares de industriaes com o Comité de desmo-
bilisação do Conselho Superior, a ligação de serviço d'Estatistica com o conselho
superior d'Economia, um regulamento sobre o comité technico junto do Conselho
superior, um comité especial de reducção de despezas, uma secção de construcções
do Estado, um conselho de peritos, um comité de commercio exterior, um comité
principal de naphta, um comité de trabalhos públicos, um comité principal de flo-
restas e industrias de madeiras, um comité do assucar, conselhos regionaes e lo-
caes d'economia nacional, collegios de verificação e controlo junto dos conselhos
dos deputados trabaliiistas, soldados e camponezes, uma secção local do commis-
sariado do commercio e da industria para a rtígião norte, secções locaes do Com-
missariado do Commercio e Industria, a or.ganisação do Conselho d'economia
communal de Petrogrado.
(1;— O rublo equivale ao escudo, mas tem cerca de 700 reis fortes.
KKVISTA MICHAELENSP 1017

A industria soffreti a seguinte legislação:

Alem dasnacionalisações, sequestros e confiscações dos districtos mineiros de


fabricas, officinas ccaminhos de ferro, controlaram o operário por meio de regu-
lamentos, fizeram a repartição dos nictaes e fixaram-lhes preços, estabeleceram as
emprzeas nacionalisadas e o seu registo.
O
trabalho foi regulado com limitação dlioras e de edade, marcando os dias
feriados c domingos, prevendo os litígios entre patrões e operários, creando a ins-
pecção, fixando salários, estabelecendo seguros com o controlo operário nas com-
panhias.
As finanças tiveram como base d'orientação a aniiulnção dos empréstimos d'
Estado alem da confiscação já citada das acções constituindo o capital dos antigos
bancos particulares; foi creado um empréstimo revolucionário e outros soffreram
certas reformas e augmentos, e o pagamento de coiitribuições de algumas terras fi-
caram sendo feito cm espécie.
No Commercio foram creados os monopólios do oiro e da platina, da pimenta
c especiarias, dos phosphoros, das \ellas, do arroz, do café; a navegação foi na-
cionalisada assim como o commercio externo e interno, a exportação e i'nporta-
ção sujeitas a licenças officiaes, a especulação foi contrariada, a exportação dos
objectos d'arte e antiguidades foi prohibida.
Dois ramos m:us de Instituições publicas será necessário mencionar para per-
feito programma dos Communistas:
esclarecimento do a justiça e a instrucção pu-
blica;na justiça foram creados tribunaes «,0-^-
revolucionarios em substituição dos tri-
bunaes existentes, os quaes comprehen-
diam na sua alçada o julgamento de lití-
X
gios entre operários e patrões.
Na Instrucção Publica foi estabeleci-
da uma Commissão Governamental, re-
formados os programmas escholares, a-
bolidos os uniformes de todas as escho-
/
las e institutos, supprimido o ensino reli-
/
gioso, creadas universidades novas, e
melhoradas as condicções dos professo-
res.
Eis em resumo succinto e muito \

incompleto as principaes bases, em que


assenta o monumento revolucionário
communista russo; não foi elle quem le-
vantou no extrangeiro um levantamento
geral d 'indignação foram os seus effeitos
c as occorrencias que esses effeitos deter-
minaram na vida nacional russa.
Oente espoliada que protestava, vic-
timas de perseguição e d'actos crimino- O venerai Wrangel
sos que supplicavam soccorro, famintos
que pediam esmolas e pão, emigrados que se queixavam, alem dos actos de cruel-
dade que assolavam todo o paiz e cujas noticias eram transmittidas pelo telegra-
pho, provocaram no Ocjidente sinceros sentimentos d'horror. O assassinato da
família Imperial em Ecatherinenburgo n'uma casa, sem julgamento, sem apparato
regulamentar desupplicio não foi mais do que um incidente retumbante da enorme
tragedia.
Os paizes alliados em nome da Sociedade das Nações erviaram tropas para o
Oriente para restabelecer a ordem e era com curiosidade crescente que nos jor-
naes se liam as noticias d'essa ;'.cção conjuncta, a que se achava ligada a Polónia
cm plena guerra d'ínvasão.
1018 RgVlSTA MICHAELF-NSE

Quasi quatro annos são passados depois da paz de Brest-i.itovsk e no emtanto


a situação da Rússia é peior do que se achava no tempo do 1 zarismo. Esses revo-
lucionários, que soffreram as torturas de prisões severas c perseguições impiedosas,
eram em bem limitado numero comparados com «s que soffreram durante 6 an-
nos os embates d'este sanguinolento confiicto que terminaria no Estabelecimento
da Republica Communista, e agora na guerra civil.
O partido socialista inglez levou varias vezes ao Parlamento representações do
Commercio e a vontade dos Syndicaiistas de verem terminado o confiicto seguin-
do um rtftabeiecimento de relações commerciaes que, segundo elles, determina-
riam uma modificação de relações en^re os aliiados e a Rússia. O Ooverno Inglez
não quiz reconiiecer o governo dos Soviets, mais tarde acceitou a representação
diplomática que foi enviada a Londres, mas rompeu outra vez com cila quando a
acção militar contra os polacos começou a acccnder-se.
A Liga das Nações só reconhecia o governo da Criméa e as tropas do gene-
ral Wrangel que hoje estão dissolvidas.
A Rússia dos Communistas acordou d'um sonho de felicidade social entre um
roseiral d'outomno; aqui e acolá ainda se vêem algumas rosas, mas não se toque
n'ellas porque estão a desfolhar-se do passado; os espinhos puzeram cm sangue os
agentes garantes do progresso em marclia para essa aspiração; e agora nurtyrisa-
dos, é preciso esperar que a primavera volte, que reverdeçam as plantas, que flo-
reçam os botões, para então se colherem essas flores.
A

I» EVIST A MI CHAELEN Sf; 1019

HISTORIA DOCUMENTAL DA REVOLUÇÃO DE 1821


ria Ilha de San Pligucl
PARA A SEPARAÇÃO DO GOVERNO DA CAPITANIA GERAL
DA ILHA TERCEIRA

CAPITULO 111

A r'f'liiioa admtn.i'^ipâí.?va do Goí^ernn


Summario
A i)roclaniação de 7 de Março-^Portariaaos magistia-
dos Reconhccitnento do Qoverno da Re-
civis e ecciesíctsticos-
gência—Portaria de 10 de Março sobre a constituição politica
da comarca -Representação de 21 de Março sobre as vanta-
gens adquiridas com o estabelecimento do novo regimen—
Cantara de Ponta Delgada justifica o movimento para a se-

paração do Governo da Capitania. As Camarás dos Conce-
lhos reunidas em Junta Geral em Ponta Delgada manifestam-
se a favor da sepa/ação As camarás dos concelhos podiani-
se fazer leprescntar no Governo Interino - Expediente do go-
verno interino.

O( jovcrno Interino de Ponta Delgada agora pensa em entabolar negociações


com o Governo de Lisboa. Depois de assegurar a fidelidade ao Rei, á Constituição
e ás Cortes clle vae dirigir toda a sua politica na defeza dos interesses dos mi-
cliaeienses. Em breve vão ser constituidos os Corpos Legislativos, vão-se preparan-
do de ante-mão os programinas d'organisação administrativa, financeira, econó-
mica e burocrática, urge portanto expor o inais depressa possivel a orientação po-
litica do Governo afim de serem attendidos os privilégios e os direitos dos povos
da Ilha.
A 7 de Março é dirigida a 1'roclamação em que o governo mostra o regosijo
popular de adiíerir á causa politica do Reino e de se acharem separados do Go-
verno da Capitania, a necessidade de se suspender o imposto das decimas das ca-
sas e heranças e a esperança de .-erem attendidos nas suas pretensões em defeza
dos seus eleitores :

Registo da Proclamação que este Governo fez affixar no dia 7 de Março de


1821 :

O
Governo (ieral e Interino d'esta Ilha de S. Miguel tendo por uma parte ob-
servado o regosijo, que o Publico tem tomado no passo, qiie se deu na manhã
do primeiro do corrente prestando todos á porfia os seus assensos, e mostrando
de todas as formas a união de suas vontades ás nossas unicamente pelo conceito,
com que nos honra, e a persuasão, em quc está de que todas as nossas vistas não
tem outro fim mais do que o seu melhoramento politico; e não tendo nós por ou-
tra parte, occupados com as communicações, que nos foi preciso abrir com as au-
ctlioridades Militares, Eclesiásticas, e Civis, e moradores das villas de toda a Ilha
até aqui podido desenvolver, e fazer patentes ao mesmo publico os projectos, e
fins d'aquelle passo, e da Installação d'estc Governo; agora que, Louvores a Deus
Nosso Senhor, temos conseguido aquella uniformidade de vontades, que era indis-
pensável para se poder consolidar o estabelecimento d'esta natureza, não só vamos
dar ao publico os mais expressivos, c affectuosos agradecimentos pela Sua espon-
1 020 Revista Mi chaelense

tanea, e sincera adherencia á cansa commum, mas também lhe manifestamos que
os nos>os projectos, e intentos foram, c ?erão sempre primeiramente pela remessa
dos competentes deputados a nossa União politica com as (fortes de Portugal, e
Governo, que por ellas se estabelecer, como único meio de podermos ser con-
templados na reforma, que em todos os ramos procuram ás suas Calamidades, que
supposto sejam tão giandcs, quanto de seus Manifestos se deprelicnde, as nossas
tem sido muito maiores desde a saliida do Nosso Augusto Sc berano para o Rio
de Janeiro pela distancia, em que nos fica, e dilficulundcs, que se experimentam no
accesso ao seu Ministério; depois d'isto, á exccpi,ão unicamente da jurisdicção (Jrdi-
naria do nosso Fixcellentissimo, e R."'" 1'relado, com a totnl isenção, e absoluta se-
paração egualmente pclitica do Governo Geral, Juntas, e Auctoridades da Ilha
Terceira, que não tem procurado ma\i do que opprimir os habitantes d*esta Ilha de
S. Miguel já com recrutas atropelada e desordenndnmcnte feitas, com desamparo
de viuvas, e outras pessoas miseráveis, com manifesto prejui/o da Agricultura, a-
tropelação das leis que d'esta para aquella Ilha as prohibcm; já com a franqueza
da importação dos Vinhos das outras ilhas por meio do Alvará de 25 de Outubro
de 1810 que com falsos princípios extorquiram para revogar a Provisão de 15 de
Março de 1802 que prohibia a sua entrada, sem licença do Senado d'esti cidade;
e já com os descaminhos dos dinhcirc^s das rendas publicas, consumindo-os em
obras, e em outros objectos inte ramente alheios aos fins, a que estavam destina-
dos, e reduzindo-nos á necessidade de fazermos á nossa custa a maior parte das
obras, estradas, e caminhos que a não chegarem as rendas do Conselho, com
muito mais razão deveriam ser feitas pela mesma Real Fazenda, que n'aquellas o-
bras é tão interessada como os mesmos particulares, de sorte que os habitantes
da Ilha de S. Miguel não tem sido menos de uns Pscravos, que estão sustentan-
do aquelle foco e devorador vulcão dos seus trabalhos, e industria; são também
os nossos projectos, e intentos solicitar uma perpetua abolição dos novos 1 ribu-
tos, que ultimamente se impuseram, e com que a Ilha não pode já mais, a qual a-
bolição temos solidas razões, e esperanças de conseguir por meio dos r>eputa-
dos, que se elegerem, e desde já á imitação do Governador e Capitão General da
Ilha da Madeira passamos a suspender o Imposto di Decima das Casas e Heran-
ças, ficando ainda subsistindo os mais até ultima resolução do Supremo Governo
do Reino de Portugal, com que nos vimos incorporar e para cujas precisões e
felicidades devemos também correr e são finalmente não só queremos leis Mu-
nicipaes e privativas d'esta Ilha, e accommodadas aos diversos ramos, que não en-
trarem nas Leis Oeraes, ou exigem differentes por circumstancias particulares que
nunca deixam de occorrer, mas também as providencias, que parecerem necessá-
rias para umas, c outras exactamente se observarem, sobre o que, assim como
egualmente sobre tudo o mais que for conducente áquelles fins, e felicidades d'es-
ta Ilha, e estimaremos concorram todos com as suas insinuações. Estes em summa
os bens, que tiveram em vista áquelles, que deram o mencionado passo no primei-
ro do corrente, e com que installaram este governo, e nós egualmente como Depo-
sitários dos seus poderes, e seus Representantes, e que temos todas as Esperanças
de conseguir do Supremo Governo de Portugal, tanto por serem em beneficio dos
Mabitantes d'esta Ilha, e conformes á Santa Moral e Religião de Nosso Senhor Je-
sus Christo, como pela approvação, que cremos o mesmo Senhor ter dado áquelles
projectos na felicidade com que tudo se tem excnitado, e se tem unido as vonta-
des de todos os Habitantes da Ilha de S. Miguel, o que tudo fundamos na mesma
Santa Moral e Religião e attribuimos a Deus Nosso Senhor, sem cujas Graças na-
da se pode obrar do que é bom, e no mesmo Senhor confiamos nos ajude, c a-
bençoe no mais que é preciso proseguir, e a todos os nossos Amados Patrícios,
cujos sentimentos de Religião, e Politica são os mesmos. Dada na Sala do Gover-
no Geral e Interino d'estn lllia de S. Miguel aos 7 de Março de 1S21. Veríssimo
Vanoel d'Aguiar Secretario do Governo a fez escrever. António Praticisco Affonso
de Chaves de Mello Presidente, André da Ponte Quental da Camará e Souza Vice
REVISTA MICHAfcLENSh 1021

Presideii'e, António [M-ancisco Botelho de S. Payo Arruda, O Bacharel João Bea-


to de Medeiros A\anta, Jacinto Ignacio Rodrigues Silveira.

Conferido

tíermogenes José Qonies Max."

A doutrina d.i Í4ei;ãj di deoi \\\ di qJ-- filivi a proílatrti;ii viiihi desde
a restauração e os niichaelenses explicavam os seus direitos ii'estcs termos:
Sendo decimal lançada i-»elas cortes de Lisboa em Março dé
a contribuição
1Ò4Ò com ofim d'obler mais receita para as despezas da guerra contra a Hespa-
nha e manter a indepen.lencia, foram ainda assim dispensados d'ella os archipe-
lagos da Madeira e dos Açores por serem achados pesados para as Ilhas. Foram
por essa occasião ouvidos os procuradores das Ilhas e foi endereçado o parecer á
Ornara de Ponta Delgidi (^1 de agosío di 1Ó4')J sobre a applicaçilo do imposto
de guerra por meio do Donativo fijanJj cst ih-jlecido que as Ilhas de S. Miguel e
Santa Maria juntas pagariam 10 mil crusados cobrados pela forma mais conveni-
ente e menos aggravante para os habitantes.
Na carta regia ao juiz de fora de 17 d'agosto de 164Ó se vê que a cobrança
d'este imposto é recomniendidi para ser feiti com toda a brevidadt; e por alvará
de 20 de juiiio de õõO foram estabele:idos os imp3.stos do Real d'Agua, quarto de
maquia nas moendas, direitos d'entrada e sahida de géneros, isto com o fim de
salvar a quota das ilhas para a guerra cujo re-
gimento foi estabelecido pelo Juiz de fora e offi-
ciaes da CamnrM ue i^onta Delgada em 14 de
novcinbio de Iò^jO. Mais tarde durante a Re-
gência da Rainha a 7 de Maio de ftõO, esta, ba-
seando-se na aucturi/.ação estabelecida nas cor-
tes de Lisboa e houiar de 16õi ao Snr. D.João
i

W
de se utili ar como entendesse dos beui dos
scus súbditos para evitar qualquer invasão ini-
miga, elevou a contribuição das Ilhas a mais um
quart> por cento do que ell era a que com ou-
i

tro 1|4 que já íòra t-L-vaJo anteriormente esla-


bclecia uma conirib.íição de 15 por cento sobre
os rendimentos, isto era o mesmo do que a de-
ci-na paga no Continente que n'aquella data fi-
cava também elevada a mais 5 por cento. A
contribuição era tão pesada que ficava por co-
brar andando sempre atrazados nos pagamentos
os contribuintes e a carta regia expedida á Ca-
Pedro Volasco mará em 17 de agosto de lóõí prova-o fazendo
menção dos quartéis accresceníados desde 1657
que tinham ficado em debito. As Camarás Municipaes tinham egualmente o al-
vará de 27 de junho de 1808 como prejudicial aos povos das Ilhas. L:ste alvará
regulava a contribuição da decima dos prédios urbanos e no anno seguinte com<;
os michaelenses protestassem foram compellidos a submttter-se ás leis.
Mas voltemos á obra do Go/erno. 1-oi dirigida esti Portaria aos .Magistrados
e Ecclesiasticos da Ilha, 3 dias depois da Proclamação:
Registo da Portaria que este (loverno remetteu aoi Magistrados Civis e Eccle-
siasticos d'esta Ilha.
O
Governo Geral e Interino d'esta Ilha de S. Miguel considerando que o ob-
jecto e fim da Sua Installação não só era a união politica da mesm;i Ilha ao Reino
de Portugal, e sujeição ao Governo que por suas cortes se. estabeleceu, mas tam-
bém uma total isenção, e absoluta separação egualmente politica do Governo
Geral, Juntas, e Justiças da Ilha Terceira, e que estes projectos de nenhuma forma
1022 ftEVlSTA mi chaeleNs^

são compatíveis, nem com o Alv. de Lei e Regimento de 2 de Agosto de 1766,


que criou o (joverno e Capitania Cleral das lllias dos Açores, nem com as Cartas
Regias da Criação da Junta da Tazenda das mesmas Ilhas, de 2 de Agosto de
1766 e de 20 de Outubro de 17Q8 nem com o Alv. com força de Lei de 15 de
Novembro de 1810 por onde se criou a Junta da Justiça Criminal das referidas
Ilhas, e se mandou por ella sentenciar em uma só e ultima Instancia os Reos de
todos, e quaesquer crimes, que não coubessem ua Alçada dos Magistrados Terri-
toriaes, nem com o Alv. com força de Lei de 10 de Setembro de 1811 que nas
Capitães dos Governos, e Capitanias dos Domiuios Ultramarinos mandou estabe-
lecer Juntas, por onde se resolvessem alguns dos Negócios, que antes se expe-
diam iiela Aleza do Dezembargo do Paço; nem com o Alv. com força de Lei de
18 de Setembro de 1811 iior onde egualmente se mandou na Capitania das Ilhas
dos Açores criar uma Junta do Melhoramento da Agricultura, e se deram as pro-
videncias necessárias para se fa/.erem por ella os emprazamentos dos Baldios; nem
finalmente com outras quaesquer Leis Ocraes, ou especiaes, que estabeleçam ou
induzam alguma sujeição, e dependência politica da sobredita Ilha 3.", e muito
menos com as despóticas ordens, que ultimamente a esta de S. Miguel com ma-
nifesto abuso do seu legitimo poder expediu o actual Governador e Capitão Ge-
neral Francisco de Borja Garção Stokler, e por onde não so prohibe os recursos,
que pelas Leis do Reino se interpunham aos Tribunae-; da Corte e Cidade de Lis-
boa, e a execução das Sentenças, Provisões, e Ordens que d'elles dimanavam; mas
até os Passaportes a qualquer pessoa, que tantn para o Reino de Portugal, como
para qualquei outra parte tivesse de passar, e a livre prompta, eimmediíta entrega
das Cartas, Livros, e mais papeis, que a esta Ilha chegassem e desejando o mes-
mo Governo d^r as providencias necessárias em ordem ás partes por esta mudan-
ça politica não padecerem o mais leve detrimento determina o seguinte :

1."

Todos os Alvarás, e Cartas Regias, acima especificadas, como quaesquer ou-


tras Leis Geraes, ou especiaes, que de alguma forma, e em qualquer Ramo fazem
na ordem politica, esta Ilha de S. Miguel do Governo digo dependente do Gover-
no Geral, Juntas, e Justiças da Ilha 3." ficam inteiramente suspensas, á excepção
unicamente das Justiças Eclesiásticas, e Jurisdicção Ordinária do Ex.'"" e Rev.'"" Pre-
lado até resolução das Cortes, e Supremo Governo de Portugal, a quem os Ha-
bitantes d'esta Ilha tanto no espiritual, como no temporal, pretendem para o fu-
turo ficar sempre sujeitos, devendo em tudo o mais recorrer aos Tribunaes de
Lisboa nas matérias relativas ás suas repartições, e interinamente a este governo em
todos os casos de urgência, e que sem grave damno não admittircm demora.

Em Consequência d'este plano, e manifesto desprezo das despóticas ordens


do sobredito Governador e Capitão General se admitiam e expeçam para a Casa
da Supplicação, e mais Tribunaes da Cidade de Lisboa todos os recursos, que le-
galmente para elles se interpuzerem, e se dêm a execução todas as sentenças, Pro-
visões, e Ordens, que d'elles n'esta Ilha existirem, e de futuro emanarem, tudo da
mesma forma que antes se praticava.
3."

O
mesmo se observará nas Causas Crimes, que se acham pendentes nos Au-
ditórios d'esta Ilha, julgando-as os respectivos Juizes em primeira instancia, e ad-
mittindo e mandando expedir da forma exposta as Appellações, que as partes n'el-
ias interpuzerem, e appellando elles mesmos nos Casos, em que por parte da Jus-
tiça do Officio são obrigados a fazel-o, ou haja parte que accuse, ou seja a accusa-
dora a mesma Justiça.
REVISTA ttlCrtAELENSlÊ \ 0^3

4.'

E como d'estas causas em virtude do referido Aiv. com força de Lei de 15 de


Novembro de 1810 se acham muitas já affcctas á Junta da Justiça Criminal, os res-
pectivos Juizes da Culpa pelos Traslados, que ficaram nos Cartórios, e com citação
das partes os mandem iiovaniLMite autuar, e seguir os termos da Conclusão, e as
julguem a final em primeira Instancia admittindo, e mandando expedir as Appella-
ções da forma que fica providenciado a respeito das que se acham patentes.

E como também dos actuaes criminosos, se acham uns presos, e outros com
cartas de seguro, ficando salva ao Corregedor da Comarca a concessão d'estas
no casos, em que por seu fiegimento e pelas Leis lhe compete, as reformas d'estas
se pedirão a este Governo, assim como também os Alvarás de Fiança nos casos
em que por direito elles podem ter Lugar, e com as formalidades com que se cos-
tumam conceder.
0."

Ficando em todo o seu vigor as Jurisdicções ordinárias das justiças d'esta Ilha,
e reservado a este Governo o expediente dos Tribunaes Superiores, e em total des-
prezo e esquecimento as ultimas ordens do Governador e Capitão General, o Cor-
regedor da Comarca e Intendente Cieral da í^olicia não só coniínuará a dar os
Passaportes da mesma foima, e com a mesma franqueza, que o direito permite, e
antes se costumava, ficando o Passe do Porto reservaao ao Commandante das
Armas, qu.* por este Governo se acha constituído, mas lambem sem attenção á-
quellas ordens, deixará livre, e desembarassada a entrada das cartas, e mais pa-
peis, que do Reino de Portugal, ou de qualquer outra parte vierem, conduzindo-
sc directamente de bordo ao Correio o sacco das cartas, e entregando-se immedia-
mente a seus donos, tudo da tnesma forma que antes se priticava.

7.°

Ficando egualmente em todo o seu vigor as cartas Regias da Creação da jun-


ta da Fazenda de 2 de Agosto de 1766 e de 20 de Outubro de 17Q8 pelo que to-
ca á administração daj Rendas publicas, e da Jurisdicção, e Obrigaçoens dos res-
pectivos juizes, e Officiaes, a este Governo fica devoluta, e reservada ioda a Ju-
risdicção, e Inspecção, que pelas mesmas Cartas Regias, e mais Leis competia á re-
ferida Junta, ficando os mesmos Juizes, e Officiaes na Intelligencia de que as mes-
mas relações, que com ella tinham, se devem d'aqui em diante continuar com o
mesmo Governo.
8."

Supposto n'esta Ilha não possam ter maior applicação as providencias dadas
pelo Alv. da Criação da Junta do Melhoramento da Agricultura de 18 de Setem-
bro do 1811 nem tão pouco se siga prejuízo algum em quanto senão verifica a
nossa união politica com o Reino de Portugal, e do seu supremo Governo não
descem as ordens a este, bem como a todos os mais respeitos necessários, se com-
tudo occorrer urgente precisão sobre algum baldio, que se pretende, e deva eni-
prazar, poderão as partes seguir n'estes casos as formalidades que prescreve o Alv.
de 11 de Abril de 1815 que ainda são mais suaves do que as do referido Alv, da
criação da Junta do Melhoramento da Agricultura.

9.»

Não sendo pelo contrario de pouca urgência a necessidade que ha de dar


providencias sobre as Vv.ndas das fazendas dos Judeos Marroquinos, e dos Vinhos
1024 REVliStA MICHAELEWSE

das Ilhas de baixo, e sendo isto próprio e privativamente da Inspecção das cama-
rás pelo que respeita ás vendas das fazendas dos Mouros eílas dêem as providen-
cias que julgarem necessárias, sendo em vista os artigos de 27 de Setembro de
1476 Cap. 4, § 5." e os Alvarás de 19 de Novembro de 1754, e de 15 de Novem-
bro de 1760, e quanto á venda dos vinhos das Ilhas de baixo, darão egualmente
precisas providencias conciliando o consumo dos Vinhos da terra como o Alv. de
25 de Outubro de 1810.
10."

Desejando também o mesmo Governo dar algum principio ao allivio dos no-
vos Impostos, com que se acham opprimidos os Habitantes da Ilha, e confiado em
que o Supremo Governo de Portugal não deixará de approvar esta Resolução de-
termina que d'aqui em diante senão prosiga na cobrança das Decimas das casas,
e heranças, impostas aquellas pelo Alv. com força de Lei de 27 de Junho de 1808
e estas pelo outro Alv. com força de Lei de 17 de junho de 1809, § § 8 e 9.
E assim o cumpram as Auctoridades a quem compete, tanto civis, como tam-
bém Ecclesiasticas, fazendo-o publicar em suas Audiências, e registar nos Cartó-
rios de suas repartições e as Camarás nos seus respectivos Livros. Dado na Sala
do Governo Geral Interino d'esta Ilha aos dez de Março de 1821. Veríssimo Ma-
noel de Aguiar Secretario do Governo a fez escrever. António Francisco Affonso
de Chaves e Mello Presidente, André da Ponte de Quental da Camará e Souza,
Vice Presidente, (António Francisco Botelho de São Payo Arruda,. O bacharel
João Bento de Medeiros Manta, Jacinto Içnacio Rodrigues Silveira).

Conferido

Hennogcnes José Gomes Max."


O Governo da Regência não demorava as respostas regulando a constituição
politica, judicial e ecclesiastica da qual reconhecia a separação do Gover-
Ilha pela
no da Ilha da Terceira e recommendava os preparativos para a harmonia e a com-
munhão politica entre todas as auctoridades durante o periodo transitório emquan-
to se não formavam as cortes e se jurava a Constituição. Os termos em que a
Carta vinha expressa eram os seguintes :

COPIA
CONSTANDO Á REGÊNCIA DO REINO EM REPRESENTAÇÃO, do Go-
verno Interino creado na Ilha de San Miguel que os seus Habitantes opprimidos
pelo Despotismo dos Antecedentes Governos, que mais se havia exacerbado no a-
ctual e vendo inutilizadas todas as providencias que em diversas épocas se desti-
naram ao melhoramento da Administração da Junta e Fazenda na mesma Ilha não
lhe restando outro recurso para saiiircm das difficeis e penosas circunstancias a
que as haviam reduzido as ultimas disposições do Capitão General dos Açores,
privando-os de toda a communicação d'cste Reino haviam proclamado com afirme
e louvável deliberação o systema Constitucional pelo mesmo modoe com as mes-
mas restricções com que n'estc Reino se proclamara: E mostrando-se por aquella
representação que os labitantes de São Miguel estão possuídos de Ardentes de-
I

sejos de adherir á causa commum da Nação propondo-se a eleger e enviar De-


putados que nas Cortes (ieraes Extraordinárias e Constituintes da Nação Portu-
gueza representem aquella porção de beneméritos Filhos da Pátria, e ficando se-
parados do Governo Geral dos Açores em que só haviam encontrado vexações e
ruina: A Regência do Reino lendo em grande apreço os Patrióticos Sentimentos
de lllustres Portuguezes, e desejando conforme os principios Constitucionaes que
a Nação tem adoptado concorrer para obviar males, e deprimir o despotismo onde
quer que elle exista, opprimindo portuguezes; Ordena em nome de El-Rei o Senhor
D. João VI que fiquem separados do Governo da Capital Geral das Ilhas dos A-
REV lStA MlCHÀgLENSfe 1025

çôres, as de São Miguel e Santa Maria, sua anexa constituindo assim um governo
independente, e com relações directas com as Auctoridades e Tribunaes do Rei-
no; Que o Governo Interino, que os Habitantes de Sani Miguel estabeleceram
composto de pessoas, que por merecerem a confiança publica foram para aquelle
Ministério escolhidas nos primeiros difíceis e perigosos momentos da sua decla-
ração pelo Systema Constitucional, fique subsistindo emquanto as Cortes (ieraes e
Extraordinárias não regulam outro que mais apropriado seja á localidade e Rela-
ções politicas. Mercantis, e Económicas da mesma Ilha; Que o Governo Interino
Jure e faça Jurar, a todas as auctoridades Ecclesiasticas, Civis e Militares as Bases
da Constituição que as Cortes tem decretado para se guardarem como constitui-
ção emquanto esta senão ultima, as quaes se devem fazer publicar em todos os
Povos e guardar por todas as Auctoridades, se lhe remettem exemplares arsigna-
dos pelo Secretario dos Negócios do Reino que o mesmo Governo Interino apres-
se quanto fôr possível a Eleição dos seus Deputados em numero proporcionado
á Sua Povoação segundo as Instruções de 22 de Novembro de 18^0 -para que
brevemente se incorporem no Augusto Congresso das Cortes com os mais repre-
sentantes da Nação e ahi entrem nas deliberações de reforma de abusos Geraes,
que tem precipitado a mesma Nação na ruina, e particulares que deprimiam a for-
tuna dos Habitantes d'aquella Ilha, e outro sim a Regência havendo respeito a se-
gurança do iinportante ponto da Ilha e mais que tudo das pessoas de seus bene-
méritos Habitantes tendo ordenado a remessa de quantos auxílios o Governo In-
terino solicita e que já em parte estarão próximos do seu destino, o segura de que
continua a remessa do resto, e que será tão efficaz em auxiliar os habitantes de
de São Miguel quanto elles resolutos foram para se incorporarem na causa com-
mum da Nação e quanto firmes permanecem em sustental-a.
O Governo Interino o tenha assim entendido, execute, e faça executar. Palá-
cio da Regência em 2 de Maio de 1821. Com quatro rubricas —
Veríssimo Manuel
de Aguiar a fez escrever — Cumpra-se e registe-se— Borges.
Concorda com a própria copia que tornei a entregir ao Rev.'"" Ouvidor n'e3-
ta Ponta Delgada aos 28 de Maio de 1821.

Conferida

João Manoel de Faria

Livro das Ordens dos Ex.'""' e Rev."'"^ Snrs. Bispos pag. 126 a 126 verso.

Registo de um Camará pelo Governo Geral, e interino d'es-


Officio remettido á
ta Ilha acompanhando o das Cortes para onde se annexou esta e a Ilha de
(officio
Santa Maria das mais dos Açores com mais conteúdo sobre o juramento das ba-
zes da Constituição Real.
O Governo Geral, e Interino desta Ilha tem a satisfação de enviar a V." S." a
Copia do Ofticio que acaba de receber da Regência do Reino para que V." S." a
faça registar nas Leis da Camará, e mais Estações competentes fazendo-a chegar
ao conhecimento dos Povos da sua Jurisdição: o mesmo Governo tem destinaáo
jurar, e fazer jurar a todas as auctoridades Ecclesiasticas, Civis e Militares
as Bases da Constituição, que as Cortes tem Decretado (de que se remete a V."
S.* a copia) para se guardarem como Constituição emquanto esta se não ultima,
para cujo fim tem destinado o dia 31 do corrente próximo e determina que V'.'
S.' compareça na Sala do Governo n'aquelle dia para prestar o referido Juramen-
to e depois o deferir aos Vereadores, e Officiaes da sua Jurisdicção, o que tudo
participo a V.' S.° de ordem do mesmo Governo. Sala do (Joverno, 25 de Maio
de 182L 111.'"° Sr. Doutor Juiz de Eóra d'esta Cidade José António Quaresma de
Carvalho Vasconcellos— Veríssimo Manuel d'Aguiar.
1 026 '**l'!'í'L.-MJl£HAELIH4St

OFFlClO
Constarrdo á Regência do Reino em Representação do Cjoverno Interino crea-
do na Ilha de S- Miguel que os seus habitantes oppriniidos pelo despotismo dos
antecedentes Ciovernadores, que mais se havia exarcebado no actual, e vendo inuti-
lizadas todas as providencias que em diversas Épocas se destinaram ao melhoramen-
to da Administrai;ão da Justiça, e fazenda da mesma Ilha, não lhe restando outro
recurso para sahirem das difficeis e penosas circumstancias a que os haviam redu-
zido as ultimas disposições do Capitão General dos Açores, privando-os de toda a
Communicação com este Reino, haviam proclamado com firme e louvável delibe-
ração o systema Constitucional pelo mesmo modo, com as mesmas restricções com
que n'este Reino se proclamara, e mostrando-se por aquella representação, que os
habitantes da Ilha de S. Miguel estão possuídos de ardentes desejos de adherir á
causa commum da Nação, propondo-se a eleger e enviar Deputados, que nas Cor-
tes (leraes extraordinárias e Constituintes da Nação Portugueza representem aquel-
la porção de beneméritos filhos da Pátria e ficando separados do Governo Geral
dos Açores em que só haviam encontrado vexações e ruina. A regência do Reine
tendo em grande apreço os Patrióticos sentimentos de tão Illustres Portu^uezes e
desejando conforme os princípios Constitujionaes que a Nação tem adoptado con-
correr para alliviar males, e deprimir o despotismo onde quer que elle exista op
primindo Portuguezes ordena em nome de El Rei o Senhor D.João VI que fiquem
separadas da Capitania Geral das Ilhas dos Açores as de S. Miguel, Santa Maria
sua annexa constituindo assim um Governo independente, e com relações direitas
com as Auctoridades, e Tribunaes do Reino: que o Governo Interino que os ha-
bitantes de S. Miguel estabeleceram e com parte de pessoas, que por merecerem
a contiança Publica foram para aquelle Ministério escolhidos nos j^rimeiros, diffi-
ceis e perigosos momentos da sua declaração pelo Systema constitucional- fique
subsistindo eniquanto as Cortes Geraes e Extraordinárias não regulam outro que
mais apropriado seja á socialidade e relações politicas, mercantis e económicas da
mesma Ilha que o Governo Interino jure e faça jurar a todas as Aucthoridades Ec-
clcsiasticas. Civis e Militares, as Bases da Constituição que as Cortes tem Decreta-
do |)ara se guardarem como ConstituiçSo, eniquanto esta senão ultimar, as quaes
devem fazer publicar em todos os Povos, e guardar para todas as Auctoridades
para o que se lhe remettem Exemplares assignados pelo Secretario dos Negócios
do Reino: que o mesmo Governo Interino apresse quanto fôr possivel a Eleição
de seus [Reputados em numero proporcionado á sua povoação segundo as Instru-
cções de 22 de Novembro de 1820 para que brevemente se incorporem no Augusto
Congresso das Cortes com os mais representantes da Nação, e ahi entrem nas de-
liberações de rerorma de abusos geraes que tem precipitado a mesma Nação na
ruina e particulares que deprimiam a fortuna dos Habitantes d'aquella Ilha, e ou-
tro sim a Regência havendo respeito á segurança do Importante ponto da Ilha e
mais que tudo das pessoas de seus Beneméritos Habitantes, tendo ordenado a re-
messa de quantos auxílios o Governo Interino solícita; e que já uma parte estarão
próximos no seu destino o segura de que continua a remessa do resto; e que será
tão efficaz em auxiliar os Habitantes de S. Miguel quanto elles resolutos foram para
se incorporarem na Causa commum da Nação; e quanto firmes permanecem enj
sustenta-la. O Governo Interino o tenha assim entendido, execute, e faça executar.
Palácio da Regência, em 2 de Maio de 1821 com 4 rubricas— Kmss//«í7 Ma-
noel d' Aguiar.
Conferido com os próprios Officiaes da Regência do Reino e Cjoverno Inte-
rino d'esta, ce-tifico em meu nome se tiraram tantas copias, quantos os Lugares d'este
Districto, onde se deviam publicar, sendo tal o Enthusiasmo dos Povos que até
os Párochos das Egrejas se offereceram a apregoar dos púlpitos noticias tão gratas-
Ponta Delgada, 24 de Maio de 1821.
O escrivão da Camará
Manuel trancisco LuU Pereira
-

fttVlSTA MlCHAELEHSt 1027

No entretanto o Governo, apesar das difficuldades impostas ás com mii nica


ções entre o Reino e os Açores pelo õeneral Stockler, ia recebendo as notifica-
ções da Regência de Lisboa ao mesmo tempo que orientava a politica, a adminis-
tração e a justiça insulares de S. Miguei e Santa Maria.
Umdos primeiros instrumentos políticos passados pelo governo Interino foi
a portaria de U) de .Warço em que traça, por assim dizer, as condições [loliticas
Jo novo regimen transitório:
Registo de uma Portaria, que o Cjoverno Geral e Interino d'esta Ilha de S.Mi-
guel enviou a registar n'esta Gamara aonde foi transmittida pelo Doutor Juiz de
t-óra em 8 de Maio de 1821.
O Governo Geral, e Interino d'esta Ilha de S. Miguel considerando que o
objecto fim da sua Installação não só era a União politica ao Reino de Portu-
gal e sujeição ao Governo, que por suas Cortes se estabeleceu, mas também
uma total isenção e absoluta separação egualmente politica do Goveino Geral,
juntas e Justiças da Ilha da Terceira e que estes projectos de nenhuma forma
são compatíveis nem com o Alvará da Lei Regimento de 2 d'Agosto de 177(),
que creou o Governo e Capitania Cjeral d'estas ilhas dos Açores nem com as
Cartas Regias da creação da junta da Fazenda das mesmas Ilhas de 2 d'Agosto
de 17&0, e de vinti de Outubro de 1798. nem com o Alvará com força de Lei de
15 de Novembro de 1810 por onde se creou a junta da justiça criminal das re-
feridas lliias e se mandou por ella sentenciar em uma só ultima Instancia os Reos
de todos e quaesquer crimes, que não coubessem na Alçada dos A\agistrados
Territoriaes; nem com o Alvará com força de Lei de 10 de Setembro de 1811 que
nas Capitães dos Governos, e Capitanias dos Donjinios Ultramarinos mandou es-
tabelecer juntas por onde se resolvessem alguns dos Negócios que antes se expe-
diam pela Mesa do Desembargo do Paço; nem com o Alvará com força de lei de
18 de Setembro de 1811 por onde egualmente se mandou na Capitania das Ilhas dos
Açores criar uma junta do melhoramento da Agricultura e se deram as providencias
necessárias para se fazerem por ella os emprazamentos dos Baldios nem finalmen-
te com outras quaesquer Leis (jeraes ou especiaes que estabeleçam ou induzam al-
guma sujeição e dependência politica da sobredita Ilha muito menos com as despó-
ticas ordens, que ultimamente a esta de S. A4iguel com manifesto abuzo do seu legi-
timo poder expediu o actual Governador e Capitão General Francisco de Borja
Garção Stokler; e por onde não só prohibe os recursos que pelas Leis do Reino
se intei punham aos Tribunaes da Corte da Cidade de Lisboa e a execução das sen-
tenas de Provisões e ordens, que d'clles dimanavam, mas até os Passaportes a
qualquer pessoa que tanto para o Reino de Portugal como para qualquer outro
porto tivesse de passar e a livre, prompta e immediata entrega das Cartas, li-
vros e mais papeis que a esta Ilha chegassem; e desejando o mesmo Governador
as providencias necessárias em ordem ás partes por esta mudança politica não pa-
decerem o mais livre detrimento determina o seguinte.
1."

Tanto os Alvarás e Cartas Regias acima especificadas como quaesquer outras


Leis Geraes, ou especiaes que de alguma forma, e em qualquer ramo fazem politica
esta Ilha de S. Miguel dependente do Governo Geral, Juntas e Justiças da Ilha Ter-
ceira ficam inteiramente suspensos á L^xcepção unicamente das Justiças Ecclesiasti-
cas, e Jurisdicção Ordinária do Nosso f:x."'° R."'° Prelado até Resolução das Cortes
e Supremo Governo de Portugal a quem os Habitantes d'esta Ilha tanto no Espi-
ritual como no Temporal pretendem para o futuro ficar sempre sujeitos, devendo
em tudo o mais recorrer aos Tribunaes de Lisboa nas Matérias Relativas ás suas
Repartições e interinamente a este (joverno em todos os casos de Urgência e que
sem grave damno não admittirem demora.
2." \

Em
consequência d'este Plano, e manifesto desprezo das desposticas Ordens
do Sobredito Governador, e Capitão General se admitiam recepção para a Casa
1028 rWisYX fti eftXgLffi'^^

da Supplicação, e mais Tribunaes da Cidade de Lisboa todos os recursos que le-


galmente para elles se interpuserem e se dêem á execução todas as Sentenças,
Provisões, e Ordens que d'elles n'esta llln existirem c de futuro emanarem tudo
da mesma forma, que antes se praticava.
3.°

O mesmo se observará nas causas crimes, que se acham pendentes nas Au-
ditorias d'esta Ilha julgando os Respectivos Juizes em primeira instancia e admit-
tindo, e mandando expedir da forma exposta as livres Appellações que as partes
n'ellas interpuzerem e appellando elles mesmos nos* casos, em que por parte da
Justiça do Officio são obrigados a íaze-lo, ou haja parte que accuse, ou seja accu-
sadora a mesma justiça.
4.°

E como d'estas causas em virtude do referido Alvará com força de


Lei de 1")
de Novembro de 1810 se acham muitas já affectas á Junta da Justiça Criminal, os
Juizes das Culpas, pelos traslados que ficaram no Cartório e com citação das
partes os ma^ndem novamente autuar e í:eguir os tírinos da conclusão, e os jul-
guem a final em primeira Instancia admittindo, e mandando exi^edir as Appellações
da fornia que fica providenciado a respeito das que se acham pendentes.
5."

E como também dos actuaes criminosos se acham uns presos outros com
cartas de seguro, ficando salvo ao Corregedor da Comarca a concessão d'estas
nos casos em que por seu Regimento e pelas Leis lhe compete, as reforma3 d'e3-
tas se poderão requerer a este Governo, assim como também os Alvarás de Fi-
ança nos casos em que por Direito elles podem ter lugar com as formalidades,
com que se costumam conceder.
6."
Ficando em todo o seu vigor as Jurisdicções ordinárias das Justiças desta ilha,
e reservado a este Governo o expediente dos Tribunaes Superiores, e em total des-
prezo e esquecimento as ultimas Ordens do Governo, e Capitão General, o Cor-
regedor da Comarca e Inteiid nte Geral da Policia não só continuará a dar oí
Passaportes da mesma, e com a mesma Franqueza que o direito permitte e antes
se costumavam ficando o Passe do Porte reservado ao Comniandante das Armas
que por este Governo se acha constituido; mas também sem attenção áquellas or-
dens deixará livre e desembaraçada a Entrada das Cartas e mais papeis que do
Reino de Portugal, ou de qualquer outra parte vierem conduzindo se direitamente
de bordo ao Correio, o sacco das Cartas, entregando-se immediatamente a síus
donos tudo da mesma forma que antes se praticava.
7."

Ficando egualmente em todo o seu vigor as Cartas Regias da Creação da Jun-


ta da Fazenda de 2 de Agosto de 1766 ou de 20 de Outubro de 17Q8 pelo que toca
á Administração das Rendas publicas e da Jurisdicçào, e obrigações dos respecti-
vos Juizes e Officiaes a este Governo fica devoluta e reservada toda a Jurisdicçào e
Inspecção que pelas mesmas cartas Regias, e mais Leis competia á referida Junta,
e ficando os niesTos Juizes e Officiaes na intelligencia de que as mesmas relações,
que com ella tinham as devem d'aqui em diante continuar com o mesmo (joverno.
8.«

Supposto n'esta Ilha não possam ter maior applicação as providencias dadas
pelo Alvará da Creação da Junta do Melhoramento da Agricultura de 18 de Se-
tembro de 1811, nem tão pouco se siga prejuízo algum emquanto senão verifica a
nossa União P( litica com o Reino de Portugal, e do seu supremo Goveru) não
descem as ordens a este, bem como a todos os mais respeitos, necessárias, hecom-
tudo occorrer urgente precisão sobre algum Baldio que se pretenda e deva em-
prazar poderão as partes seguir n'estes casos as formalidades que prescreve o Al-
vará de de Abril de 1815, que ainda são mais suaves do que as do referido
1 1

Alvará da creação da Junta do Melhoramento da Agricultura.


WCVISTA
J*igHAPLENSe 1029

9.'

Não sendo pelo contrario de pouca urgência a necessidade que há de dar


providencias sobre as Vendas das Fazendas dos Judeus Marroquinos, c dos Vi-
nhos das liiias de baixo c sendo isto próprio c privativamente da Inspecção das
Camarás, pelo que Respeita ás Vendas das Fazendas dos Mouros, ellas dêem
as providencias que julgarem necessárias, tendo em vista os Artiçros da lei de
27 dcSeptombrO de 1 iVO Capitulo 4.*' § 5." e o Alvará de ló de Novembro de
179? e de Í5 de Novembro de 1760, e quanto á venda dos vinhos das ilhas de
baixo darão eguàimente as precisas providencias, conciliando o Consumo dos
vlrilios dá terra com o Alvará de 25 de outubro de 1810.
10."
Desejando também o mesmo Oovernodar algum principio ao allivio dos
Novos Impostos com que se acham opprimidos os habitantes d'esta ilha, confia-
do em que o Supremo Ooverno de Portugal não deixará de approvar esta re-
solução, determina que d'aqui em diante se não prosiga na Cobrança das Decimas
das Casas e heranças impostas n'aqucilas pelo Alvará com força de Lei de 27 de
junho de 1S08, n'estas pelo outro Alvará com força de Lei de 17 de junho de
1809, § § 8 e 0.
F assim o cumpram as Auctoridades a quem compete tanto civis como
também Ecciesiasticas fazendo publicarem suas Audiências, e Registar nos Car-
tórios de suas repartições e as Camarás nas suas respectivas Lois. Dada na Sala
do Governo Geral interino d'esta Ilha de S. Miguel aos 10 de Março de 1821. Ve-
ríssimo Manuel d'Aguiar Secretario do Governo o fiz escrever— António Francis-
co Affonso de Chaves c Mello -Presidente André da Ponte Quental da Camará
eSouza—Vice-Presidente -António Francisco de S. Payo Arruda— O Bacharel João

Bento de Medeiros Mantua— Jacintho Ignacio Rodrigues Silveira 111."'" Snr. Dr.
Juiz de Fora José António Quaresma de Carvalho Vasconcellos.

Conforme
Ponta Delgada, 9 de Maio de 1821.

[ ivro do Res^isto da Camará n." 8 paginas //." i89,

Segue-5c a 21 uma Representação para o Governo do Reino e Cortes sobre


os aggravoi sofi'ridos p^los Povos da Ilha no regimen da Capitania :

Registo da Representação que este Governo Geral e Interino fez ao Governo


Supremo de Portugal.
Sr/z/íO/ -Suppostoos Povos de Portugal por seus Manifestos somente nos tenham
dado noções das calamidades que tem soffrido na administração publica, e que os
obrigaram a formar por suas Cortes uma Constituição, que prescrevesse os meios
de as atalhar, e não tenhamos podido conseguir noticias exactas, e individuaes d'a-
quellas desgraças; não duvidamos asseverar comtudo que se as que estão sof-
frendo os Habitantes da Ilha de San Miguel desde que o Nosso Augusto Soberano
sahiu para os Fstados do Brazil, não tem sido msis que as dos Povos de Portu-
gal, em nada lhes podem ser inferiores, ou se considerem pelas Auctoridades,
que residem na mes na Ilha, tanto civis, como Criminaes, e Militares, ou se consi-
derem pelas que se acham constituídas na Ilha Terceira a quem desgraçadamente
a de San iWiguel tem vivido sujeita.
Pelo que respeita ás Auctoridades civis e criminaes estabelecidas na Ilha de
San Miguel na ordem dos Juizes de Fora offerecemos por exemplo a Vossa Ma-
gestade um Roque Francisco Furtado de Mello, que tendo servido aquelle lugar
centos e quinze na cidade de Ponta Del-
desde mil oito centos e seis. até mil oito
gada, que é a capital da mesma Ilha, odesempenhou da forma, que mostra o
Documento Numero primeiro, e na ordem dos Corregedores, e Provisores da Co-
marca eguàimente offerecemos por exemplo um João José da Veiga, que servindo
1 030 REVISTA MIÇtUELfcNSg

estes cargos desde mil oito centos e trezC; átê rriil oitd ceritos e dezatiove, se por-
tou tamtíem do modo, qiie niostra ó Docurriento Nmrlero Segundo, e dando â
Càmára dà referida Cidade ao Nosso Augiisto Soberano de uiri e outro as dontas
de que são copias aqueiies Documentes, os resultados foram ir o primeiro des^
pachado Desembargador para a ivciação do Porto, e o segundo superintendente
das Alfandegas do Rio de Janeiro.
Pelo que toca ás Auctoridades que se acham constituídas na Ilha Terceira,
e consistem no Govírno, e Cipitania (i*ral das ilhas dos Açores, creada pelo Al-
vará com força de
ei, e regimínto de dois de Agosto de mil sete centos sessenta
1

e seis, na Junta da hazenda das mesmas Ilhas creada pelas cartas Regias de dois de
Agosto de mil sete centos sessenta e seis, e de vinte de Outubro de mil sete centos
c noventa e oito, na Junta da justiça Criminal creada pelo Alvará com força de Lei
de quinze de Nosembro de mil oito centos e dez, na Junta do F^esembargo do Paço
creada pelo Alvará com força de Lei de dez de Setembro de mil oito centos e onze,
c na junta do Atelhoramento da Agricultura creada peio Alvará com força de Lei de
dezoito de Setembro de mil oito centos e onze, todos estes Estabelecimentos, bem
longe de haverem promovido as utilidades, que tinham em vista as Leis das suas
creaçõcs, antes tem servido de prejuízo, especialmente á Ilha de San Miguel.
I'orquanto qual tenha sido a conducta dos Governadores, e Capitães Oene-
raes das lliias dos .\çores, e dos Governadores da Ilha de San Miguel, que lhes
são subordinados, e que utilidades se tenham seguido do seu estabelecimento com
especialidade depois da sahida do Nosso Augusto Soberano, assaz se deixam ver
do Documento Numero terceiro, que bem mostra que prezando elles em pouco
os verdadeiros objectos dos seus deveres, somente tem procurado consumir, e
exasperar os miseráveis Povos.
Qual tenha também sido a administração da Junta da Fazenda verá Vossa
Magestade da grande somma que mostra o Documento Numero Quarto tem pro-
duzido as rendas publicas na Ilha de San Miguel somente de mil oito centos e
dezaseis, até mil oito centos e vinte e da applicação que lhe tem dado a mesma
Junta e que supposto se não porsa agora desenvolver, não tem comtudo sido ou-
tra, senão o interesse dos Membros, que a compõem, e dos seus Propostos, de
sorte que de todo aquelle cabedal, podemos affirmar a Vossa Magestade que ne-
nhum proveito tem percebido o Estado, assim como das rendas dos annos ante-
cedentes de que por hora não damos conta por não caber na estreiteza do tempo.
Não tem sido mais úteis, nem menos prejudiciaes as outras Juntas nos seus
respectivos ramos de forma que na Junta Criminal se acham Reos a sentenciar ha
quatro e cinco annos, e das sentenças de morte, que n'ella se tem dado, somente
se executou as dos que assassinaram o Juiz de Eórada \'illa da Ribeira Grande, e
e os de mais Reos da mesma pena se acliam nas cadeias; a do Melhoramento da
Agricultura não podendo ter exercício na Ilha de San Miguel por não haver um
palmo de terreno, a que senão tenha dado a cultura, de que é susceptível, so-
mente tem servido para tirar alguns logradouros dos Povos, e até mesmo dos
Particulares, e para dar occasião a uma infinidade de demandas, que se acham
pendentes, e a Junta do Desembargo do Paço nunca teve também exercício, nem
tem dado expedição alguma, de maneira que os negócios, que lhe foram commet-
tidos, se tem sempre requerido e expedido por Lisboa.
Todas aquellas violências não só mostram a necessidade em que estavam os
Habitantes da Ilha de San Miguel de romper todas as difficuldadcs para se uni-
rem a Portugal, e solicitarem os seus males o mesmo remédio que os Povos d'este
Reino por uma Constituição procuravam ás suas calamidades, mas também assaz
deixam entrever os desejos, que teriam de se poderem declarar e de fazer com
clle causa commum por seus Deputados, logo que se installou o Governo do Por-
to, e este se uniu ao de Lisboa, e deram as Providencias para a convocação de
suas cortes, mas os Governos Militares, que era quem seguramente podia dar, ou
animar este passo, estavam tão aferrados aos seus despóticos sentimentos, que nem
1

hÈVlStA MtCH AeiÈNRE 1 03

a mais leve occasião, nem pelo menos esperanças davam de que elle algum dia
viesse a executar-se.
Estes desejos ainda mais se augmentavam com as benéficas intcriçòes, qiié
mostrou o Supremo Ooverno de Portugal para com os Habitantes dá llliá de San
Miguel dirigindo suas ordeils ao Corregedor da Coiriarca António Carlos Borges
Pereira Ferraz para que clle promovesse a eleição dos Deputados, como foi no-
tório tanto pelo Offi:io, que na mala do Correio de Lisboa lhe mandou o [)esem-
baigador AAanoel f-ernandes Thomaz, que já na mesma Ilha era conhecido por Se-
cretario da Junta destinada para a coiivocação e organisação das Cortes, como
pelo Doutor Corregedor mostrar aquelle Officio, e as Instruções, que o acompa-
nharam, a muitas pessoas em Vill;> Franca do Campo, onde se achava de Correi-
ção ao tempo, em que o recebeu; mas recolhendo-sc Cidade, bem longe de o

dar á execução, antes passou a negar que taes ordens tivesse recebido, protestan-
do-as com outros papeis, que figurava, e somente agora se sabe que elle os re-
mettera ao Governador e Capitão General das Ilhas dos Açores Francisco de Bor-
la Garção Stokler pela resposta que este lhe dá áquella participação, e forma o
Documento Numero Quinto.
Restava ainda outro remédio que era a noticia, que na ilha havia corrido de
que aquelle novo Governador e Capitão General tinha jurado em Lisboa a Cons-
tituição de Portugal, e a esperança de que elle daria occasião, e franouearia os
meios dos Povos das Ilhas fazerem outro tanto; porem toda esta se desvaneceu
na primeira embarcação, que depois da sua chegada á Ilha Terceira veiu á de
San Miguel, e que foi a doze de Fevereiro próximo passado, em que elle não
só deu ordens para que se não expedissem recursos para os Tribunaes de Lis-
boa, nem se executassem as sentenças que d'elles emanassem; e para que da
ilha não embarcasse pessoa alguma, nem para Portugal, nem para outra qual-
quer parte, e para que senão entregassem Livros, ou Gazetas, ou alguns oiitros
papeis impressos, que do Reino viessem, nem tão pouco se falasse do que n'elle
se passava, de sorte que vinha a pôr um Interdicto Politico entre Portugal, e a
Ilha de San Miguel, como tudo se vê dos Documentos que correm desde o nu-
mero seis até"ao Numero doze, mas.timbem arrogando a si a jurisdicção das
Camarás, atropelou, e pisou aos pés as providencias, que a de Ponta Delgada havia
dado tanto a respeito do Commercio, que na Ilha faziam uns índios naturaes de
Marrocos, que a troco de trapos exportavam toda a moeda d'ouro e patacas, que
podiam haver a si, como sobre a cobrança da renda da Imposição, e combinação
do consumo dos vinhos da terra com os das oJtras Ilhas, como egualmente se vé
dos Documentos Numero treze até quinze tudo contra o Regimento dos Gover-
nadores das Armas das Províncias do primeiro de Junho de mil seis centos se-
tenta e oito, paragrapho vinte, que expressamente lhes prohibe intrometterem-se no
governo das Camarás, proposto como regra ao Governador, e Capitão General
dos Açores no Capitulo septimo, e doze do Alvará com força de Lei, c Regimento
de sua creação de dois de Agosto de mil sete centos sessenta e seis, e contra a politica
da Mesa do Desembargo do Paço, a quem as Camarás são immediatamente su-
jeitas, que nunca jamais alterou resolução alguma que ellas na sua repartição to-
massem, sem que primeiro as ouvisse, concluindo ultimamente o referido Gover-
nador, e Capitão fieneral com o novo tributo, que impôz aos Officiaes de Justiça,
e a que se refere o Documento Numero dezaseis.

Vendo algumas pessoas da Nobreza da Cidade de Ponta Delgada e entre


ellas os actuaes Vereadores, e alguns Officiaes do Batalhão, que n'clla ha, a des-
graça, e consternação, em que ficavam os Ilabitantcs da Ilha, piivados da sorte,
reforma e adherencia ao Reino de Portugal, e sujeitos ás violências, c usurpações
do Ooverno de Angra, e aproveitando-se das censuras, e miirmurações, a que uma
e outra desgraça obrigava o Povo, se deram as mãos com as cautelas, que pedia
a gravidade da empreza, e do modo que expõe o Documento Numero dezasete,
e incorporando-se com o rçferido Batalhão na manhã do primeiro do corrente se
1 032 REVISTA ^ICHAELEN

conduziram á Casa da Camará, c com os devidos e costumados vivas á Nossa


Santa Religião, ás Cortes, e Constituição de Portugal, e ao Nosso Augusto Sobe-
rano, e a sua Serenissima Pamilia, acompaniiados de muito Povo, que já na praça
defronte da mesma casa se acliava, e seguidos de descargas do mesmo Batalhão, e
d'artillleri:i de Campanha, que comsigo trouxera, c do castello de San Braz da
mesma Cidade fizeram a desejada Proclamação.
Como este Auto era propriamente da Camará ella da parte da Nobreza repre-
sentada nas sobreditas pessoas, e do Batalhão, e Povo dirigiu um Officio do teor
do DoíUmetlto Numero dezoito ao Oovernador da Ilha Sebastião José d'Arriaga
§ri(m da Silveira, que devendo concorrer com a decência, que pedia um acto de
tanta consideração, appareceu de capote, e tão perturbado, que foi preciso prende-
lo no seu quartel, e por-lhe uma guarda de observação; e ouvindo entretanto as
mais pessoas da Nobreza, e Povo da Cidade que se .proclamava a constituição,
concorreram logo ás casas da Camará, e praça, onde estava postado o Batalhão,
e lendo-se o Auto da InstrMIação do novo Governo, que foi preciso erigir, presta-
ram o juramento debaixo da formula, de que uzara o Governo do Porto, e que
d'estes casos era a única, que havia na Ilha, e immediatamente passaram á Matriz
da mesma Cidade onde se tinham ajuntado as trez Collegiadas, e a Communidade
do Convento de San Francisco que n'ella há, e se cantou de Musica, e Instrumen-
tal um— Té-Deum-em acção de graças a Deus Nosso Senhor pela felicidade, com
que se fizera aquella Proclamação, tudo da forma que mostra o Documento Nu-
mero dezanove.
A uniformidade de vontades, satisfação, e alegria foi tão grande, e tão geral
cm toda a Cidade, que á noite não só se fez nas fronteiras das casas da Camará
uma extraordinária, e excellente illuminação, e ás mesmas casas concorreram todas
as pessoas de bem, e de instrucção, e recitaram Sonetos, e outras poesias de ju-
bilo, c allusivas á occasião, mas também toda a Cidade e Subúrbios pôz geralmen-
t: luminárias, e continuou os dois dias immediatos tudo espontaneamente e sem
a mais leve ordem d'Auctoridade alguma.
Logo no dia seguinte os seis, que haviam sido nomeados para o Governo,
prestaram o juramento do modo, que se vê do Documento Numero*vinte, e fize-
ram suas participações tanto ás Camarás das cinco villas, que ha na Ilha, como
aos commandantes dos dois Regimentos de Milícias da villa da Ribeira Grande, e
de Villa Franca do Campo por Officios concebidos nos termos, que mostram os
Documentos Numero vinte e um, e Numero vinte e dois, acompanhados uns, e
outros, com as copias do sobredifo Auto de Installação, formula de Juramento, e
assignaturas.
No dia trez concorreram do Governo o Commandante, e mais Offici-
á Sala
acs do Regimento de da Cidade de Ponta Delgada, e prestaram o mes-
.Milícias
mo Juramento, que se havia deferido no dia da Installação; e outro tanto pratica-
ram no dia quatro o Commandante, e Officiaes do F^egimento de Milícias da
Villa da Ribeira Grande, assim como também no dia cinco o Coronel, e Officiaes
do Regimento de Milícias de Villa Franca do Campo, e no dia sete es Comman-
dantes, e Officiaes das duas Capitanias Mores do Distrícto da Cidade, como tudo
se vê dos Documentos Numero vinte e trez, até Numero vinte e seis, e no dia
oito se cantou na Egreja Matriz uma Missa com sermão, e Te-Deum de Musica,
c Instrumental com assistência de toda a Nobreza da Cidade, e de todos os So-
breditos Officiaes de Milícias, e Ordenanças, postado o Batalhão defronte da
Igreja, onde aos costumados tempos deu as devidas descargas de mosqueteria, o
d','\rtillieria de Campanha, que eram sempre seguidas das do Castello de San
íraz, e á noite se seguira o mesmo concurso, e illuminação das casas da Camará
e luminárias do dia da Proclamação.
Outro tanto por virtude dos Òfficio^ que ás respectivas Camarás se haviam
dirigido, praticaram todas as cinco Villas da Ilha, convocando cada uma a No-
breza, Clero, e Povo do seu Djstricto, e fazendo as suas festas do modo, que lhe
REVISTA MIC HAELEN SE 1033

foi possível, e ;io (joverno Interino os competentes Autos, que


reinettendo de tudo
formam os Documentos Numero vintj e sete, até Numero trinta e um, e semelhan-
temente, ao mesmo Cloverno foram concorrendo a Corporação dos Écciesiasticos
da Cidade a dns líelisiosos Fianciscan )s, e Oraciauos por seus Prelados, os Mos-
teiros de iTeiras por seus Officios, e tis Corpos doi Negociantes, e Mercadores, e
as demais pessoas de reprcsentavãn, c)mo tudo se vê dos Documentos Numero
trinta e dois, atí' Numero trinta e cin.-o, e d'esta forma tem os ilabi^'^ntcs de toda
a Ilha de han VUi^uel espontaneamente proclamado, e jurado a Constitifição de
Portugal.
Logo depois d'esta união, e conformidade de toda a Ilha fez o novo Ooverno
Interino ao Publico um Manifesto, que se ajimta por copia debaixo do Documen-
to Numero trinta e seis, e em que não só lhe agradecia a sua adherencia, mas
também lhe patoiíteavT os fins, que tiveram em vista os que haviam movido esta
mudinça, e cuj i necessidade, e utilidade tanto a beneficio da Ilha, como do Rei-
no de Portugal, pelos com p, 'tentes Deputados se lia-de representar, c demonstrar
a Vossa Magestade, e se mandou affixar na Cidade de Ponta Delgada, e nas men-
cionadas cinco \'illas.

Não sendo estes projectos compatíveis com o Cioverno Geral e Juntas consti-
tuídas na Ilha lerceíra, e muito menos com ordens do Governador
as despóticas
e Capitão General Francibco de Borja Garção Stockler, para regulamento, e direc-
tório das Justi;;as se deram interinameiUe as providencias, que constam do Docu-
mento Numero trinta e sete, e ao mesmo tempo se mandou suspender a cobrança
da Decima das casas, c do sello das heranças, e Legados, aquella por se achar
commutívda em outros Impostos, que se lhe substituíram para os mesmos fins, a
que ella se dirigia, -e este por ser um tributo, que para se liquidar invnlve mais des-
pesas do que a sua mesma imporíaiu-ia, e não poder em circunistancias tnes uma
o outra cousa ser da approvação de Vossa Magestade, como egualmente a seu tera-
po se fará ver, e representar.
Para tudo isto ficamos tratando das Lleições dos Deputados pelas novas Ins-
trucções de vinte e dois de Novembro de mil oito centos e vinte, que cassando as
de oito antecedente regulam a Lleição dos Compromissarios, Eleitores, e Deputa-
dos das presentes cortes, e ainda que ellas sup lonham diversas comarcas em uma
Província, e isto senão verifique na Ilha de San Miguel, que não contem mais do
que uma só comarca; seguindo comtudo o espirito d'aquellas novas Instrucções
procuraremos encher á letlra quanto nos permittirem as circumstancias politicas da
Ilha, e se para tirar toda a duvida Vossa .\\agestade houver por bem dar-nos uma
norma particular, e adequada a estas circumstancias com menos receio, e mais se-
gurança procederemos.
Heis, Senhor, os passos, que tem dado os Habitantes da Ilha de San Miguel
para seguirem a sorte do Reino de Portugal, e poderem entrar na sua reforma, e
com elle fazerem causa coinmuni; e as medidas, que tem tomado este Governo
para |>romovcr a hlleição de seus Deputados, e conservar a Ordem publica; mas
como tudo isto é interino da parte dos mesmos lUbitantes não só rogamos a Vos-
sa .Magestade queira recebe-los no S:u grémio, como parte integrante do mesmo
Reino, e dar as Providencias, que julgar a j^roposito a respeito do seu Governo
da mesma forma, que pratica com as Províncias de Portugal; mas também visto a
Ilha se não achar com a defeza, de que na rescnte conjuncção precisa, apesar das
|

grandes sommas, que se tem gasto nas chamadas fortificações, que não serviram
maií do que para arruinar essas poucas, que havia, e que se tem exportado para
a Ilha Terceira, sem attenção alguma á necessidade em que a este respeito se acha
a de San Miguel, rogamos outro sim a Vossa Magestade hajav por bem mandar-
nos prestar os Socorros, e munições que vão insinuadas no Documento Numero
trinta e nove; e Supposto por aquellas exportações das rendas publicas não haja
cabedal sufficiente para a sua importância, comtudo ficamos cuidando na cobran-
1034 ftfcVlS tA MIÇH AE lfeNSC

ça de algumas das gi'aíides sornmas, v^ue d'ellas se devem, para Vossa Mâgestâdè
\ht dar o destino, que fôr servido.
Deus fíuarde a Vossa Magestade por muitos e venturosos annos. Sala do (jo-
verno Interino da Ilha de San Miguel aos 22 de Março de 1821.
O
Coronel António Francisco de Chaves e Mello— Presidente— André da
Ponte de Quental da Camará Souza— Vice-Presidente— António Francisco Bo-
i

telho de Sampayo Arruda— O Bacharel João Bento de Medeiros AAantua- Jacinto


Ignacio Rodrigues Silveira— Veríssimo Manoel de Aguiar.

Conferido

Hermogenes /osé Oomes Max."

Mas n'essa politica de Separação era a Camará de Ponta Delgada quem to-
mava a parte mais activa e importante c o Procurador do Cjncelho José eite de I

Chaves é quem é o relator dos principios a que devem ser sulimettidas as bases
administrativas da nova organisaçâo politica independente daslliias do grupo ori-
ental de S. Miguel e Santa AAaria.
A primeira peça é esta justificação para provar a necessidade da Ilha de S
Miguel ser separada do Governo d'Angra.

JUSTIFICAÇÃO
para provar a necessidade da Ilha de San Migdçl ser separada do
Governo de flngra; 1821

Diz o procurador do concelho d'esta Cidade que para bem de sua justiça e
para poder Representara Sua Magestade e ao Soberano Congresso das Cortes de
Portugal o que convém aos povos d'esta Ilha pretende justificar o seguinte :

1."— Item que esta ilha de San Miguel ficando no meio do Atlântico dista da
Ilha Terceira mais de quarenta léguas e ainda fica mais afastada das outras dos
Açores.
2.°— Que as correntes do mar que separam aquellas lllias são tão fortes no in-
verno que as fazem incommunicaveis por muitos mezes resultando desastrosos nau-
frágios a alguns Navios que pretendem abordal-as; e outrrs arribados a Por-
tos muito distantes da Europa, Africa e America, quando navegam d'umas para
outras pela dependência em que tem estado do Governo de Angra.
, 3."— Que sendo esta Ilha de San Miguel quasi egual em cxtensSo á de Angra
é dupla, ou tripla em intensão pela sua população, rendimentos c commercio.
4.°--Queesta Ilha de San Miguel tendo superabundantes géneros de suas ito-
ducções para o consumo da sua população nenhuma precisão tem das outras
Ilhas, nenhuma dependência d'ellas, c muito menos da Ilha Terceira, para por el-
las, ou por ella ser soccorrida, e quando chegasse á hypothese de precisar algum
soccorro mais fácil liie seria havcl-o de Portugal, ou d'outros Portos da Europa, até
porque para aili exporta os seus géneros sobejos e a troco d'clles poderia prover-
se do que precisasse.
5.°--Que pelos mesmos motivos da distancia em que se acha das outras Ilhas,
e bravura dos mares que as separam não pode jamais receber d'ellas algum soc-
corro no caso de ser acommettida por alguma força inimiga superioras suas forças
internas pela difficuldar^e de communicar esse ataque e collisão em que se vir aos
governos das outras Ilhas e maior difficuldade ainda em lhe vir de lá soccorro pois
que devendo este vir pelo Mar não ha Navios d'aquellas alturas que conduzam
Tropas, e os mais provimentos bellicos para sua defeza e quando viessem cahiriam
nas mãos do inimigo que com suas armadas bloqueassem a mesma Ilha.
b." — Que em taes circumstancias só pode a mesma ilha ser soccorrida pela
Mãe Pátria porque de Portugal pode esperar todos os soccorros assim de gente
como petrechos bellicos em embarcações foi-tes que resistam a uma tal invasão.
7."— Que egualmente lhe é inefficaz, e desproveitoso o governo Militar da dita
Ilha com dependência do Governo de Angra, porque devendo as providencias da
sua defeza ser promptamente dadas deve o Commandante Militar da mesma Ilha
resolver por si e com o conselho Militar n'ella estacionado os negócios occorrentes
sem estar esperando a resolução da lliia Terceira já pela difficuldade em conse-
guir esse Conselho que p.)de demorar-se mezes «em se obter e vir a tempo de es-
tar perdida a causa da mesma defeza, já porque não estando o Governador de
Angra ao facto do negocio que pode variar de circumstancias d'um para outro mo-
mento podem esses conselhos vir a tempo de serem mais prejudiciaes que provei-
tosos á dita defeza.
8."— Que á vista do exposto vem a ser inútil a esta ilha adependência do Qo-
verno Militar d'ella do Governo Militar de Angra, e muito mais conveniente útil e
proveitoso lhe é communicar se directamente com o governo de Portugal no que
respeita á sua defeza.
9."— Que pelo que toca ao Governo Civil e Criminal militam eguaes motivos, ou
ainda mais poderosos para deverem os cargos das magistraturas ser independen-
tes em suas deliberações d'algum m.igistrado ou corporação esticionada na cida-
de de Angra, e é mais commodo e proveitoso a todos os povos que alli se deci-
da.n todas as questões Civis e Criminaes na primeira instancia tendo por ultima
instancia as Relações estjbeleciJis e:n Lisboa tinto porque para alli teem mais fá-
cil correspondência já por paquetes e já por fimbarcações mercantis que todos os
mezes, ou variados em cada m.z saliem d'esta ilha para Portugal, já pela facilida-
de de pôr alli os seus fundos pelos géneros que se exportam para Portugal; ]á
porque em Lisboa tem mais doutos advogados que os defendam, e ministros mais
sábios e imparciaes que decidam as suas questões quando n'aquella Ilha Terceira
alem das ponderadas diffi:uldiJes dt cominunicação é preciso mandar moeda que
empobrece esta ilha; não ha lett.ados beneméritos, e os mesmos defeitos deo rdinario
concorrem nos Ministros que alli võo ad uinistrar Justiça, porque sendo nos pró-
prios lugares, e achando-'^e distantes da Corte e de, quem pode corrigir as suas ac-
ções é fácil a prevaricação quanto é diíicil os povos remediar os inales que
d'aqui lhe resultam.
10.°— Que .alem d'isto accresce o ódio, e rivalidade que tem ha muito a esta
parte os habitantes da Ilha Terceira aos povos d'esta tlha; ou seja por ver em a
sua maior populição, riqueza e commercio tudo devido á sua, actividade, e á sua
industria, e.não poderem competir com elles, d'aqui resulta procurarem todos os
meios de vexa-los e opprimi-los nas suas pessoas, na sua honra, e na sua fazen-
da, fazendo os esforços com todos os Mandantes que tem na mesma Ilha Ter-
ceira para macular os seus créditos e deprimi-los por todos os lados até com si-
nistras informações que fazem levar aos Iribumes Superiores e á Real Presença
íazendo-se por isso sempre suspeitos aos povos d'esta Ilha, para conhecer das
suas causas.
\\.° Que por esses motivos tem os povos d'esta Ilha soffrido ha muitos an-
nos a esta parte oppressões e vexaçõ-;s em suas pessoas e l^ens, e tem a fazenda
nacional experimentado as maiores extorsões e delapidações em consequência das
ordens emanadas d'aquelle Governo de Angra mancommunadas com a Junta da
Fazenda Nacional alli estabelecida.

12." Que antes mesmo de ser creado o batalhão da mesma Ilha Terceira es-
tabelecido por ordem Regia vinham a cada hora ordens expedidas aos Governa-
dores d'esta para procederem ao recrutamento, as mais rigorosas a titulo de se pro-
verem os logares vagos do pé do Castello que na mesma Ilha Tesceira existia.
13."- Que depois de erecto o Batalhão na Ilha Terceira cresceram or recru-
tamentos que n'esta Ilha se mandavam fazer; e sendo pelo ex-general 1'rancisco
1 036 ^VjSTA MlCHAt^VíSE

António d' Araújo erecto unri segundo batalhão na dita lllia Terceira foi este o no-
vo pretexto para novos recrutamentos.
14."— Que taes recrutamentos tinham só por objecto attrahir gente para aquei-
ia Ilha para depois serem vendidos os recrutados como escravos pois que eram
obrigados a comprar a sua liberdade aos (lom mandantes militares e a todos os
que influíam no Governo de Angra.
15.° —
Que sendo resgatados estes miseráveis recrutas com o seu próprio di-
nheiro immediatamente se procedia a novos recrutamentos que se iam pôr etn
venda na dita cidade de Angra ao que mais desse pela sua liberdade.
ló."— Que aquelles recrutas eram ordinariamente extrahidos da classe dos la-
vradores, e trabaliiadores do campo, e mais prédios rústicos e com elles não só
tem diminuído a Agricultma que hoje podia ter crescido e com ella as producções
d'esta Ilha, mas também diminuido muito com a sua População que podia ser do-
brada, tanto assim
Que achando-se mais de metade d'esta ilha sem cultura por falta de po-
17.°—
pulaçtão e de braçosque se emprtguem em rotear as terras maninhas, os povos
por si mesmo industriosos e laboriosos sem precisão de serem auxiliados e pro-
movidos por si mesmo tratariam de abrir essas terras incultas para d'ellas cxtrahir
fecundas producções.
18.°— Que com taes recrutamentos se multiplicaram as despezas da fazenda
Nacional por ser preciso e indispensável dispender muito em cada uma das novas
recrutas no seu transporte d'uma para outra ilha no seu sustento e fardamento
primeiro que chegasse a estado de fazer serviço, c todas essas despezas eram perdi-
das para a fazenda nacional pelas baixas que se dava em almoeda.
19." —
Que não contentes os ditos Mandantes da Terceira em assim persegui-
guirem os Povos d'esta Ilha por aquclle modo tratando-os como manadas de Ove-
lhas e Escravos da Quine e em delapidarem por aqueJle modo a Fazenda Nacio-
nal elles remettiam a cada passo ordens aos Governadores d'esta Ilha tendentes a
destrui-la, e a consunur os dinheiros da fazenda nacional.
20.° —
Que semelhantes ordens foram enviadas ao Governador Francisco de
Paula Cavalcanti, ao seu Successor Sebastião José de Arriaga Brum da Silveira,
para reparar as fortalezas da costa d'esta ilha debaixo da inspecção do Engenhei-
ro Francisco B )rges, e entend-endo-se elle em sua execução com o Governo de An-
gra fez demolir as principaes obras das fortalezas de San Braz, para sobre ellas cons-
truir outras, inutilizando as grandes despezas que se haviam feito coma sua cons-
trucção e accrcscentando despezas á fazenda nacional que exgotartam os seus the-
souros.
21."- Que alem d'esta
Fortaleza destruiu outras qu: existiam por toda a costa
da Ilha, bem construídas, em pontos salientes, e mais próprios para a sua de-
e
feza fazendo de novo outras obras no interior da Ilha que nenhuma defeza podem
produzir no caso de ser acommettida por força inimiga disi^endendo com isto som-
mas immensas ao thesouro Nacional, e vexando os povos sobre maneira.
22." "Que não contentes os ditos Mandantes de Angra com taes despotismos
mandaram outra ordem ao dito ex-governador Sebastião José d'Arriaga Brum da
Silveira para reparar as estradas de toda esta Ilha com o pretexto de ser preciso
haver n'ellas estradas militares para por ellas transitar artilheria no caso de algu-
ma invasão iiiiniiga quando taes estradas só iwdiam favorecer os aggressores e
quando toda a defeza d'esta ilha é exterior, e uma vez que uma força armada de
Tropa i)odesse assalta-la nenhuma resistência poderia oppor-se-lhe como é bem re-
conhecido por todos os intelligentes da matéria.
23.° —
Que este plano só teve por objecto exgotar o Thesouro Nacional com
despezas extraordinárias e inúteis, vexar e opprimir os Povos d'esta Ilha com pe-
didos enormes, e fachinas violentas, exigindo de cada um dos pobres miseráveis
Jez, doze, e mais dias de trabalho gratuito, as suas bestas, os seus carros, sem ne-
RlEyiSTA MICHAELENSIE 1 037

nhum estipendio e se aloum faltava era multado, preso rigorosamente e castigado


fa/endo-o chegar ao ultimo apuro.
24."— Que o diio ex-Cieneral Araújo não contente em mandar praticar tão de-
sastrosas obras fez chamar as principaes pessoas queoccupavam os primeiros pos-
tos Militares d'esta Ilha para irem na cidade de Angra apprender a nova táctica
Militar e virem insina-la aos seus subalternos, sendo este ardil capeado com o
zelo do Real serviço inventado para sacar a cada um d'aquelles officiaes uniA
grande somma e conseguida ella todos se vieram embora no agrado dos seus su-
periores depois de lhe terem feito experimentar os riscos do mar,o desarranjo das
suas casas, e das suas famílias, e uma despeza enorme nos seus transportes sem
algum fructo do Reaj serviço.
25."— Que os referidos Mandantes Militares querendo evadir-se a tantos in-
commodos, riscos e despezas se offereceram em mandar vir á sua custa um ins-
tructor da Cidade de Angra que os instruisse na dita nova táctica, e foram desat-
tendidos na sua pretenção.
2ò." -Que não contente o dito ex-general Araújo na instrucçâo que fez dar
áquelles officiaes Militares passou depois a remetter outros instructores a quem
quiz favorecer para virem n'esta ilha praticar novas extorsões, e hostilidades que
espantaram os povos d'esta lliia de San Miguel que, assimilhados aos escravos, senti-
ram a maior satisfação quando viram preparar a Regeneração politica de Portugal
na Heróica, muito Nobre e para sempre Leal Cidade do Porto, e maior ainda quando
viram abraçada tão justa e santa determinação por todos os povos do Reino pela
lisongeira esperança em que ficaram de ser resgatado o seu captiveiro.
27." —Que costumados estes i^ovos ao soffrimento e a uma cega obediência ús
Auctoridades Constituidas viram de repente eclipsado aquelle brilhante sol que da
Luzitania os illuminava pelas ordens emanadas d'aquella Ilha Terceira e do Ge-
neral Stockler, successor do dito Araújo, uma devassa occulta se abriu contra todos
os que falassem sobre os benefícios da Nova Regeneração Politica de Portugal,
quebra-se o sagrado sigillo da obreia e ficou interrompida a correspondência dos
homens e até era prohibido ler papeis públicos.
28."— Que n'este e tado de coisas foi una e universal a voz de todos os habi-
tantes d'esta Ilha "sigar.:os a causa de Portugal e adherindo a ella ficaremos livres
das oppressões que até aqui soff riamos, mas com independência do (loverno de
Angra".
2Q."—Qi\e com esta clausula e condição foi bastante que meiíduzia de No-
bres Cidadãos protegidos por trinta soldados do Batalhão d'esta cida^, que a isso
se offereceram debaixo das ordens dos s.?us officiaes superiores -apparècessem na
casa da Camará no memorável dia primeiro de Março do corrente Anno, e alli
proclamassem obediência ás Cortes, ao Rei, e á sua Dynastia, respeito' á Religião
Catholica Romana. O seu echo tocou todos os corações e foi repetidp com ale-
gria por todos os habitantes d'esta Ilha que na maior paz, e tranquilidade corre-
ram apressurados a cumprimentar os Auctores da Sua Regeneração é a subscrever
os Actos que n'aquelle dia se formaram. v^í^
30.° -Que a não ser as esperanças de se verificar aquella clausula da inde-
pendência do Governo de Angra nem aquelles lieroes, e Nobres cidadãos expo-
riam a sua honra, a sua vida, a sua fazenda a uma empreza\:!tãG arriscada, nem os
povos d'esta lliia protegeriam a sua causa, e talvez acontecessem ps mesmos ou peo-
res desastres que tem assolado os Angrenses e que tantosxmdados e despezas tem
attrahido á Mãe Pátria -l'cdea Vossa Senhoria lllustrissima Senhor Juiz Vereador
seja servido mandar proceder na dita justificação e se lhe dêem os instrumentos

que pedir e receberá A\ercè- Rego Botelho.
Contem os depoimentos das seguintes testemunhas:— Joaquim José Arnaud, ne-
gociante; Manuel de Sousa Simas, Patrão-Mór; Manuel José António da Costa, Manuel
de Sousa Rezendes, negociante; António Rebello de Carvalho, negociante; Capitão
Bento José de .Medeiros, proprietário da Povoação; José hrancisco Roiz de Lima,
1038 1»TeVlSTA MmrtAlÊL£>ÍSlE

negociante; Nicolau Maria Mirfim, negociante; Agostinho Borges Henriques do


Canto, proprietário; Manuel Joaquim de hontes, negociante; que todos confirma-
ram o ailegado.
Koi julgada por sentença aos 11 de Dezembro de 1821. Escrivão João |-ran-
cisco de Oliveira, Ponta Delgada.
(O Original no Cartório da Relação dos Açores).

E antes do fim do anno, no dia 7 de dezembro, é lida pelo mesmo Procura-


dor e approvada pelas outras Camarás dos outros Concelhos reunidos conjuncta-
mente em Junta (jeral na Sala das Sessões das Commissões Administrativas a
representação que se segue para ser apresentada ao Soberano Congresso.

Aos sete de Dezembro do corrente anno de mil oito centos e vinte um, sendo
nas casas da Camará e J^aço do Concelho d'esta cidade de Ponta Delgada e ca-
beça da Comarca da Ilha de San Miguel e Santa Maria, achando-se congregados
os vereadores da mesma camará para deliberar sobre negócios importantes do in-
teresse geral dos povos da dita cidade e Comarca a instancia do í^rocurador do
Concelho José Leite de Chaves e Mello e do Syndico e Accessor da dita Camará
o Bacharel JV\atheus de Andra le Albuquerque Bettencourt em conformidade do
Alvará de ò de hevereiro de 1614, ahi compareceram egualmente os vereadores
das outras Camarás da mesma Ilha para requererem e accordarem sobre os di-
tos importantes negócios o que enten-
dessem ser mais proveitoso aos povos
que cada uma d'elles representa.
2."

Tomando todos os vereadores os


seus devidos assentos logo pelo referi-
do procurador do Concelho e dito Syn-
dico e Accessor d'esta Camará foi pro-
posto que sendo publicas e notórias as
oppressões e flagellos cem que os go-
vernos de Angra iia muitos annos a es-
ta parte teem deprimido todos os po-
vos d'esla ilha e Santa Maria com as
suas ordens arbitrarias e despóticas as
sim no militar como no civil, Crime e
Ecclesiastico, e as delapidações com
que tem exhaurido o theioiro Nacional,
era conveniente que n'estc congresso
se deliberasse, se por taes motivos de-
via fazer-se uma ao So-
representação
berano e Augusto Congresso
das (for-
L»yúá'
tes Extraordinárias de Portugal, e a sua
o bítthart'1 Matheus d Andradf Albuquerqiw Magestade pedindo-lhe ficasse esta Ilha
Bettencourt Syndico da Camará e redactor das e a de Santa .Maria formando uma pro-
pririfipaes representações da Camará no
víncia distincta das outras Ilhas dos A-
Governo da Regência
çores e somente subordinada em tudo
aos Governos de Lisboa e sem alguma dependência do governo de Angra.
3.'

Discorreram sobre este assumpto em nome dos povos d'esta Ilha que repre-
sentam todos os ditos vereadores, declararam que era o maior de toJos os bens
que podiam advir a estes povos com a regeneração politica de f^ortugal o ficar es-
ta ilha com a de Santa Maria para sempre independentes do Governo da Ilha Ter-
ceira constituindo uma só Província distincta com directa sujeição aos governos
B &VistÀ MICHAEL ENSE 1039

de Portugal estabelecidos em Lisboa, não só por terem com Portugal mais fácil
commuiiicação c correspondência c para aiii costumarem exportar os seus géneros
mas também porque dos mesmos tribunaes do Reino sempre teem recebido mais
prompta e recta administração de justiça quando ao contrario dos governos de
Angra só teem emanado ordens oppressivas para esta Ilha tendentes a escravisar e..-
tes povos e destruir os seus estabelecimentos agrários, commerciaes e económicos e
destruir a fazenda Nacional com extorsões, roubos e inúteis applicações quando os
mesmos governos de Angra nenhum proveito ou beneficio podem communicar a
estes povos com os quaes sempre tiveram uma declarada rivalidade.
4."
Lembraram os mesmos vereadores assim congregados que sendo descoberta
esta ilha no anno de mil quatro centos quarerita e quatro, foi sempre governada
com independência das outras pelos seus Capitães donatários que entretinham as
suas relações directas com I^ortugal sem que os senhores reis d'estes reinos se lem-
brassem de subordina-la ao governo de Angra até que no anno de 1643 foi pro-
posto em Cortes pelo Senhor D. João IV devet crear-se em Angra um Qoverno
para n'elle reunir a Bicha de tantas cabeças, quantas eram as ilhas dos Açores e
oppondo-se a isso um nobre fidalgo de Angra, Procurador e deputado na» mes-
mas Cortes disse: <-que a Bi.ha assim nascida e creada com muitas cabeças vivia;
e que cortando-se alguma d'ella3 ou morreria ou mudaria de vida-; então resol-
veu El-Rei que nunca lia^eria Qoverno Oeral nas mesmas Ilhas, o que foi depois
confirmado por alvará de 15 de Junho de 1654.
5."

Que por este modo se regeram todas as ilhas com Governos independentes
umas das outras e cresceu a sua população, a sua agricultura e o seu commercio
floresceu; quem hoje pisa os seus terrenos só pode ajuizar as grandes fadigas, pe-
nalidades, e dc5p?za5 a que se expuzeram os seus primeiros povoadores e os suc-
cessores d'estes para reduzirem á cultura montões de penhascos e escabrosas pe-
nedias, productos vulcânicos de que são pela maior parte compostas as ditas Ilhas
e o resto mattos bravios inaccessiveis reduzindo tudo a campos férteis e fecundos.
6."

Que prosperidade a que subiram as ditas Ilhas murchou e ellas tenderam


esta
á sua decadência desde o anno de mil sete centos e sessenta e seis em que foi
creada a Capitania 'jeneral das mesmas Ilhas na Cidade de Angra, e tem conti-
II liado ate ao presente porque os seus governadores só teem tratado de escravisar
estes povos, vexa-los e opprimi-los.
7."
Reconheceram confessaram os ditos vereadores congregados que sendo no
e
feliz dia primeiro de ^\arço do corrente anno proclamado n'esta cidade, e nos pa-
çi)S do concelho d'ella o òo^ erno Constitucional que o Soberano e Augusto Con-
gresso das Cortes de Portugal formasse se observasse, em todos os povos uma
commoção geral, que os impellia a proceder tumultuariamente contra aquelles iie-
roes que primeiro se expuseram a pôr em pratica uma tão grande obra e contra
todos os que os seguiraru; mas logo que lhes foi promettida a sua independência de
Angra viram-se acalmados todos os ânimos, a causa se fez commum e universal,
a mais doce satisfação se espalhou em todos os corações e esta Paz inalterável tem
durado até ao presente maiormente depois de ter sido confirmada aquella indepen-
dência pela Portaria de 2 de ,\\aio de 182L
8.»

Ponderaram que ainda mesmo pelo que pertence aos negócios ccciesiasticos se-
ria de grande importância para esta Ilha e a de Santa Maria desligal-a do Bispado
de Angra pelas difficuldades que ha nos recursos e communicações com a quella
Ilha Terceira creando-se um bispado na mesma Ilha com os rendimc-ntos quen'el-
la são applicados para sustentação do Bispo de Angra e superabundam para subsis-
tência do nosso episcopado ou assignando-lhe um certo rendimento de trez ou qua-
1 040 REVISTA MICHAELENSE

tro mil cruzados muito equivalente para sua decente sustentação e tratamento
maiormcnte accrescendo os emolumentos que lhe -provêm da Secretaria ficando
remanescendo outro tanto ou mais a beneficio da Fazenda Nacional.
9."
Lembraram que cidade bem podia ser a Sé da Diocese Mi-
a Matriz d'esta
cfiaeiense com os beneficiados d'elía sem necessidade de se crearem Conezias c
outras dignidades que só servem de luxo, e de augnicntar despezas sem que resul-
te beneficio á religião, ao bem espiritual das Almas; ou aliás se represente ao So-
berano e Augusto Congresso das cortes e a sua Magestade para que esta Ilha, e
a de Santa Maria fiquem em tudo subordinadas á Cúria fatriarchal de L.isboa.
10."
Ponderaram que cliegando iMoximamente de Lisboa uma embarcação de lá
zc annunciava estar quasi perdida a Causa da independência da nossa ilha e a
ponto de ser decidido no Soberano e Augusto Congresso das Cortes que devíamos
tornar a ser escravos e sujeitos ao detestável governo de Angra que uma pro-
;

funda melancholia se apoderou de todos os ânimos, um sussuro geral se escuta em


todas as famílias, que espanta, horrorisa e faz recear as mais funestas consequên-
cias por mais brilhante; e lisongeiras cores com que se adorne o captiveiro que
nos é decretado porque elias não podem eclip.rar a lembrança dos males passa-
dos, porque sendo doce ao homem passar da desgraça ao cume da felicidade,
da escravidão á liberdade regulada pela Lei, é insupportavel o transtorno que
o precipita do elevado monte da ventura no abvsmo da desgraça.
11."
Que crime comuictteu povo perante o Augusto e Soberano Congresso das
este
Cortes de Portugal e perante o throno onde reside o melhor dos reis para mere-
cer tão grande golpe quando ha pouco foi applaudida por todo o Soberano Con-
gresso das Cortes a sua heróica resolução 'do dia primeiro de Março do corrente
anno, tanto mais gloriosd por serem os primeiros dos açoreanos que deram um
exemplo espantoso de ndhesão á causa de Portugal, rompendo pelos maiores obs-
táculos que a isso se lhe oppunliam pelo despótico governo de Angra, e seus sa-
tellites n'csta ilha, e arrostando os maiores perigos?
12."
Sejam beneméritos da Pátria os primeiros que proclamaram a Regeneração
politica de Portugal expondo as suas vidas, a sua fazenda, a sua honra e o seu
credito aos maiores perigos para salvar a Nação do abvsmo em que estava sepul-
tada pelas depravações do seu mau governo jiara a elevar outra vez ao cume da
Oloria, que em tempos heróicos a fez dominadora dos mares, conquistadora de
vastos domínios dando em tudo lei ás outras nações; não deixam egualmente de
ser beneméritos da Patrii aquelles primeiros insulanos que no dia primeiro de
Março do corrente anno cortaram o nó que os prendia e subjugava ao governo de
Angra e proclamaram uma firme adhcrencia ás ditas Cortes e os povos que os se-
guiram em paz e socego não são menos digno-; de taes applausos.
13."
Sc as ilhas de S. Miguel e Santa Maria fossem conquistadas pelos portugue-
zcs não deixariam hoje de ser considerados os seus habitantes como cidadãos
cguaes em Direitos aos que habitam o Solo Lusitano; mas cilas não foram con-
quistadas e por outro mais nobre titulo entraram no domínio da nação. De [-"or-
tugal vieram os seus primeiros pjvoadores filhos das mais nobres e distinctas fa-
mílias do Reino; e os seus descendentes continuaram a fazer-se sempre distinctos
na paz e na guerra fazendo muitos e grandes serviços ao Reino e á Pátria, c de-
vem por isso ser protegidos pelo Soberano e Augusto Con -^resso, e por Sua Ma-
jestade El-Reí Constitucional.
14."

Continuaram os ditos vereadores dizendo não era de acreditar que aqucila


Ilha Terceira onde tem reinado por todos os aiiirnos maior opposiçáo ao go-
3,
Revi sta M icmaelknse 1041

verno representativo e constitucional, c onde ainda hoje domina uma anarcliia sem
limites bem que abafada peia Auetoridade que tantos ineommodos, despezas e
cuidados teem dado ao Soberano e Aujjusto Congressio das Cortes e ao Governo
de Portugal para subjuga-los e attrahi-los ao caminho da Virtude venha a ser a
nossa dominadora por determinada resolução do mesmo Soberano e Augusto Con-
gresso das Cortes aonde se acham reunidos os mais sábios e justos Varões da
Nação, e se tal acontece ver-sc-hia castigada a virtude e premiada a maldade.
1
õ."

Não é acreditável que aquelle Soberano c Augusto Congresso das Cortes de


Portugal faça inútil a promessa que em seu nome deu a estes povos o Governo
d'esta Ilha no dia primeiro de Março do corrente anuo de ficar independentes de
Angra e livres da escravidão que por tantos annos soffreram niaiormente dspois
de lhe ser confirmada esta garantia pela lembrada Portaria de 2 de Maio de 1821
até porque contendo esta Ilha com a de Santa Maria uma população que excede
a setenta mil habitantes, e pelas suas riquezas vale ta;ito ou inais do que todas as
outras dos Açores, venha a ser subjugada, e commandada por aquella Ilha Ter-
ceira que lhe c em tudo muito inferior.
10."
t: I)ortodas estas razões accordaram se dirigisse ao mesmo Augusto e So-
berano Congresso das Cortes extraordinárias de Portugal e a Sua Magestade a
ponderada representação em nome de todos os povos d'e3ta e da Ilha de Santa
Aíaria pedindo-lhe ficassem e.itas lllns inteiramente independentes da Ilha Ter-
ceira no governo Civil e .Militir e criniinil e de Fazenda e directamente subor-
dinadas aos governos superiores de Lisboa; que as questões civis, e criminaes
se decidam na primeira instancia psios ministros territoriacs, e em ultima ins-
tancia pelas relações estabelecidas em Lisboa sem dependência de se crcar i^^/esta
província uma Relação, que trazendo muitas despezas á f-azenda Nacional não au-
gm.-nti o bem dos i^ovos, nem lhe dimirme as suas despezas, quando na corte vão
buscar em ultima Instancia a sua final decisão por Ministros Sábios e Imparciaes;
que seja creado um bispado n'esta Ilha com os rendimentos que n'ella tem o bis-
po de .Angra ^u vão os negócios ecclesiasticos a decidir-se na Cúria Patriarchal
de Lisboa tendo aqui um delegado com poderes necessários para resolver todas
as questões temporaes e espirituaes que l!ie possam ser delegadas e então serão
felizes estes povos e devida a sua ventura á Regeneração Politica da Nação.
17."
Foi mais proj-josto que n'esta cidade, cuja população com os seus logares an-
nexos excede a vinta mil habitantes, é necessário estabelecer Aulas Regias de
Primeiras Lettras; quaes as indispensáveis, o numero d'ellas assim como nas de-
mais villas notáveis da mesma Ilhi para assim se representar :ao Soberano e Au-
gusto Congresso nas ditas cortes, a Sua Magestade pedindo-lhe a sua erecção, e
que 05 mesmos lugares sejam providos em hábeis mestres, escolhidos entre os ci-
dadãos da mesma Ilha ou fora d'ell;'.
18."
Reflectindo sobre esta proposta disseram os congregados que sendo a edu-
cação da mocidade o primeiro passo que deve dar-se para a felicidade d'uma
Nação, que aspira, e deseja elevar-se á maior grandeza e não podendo passar
aos estudos mais sublimes sem o conhecimento das primeiras lettras para poder
formar-se o homem benemérito da Sociedade, acha-se esta Ilha totalmente des-
provida de hábeis mestres de primeiras lettras e ponderam que á vista dos Map-
pas estatísticos tintia esta cidade com os lugares circumvizinhos da Fajã, Rosto
de Cão e Relva para cima de 20.546 habitantes e que era de urgente necessidade
se estabelecesse em cada uma das trez freguezias d'ella uma escola de ler, escre-
ver e contar, uma de Grammatica l^ortugueza, Franceza e outra de Geometria,
alem das trez, que se acham erectas de Grammatica Latina, Rhetorica e Philoso-
phia, dando-se a cada um dos mestres 200.000 reis a 250.000 reis de ordenado.
"

"

1042 ItEVISTA MICHACLENSE

10."
a Villa da Ribeira Grande 7.381 habitantes alem dos luiíares cir-
Que tendo
cumvisinhos, devem alli crear-se duas cadeiras de ler, escrever e contar com o or-
denado de 130.000 reis a 150.0(0 reis, uma de Grammatica Portugueza e Pranceza
uma de Grammatica Latina, uma de Rhetorica, uma de Lógica, Metaphysica ePhy-
sica com o ordenado de 150.000 a 200.000 reis.
20.°

Que tendo a Villa Franca do Campo com o lugar da Ponta Garça 5.òQ4 lhes
parece justo que alli se estabeleça uma escola Régia de ler, escrever e contar com
o ordenado de 120.000 reis a 140.000 reis, uma de Grammatica Latina e Portugue-
za e outra de Rhetorica com o ordenado de 130.000 a 100.000 mil reis, procuran-
do-se dignos mestres com conhecimentos que os habilitem para desempenharem
os mesmos empregos.
21."

Ponderaram os sobreditos vereadores que ficando a Villa do Nordeste com


os outros lugares, que lhe são annexos, Nordestinho, Achada, Achadinha, Fenaes
d'Ajuda, Povoação e Fayal muito distantes da cidade e das outras villas; e não po-
dendo por isso mandar os Paes de Famillia educar os seus filhos nas escolas que
alli se estabelecerem ao mesmo tempo que aquella villa e lugares conteem Q.Tol
habitantes, era muito conveniente estabelecer na mesma villa um mestre de ler, es-
crever e contar com o ordenado de 120.000 reis.
Nota:— (logo depois do paragrapho 21 vae o 32).
22."

Ponderaram que na Villa da Lngôa e Agua de Páu, bem podiam os habitantes


d'uma mandar educar os seus filhos á cidade e os habitantes da outra a Villa
Franca do Campo, asíim como os habitantes dos outros lugares e povoações da
mesma Ilha bem podiam mandar os seus filhos a educar-se na cidade e villas
que mais próximas lhe ficarem.
Nota :=(Depois d'este vae o paragrapho 33 e 34).
23
Ponderaram finalmente que para ser menos gravosa á Fazenda Nacional a
despeza com
os ditos mestres bem podia o Soberano e Augusto Congresso, ou
Sua Magestade impetrar da Santa Sé Apostólica uma Bulia de (Zomniutação dos
encargos Pios que pagam os Morgados, Capellas e outras administrações d'esta
ilha para ser applicado áquelle tanto mais justo e pio fim em que a nação e a re-
ligião muito interessam; e só por este artigo resultaria uma somma superabundan-
te para taes applicações sem prejudicar a pessoa alguma e que assim se represen-
tasse ao Augusto Soberano Congresso das Cortes, e a Sua Magestade.
24.°
Foi egualmente proposto se deve representar ao dito Augusto e Sobcranno
Congresso e a Sua Magestade para que mande modificar e restringir a disposi-
ção do alvará de vinte e cinco de Outubro de mil oito centos e dez sobre a livre
importação de vinhos das outras Ilhas dos Açores e seu consumo n'esta, ficando
somente admittidos geralmente no gozo do Commercio ou para consumo da mes-
ma ilha quando as Camarás d'ella julgarem necessário a sua introducção no caso
de escassez da producção d'aquelle género mandando-se pôr em vigor e obser-
vância a provisão do Supremo tribunal do desembargo do Paço de 15 de março
de 1802 expedida por uma resolução de consulta, a que precedeu inteiro conhe-
cimento de causa.
25."
A discorreram largamente todos os vereadores das diversas Ca-
este respeito
marás, n'esta congregados, trazendo á memoria a grande decadência em que esta-
vam as vinhas d'esta Ilha pela livre importação dos vinhos das outras Ilhas para
serem consumidos n'esta, pois que fazendo abater o valor do mesmo vinho n'e]-
REVI STA MICHAELENSE 1 043

la produzido não podiam os cultivadores de viniios tirar d'ellas um interesse que


lhe compensasse a sua cultura por serem as vinhas pela maior parte plantadas so-
bre terrenos pedregosos, que demandavam grandes despesas com o seu fabrico re-
sultando d'aqui serem muitas abandonadas por não fazer conta em taes termos a
sua conservação por ser natural esta consequência.
26."
Acrescendo a isto, que diminuídos os trabalhos das mesmas vinhas abando-
nadas, crescia a proporção a necessidade de mandar vinhos de fora para provi-
mento dos povos d'esta ilha ao. mesmo tempo que diminuíam os seus recursos,
por não terem os povos em que empregar os seus braços para ganharem o seu
sustento, seguindo-se outro grande mal e se verem obrigados a dar moeda a tro-
co de vinhos que se importavam, o que faz diminuir muito a necessária fpara o
giro do Commercio.
27.°
Sendo igualmente digna da attenção outra razão politica, que conduz a vedar-
se aquella illimitada importação dos refferidos vinhos das outras ilhas porque com
sua e.xtraordinaria abundância seriam os homens entreguez ao uzo illimitado da-
quella bebida, que os estrogava e inhabelitava para o bom uzo das suas acções.
28."

Que reunidas todas estas e outras justas razões, moveram as Camarás d'esta
cidade e demais Ilha a supplicar a Sua Magestade pelo ^eu tribunal do Dezembar-
go do Paço a graça de lhe vedar a livre impoetação de vinhos das mais Ilhas para
n'esta serem consumidos ficando ao .nrbitrio das Camarás, quando se verificasse
em algum anno precisão d'aquelle género para o consumo dos Povos o mandar
vir de fora, permittindo as competentes licenças para sua impoi tacão sempre com
preferencia aos vinhos do Reino por ser mais fácil adquiri-los a troco de géneros,
que d'esta Ilha se exportam para Portugal; e conseguindo a referida provisão de
15 de Março de 1802 viram estes povos renascer os bens de que se achavam
até alli privados.
29."
Finalmente disseram que uma Mão sinistra e poderosa tomando a seu car-
go proteger a caura das outras ilhas conseguiu de Sua Magestade a expedição
do Alvará de 25 de Outubro de 1810, que cassou a sobredifa provisão, fazendo
livre a importação dos vinhos das outras ilhas a titulo de Commercio e para o
seu consumo n'esta como apparente protesto de ser a mesma provisão tendente
a proteger um monopólio, e a embaraçar o livre giro do Commercio das outras
Ilhas com esta quando sendo todas uma só Província, devia entre todas um li-
vre Commercio dos géneros de suas produções quando nem um nem outro fun-
damento se verifica, e os males que lhe advieram com a execução do mencio-
nado alvará abrepticia, e sobrepticiamente expedido sem audiência das Camarás
d'esta Ilha e só por informações ambicionadas do Governo d'Angra e pelas mal-
versações d'aqHelles que interessavam em fazer a ruina total d'estes Povos, são
a decadência absoluta da Agricultura das vinhas e outras ainda maiores que de-
vem expór-se ao soberanno Congaesso das Cortes na representação que muito
convém se lhe dirija a este assumpto.
30."
Foi finalmente proposto se é conveniente representar-se ao mesmo Soberan-
no e Augusto Congresso das Cortes, e a Sua Magestade a necessidade que têm
estes povos de exportar os seus géneros, trigo, fava, feijão, e principalmente o
milho para Reinos Estrangeiros, pedindo a graça de assim lhe ser facultado.
31."
Disseram os Congressos que nada podiam acrescentar sobre a justiça de sua
matéria alem do que foi sabiamente expendido pelos er.iditos e muito sábios.
Excsllentissimos Senhores Deputados do Augusto Congresso das Cortes de Portu-
gal sobre a questão da livre introdução dos Cereaes em Portugal conformando-
1 044 REVISTA MICHAELENSE

se com as melhores opiniões de todos os publicistas que fazem consistira felicidade dos
Estados augmentando a exportação dos seus proJuctos, e diminuindo a importação
dos extrangeirose esta regra que procede nos F.stadosCirandes não deve exceptu.ir-
se d'esta graça á Ilha de S. Miguel que hoje faz parte integrante da Nação Portugueza.
32.;'
E requereram mais alem do exposto ós Vereadores das Camarás do Nordeste
ficando as suas povoações m.ito mais distantes d'esta cidade do que as outras vil-
las tanto por isso como pelas mns entradas cortadas com ribeiras por muito tem-
po intransitáveis era impraticável mandarem os pacs de familiias seus filhos aedu-
car-se n'esta cidade e nas referidas Viilas onde se pede o estabelecimento de ca-
deiras de Rhetorica e Philosophii Racional e Moral requerendo que na represen-
tação que se fizesse ao Soberano e Augusto Congresso das Cortes se pedisse ef!^n-
almente para aquelia villa alem da cadeira de ler, escrever e contar, uma de
Orammatica Latina, uma de Rhetorica, e uma de Phiiosophia Racional e Moral.
33."

Sobre este assumpto tomaram palavra os trez vereadores da \'illa da Lagoa


a
e disseram que a dita viila tendo uma grande Povoação e riqueza ficava distancia-
da da cidade duas léguas, trez da Villa da [íibeira Grande e ainda mais afastada
de Villa Franca. I^elo que não podiam os Paes de f-amillias mandar educar seus
filhos nas escolas, que n'ellas se estabelecessem apartando-os das suas vistas, e da
sua companhia, porque alem das enormes de<-pezas que se viam obrigados a fazer
não podiam vigiar sobre as acções e distracções dos mesmos filhos, a elles resulta-
ria mais desproveito que utilidade com a sua educação. í^elo que requereram que
na representação sobredita se implr rasse ao Soberano e Augusto Congresso que
alli se erigissem as mesmas cr.dciras acima lembradas para as VilIas de Nordeste
e com este voto se conformaram cgualmente os \'ereadores da \'illa de Agua de
Pau por serem a ellas applicaveis as mais razões, e fundamentos que occorrem a
respeito da Villa da Lagoa.
34."
mais proposto q\ie seria conveniente estabelecer n'esta ciilade um Semi-
L"oi
nário, ou collegio de fiducaçào oude se reunissem as sobreditas cad' ir.is accres-
centando-se-lhe mais algumas alem das mencionadas, onde pudessem vir de
toda a Ilha os Alumnos que pretendessem illustrar-se e receber as competentes li-
ções debaixo das vistas e auspícios do L^ircctor do mesmo Collegio e do Gover-
no da Ilha e foi por todos uniformemente approvada esta proposta mostrando o
maior interesse por um tal estabelecimento, p»los benefícios que d'cile resulta-
riam a todos os povos: e á mesma Nação, maiormente no estado presente das
cousas em que um Governo Reiírescntativo, e Constitucional só pude ser feliz e
perdurar promovendo a extensão de luzes entre todos os seus cidadãos. Pelo que
convierani em que se pedisse o dito estabelecimento e accrescentando-sc alem
das cadeiras sobreditas, uma de desenho, uma de economia Politica, e uma de
Direito Natural, e Publico.
35."
Lembraram mais se requeresse em nome dos povos que representam o Go-
verno Geral d'esta Ilha se estabeleça n'ella uma imprensa por ser este o meio de
propagar luzes e vigorar a liberdade da Imprensa auctorisada pelo Soberano
Congresso das Cortes como um (irnie e poderoso apoio do Systema Constituciunal.
3ó."
Foi finalmente proposto se parecia conveniente a bem de todos os povos das
Ilhas e da Nação inteira estabelecer n'ella ism molhe onde pudessem recolher-se
os navios em tempo de inverno a salvar-se dos levantes e poder carregar nas es-
tações opportunas evitando-se 03 levantes e os contínuos naufrágios que pela sua
falta acontecessem e outros embaraços c estorvo do commercio e assentaram ser
de at^soluta necessidade um tal estabelecimento e que já assim se tinha julgado
por Sua Magestade, mandando de propósito um Engenheiro Hydraulico o Tenente
:

bfcVlsVA )ÀlCV\ÂfeLÉN^. 1045

Coronel José Theresi Michelotti para desenhar o plano e calculara despeza neces-
sária com um tal estabelecimento ao qu; slle satisfez rcmettendo tudo para a Se-
cretiria de Estado dos Negócios d Reino de Portugal e Brazil, então estacionada
>

MO Rio de Janeiro iiedindo-se se cxpe;am as ordens necessárias com urgência para


(|ue appareça o mesmo Plano afim de se mandar im mediatamente verificar.
37."
H assim concluíram seus trabalhos aiictorizando os Vereadores d'esta Camará
com o seu Accessor e Syndico para ;issign.ir a dita representação em nome de to-
das as outras e a;siinir,iin p>'raiiíe mim iV\anuel Pran?Í5co l.uiz Pereira Escrivão
da Cimara o Isorovi.
Res^o Botelho. (Dioj^o José doRe^o Botelho e Fatia).
(l^ietanod'Andrade Albuquerque Raposo da ('amara.
Erancisco Bernardo do Canto Medeiros (^osta e Albuquerque.
José Leite Chaves e Mello.
Math-^us d',\ndrad^' Albuquerque Bettenciuirt.
José Pacheco de Castro.
António Casimiro da Silveira AUmis.
Erancisco .Alberto do Rego.
.Xntonio Botelho de S. Paio.
José do Cauto.
Manuel Cabral de Vlello.
João António de Medeiros.
Erancisco António de Macedo.
Como Accessor José Affonso Botelho.
Jordão Erancisco de AAello.
Manuel Ignacio Botelho de Medeiros.
António Pacheco de Medeiros.
António Joaquim de Medeiros Corrêa.
António Pimentel de Medeiros.
Erancisco José d'Athayde.
João Bernardo de Vasconcelios Mello Cabral.
José Jacintho Canejo de Eigueiredo.
Ignacio Joaquim Tavares de .Medeiros.

O O,)verno interino admittia a possibilidade dos 5 membros que o tinham for-


mado ser^'m auxiliados na sua missão governativa de mais cinco membros delega-
dos pelas Camarás dos Cinco Concelhos da Ilha eleitos d'entre os seus vereado-
res e officio é dirigido n'estjs termos em data de 2 de A'íarço
Oíticio feito ás Cinco Camarás d'esta Ilha para o que abaixo se declara.
Da Co[)ia da Junta verão Vossas Senhorias a Resolução que tem tomado os
moradores do bistricto d'esta Cidade, e os justos motivos, que os obrigaram a dar
este passo, como único que os podia salvar das desgraças, em que ficavam, uma
vez que não seguissem a sorte do Reino de Portugal, e s: não unissem a elle, e su-
jeit.is:em ao seu Supremo Governo. Supposto a causi seja commum e a sua im-
portância por si mesma se recommenda,e confiemos que Vossas Senhorias conven-
cidas d'eila não deixarão de empregar todos os meios que conduzam ao seu fim;
com tudo quanto podemos liies r«)gamjs queiram satisfazer ao que lhes diz res-
peito, e cuja solicitação se nos encarrega, convocando as pessoas, que costumam
andar na Governança, o Clero, e Povos, elegendo de qualquer classe uma, que no
nosso Governo venha encher o Lugar que a essi Villa compete, de sorte que to-
dos façamos um Corpo, e de mãos dadas, e commjm accordo solicitemos com a
brevidade possível a Eleição dos deputados, que nas Cortes de Portugal lião-de
representar os Habitantes d'esta Ilha, e pr.:,movamo3 a sua felicidade, dirigindo-se
á i)e3sôa,que por Vossas Senhorias fór nomeada, com o competente Authenticoao
Presidente d'este Governo. Secretaria do Governo de 2 de Março de 1821. Anto-
1046 RfeylSTA alCHAE LENSE

nio Francisco Affonso de Chaves e Mello, Presidente, André da Ponte Quental da


Camará e Souza, Vice-Presidente, António Francisco Botelho de S. Payo Arruda,
o Bacherel João Bento de Medeiros Mantua, Jacintho Ignacio Rodrigues da Silveira,
Veríssimo Manuel d'Aguiar, Secretario do Governo.
Conferido
Hermogenes José Gomes Max!'
O Governo Interino suspende o Governador Sebastião ]osé d'Arriaga Brum
da Silveira de todas as suas funcções, convoca os Coronéis de Milícias da Villa
da Ribeira Grande e de Villa Franca do Campo e o Sargento Mór Manoel Joa-
quim de Vasconcellos a prestar juramento e assistir ás festas de regosijo; o com-
mandomilitarédado ao Coronel António Francisco Affonso deChavese Mello oCom-
mando das Milícias da Cidade é entregue ao Capitão Jacintho Luiz de Mello Ca-
bral e o da Fortaleza ao Tenente João Soares de Souza Ferreira d'Al'bergaria, a
direcção de Secretario Militar a André Diogo Dias do Canto e Medeiros; a sahida
da moeda é prohibida, o pagamento á tropa é feito, ás abbadessas da Esperança,
Santo André, Conceição e S. João é-lhes notificada a formação do governo para
reconhecimento de auctoridades, o Capitão Joaquim António da Camará Arruda é
nomeado ajudante d'ordens do governo e mais tarde substituído por Pedro Nolas-
co Borges Bicudo da Camará e José Luciano Soares d'Albergaria, e André Manoel
Alvares Cabral, que esteve desde 10 de Maio de ISlõ, tenente coronel agregado ao
regimento de Milícias da Villa da Praia e impossibilitado pelas circumstancias
d'alli continuar no cargo foi aggregado ao batalhão da Cidade.
O Capitão Mór José de .Medeiros teve uma ajuda de custo de 300 mil reis, o
Capellão do Castello de S. Braz Rev. João Félix Remy foi feito Capellão da Bata-
lhão com a obrigação de dizer missa aos domingos na Egreja do Collegio; Fran-
cisco Ignacio Jacome Corrêa, alferes do Batalhão, foi convidado a abrir no Castel-
lo curso de mathematica para militares.
bEVlStA lÀlCHAE LEh)SÉ lt)4'i'

DA
FREGUE2IA DE NOSSA SENHORA DúS PRAZERES
DO
Logar do Pico da Pedra, colligidas de documentos e
tradições pelo Vigário da mesma íreguezia António
Furtado de Mendonça, no ai^no de 19 IJ

Julga<Jo e adrpinistração no Pico cia Pcclra

'leve o Pico da l'edia em tempos idos a sua administração judicial, constituí-


da pnr iini juiz eleito e respectivo escrivão. Um e outro cargo foram exercidos
quasi sempre por indivíduos pouco mais do que analphabetos. Foram cargos sem-
pre ap|"'etecidos, o primeiro por honroso, o segundo peio que rendia. Ainda existe
um escrivão d'esses tempos, Manuel Tavares Labão, que a frequentar hoje uma
escola de instrucção primaria teria de sentar-se no banco dos principiantes.
f:m ameno cavaco de recordações antigas são ainda hoje lembradas algumas
3cntenças dadas pelos illustres magistrados d'aquelie tenipo.
Faia exemplo legista-se a seguinte:
hra juiz António da Silva Calisto, que desde novo começou a aspirar a gran-
des cargos. Escrivão o citado Manuel Tavares Labão. Suscitara-se uma questão en-
tre I-rancisco de Paiva Macedo e Francisco da Costa Maiáto, ambos de Rabo de
Peixe, mas aqui residentes. Tratava-se de matéria da competência do julgado pa-
rochial, e Francisco da Costa Maiato, que era o reu, muniu-se, para sua defeza, do
liabil solicitador António Ferreira de Rabo de Peixe. Abriu-se a audiência, inquiri-
ram-se testemunhas, e cumpriram-se todas as formas do julgamento, sem que a
nada obtemperasse o habii defensor do reu. Foi só no fim, que voltando-se para
o juiz lhe disse: o que aqui se tem feito e escrito é matéria de sobejo para levar
vossa senhori;'. até á Costa d'y\frica. Palavras não eram dietas, o juiz levanta-se e
vae para o vão d'uma janella chorar a sua desdita em convulsivo pranto.
Foi depois d'esta scena cómica que António Ferreira accrescentou Tudo se
:

pode amanhar, escrevendo o escrivão o que eu dictar.


Acceitou o juiz do melhor grado a proposta, passando o reu a ser absolvido
e o auctor condemnado nas custas.
A' categoria d'este facto, que a muitos parecerá anedocta, deve juntar-se o re-
gisto d'um mais recente, da responsabilidade de quem era menos de esperar.
Foi a intimação feita ao actual parocho d'esta freguezia, no principio do regi-
men republicano, por que se governa o nosso Paiz, para mudar a côr da casa da
sua residência. E porque a muitos de futuro parecerá inacreditável convém referil-
minuciosamente, com a sua prova mais authentica.
Costumava desde alguns annos o Parodio d'esta freguezia pintar as paredes
externas da sua casa com uma côr cinzenta.
No inez de d'Outubro de 1910, logo após o luminoso dia cinco, procedia-se
á reforma annual da caiação, na ausência do Parodio, que por motivos de serviço
do seu ministério se achava na Lomba da Maia, onde se demorou alguns dias.
Carregou o mestre daquelle trabalho a mão na tinta, ficando um pouco mais es-
cura do que era costume.
A bisbilhotice local tomou o facto por manifestação de lucto pela queda das
1048 'RfeVlSTA MICH AELENS^

instituições mon,-\rchicas, e levando-o ao conhecimento do primeiro Governador


Civil d'este Districto, no actual regimen, foi este servido dar ordens ao adminis-
trador do Concelho da Ribeira Grande, para que exigisse a reparação de tamanha
affronta feita ás novas instituições, que tinham vindo trazer a luz ao nosso paiz.
Cumpriu-as fielmente o Administrador do Concelho, fazendo ao Parocbo do
pico da Pedra a seguinte intimação:

CONTRA FÉ
Ruy Teixeira Borges, Administrador do Concelho da Ribeira Grande et>".
Sabendo que parte do povo d'essa freguezia se apavora ao passar pela resi-
dência do Parodio d'essa mesma freguezia António Furtado de AAendonça devido
á côr com que ella está caiada, mando ao regedor de Parociíia do Pico da Petlra
intime aquelle Parocho a retiral-a o mais breve i^ossivel e a substituil-a por outra
qualquer côr, exceptuando a escura, sob pena de desobediência ás ordens termi-
nantes do Governo da Republica Portugue/a.

Cumpra-se:

Administração do Concelho da Ribeira Grande, 28 d'Outubro de lOlf).

Lino Ferreira Cabido, secretario da Administração o escrevi.

Ruy Teixeira Borges

Cruzçiro <Jo «leyajlre

Tem este nome o cruzeiro levantado em uma servidão do iado norte da ca-
nada da Giesta d'este freguezia. Originou-o o desastre de que foi victima um sym-
pathico cavaliíeiro d'esta terra Francisco loires do Couto, fillio de Francisco Pires
do Couto e de D. Isabel da Motta. Bastante vigoroso e muito novo, pois contava
apenas 32 annos, sahia d'uma terra de seu pae em um carro conduzido a bois,
quando estes instigados pelo conductor se lançaram em tamanha brida, que o dei-
taram fora do carro, com tal fatalidade, que ficou instantaneamente morto, sem a
minima lesão no corpo.
Produziu, como era natural este acontecimento a maior consternação em todo
o logar porque a victima era bastante sympathica pelo seu porte correcto c costu-
mes irreprehensiveis. Era filho único de seus pães, que deixou ainda vivos, para
carpirem até á morte uma fatalidade que liies roubou o melhor amparo da sua
velhice e o único herdeiro necessário dos seus bens. Deu-se este trágico aconteci-
mento na tarde do dia 13 de outubro de 1890.
Para o commemorar levantou o pae do deíuncto o cruzeiro, que a piedade
popular intitulou do desastre.
Alli vão em romaria por vezes, no cumprimento d'uin voto ou supplica, pes-
soas afflictas e piedosas, levando coroas de flores naturaes para ornar a cruz e
velas para a illuminar, seguidas d'um pobre, para isso prevenido, com o fim de
trazer as mesmas velas para" o serviço de sua casa.

Benernereneia social
Sendo pequena e de moderna fiuidação a freguezia do Pico da Pedra, fci tal-
vez a primeira d'esta ilha dotada com um albergue nocturno.
Existiu o primeiro na rua das almas, legado por José Alves do Couto, que a
uma antiga serventuaria de sua casa impoz a obrigação de abrir e fechar a porta.
L)o esquecimento em que cahiu o pequeno albergue, que representava uma
WfeviSTA MlCHÁliLKN^t lb4'0

instituição tão sympathica, aproveitaranl-se os herdeiros do generoso testador, pri-


meiro: votando-o ao despreso, e depois conveitendo-o em dinheiro, indo parar a
mãos extranhas, que nem se
lembram já do facto, que a-
uui se consigna, para honra
d 'esta terra.
D. Maria Isabel de Ke-
sendes, viuva de Marianno
lavares de Resendes, natu-
rrl d'este logar, legou idên-
tica aos pobies,
instituição
que vagueassem por esta
freguezia impondo a seus fi-
lhos, e herdeiros, por testa-
mento, a obrigação de lhes
fornecer, agua morna para
os pés, um caldo e sopa para
a ceia, uma manta para aga-
salho e abrigo, em uma casa /." Albergue Nocturno do Pico da Pedra, fundado
fronteira á da sua residência
por José Alves do Couto na rua das Almas
na rua das Oliveiras.
Falleceu esta benemérita protectora dos pobres no primeiro de janeiro de
1887, e o seu instituto levou já o caminho do primeiro, sem protesto nem reparo
de ninguém.

Fiiboj illustres <Ia Freguezia <le /Mosja Senhora <Ios Prazeres


dado o piimeiro lugar que bem o merece, a Luiz Quintino d'Aguiar. filho
Seja
que ennobreceu com um nome tão sympathico.e que para mui-
illustre d'e5ta terra
tos que o conheceram, é ainda hoje um symbolo de honra e firmeza dj caracter.
Forani seus pães António d' Aguiar e Leonor Rosa, pessoas de modesta con-
dição, mas honradas e amantes da virtude.
Destinara-se ao estado ecciesiastico, frequentando para isso os estudos do seu
tempo, com notável aproveitatriento, e chegando a concluir as suas habilitações
theolcgicas, com os p-idres mestres que então regiam as aulas de sciencias eccle-
siasticas em Ponta Delgada. Desistindo do seu intento, poz-se ao serviço da casa do
morgado Botelho Sampaio Arruda, onde grangeou as maiores sympathias, como
íunccionario honrado e de ardentes convicções religiosas.
Nutriram por elle as pessoas da casa tamanha sympathia que o ligaram para
sempre á família por um casamento feliz com D. Maria Isabel Fisher Berquó, fi-
lha do Morgado Berquó, senhor de duas casas vinculares.
Tamanha fortuna em nada alterou os hábitos de trabalho que até á morte
acompanharam Luiz Quintino d'Aguiar.
Do seu casamento teve vários filhos, a quem educou na mais solida e ardente
piedade.
Vivendo em Ponta Delgada n'um tempo em que as ideias religiosas começa-
vam a sentir os influxos da perseguição, que lhes moveram os encyclopedistas,
que na nossa cidade tiveram os seus adeptos entre homens de lettras e de influ-
encia social, Luiz Quintino d'Aguiar, foi entre nós o prime'ro paladino da causa
catholica que defendeu com o ardor de illustre con\batente.
A sua casa era o centro de reunião para todos os homens e especialmente
padres de maior fé e fervor christão da nossa terra.
Aos missionários que aqui vieram do continente doutrinar o povo, tão care-
cido então de instrucção religiosa, proporcionou todos os com modos possíveis fa-
1050 iREVIStA MÍCHAELÊNSE

cilitando-lhes o exercício do seu ministério pela influencia das suas relações de a-


misade, consideração e respeito, <le que gosava em toda a ilha de San Miguel.
Na imprensa catliolica sustentou os mais duros combates com os adversários
da contando por outros tantos triuinphos as luctas, que teve de sus-
fé catliolica,
tentar com adversários de bom pulso, que se confessavam \encidos pela força
da dialéctica e sincera convicção de tão illustre filho da egreja.
Comparando a collecção da Voz da Verdade, ]ovna\ cathólico da nossa cidade,
onde Luiz Quintino d'Aguiar terçou armas e travou rijos combates com a impren-
sa adversa ás crenças religiosas, com o Bem Publico, de que foi illustre redactor o
sempre lembrado Dr. Sousa Monteiro, não se
pode deixar de reconhecer a superioridade de
Luiz Quintino d'Aguiar e de seus companhei-
ros de redacção sobre aquelle illustre polemis-
ta cathólico seu contemporâneo.
Na penna de Luiz Quintino d'Aguiar é
mais viva e interessante a defesa dos ideaes ca-
tholicos, tendo o seu estylo humorístico por
vezes a graça e crueza de Rabelais na humi-
lhação dos adversários das suas convicções
cin-istãs.

Nasceu Luiz Quintino d'A,í>uiar no Pico


da Pedra a 2õ de Junho de 1S08, foi baptisa-
do cm Rabo de Peixe a 3 de fullio do mesmo
anno, e falleceu na frei^uezia Matriz de Po/, ta
Delicada a IS de Abril de 1S84.
Alem do nome illustre que legou á sua
terra Luiz Quintino d'Agiiiar, deveu-lhe esta
ainda bons serviços por valiosos donativos fei-
tos á sua egreja parochial.-
construcção do retábulo do altar
r^ara a
mór esmola, e os dois pontifi-
fez considerável
caes, branco e encarnado, que possue' a egreja'
parochial do Fico da Pedra, que se diz perten-
ceram ao antigo convento de Jesus da viUa da
Ribeira Grande, a Luiz Quintino se devem, sc-
2." Albergue Nocturno do Pico da Pedra, gundo resa a tradição.
fundado pela illustre Benemérita D. :

Maria lsaj,el Rescudrs na rua


A' galeria limitada, mas honrosa dos ho-
mens illustres, filhos d esta terra, pertence de
António Augusto da Motta
direito Frazão, que n'estas Memorias teve já por mais
d'uma vez merecido louvor.
Foi filho de António José da Motta e D. Maria Jacuitha, abastados proprietá-
rios d'esta freguezia e progenitores das famílias mais qualificadas d'este logar.
Dos numerosos filhos de seus pães foi António Augusto da Motta t-razão o
único que se consagrou ao estudo das lettras, fazendo n'ellas carreira honrosa e

lucrativa.
a instrucção secundaria em Ponta Delgada pode habilitar-se a me-
Cursando
recer cadeira effectiva de sciencias no nosso lyceu, que regeu até se jubilar,
uma
vivendo ainda por muito annos no goso da sua reforma.
Após a sua aposentação estabeleceu residência definitiva n'esta freguezia, on-
de nascera e se creara.
Vivendo n'uina freguezia rural, não perdeu nunca as maneiras aftaveis e trato
fino, que faziam d'elle um verdadeiro oentlenian mostrando-se
cortez para com
todos, ainda os mais pobres e pequeninos.
Presou sempre os livros, de que tinha bóa provisão e no amor das lettras
REVISTA MICHAELENSE 105]

creou os seus filhos, chegando a ter a fehcidade de ver formados pela Universi-
dade de Coimbra dos filhos do seu segundo matrimonio, os Drs. Aristides Morei-
ra da Motta e I^iniz Moreira da Motta, que ainda em tempo de seu pae occupa-
ram os elevados cargos de representantes d'este Districto em Cortes onde honra-
ram sobremodo o nome d'esta terra, onde se creou o primeiro e nasceu o se-
gundo.
Ao Dl. .Aristides Moreira da Motta se deve a iniciativa da autonomia admi-
nistrativa do Archipelago Açoriano, ideia, que soube defender na imprensa com
boas razões e reduziu a uma proposta de lei, que após tantos annos voltou agora
a ser discutida na imprensa local, com o applauso, que merece.
Ainda em tempo de seu pae occupou com honra para o seu nome e proveito
para os interesses locaes os mais eleVados cargos da administração districtal, sem
prejuízo dos seus deveres profissionaes de zeloso professor effectivo do Lyceu de
Ponta Delgada, e causidico de grande mérito.
Occupou o Dr. Diniz Moreira da Motta o logar de director technico das obras
publicas d'este Districto, herdando, como todos os seus irmãos, de seu pae, as qua-
lidades de honra e zelo profissional, que são o melhor apanágio de todos os ho-
mens de bem (a).

Alem dos serviços mencionados n'outro logar, prestados por António Augusto
da Motta Frazão á instrucção e ao abastecimento d'aguas. n'esta terra, deve-lhe esta
ainda a abertura d'uma rua que liga a rua dos Ledos com a dos Prazeres e por
pouco não conseguiu o prolongamento em linha recta da rua das Almas, em que
se empenhara promovendo uma subscripção, cujo producto foi applicado, al-
guns annos depois da sua morte, pela Camará Municipal ao alargamento do ce-
mitério d'esta parocliia.
A' bôa moral, de que deu sempre os melhores exemplos, juntou António Au-
gusto da Moita Frazão a fé christã, que herdara de seus pães, mostrando-se até á
morte zeloso observante dos seus deveres religiosos.
Succumbiu a um ataque cerebral, que o acommetteu no dia oito d'Abril de
18Q2 quando partia para Ponta Delgada na disposição de abraçar o seu filho Aris-
tides que regressava do continente portuguez, fallecendo no dia nove, tendo a tris-
te consolação de lhe fechar os olhos o mesmo filho, que seu pae já não consegui-
ra vêr.
No seu funeral recebeu as honras que a popularidade do seu nome re-
clamava.

Saiubri<la<Je publica e zvsjistepcia rneclica

E' d'uma provada salubridade o logar do I^ico da Pedra, embora pareça de-
prehender-se o contrario do seu obituário annual, que em uma epocha excepcio-
nal chegou a ascender ao numero 80, o que não é pouco para uma população de
1.500 almas.
A media regular de 40 óbitos podia ainda ser reduzida a um numero mais
restricto, se com as creanças, que offerecem maior contingente á estatística obi-
tuária d'esta freguezia, houvesse um tratamento mais humanitário, para não dizer
hygienico.
A sopa ministrada ás creanças na edade em que ellas se deviam alimentar
apenas dos peitos de suas mães é o virus principal da sua organisação débil, que
só por milagre as deixa escapar.

(a)— Por proposta do Sr. .\ugusto de Faria, nitiiibru da Gamara Municipal d'este Concelho, foi
trocado o nome da rua Direita d'esta freguezia no de rua do Dr. Diniz Moreira da Motta, por ter iicl-
ia nascido este illustre cavalheiro, na casa que c hoje residência do Parocho próprio. Foi tomada esta
deliberação na sessão de t d'Outiibro de 1^14. O homenageado falleceu a 24 d'Ago?to de 1^14, tendo
nascido a 2 d' Abril de ISOO.
A superstição com que a ignorância popular procura por vezes explicar à
morte inesperada das creanças tem aqui como n'outrcis partes, um esclarecimento
taci!, 'abia dal-o com a madureza de velho e a graça da sua puticuliir bonhoniii
António Taveira da Silva, bom homem d'esta terra.
Quando alguém se queixava d'uma crean::a haver moirido embruxada, cos-
tumava elle observar: diga enibucliada e não embruxada, attribuindo com razão a
mortandade das creanças ao excesso e impropriedade da sua alimentação.
A longevidade n'esta tcra é tão vulgar, uue a ninguém causa admiração, ain-
da mesmo nos casos em que ella attinge maior extensão. Falleceu n'esta freguezia
tstevão do Couto, de Q5 annos em 1SQ2, da mesma edade falleceu cm 18Q4 D.
Antónia Guilhermina Taveira, e ainda ha pouco falieceu no Ramalho uma filha
d'esta, de nome Marianna, con^. 84 annos, governando a sua casa até poucos dias
antes da morte, com a actividade e discreção de pessoa nova e b.istante saudável.
De 91 annos falleceu em Novembro do anno passado, com a mais completa luci-
dez de espirito. Francisco 1 homazio d'Almeida. Com 89 annos feitos, Manuel Ja-
cinttio do Couto, vae todos os dias á egreja ouvir missa a que assiste de joelhos,
sem grande incommodo,e com 84 seu irmão José ganha ainda no serviço do cam-
po o pão que come e sua esposa, tomando ás costas um barril d'agua sem grande
esforço.
De homens valentes ha memoria de bom numero. Para envergonhar a todos
bastará a recordação d'uma mulher, que sobraçava um sacco de trigo de seis al-
queires, sem que as faces se tornassem por isso vermelhas. Foi Rosa Clara do Co-
ração de Jesus, mãe de iVUrianno Pereira de Sousa Serpa. Soube este honrar a sua
mãe, contrapondo algumas vezes as suas forças ás de dois bois, ao puchar d'um
carro de lavoura com bom peso de carga.
De epidemias propriamente ditas não ha memoria senão d'uma. Foi a varíola,
que em 1873 fez duplicar o numero d'obitos d'esta freguezia elevando-o a 80. N'u-
ma casa da canada do Cumprido foi improvisado um hospital jiara onde foram
removidos os doentes, sendo-lhes a!li ministrados todos os soccorros de que ha-
viam mister, incluindo os sacramentos.
Posteriormente tornaram-se normaes n'esta freguezia i^or alguns annos no
outomno as febres infecciosas que em alguns casos se revelavam verdadeiras ty-
phoides fazendo victimas, em bôa edade, deixando por i^so profundo sentimento.
Extinguiu de todo este mal ha alguns annos a assistência medica nas condi
ções de maior proximidade e commodo eiu que a veiu estabelecer n'esta terra
um illustre clinico de saudosa memoria, o Dr. Fduino Rocha.
Por muitos annos esteve a saúde publica n'esta freguezia c<infiada aos cui-
dados d'um curioso de nome Joaquim Rodrigues da Pedr-, natural do conti-
nente portuguez, que em uma roça do Brazil fizera entre escravos o feu tirocí-
nio medico.
Com uns ligeiros medicamentos hnmeopatliios dií (luc tinha muito reduzida
IMovisão, e alguns xaropes caseiros contentou por muito tempo a credulidade po-
pular que lhe gratificava os préstimos com uns alqueires de milho annuaes com
a condição de se substituir por um medico nos casos de gravidade.
Eram porem estes muitos raros na opinião do dito curandeiro, que preferia
appellar para o coveiro, pago por conta dos interessados do defuncto.
Foi em 18Q9 que a iniciativa do Dr. Eduino Rocha, medico d'este concelho
poz termo á situação de relativo abandono, em que se encontrava esta freguezia.
Com o parocho actual da mesma veiu o mesmo distincto cavalheiro e illus-
trado clinico entender-se para a organisação d'um partido medi'?o n'este logar,
com a assistência de dois médicos e a obrigação d'uma visita semanal á freguezia
havendo banco no archivo parochial para todos os doentes, que pudessem pro-
curar o medico, e visitas domiciliirias a todos os que as requisitassem. Para maior
commodidade dos seus parochianos e do medico, que nem sempre poderia chegar
ás horas determinadas, lembrou o pnrocho a conveniência de um toque de sino,
REVISTA MICHAEIENSE 1053

p.ira advertir a chcí,'acla do medico, costume, que se ficou observando até ao pre-
sente.
Fira ainda do contracto, que fora da visita semanal, se poderiaiti requisitar as
que se julgassem precisas, com a condisão |iorem de facultar ao medico o meio
de transporte.
Eram diversas as taxas da quota, a principio semestral c mais ta -de trimensal
conforme os haveres de cada um, arliitradas pelo parocho, que fez o primeiro ar
rolamento pelas portas dos seus fregue/es, com agrado e satisfação de tod')s. O
calculo máximo do rendimento annual do partido não excedia 300S000, quando
se estabeleceu, e ainda hoje não deve ir alem d'esta cifra.
Começou o partido medico do Pico da Pedra em julho de 18QQ, fazendo o
serviço clinico com o l)r. F.duino Rocha n'esta mesma data o Dr. Nicolau Anas-
tácio de Bettencourt. Com a transferencia d'este para Lisboa veiu substituil-o o
Dr. João Pereira l"orjaz de Lacerda, que por sua vez e pela sua transferencia para
a cidade da Horta foi substituído pelo Dr. \'irginio Cabral de Lima, único encarre-
gado de presente, do partido medico d'esta íreguezia, que perdeu o seu fundador
a 10 de Setembro de 1010, dia infausto da sua morte, sentida por todo o Conce-
lho da Ribeira (jnnde e em particular pos esta freguezia, como uma das maiores
perdas sociacs, produzida n'um meio em que não abundam as dedicações e desin-
teresse, que constituíram as melhores qualidades de caracter do Dr Eduino Ro-
cha, benemérito fundador da caixa económica da villa da Ribeira Grande, e illus-
tre filho da cidade da Horta.
No concurso aberto pela Camará Muni:ipal d'este Concelho para a substitui-
ção do Dr. Lduíno Rocha foi apposti a clausula do serviço gratuito e uma vií-ita
semanal aos pobres do Pico da Pedra, com estabelecimento de banco, a similhan-
ça do que estabelecera por contracto particular o Dr. Eduino Rocha.
Foi provido n'estas condições o Dr. Manuel Telles Pinto de Leão, que para
este Concelho veiu transferido da Ilha de Santa Maria. Apresentou- se n'esta fre-
guezii pela primeira vez no dia 13 d'Abril de 1911, quinta-feira sancta, acomiia-
nhado de dois vereadores d'estc Concelho, solicitando do parocho o serviço do
sino, á similhança do partido já estabelecido, comprou. ettendo-se a gratificar o
sachristão, o que lhe foi concedido, escolliendo para banco um quarto da casa
fronteira á Egreja narochial, pertencente a José Cabral da Motta, que para tal fim
foi arrendado á (Jamara pelo inquilino que n'ella mora.
Astá servido pois o Pico da Pedra com. dois partidos c duas visitas seoia-
nacs dos m.-dicos que os servem, em dias differcníes.

Estação postal
Fui dotada esta freguezia com uma Estação postal de segunda classe por Por-
taria ministerialde 27 de Junho de 1896.
Não veiu cedo este beneficio para uma freguezia, que já a esse tempo pagava
um considerável tributo á emigração para os Estados Unidos da America, ten-
do de ir a Rabo de Peixe procurar a sua correspondência as muitas pessoas,
cjue a recebiam d'alli e d'outras partes.
Foi fundada primeiro a estação postal das Calhetas para onde passou o ser-
viço do Pico da \'cdva. e d'alli para esta íreguezia na data citada.
Em 18S8 ainda era feito na estação de Rabo de Peixe o serviço da 'reguc-
zia do Pico da Pedra.
Foi primeiro encarregado official d'este ser\iço n'esta freguezia João Aíoniz da
Couto, que ainda mantém esse cargo.

Viação
Com justiça deve ser contada esta conio um dos majs importantes melhora-!
1 054 REVISTA MICH AELENSE

mentos locats, c não ficaria completo este serviço histórico se á viação d'este Jo-
gar se não referissem estas memorias.
N'esta terra em que predomina o serviço da lavoura, honrado íempre pelas
pessoas maií abonadas que a elle se consagram de preferencia, foram por muito
tempo os carros de bois o meio de conducção, não só mais commodo para os ser-
viços do campo, mas ainda mais nobre para transporte de pessoas.
Ainda hoje é curioso ver no transporte do milho a ufania com que os lavra-
dores acompanliam o seu carro, de aguiiiiada ao hombro, deleitando-se visivel-
mente com o guincbo do eixo, musica desagradável, que nunca foi possível sup-
primir. A par dos carros de lavoura, foi sempre aproveitado o serviço dos jumen-
tos e muares, que até ha poucos annos mereciam a preferencia no transporte de
pessoas.
A introducção do primeiro char-a-bancs no Pico da Pedra deve-se a Joséd'A-
guiar que o adquiriu ha cerca de 30 annos para o seu serviço particular, e que
depois de haver pertencido por pouco tempo ao Padre José Lucindo da Graça foi
parar ás mãos de Manuel da Costa Pinheiro, que o poz a fretes, com que fi-
cou dotada e^ta freguezia pela primeira vez com um meio mais decente de
transporte.
Pouco depois, ha cerca de 2'3 annos, veiu juntar-se a este um novo melhora-
mento de verdadeira utilidade commum, com o estabelecimento diário d'uma car-
reira domnibus da villa da Ribeira Grande para a cidade com passagem pelas
freguezias de Rabo de Peixe, Calhetas e esta. Deve-se este emprehendimento a
Balthazir Muniz de Vasconcellos, da sobredicta villa, que teve logo um emulo no
negocio estabelecendo com a mesma procedência e destino nova carreira em dif-
ferentes horas de regresso. A primitiva taxa estabelecida para os passageiros do
Pico oa Pedra até á cidade foi de dois tostões; d'esta freguezia para a Ribeira
Grande cento e vinte reis (a).
Prezentemente está dotada esta freguezia com bom numero de char-a-bancs
de aluguer, havendo movimento sufficiente para os sustentar, a par de duas car-
reiras diárias d'omnibus quando ha 24 annos o char-a-bancs de Manuel da Costa
Pinheiro com difficuldade encontrava um passageiro de quinze em quinze dias. O
luxo introduzido, ainda nas classes mais pobres alterando os hábitos das vestes e
da comida, baniu também as viagens a pé.

Resi<Jeocia <lc verão— Forasteiro iliu^tre

A freguezia do Pico da Pedra, comquanto não offereça grandes vantagens ás


pessoas que de verão procuram uma residência bem arejada e de bóa vista, não
merece cointudo o esquecimento a que a votam, os que podendo escolhel-a para
estancia de goso no verão vão habitar outras freguezias menos com modas.
A distancia a que fica do mar e a proximidade dos picos, que lhe ficam so-
branceiros não são realmente condições de estimar para quem na estação calmo-
sa prefere sobretudo gosar uma atmosphera livre e sadia.
Para attenuar estes defeitos da natureza tem comtudo o Pico da Pedra bons
commodos, que n'outras partes se não encontram.
Abundaram n'outro tempo n'esta freguezia os laranjaes, que, após a sua de-
cadência de meio século, vão recuperando os créditos perdidos, com a plantação
de novas quintas em que abundam já as laranjas selectas, os limões e outras fru-
ctas. Não beneficiam pouco a sua atmosphera, proporcionando alem d'isso com-
modo passeio as mattas de acácias, eucalyptos e pinheiros, com que se vão povo-
ando os terrenos mais estéreis, e para quem de verão se não contenta apenas com

(a)— í-"oi em Agosto de de ISOO que principiou a carreira d'oiiuiibiis eslabelecida por B. M. dç
Vasconcellos. Terminou no fim de março de 1914, continuando a outra.
REVISTA MICHAELENSE 1055

OS gosos jogo, a vista dos verdejantes milhciracs, que airciitidain esta frcyiie/ia
cio
e a fragancia por elles expandida ao anoitecer, não são coisas para dcspresar. tm
cada quinta! encontra-se aqui um jardim, tamanha ó a paixão dos liabitantes d'este
logar pelas flores.
Aqui encontram também os forasteiros, sem os reclames espaiiiafatosos das
padarias cidadãs, o melhor pão, fabricado nas melhores condições de limpeza c
bem cosido. A massa sovada, que d'csta freguesia é exportada em todas as sema-
nas para Ponta Delgada, continua a ser um producto typico do melhor gosto de
toda a ilha de San AAiguel, e a manteiga de vncca e o leite são ainda considera-
dos de especial gosto pela fertilidade dos seus prados em que se nutre o melhor
gado.
Nem o açougue falta a quem queira vir aqui fazer a sua residência de verão.
E para que nada falte, a quem se quer deleitar com boas vistas o pico da Cruz,
tão próximo d'esta freguezia, sendo um dos mais elevados de toda a ilha, propor-
ciona n'uma tarde de verão um dos mais agradáveis passeios pelas duas extensas
faixas do liltoral da ilha, que d'alli se desco-
brem, pelos lados norte e sul. "-W'
Soube aproveitar estes com modos e rega-
los que em seu tempo não eram tantos, Cae-
tano António de Mello, illustrado professor do
Lyceu de Ponta Delgada, mestre de latim d'u-
mas poucas de gerações académicas da nossa
terra, que teve pelo Pico da Pedra a sympa-
tliia de verdadeiro filho seu.

Fintre vários prédios que aqui possuiu te-


ve uma excellente casa na rua das Almas on-
de vinha desça nçar dos seus labores litterarios
sempre que o permitliam as suas obrigações
de zeloso professor official e livre.
í<ecordam-se com saudade os velhos que
o conheceram da vida anaclioreta, que aqui pas-
sava aquelle cavalheiro tão illustrado, estiman-
do como um religioso trapista, os serviços do
campo a que se consagrava com a paixão de
verdadeiro agrónomo.
Bons exemplos de moral receberam d'elle
os habitantes d'este logar, por muitos annos.
Em tempo em que a policia especial dos
campos, nas suas veredas e testadas, estava
confiada a uns guardas miseráveis, f^om o as-
pecto feroz de verdadeiros esbirros, com o nc-
me genérico de rendeiros, era fácil domar-lhes A litiga Ermida de Nossa inino/n dos
as iras com um alqueire ou dois de milho no Prazeres do Piro da Pedra, roín o
principio do anno. sen impeiio do Espirito Santo, funda-
Assim o faziam, os proprietários, que não do por Manuel Alaniz, de que r pro-
piictario o Sr. João Luiz Pacheco da
desejavam ser incommodados, preocupan-
Camará.
do-se por completo das transgressões do có-
digo de posturas, pelo qual podiam ser multados.
Nunca ninguém conseguiu isso de Caetano António, porque lhe repugnava,
dizia elle, essa venalidade, por onde se comprava a consciência d'um homem e
se postergava um dever de lei.

E nãoera por sovina, que assim procedia; porque raro era o mez, contam os
velhos, em que não tinha que pagar uma multa, por qualquc descuido, que o fe-
roz rendeiro sabia aproveitar.
Bom e caritativo para com os pobres sabia comtudo aproveitar os seus ser-
1056 REVISTA MICHAELFNSP

viços e dar-Ihcs boas lições de amor do trabalho, bcmprc que se lhe offerecia oc-
casião para isso.
Pobre, ainda valido, que lhe batia á porta, não lhe apanhava esmola sem que
primeiro lhe varresse a testada, dizendo-lhe no fim isto é só para que me não
:

fiques obrigado; fizeste-me um serviço, eu fiz-te outro.


Em lições de economia não era menor mestre do que em lettras Caetano An-
tónio de Mello. A um creado seu de nome Lourenço, que pelos modos presava
pouco a comida que lhe ponham na mesa, deu um dia uma lição pratica das
muitas coui que se poderia fa/er um útil catecismo i^ara instrucção dos pobres
de.iaproveitadns. Acompanhou o Lourenço um dia a seu amo para Ponta Delga-
dr».. Alli, mandou o Caetano António comprar uma libra de toucinho. Cumpriu o
Lourenço as ordens do patrão, mas não pôde calar a surpresa que aquelle facto
lhe causava, dizendo : não sei para que comprou o meu amo uma libra de tou-
cinho, tendo tanto em casa: ao que respondeu Caetano António: si nplcsmente
para que saibas quanto custa o que comes.
Do exacto cumprimento dos seus deveres religiosos dá testemunho o seguin-
te facto:
Subia um domingo a rua Direita d'esta írtguezia com a disposição de ir cum-
prir o preceito da missa. A meio caminho ouviu o toque de levantar a Deus. Ti-
rou o relógio da algibeira e vendo que fora demora sua disse: a culpa foi minha,
hei-de castigar-me. Voltou para casa e montando em uma burra dirigiu-se por
aquella hora calmosa á ermida das Almas onde pôde com satisfação cumprir o
seu dever de cliristão.
Da sua competência excepcional, como huinciu de saber, diz um conscien-
cioso informador: «Sabia a fundo e positivamente como ninguém o j^ortuguez e
o latim, e era profundisbimo em geographia e historia universaes. N'isto se consti-
tua o seu destaque. De resto, falava e escrevia muito bem o francez e o italiano,
conhecia bem o grego antigo (estudara com um frade) o inglez (escreveu uma
grammatica muito pratica e instructiva) e o allemão, que aprendeu com um súb-
dito da Allemanha, dono d'uma fabrica de queijos em S. Jorge (.açores) e que
para Ponta Delgada viera fixar residência e tentar fortuna por ter n'aquella ilha
quebrado. Era Caetano António conhecido pelo nome de— Sete Linguas".
Foi natural da freguezia das Calhetas podendo aqui dizer-se o que a egnal
propósito escreveu o insigne Padre Manuel Bernardes :— «Terras pequenas e des-
presiveis iambem produziram varões insignes .

Foi filho de António Caetano de Mello, natural do mesmo logar das Calhe-
tas e de Dona Francisca Euphrasia, natural d'este logar do Pico da Pedra, tendo
sido baptisado bem como seus pães na Parochial do Senhor Bom Jesus de Rabo
de Peixe.
Falleceu este egrégio varão, confortado com os sacramentos da Egreja, na
sua casa de residência da rua do Peru da freguezia de San Pedro de Ponta Del-
gada, a 8 de Maio de 1866 com a edade de cincoenta e nove annos, tendo hon-
rado a freguezia do Pico da Pedra com a sympathia d'um verdadeiro filho seu,
como muitos por engano ainda o reputam.

Ciuilisação e progresso
Por muitos annos se conservou esta^^ionaria a população do Pi':o da Pedra,
de portas fechadas á civilisação e progresso, que n'outros logares de egual ou
menor importância já tinham feito entrada.
A primeira machina de costura, que houve no Pico da Pedra, foi adquirida
por Francisco da Costa Amaral c-Tsado com sua sobrinha D. .V\aria Augusta A'
guiar, para uma sua filha d'este nome. A segunda por Jacintlio da Costa Amaral,
irmão d'aquelle e casado com D.Anna Emilia, para uma sua filha de nome D. Ma'
ria da Luz,
HgVISTA MICHAELCNSe 1057

A estanieiilia e o panno de estopa fizeram aqui o seu reinado pnr mais de


século c meio, e a carapuça ainda via a lu/ do dia ha talvez dtz annos.
A par d'isto manda a verdade que se diga que nos dias de maior festa s";

viam subir os degraus do adro os mais resi^citavciá liabitantes d'este log;ar, tra-
jando a sua sobrecasaca com o respectivo caneco. Tudo mudou por completo.
Subiram uns e desceram outros, cumprindo-se n'este ponto um vaticinio do Ma'
gnificat: Deposuit potentes de sede et exaltavit liumiles.
Se já senão vC- no [-"ico da Pedra um caneco, também de balde e se procu-
raria em um domingo um casaco de estameniia.
Para a mudança de costumes n'esta parte muito influiram os recursos tra-
zidos da America pela emigração de muitos dos fillios d'csta terra, que o amor
por ella não deixa ficar por muit) tempo ausenlís.
Ainda ha 2'3 an'ias s.i nio via n'^ú\ ín-iwiódí uni u:ii:.i cisa CDtn cortinas.
Hoje são btm poucas aquellas que as não tem.
As construcções maii commodas do que symetri^as das antigis, com janelU
e meia, e porta mais abaixo ou aciuii tem soffrido notáveis aiteraçõis e lia já
hoje um bom numero de casas novas de boa e regular construcção com que se
vae embeliezando a freguezia.
Os hábitos de pouja limpeza e aceio de que se resentiim os antigos, talver
pela carência da agua com que houve de luctar por muitos annos este povoado
podem considerar-se banidos, sendo di.^ficil ao domingo, e sobretudo em dias d
festa, distinguir os pob.es
d'aquelles que o não são.
Na parte moral nãu
é menos sensível a mu-
dança.
P)e um século a esta
parte ha memoria de dois
assassinatos consumados
n'esta freguezia, e as sce-
nas repetidas de panca-
daria com que termina-
vam os folguedos no-
cturnos são apenas recor-
dadas com horror por
alguns que vivem e as
presencearam. . .,.,,, ;

() temor de Deus Residência de Caetano António de Mello, rua das


que na pbrase do Psal- ^^"^^^' ^'^^ ^^ ^"'^''''^
mista é o principio da sabedorra, tudo mudou p\ra melhor, sendo já poucas as
questões judiciaes, que não vêem o se.i termo, por um commodo e amigável a-
manho, antes da sentença do juiz.

Esçhola de repetição

Tomou esta designação official o exercício militar que se levou a effeito em


Portugal no anno de 1Q12.
Ordenado a principio para toda a ilha, foi depois restringido á metade oeste
da mesma, cabendo á freguezia do Pico da í^edra o dia 2 de Setembro do re-
1

ferido anno para o aboletamento do regimento dlnfantcria e força d'Artillieria,


que no dia immediato sahiram para Ponta Delgada.
Exhibiram-se mais uma vez os brios da popuhç.^o d'estc logar na carinhosa
hospitalidade, proporcionada aos soldados da nossa ilha, que do exercício, a que
se haviam consagrado durante a semana vinham bem carecidos de bóa cama em
1058 REVISTA MICHAELENSE

q^ie repousassem. Esmeraram-se os habitantes d'este logar em proporcionar os me.


Ihores commodos a todos os militares, havendo casas pobres, em que lhes foi ser-
vido chá e até doces.
Escolheu para sua particular residência o Commandante do Regimento a casa
da eschola do sexo feminino, destinando-se para o serviço da cosinha e sala de
jantar da officialidade, os aposentos particulares da casa de campo dos successo-
res do morgado Botelho Arruda.
Houve no mesmo dia 21 á noite agradável serenata no adro da egreja paro-
chial, executada pela banda regimental, observando-se por essa occasião, e em to-
do o dia, um desusado movimento pelas ruas d'este logar, que por tão extraordi-
nário motivo attraliiu grande concorrência de forasteiros.
As impressões que d'aqui levou a tropa foram tão agradáveis que as não pôde
calar a auctoridade administrativa d'este Concelho, communicando-as ao Rege-
dor d'esta freguezia em documento official de agradecimento para toda a popula-
ção, publicado depois em uma folha semanal da villa da Ribeira Grande.

Doçtirnçntos e reçíifiçações

Foi fundador da primeira ermida de Nossa Senhora dos Prazeres Manuel Mo-
niz,residente em Ponta Delgada, o qual em seu testamento deixou estabelecido a
seus herdeiros e successores o encargo perpetuo de uma capellania aos domingos
na dita ermida. Consta isto da seguinte /erba do seu testamento, devidamente re-
. gistada no livro do tom-
bo da egreja parochial
;^í%>^ do Senhor Bom Jesus, a
folhas 155 verso.
"Declaro que eu dei-
xo atraz, que meu admi-
nistrador me mandará
dizer um annual em ca-
da anno, e que hora é
minha vontade não me
dizerem mais que qua-
tro missas em cada se-
mana, a saber: trez aon-
de o meu corpo estiver
sepultado, e se dirão u-
ma á quarta-feira c ou-
tó.tWr>.' tra á sexta-feira e outra
ao sábado, e a outra
missa me a mandará di-
zer meu administrador
Os soldados da Eschola de Repetição no pateo da Casa em Nossa Senhora dos
Prazeres, na ermida que
temos no Pico da Pedra: a qual missa se dirá ao domingo com um responso,
feito
e estas se me dirão em cada semana emquanto o mundo durar, e as mais que
atraz deixara as hei por quebradas, e nas mais coisas que atraz ficam declaradas
se cumpriram -. (a)
O doutor Álvaro Lopes Moniz, irmão e successor do citado Manuel Moniz,
legou em seu testamento um encargo semelhante fazendo extensiva aos dias san-
tificados de preceito a capellania que seu irmão fundara só para os domingos.

(a) Tem o testamento de que foi cvtrnliida a presente verba, a data de 31 de Março de í^.04,
conforme a informação da not^ de pa^'. 842 d'estas Memorias, no 3,° n," do 3."^ anno t^a Revista Mi-
chaelcnse.
REVISTA^ .MICHÂELEN9H 1059

Consta isto da seguinte verba do seu testamento devidamente registnda no livro


ordeno outro sim que todos os mais bens de raiz
citado a follias 154 verso: '•'£
que tenho e tiver próprios ao tempo do meu failecimento, na illia de San Miguel,
todos fiquem vinculados em capeiia, e que se não possam dividir, vender, nem
alhear por nenhum modo, nem obrigar poi fiança nem de outra alguma maneira,
e dos rendimentos dos ditos beis se dirá missa todos os dias que a egreja manda
guardar, na egreja de Nossa Senhora dos Prazeres, tirados os domingos em que
o dito meu irmão já deixou ordenado que se diga missa na dita ermida por sua
alma. Nos mais dias santos se dirá pela minha alma e de meu irmão e de meu
pae e mãe, com responso no cabo da missa, para que as pessoas que estiverem
presentes nos cncommendem a Deus, e far-Se-ha tombo dos bens que pertence-
rem á dita capella que as- •
. ,

sim instituo nos bens de


raiz que tenho na dita
ilha. Nomeio outro sim a
meu Chris.ovam Mo
filho
niz para que succeda n
ella, e por sua mOito, ou ii
í?&Jrt
em vida, podtrá noi.iear
para a successão dVIla
um seu ou neto va-
filh.o .7
rão; e e:.'. defeito de filhe
ou neto,nomeará fiiha ou
neta, ou outro seu descen-
dente, e em falta de des-
cendciiíes seus nomeará
um parente meu, qual lhe
parecer mais idóneo e
qualquer p^-:oa que suc-
ceder na dita capella to-
mará o appellido de Mo-
niz, e assim se nomeará
Os soldados cos in liando
e assignará; e os succes-
sores que houverem de succeder na dita capella, que assim institue. não entrarão
na administração e bens d'ella sem primeiro vincularem a ella bens de raiz que
valham sessenta mil reis, quando menos. Emquanto o successor não ajuntar os
ditos bens á dita capella, sequestrar-se-hão os bens d'elle, e se irão vendendo
por ordem do juiz dos resíduos e se fará deposito do dinheiro, cumprida a
obrigação das missas dos dias santos até haver quantia dos sessenta mil reis, c
comprarem os bens de raiz que se vincularem á c pella.de nianeira que o suc-
cessor não entre nos bens d'ella senão depois de c^^umprido este encargo do a-
presentamento dos sessenta mil reis em bens de raiz com auctoridade e appro-
vação do juiz dos resíduos».

\
Por um
processo suscitado entre dois Padres que pretendiam a mesma ca-
pellania e se acha registado no livio do tombo citado, corrido e sentencia-
que
do em ambos os foros com data final de 17 de Julho de 1812 consta que aos
parochos da egreja parochial do Senhor Bom Jesus competia o direito da no-
meação do capellão da ermida de Nossa Senhora dos Prazeres, recahindo esta
por antigo e reconhecido costume nos padres thesoureiros da dita parochial,
sendo o ultimo que exerceu n'essa qualidade tal encargo o Padre Manuel Lo-
pes de Sousa, e só por excepção e na vaga por dois annos do logar de the-
soureiro, occupou o logar de capellão o Padre Agostinho de Sousa Botelho,
morador no logar das Calhetas, com quem o dito Padre Manuel Lopes de
Sousa, nomeado thcsoureiro, litigou a posse do cargo de capellão, obtendo sen-
tença favorável.
lO&O Rgyim MlCHAgL ENSE

Do me';mo proiesso consta que \ retribuição do capeilão era de dois moios


de trigo, iDa'*ece não ter sido estipulada pelos instituidores
que da capella, visto
como tio ci;ado processo só se alleL- para rijceber os dois moios de trigo a ra-
zão de '«que semiue se deram de etmoia".

Generoso hgado ?os {)obrçs

O citado Dr. Alv:i:o Lopes A\oniz 'e^ou ainda em seu testamento uma ge-
nercsa verba dt at^ecio chriotão aos porrec da freguezir, do Senlior Bom Jesus,
em que se incluii tombem .ís.e Ingar, a quai se acha tambetn consignada no re-
gisto' do livro do tombo por vezes citado, a folhas 1&4 vc-so, nos termos se-
guintes :

"Quero e ordeno que o adm.inistrador da cípella quí instituo dos bens de


raiz qua tenho na ilha de Sr.n Miguel do io^ar de Rabo de Feixe, de cada anno
um moio de trigo de esrrola a saber, vin:e a'queires por Nat\l, á honra destas
fest.is, ás pessoas mais pubres do dito logúr, com paicctr e iufc rmação do vigário
ou cura d'elle, que tamben r.síiítirá á repartição do d. to trigo, t eleição das pes-
soas, e esta esmola se darí caJa anno nas divas feslas".
E' de louvar o zelo com que o Padr>; António I-aes, V'ií,ario da freguezia do
Senhor Eioni Jesus, coisignou Ieg3lmrnt2 esti verba tostamcn.aria no livro do tom-
bo da sia L'greia, alie:í:jido no requeriíiiinto que para issc fizera ao juiz dos resí-
duos, a qu.ilidade que lhe pertitncia, a eile vigário, de procurador dos pobres da
sua parochia.
Pretendia segurar duas coisas:— O bem dos seus pobres e um privilegio do
seu cargo; e ambas se perderam.

DocUrnçnlo.') allíisiuos & fundação da egreja parochial

D. Jjsé Pegaõo de Azevedo da Congregação do Orr.torio de San PhHlipe Neri,


por mercii de Deus t confirmação da Santa Sc Apostólica, Bispo d'ATigra t de to-
das as ilhasdos Acôres, do Conselho do Príncipe Regente Nosso Sjnhor ele.
Fazemos saber por seu requerimento nos enviaram a di.^er Francisco Ignac'o,
vigário próprio c'a Parochial do Senhor Bom Jesus do logar de Rabo de Peixe da
ilha di San Miguel, José Manuel Pereira, cura do logar, chamado o Pico da Pe-
dra, da freguoi'ia e sobiedicta Parochial, e o povo do dito curato, que estando este
em grande distancia da mesma parochial, e tendo-se ao presente servido da er-
mda ce iNlossa b?nhora dos Prazeres, sita nas terras do morgado António Bote-
lho, ; q'ie é do selar da sua casa, se acha a dita ermida totalmente damnificada,
promettendo próxima ruina, d'onde /esultará que o povo numeroso d'aquelle logar
fique absol utilmente privado de ter ondt se lhe celebrem os divinos ofíicios, c
porque a dita ermida alem de -^star arruinada, que se não pode n'ella estar sem
risco d •
/ida, é outro sim muite pequena e incapaz de receber o povo para satis-
fazer aos |ireceitos da miss.' e ccníissão, tinha elle vigário, cura e mais povo apos-
tado fa/erem no dito logar do Pico da Pedra cutra egreja, oue tivesse as commo-
didades necessárias e em logar mais com modo a todos, para o que com o maior
fervor e zelo tinhim já prom itos os materiac-s, excellentes sii.os e preciosíssima
imagem, sem com isto lhes faltar mais coisa alguma senão a nossa licença e bene-
plácito, piri contiiiuarem com esta obra tão pia como necessária, até ao ponto
de se :nan lar e até quando lhes ficava tempo sufficiente para se apromptar o pa"
trimonio, o que antes não podiam fa/er sem grande exacção, por tanto nos pe-
diam fossemos servido concrJerliies licença para a contractação da dita ermida,
reservando-lhcs para o m.encionadp íempo a obrigação de instituírem o patrimó-
nio e receberiam mercê. E sendo por nós visto seu requerimento dos supplicantes
iatibfazendo as cluusul4s n'ellç expressadas e depois rçco-rerão ao rnais que é nQ-
cessario; e esta nossa Provisão de licença será tombada no livo do lonioo d di-
ta Parochial, para que a todo o tempo conste que tresta iiUcrveiu a norsa junsd'
cçâo e aujtoridade ordinária c se .'egisÍTá na lossa Câmara episcopal, oagos os
direitos episcopaes.
Dada em Angra sob o nosso sir,nal e sello, em 6 primeiro de Setembro de
mil oito centos e trez. José António Rufino de Sousa, escrivão da Camará tfpisco-
pal ."»
escrevi. Bispo Loyar do sello— Gr?/iis
|

Provisão de Huença a favor do Reverendo Vi^jario d.; frogu';zia do Scmor Bom


Jesus de Rabo de P.Mxe, do cura do curato do Pie© du 1'edii e povo do mesmo
logiir, na i'.ha dí Sm Miguel para se edificar uma nova eimida no dito loT;ar e si-
tio do Pico d. Pedra, couíj acima Sf declara. S. S. de Charceliaiia—Luiz hontes
Reis— Registada a follias 58 verso. Pimentel, bilva.
Foi registada esia provisão no iivro do tomboda frcpiiezia do Senhor Bem Je-
sus a folhas 07 pelo Nourio Bernardino Vieira de Mello, aos 2 d'Outubro de !8Ó3.

Assento para constar á po:terinade a legitima auctoridade com que foi eri-
gida a Ermida de Nossa Senhor.i dos Prarere:^ do Pico da Pedra, limite d'esta fre-
guezia do Seniicr Bom Jesus, logar de Rabo de Peixe.
ÍJiz Francisco Ignacio Taveira, Vigário propr'o na Fgreja Parochial do Seniior
Bom Jesus uo logar de Rabo de Peixe e jjntament-í o Reverendo cura do Pico da
Pedra e todos Ob habitantes do refeildo logar, que a trmida intitulada Nossa Se-
niiora do; I^razeres, antigamente erigida, que de presente se acl a em tal demoli-
ção e ruina que o R-íverendo cura não pode alli Cdíbrar o augusto sacrifício da
Missa sem perturbaçdo, e sem susto, e ao mesino tem,io os freguezes não podem
satisfazer ao preceito sem manifesto risco, e peri™ de suas vidas; n'estes termos
tem intencionado crear uma nova Ermida com a .nesnia invocação prestanic para
ecíe fim, a titulo de doação, o Património, que o direito prcscr::ve Po"tanto— Pe-
:

dem a Vossa Excolltncia Revirendissima se digni conceder-lhes a licença neces-


sária para o dito fim o ma's justo, e mais sai to —
e receberá mercê —
Concedemos
a licença pedida vinculada em património a renda necessária pr.ra orna*o e de-
cenci.i que é devida :'os sagrados templos— Angra, vinte e quatio de .\gosto de
mil oito centos e cinco, José Bispo de Angra.
E é quanto se continha na petição, e de.ípaclio referido, que fielmente copiei
para constar no tempo futuro - Rabo de Peixe, vinte e cinco de Setembro de
18G5. Ocura José Manoel Pereira.
Foi registado o presente assento no livro do tombo da írcgaezia do Senhor
Bom Jesus a folhas 124.

Copia da Sentença, om que se estabelece o PatrinuM ic- da quantia de iJSOOO


de foro annual á cJpeKa do Santíssimo Sacramento da ic.erida Ermida de í\ossa
Senhora dos Prazeres do legar do P'co da Pedr;' snffraganea á Pa'ochial do Se-
nhor Bom Jesus logar de Rabo de Peixe a requerimento do Sr. acturl Vice-\'iga-
rio Manuel Qomes Tavares e de José Manue. Pereira, curú da dita ermid:., cujo
teor é como se segue.
O Doutor José da Cunha Ferraz, Thesoureiro-Mór na Saita Sc d'esta cidade
d'An£ra, Provisor e Juiz das jastificações de ^enere e casamentos p'^lo Tlusirissi-
mo e Reverendíssimo Senho*- Cabido Séje Ep scopal vacante et cetra. Aos que a
presente sentença vinmi faço saber, çue per tua petiçf.c enfiaram a dizer ao llus-
trissimo e Reverendíssimo Senhor Caoido, o Revere.ido Manuel Gomes Tavares
Vice-Vigario na ^arocl.ial do Sennor Bem Jesus do logar de Rabo de Peixe, ter-
mo da Villa da R''Ofcira Grande ília de Srn i^iguel, e o Reverendo Jo.sé Manuel
Pereira, cura da E-mida de .\oí..a S ínhori Jos Pr.izeres do logar do Pico da Pe
dra suffraganea a (.'ita Parocnial que ottenao do mesmo lliustrissimo e Reveren
dissimo Senhor Cabido utn despacho para o Reverendo Ouvidor do Districto pro
10Ó2 REVISTA MICH AELENSS

cedera vistoria na dita ermida, e achando os paramentos necessários para n'elia


se collocar o Santíssimo Sacramento por ficar qutasi distante da parochia uma lé-
gua, e comprehender este curato quasi .t)í! almas, dar licença interina para se col-
locar o Santíssimo, e como isto se achava executado, e tudo prompto do ultimo
gosto, e maior decência como constava do aucto de vistoria pediam por fim da
sua supplica fosse o mesmo lliustríssimo e Reverendíssimo Cabido servido man-
dar estabelecer Património para a existência do Santíssimo Sacramento á vista da
doação constante das Escripturas que offercciam. A qual supplica sendo pelo
. .

mesmo Reverendíssimo Cabido vista, por seu despacho me comme-


lliustríssimo e
teu, para que dispensadas as diligencias julgasse como fosse direito em cujo cum-
primento mandei proceder nas diligencias do estylo, com as quaes se form?.ram
auctos, que sendo-me afinal feitos conclusos depois de haver vista o Reverendo
Doutor Promotor, n'elles proferi a minha sentença do teor seguinte:
Vistos estes auctos de Património etc, mostra-se que os doadores constantes
das Escripturas a folhas três, folhas cinco, folhas oito e folhas dez, fizeram doação
irrevogável de dezesete mil e nove centos reis de foro annuo para todo o sempre
á capella do Santíssimo Sacramento da Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres do
logar do Pico da Pedra, termo da Parochial do Bom Jesus do logar de Rabo de
Peixe, cuja Ermida se acha edificada á custa do numeroso povo do dito logar e
n'ella pela visita pretérita a rogo do mesmo povo, por ser distante da parochia, se
collocou o Santíssimo Sacramento para se administrar o Santíssimo Sacramento
por Viatico ao resto da dilatada freguezia com utilidade do mesmo povo e da
Real fazenda; pois que sendo junta ao matto, como occularmente presenciei, se
tem este rompido pelo crescimento do povo e se tem feito cultivado de terra de
pão produzindo grandes novidades. Portanto e mais dos auctos vinculo os ditos de-
zesete mil e nove centos reis em Património perpetuo para ajuda do azeite e cera
para o serviço da capella e poderão recorrer ao Príncipe Regente Nosso Senhor,
não só para a confirmação da dita esmola mas para toda e qualquer outra que o
povo devoto d'aquella ermida, digna de ser parochia, quizer concorrer até áquella
quantia que julgar útil e necessária para a conservação da ermida, e despesas fei-
tas annualmente com as necessárias administrações. Angra trez d'Agosto de mil
oito centos e treze — —
João José da Cunha Eerraz E com o teor da dita sentença
mandei passar a presente por me ser requerida, na qual interponho minha aucto-
ridade Ordinária— e direito judicial, para que haja de sortir todo o effeito. Dada
em Angra sob sello da meza capitular, e meu signal aos onze d'Agosto de mil
oito centos e treze — Eu Ignacio Pedro Mendes, ofíícial maior da Camará Episco-
pal a subscrevi— Logar do sello — —
João Jtisé da Cunha Ferraz De chancellaria

quarenta reis— Lemos— Registada a folhas oitenta e uma Silva— Sentença na qual
se estabelece o Património da quantia de dezesete mil e nove centos reis de foro
annuo á capella do Santíssimo Sacramento da Ermida de Nossa Senhora dos Pra-
zeres, do logar do Pico da Pedra, termo da Parochial do Senhor Bcr.^ Jer.i:~, lo-
gar de Rabo de Peixe, ilha de San Miguel, a requerimento do Reverendo Manuel
Gomes Tavares, \'ice-Vigario da dita Parochial, e do Reverendo José Manuel Pe-
reira,cura da dita Ermida etc. Signal, e sello— Pagou de sello oitenta reis que se

carregaram a folhas cincoenta e oito- Brite Pires.
È não se continha mair nem menos na dita sentença que aqui fielmente co-
piei da própria, a que me reporto, e fica em meu poder neste logar de Rabo de
Peixe aos 7 de Setembro de 1813.

O Vicário Maniid Gomes Tavares


O presente documento foi registado no íivro de tombo da Parochia' do Se-
nhor BomJesus a folhas 126 lendo-se a quantia de 2U020 em -.-êz de dezesete
mil e nove centos que se lêem cm egual transcripção do mesmo documento feito
no livro de contas e outros registos do Santíssimo Sacramento n'esta freguezia
clelo cura d'ella José Manuel Pereira. Qual d'estis quantias é a exacta? Parece que
R*VÍStA -'
MlCHAHLiemil
rt^-^^1 tJ-
1 063

a declarada pelo cura, visto como nas contas do Santíssimo do mesmo anuo e ou-
tras posteriores só figura como receita ordinária a quantia de 17$900, total de dif-
íerentcs foros annuaes.
Foi por isso que se alterou n'este ponto a transcripção do documento aCímà',
substituindo uma cifra por outra.

/iarrnonio oftçrecido á Egreja parochial d^ Nossa Senhora dos Prazeres

Por ser offerta valiosa feita á Egreja parochial de Nossa Senhora dos Praze-
res, e porque por ella ficou dotada a mesma egreja, pela primeira vez de um ob-
jecto de relativa necessidade para a completa execução dos actos do culto, tem lo-
gar, ainda qut- tarde, n'estas memorias, a merecida referencia ao harmónio offere-
cido pelo Padre José Duarte Nunes, quando cura da congregação portugueza dê
San João Baptista da cidade de Ne\x' Bedíord, Alass dos tstados Unidos da A-
merica.
Em IQOO foi em excursão recreativa áquella florescente Republica o Padre
Christiano de Jesus Borges, então cura da Matiúz de Nossa Senhora da Estrella da
Ribeira Grande.
Em conversação com o Padre José Duarte Nunes, pôde o Padre Christiano
perceber o desejo que aquelle generoso Padre tinha de fazer uma offerta á egreja
parochial d'esta freguezia pela qual mostrasse a sympathia, que nutria ainda pelo
seu parocbo, de quem fora antigo companheiro no seminário, e a quem já depois
de padre auxiliara no serviço da parochiação, vindo aqui pregar por algumas
vezes.
Desejava comtudo conhecer o objecto que mais apreciado seria, e foi o Pa-
dre Christiano quem lembrou a offerta de um harmónio, para uma egreja onde
se faziam frequentes festaí, custando j$(60, por cada vez a vinda d'aquelle ins-
trumento, sendo a metade d'aquella importância para o aluguel, e o resto para
o transpcrte.
Acceitou do melhor grado o alvitre o Padre Nunes, e quiz fazer do Padre
Christiano o portador da sua offerta, com o segredo d'uma surpreza, que se
não pôde manter até ao fim, como desejavam os dois.
Foi em Setembro do citado anno de 1900 que a San Miguel regressou o
Padre Christiano, fazendo ao Parocho do Pico da Pedra a entrega da valiosa
offerta do amigo commum.
Pela vontade expressa do offerente só a 19 de Março começou a fazer ser-
viço o harmónio, honrando o seu santo onomástico, o Glorioso Patriarcha San
José com as harmonias d'um instrumento próprio, que veiu eliminar do orça-
mento parochial uma importante verba de despesa annual.
Por indicação da capella presidida por Manuel José Tavares Canário, soffreu
o harmónio uma modificação ha alguns annos, com o fim de abater-lhe o som,
que se incompatibiiisavam em seu parecer com as vozes e temperatura da nos-
sa terra.
No
presente anno de 1913 foi restituído á sua antiga afinação pelo parecer e
do Padre José Cabral Lindo, digno capellão do exercito em Ponta Delgada,
pericia
concordando nisso o citado mestre de capella Manuel José Tavares Canário.

Centenário eaçharlsfiço

O do estabelecimento do tabernáculo eiicharistico n'esta freguezia, e


registo
das que por esse motivo se levaram a effeito, devido ao antigo cura José
festas,
Manuel Pereira, que n'estas Memorias foi transcripfo, suscitou a ideia de comme-
morar devidamente a data do primeiro centenário d'um acontecimento tão notá-
vel para uma povoação, que muito se prç§^^ dç çatbolic^,
1004 ^ííáÉ^i-^^ji^^jií^í

Correu esta d;ila a 2'5 de Julho do presente anuo de 1913, umn sexta-feira, dia
de Santliiago Apostolo. O facto de não ser dia feriado obrigou a transferir para o
domingo immediato 27 de Juliio a parte mais importante dos festejos, que em ho-
menagem ao dia próprio tiveram de começar na sexta-feira.
Fará facilitar a execução de festas tão apparatosas, que demandavam o e<^fôr-
ço de muitos e a bóa vontade de tòdrts, foi riomeada pelo parocho próprio Umà
commissão comporta dos seguintes cavalheiros d'es'é logar; Manuel da Costa A-
inaral, António Luciano do Rego Calisto, Anton-io Soaies de Souza, Lui-^ Francis-
co d'Aguiar e José Moniz do Couto.'
Percorrendo com o seu parocho â fregaezia, pôde a commissão artgariar do-
nativos para ns festas centenárias que despertaram logo o maior enthusiasino, na
importância de 122?i0U0.
A parte espiritual das festas, como a mais proveitosa, mereceu os melhores
Cuidados do Parocho, que como primeiro e mais importante numero d'um exten-
so e variado programma quiz se considerasse a communhão e a assistência á san-
eia missa em todo o mez de Julho, co.Tsagrado no presente anno n'esta terra ao
Santíssimo Sacramento.
Pretendia-se que para commemorar os cem annos de residência de Jesus Sa-
cramentado n'esta terra commungassem em todos os dias do m.v de Julho cem
pessoas; tão bem foi recebida esta ideia, que o numero dos commungantes ascen-
deu sempre a uma cifra superior a 150, em cada dia, e em todo o mez ao nume-
ro total de 5.887.
Arderam em todos os dias do mez de Julho de dia e de noite com o mesmo
propósito, trez lâmpadas diante do Santíssimo Sacramento, sendo a despeza d'uma
custeada pelo parocho, e a das outras duas pelo povo, que acudiu logo com do-
nativos especiaes para esse fim.
Começaram as festas do triduo eucharistico que terminou no domingo 26 por
uma missa solemne em que foi celebrante o Parocho próprio, tendo por acolythos
o Cura próprio Manuel Soares do Couto e o minnrista Francisco Xavier d'Aguiar
Vaz Paciíeco de Castro.
Prestou-se, com a espontaneidade de ardente devoto do Santíssimo Sacramen-
to, a auxiliar estas festas o Padre José Lucindo da Graça, antigo e zeloso parocho
da freguezia do Santíssimo Salvador do Mundo da Ribeirinha.
Foi elle o organista da primeira festa effectuada, como fica dicto, na sex-
ta-feira.
Foi orador na missa solemne, annunciando o inicio das festas eucharisticas
de tão festivo e solemne centenário, o Padre Ernesto Jacintho Raposo, parocho de
muito mérito da egreja Matriz da villa da Povoação, o qual se soube haver á al-
tura da sua missão, sem mais preparação do que a do seu talento e piedade des-
de muito cultivada no amor do Santíssimo Sacramento com que tem feito da sua
parochia um dos centros religiosos de mais intenso ardor euchari.stico.
Em todo o dia da sexta-feira, de hora a hora fazii ouvir-se no campanário
da egreja parochial um festival repique acompanhado do tstalejar de foguetes,
que lembrando aos fieis d'esta parochia a data centenária da instituição da sagrada
Eucharistia n'esta terra era correspondido por aquelles com a tríplice Jaculatória
Bemdito e louvado seja o Santíssimo Sacramento da Eucharistia etc.
A noite da sexta-feira foi destinada r uma illuminação geral em todas as ruas
e casas da freguezia, a qual foi de um bello effeito, tendo a abrilhantal-a uma or-
chestra da freguezia de Rabo de Peixe, e differentes grupos de tocadores de di-
v-ersos instrumentos d'este logar, que com os seus descantes populares tornaram
deveras interes.sante este ni:mero do programma das festas.
No sabbado cantaram-se ao anoitecer vésperas solemnes com o Santíssimo Sa-
cramento exposto no throno da capella-mór, sobresahindo por essa occasião a bo-
nita ornamentação da egreja com a variada disposição de lumes que em multipli-
cado numero ornavam a capclla e o templo em geral, em candelabros e lustres,
que produziram um deslumbrante effeito. f-oicelebrârtW o Padre Manuel Augusto
Pereira, vigário da Parochial de S. José de Ponta l»Rada e assistentes o Padre
Manuel de Medeiros Rey, parocho da fâj.ã de Baixo i* Francisco Xavier d'Aguiar
Vaz Pacheco de Castro clérigo /// '^^tiõnbas.
As oito horas da manhã do domingt) teve jogar a missa destinada á primeira
communhão das creânças em numero de setenta, sendo celebrante o parocho pró-
prio. f"Oi acompanhado este acto a harmónio e cânticos de bonito effeito peio Pa-
dre jOsé Lucíndo da (jraça e três cantores que trouxera comsigo da sui Pa-
rochiâ.
A's ottee horas principiou a festa acompanliada a instrumental com bom nu-
mero de vozes de Ponta Delgada, sendo celebrante o Padre i\'.anuel Augusto Pe-
reira citado Vigário da Parochial S. José de Ponta Delgada, natural da freguezia
Matriz de Santa Cruz da Viila da Lagoa, acolythado pelos Reverendos João Aloniz
de Mello, vigário da Parochial de Nossa Senhora dos Anjos de Agua de Pau, e
Padre Jacintho Raposo, já citado, loi orador o Padre João José Tavares, illustrado
Vigário da Matriz de Santa Cruz da villa da Lagoa, que confirmou mais uma vez
os seus créditos de ecclesiastico intelligente e hábil.
A' lavanda da missa serviram os Èxcellentissimos Senhores João Maria Ber-
quó d'Aguiar e Guilherme Fisher Berquó d'Aguiar, residentes em Ponta Delga-
da que com suas illustres famílias vieram assistir a estas, ministrando um.i bacia
e jarro de prata, propriedade do segundo d'aq:ielles dois cavalheiros, que por
serem filhos de Luiz Quintino d'Aguiar, a que estas Memorias prestaram já hon-
rosa homenagem, teem. por esta freguezia a maior sympathia.
Honraram os mesmos com a sua presença o cortejo processional de tarde,
conduzindo o primeiro uma vara de prata, própria dos Provedores da confraria
do Santíssimo Sacramento, e o segundo a umbella, após o pailio.
Foi a procissão um acto imponentissinio, para cujo effeito convergiu a vonta-
de de tantos, n'um esforço de preparação de muito trabalho, superior a todo o
louvor.
Foi numerosíssimo o cortejo de cerca de duzentas e cincoenta pessoas, in-
cluindo o clero numerosamente representado, conduzindo o Santíssimo Sacra-
mento debaixo de pailio os mesmos ecciesiastícos, que haviam officiado de ma-
nhã á festa.
As ruas ornadas a capricho offereciam um espectáculo poucas vezes obser-
vado, dando a nota d'um verdadeiro e completo triumpho preparado pela fé
do povo d'este logar a Nosso Senhor Jesus Christo Sacramentado. Frani nume-
rosos os arcos, bandeiras e colgaduras, com que se via decorado todo o itine-
rário do préstito religioso, e pendentes das casas viam-se, alem de muitas capei-
las de flores e festões de verdura, os emblemas da Sagrada Eucharistia represen-
tados por uma custodia pintada em escudos ou medalhõts feitos de papelão, e
circumdados de flores.
Terminaram as festas eucharisticas da freguezia do Pico da Pedra, destina-
das á commemoração soiemne do primeiro ceníenario do estabelecimento do ta-
bernáculo do Santíssimo Sacramento, com um Te-Deum cantado no dia ultimo
do mez de julho, após a missa conventual, havendo por esse motivo uma com-
munhão geral de mais numerosa concorrência, e sendo distribuídos por todos os
commungantes bonitos chromos de piedosa recordação de um mez de serviço re-
1
iigioso, que fez d'esta freguezia um ceo anticipado.
NOTAS:
Por ser contemporâneo da instituição da Sagrada Eucharistia u'esta freguezia
o estabelecimento do peditório feito com a alcofa em todos os domingos para o
azeite da lâmpada do Santíssimo Sacramento, esteve em exposição a mesma alco-
fa pendente do bordão em que costuma ser conduzida, n'uma parede lateral do
interior da egreja com algumas maçarocas de milho pendentes, ornadas de flores
c ramos de oliveiras, e a opa encarnada do seu serviço.
:

Í0ô6 RÉVlStA MíCHXÉLtííSe

Na festa dò àòrhmgo
11, antes do sermão, subiu àò púlpito o parocho pró-
prio, fazendo a dos documentos allusivos ao estabelecimento da Sagrada
leitura
Cucharistia, transcriptos a paginas 845 e 84ô d'estas memorias no n.° de Novembro
de 1920.

A
concorrência dos forasteiros de diversos e distantes logires á procissão de
tarde maior que aqui se tem visto, podendo só a custo desfilar o préstito ao
foi a
sair da egreja não havendo comtudo a registar o menor conflicto ou desacato. Fo-
ram de Rabo de Peixe as duas bandas que acompanharam a procissão.

A convite d'um dos vogaes da commissão fez o inteiligente candidato ao es-


tado sacerdotal Francisco Xavier d'Aguiar Vaz Pacheco de Castro os seguintes
versos, que foram distribuídos profusamente em folhas impressas no ultimo dia
das festas.

Cem annos já são passados


Depois que Tu, meu Jesus,
Vieste viver comnosco,
Nosso Amor e nossa Luz.
Curo

Cantemos iodos um hymno, efe.

Cantemos todos um hymno


N'este Santo Centenário.
A Jesus, Amor Divino
Feito Hóstia n'um Sacrário.

Para os filhos que eram tristes


Porque estavam tão sosinhos,
Vieste, meu Pae bondoso,
Espalhar vossos carinhos.
Coro

Cantemos todos um fivmno, etc.

Aos que andavam vagabundos


Fora do vosso redil,
Quiaste-os, Pastor Celeste,
Fazendo-lhes graças mil.
Coro

Cantemos todos um hymno etc.

Aos que ficavam enfermos


E soffriam d'algum mal,
Remédio santo lhes davas
Vosso Corpo divinal.
Coro

Cantemos todos um hymnâ etc.

E aos pobres trabalhadores


Já cançados de soffrer.
Foste sempre o seu alento,
Desde o berço até morrer.
:

Coro

Cantemos todos um hynino ek.

Conselheiro, luz e guia


Nos males da nossa vida,
Has-de ser eternamente
Nosso Amor, nossa guarida.
Coro

Cantemos todos um hymno, etc.

Hoje, poren', n'este dia


De santas recordações,
Tomae, Jesus adorado
Nossos pobres corações.
Coro

Cantemos todos um hymno, etc.

E abençoando esta terra,


Que vos quer Senhor,
p'ra seu
Iremos cantar comvosco
No Céo o teu puro Amor.

No Autonómico de Vilia Franca, numero 751 de Q d'Agosto de 1Q13 foram


publicados os seguintes versos, cuja auctoria pertence ao Padre Manuel Jacintho
d'Andrade Dias, sacerdote esclarecido d'aquella mesma Villa

DOCE ESPERANÇA...

Ao Padre António Furtado de Mendonça, como recor-


dação da brilhante festa do Centenário F.uctiaristicu da sua
parochia.

Embora a procella
Medonha, infernal.
Açoite o Fanal
—A Egreja de Deus,
Jamais colherá
Da guerra os tropheos;
Que poder não ha
Que eguale o dos Ceos.

Riscar nunca pode


Da mente dos crentes.
Que alegres, contentes
Festejam Jesus,
A doce esperança
Que. em guerra e bonança
. .

Os torna athletas
—Aos filhos da Cruz.
lUt)8 WkViStX MífcrtXtlleVJslí

tm vlô vem o impio


Tni/er o terror.
A fome e a dôr
Com toda a porfia
Ao seio da Egreja,
Que bebe na peleja
Amor mais ardente,
A Eucharistia.

Pico da Pedra, 28 de Julho de 1913.

Erdup Sai d

Disoplina ecclçsiasíiça da Dío(ese d'flngra


(IKotavel altecação)

Por muito", annos foi de acalorada discussão na imprensa micliac-


objecto
leme que obri^java os nubentes a formalidades incom-
a disciplina d'esta diocese,
modas, sem interesse para a verdade, que se pretende apurar nos tribunaes cccle-
siasticos, com prejuizo das partes interess^xdas e só com proveito da burociacia
diocesana-
Sustentou a defeza do interesse dos povos e dos direitos dos parochos o Vi-
gário d'e£ta freguezia António Eurtado de Mendonça em diversús series de artigos
publicados no "Norte» da Ribeira Grande, "Diário dos Açores» de Ponta r>elgada
e "Autonómico" de Villa Eranca, reclamando para o cartório parochial o serviço,
que em diligencias matrimoniaes se fazia nas Ouvidorias.
Mereceu sempre o applauso dos parochos como melhores conhecedores das
necessidades dos Povos, esta campanha, que até ha pouco só conseguiu indispor
o parocho do Pico da Pedra com trcs bispos successivos d'esta ['iocese e com os
seus ouvidores, que não viam cotfi bons olhos a independência com que um si.n-
ples padre se atrevia a criticar uma ordem de coisas consagrada pelo tempo e a
que estava ligado o interesse dos mais elevados funccionarios d'esta L^iocese. O
facto era tomado á conta do reb?lIião, sem que a paixão dos offendidos lhes per-
mittisse ver que quem assim se indispunha c^m os seus superiores desmerecendo-
Ihes as graças, nada lucrava em proveito pessoal e só visava o bem dos povos.
Uma representação collectiva de quasi todos os parochos da ilha de S. Mi-
guel pedindo ao actual Vigário Capitular d'esta Diocese Dr. José dos Reis Eisher
o mesmo que em diversos artigos fora já solicitado pelo Vigário do Pico da Pe-
dra, ia tendo o mesmo resultado.
Na impossibilidade de contestar as razões allegadas e a justiça do pedido, re-
correu-se a um machiavelismo mal disfarçado, nomeando uma commissão de pa-
rochos da Ilha de S. Miguel, com o vigário do Pico Pedra á frente, para estudar
o assumpto, e fazer a lei que se pedia.
O resultado foi a commissão insistir pelo despacho da representação dos i'a-
rochos reproduzindo-a no seu accordão e pondo de parte a imposição q.ie lhe
fora feita da estructura da lei, com que se pretendiam divertir, sem duvida, os
que blasonam de conhecedores das praxes burocráticas.
Irocaram-sc por este motivo algumas cartas entre o parodio do Pico da Pe-
dra e o actual Vigário Capitular, que vendo a firmeza de quem lhe descubrira o
jogo pretendeu intimidal-o, qualificando o seu procedimento de mudernista e amea-
çando-ocom as penas canónicas com que são castigadosestjs herejes de nova espécie.
Eoi após um curto período de silencio n'esta questão, e depois d'um compas-
so de espera adrede premeditado, que appareceram as Provisões Diocesanas de
30 de Junho de IQli e 9 de julho do mesmo anno, concedendo aos parochos
tgVWTA MlCHAgLgNSE JOÔO

d'esta Diocese a parte mais importante da sua reclamação, sem que cm taes do-
cumentos se faça a miiiinia referencia á representação que por esse motivo havia
sido pelos parodies da ilha de San Miguel.
feita
Foram os primeiros a gosar das prerogativas do novo direito creado pelas al-
judidas provisões, n'esta freguezia, José lavares f"ra/ão e D. Joanna do Santo
Cliristo Taveira, que sendo parentes em quarto grau de consanguinidade collate-
tal egual, tiveram o seu inquérito na sacristia da egreja parocliial d'esta freguezia
no dia 3 de Setembro de 1913, sem que para obterá dispensa matrimonial de que
careciam fosse mister ir com três testemunhas á viila da Ribeira Grande.
Seiia imperdoável injustiça omitir aqui o nome do Reverendo José l.ucindo
da Oriiça Souza, ilustrado e sympathico ouviJor da villa do Nordeste, que em for-
moce destaque, que tanto honra a sua mentalidade de reconhecida superioridade,
se solidarisou com os parochos, seus eolleg.is subscrevendo a representação destes.
For tudo isto

LAUS DEO

fsclarecirriento d'{irn ^açlo

Referindo se essas .Memorias na secção solemnidades eucharisticas — a um de-


sacato pratic;>do em tempo na capella do Santíssimo Sacramento da egreja paro-
"hi.il d'esta freguezia, não foi pussivel precisar então a data d'aquellc aconteci-
n'cnto nem a da festa, que se fez cincoenta annos depoii para desaggravo de ta-
manho s.-ícrilegio. Fica preenchida esta lacuna com a declaração de que o sacrilé-
gio referido teve logar na noit^ de 3 para 4 d'Outubro de 1848, e a festa de des-
aggravo no dia quatro d'aquelle mez e anno de 1808.
Recordou este acontecimento a Persuas lo em o n." 1853 de 21 de Julho 1897'
nos termos seguintes :

«.Mais um mais um nefando sacrilégio!


attentado ho.-roroso !

«Quem tal de S. Miguel ha sete annos esta parte conta já cinco


diria! a ilna
desacatos ao Santíssimo Sacramento, quaes são os perpetrados noí^ Fenaes da
Vera Ouz, Ponta Garça, Rosto de Cão, Fajã de Baixo c agora no Pico da Pedra,
rommettido em a noite de 3 para 4 do corrente mez.
«Segundo informaçõjs que temos de bòa fonte, o malvado ou malvados, de-
pois de arrí>mbarem uma drs paredes da Capella do Sacramento d,i supra referi-
da freguezia do Pico da Pedra, fizeram o mesmo ao Sacrário, arrancando-lhe a
fechadura, que roubaram juntamente com a Pixide cu Póma,itnáo antes lan-
çado as parlic.ilas em um veu, que por acaso alli acharam», Transcripto do «Aço-
reano" de 9 d'outubro de 1848.

Blilia da Santa CrUzada


Fsta institiiição •destinada á sustentação dos seminários diocesanos e á conser-
vação c repar.ição das egrejas pobres mereceu sempre os maiores cuidados dos
Parochor do P'co da Pedra, que n'ella tinham uma fonte de receita bastante se-
gura para a sua egreja parochiai.
Ciiegou no tempo do actual parocho a attingir uma cifra de perto de sessen-
ta mil reis, o que não era pouco para uma população pobre e de numero res-
tricto.
Recebia a Junta de Parocliia aunualmente p^.i-a os encargos da fabrica da sua
administração o subsidio ordinário de 40S0.50, sem que no largo período de 20
annos de gcrenjia do actual parocho se solicitasse nunca qualquer subsidio ex-
traordinário.
Administrando a Junta de Parochia d'e»ta frcguejia cumulativamente as fabri-
1070 REVISTA MICHAELEN3Í

cas dl egreja parochial d'esta fregiiezia e da egreja de Nossa Senhora da Bôa


Viagem, que no tempo era annexa a esta, dividia-se a referida quantia pelas duas
parochias, cabendo por isso a esta, a quantia de 20S025.
Com a separação temporal das duas parochias effectuada em 1Q07, foi mister
saber do Prelado diocesano se a mesma divisão se continuaria a fazer, ou se fica-
ria pertencendo o subsidio referido na sua totalidade á Parochia das Calhetas, vis-
to originariamente ser destinado á egreja de Nossa Senhora da Bôa Viagem como
o indica a denominação das egrejas subsidiadas, feita no 1." volume do Boletim
Ecdesiastico d'esta Diocese.
Boas razões assistiam á parochia de Noasa Senhora dos Prazeres para conti-
nuar a ser subsidiada com o quantitativo indicado. Era tão pobre como a de Nos-
sa Senhora da Boa Viagem e accrescia-lhe o encargo da sustentação do cemitério
parochial, com que a de Nossa Senhora da Bôa Viagem não conta, visto não o
ter próprio, e sendo o subsidio á egreja o maior impulsionador da esmola com
que para a Bulia da Cruzada concorrem os fieis em mau campo ficava collocado
o parocho do Pico da í^edra para solicitar de seus freguezes uma esmola com que
a sua egreja nada tinha a lucrar.
De nada valeiam estas razões para quem de longe julga as coisas, e no juiz
das causas tem mais em vista a pessoa dos litigantes, como por vezes o teni mos-
trado infelizmente a e.\i"»eriencia.
Mal vista a Bulia da Santa Cruzada pela reprovação geral, que tem merecido
de todos os bons catiu.licos de Portugal a sua administração, feita por uma buro-
cracia sem fé, de nomeação dò poder civil, e tendo á sua frente um arcebispo,
que em todos os actos da sua vida tem mostrado quam justa foi a recusa feita á
sua confirmação pelo immortal Pontifice Pio IX, faltava-lhe só a deliberação epis-
copal que privava esta freguezia tão pobre do subsidio de 20$025, i^ara receber o
ultimo golpe de misericórdia.
¥o\ assim que desde o anno de 1912 nunca mais se distribuiu uma Bulia pe-
los fieis do Pico da Pedra, que apenas por instincto a deixaram de solicitar.
Com a nova organisação dos serviços da Bulia, que passou a denominar-se
Indulto feito em moldes de maior justiça e constando de um pessoal exclusiva-
mente ecdesiastico voltou a freguezia do Pico da Pedra a satisfazer muito volun-
tariamente esta tributação da maior utilidade económica para o bem da Egreja
em Portugal.?
——
KEVISTA M lCHAEl F.NSE 1 07 1

XIV

O*

Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada <=•>

.Em tempos idos, era costume a Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada
fazer quinta feira Santa uma procissão á qual dedicava particular attenção re-
em
vestindo-a de certo brilho e imponência.
Uma commissSo de irmãos era eleita pelo Provedor e mais conselheiros para
a realizar e na sua ordem e preparação ponha ella o seu cuidado, por forma a se-
rem integralmente cumpridas as indicações da mesa e attingido o fim que tinha em
vista, qual o de dar ao acto a maior solemnidade, não só para que com tal demons-
tração exterior se excitasse e exhortasse o povo christão ao devido sentimento da
Paixão de Cliristo Redemptor, como ainda para conduzir os fieis a satisfações pe-
nais penitenciando-se de seus peccados.
A mais afastada noticia que temos encontrado d'esta procissão vem de lò2l.
N'este anno realisou-se o cortejo processional com a auctoridade e a piedade
acostumadas, recommendando-se ainda que sahisse cuidadosamente ordenado a fim
de provocar a conversão dos extrangeiros faltos de fé, ou pelo menos o respeito
pelas cousas pertencentes á religião.
Como vamos vêr, a nota de maior destaque d'esse cortejo encontrava-se nas
bandeiras que pelo meio d'elle se erguiam pondo bem no alto os trechos doloro-
sos da Paixão de Christo em pinturas de desenho bárbaro e de coloridos crus,
emocionando fundamente o povo e commovendo-o até ás lagrimas.
Eram as bandeiras verdadeiros painéis duplos pintados de uma e outra ban-
da, devidamente encaixilhados e sustidos- por varas de madeira que se fixavam em
chapas de ferro a meio da moldura.
N'aquella procissão de ha justamente três séculos, coube a bandeira da Mise-
ricórdia ao Sargento-Mór João Velho Cabral, que a conduziu acompanhado por
dois tocheiros, pertencentes um a Manuel Cabral Botelho e o outro ao syndico
de St." André, Baltazar Gonçalves, sendo estes seguido* por padres cantando la-
dainhas e tomando depois logar aquellas pessoas que por sua devoção desejaram
acompanhar a procissão.
Apparecia então a primeira bandeira representando Christo orando no fio/to
levada por António Lourenço de menor condição e ladeada, como a bandeira da
Misericórdia, por deis tocheiros transportados por Melchior da Motta e por Fr;in-
cisco Fernandes de menor condição; um novo grupo de padres cantava ladainhas
rematando o acompanhamento d'esta bandeira, seguindo-se logo a turba dos dis-
ciplinantes, atropelando-se, gemendo, sangrando em violenta flagellação em volta
de mais cinco bandeiras que representavam respectivamente—/! Paixão de Christo
levada por Francisco Mendes Pereira e os tocheiros por Jorge da Costa Oliveira e
Francisco Gonçalves o moço Carpinteiro, A apresentação de Christo a Caifaz
levada por Simão Muniz, carpinteiro de carros, e os tocheiros por Gonçalo de Sou-
za Benevides e Aíanuel Fernandes, Sapateiro, A prisão de Christo d Columna leva-
da por Jeronymo de Castro e os tocheiros por Miguel Pereira Lopes e Miguel Muniz
—A do Ecce Homo levada por Diogo Fernandes e os tocheiros por Simão Tavares
e Bartholomeu Fernandes e finalmente a que representava Christo com a Cruz le-
vada pelo Capitão Francisco Tavares e os tocheiros por Miguel de Moraes e Do-
mingos Carvalho.
Como se nota, as pessoas de condição nobre alternavam-se com os plebeus:
(a) Ver artigos anteriores do mesmo aiictor sobre Arte nos n,"' 2, 3 e 4 do 2." anno da Revjsta e
n.»» I, 2 e 3 do 3.° anno.
1073 Utvmá MICHAEL EKSg

\rtibandeiras pertenciam ás primeiras ç as outras Ire^ aos segundos, indo inter^


pnlados.
Terminada a passagem d'estas seis bandeiras tinha logar então a Irmandade
da Santa Casa com balandraus em filas, acompanhada peio escrivAo da Casa. ao
tempo António Sanches, e por fim o provedor jacome l.eite de Vasconcellos empu-
nhando a vara ornada dos emblemas próprios do seu cargo.
Apoz o Provedor tinha logar o Capeliao-mór P. t'rancisco (jonçalves levando
o Crucifixo que no tempo do Conde D. Manuel da Camará a elle pertencia, dan-
do assim, conforme diz o documento (1), "Grande exemplo ao povo-.
Ao Capellão-mór, ladeado por doze tochas de quatro pavios e levadas por seis
irmãos nobres e seis de menor condição, seguiam-se os capellães menores da Santa
Casa e mais padres, cantando o psalmo_"Miserere mei Deus".
Por fim e como remate, duas insígnias mais, de Christo morto a distancias
conven entes, uma representando a descida
da Cruz, levada por Simão Ruiz e os to-
-.-^. cheiros por Francisco Lopes Muniz, no-
*^- bre, e Sebastião de Lima, ourives: a outra,
a Sepultura, levada pelo Capitão Christo-
vam Paim da Camará e os tocheiros por
Pedro Affonso de Viveiros e Francisco Tei-
xeira, imaginário, e ambas acompanhadas
por padres caniando ladainhas.
Dois exemplares de bandeiras, vindos
d'esses remotos tempos, encontram-se ain-
da na Santa Casa: um, a bandeira da Mi-
sericórdia, o outro, uma bandeira processio-
nal; do consis-
aquella conservada na sala
tório onde ai:parecem retratos de bemfeito-
res, sala mobilada no gosto antigo cuja
austeridade é no emtanto quebrada por mo-
dernas photographias coloridas de alguns
doadores que bem mereciam as suas effigies
reproduzidas a óleo e revestidas por mol-
duras no estylo do mobiliário; esta na sa-
cristia.
A
bandeira da Misericórdia represen-
de uma
banda, as figuras tradicionaes
ta
relacionadas com a instituição das Miseri-
Um dos lados da Bandeira da córdias, facto notável da nossa historia do
Misericórdia século XV, do tempo de Uarcia de Resen-
de que cm sua Misceilanea a elle se refere dizendo:

Vimos também ordenar


1 la AAisericordia Santa
Cousa tanta de louvar
Que non sey quem nô s'espanta
de mais cedo non se achar
Soccorre ha encarcerados
E conforta os justiçados
A pobres dá de comer
AUiitos ajuda ha soster
Hos mortos são soterrados.

O rei e a rainha da bandeira da Santa Casa, embora seiscentistas na sua in-

(1)— Livro (ias procissões do anno de 1 021 exibtente no Archivo da Santa Casa de Ponta Delgada,
REVISTA MICHAELENSe 1073

dumentaria, s3o D. Manuel que em 14Q0 instituiu a iTiisericordia de Lisboa e sua


irmã a desditosa D. Leonor que ordenou a instituição.
O monge junto do Papa representa Frei Miguel de Contreras, symbolizando
as restantes figuras da Igreja.
A forma porem como se apresenta pintada esta bandeira não obedece intei-
ramente ao que vem indicado no accordão da mesa da Santa Casa de Lisboa 'de
15 de outubro de 1575 que diz -«de comnuim accordo e unanime consentimento
determinamos que no pintar das bandeiras esteja de uma parte a imagem de Chris-
to Redemptor da outra a Santissima Virgem Mãe de Misericórdia".
e
A' sua direitaum Papa, um Cardeal e um Bispo coino cabeça da Egreja mili-
tante e um religioso da Santissima 1 rindade, grave, veiiio e macilento de joelhos
e mãos levantadas com estas letras L- Ai. 1. que querem dizer, I'rei Miguel Insti-
tuidor e da parte esquerda da mesma Senhora um rei e uma rainha em memoria
do Ínclito rei D. .Wanuel e a rainha D. Leonor, como primeiros irmãos d'esta ir-
mandade; mais dois velhos graves, devotos companheiros do venerável instituidor
e aos pés da Senhora algumas figuras de miseráveis que representam os pobres.
Do lado opposto áquelle em que apparece a Virgem está pintada a descida da Cruz.
Tanto estes painéis como os da bandeira processional não despertam interesse al-
gum sob o ponto de vista artistico; no emtanto tem o valor de documentos repre-
sentativos de velhos usos e costumes religiosos que derivarani de uma phase da vi-
da psychica antiga, orientada pelos mais elevados sentimentos philantropicos.
Humildes na sua factura e banais no
seu aspecto elles merecem ser conserva-
dos por marcarem a realização entre nós
de um passo na civilização e de um no-
bre ideal, o de prodigalizar tratamento aos
doentes do corpo e carinho e comisera-
ção para as victimas de taras moraes.
L como collaboraram nas impressio-
nantes procissões de outras eras, e como
auxiliaram a preparar os espíritos para a-
ctos de benemerência traduzidos em es-
molas colhidas nas procissões e destina-
das aos doerítes e aos presos, aos órfãos
e aos roubados, aos miseráveis, aos ve-
lhos, aos mendigos e aos estrangeiros el-
les merecem o nosio respeito para serem
os symbolos de uma lucta secular coii
tra o soffrimento humano e devendo ser
vistos, não nas suas cores neutras e patina-
das pelo tempo, mas sim envolvidos n'es-
sa immensa torrente de luz brilhante de
piedade e amor que pelos nossos antepas-
sados foi por meio d'elles lannçada atra-
vez os séculos.
Alem da bandeira da Misericórdia
encontram-se ainda no Consistório alguns _ j„ j d j :.. ^„
exemplares das varas que outr'ora eram O outro lado
,
da Bandeua
_,
da
Misericoraia
distribuídas aos irmãos nobres e de me-
nor condição que confundidos n'um sentimento egualitario e verdadeiramente
ehristão, cooperavam na mesma cruzada nobilíssima.
Encaradas estas velharias, não como simples curiosidades, mas sim como sym-
bolos das nossas mais honrosas tradições piedosas, julgamos que no Consistório
deveria igualmente figurar a única bandeira processipnal ainda existente, condem-
nada a desapparecer com o andar do tempo.
1074 REVISTA MlCHAELENSE

XV'

O renasçirnento d'urn» arte


D'cntre os lypos da marcenaria antiga, um se destaca, conhecido por 'nacio-
nal ^ marcando um pcriodo notável na historia d'este ramo de arte.
Elle aiipareceu itelos meados do século XVIII, revestido de grande valor ar-
tístico resultante da harmoiiia das suas
proporções, da sobriedade da sua cór e
do equilíbrio da sua ornamentação e preenchendo a phase final de uma longa
evolução da arte da marcenaria, tendente á constituição de um estylo portuguc/.
L) seu período de florescimento coincide com o reinado de D. Josc, mas o seu ini-
cio vem do de D. João V.
Este rei «magnânimo' applícando o ouro do Brazíl a muitas preciosidades ar-
tísticas, deu acarte do seu tempo um cunho de grandiosidade e de riqueza incon-
fundíveis, o qual poderosamente concorreu para a feição faustosa da vida nacio-
nal d'então.
Alfaias de alto valor vieram da Itália da França, da Flandres e da Índia e
a marcenaria portugueza, copiando a arte franceza, apresentava os seus productos
recamados
e dourados de aspecto esplendoroso.
;í5?!>.
João V, porem, nos últimos annos da sua
I).
vida magnificente e esbanjadora, modificou a sua
orientarão e do derradeiro anno do seu reinado
nos vem a pragmática de 24 de Maio de \74')
que, inspirada em ideas de economia, proliibin
a applicação de ouro, da prata e da pintura aos
mobiliários, salvo raras excepções.
Os artistas então, tendo apenas a madc''ra
ido Brazíl na sua côr natural, n'ella procuraram
toda a ornamentação, auxiliada apenas e parci-
inoniosamcnte com metal, no~ puxadores e nos
espelhos, em geral finamente recortado.
Surge então o novo estvio representado por
arcazes bojudos e bufetes de pés espiralados,
contadores orlados de variados {remidos e ou-
tras mais peças, as quaes, ainda pelo segundo
quartel dn século XIX, abundavam nas casas
morgadias d'esta Ilha, sobresahíndo pela sua ele-
gância e elevado valor artístico, as cadeiras de
assento e espaldar de couro lavrado, nas quaes á
arte da marcenaria se alliava a do gravador,-com
grandes exigências da sciencía do desenho, jun-
tas ás da minúcia do lavor.
Depois, por causas diversas que não inte-
ressa agora recordar, começam a perder-se, en-
Cadeira relha, estylo D. João V
tre nós, esses preciosos modelos da marcenaria
c as cadeiras, pelo motivo principalmente da sua mais fraca construcção em relação
ás outras peças do mobiliário, são as primeiras a desfazerem-se.
L'ma d'ellas sobrevivente ainda, um bom modelo antigo digno de ser apresen-
tado como excellente guia, vamos tentar descrever, auxiliando assim a reprodução
photographica.
Os lavores do assento e das costas, dííferentcs em seus delineamentos, obede-
cem inteiramente ás regras que então se observavam e ao estylo caracteristico da
cpocha.
ftEVlSTA MICHAELENSE
u^4
; ^.* --
1075

Quatro lavores symetricos rematando interiormente em flores alcachofradase


envolvendo um escudo central, constituem o traballio do assenlo da cadeira; o es-
paldar, é sob todos os pontos de vista muito valioso; um vasto desenho de arabes-
cos lainíamente tratados sobe até ao escudo do alto, sustendo-o c emmoldurando-o
iruma ornamentação heráldica.
I-lores diversas estilizadas d'entre as ijuaes sobresahem belos jacinthos, espa-
Iham-se artisticamente por toda a composição. A meio, duas figuras nuas de cre-
anças ct)llam-se ás hastes floridas, procurando, em expressiva movimentação, dar
a linha curvilínea ao ornato que as sustem.

Por fim, o escudo cercando a graciosa fi.eura feminina na qual se rei^resent-i


o typo histori'-o da dona portugueza outocentista, entre ridículo e attrahente, a seria
do ultimo terço do referido século, com seus vestidos de painéis já reduzidos, cin-
tura estreita mas não excessivamente longa e bicuda, o penteado de troncha e la-
ços de fita pendentes, dando um grande volume á testa e na mão direita empolei-
rado o papagaio palrador.
Finalmente, como remate do escudo, apparece um vaso florido ladeado por
duas aves debicando com elegância e gracilidade flores que d'elle pendem sime-
tricamente.
Nada podemos dizer sobre a auctoria d'este trabalho. Nunca encontrámos no-
ticia clarareferente a lavrantes de couro, no emtanto, suspeitamos°ter sido esta arte
exercida nos conventos de frades pela razão de apparecerem lavores em capas de
antigos livros de contas, por exemplo em
alguns da Santa Casa de Ponta Delgada,
encommendados nos conventos.
A arte, se a houve entre nós, de-
cahiu, finou-se e durante longos annos
cousa alguma se produziu, parecendo não
mais poder surgir.
Assim não aconteceu felizmente.
Vm habilissimo artista dotado de ra-
ras qualidades a fez renascer com notável
briliio.
O Sr. Manuel António de Vasconcellos
começou por 1881 a estudar pacientemente
essa arte antiga, e interpretando criteriosa-
mente o seu sentido, e identificando-se com-
pletamente com o seu carac.er e ainda fa-
bricando as ferramentas necessárias, pro-
poz-se revivel-a, o que conseguiu com gran-
de êxito, produzindo trabalhos de subido
valor n'uma correcção impeccavel de dese-
nho e n'uma perfeição inexcedivel de lavor,
cfim todas as graduações e toques artísti-
cos e com todas as minúcias de perfeição
technica.
E assim tem vindo o nosso artista a fa-
O Siir. Manuel Aitfonh de V<nconcellos
zer arte, não pelo interesse pecuniário mas
pela arte, sahindo esses preciosos trabalhos de suas mãos impregnados d'aqueIlo.
subtil interesse esthetico que só se pode encontrar nas obras executadas com en-
thusiasmo, com carinho, com amor c honestidade, infiltradas ate ao âmago pelo
sentimento do artista que liie comnmnica, por via do seu intimo e fervoroso culto
pela belleza, essa vida eterna, esse espirito imorrcdouro que animam todas as for-
mas de verdadeira arte, mesmo as de origem mais humilde.

Artista conhecedor dos estylos antigos ç da arte de desenhar, dotado de uma


1076 RèvisYA nííèhXelnsee

notabilissima aptidão technicá e de sentimeiTto artí^tito, occwp:» «m logar de desta-


que nas artes açoreanas.
Em outro meio elle séria úm èrande artista em qualquer ramo a que se dedi-
casse.
Lembramo-nos ai^ndâ bem da justa e honrosa critica feita em Lisboa, por quem
tinha verdadeira competência para a fazer, a um biombo em couro lavrado da sua
auctoria, esplendida peça que brilharia em um museu da especialidade.
Conhecemos alguns cadeirados lavrados pelo Sr. Manuel de Vasconcellos, no-
tando-se em todos elles a mesma preoccupação
e o mesmo anceio de perfeição.
Como exemplar d'esses trabalhos reproduzimos uma das ?uas cadeiras per-
tencente á Camará Municipal de Ponta Delgada, na qual se reconhece o raro con-
curso de qualidades de que é dotado o gravador, a quem, como deixamos dito,
cabe inteiramente a honra de ter feito renascer com grande brilho uma beila for-
ma de arte, apoz longos annos de desprezo e de esquecimento.

Luiz Bernardo Leite dAíliavde-

Cadeira presidencial i!a Camará Municipal de


Ponta Delgada, obra do Senhor Vasconcellos
WBVISTA NICHAELENSE 1077

fetãtiftíi m njmmtm

Durante os axinos de 1SS5-I8&9


1

Q«J^V0f90 rot.' i

Dlstricto de Ponta Delgada


EscboJ2s Officiaes
'
1078 REVISTA MICHAELENSe

QVFKDHO N. 2

e:scihoua.s f^a.r-tksuí-a.res
...
.. .

.REVISTA MICHAELEN3E 1079

QUADRO N.' 5

Districto dc Ponta Delgada


Cursos nocturnos
Cursos regidos por Cursos regidos por pro- Alumnos que frequentaram Quantias com due annualieile cg«-
professores officiaes fessores particulares os cursos noctursos corien p.* a siiste,nla(3o dos curses

De iie.;otes De adultos De neioies De adultos MEHORES AOULIOS

Annos Concelhos

Lagoa 17 17 7 7 24 24$000
1888 Nordeste
Ponta Delgada 71 71 97 97 168 94$S00 18$000
Povoação ....
a Ribeira Grande 38 38 43 43 81 96S000
Villa Franca. 35 35 12 12 47 72$000
1880 \'illa do Porto

Total 151 161 159 159 320 118$800 186$000

Lagoa 1 18 18 24$000
1887 Nordeste .....
Ponta Delgada 25 150 150175 94$800 181000
Povoação ....
a Ribeira Grande ló 16 36 36 52 968000
Villa Franca . 36 36 36 728000
1888 Villa do Porto

Total 41 240 240 281 118S800 18ÒS000

Lagoa 15 15 15 24$000
1886 Nordeste
Ponta Delgada 13 122 122 135 94$800 18g000
Povoação . . .

ã Ribeira Grande 16 26 26! 42 32S400


Villa Franca . 32 32 32 72$0õO
1887 Villa do Porto

Total 29 195 195 224 118$800 122$400

Lagoa
1885 Nordeste
Ponta Delgada 30 129 129 159 89$800 18$000
Povoação ....
a Ribeira Grande 65 6 Ó 71
Villa Franca . 30 30 30 72$000
1886 Villa do Porto

Total . . 4 4 4 6 6 1 7 05 95 165 165 260| 89$800 90$000

Nota:— Os cursos de adultos são também frequentados por menores.


1080
REVISTA MlCHAElENSf

QUADRO N. 4

Dístriclo dc Ponta Delgada

insi
REVISTA MICHAELENSE 1081

t
10 82 Revista Michaelen sç

QUADRO M. 7

I>is"ti-lc-to ci^ IE=*oxx"tai ID^lg-ELcaLa,


Exames finaes dos alumnos das eschoias primarias oíficiaes e particulares

CNSIMO ELEMENTAR
iteVtSTX MICHAELENSE 1083

QUADRO M/ S

Frequepcia dos alurnoos ijais escbola? prirnaria^s


-' —^~
1084
ÇEVISTA WCHAELENSE

BETHEiSCOURT
o.olS^Í^;------^RAao-saB.,
..V .11111,0 iniiiliiiido íl p:i)t]ii,-|g <:)o

CAP. II

o Velbo de^ Ribeiras Braiva,

Nasceu -n^as Èn°rias 'fÓTrom'*;eu'',n?n"'f '^ í^-^'^--"-'


'^V^h^^'^'°' (c. 5,.
perto da R.beira Brava, '^'^^'^j"-». '^ndo ido morar para
te velho, foi
ondeTeve "Jnirnr.
conheeido'pelo velhídr rL'^^?r'''''^".^P°^''"^^í^<^" '^^ bastan-
Barbara
india
Gomes Ferreira, cuja ascendência
com D. Henrique de Menezes d
^'!°" "'"^ ^^'''deira com D,
'"" '"''^'"^ «f'*'^'': serviu
na
L"'
Schema I:

Uomes Ferreira


descendente dos Ferreiras
ao -Morgado de Cavaileiros
cas. c. D. Izabel Pereira de
Lacerda ,

r~~
uonçaio Ayres Ferreira
\

(vid
I

A'. 0. abaixo)
1^^^^ "~"~" "^»—
1
c c
«"^ Ji^i^B^Ba^
('-')

D. Guiomar Ferreira c. c. João Gomes


' (Vid. N." 11. adean tfl
•j

D. Barbara Gomes Ferreira


^
'

n Marianna
D- ^^ •
r, '

Botelho-
'

e. c
João de Bettencourt o Velho Ferreira, c.c. Francis-
da Ribeira Brava Bettencourt
^^^^^
dos co'ínVall?oT'/e%^ro\5aíví
no logarda ribeira que
y
tomou o seu
do seu appellido que toi
desde a ribeira do se^u
vive?mrã -^mZ- ^'^Z^
nome! '"JfrTbeifale^João
'"''"'' ^- "^-^^
iaSTolt^í ^l^°'"^'"' '^"'
^'^
'^^ °°"'^^'° ^vres
^ '™
'''*°" "" '""
.Foi o
""'" *^"^=' '^"^ '^"^
~ -

Gome?
'
Foi casadotn"r '"r'"^''.
^^P"""''^ "o Zarco.
que ellede"",'o°,e^?°;j
ra"l^rra';oTotT-^ir^ " "°- ^'^ -""-•
lhos na nova ilha, "''''" """^ °^°".^L^
'' ''«"^^m que teve «:
nelo que ao l«,?;.iL-^
n,e de Eva. V.d Hist.
inTuíána" do
P^.^^&?d^.rrv°oT^'*^^^T" Vlp^-^lfo^ro.""'- "
Trovaíí;r "foí^oT»^^^^
Fun<5hal, junto
á ribeira que d'e7le
ve .uuos bens, que recebeu
"^^ ^
'oZV
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-^"^'Í:^
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Í'^'^' ''-^

-^d"^.*
" " »'"'
'hi^av m!lo
^'^^" P"*» do
em '^^HT^.^;::-^,,
^^^^f^ZtZ)^^.^

f^X AlcrtXltLENSE 1085

I Henrique, como consta do seu testamento de mâò commum com a mullier, feito
I ) dia em que casaram na Madeifa, aos 17 XI- 14Q3.

Do casamento de João de Bettencourt, o Velho da Ribeira Brava, (D. 9.) corii


. Barbara Qomes I-erreira, nasceram:

E. 12. hrancisco de Bettencourt, no Cap. 111.

E. 13. Pedro de Bettencourt, no Cap. VII.

li. 14. Henrique de Bettencourt, que segue.

C. 15. D. Igne? de Bettencout, que cas. c. D. Luiz de Moura, Cstri-


beiro-mór do infante D. Luiz, de quem só teve filhas que fo-
ram freiras.

E. 10. D. Izabel de Bettencourt, no Cap. V. .

E. 17. D. Catharina de Bettencourt, que cas. c. Luiz d'Athouguia, de


quem houve geração.

E. 18. Gaspar de Bettencourt, casado com D. Izabel de Dornellas,


filha de Mem
de Dornellas, o Velho, de quem teve uma filha
chamada D. Antónia, casada na Certa com António Pereira,
de quem houve geração.

'
E. 14. Henrique de Bettencourt, 3." filho de João de Bettencourt, o Velho
da Ribeira Brava, foi Moço-Fidalgo e casou na Madeira, onde viveu,
com D. Helena de Vasconcelios, filha de Ruy Miz de Vasconcellos
e da sua mulher D. Isabel Corrêa.
Do seu casamento houve os 4 filhos seguintes:

E. IQ. António Mendes de Vasconcelios, Moço-Fidalgo, casou corii


D. Filippa de Moraes, filha de Fernão de Moraes e de sua
mulher D. Filippa Casco; d'este casamento nasceu a seguinte
filha:

O. 20. ^-D. Helena da Vasconcelios que casou com João de


Bettencourt de Freitas (F. 17Q) no Cap. VII.

F. 21.=Francisco de Bettencourt, que segue.

F. 22.^ -João de Bettencourt de Vasconcelios, por alcunha 'O Leitão»,


casou com D. Guiomar Ferreira, filha de Francisco Leitão
e de sua mulher D. Ignez Ferreira.

Nasceram as 2 filhas seguintes :

Cl. 23.= -D.Guiomar de Vasconcelios, casada com Martini


Gonçalves d'Andrade, já viuvo, de quem não hou-
ve geração.

O. 24.^-^D. Helena de Vasconcelios Ferreira, casada cont


António d'Andrade e Silva, filho de Marfim Gonçal-
ves d'Andrade e de sua 1.' mulher D. Maria de
Brito.
CO.
1080 - RfeVtStA MlCHAtlKNS£

F. 25. ^D. Catharina de Bettencourt, que foi casada com Francisco do Canto,
o Velho.

F. 2l-^Francisco de Bettencourt, Moi;o-Fidalgo, por alcunha o Cavalleiro",


foi casado com D. Marianna Botelho Ferreira, filha de João Gomes,
o Trovador (N. 10). r)'este casamento nasceu o setfuinte filho:

O. 26.— Francisco de Bettencourt, que segue.

G. 26-^Francisco de Bettencourt, Moço-Fidalgo, casou com D. Isaliel de


Teive, filha de Diogo de Teive
For testamento de mão-commum, instituiram o Morgado da
Ribeira Brava.

Tiveram Q filhos:

H. 27. -João de Bettencourt de Teive, casou com sua prima


D. Anna de Bettencourt, de quem não houve geração.

H. 28.— I3)iogo de Bettencourt de Teive, cónego da Sé de


Lisboa. S. O.

H. 2Q. Henrique de Bettencourt de Teive, andou na índia,


ahi a General do mar de Malabar, d'onde
chegando
foi chamado para fazer parte da expedição a Alcacer-
Kibir; regressando da índia, para este fim, perdeu-se o
navio eui que vinha, sem que houvesse mais noticia
d'elle. S. G.

H. 30. D. Guiomar de Teive, casada com Nicolau de Barros,


C. G., em quem continuou o Morgado da Ribeira
Brava.

H. 31. p. Izabel de Bettencourt de leive, casada com Fran-


cisco Alves de Athouguia. C. G.

Fl. 32. -D. Ignez de Bettencourt, casada cm Ambrozio de


Brito Pestana. S. G.

li. 33. -D. Maria )

L, ... r^ » , • ' freiras no mosteiro de Santa Clara


H. 34.^-0. Antonn ^ ^j,, i-unchal.
H. 35.-^D. Margarida
]

Bettencourt
CAP. Ill

MCMDES de V/ÍSCONCCLLOS
E. 12.--Francisco de Bettencourt, filho do Velho da Rilieira Brava, nasceu na Ma-
deira e falleceu na ilha ferceira. Açores, em t)-X-lW2; casou duas vezes,
sendo a 1." vez com [). Joanna Mendes de Vasconcellos (cuja ascendência
damos em schetna abaixo) e a 2.' vez, com a viuva I). Andreza Mendes
RJPVIjTA MlCM AELRNSe 1087

de \'ascoiicçIlos (que será incltiida no mesmo schema), de qtietn não teve


geração.

SCHF.MA II :

Martim de M. Vasconceilos João O. Zarco da Camará

r^

iNíartim
CcIS. c.

D. Igiicz Martins Alvarenga D. Constança


"^^
M. de Vasconceilos
li
cas. c.
cas.

D. Helena Oonçal-
c.
Rõ iz A. e Sá
i

(Vide N." 40, adeante, ves da Camará


i \
1

.Martim AA. de Vasconceilos Ruy M. de Vasconceilos


cas. c. cas. c.

n. Isabel Pereira de Ber-


rédo, fillia de Diogo Perei- r. , , , r-
^- '^^^'*-'' Corrêa
ra (N." 41) e de sua mu-
Ihcr D. Isabel de Mello
I 1 ] 1

Gonçalo M. deVascon- D. Joanna Mendes de \'as-


cellos (N.° 42) cas. c. D. concellos foi a 1.' mulher'
Bartlioleza Rodrigues Co- de Francisco de Betten-
_ gumbreiro Carneiro court (F. 12).
.j
j I

D. Andreza Mendes de F. 3ô.-==F. 37. F. 38


Pedro' A\endes de \'ascon- Vasconceilos, cas. 1.' c.

cellos, cas. c. D. Maria Pedro Alvares da Fonseca


Rod-igues de

\). jeronyma
Escobar

i
da Camará

A\endes de D. Luiza de Vasconceilos


e
Francisco Bettencourt (E
——^
cas. 2." c.

12)

A). Maria de Vasconcel-


1

Vasconcelluscas. c. o F. 38 da Camará (F.'' do 1-° c.) los da Fonseca da Camará


(f." do l."cas.) cas. c. F. 3õ

N." 39 João Oonçalves-Zarco: sobre elle escrevemos já a nossa opinião e por


isso a não repetiremos aqui; chamal-o-liemos, portanto, reconhecedor c
o colonisador de I'orto Santo eMadeira, l."Capitão donatário do Funchal,
a quem foi concedido o brazão, já publicado, por cirta de 4-Vlll-14òO.
Não mais nos alongaremos sobre elle, por ser um tão grande vulto da nos-
sa Historia, que está já sobeja e proficientemente tratado por abalisados
liistoriadores.

40. --Martim .Wendes de Vasconceilos foi um dos quatro fidalgos mandados por
D. .^ffonso \'. para a Madeira, afim de casarem com as filhas do 1." Ca-
pitão-donatario do Funchal, em cujo mosteiro de Santa Clara, o N." 40
foi sepultado. Fid. da C. R. e descendeste, dos Vasconceilos, da Torre de
Vasconceilos em Amares.

41. Diogo Pereira teve a alcunha de=o Bochim e foi Alcaidc-mór de Tavira.

42.- Oonçalo Mendes de Vasconceilos era Fid, da C R. e residia na Terceira


(Açores).

Do 2." casamento de Erancisco de Bettencourt (E. 12.) não houve descendência;


do 1.", porem, teve Os seguintes 3 filhos;
10H8 REVISTA MICHAELENSE

f"". 3ô. João de Bettencout de Vasconcellos, que segue.

F. 37.=D. Anna de Bettencourt, que casou a 1.* vez com seu primo João
de Bettencourt Telles e casou 2.* vez com Francisco Barreto de
Menezes, Governador de S. Thomé: de nenhum dos matrimonies
teve geração.

F. 38.-— Henrique de Bettencourt de Vasconcellos, que, tendo nascido na


Madeira, passou, com seu pae, á ilha Terceira, onde casou a 1.*
vez com sua prima (como se vê no, Schema 11) D. Jeronvma Men-
des de Vasconcellos e a 2." vez com D, Luiza ds Moura, de quem
não houve geração.

Do seu primeiro casamento, teve:

O. 43.=Manuel de Bettencourt )

[ fallecidos na índia e S. G.
O. 44.r=^Gonçalo de Bettencourt )

O. 45.=-^Pedro de Bettencourt, frade fransciscano com o nome de


Pedro de S, Baríholomeu e fallccido na índia com a opi-
nião de Santo.

O. 40.=^ D.Maria de Bettencourt, casada com o Capitão Joào de


Escobar Teixeira e falleceu S. G

F. 36^oào de Bettencourt de Vasconcellos, Cavalleiro de Christo, nasceu na


Madeira, d'onde foi com seu pae para a ilha Terceira, onde foi degolado
em Março de 1582, por seguir o partido de Filippe li; casou na Terceira
com D. Maria de Vasconcellos da Fonseca da Camará mencionada no
Schema li.)

Esta Snr." foi herdeira do Morgado de Santa Magdalena, instituido na villa


da Praia, da Terceira, por seu avó paterno Álvaro Lopes da Fonseca, ou-
vidor da villa da Praia; foi agraciada por Filippe II de llespanha e de 1

Portugal, com uma tença de lOOSOOO em 1583, vindo ella a fallecer em


Junho de 1591.

Do casamento de João de Bettencourt de Vasconcellos (F. 36.), nasceram:

G' 47.^ João de Bettencourt, clérigo e religioso da Companhia de Jesus.

O. 48.--~Vital de Bettencourt de Vasconcellos, que segue.

G. 49,-^D. Joanna de Bettencourt de Vasconcellos, casada com seu primo


Jorge de Lemos de Bettencourt, como se verá no cap. VI, § Vil-

G. 48.=Vital de Bettencout de Vasconcellos, 2." filho, foi Fidalgo Cavalleiro e Ca-


valleiro de Christo e casou 4 vezes, a saber:

1." casamento- D. Maria da Silveira Borges, que não houve geração.

2.* » — =13. Ignez Ferreira de Mello.

3." " —D. Izeu Rodovalho, ou Pacheco Abarca.


4." » —D. Águeda de Freitas de Quadros.
RFVISTA MICHAPI FNSf: losg

D'estas senhoras, apenas sabemos que a 4." esposa, D. Águeda de Freitas


Quadros, casou de í"cvereiro de 1Ó22, era natural da ilha Graciosa
em 3
(dos Ai;ores) e já viuva de Diogo Sequeira; da 3." esposa, í). Izeu Rodova-
lho, ou ÍX Izeu Pacheco Abarca (a3sign:\ indiffereiítemeute dos dois modos)
abaixo damos a sua ascendência que conhecemos:

SC!ir..\\A 111:

João Pacheco
cas. c.
D. Br anca Gom es^_
I I i

Qomes Pacheco de Lima


cas. c.
n. Catharina Valladão

"
r " "
I 1
Cbristovam HorL^ cs da Costa
^-^„_.._^™.._^^™„-
D. Izeu Pacheco c. c.
^ _

1). Maria Abarca


c. c.
I.ic
.''"
Vasco Ferna ndes, ou Kodl^ i iiue^ Rodovalho

I). Izeu Rodovalho, ou D. Izeu Pacheco Abarca


3.° mulíier de G. 4 8.

Damos a seguir a descendência que houve dos 3 últimos casamentos, vis-


to que do 1." não houve geração.

Do 2." casamento houve:

H. 50. João de rJettencourt de \ascoucellos, de quem nos occuparemos


no cap. \'i. § Vil, quando alli se trata de sua miilher e prima D.
Maria Joanna de Lemos de Bettencourt (J. 174.);

H. 51. =D. Francisca de Bettencourt de Vasconcellos, freira cm S. G. d'Angra.

H. 52.:— D. Maria de Bettencourt de Vasconcellos id.

H. 53.^^D. Antónia Baptista de Bettencourt de \'asconcellos id.

Do 3." casamento, houve:

H, 54=VitaI de Bettencourt de Vasconcellos, que segue.

H. 55.^-^Vasco Fernandes Rodovalho, sem mais noticia.

M. 50.3-D. Maria de St.° Ignacio, freira no convento da Esperança, d'-


Angra.

H. 57.-- D. Catharina de Bettencourt, freira em S. Gonçalo, d'Angra, onde


tomou o nome de Soror Catharina de Christo, deixou inéditos al-
guns poemas mysticos e escreveu também ^Contemplações espiri-
tuaes e uma 'Carta á infanta D. Izabel, gratificando-lhe a querer
>

occupal-a no Seu Real Serviço.»


Do 4.''
e ultimo casamento, nasceram:
;

1090 R» VIST A MICHAELENSP-

H. 58. D. Luiza de Bettencourt e Vasconcellos, fallccida em creança.

H. 59.— D. Águeda de Bettencourt e Vasconcellos id.

H. 60.^ D. rilippa de Bettencourt de Vasconcellos, que casou em Angra


em 1637, com iTaiícisco de Dorncllas da Camará Paym, nascido
na villa da Praia em 12-X-1605 e fallecido em 28-IV-íf)64. A des-
cendência d'este casamento contiriuou-scalli até ao presente, dando as
casas dos Viscondes de Bruges e Condes da Praia da Victoria, des-
criptas no ^ Nobiliário da Ilha Terceira^.

H. 54.^=Vital de Bettencourt de Vasconcellos, 1." fillio do 3.° casamento


de seu pae, foi Capitão-mór d'Angra, por eleição de lò-V-1071;
Fidalgo-cavalleiro e Cavalleiro deCiíristo, por carta de 27-III-1Ò43;
por alvará de 8-V111-1647 teve a mercê de uma commcnda de
80S000 e foi Provedor dos Re/iduos eCapellas da Terceira, onde
casou duas vezes, sendo a 1." com a sua parente D. Violante de
Bettencourt Corrêa e Ávila ou D. Violante de Bracamonte, que
será tratada no Cap, V. e o 2." casamento foi com j). Alaria do
Canto e Silveira, n." 1 da arv. de cost. onde damos toda a sua
ascendência conhecida por nós e as respectivas notas biogra-
phicas.

Do 1." casamento, nasceram:

I. 51 ^Francisco de Bettejicourt de Vasconcellos Correi e Avila, que


segue.

I. 62-=-Vital de Bettencourt, f dieceu creança.

I. 63.= Manuel de Bettencourt, falleceu creança.

1. 64. -^D. Maria de Bettencourt, casada com 1 >iogo Pereira de Lacerda, C. O.

I. Ó5.^-^D. Branca de Bettencourt, casada com Agostinho Borges de Sousa,


C. O.

Do 2.° casamento nasceram

I. 66 José de Bettencourt de Vasconcellos da Silveira -u-m mais noticia.

1. 67-- I). Clara Maria da Silveira Belt-jncourí, casada com í-eu primo
Feliciano de Bettencourt de Vasconcellos (K. 175).

I. 68.=^D. Catharina de Bettencourt da Silveira casada com António de


Brum da Silveira, C. O.
I. Maria Clara de Bettencourt da
69.--^-:D. Silveira casada c-un Francisco
Pacheco de I.arcerda- C. O.

I. 70.=-D. Bernarda Luiza de Bettencourt da Silveira casada com D. Luiz


de Brito do Rio, C. O.

I. 71.=LX Úrsula Isabel de Bettencourt de \'asconcellos, casada com lero-


nymo de Castro do Canto (U. 46, cap." I, Castros.

í. 61.:^Francisco de Bettencourt de Vasconcellos Corrêa e Avila, casou


ÍPVMSTA MICHAELENSf. 1091

na Terceira com D. iWaria Victoria da Camará, fillia de Fra?


cisco de Dornellas da Camará.
Teve a

]. 72.-^D, Joscplia Bernarda da Camará, que caáou a lQ-n-168,5 com Pe-


dro Momem da Costa Noronha, bpt. a 25-Xf-l 663=-= Vide: N."' 24 e
2o da arv. de cosi, 8 e N."* 2 e 3 da arv. de cost. 9 e NOTAS res-
pectivas. CO.

CAP. IV

C. 6.-=Henriqi!e de Bettencourt, 2." filho de Reynaldo de Bettencourt, 2." Vice-


rei das Canárias e irmão do ]." Vice-rei das mesmas ilhas, Mr. Jean de
Bettencourt, barão de Saint-Martin-le-Oaiihird, foi com este seu tio, em
1405, para o archipelago das Canárias, com seus irmãos Maciot e Jorge e
ainda com sua esposa, com quem tinha casado em Hespanha, Dona Lerida
de Ouardatame. Quando em 1447 venderam (Maciot e os irmãos) os seus
direitos, á ilha de Fuerteventura, ao infante D. Henrique, por 20.000 reacs
e algumas doações na A\adeira, este Henrique de Bettencourt passou a esta
ultima ilha, com a sua mulher e com os filhos abaixo mencionados.

Fim todas as doações, era tratado por o «francezu e d'entre todas, a-


bundam principalmente as das saboarias brancas e pretas, chegando a
parecer que só elle tinha o direito de fabricar sabão em qualquer parte da
Madeira.

Acompanharam, para a Madeira, os seus pães, os filhos seguintes:

D. 73. -^D. .Maria de Bettencourt, que casou na Madeira com Ruy Gonçal-
ves da Camará, 3.° capitão-Donatario de S. Miguel e que morreu
sem geração, tendo n'esta ultima ilha instituído um morgado, em
cuja administração encabeçou seu irmão Oaspar. S. O.

D. 74.=Gaspar de Bettencourt, que segue.

D. 75. --André de Bettencourt, que vários genealogistas coníuíidcm com seu


tio Maciot e que, tendo ido para a Hespanha, onde casou, se não
sabe se lá teve geração.
D. 74.=Gaspar de Bettencourtnasceu nas Canárias, indo com seu pae pa-
ia a .Madeira, d'onde foi para S. Miguel, chamado por sua irmã D.
jVlaria (D. 73.) para entrar na administração do morgado por ella
instituído para elle, visto ella não ter tido successão.

Foi este o priíneiro Bettencourt português, visto que El-Rei D. Ma-


nuel I, em 1-1\^-1505, lhe concedeu a graça de reconhecer em Por-
tugal, o brazão francez de seus ascendentes, já publicado no N."
1, ano 3.°, d'esta revista.

Foi Escudeiro-Fidalgo, por alvará de 12-V-1521 e falleceu em Pon-


ta Delgada no anno de 1522.
1 092 REVISTA MICHAELKNSÍ

Das "Saudades da Terra,» L." lY, cáp. IX, pay. 85 da separata,


transcrevemos o seguinte trecho "... .foi enterrado na capella-mór
:

de el-Rey da egreja antiga do niartyr Sam Sebastian, da cidade de


Ponta Delgada, por aivaiá que teve de merece do Rey, da sepultu-
sa para eile, muliíer c íillios; cni que timbem llie concedia que pu-
desse ter sobre ella suas armas dependuradas com bandeira desci-
da, como teve alguns annos, até que se desfez a egreja, para se
accrescentar com.o agora está, e depois não iiouve fiilio nem neto a
quem lembrasse uma mercê tam grande, que a nenhuma pessoa
abaixo dos infantes se concedeu.»
Gaspar de Bettencourt casou em Lisboa (em casa da prima co-irmã
de sua mulher, a mãe do 1." conde da Castanheira, D. Violante de
Távora, viuva de Ruy de Souza, casada em 2.'" núpcias com I). Ál-
varo d'Atliayde), com D. Guiomar de Sá filha de Jo.ão Rodrigues
de Sá, por alcunha -o das Galés- , Senhor de Sever, etc, Alcaide-
Mór do Porto no tempo de Iil-Rei l). João e de sua mulher 1).
1

Isabel Pacheco, filha de Diogo Lopes Pachi.-co, Senhor de Ferreira


d'Aves.
Os pães de D. Guiomar de Sá foram 6.°" avós do 3." conde de Pe-
naguião João Rodrigues de Sá e Mcncze-, Camaieiro-Vi(3r de D. João
IV e de D. Aífonso Vi. Era irmã de Fernão de Sá, Alcaidc-mór do
Porto e Camareiro-Mór de D. Duarte e de D. Aífonso V, 5." avô do
referido Conde de Penaguião. D. Guioirinr de Sá que falieceu cm
1547 e jáz sepultada junto de seu m.arido, fez doação de 15 alquei-
res de terra, em Ponta Delgada, aos padres de S. Francisco, onde
pudessem fazer casas e oííicinas, com vários encargos de missas;
estas casas e officinas foram mais tarde transformadas em sumptuo-
so convento, onde actualmente é a egreja parociíial da freguczia de
S. José e hospital da Misericórdia, da referida cidade.

Foram seus filhos:

E. 76. — Henrique de BettencciUrt, filho primogénito, 2." morgado de


Bettencourt (instiluido por sua tia D. Alaria (D. 73.), cabou
com D. Maria Gliveira d'Azevcuo, filha de Antão de Olivei-
ra d'Azevedo.
D'estc casamento não houve geração.

E. 77,— João de Bettencourt e Sá, que segue.


E. 78.=^D. Margarida de Bettencourt, a seguir no § 1.

E. 79.=^D. Guiomar de Sá, dama da imperatri;- D. Isabel, mulher de


Carlos V. Casou com 1). Pedro Lasso de la Vega y Vcnc-
gas, Fidalgo castelhano, de quem não houve geração.

E. 80.^- D. Isabel de Sá, dama da mesma imperatriz de Hespanha,


onde casou com o 1'idalgo castelhano D, Colona, de quem
teve geração em liespaniia.

E. 81. também dama da mesma impe-


D. Beatriz de Bettencourt,
ratrizde Hespanha e por esta casada em Porhigal com o
Fidalgo portuguez António Juzarte, de quem houve geração,

E. 77.=]oão de Bettencourt e Sá, filho 2.", foi o 3." administrador do Mor-


gado de Bettencourt, por morte de seu irmão primogénito, de
quem o herdou; casou em S. Miguel com D. Guiomar Rodrigues
Vaz Botelho (.M. 27; § l -Botelhos» de S, Miguel).
RCyiSTA MICHAHIENSR 1 0^3

D'este casamento, houve:

i'. 82. Simão de Bettencourt e S;í, que sesjue.

F. 83'. — Kuv de Sá 'Bettencourt, sem mais noticia'.

J'\ 84.- -João de F^ettencourl e Sá, filho 3.", clérigo, S. Ci.

V. 8t. !). .Wargarida, ou I). Cíuiomar de Bettencourt, que casou


com Gaspar do Rego e liouve geração.

F. 86.- 1'rancisct) de Bettencourt e Sá, a seguir no § il.

P. 82.- Simão de Bettencourt e Sá, filho 2.", administrador do Morgado


instiluido por seu avô materno e de que foi 1." administradora sua
mãe, Moço-l"idalgo da C. R., nasceu em S. Miguel, onde casou com
I). Margarida Gago, fillia de Ruy, ou Luiz Gago (o 1.' deste apelli-
do que foi \x\r:\ S. Miguel), Fidalgo natural da cidade de Beja, no
Alemtejo e Snr." do Morgado dos Gagos.
Nasceram:
,(). 87. -António de Bettencourt e Sá, que segue.

iG. 88.^ Vários filiios e filhas, religiosos e S. O.


O. 87.- -.António de Bettencourt e Sá, 3." Morgado de Botelhos (instituído
por Gonçalo \'az Boteli^o, o Moço Andrinho) nasceu em S. Miguel
e foi Cavalleiro do habito de Christo. Casou com D. Filippa Pache-
co Botelho, filha de Pedro \'az Pacheco e de sua 2." mulher D.
(juinmar Nunes Botelho (N. 46, § III, "Botelhos >, de S. Miguel).
Fste r'edro Xaz Pacheco, vae tratado no cap.° XII, d'este estudo.

§ I

E. 78. D. .Margarida de Bettencourt, filha de Gaspar de Bettencourt edcD.


Guiomar de Sá, casou com Pedro Rõiz da Gamara, irmão de João
Rõiz Gonçalves Zarco da Gamara, 4." Capitão-donatario de S. Mi-
guel e ambos filhos do 3. Capitão-donatario Ruy Gonçalves Zarco
da Gamara e de Maria Rõiz, mulher solteira. O 3." Capitão-donata-
rio, de sua mulher D. Maria de Bettencourt (D. 73) não teve filhos,
pelo que, em 1510, foram os filhos, acima mencionados, legitimados
por El-Rei D. Manuel. Este Pedro Rõiz da Gamara edificou na pró-
pria casa, onde morava, o convento de Jesus, na Villa da Ribeira
Grande, onde fez testamento em 17-11-1541, no qual legou bens á
..Misericórdia de Ponta I3elgada.
jSjisceram, pelo menos, 4 filhos, pois que o seguinte é o 4.° filho
d'eate casamento:

\'. 88.-*ílenrique de Bettencourt c Sá, foi o 4.° filho de Pedro Rõiz Gonçal-
ves Zarco da Camará e de D. Margarida de Bettencourt (E. 78); mo-
rou na Villa da Ribeira Grande, onde casou com IXSimòa de Souza
Manuel, f.tUecida em 5-XI-l 587,filhade Balthazar Vaz de Souza, fal-
lecido em Porto Seguro, do Brazil, e de sua mulher D. Leonor Ma-
noel, filha de Homingos Manuel; D. Simôa, era*néta paterna de
I). Isabel Alvares e de seu marido João de Souza, Armada Cavallei-

ro em Africa, no tempo de D. Manuel, 1 e filho de D. Iria de Sou-


za, senhora irlandeza c casada em Portugal com um fidalgo de
quem se não sabe o nome. Diz o I)r. Fructuoso que esta senhora
era Dama Rainha D. Leonor.
1094 REVISTA MICHAELENSE

No «Livro das lllias>, a fl."" 155 v.°, encontra-se a seguinte mercê;


«Amrrique de Betancor fidalgo mercê de qualquer fazenda dei raiz
que na yllia de Sam Miguel ouver que nã sea dada e que perten-
ça a ell-Rey." No mesmo «Livro das llhas", a fl." 163 v.", encontra-
se mais o seguinte:
«Amrrique de Betancor fidalgo merçee das saboarias brancas e pre-
da yllia de Sam Miguel as quaes ouver de Joham Soares capi-.
"tas
"tam da yllia de Santa Maria. Dada por ell-Rey D. Manuel em
«Almeirim a XXX dias de Outubro de 1512".
D'este casamento, houve filhos, dos quaes o 2." foi
O, 89.— Ruy Gonçalves da Camará, filho 2.°, nasceu em Ponta Delgada,
onde casou com D. Luisa de Viveiros, cuja ascendência esboçamos
no SCMEMA IV. abaixo.
SCHEMA IV :

Simáo de Sá, nat. do Porto

Gonçalo Annes (n.*90) c. c. D. Catharina Affonsn


1
_
D. Africa Annes D. Anna Gonçalves D. Isabel Gonçalve?
c. c. I
c. c.
Jorge Velho (n.° 91) I João Rõiz Pavão

João Jorge (n." 93) Pedro Jorge (n.° 92)


c. c.
D. Beatriz Vicente

CO.
(S." 95) Aifonso A. de Benevides
c. c.
D. Beatriz Amado
I I

D. Guiomar A. de Benevides
c. c.
Bartholomeu Rodrigues
I I

D. Isabel Castanha
c. c.
Gaspar de Viveiros (N.° 94J
í." de Simão de Viveiros

Morfi." Jeronymo Jorge c. c. D. Beatriz de D. Francisca de


\'iveiros Viveiros Souza
c. c.

l'rancisco d'Arruda
da Costa
I

D. Luisa de Viveiros
c. c.

Ruy Gonçalves da Camará


(O. 89)
REVISTA MIÓHAELENSE 1 095

N." Q0.--=Oonçalo Annes era, eomo sen pae Simão de Sá, natural do Porto, da
familiâ dos Alcaides-iTii')res, que vieram a ser Condes de Penaguião. Diz
o [)r. Kructuoso, nas "Saudades d:i lerra,» L* IV, cap. 8.", que este
Gonçalo Annes, i')or ser homem nobre e iwderoso, se ausentou do l^ortu
por ter affrontado um prelado.
Foi o 1.° marido de D. Catharina Affonso, que casou 2:" vez com
Pedro \'ellio de Travissos.

N.° Oi.-Jorííc Velho foi dos I.'" povoadores de S. Miguel e era Fidalgo da Casa
do Infante [). Henrique; foi armado cavalleiro em Africa, onde serviu.
Casou em S. Miguei com D. Africa Annes, natural de St.' Maria.

N." Q2. -Pedro Jorge era Cavalleiro de Malta e foi morador em Ponta Delgada,
quando ainda era villa, além do mosteiro de S. Francisco.
Casou a 1.' vez com sua tia materna D. Anna Gonçalves e com ella
fezo seu l.° testamento, em 4-1-1525, estando fora de Ponta Delgada
poY causa da peste.

Fez o seu 2." testamento em 3-1II-1528.

N.* 93.— João Jorge era o filho primogénito e morou em Agua de Pau, de S. Mi-
guei; casou duas vezes, sendo o 1." casamento com D. Catharina Martins,
de quem teve vários filhos e filhas; casou 2." vez com D. Beatriz Vicente,
natural do Algarve, da qual houve 3 fillios e 4 filhas. (VIDE— "Saudades
da Terra", L. IV, cap. S.")

N:» 94.^Gaspar de Viveiros fez varias assignaturas no L.° 4." do Registo da Ca-
mará Municipal de Ponta Delgada, nos annos de 1525 a 1535.

N.' 95. Affonso Alvares de Benevides era natural do Continente d'onde passou
para S. iWiguel entre 14Q7 e 1502; foi armado Cavalleiro em Africa, onde
serviu. O Dr. Fructuoso, nas "Saudades da Terra-', L.° IV, cap. 27.", chaina-
Ihe indifferentemcnte Álvaro Rodrigues ou Affonso Alvares de Benevides.

Do casamento de D. Luisa de Viveiros com Ruy Gonçalves da Ca-


mará (G. 8Q), nasceu pelo menos:

li. 90. -Simão da Camará de Bettencourt e Sá foi Capitão do Castello de S, Fi-


lippe e na Matriz de Ponta Delgada a 14-11-1634; foi o 1." adminis-
fal.
trador do vinculo instituído por sua tia D. Margarida de Sá. Nasceu em
1579. Casou em Ponta Delgada com D. Cecilia Ramalho de Queiroz, que
falleceu na freguezia Matriz de Ponta Delgada, aos 6-IX-1647, filha de
Francisco Ramalho de Queiroz (N." Q7) e de sua mulher D. Leonor Dias
Netto, natural dos Arrifes e filha de .\ffonso .'\nnes e de sua mulher D.
Anna Martins.

N.* 97. --«Francisco Ramalho de Queiroz era natural de S. Gonçalo d'Amarante e


instituiuo vinculo do Ramalho, em S. Miguel, por testamento approva-
do em ll-Vl-1598. No anno de 1591 deu, com sua mulher D. Leonor
Dias Netto, 9 alqueires de terra ao Collegio dos Jesuítas, em Ponta
Delgada.
Por termos algumas notas curiosas sobre a descendência d'este N."
97, vamos dar aqui uns rápidos esboços d'ella. Para que não haja con-
fusão com a resenha geral de que vimos tratando, mencionaremos as ge-
rações por lettras minúsculas; assim, temos:

a, l.i^Franciaco Ramalho de Queiroz, com testamento approvado em 11-V1-159S


109Ó REVISTA MICIIAELENSÈ!

no qual instituiu o vincuio do kanialíi", casou com P. Leonor Dias Netto


e houve:

b. 2.^João Gonçalves Ramalho, não casou; vinculou por testamento de 162S, cm


seu cunhado, casado com sua irmã D. Maria de Carvalho (b. 3): falia em
seu pae e deixa 200S000 a sua irmã D. Cecilia Ramalho de Queiroz (b. 4)

e á filha d'esta, í). Joanna, sua sobrinha e afilhada. S. O.

b. 3. :=^D. Maria de Carvalho casou com jeronymo Gonçalves d'Araujo de quem


já era viuva em 1641, quando fez o seu testamento, pelo qual vinculou em
seu sobrinho (jonçalo da Costa Coutinho (c. õ) e, por morte d'este, se ellc
não tivesse filho legitimo, deveria o vinculo, que rendia 2.633SúOO, ser ad-
ministrado pelo seu jiarcnte mais próximo, da parte de seu pae. S. Ci.

b. 4.—D. Cecilia Ramalho de Queiroz que casou com Simão da Camará de Bet-
tencourt e Sá (li. Qfi.lC. G.

b. 5.^^D. Leonor Ramalho de Queiroz que casou com Gaspar Coutinho da Costa
e foram pães, pelo menos, de :

c. 6.= -Gonçalo da Costa ('outiniio, commendador de Chisto casou em Portuyal,


onde foi Goverusdor de .Aveiro, Buarcos e Figueira da l'o/, com 1). Isabel
d'Athayde, que foi a primeira pessoa d'este appellido que íoi para S. .Miguel.
Foram pães, pelo menos, dos filhos seguintes:
d. 7.- Gaspar da Costa Athayde, que segue.
d. 8.---rFrancisco da Costa Coutinho que em lf)78 casou com IX Barbara
Moniz de Medeiros e estes foram pães de

e. 9.- Bartholomeu de ;\tliayde, sem mais noticia.

e. 10. -O. Francisca Antónia de Medeiros Coutinho, que casou


em 24-V11-1715 com o Capitão Francisco Pe-reira de Bet-
tencourt e Sá como se /erá no Cap. IX, bem como a sua
descendência.

d. ll.=^D. Leonor Maria de Athayde que casou com Sebastião de Carvalho


e Mello, capitão dos Familiares do S. O.; d'estes, nasceu;

e. 12.— Manuel de (-arvalho e Athayde, capitão de cavallaria,


commendador de Christo, Fidalgo da C. R. e auctor do
livro de genealogias conhecido vulgarmente pelo «D. Ti-
visco», fallecido em I4-III-1720, tendo casado com D.
Ihereza Luiz de Mendonça e Mello, filha de João de Al-
meida e Mello, Senhor dos Morgados dos Qlivaes e de
Souto de Ll-Rei.

rVeste casamento, nasceram filhos, entre os quaes:


e. 13.: Sebastião José de Carvalho e Mello, 1." Conde d'Oeiras
e 1." Marquez de Pombal, etc, por demais conliecido
na Historia de [^ortugal. C. G.

d.7. -^Gaspar da Costa Athayde, Sargento-mór de Batalhas, 2."" Se-


nhor do Vinculo do Ramalho, casou com D. Catharina Rosa
de Lima e foram pães de:

e. 14. -Christovam da Costa Athayde, 3.° Senhor do \'incuIo do


Revista MiciufeLf^NSF IQQy

Ramalho, casou com ;). Jiiliaiina M^ria (^aetana


de Noronlia e liouve:

f. 15. 1-ernando da Costa Athayde de Teve


de Souza Coutinho, do Conselho de
S. M. F. e do da (juerra, Tenente Ge-
neral dos Reaes Exércitos, Grã-Cru/'
de S. Ihiago da Espada, 4." Snr. do
vinculo do Ramalho, 13." Snr. de
Bayão, Capitão General do Grão Pará
e Maranhão e Governador das Armas
da Beira e Alemtejo; sabemos que ca-
sou,mas ignoramos com quem, sa-
bendo só que d'esse casamento nas-
ceram :

o. l().-=;Eernão Romão da Cos-


ta, 5." Snr. do
vinculo do Ra-
mallio e Snr. de Bayão;
14."
não casou e portanto. S. G.
g. 17. D. Maria Rosa Athay-
de, por .morte de seu ir-
mão, foi a 6."
ultima e
Snr." do vinculo do Ra-
malho e 15." e ultima
Snr." de Bayão, sem
mais noticia.

Continuando, temos que de Simão da Camará de Bettencourt e Sá (II. QO) e


de sua mulher D. Ocilia Ramalho de Queiroz (b. 4) nasceram, pelo menos, os se-
'
guintes filhos:

I. Q8. - Valentim da Camará e Sá de Bettencourt, que segue.

1. 99 Manuel da Camará e Sá, a seguir no § III.

1. lOC Simão da Camará e Sá, sem mais noticia.

1. 101 Rodrigo da Camará e Sá, sem mais noticia.

1. 10'2=^D. Joanna da Camará e Sá que casou em 1642 com João I'iinentel


Pacheco, de quem houve ;

]. 103.==D. Luiza da Camará casada em 1673 com João d'Arruda da


Costa: houve :

K. 104. Francisco d'Arruda da Camará casado em 1697 com


D. Anna l.eite, de quem houve:

L. 105. -João d'Arruda da Camará, casou em 1740


com D. Quitéria Francisca Pires e houve:
M. 106. António Francisco d'Arruda e Ca-
mará, casado em 1772 com I). Ma-
ria Rosa d'Athayde e houve:

N. 107. João d'Arruda Botelho da


Camará, nascido em 774^ 1

e sem mais noticia.


1098 REVISTA MICHAELENSE

J. 108. D. Maria da Camará e Sá que na egreja de S. José de Ponta


Delgada, aos 15-XII-1Õ44, casou com António Borges da Cos-
ta, Juiz do Mar na mesma cidaae.

íistaSenliora vinculou por testamento approvado cm l')-\'ll-


lóSg, vindo elia a faiiecer em 30-1I1-1Ó90.
Do seu casamento, nasceu peio menos :

K. 109 -=D. Maria da Camará de Bettencourt, que é a N." 10


da arv. de cost. 15, em cujas notas se trata do seu
marido e da sua descendência. C. G.

1. 98.— Valentini da Camará e Sá de Bettencourt, Snr. e lierdeiro dos


vínculos paternos, casou na Matriz de Ponta Delgada, aos 12-
IX-1620, com a sua parente D. Joanna de Sá. O
Morgado Va-
lentiin falleceu em Ponta Delgada aos 29-XI-1651.

Foram pães de:

J. 110. Camará e Sá, filha única, Snr.' e herdeira dos


D. Maria da
Morgados mais casa paterna, foi baptisada na freguezia de S.
e
José de Ponta Delgada aos 12-l-lò'31; casou duas vezes, sendoo
1." casamento com André da Ponte do Quental; casou 2.° ve/, tia

egreja Matriz de Ponta Delgada em 19-1 V-1 650, com o Capitão


Manuel Rebello Furtado de Mendonça. Esta Senhora é a N.' 5
da arv. de cost. 14, no íinal do, nosso estudo "Castros^ C. O.

§11
F. 86.=^--Francisco de Bettencourt e Sá f." 1." do Morgado João de Bettencourt e Sá
(E. 77.) e d-e D. Guiomar Rodrigues Vaz Botelho (M. 27, § "BolelhosiO,
I,

foi Moço-Fidalgo e, tendo nascido e casado em S. Miguel, com D. Maria


(Jogumbreiro da Costa (N." 24 da TAB. XXVil) foi com sua mulher para
a ilha da Madeira, onde falleceu em 1577. Foi o 5." Senhor do Morgado de
Bettencourt e o 4." Snr. do Morgado de Gagos. D. Maria Cogumbreiro da
Costa fez testamento em 18-IV-1565 e era fiiha de Diogo Affonso da Costa
Cogumbreiro e de sua mulher D. Branca Rõiz de Medeiros, filha de Ruy Vaz
de Medeiros e de sua mulher 1). Mecia ou D. Anna Gonçalves, natural da
Madeira e filha de Jorge Affonso, de quem trata o Dr. Fructuoso, nas "Sau-
dades da Terra", livro IV, capitulo 19,
Este Ruy Vaz de Medeiros, avò de D. Maria Cogumbreiro da Costa, era
natural de Ponte de lima, d'onde passou á Madeira, casando ahi e de lá
passou a S. Miguel, no tempo do '5." capitão donatário d'esta ultima ilha.
Diogo Affonso da Costa Cogumbreiro, pae de D. Maria Cogumbreiro da
Costa, fez, com a mulher, a ermida da Mãe de Deus, em Ponta Delgada.
No estudo do fallecidoe distinctissimo genealogista michaelense Dr. Ernesto
do Canto, sobre "íígrejas e ermidas^ da ilha de S. Miguel, publicado no
'Preto no Branco», a paginas 159, N." 157, diz-se que este Diogo Affon-
so morreu em 13 de Janeiro de 1547 porem n'um termo de fiança, de Pe-
dro Annes, lavrador e morador na Fajã, diz-se: «Diogo Affonso Colum-
breiro, que Deus haja," isto na própria data de 13 de Janeiro de 1547. Em
copias do seu testamento, vê-se que este Diogo Affonso testou em favor de
seu filho Gaspar, em 14 de maio de 1547! AAas, como muito bem observa
o nosso amigo e distincto genealogista michaelense Snr. Rogrigo Rodrigues,
que examinou as copias referidas, talvez seja 154(), por ser fácil de confun-
dir um 6 com um 7, em lettra antiga.
A ermida da Mãe de Deus, que elle Diogo Affonso da Costa Cogumbreiro
:

'
REVISTA MICHAELENSE 1 009

e a mulher, começaram a construir, foi concluída por sua fillia D. Isabel


Carneiro, que testou em 8 de setembro de 1507, dizendo, n'este testamento,
que seus pães estão sepultados no cruzeiro da Matriz da cidade de
Ponta Delgada,

D'este casamento nasceu:


f

G. 111. -André de Bettencourt e Sá, morador na cidade do Funchal, na Madeira


foi o 6." Snr. do Morgado de Bettencourt e 3.° do Morgado de Gagos, em
S. Miguel; casou na ilha da Madeira com D. Isabel d'Aguiar, filha de Ruy
Dias d'Aguiar e sua muUier D. f-"rancisca d'Abreu, que já era viuva de João
de Dornellas de Soavedra. Este André falieceu em 1577.

Houve:
li. 112. D. Maria d'Aguiar de Bettencourt nasceu na Madeira e estando em S.
Miguel, ahi casou na freguezia Matriz, de Ponta Delgada, em 1-XI-15Q1
com Manuel Alvares Homem, fallecido em Ponta Delgada, sendo vereador
da Camará A\unicipal, aos 4-V-1634. EUa morreu na freguezia Matriz de
Ponta Delgada a 16-3-iry20 e. de seu marido Manuel Alvares Homem, hou-
ve, pelo menos:
1. 113 A. Francisco de Bettencourt e Sá, capitão e cabo das companliias da cos-
ta, vinculou por testamento approvado a 28-6-1 õftO, tendo casado na
freguezia de S. Pedro, de Ponta Delgada, a 10-12-1023, com D. Maria
Borges Rebello, filha de Francisco Borges Rebello e de D. Guiomar
Tavares da Silva.

D'este casamento nasceu:

J. lU --Manuel de Bettencourt e Sá, capitão das companhias de guarnição de


Ponta Delgada., onde foi bpt," na freguezia Matriz, a 3-Ò-1630 e foi
morador nos Ginetas. Casou na freguezia de S. Pedro, de P. Delgada,
a 5-11-16Ô3, com D. Barbara Tavares Silva, fillia de Diogo Ferreira de
Mello e de D. Maria Pacheco da Silva.
Houve
K. 113 > D. Anna de Bettencourt, que casou na freguezia de S. Pedro, de Ponta
Delgada, a 10-12-1708, com Nicolau Pereira de Souza Medeiros, filho
de .Manuel de Souza Góes e de D. I.uiza de Medeiros.
D'estes nasceu:

L. 110 —António Borges de Bettencourt, Sargento-mór e Governador da ilha


de S. Miguel, casou com D. Marianna Jacintiia de Sampavo, filha de
, Manuel de Sampavo Arruda e de D. Brizida de Bettencourt.
D'estes houve:
.M. 117 —Nicolau António de Souza Pereira e Medeiros de Bettencourt, que ca-
sou com D. Maria do Carmo Medeiros, de quem teve:
N. UB —António Borges de Bettencourt, que casou com D. Joanna Fmilia da
Camará Arruda, filha de António Francisco d'Arruda e Camará e de
D. Maria Rosa de Bettencourt, filha de Gonçalo Raposo da Camará
Bettencourt e de D. Maria Perpetua Neumão da Camará.
D'estes nasceu:

0.119 —Nicolau António Borges de Bettencourt, etc. etc, por demais conheci-
do na historia michaclense.
^
1100 ftpVhTA MICIUÈ» ENSE

II

J. W. — Manuel da Camar.i Sá, filho cie Simão da CainaTl de Bettencourt c Sá


fc

(H. 9().), foi Sargento-Mór e bnptisndo em Ponta IVItrada aos 18-11-1607;


foi o 2." Senhor do vinculo instituído por sua ti;i avó D. Margarida de
Sá, mulher íiue foi de Christovam Dias, de quem Manuel da Camará
e Sá tj. QOj e-V-n afilhado.
Casou duis vezes, mas ignora-nos quem tivesse sido a 2/ mulher e se
d'ella teve filhos; o primeiro matrimonio, porem, foi com D. Maria
Coutinho, fii ha de D.Iirites Pereira c de seu marido João de Frias Pi-
mentel.

Para identificar esta IX Brites Perein, daremos o

SCtIEMA \-

Dom Diogo Pereira, 2.° Conde


da Feira c. c. a Condessa D.


Brites de Castro, irmã de Dcni
r\'dro de Castro, 3.° Conde de
Monsanto e filhos de D. Joanna
de Castro (P. 2t do e^tudo
Castros).

Dom Diogo Pereira, 3." Conde


da l'eira, c. c. a Condessa D.
.Anna de Menezes, filha de João
Gaspar de Bettencourt
(D. 74, cap. IV)
da Silva, Senhor de Vagos.
teve por fora do casamento,
não se sabendo em quem,
iDora Jorge Pereira, irmão de 1 I

'.D. Manuel que


Forjaz Pereira Gaspar Perdomo, filho natural
devia ser o 3." Conde, mas que c. c: D. Brites \'elho, filha de
por morrer antes do pae, não João Affonso, o Corços, e de
chegou a ser, sendo-o o seu filho sua mulher D. Leonor Velho,
primogénito c. c. filha de Pedro Velho de Tra-
(?) vassos e de Catharina Affonyo.

I I I

Dom João Pereira D. Simôa de íkttencourt

D. Brites Pereira,
c. c.

João de Frias Pimentel

Apenas indicamos, n'este SCllEM.A \', a ascendência de D. Brites


Pereira, mãe de D. Maria Coutinho e não a continuamos por ser, por
demais, conhecida a ascendência dos Condes da Feirn.
De Manuel da Camará e Sá (J. 99.) e de sua mulher D. .Maria Couti-
nho, nasceu, pelo menos:

120.--41). Margarida da Camará e Sá, casada em 19-1-1603 com o capitão João


de Souza Carreiro, F. 16. do cap. 111, do eshido "Castros- onde se po-
derá vér a sua descendência. C. G.
RCVl-ÍTA MICHAPIF.NSP. .
^'^l

CAP. V

CO RRÊ?SS
§ IV

E. If).— D. !í.abel de Reltenct.uit, 5." fillia do Velho da Ribeira


Brava, casou na
Madeira com António Corrêa, chamado o Grande,
pelas suas acções
c tambenv- o \'elho,- pela sua muita edade. Foi herdeiro da casa pater-
na e o 1." Senhor do vinculo do Esiiirito Santo íoi-lhe concedido o- :

foro de Fidalgo, em 1509; sei viu muitas vezes em Africa, gastando n'es-
sas expedições mais de 20.000 cruzados, segundo consta de memorias-
coevas; fez doaçfm dos seus serviçoí,a seu filho, em 25-ili-15ò9, que nada
pediu por clles; morreu em !57Q e jaz sepultado, com sua mulher, na ca-
peiia-mór da egreja de S. Sebastião da villa de Camará de Lobos, na Ma-
deira. Augmenlou o vinculo de que foi o 1.° Senhor, instituído por seu
pae João Afíonso Corrêa (N." 121).

N." 121- João Affonso Corrêa foi um dos companheiros do Zarco, quando pela
1." vez desembarcaram na Madeira, de que foi um dos l."~ povoadores;
teve muitas terras de sesmaria, em Camará de Lobos, onde construiu um
dos 1."° engenhos d'assucar. Éra casado com D. Ignez Lopes, natural de
Lisboa, como se vê no testamento com que falleceu em 1522. instituíram
vinculo ao qual annexaram a capella do Espirito Santo, que João Affonso
Corrêa mandou construir na egreja de Santa Maria do Calhau, no Fun-
chal: veia a fallecer em 14'j0 e jaz sepultado, bem como sua mulher, na
Capella do seu morgado.
I). Isabel de Bettencourt (E, ló) e seu marido António Corrêa, foram pães,
pelo menos, de:

F. 122— Jorge Corrêa de Bettencourt, '!.' Senhor do vinculo do Espirito Santo e


herdeiro dos serviços de seu pae, por doação que este lhe fez em
25-111-1569; casou na Madeira, em 2Q-VII-1573 com D. Maria Vieira,
(.\'." 1 do Schema VI), que falleceu em 23-V11-1592, tendo o seu marido
fallecido em 1599.

SCHEMA VI:

1:1 1

(127)
Rodrigo
).

D. Leonor

Ruy
Annes
Isabel R. d'.\ndr:'.de

c. c.
Pires da
c.

Rodrigues

Cunha
c.

P).
Pedro .Amaes
c.
habel Gonçalves
c.
i
\'asco Affonso do
(^anto

Manuel do Canto
c.
I

T. Isabel \'ieira
c.
i

,
\ W 11
'

D. Mór da Cunha c. c. (!26) Francisco


(124) João Rõiz Neto Calaça (125) 1). Brites Annes c. c Vieira do Canto
II
>

I I
I

(123) Miguel ivodrigues Nctto c. o. D. Isaliel \ieira do Can to


I

D. Maria Vieira cas. c. F. 122. Jorge Corrêa de Bettencourt


(123) ,N\iguel Rodrigues Netto casou na Madeira falleceu em 11-1-1578.
(124) João Rõiz Netto Calaça íoi o l."d'este appellido que foi para a .Madeira, onde
1102 REVISTA MI CHAELENSE

casou, morando no Funchal, na rua que depois da sua morte, em 1531,


tomou o seu nome.

(l25) I). Brites Annes, ou Gonçalves, foi a 1.* mulher de (126) e falleceu a 10-VI-
1540, estando sepultada na Sé, do Funchal.

(!_'()) Prancisco Vieira do Canto, era natural de CJuiniarâes, d'onde fui para a Ma»
deira com seu primo Pedro Annes do Canto (N.° 38 do cap. I, do estudo
• Castros que passou pouco depois á ilha Terceira. Francisco Veira do
)

Canto falleceu em 25-V-1544 e casou a 1,' vez com D. Brites Annes (125)
e a 2," vez com D. Margarida Ferreira, de quem nio teve geração.

(127) Ruy Pires da Cunha


de rortu.y;al para ilha da Madeira pouco depois d'elía
foi
indo habitar na [-"onta do Sol; casou duas vezes,
ter sido descoberta,
sendo a 1.* com D. Brites Gonçalves de quem não teve filhos, c a 2.'
com D. Leonor Rodrigues, filha de Rodrigo Annes, creado do Infante í).
Henrique, e de sua mulher I). Isabel Rodrigues d'Andrade. Ruy Pires da
Cunha fez testamento em 30-V-150Ò.
Do casamento (\e Jorge Corrêa de Bettencourt (F. 122) e de sua mulher D. Ma-
ria Vieira, que instituiu um vinculo, nasceu:

0. 128.— Francisco de Bettencourt t^orrêa, que nasceu em 1577 e foi o \.' Senho
do vinculo instituído por sua mãe; casou com D. Maria da Camará e
falleceu em 13-V-1654.
í>. Maria da Camará falleceu em 2Q-11I-H)4') e era filha de Fernão Moraes

de Vasconcellos, fallecido em 2S-IV-1612 e de sua mulher, cem quem


casou em 15-I\-1561, D. Maria da Camará, filha esta de D. Leonor Leme
(26 da TAB. Vlll) e de seu marido André d'Aguiar da Camará (N.° 129
abaixo).

N.' 129.— André d'Aguiar da Camará casou duas vezes, sendo a 1." vez no Con-
tinente e a 2." vez, na Madeira, com D. Leonor Leme, atraz mencionada;
falleceu em 30-XII-1551 c era filho de Diogo Affonso d'Aguiar que casou
na Madeira, e era filho de outro Diogo Affonso d'Aguiar
onde nasceu
de sua mulher D. Isabel Gonçalves da Camará, filha
(N." 130, adeante) e
de João Gonçalves Zarco da Camará (N." 39 do SCFIENA II) e de sua
mulher D. Constança Rõiz d'Almeida e Sá.

N.' 130— Diogo Affonso d'ASuiar foi um


dos 4 fidalgos mandados por El-Rei D.
Affonso V Henrique, para a Madeira, para casarem com
e pelo Infante D.
as filhas do 1." Capitão-dinatario do Funchal: casou, pois, em 1459 com
D. Isabel Gonçalves da Camará, que foi pelo pae dotada pouco antes de
casar e era filho de João Affonso d'Aguiar, que foi o primeiro Thesourei-
ro da Moeda, em Lisboa.
Francisco de Bettencourt Corrêa (G. 128.) e sua mulher, D. Maria da Camará, fo-
ram pães de:

H. 131.-^Diogo de Bettencourt Corrêa casou duas vezes, sendo a 2." vez, em


23-V1I-1641, com D. Catharina da Silva, já viuva de Chistovam de Mou-
ra Rolim e filha de João Rodrigues de Freitas e de D. Maria Corrêa de
Castello Branco: o 1." casamento, porem, foi com D. Leonor Esmeraldo
(N. 1 da arvore XXVlIi), de quem teve:
'

1. 132— D. Leonor Esmeraldo que casou com Braz de Freitas da Silva de quem
houve geração que se descreverá em outro estudo.
REVISTA J.1ICHAELENSR 1103

CAP. VI

C. 7.— Jorge de Bettencourt, 3." íillio de Reynaldo de Bettencourt (B 3.), tendo


nascido em Pranca, d'ahi passou, com seus irmãos e em conipaniiia de seu
tio, o 1." \'ice-rei das Canárias, em Maio de 1405, para estas ilhas, onde se
conservou apenas uni anno, indo para Hespanlia em 1406, e fixando ahi re-
sidência, tendo sido Snr. de S. Bertholames e de Noveredonda. Em Hespa-
nlia, casou com I). Elvira d'Avilla, fillia de Estevam Domingues d'Avil!a,
Senlior de Navas e irmã de Oil Oonçalves d'Avilin, Senhor de Serpedoza,
Paes de:

D. 133.— João Sanchez de Bettencourt, que nasceu e viveu em Hespanlia, onde


foi Senhor de S. Bertholames e de Naveredonda, por morte de seu pae;
casou com 1'. Alaria Vaz de Vadilgo e d'ella houve:

F. 134. Ant;'io Oonçalves d'Avi!ia, que segue.

n. ]35,— -D. Maria de Bettencourt, filha '2.\ que casou em Castella e de


quem não temos mais noticia.
E. 134.- Antão Oonçalves d'Avilla, fillio primogénito. Teve de fugir de Hespanha
lio tempo das commUnidades, pelo quese Interrlou lia villâ d'Almeida, oHde
foi feCebido por Affonso Oonçalves d'Anloha, creadp da Infanta Dona Bea-
ifi/. e cAsado com D; Antónia Oonçalves, Dama do Paço.

0|-artde aiUizâde nasceu entre hospede e hospedeiro, tão grarlde qtJe indo
o Antona para a .Madeira, onde lhe tinham sido feitas grandes doações, foi
com elie, o Antão Oonçalves d'Avilla (E. 134.), que lá casou com a filha do
amigo, de nome D. ignez Oonçalves d'Antona, que, pelo pae, foi dotada com
parte das terras que lhe haviam sido dadas.
Do casamento de Antão Oonçalves d'AvilIa (E. l34) e de sua mulher D*
Ignez Oonçalves d'Antona, temos noticia dos seguintes 7 filhos;

F. 135.- ^Belchior Cjonçalves d'Avilla, que segue.

F. 136.=-^Joâo d'Avilla de Bettencourt, filho 2.°, casou com D. Maria Pires,


de quem houve:

O. 137.— Chistovain d'Avllla de Bettencourt, padre e sem mais


noticia.

Ci.138.— D. Isabel d'Avilla de Bettencourt, casada coni Manuel


Paim da Camará de quem houve geração.
O. 139.— D. Ignez d'Avilla de Bettencourt, que casou com Matheus
Alvares d'Alemquer, de quem teve descendência.

F. 1 10. -^^D. Filippa Gonçalves d"Avilla, a seguir no § VI.


F. 141.^-D. Joanna Oonçalves d'Avilla, 4." filiia e casada com João Gonçal-
ves Machado, filho de Gonçalo Gomes da Fonseca e de sua mu-
lher D. .Mecia Gomes d'Andrade, com descendência.

F. 142. — D. Catharina Oonçalves d'Avilla, 5.' filha, casou com .Martim Go-
mes da Abelheira, com geração.
r. 143.— D. Maria Gonçalves d'AvilIa, 6." filha, casou com Antão Fernande-s
Leal, morador nas Fontainhas, com descendencja.
1 1 04 RPVIST A MICHAFLENSF

I'. M4. -D. Ouioinar Oonçalves d'Avilla, 7." filha, casou com Francisco
Alves Diniz, de quem houve filhos.

F. 135.— Belchior Oonçalves d'Avilia, Snr. e herdeiro do vinculo dado, por seu
avô Affoso Gonçalves d'Antona, em dote a sua mãe, casou na ilha Gracio-
sa (dos Açores) com D. ignez Gomes Freire, filha de Gomes Lourenço de
Sieuve e de sua mulher I). Iria \'az Freire.

Foram pães de:

O. 145.— Antão Gonçalves d'Avilla, filho primogénito, não casou c falleceu


sem geração.
G. 14í). -Belchior Gonçalves d'Avilla, que segue.

G. 147.— Fernão d'Avilla, 3." filho, casou com uma filha de António Vaz
f'igueiras e d'ella teve:

li. 148.— Manuel d'Avilla que casou tom D. Leonor de Miranda,


filha de Amador Dias, de quem houve filhos.

1 1. 14U.^^Gaspar Gonçalves d'Avilla, casou com uma filha de


Francisco Gonçalves e de sua mulher i>. Iria Gonçalves;
sem mais noticia.
II, 150.— D. Maria d'Avilla, casou com CJonçalo Fernandes de
Mendonça, de quem houve geração.

O. 151. D. Filippa Gonçalves d'Avil!a, casada coiu Damião Dias Picanço


(vide «Nobiliário da ilha Terceira," 1." vol., pag. 86). C. (i.

G. 152.— D. Catharina Gonçalves d' Avilta, casou com Simão Fernandes


Quadros e foram moradores na ilha de São Jorge. S. G.

G. 153.— D. Ignez Gonçalves d'Avilla, casou com Guilherme da Silveira, na-


tural de São Jorge, para onde foram viver. S. G.

G. Li-i.^D. Maria d'Avilla de Bettencourt, 7" filha, casou com Jorge de


Lemos, o Velho, adeante no § VII.
G. 155.— D. Francisca d'Avil!a de Bettencourt, S." fill.a, casou com João
Gomes de Lemos e foram iiaes de:
H. 15Ó.— Bartholomeu d'Avilla de Bettencourt, casado com D.
Margarida d'01iveira, de quem houve:

I. 157.- D. A'aria d'Avilla de Bettencourt, casada com


Francisco Evangelho Vieira e foram pães de:

J.
158.- Bartholomeu d'Avilla de Bettencourt,
vereador em 1060, casado com D. Aba-
ria ie Quadros: (vide "Nobiliário da
Ilha Terceira,» Tit." Pereiras, §. 2.°,
N.° 7). C. O.

G. 140— Belchior Gonçalves d'Aviila, filho 2.^ casou na ilha Graciosa, dos
Açores, com PX Guiomar da Cunha, de quem houve :

U. 159. Simão da Cuniia d'Avilia, que segue.


H. 160.— Christovam da Cunha d'.'\villa, filho 2.", casou com D.
RíVISTA MICHAELENSE 1105

Catliarina da Veiga de Fspinola, filiia de Manuel Piz de


Figueiredo e de I). Paula de Espinola; houve:

i. lól. Pedro da Cunha d'AvilÍ2, casado com D. Brigi«


da Rodillia, filha de Francisco Rodilha Frazão
e de IX Anua Lopes; foram pães de;

J. Iõ2.— Francisco de Bettencourt, sem mais no-


ticia.

J.
t63. Christovain da (^unha d'Avilla, som mais
noticia.

J. 104. -Frei Pedro da Victoria, frade Francis'


cano. S. (í.

]. 165. -António de Fspinola, sem mais noticia,

]. lóó.v^João de Bettencourt, sem mais noticia,

J. 167.— Simão da Cunha, sem mais noticia.

J. 168.— D freira na ilha do Fayal.


J. 16Q.=--:D idem.

I. 170.^ Nuno da Cunha d'Avilla, sem mais noticia.

1. 171. Gonçalves d'Avilla, casado com uma


Belciíior
filhade Francisco de Lobão e de sua mulher D.
Maria Gonçalves. C. G.

1. 172. Francisco de Bettencourt,4."filho;sem mais noticia.

l. 173.— [). Catharina da Cunha d'Avilla, casada com


Manuel de Sousa Netto, filho de outro Manuel
de Sousa Netto e de sua mulher D. Catharina
Gomes d'Avilla. C. G.
H. 174. [).Cecília da Cuniia d'Avilla, casou com Álvaro Barbo-
za de Mendonça. C. G.

f 1. 175. -.Melchior, ou Belchior d'Avilla da Cunha, morreu solteiro e


sem geração

H. 150.-^Simão da Cuniia d'Avil!a, fiFIio primogénito de Belchior Gonçal-


ves d'.\villa (G. 146) casou na ilha Graciosa, dos Açores, com D.
Maria de Freitas, filiia de João de Fi citas de Mendonça e de sua
mulher D. Violante da Fonseca Barboza; houve:

I. 176.=^:Simão da Cunha que casou com uma filha de Affonso


Netto e d'ella houve:

J. 177.— Simão da Cunha, casou e sem mais noticia.

I. 178. — D.F... da Cunha, casada com António Lobão, de quem


houve geração.

1. 17Q.- -Belchior d'AviIla de Mendonça, casou com D. Domingas


Lopes Varella, filha de Sebastião Lopes \'arclla. C. O.
1 1 OÔ REVISTA MICHAELENSE

§ VI

F. 140.— D. Filippa Gonçalves d'Avilla, 3.' fillia de Antão Gonçalves d'Avilla


(E. 134), casou comJoão Vaz Nogueini, natural de Figueiró dos Vinhos,
d'onde foi á ilha Graciosa, dos Açores, onde casou e ficou residindo;
houve:

0. 180.=^Antão Vaz d'Avilla de Bettencourt que casou com D. Violante da Fon-


seca Pacheco e d'ella bouve:

H. 181.— D. Ingez d'Avilla de Bettencojrt, sey;unJa mulher do Licenciado em Câ-


nones, Dr. João Gonçalvas Corrêa, Snr. e herdeiro da casa paterna e
genealogista, filho de João Affonsn Viegas, natural, de Barreiros e de sua
mulher D. Maria Corrêa, da Graciosa, dos Açores e filha esta, de D. Mar-
garida Aífoiíso de Lyra e de seu miriJo B.irtholomeu Dias Picanço, na-
tural do Fa.al e ido para a Graciosa (N." 3 a pag. 310 de vol. 2." do "No-
biliário da- lliia Terceira»).
D. Ignez d'Avilla de Bettencourt (H. 181) e seu marido" o Licenciado João
Gonçalves Corrêa, foram pães de :

1. 182.=Antonio Corrêa da Fonseca e Avilia, Licenciado em Cânones, casou com


D. Branca Vieira Machado, que é a N." 5 do § 2.", Tit. Vieiras, do No-
biliário da ilha Terceira*).

Foram pães de:

J. 183.=Francisco de Bettencoiirt Corrêa e Avilia, Fidalgo da Casa Real e procu-


rador ás Cortes, por Angra, em 1642, casou com D. Barbara de Vargas,
natural do Faval, de quem houve :

K. 184.=D. Violante de Bracamonte. ou D. \'iolante de Bettencourt Corrêa e A-


villa, 1." mulher de Vital de Bettencourt de Vasconcellos (H. 54 do cap. 111.)

C. G. .

§ VII

G. 154.--D. Maria dWvilla de Bettencourt, 7.° filha de Belchior Gonçalves d'Avil-


la (F. 135) e de sua mulher D. Igncz Gomes Freire, casou com Jorge de
Lemos, o Velho, e houve:

H. 185.=Jorge de Lemos de Bettencourt casou com sua prima L~>. Joanna de Bet'
tencourt de Vasconcellos (G. 40, cap. Ill), da quem houve:

I. 186.-=Francisco de Lemos de Bettencourt, foi commendador de Christo e casou


na ilha de S. Jorge (.Açores) com I). Ignez Corrêa de Mello, de quem
houve, pelo menos:

J. 187.-^D. Maria Joanna de Bettencourt de Vasconcellos aue casou com seu pri-
mo João de Bettencourt de Vasconcellos (H. 50, cap. Ill), Fidalgo-Caval-
leiro, por alvaná de
20-\'-l(í24, registado no L.° de vários Reis, fl." 441,
na T. Cavalleiro de Christo e Commendador de .Santa Maria de Ton-
T.;
della, na mesma ordem, por mercê de 12-l\'-164ó; Senhor e herdeiro da
casa e morgados paternos e f^llecido em lõ70.

D'este casamento nasceram:

K. 188.- Feliciano de Bettencourt de Vasconcellos, Senhor e herdeiro da


:

REVISTA MICMAELENSE 1107

casa e morgados paternos, capitão de ordenanças d'Angra c Fi-


dalgo-Cavalleiro, casou com sua prima D. Clara A\aria da Sil-
veira Bettencourt (J. 64, cap III). C. Q.
K. 189.— Vital de Bettencourt de Vasconceilos, fallecido solteiro.
K, 100. João de Bettencourt de \asconcellos, idem.
K. 191. --n, Maria de Bettencourt de \'asconceilos, casada com António
Pireá do Canto, de quem houve geração.

CAP. Vil

§ Vlil

E. 13.---=Pedro de Bettencourt, filho de João de Bettencourt, o \'elho da Ri-


beira Brava (D. 9, cap. 11), casou com [). iWaria de Freitas, filha de João
de Freitas, Vedor da Fazenda Real na ilha da Madeira e de sua mulher
D. Ouiomar de Lordello.

Nasceram:

F. 192. João de Bettencourt de Freitas, que segue;


F. Guiomar de Freitas, que casou casou com Mendo de Dornel-
]93.---íD.
las de Moura. C. O.
F. 193 --João de Bettencourt de Freitas, na ilha da Madeira casou com D. Helena
Mendes de \'asconcel!os, (G. 20) no cap. li.
D'este casamento, nasceram, que saibamoí:

G. 195. — Pfcdro de Bettencourt de Freitas, que segue.

G. l9õ.^-Antonio .Mendes de Bettencourt, filho 2.°, casou com D. Maria


da Costa e d'ella houve:

H. 107. — António .Mendes de Bettencourt. S. G.

lí. 198. Joí;ode Bettencourt, casado com [). ,\ntonia Tavares,


de António Tavares e de sua mulher D. Gregoria...
filha
sem geração.
H. 199.— =D. Melena de Bettencourt, casada com Pedro Gonçalves,
pães de:

1. 200. ^D. iMaria de Bettencourt, casou com Pedro Ri-


beiro e houve

J.
201.- Luiz Gonçalves da Camará, que viveu
no Funchal e de quem não temos mais
noticia.

H. 202.=D. Catharina de Bettencourt, casada com Francisco Cc-


sar d'Andrade, de quem houve geração.

H. 203.;^^D. Maria de Fieitas, solteira e S. G.


: .

1 1 08 REVISTA MICHAELEN SE

H. 204.— D. Filippa de Freitas idem.

G. 205.— Gonçalo da Freitas de Bettencourt, adeante no § IX.

G. 206.— Henrique de Bettencourt, a seguir no § X.

G, 207. — Ruv Mendes de Vaseoncellos, que casou com sua sobrinha-neta,


D.' Isabel de Bettencourt c Menezes (J.
229 do § X) S. G.

O, 208.^^Filippe de Bettencourt, 0." filtio, solteiro e S. O.

G, 209.^^1). Filippa de Bettencourt de l-"reit:is, 7.'' filha, casou com Nicolau


de Brito Oliveira, filho de António de Brito de Oliveira c de sua
mulher D. Joanna de Cortes; houve;

H, 210,---Mem de Brito d'01iveira, sem mais noticia.

H, 211.^=Antonio de Brito de Bettencourt, vigário no Funchal. S. G


FI. 212.- D. Maria de Brito de Bettencourt, solteira e S. G.

H. 213.-==D. Fillippa de Brito de Bettencourt idem.

Por fora do matrimonio, houve João de Bettencourt de Freitas (F. 1Q2)


um filho:

G. 213.— Miguel de Bettencourt, b.1stard(^ havido em mulher no-


bre; sem mais noticia.

G. 1Q4.— Pedro de fjettencourt de Freitas, filho primogénito, casou com I). Beatriz
d'Abreu, filha de Ruy Vaz e de sua mulher D. Filippa Rebello.

Houve
H. 214. -João de Bettencouií de Freitas, que segue.

H. 215. -André de Bettencourt de Freitas, casado com !>. Isabel de

Vaseoncellos, filha de Zenoglio y\cliioli e de sua mullier


D. Maria de Vaseoncellos. S. G.

li. 216.= D. Maria de Freitas, 3." filha, císou com Jordão de Frei-
tas da Silva, filho de Gonçalo de Freitas da Silva. C. G.

H. 214. João de Bettencourt de Freitas, filho primogénito, casou com D. Isabel


de Nuno da Costa Moniz e de sua mulher D. Maria.
]\\oniz, filha .

Foram pães de :

1.
21 '/.--Pedro de Bettencourt de Freitas. S. (i.

I. 218.= =Niino de Bettencourt da Co."ta, filho 2.", sem mais noticia.

I. 210.— D. Branca deBettencourt, f-"reira em S. Clara, do Funchal.

I. 220.---D. Beat.'iz de Bettencourt idem.

§ IX

O. 205.— Gonçalo de Freitas de Bettencourt, 3." filho.de João de Bettencourt de.


RUVtStA MtCHAELENSE Í1Ò9

Freitas (F. 192.), casou coni D. Constança Pimentel, filiia de Gaspar Pi-
mentel Vasco e de D. Violante Ribeiro dá Fonseca-.

Houvie:

H. 221.-— Pedro de Bettencourt de Freitas, ».° fillio, casou com èiia


prima D. Catharina d' Abreu (i. 211 § X) S. O.

í I. 222. Gaspar Pimentel, cóm seu iniião primo-


filho 2.", tendo,
génito, saiiido em navio, do Funchal, para soccorrer umà
1

náu, que de terra se via pelejando com um corsário, des-


appareceu, com o navio em que iam. S. G.
ti. 223.^=-Jorio de Freitas de Bettencourt, padre e cónego da Sé do
Funchal. S. G.

H. 224.— Gonçalo de Freitas de Bettencourt, que segue.

11. 225. ^D. Maria Pimentel, morreu creança. S. G.

li. 226. -^D. Luiz de Freitas idem.

li. 224.- -Gonçalo de Freitas de Bettencourt, 4." fillio, casou com D. Maria... de
quem houve:

1. 227.-— Gonçalo de Bettencourt de Freitas, ou de Frei-


tas de Bettencourt, casou com sua prima D. Ma-
ria de Bettencourt Botelho (1. 240, § X).
Sem mais noticia.
1. 22S. José de Freitas de Bettencourt, cónego da Sé do
Funchal. S. G.

1. 22U.- Pedro de Bettencourt e Freitas, fallecido em


11-7-1700, tendo cajado com D. Isabel de Vas-
concellos, de quem houve:

J. 230.=D. Filippa de Bettencourt, casada com


]osé de Figueirôa, filho de Pedro d'An-
drade Berenger e de D. Isabel de Castro.
S. mais noticia.

1. 231. =D. Constança de B. e Freitas froiríis no mostefro (io S;iti


IM ('l;ir;ldo Flincll.ll
I. 232.-^D. Maria de B. e Freitas

1. 233. --^n. Antónia de Vasconcellos, casada com seu pri-


mo Matheus da Camará de Bettencourt e fallecida
anteí do marido, em 1705.
S. mais noticia.

§X
G. 205.;-- Menrique de Bettencourt, quarto filho de João de Bettencourt de
Freitas, (F. 194.) casou em 17 de Junho de 1503 com D. Anna Ca-
bral, de quem houve:

FI. 234.=]oão de Bettencourt de Freitas, que segue.

H. 235.=Henrique de Bettencourt, solteiro e S. G.


.

U ] o ^^ÍL, MimÀfelJENSE
H, 230.-1). Helena de Bettencourt, casad.a na Madeira com Antó-
nio de Jacques. de quem houve:

i. 237.^=Henrique de líettencourt.

1. 2'38. [\ f. .

1. 23Q. D. F...

11. 234.-- loão de Bettencourt de í-reitas, fillio primogénito, viveu no lagar do


Campanário, na Madeira, ficando, por isso, conliecido pon o do Cam-
panário— casou com D. Barbara Telles, filha de Diogo Luiz Botelho e
de sua mulher D. Adaria Telles de Menezes.

1 louve, do casamento, as trez filhas seguintes:

1. 240. — D. Matia de Bettencourt Botelho, casada com


Gonçalo de Freitas de Bettencourt (1. 227, §IX.)

1. 241.- -D. Catharina d'Abreu de Bettencourt, casada com


Pedro de Bettencourt de Freitas (H. 221, § l.X).

]. 242.=:D. l-sabel de Bettencourt e Menezes, casada com


seu tio avô Ruv Mendes de Vasconcellos.

CAP XI

243.— Pedro Vaz Pacheco, pae de D. Filtppa Pacheco Botelho, mulher de António
de Bettencourt e Sá (G. 87, cap. IV) teve carta de Brazão em 22 de maio de
1535 e era filho de Antão Pacheco (filho de Pedro Pacheco) e de sua mu-
lher D. Fiiippa Martins, filha de Martim Annes Furtado.
Fez testamento de mão co.timum com a mulher, approvado em 2 de maio
de 15Ó3 em que instituíram vinculo na sua propriedade de Santo António :

era, com sua mulher, morador na freguezia de S. Pedro, de Ponta Delgada;


foram ambos sepultados na capella do Rosaiio, em Villa Franca do
Campo, onde mandaram fazer uma campa com suas armas.
D. Fiiippa Pacheco Botelho, quando casou com António de Bettencourt e
Sá, já era viuva de Marcos Fernandes, de quem teve Miguel Pacheco e João
Pacheco, este casado com D. Beatriz de Bettencourt, de quem teve um fi-
lho chamado Antão Pacheco de Souza.
António de Bettencourt e Sá e sua mulher ]). Fiiippa Pacheco Botelho fo-
ram pães de:

H. 244.- D. Maria Pacheco de Sá Bettencourt, que segue.

H. 245. — D. Brites de Sá, de quem tratamos no nosso trabalho sobre "An-


drades, da ilha de S. Miguel, quando n'esse trabalho falíamos no
numero 17.

H. 24õ.-=D. Guiomar Nunes, de quem apenas temos noticia pelo testamento


de sua irmã D. Brites de Sá.

H. 244.;r_ D. Maria Pacheco de Sá Bettencourt, senhora e herdeira dos vincules


paternos, filha primogénita, casou com Simão Loires d'Andrade, íilho de
Álvaro Lopes de Andrade, fidalgo natural do Porto.
KtVlbTA M^èrtXltENSH Tl*!!

De I>. M.iria Pacheco de Sá Rettencourt e cie seu niaricJo, nasceram:


I. 247. D. Beatriz de Sá Bettencourt, que segue.

1. 2-18. D. Joanna de Sá de Fíettencourt, baptisada em 23 de junho


de IhOl e oasiida com Valcutini da Camará e Sá Betten-
court. {I. ys § I, Cap. IV).

I. 247.- D. Beatriz de Sá Bettencourt, de quem já tratamos no nosso trabalho


«Andrades, d,i ilha de S. i\\iguel >, falleceu em 24 de agosto de lõ57. Casou
duas ve/es: a 1.° com seu tio paterno Manuel d'Andrade, irmão de seu pae,
não tendo tido geração d'cste seu 1." casameiíto: casou 2." vez com Fran-
cisco de Sousa i^"urtado, filiio do Leonardo de Sousa Furtado (249) e de sua
mulher I). Beatriz Perdigão, que foi madrinha de um baptisado na .Viatriz de
Villa Franca do Campo, S. Miguel, em 30 de março de 15Ç2. Fsta senhora
era filha de B.ilchior Gonçalves, natural de Villa Franca e ahi morador
com sua mulher I). Margarida Alvares, na freguesi:; Matriz, onde bapíisa-
ram os trez filhos que tiveram, todos com o appellido Perdigão-
N." 249. Leonardo de Souza Furtado, pae de Francisco de Souza Furtado, que foi o
-

2." marido de D. Beatriz de Sá Bettencourt, com quem casou antes de 157Ó,


foi padrinho de um casamento, na jMatriz de Villa Franca do Campo,
em 6 de outubro de KjOO. Foi filho de Jorge Furtado de Souza, commen-
dador do habito de Christo e morador em uma sua propriedade a leste do
. Areal grande de Rosto da Cão, S. Miguel e que instituiu um vinculo, por
testamento approvado em Villa Franca, a 12 de fevereiro de 158L Este
Jorge de Souza casou duas veze=;, sendo o seu L° casamento, (do qual nas-
ceu Leonardo de Souza Furtado) com 11. Catharina Nunes Velho, de quem
se trata em outro estudo, *e o 2.° casamento com I). Guiomar Camello Pe-
reira, que será mencionada no estudo "Pereiras». Jorge Furtado de Sou/.a,
de quem vimos tratando, era filho de Ruy Martins Furtado, morador em
Rosto de Cão, S. Miguel, eiu uma sua propriedade, muito rico, gentil-ho-
mem, bom cavalleiro, grande musico e tocador de viola, casado com D.
Maria Rodrigues Botelho, filha de João Gonçalves Botelho, o Tosquiado, e
da sua 1." mulher D. Isabel Dias da Costa; d'e8tes Boteihos, tratamos no
estudo Boteihos.
Ruy..Martins Furtado, atraz citado, era filho de Marfim Annes Furtado
de Souza, que fez testamento approvado em 8 de jullio de 1548 e casou na
Madeira, com D. Solanda Lopes, procedente de Flamengos, estabelecidos
n'esta ilha. D. Beatriz de Sá Bettencourt, do seu 2.° casamento com Francis-
co de Souza Furtado, houve;

J. 67.==Francisco de Sá.

J.
68.- D. Felicia de Bettencourt e Sá, N." 17 no trabalho «Andrades da ilha
de S. M\guel", casada com o capitão e morgado Jacintho d'Andrade
Albuquerque, N." 8 do referido trabalho, onde é descripta toda a sua
descendência.
REVISTA MICHAELENSE
ni2

firvorc de costado I

16 - Riiv Mar- ,
si-M-Tiim -\t,n«
tins rurtadd. i

8 — Jiugc Fur- ] ,13— D.Solari.l.tKn.


• pes
tado de Sonsa
17 - D. Maria ,
.„ , . „ ,

Rodrigues Bo- ^
,.„ |,„„.,h„ _ „
telho. to>(iiii.i<io.

.!..— I). lí.ibcl lii;i.


4 — Leonardo
I

de Sousa Fm- i

tado. 9 -D. Cathari- j :ii"i— l>eilr<i V.T7 Pií


18 - Fernão Vaz 1'hoco,
na Nunes Ve- f
I'aclicco.
lho.
y l :i7

\ Uotelhu.
- II. Ciii.iiiKir

IQ - D. Isabel \
'^^""••"

Xunes Velho. .111—11


'2— Francisco ) ri»ii>o

de Sousa l'ur- 10 - Belchior


tado. Gonçalves.

5 - D. Beatriz
Peldigão.

II -D. Marga-
rida Alvares.

1 — D. Felícia
de Bettencourt
e Sá, herdeira
do morgado 12 -Álvaro Lo-
de Andrades e pes d'Andrade.
do que foi ins-
tituído por sua 6 — Simão Lc-
tia-avó D. Bri- pes d'Andrade.
tes de Sá Bet-
tencourt.

3 - D. Beatriz
de Sá Betten-
13- D. F
; — .)o;in <lo
|n-.)n.-in
iiti (lo not-
court. 28 — Simão de \
ii-m..uri f sá.

Bettencourt. 1 'jT — r>. (iiiiniii.ir


/ lt'idrif>'ups Vaz Bo-
. tcU.u.

7 — D. Maria 8- líiiv Oago.


Pacheco de Sá 14 António / 29- D. Aíarga-
Bettencourt, ir-l de Sá Betten- rida Gago.
mã de D. Brites court,
|

de Sá Betten-
/ fio—
fio Aiiião r.i.-he-
court.
30- Pedro Vaz
15 -D. Filippa l
Pacheco(n." 36, /
'' — l>. Kili|ipa
' :irliii-s.
Pacheco Bote- )
acima). ^

10 firma do 31 _ o. Guio — .Inrgo \uiio


t I)m>.'IIi..,
n." 18, acima), i
mar .Nunes Bo-
telhofn." 37, a- J
c.i_n. M.irK.rida
\ Cnua). ; Tiav/issos C.iliral.
REVISTA MICHAELENSE 1113

IMOTAS
N. •
ij..Q_ pelicia de Bettencourt e Sá, N/'
-...p). Margarida Alvares, na
II
fre-
n."17 do titulo "Andrades,» da ilIiadeS. guczia Matriz de Ponta Delgada, onde
Miguel, foi, como se viu, casada com o baptisaram os Ires filhos, todos do ap-
morgado Jacintiio d'A!idradt; Albuquer- peliido Perdigão.
que, n." 8 do referido titulo. N^I2 ;-Alvaro Lopes d'Andrade, ou
N-"_^_:-Francisco de Sousa Furtado, Annes, era como seu filho, natural do
de quem falámos, bem cotao de sua Porto, onde era casado.
i4
;— António de Sà Bettencourt era
N.'^
mulher a
N.» 3 :..D. cavaileiro do habito de Christo.
Beatriz de Sá Bettencourt,
no «Andrades," da ilha de S. Mi-
titulo
^"J^ -D. Filippa Pacheco Botelho,
guel, quando tratámos de sua filha, a
quando casou com o numero antece-
dente, já era viuva de Marcos Fernan-
n." 17 d'aquelle trabaliio. Esta Snr.° era,
des, de quem teve Miguel Pacheco e
em lo55, fregueza de St." Clara, de Pon-
ta Delgada, data do casamento do filho
João Pacheco.
N.'; 16 :..Ruy Martins Furtado foi mo-
Francisco,e já era viuva. Falleceu em 24
de agosto de lò57. Quando casou com
rador em Rosto de Cão, S. Migue!, em
Francisco de Sousa f'urtado (n.° 2 d'es-
uma quinta que alli tinha; era muito ri-
ta arvore) já era viuva de seu tio Ala-
nuel dAndrade, irmão de seu pae Si-
mão Lopes d'Andrade (n.° () d'esta ar-
vore.
N" -^^-Leonardo de Sousa Furtado,
casou antes de 1576, por ser esta a da-
ta do nascimento de um filho. Foi pa-
drinho de um casamento na Matriz de
\'iila Franca do Campo, na ilha de S.
Miguel, em 1 de outubro de IftOõ.
!*•"
Ai"D. Beatriz Perdigão, que como
se vê em seu marido, casou antes de
1570, foi madrinha de um baptisado na
Matriz de Villa Franca do Campo, na
ilha de S. Miguel, no dia 30 de março
de 1592.
ÇL".^'-Sinião Lopes d'Andrade era
natural da cidade do Porto e casou em
S. Miguel.
N-°
Jj-D. Maria Pacheco de Sà Bet-
tencourt era irmã de [X Brites de Sá,
de quem tratamos, no titulo "Andra-
des," da ilha de S. Miguel, no n.° 17.
N.° 8:.. Leonardo de Sou.sa Furtado (Figiii-a 1}
era commendador do iiabito de Chris-
to e morava em uma propriedade a les- CO, geníilhomem, grande musico e to-
te do Areal Cirande de de Cão,
F^osto cador de viola.
S. Miguel. Instituiu vinculo por testa- M." 18 :--Fernão Vaz Pacheco foi mo-
mento approvado em Villa Franca do rador no logar do Porto Formoso, S.
Campo a 12 de fevereiro de 1581. Ca- Miguel, e testamenteiro de seu pae.
sou duas vezes, tendo sido o primeiro **" 3° :-Pedro Vaz Pacheco e
sua mu-
casamento com a lher foram moradores na freguezia de
N-^ 9j-D. Catharina Nunes
Velho. S. Pedro de Ponta Delgada, onde fize-
N." lOj-Belcliior
Gonçalves era natu- ram testamento de mão commum ap-
ral e foi morador, com sua mulher a provado a 2 de maio de 1563, em que
:

1114 lítVistA MtÒHAÊlÉVlSE

institiiiram vinculo na sua piopnedade ^:1^^ —Jorge Nunes Botelho, succes-


de St.° António. I^oram sepultados em sor do morgado de seu pae, Nuno Gon-
Villa I-Yanca do Campo, S. Miguel, na çalves Botelho, foi-lhe concedido o bra-
Capella do Rosário, onde tinham man- zão da Fig. 2 em 1533, aos 20 de Fe-
dado fazer uma cr.mpa com o brasão d' vereiro (M. 23. § !II, do nosso estudo
.amias que foi concedido a f^edro Vaz "Botelhos-').
T^aciíeco, por carta de 22 de maio de n " 63 :
—Q
Margarida Travassos Ca-
1535 e registado a folhas 7Q do livro bral, casada com
o n." 02, era filha de
10.°, da chancellaria de D. João III. (Fi- Gonçalo Velho Cabral e de sua mulher
gura l). D. Catharina Alvares de Benevides, ne-
N." 32 •-Martim ,-\nnes Furtado de Sou- ta, por seu pae, de Pedro Velho de Tra-

sa casou na Madeira e passou depois vassos e de sua mulher D. Catharina


para S. Miguel, onde fez testamento em Affonso 2." neta, por seu avô paterno.
;

8 de julho de 1548.
N.'\33:..D. Solanda Lopes era proce-
dente de flamengos estabelecidos na Ma-
deira, d'onde era natural.
'*'".?5j-JoâoOonçalves Botelho, o
Tosquiado, por alcunha, era Escudei-
ro-Fidalgo e foi morador em Rosto de
Cão, S. Miguel. Vinculou por testamen-
to approvado em 2 de julho de 1513 e
feito a 30 de junho do mesmo anno ;

d'este vinculo foi primeiro administra-


dor o seu filho João d 'Arruda da Costa
e ultima administradora a l."" Viscon-
dessa da Praia.
M " 38 :— Nuno Velho Cabral acompa-

nhou seu lio Frei Gonçalo Velho para


a ilha de St.' Alaria, d'onde passou pa-
ra S. Miguel, onde veiu a casar com a
n.° 39, D. Izabe! .Affonso, que foi a 1.'
mulher nascida n'esta ultima iliia.
H." 56:— ]Qão de Bettencourt e Sá, por

morte de seu irmão Henrique, foi o her-


deiro do morgado instituído por sua tia
1). Maria de Ikttencourt para Gaspar -gj ^WTTT- ,
hRB-
de Bettencourt.
H." 57 :— D. Guiomar Rodrigues Bote- (I^ifí. 2j

lho foi a herdeira do morgado instituí- de Diogo Gonçalves de Travassos (n."


do por seu pae, Gonçalo Vaz Botelho, 64 abaixo) e át sua mulher D. Violante
o moço Andrinho (L. 18, § 1, do nosso Velho, irmã de Frei Gonçalo Velho,
estudo "Botelhos"). reconhecedor e povoador da Terra Alta
!l:^.5?j— Ruy Gago, ou Luiz Gago, fi- e dos Açores, Commendador-Mór d'Al-
dalgo natural do Alemtejo, onde era mourol. Senhor de Pias, Bezelga e Car-
casado. diga. De toda esta linha "Velho», tra-
M/* 60 :
— Antão Pacheco passou para taremos em estudo que temos em pre-
S. Miguel com o 3." capitão donatário, paração.
em 1474; foi Ouvidor do 5." Capitão H -" 64 :
— Diogo Gonçalves de Travas-
donatário em 1522. sos era bisavô de D. Margarida Travas-
1° 6i^_n. Filippa Martins, filha dos sos Cabral (n." 63 d'esta arvore de cos-
n." 32 e 33 d'esta arvore de costado e tado).
irmã, portanto do n " 16, casou em Villa Sobre elle temos as seguintes notas
Franca do Campo, da ilha de S. Mi- Foi-lhe concedida a provedoria e ad-
guel. ministração do morgado e hospital de
RÉVISTA MlCHÀELENSE 1115

D Mór Dias, de Ponte de Seira, por D. '


um epitapliiohonrosissimo, pelo qual
Duarte, quando ainda era infante, em '
se vê que creado de El-Rei D. João
foi
15-V1-142t, mercê esta que liie confir- I, dos conselhos de f:l-Rei D. Affonso
mou em 22-XÍÍ-143S visfoseu requeri- \' e do infante D. Pedro, regedor das
mento y as muytas íjrãdcs na/ões ij. terras do mesmo Senhor e aio de D.
teemos pcra lho outoroar"... chamando- Pedro, condestavei de Portugal e Rei
Ihe, na carta de confirmação, "vecdor de Aragão, filho de D. Pedro, I3uque
das terras do Yffãte dom pedro meu ir- de Coimbra, e D. Jayme e D. João, seus
mão' \'id. Chance!, de D. Duarte, L." irmãos.
1 f!s. 53 V." e 1^." 11 da Extrcmadura, ;i
Lesava o brasão da Figura 3.
fls. 114 V." Jaz sepultado no Mosteiro d'i

Batalha, junto á sepultura do infante D, Militou nas guerras de Castella e foi


Pedro, Duque de Coimbra, da parte de I armado cavalleiro na tomada de Ceuta,
pelo infante D. Pedro, Duque de Co-
fora da capclla, tendo CL Q, gravados e •
imbra.
1116 RtiVlSTA MlÈHÂtLfeMSE

arvore de costado lã

.tí- llalUlv;! AlV.-l-

16— Riiy Ooii- s.*í — n. cofiKiAiivA

i çalves Homem.

;8-Man.,cl Al- i Í/-P:i"''í^'5 l "I — roílro (cínir-


Rodrigues Cor-
víires lioincin.
4 — Francisco l rêa. •
.V,--|1. .SIiii<liCn

de Rcttciiconrt»'
f Sú. ''r;i»f"ísro cio
j

I >:. . ... (F. í»i).

BetUncniiit e .
:.- - I). M:ili.- C.
\
^íiiiiili." 4la Cuftla.
'O-D. Maiia de '
Sá.
/

Açtiiar Pictten- \ . .18-Riiy nins dl'


cor.rl.
f
19 ^
D. Isabel \ Afuiar.
\ .11* - I». rr.TuciíL';i
de Aguiar. lio Attreií.
(

?. — Manuel de 20 -
Balthazar
l'cltenconrt e l Rebello.
Sá.
10 —
l-iriui-i.scc

R. de OaiKtia. 12 ~ .Aiitoiíio líor

j 21 - [> Onio- e:o< rio KoHsít.

niar Borges. D -D. U:.I...J li.ir.

i-D. Barbara \
de Hcítencourt
e Sá ,/ 22 - Herculano
Barbosa.
c. c.
5 -L>. Maria/ D. Oiiio-
11 - l

Joiio Borges da
Camará Borges Rebello' niar Tavares
1 23 - D. Isabel
irmã de
e f Feruandes Fer-
1 A- D. Apol- reira.
lonia de 15ct-
fencoint e Sá
21— Diogo Fcr-
c. c.
l
reira Privado,
Antrum de B.
12 -Manuel F.
da Silveira '
6 - Diogo Fer- 25 - D. Maria
e ainda irmã de de Mcllò.
reira de Mello, P. de Mello (ir- I ."lO — í;.'.lev:im Alvr>
1 B-D. Anna mã do n." 29, \
íír. n-*sot!(lí's.

de Hettencouri < .•.! - O. M.lH:i r.i


abaixo). i-iiOfo.
f
c. c.
Nicolau l'crci- — Podro
ra de Sonsa c 26 — Cypriano
l

1
.'•,'

lo.
(1.1 Poií-

Medeiros /,. da Ponte de .".l-n.


...l-u. Uiiíos Al
13 -D.
i
Barba- Uinsu.
Mello. r

ra da Ponte.
i .'.I — Pr<lro de P.nl-

3 -D.
Barbara It.
27 — D. Maria 1 v.l.
.'»."> — n, Frflncisi'.-!
I
Tavares Silva. Ferreira. l'"orrcir.l.

l .Ví--Antoiiio T.iv.i-
28 — Gonçalo
!•> - i iiUHÍMMI Tavares Silva. J
."iZ- n, Kraiifa d;:

Tavares Silva. f Silva.


'
29 —
D. Isabel
1 C. Pacheco (ir-
/ TíS— Kstpvíiiii Alv-
f inã do n." 25 \ (to 1ÍOK>ÍU|OS.
7 —
D. Maria , acinr.a). { Ml- r>. M:iii;i I»;i

Pacheco da Sil-
va.
15 -D. Catha-
rina d'Araiijo.
REVISTA MICHAELENSE 1117

MOTAS
N:"!:— D. Barbara de Bettencourt e Sá, N.'M6: _Ruy Gonçalvcs Homem, foi
foicasada com João Borges da Camará citado, em para dar contas dos
lb')5,
e ambos pacs de João Leito Corre:!, que legados pios do. testamento de seu avó
failcceu a f)-Vl-1787. paterno, João Alvares— o do ôlhd~(n.*'
fira irmã de 60 adeantc).
Ni"i_?— LX Apollonia de Bettencourt H-;'J7j— D. Julianna Rodrigues Corrêa
e Sá, casada com António de Brmn da falleceu na freguezia Matriz de Ponta
Silveira e ambos pães de D. Luzia Jo- Delgada, a 20-111-1 608.
Sepiui da Silveira, casada com Francis- ":_"_' ^_i— André de Bettencourt eSá foi

co d'Arriida Leite, nascido na vil!a de o herdeiro do Morgado de seu bisavô


labute, do Brazil, bispado do Rio de Gonçalo Vaz Botelho, o mogo Andri-
Janeiro, iierdeiro dos vinculoi instiíui- nlio (L. 18 § I, do nOsso estudo "Bote-
dos por seus pães e casado na Matriz Ihos"). I"0i morador na cidade do Fun-
da vilLa da l^libeira Grande, de S. Mi- chal, onde casou e d'onde sua mulher
guel, a 14-V11-1715. era natural.
Nj; B_[3. Anna de Bettencourt e Sá,
1 "j"20:-BaltIiazar Rebello era natural
era irmã das duas senhoras anteceden- do Álemtejo e foi para S. Miguel por
tes (n."-^ 1 e IA) e Casou aos lO-XlI-1708 ter sido nomeado, por carta regia de
com Nicolau Pereira de Sousa e Me- 21-1X-1595, Lealdador-mór dos pasteis
deiros, terceiros avós de Nicolau Antó- em toda a ilhi, onde foi morador na
nio Borges de Bettencourt. cidade de Ponta Delgada, na Calheta
!l-'*_2j.— Manuel de Bettencourt e Sá de Pêro de Teve. Fez testamento ap-
M capitão das companhias da guarni- provado a 23-1-1586.
io de Ponta Delgada, onde foi bapti- _0 paste! éuma crucifera que, no sé-
sado na fregu^zia Matriz a 3-VI-lu30 e culo XVI constituiu uma das grandes
onde casyu a 6-XI-1653, morando no riquezas de S. Miguel, d'onde havia
logar dos Ginetes da iiha de S. Mi- larga exportação para Inglaterra. nos- O
guel. so amigo sr. Marquez de jacome Cor-
H.;; '?
-.-Francisco de Bettencourt e Sá rêa publicou um artigo sobre o «nasíel»
era capitão de uma companhia. Casou em um dos números da '^Revista Mi-
na egreja de S. Pedro de Ponta Delga- chaelensew.
da, aos 16-XH-1623 com a n." 5-D. M" 2 ':--D. Guiomar Borges, mulher
Maria Borges Rebello. Instituiu vinculo do n." 20, acima, fez testamento a 29-
por testamento approvado a28-VI-lóôO. IX-1589.

^"3^1 V\anuel .'\ivares Homem ca- N." 24 : -Diogo Ferreira Privado era
sou em Ponta Delgada a 4-V-15Q1 e, natural do Porto e foi morador em Pon-
segundo o seu termo de casamento, foi ta Delgada, de cuja Camará Municipal
prohibido de co habitar com a mullier foi vereador mais velho c, nessa quali-
(n." 9 da arvore H) até que chegasse do dade, abriu uma devassa em 29-XI-1593;
j-unclnl a sua certidão de baptismo. foi também juiz substituto.
Falleceu em 4-V-lC)34, sendo verea- N.'^26j.-Cypriano da Ponte de Mello,
dor da Camará .Municipal de ?onta Del- casou duas vezes, tendo sido o seu se-
gada. gundo casamento com a n." 27, D. Ma-
"." 9 ^D. Maria d'Aguiarde Bettencourt' ria Ferreira, na Matriz da Villa da Ri-
era natural da ilha da Msdeira c failc- Ipeira Grande, de S. Aíiguel, em 1571,
ceu em Ponta Delgada aos 16-1I1-1Õ29. tendo sido o primieiro casamento com
lillí'!— Prancisco Rebello de Oandia D. viária Tavares.
ioi baptisado na egreja de S. Pedro de ^''_?2 -.-Manuel Alvares Homem, ca-
Ponta Delgada aos 22-V-1575 e falleceu sou duas vezes, sendo a sua primeira
ante? dos 25 annos de edade. mulher a n." 33, D. Constança Gonçal-
""1?:— .Manuel Ferreira de Mello ca- ves.
sou na Matiiz da Villa da Ribeira Gran- Fez testamento em 21-X-15S0, e era
de, da iíha de S. Miguel, a 18-11-1592- filho de João Alvares, o do olho, (n,"
1118 REVISTA MICHAELENSE

60 adeante) e de sua 2." mulher D. Bea- Ribeira Grande, dí S. Miguel, erá filHd
triz Vaz Alvares, (n." 61 adeante). de João I-ernandes de Paiva e de sua
A^^i-Francisco de Bettencourt e Sá,
!*•'' 2.° mulher D. Francisca Pires; neto pa-
(F. 86-) foi Moço Fidalgo e, tendo nas- terno de Fernão Affonso de Paiva e
cido e casado em S. Miguel, foi com de sua mulher D. Beatriz Pires Delga-
sua mulher, para a ilha da Madeira, on- do, ambos estes mencionados pelo Dr.
de falleceu em 1577. Foi el!e o herdei- Gaspar Fructuoso, nas «Saudades da
ro do grande Morgado do pae e tam- Terra-, L." I\' cap." 25.
bém do de sua mãe. N." 56:.-Antoiiio Tavares, licenciado
1" ?7j--D. Maria Cogumbreiro da em cânones e sua mulher D. Branca
Costa, cisada com o n." 36 acima, ins-
tituiu um vinculo importante, para seu
filho André (n." IS) por testamento de
18-IV-1565.
Era filha de Diogo Affonso da Costa
Cogumbreiro e de sua mulher D. Bran-
ca Roiz de Medeiros, filha de F<uy Vaz
de Medeiros e de D. Anna Gonçalves;
neta, por seu pae, de Affonso Annes da
Costa Cogumbreiro, rico e nobre, da
casa do Infante D. Henrique e natural
do Algarve, onde era morador na Ra-
pozeira.
Os seus filhos
foram para a AAadeira,
onde viveram no Caniço e, de lá, foram
para S. Miguel, indo fixar-se na Ponta
Garça.
N." 38_:. .Ruy pjas de Aguiar era natu-

ral do Funchal, na Madeira, onde ca-


sou com a
N." 39:-n) Francisca d'Abreu, já viu-
va de João de Dornellas de Saavedra.
"ili?-— António Borges de Sousa, foi
feitor da Fazenda Real na ilha de S.
Miguel e juiz da Alfandega da ilha Ter- «*»
ceira, em 1520.
(l-ig 41
Foi-lhe concedida carta de brasão
d'armas (Fig. 4) em 13-IV-1535. Vide da Silva são ambos menciona-
(n." 57),
n." 62 adeante. dos nas Saudades da Terra", L." IV
>

!íi!l^'ÍJ--Estevam Alves de Rezendes, cap." 15, dos Tavares.


foi morador nafreguezia de Nossa Se- N," 60 :..joão Alvares, do olho, pae do
nhora dos Anjos, em S. Miguel, e fi- n." 32, d'est. arv. de cost.. Manuel Al-
lho de Pedro Alves de Côrtez, natural vares Homem, era natural do contineu-
d'Obidos, cavalleiro de Sanflago e mo- te, foi armado cavalleiro em Africa c
rador na Fajã de Baixo, em S.Miguel, passou a viver na freguezia Matriz de
e de sua mulher D. Leonor Alvares de I^onta Delgada, onde fez testamento a
Benevides, filha de Affonso Alvares de 26-XI-1541, vinculando.
Benevides, Cavalleiro d'Africa e de sua Era bastante abastado, pois jtossuia
mulher I). Beatriz Amado. para mais de 90 moios de renda an-
N." 51 ...[)
Maria Pacheco era filha de nual, segundo diz o Dr. Fructuoso nas
Fernão Vaz I^acheco e de sua mulher "Saudades da Terra-' L" IV, cap."' 3."
D. Izabel Nunes Velho, pães de \). Ca- e 31."
tharina Nunes Velho (n." 9 da arvore í^ilA^j-D. Beatriz Alvares, 2." mulher
de costado ). I do n." 60, acima, era filha de Duarte
N.° 54 —Pedro
de Paiva, escrivão na Vaz e de sua mulher D. Maria Fer-
REVtS TA MICHAELENSE 1119

nandes. Duarte Vaz foi Fiscudeiro-Fi- I


ziduos e de que foi o ultimo adminis-
dalgo e fez testamento de mão coni- trador o Morgado Barbosa.
mmii coin a muliíer, a n-XII-1534, cm ^-
.93 ;— Duarte Borges de Sousa, pae
que vincularam 30 alqueires de terra, do n." 42, de cost. 11, era
d'esta arv.
que principiavam cm St." Clara, de Pon- filho de Borges, neto de Diogo
Pi^ro
ta Delgada c terminavam no lo^ar dos P)Orges e de sua mu|her D. Anna Lou-
Arrifes, n'uma tira de O varas de lar- renço de Castro 2." neto de Gonçalo
;

go e 950 varas de comprido. Duarte Borges, filho de João Rodrigo Borges


\'az, que falleceu a 7-V'-1534, era filho e de sua mulher D. Catharina Lopes e
de Pedro Vaz, denominado, ao tempo, 3.» neto de Rodrigo Annes, o cavallei-
por PcJ.ro Vaz .Marinheiro, por man- ro de Bowges, aliás, de Bruges.
dar construir naus á sua custa; este ul- Lste Rodrigo Annes batalhou em Flan-
timo era morador na praça da, então, dres e com tal valentia se portou, que
viila de Ponta Delgada, defronte da ca- ;
ficou sempre conhecido pelo Cavalleiro
deia e fez testamento a 13-\'-1534, le- do logar em que se cobriu de gloria e
gando bens á Misericórdia da referida I
d'3nde prpveiu o appellido de Borges.
villa e instituindo um vinculo, de que I
Veja-se a TAB. iX, no final do nosso
já em 1553 se tomaram contas nos Re- 1 estudo "Andrade».
REVISTA MICHAELENSE
1120

/arvore de costado III

' 16-l'edio An- \'^,Jf''^""'^'^"


10
CS do Canto \ ^.] _ r>. rr;inriscn
( .l!l SilV.l

f'rancisco houve enl


da Silva do
o An- \ Ca"itO.
.'4- Pedro 17 —hrancisca
lies do C
Janto. 1 \ Soaíes
I...l,,
xo-
lé- Pedro Al- \ ;;'; jV^;;;;;;"
•j — ij. de Liiiza
I
1
vares da Fon- y.n- n. í.i «k-
Vasconcelos da \ spca da Gamara ' o- J'' i''.iii
•'•'

Gamara. J H)— D. Andre-


1 za Mendes de .-is- (u.m;:ii" m; .ic

VaSCOnCellOS Vasroln-i.'ll..s
/ \

[(sen 1." casa-/?;-^;,^-':'--


mento)

2 —Francisco
do Canto
de
Vasconcellos.
10 -IVdro Ser-
rão (licenciado)

5 - D. Maria i

Serrão (
" mu- /

Iher). '
11-D. Catha-
1 - I). Maria rina Pereira,

do Canio da
Silveira. 24 — Francisco
'2.» mulher de Dias do Carva-
Vital de Bet- Ihiil
tencoíirtdeVas- -
12 João Dias
coneelios ('54).
do Carvalhal 2b- D. Catha- y:.W-tt.i
, SO -.1..

:()— Estevani da I
[ (moríiadtt) '
rina Alvares -..^i..!). lc
Silveira Borge
^^l .v„,.i,i

V NeltO. f
rcl»;o l'\i(;"iirti-s

'

2G — tstcvsm
Cerveira Bor-
13 - D. Maria ges
Borjíes Abarca.
,

j
27 — D. Ainia _. , ^

3 -
D. Clara / da Silveira A- h VcMiu
.Maria da Sii- barca (2
'

— I». liiiioinar
/ lior
veiía iiorties. Iher).

'
28- Domingos
l Vi.'i'';i, o Rico

1.4 -~ Chrií.to- 1
£s - Álvaro I>i: s

vam Nunes Vi-


/,^y_^ ,,,.,^,,^.^
Vioira
.•.9-1), Iri;i .\ru'i'
''"^
^
'. Dias Vieira SO d',-\zcv«>(lu

7 — 0. Barbara
;0 -Manuel de *'
""'"'i'"', ,\'
Machado Viei-
"^

Ma-
, ,

' J , ,,.«,• i
cellos
liarcel ; ,,,,>. Lui/.a ti.

I
FaiTM.dC!, (I.° ! .

Cotta de Ma- 1

V lha \
I iVi- l*oilro Colt.a il«
o.
jl - r-,
D. Mana
m ' Malha
Calhanna
u:i_i).
\ ("otia de Mallia 1 uia> vícíi-u
RtVISTA MICHAELENSE. 1121

IM

1 :— Foi a segunda mulher de Vi-


N." N." 15:— Foi mulher do n." 14.
tal de Bettencourt de Vasconcellos (n." N." 1():— Foi herdeiro universal de
3íS da resenha). seu parente Vasco Affoiíso, vigário do
N." 2 —
Foi senhor e lierdeiro da ca-
: Machico, na Madeira, e visitador dos
sa e morgado paterno e Mo^-o-Fidal«o : Açores, que com elle passou á Ilha Ter-
casou com a n." 3 e foi fiho do 1.° ca- ceira, em serviço d'El-Rei. Em 1509,
samento de seu pae. partiu da Terceira para Africa, a soc-
N.o 3 :— Foi casada com o n." 2. correr a praça de Arzilia, que então es-
N." 4 :— Foi senhor e herdeiro da ca-
sa e morgado peterno,Moço-Fidalgo e
Cavalleiro de Christo: casou a 1.* vez
com a n." 5 e casou 2." vez com D.
Apollonia Teixeira, de quem também
teve geração.
N." 5 :— F'oi a primeira mulher do n."
4, com quem casou na Sé d'Angra, a
20 de julho de 1597.
N." 6:— Foi Fidalgo da Casa Real,
por alvará de 2Q de maio de 160Q e
casado com a n." 7.
N." 7:— Foi mulher do n.° ô.
N." 8:— Era filho bastardo do n." lõ,
que o reconheceu, legitimando-o em
um dos seus testamentos e nomeando-
o herdeiro de um dos três morgados
que instituiu. Foi armado Cavalleiro em
Africa, onde combateu com tanta dis-
tincção que mereceu a recompensa de
Fidalgo Cavalleiro e a commenda de
Travassos, na ordem de Christo, por
carta regia de 7 de setembro de 1546.
Esteve no Brazil, onde ajudou o gover-
nador Thomé de Sousa a fundar a ci- ID-JtESDCZ.- 'yV^
dade da Bahia. Casou com a n." 9.
N." 9:— f-'oi mulher do n." 8 e irmã (Fig. '5)

de D. Maria de Vasconcellos da Ca-


mará, ou da Fonseca, casada com João tava cercada pelo Rei de Fêz, levando
de Bettencourt de Vasconcellos (n.» 14 um navio com gente portugueza, arma-
da resenha). do e paga á sua custa. O governador
N." 10: —
Foi licenciado c casado da praça d'Arzilla, D. Vasco, encarre-
com a gou-o de atacar o porto de Tombelallon,
N." 11 :— Foi casada com o n." 10. de que a mourama se havia assenho-
N." 12:— Foi partidário do Prior do reado, e, por se ter desempenhado d'es-
Crato, D. António, e depois de Filippe te serviço com valor e distincção, El-
li; foi Fidalgo da Casa Real e Cavallei- Rei D. João 111, por carta de 28 de ja-
ro de Christo, nasceu na Terceira, falle- neiro de 1539, registada na respectiva
ceu em Lisboa e está sepultado na egre- Chancellaria, no livro XXVII, a folhas
jade S. Paulo, d'esta cidade. Casou com 4, concedeu-Ihe o seguinte brasão:
a n." 13. '. .escudo de vermelho com um ba-
.

N.» 13:- Foi mulher do n." 12. "luarte de prata lavrado de preto e
N-'' 14:— Foi instituidor de um vin- quatro bombardas da sua côr
'<n'elle
culo na ilha Terceira, onde casou com «com o pé do escudo de pratu, com
a n," 15. «um elmo...» (Fig. 5).
1122 REVISTA MICHAELIENÇ!

Este Pedro Aiines do Canto foi Mo- juiz ordinário e vereador da Camará
ço-Fidalgo, nomeado primeiro prove- de Angra, tendo ctmio tal, assignado
dor das armadas e íortificagões na iliia uma carta que foi dirigida a Henrique
Terceira, por carta regia de 27 de ju- Hl, de França, datada de 6 de junho
llio de 1532 e prestou muitos e relevan- de 15S1, agradecendo-lhe o bom aco-
tes serviços, todos com attestados pu- lhimento que deu ao prior do Crato,
blicados no "Archivo dos Açores», do D. António, e pedindo-lhe também que
failecido, saudoco e incansável investi-
gador Dr. Ernesto do Canto, seu des-
cendente. Eez cinco testamentos appro-
vados, o 1/' em 18 d'abrilde 1540, o 2."
em 1 de junho, de 1543, em Lisboa, o
3." em 23 d'nbril de 1544, o 4/ em 15
de maio de 154Q e o 5." em 3 d'outu-
bro de 1553, estes trts últimos em An-
gra: n'estes testamentos instituiu três
importantes morgados. Nasceu em Gui-
marães e falleceu na ierceira em 155Ó,
tendo casado duas vezes, a 1." foi em
Angra aos 8 de setembio de 1510 coin
D. Joana Abarca, de qtiem teve o filho
único António Pires do Canto (n." 32
da arvoíe de costado ) o 2." casa-
1 ;

mento de Pedro Annes do Canto, n." 16


d'esta arvore, foi com D. Violante da
Silva, filha de Duarte Galvão, secreta-
rio de D. João 11, ttnbaixador em Ro-
ma, AHemanha e França e chronista-
mór do Reino e de sua 2." mulher D.
Catharina de A\eue7es e \asconcellos;
d'este 2," casamento também nasceu o
único filho João da Silya do Canto.
N." 17 :— Foi a mãe do n.^' 8, Francis-
co da Silva do Canto, que era filho do
n." 16.^ ajudasse a reconquistar o Reino de
N.» 18:— Teve carta de brasão d'armas, i^ortugal. Foi em Angra, durante muito
em 18 de julho de 1533, registada na tempo, depositário dos cofres de oiro
'

Chancellaria de D. João III, no livro de S. A., que vinham da í'ldia c da Mi-


XLV, a folhas 52 verso (Fig. 6); viveu na. Casou com a n." 25.
na Terceira, onde foi morador na
ilha N.' 25:— Casou em 1533, na Terceira,
Villa da Praia e foi o 1 marido da n."
'
com o n." 24, e falíe-ceu em 1588, em
IÇ). Angra.
N." IQ :— Foi casada duas ve^es, sendo N." 20:— Chamava-seEstevam da Cer-
o seu 1." casamento com o n." 18, e o veira Borges,ou Estevam da Cerveira
2." com Francisco de Bettencourt (n.' 12 da Costa Borgas, foi Fidalgo da Casa
da resenha). Real e Cavalleiro de Christo e casou
N." 24:— Pasáou de Guimarães, onde 2 vezes, sendo o 2." casamento com a
a sua fatnilia tinha assento no casal de n." 27.
(.Carvalhal, freguezia de St.'' Marinha da N," 27 :~Foi a mulher do n." 26.
Costa, para a ilh;i Terceira, depois de N." 28: --'linha a alciuiha de-o Rico.
1525, acompanhado de seu irmão Gon- N." 29:— Foi casada com o n." 28.
çalo Dias do Carvalh.al, que, como eile, N." 30 administrador do
:— Foi o 1."

era conhecido por— Cavalleiro— por te- morgado por sru tio mate;-
instituído
rem ambos condecorações militares. no Pedro Gonçalves d'Antona, e casou
Este Francisco Dias do Carvalhal foi com a n.>' 31.
:

REVISTA MICHAELENSF. 1123

N." 31 :— Nasceu na Terceira onde 57 A:- Pedro Alvares da Cama-


N.^j
casou com o n. 30. ' rá, pae da n." 37, instituiu o morgado
N." 32 — Residia em Cuiimarães, d'on-
. de Porto Martins, em 1499, com capei-
de era natural e descendia do iidaljio la da Ressurreição, no convento de S.
inglez John of Kent, que acompaniiou Francisco, da villa da Praia, da Ter-
o príncipe do Oaiics em favor de D. ceira, foi Fidalgo da Casa Real e casou
com a n." 37 B :

N." 37 B :— D. Catharina de Orncllas


Saavedra, mãe da n." 37, casou com o
n." 37 A, no Funchal, Madeira.

N." 37 C :— Álvaro Gonçalves Zarco,


avô paterno da n.» 37, era irmão do des-
cobridor e 1." capitão donatário do Fun-
chal, João Gonçalves Zarco e foi-lhe
concedido o brasão da (Fig. 7).
N." 37 D:— Álvaro de Ornelias, avô
materno da n." 37, foi senhor do Cani-
ço, na Madeira e Fidalgo da Casa do In-
fante D. Henrique; teve carta de bra-
são d'armas, em 1513, registada na
Chancellaria de D. Manuel, livro XI, a
folhas 43 verso, e no livro VI dos Mys-
ticos, a folhas 128. como se vè na figu-
casado
ra 8, e foi com D. Elvira Fer-
nandes Saavedra, n." 37 E.

"PECIíSS'-

(I-ig. 7)

Pedro, o Cruel, Rei de Hespanha. Ca-


sou 2 vezes, tendo sido o 1." casamen-
to com a n." 33.
N." 33 :-h"oi a 1.' mulher do n.^ 32.
N." 36:— instituiu um morgado com
capella da invocação de Santa iV\agda-
iena, na Matriz da ViJia da Praia, onde
foi ouvidor. Casou com a n." 37.
N." 37:— Foi a mulher do n," 36; co-
mo complemento da arvore damos o
seguinte

37 C— .Álvaro
0'»rn;.nlvus
Zarco
/ 37 A-1'eilro Al-
í Tart^y U.iCamaru
f

:)7 ; - O. Lui
d'Ornollas ria
Cumor.1 B-D. Cillha-; '" t>' Alvari»
/37
rina dè Ornollas l "•« Orueltas
"

f
Saavcdra i

]:>7 F.— I). i;i

f
vira ^'eriían
\ <lo9 Saavo(li'a
1124 itfeVISTA MICHACLENSE'

SCHEMA VII

I'edro Annes do Canto, n." 10 da arvore de costado III, casou com D. Joaii-
na Abarca e houve em Francisca Soares, n." 17 da arvore de costado III:

I I

António Pires do Canto Francisco da Silva do Canto


c. c. D. Catharina de Castro c. c. D. Luiza de Vasconcellos

I I

Pedro de Castro do Canto Pedro Annes do Canto,


c. c. D. Maria de Mendonça c. c. D. Maria Serrão,

Ferreira de Mellc, lilha de filha do licenciado Pedro


Estevam Ferreira de Mello e Serrão, e de sua mulher D.
de sua mulher D. Antónia de Catharina Pereira
Lima

Diogo do Canto de Castro Francisco do Canto de Vas-


c. c. D. Izabel Teixeira, filha concellos c. c. D. Clara Maria

de Gil Fernandes Teixeira da Silveira Borges, filha de


e de sua mulher I). Alaria Car- Estevam da Silveira Borges,
doso Evangelho e de sua mulher D. Barbara
Machado Vieira

Pedro do Canto de Castro D. Maria do Canto da Silveira


c. c. D. Beatriz de Medeiros c. c. Vital de Bettencourt de
Meyrelles, filhado capitão-mór Vasconcellos, filho de Vital de
André Fernandes da Fonseca Bettencourt de Vasconcellos,
e de sua mulher D. Brites e de sua 3/ mulher D. Izeu
Mevrelles Rodovalho

I I

Jeronymo do Canto e Castro D. Úrsula izabel de Betlen-


capitão-mór d'Angra c. c. court de Vasconcellos
I I

casamento nasceram, pelo menos:


r)'este

J. loa— D.
Úrsula Izabel de Castro do Canto nasceu na ilha! erceirae casou com
o Capitão Manuel Rebello Borges da Camará, de quem trataremos n'um trabalho
que temos em preparação sobre a casa "St.* Catharina».
]. lô b— D. Benedicta Paula de Castro do Canto que casou com Bernardo Homem

da Costa Noronha, de quem foi a segunda mulher, tendo os filhos seguintes


entre outros :

K 16 c-D. Antónia jacintha de Castro Noronha, casada com Jacomc


Leite Botelhode Teive, com geração.
K 16 d— D. Francisca Izabel de Noronha que segue.
REVISTA yílVcriAfeLtKsfe 1 'l 15

K 16 d— D. Francisca Izabel de Noronha, casou na égreja da ConceiçSo d'Àh


gra, a 12 d'Abril de 1750, còm Caetano Joaquim da Rocha de Sá e Camará, de-
quem houve:
L 16 — D. Benedicta Quitéria da Rocha de Sá Coutinho e Camará, senhora
e
e herdeira de toda a casa paterna, nasceu na freguezia da Sé d'Angra, e falleceú
em lS2b. Casou com José de Sousa de Menezes de Lemos e Carvalho a 20
de Setembro da 17o7, na capella do seu palácio de S. Pedro, em Angra, e teve
entre muitos outros, a filiia seguinte:
M 16 f— D. Quitéria Júlia de Menezes de Lemos e Carvalho, que nasceu a 9 de
janeiro de 1788, na freguezia de S. Pedro d'Angra, e casou com o morgado Luiz
Francisco Rebelio Borges de Castro, de cuja ascendência e descendência nos oc-
cuparemos no já referido trabalho que temos em preparação sobre a casa de "St.*
Cathariíia^.
1126 REVISTA M1CHAEI.ENSE

arvore de costado IV

Uai ves Zarco da ^ .f,;'r,". con«t«n.-»


Camará
)
'
liniji d'A. o sn.

„ , , r, • / 17— Maria Rõiz


8 -Pedro Roíz I
(solteira)
14- Henrique \
''' Gamara (fi-

'
de Bettencourt ' "'o 'econlieci-
e Si (io)
8-Qaspai de
.!•-
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«Ri
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y-D. Marg.ori-
líeltcncourt
1 „,„e,„.„.^,' ic.
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/ H, ,\J ftltt»,, l
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coiirl ^

19 - D. Guio- i -^tr'"'"
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mar de Sú ,

)
'
2 — Ruy Gon- '20- " - "• ''-'' O'
loão de \
çalves da Ca-
l Sousa
'

mara
(G 89.)

/
10- Balthazar /21 - D. Isabel
. Vaz de Sonsa Alvares

5 — D. Simôa '22 - DíMiiin-


\ de Sousa gos M
Igos,Manuel de
'Mello
11 — D. Leonor ,.

Manuel
1 -- Simão íla
Camará de Bet-
tencourt e Sá
(H. 96)
24 — Jorge Ve-
12 -Pedro \"'°
Jor-
t;e
: 6 —Jeroiiyiuo l
fiO^ floiicali) An
'.''
I
Jorge \ f25-- D. Africa *
„ ^ ,
.

Annes

/ .v„„„,„

13 - D. Anua 26 — Gonçalo \
'2-^'"''''> <i^ s,-,

Gonçalves l Annes /

!
3— D. Luiza de 27 -D. Catha-
Viveiros lina Afíonso

/28 —Sinino de
l Viveiros
'
14— Gaspar de
i Viveiros , \

7 - D. Beatriz t

i
de Viveiros
Isabel 30 - Bartliolo-
'
ha
Casta nh, imcu Rodrigues
\3l - D. Guio- l
f'2-Afi;"»»o Al'''"

/mar Alvares de ,,.,_„_ i,^,„hi a-


\ Benevides '
mado
REVISTA MICHAELENSE 1127

IMOT-JílS»

N."' 3 4 e 5, são tratados n.i re-


1 , 2, N.' 14— Gaspar de Viveiros fez mui'
senha que antecede estos arv. de cost. tas assignaturas no L." iV do Registo
N." 6—
jcronymo Jorge, filho ;M-imoge- da camará municipal de Ponta Delga-
nitn e herdeiro do vinculo inUituido por da, nos dez annos decorridos entre
seus pães. F.ra irmão de D. Beatriz Jjr- I52b e 1535.
ge, que foi cisada com (jaspar Camcl- N." 15 — i>. Isabel Castanha era irmã
lo Pereira. de Balthazar Rõiz, que morou em San-
N." 8— Pedro
Rõiz da Camará, 3." fi- ta Clara, de Ponta Delgada.
lho, natural, legitimado por El-Rci I). N." lõ— Ruy Gonçalves da Camará,
Manuel 1, em 1510. Passou com seu 3." capitão donatário de S. Miguel.
pac, da .Wadeira para S. Miguel, esta- Não fazemos aqui maiores referen-
belcjendi) se na Ribeira Grande, onde cias a esta entidade, por estar já bas-
ediiicou o convento de Jesus, nas pró- tante estudada.
prias casas em que habitava.
Fez testamento em 17-11-1541, no
N." 20— Joãd de Sousa esteve em A'
frica, no tempo de D. Manuel e lá fo'!
qual legou bens d Misericórdia de Pon-
armado cavaileiro.
ta Delgada.
Foi para a ilha de S. jWiguel com seu
10— Balthazar Vaz de Sousa falle-
N."
irmilo Gaspar Vaz de Sousa.
ceu em Porto Seguro, no Brazii.
N." 12— Pedro Jorge era Cavaileiro N." 32— João Gonçalves Zarco recc-
de Malta e foi morador em Ponta Del- nhecedor, povoador e 1." capitão dona-
gada, quando ainda era villa, além do tário da Madeii'a, proficientemente tra-

mosteiro de S. Francisco. Casou a 1." tado por historiadores e genealogistas,


vez com sua tia materna D. Anna Gon- e por nós, despretenciosamente e sem
çalves (N.° 13) e com elia fez o !." tes- atavios, no estudo por nós publicado a
tamento, em 4-1-!j25, estando fiíra da fl.' 1 da ''Revista Michaelense-», anno
villa de Ponta Delgada, por causa da 2." numero 2.

peste que então iiouve. N." 41— D. Iria de Sousa, casada no


Fez 2." testamento em 3-UÍ-152S. Continente, raas ignoramos eem quem.
N." 13— D. Anna Gonçalves, casada Segundo diz o Dr. Fructuoso, esta se-
com o n.° 12 acima, era irmã de D. A- nhora era irlandeza e dama da Rainha
frica Annes c. c. Jorge Velho. D. Leonor.
Tjf^:BCDJ^& td:b: g-e]i=l.a.càcd

PHILIPE DE BETHENCOURT
cavalleiro de I.uíz VIII, de França, Senhor de Bethencourt e de Saint Vincciít
de Rouvray; vivia em 1223 e fallcceu cm 1282.
Foi seu filho

Reygnault de Bethencourt, cavalleiro, como S(U pae e como elle. Senhor


de Bethencourt e de St. Vincent de Rouvray, vivia em 1282.
Foi seu filho único

Jcan de Bethencourt, Senhor de Bethencourt e de Saint Vincent de Rouvray


c. c
Daine Nicola, Senhora deOrainville la Teinturière, que já estava viuva em 1337.

Jean de Bethencourt, Senhor de Bethencourt, de Saint Vincent de Rouvray


c de Grainville Ia Teinturière, vivia em 1346 e morreu em Honfleur
c. c,

Anne Izabeau, filha e herdeira única do Barão de Saint .M.irtin-Ie-Gaillard.

lean de Bethencourt, barão de Sainl-Marlm-Ie-OLiillard, Sr, de Bethencourt


e de Orainville-Ia-Teinterire, nasceu na Normandia, condado d'Eu, camareiro-
mór do Duque de Borgonha
c. c.

Maric de Braquemont — filha de Reynaldo de Braquemont, Sr. de Braquemont,


de Flórenville e de Sédan, que viveu em 1360, no tempo de Carlos V, Rei de
França.

jean de Bethencourt, filho primogénito, herdou todos os (ialien de Bethencourt — filho 3." — viveu em Reynaldo de Bethencourt- filho 2.'' — casou em França 2
lítulos paternos c foi o 1.° Vice Rei e Sr. das ilhas Canárias, França, onde casou e tem geração. vezes; 1.*^ casamento com Marie de Brante, Sr." de Rovay Ner-

para onde partiu em 1402, voltando a França, onde morreu neville; S. geração: 2." casamento em Paris
em 1425 — sem geração. com
Fillippine Froyos, natural de Paris.

Maciot de Bethencourt, filho I." foi com seu lio


:'
Henrique de Bethencourt, íílho 2."-, foi com seu tio Jean e Jorge de Bethencourt, filho 3.*^, casou com Elvira
Jean para as Canárias, onde ficou depois da morte mão Maciot, para as Canárias: casou em Hcspauha, d'Avilla, em Casteila,fillia de Estevam Doming^^s d'
d'este, até que eile e seus irmãos, venderam os seus com Avilla, Sr. de Nava^^.
direitos ás ilhas Canárias, ao Infante D. Flenrique Lerída de Ouurdatame — passaram das Canárias â Madeira
- Foi cavalleiro da ordem de S. João da Malta— Só
tem filhos bastardos: com geração

VID. TABOA III NA TABOA N.o II

Maria de Bethencourt, casou na Madeira com Ruv Gon- Ga^pa^ de Bttliencouri, liiho 3.", ca;-ou em Lisboa com U. Guio- André de Bethencourt, foi para Hespanha,
çalves da Camará, 3.'^ donatário da ilha de S. Miguel —
"Pornão mar de Sá. dama do Paço, filha de João Rôiz de Sá e irniã de Fernão onde casou e teve geração.
ter filhos, instituiu Morgado que legou a seu irmão Gaspar de Sá, alc;iide-m6r do Porto e caniaicÍro-uu'ir dos Reis D Duarte e D.
de Bethencourt, na ilha de S. Miguel, nos Açores. Affonso S.*^: - como herdasse o Morgado, instituído pela irmã D. Maria
de Bettencourt, foi para S Miguel. Foi-lhe concedido braz^o d'arnias
dos Bethencourt, por D. Manuel em l-4-f50-\ sendo a esse tempo resi-
dente na ilha da Aladeira, (vem transcripto no «Archivo dos Açores"
vol. 10.'' pag. 453.)

r
João de Bctlcncoiirt e Sá, filho Henrique de Bettencourt, (ilho D. Quioniir de Sá, dama da D. Izabel de ?á, ta-rhem dama D. l^ealriz de Bettencourt, tam- D. Margarida de Bettencourt,
2.», herdeiro do morgado, por mor- l.» c. com D. Maria de Azevedo Infante D. Izabel mulher do Impe- da mesma Infante: c. com Dom Co- bem dama da mesma Infante e por 6." filha, c. com Pedro Rõiz da Ca-
tede seu irmão; casou em S Miguel filha de Antãode Oliveira de A- rador Carlos 5." -c. cora D. Pedro lona, fidalgo Castelhano. esta casada em Portugal cora o íi- mara, filho do j.i donatário da ilha
com D. Guiomar de Sampaio, [ilha zevedo m. sem o,T:ir5í< i .,,. j„ i. ir.„„ \ „„<.„,£ c^ai.
.. TniM cjer;ioãíi pm í^istelLji .
cia|po António luzacfe. _ ,1,. Q m;«..^i /* '
.

II
JORGE DE BETHENCOURT, (Da TAB. I) casou cm Castella com D. Elvira d'Avilla, filha de I

Estcvam Dommgos d'Avill3, Senlior de Navas.-Passoji de França a Hespanha


e d'ahi a conquista das ilhas Canárias, com seu lio Jean de Bcthencourt e
seus irmãos Maciot e Henrique (vide (aboa 1)
D. Elvira d'Avilla, era irmã de Gil Gonçalves d'Avina, senhorde
Serpedosa.

João Sanches de Bethencourt, senhor de S. Bertolanies e


de Naveredonda,
casou com D. Maria Vaz de Vadil^

Antão Gonçalves d Avilla, filho 1.°, veio a Portugal no tempo


das commu-
nidades c entrando pela villa de Almeida, ahi foi recebido D. Maria de Bethencourt, filha 2."
por Atfonso Gonçal-
ves, de Antnna creado da Infante Dona Beatriz c casou em Castella
casado com D. Antojiia Gon-
çalves Uama do Paço, ficando desde cnião e lá houve geração '
tão amigos, que indo o Antona pa-
ra a Madeira, foi com elle Antão, casando
com uma sua filha, de nome D. Ignez
Gonçalves Antona, que foi pelo pae dotada com parte das
terras que lhe haviam
siclo doadas.

Belchior Gonçalves d'Avilla João d'Avilla de Bettencourt D. Filippa Gonçalves d'.Avilla D. Joanna Gonçalves dAvil-
filho1.»— casou na ilha Gracio- filho 2,''-casou com D. Maria D. Catharina Gonçalves d'A-
sa com D. fgncz Gomes Frei
filha3.»-casou cora João Vaz la, filha 4.» — c. com João Gon- °°"í=,'^" ''AviIla, D. Guiomar Gonçalves d'A-
Paes e houve: Nogueira, natural de Figueiró
villa, 5.» filha, c. com .Martim h .. filha
0." flltl com Antão Fernan-
c.
re, de Gomes Lourenço
filha çalves Machado, filho de Gon- Gomes da Abelheira. villa, 7.» filha,
casou com Fraii.
dos Vinhos, que, indo i ilha çalo Goines da Fonseca, e de des Leal, morador nas Fontai- cisco Alva es D?n'z
de Sieuve e de D, Beatriz Var
Freire.
Graciosa, lá casou e fi.xou resi- D. Maria Gomes d'.Andrade.
dência.
Clij-islo 1>. Isabel 11. Igiieí C. G.
I

vão a'Avil C. G. C. G.
C. G.
lu do Boi
(r.Vviíla lio
ilotoiíoourt
'l'/\vilíi
lloteii i-ourt
.le
CG.
1 o ji lí oiirl !. o. m.-,. 0. ooin Mn-
nuol Pjiiin
(lul'aiilat':i.
Uieus
i o 10
(I'A-
(j II e r,
Vid. tab. Vm
ooin neru- ooiu geru

Antro Gonçalves d'AviI- Belchior Gonçalves d'A-


1." filiio- morreu sem Fernão d' Avilla, ffilho3.") D. Fillipa
la,
yilla, (filho 2."j-Casnu na Gonçalves d' D. Catharina Gonçalves
geração. casou com D.. Avilla, (filha
D. Ignez Gonçalves d'A- D. Alaria d'Avilla de
ilha Graciosa com D. Guio 4.»)— c. com d' Avilla, (filhas.") c. com villn D. Franci.sca d'Avilia de
filha de António Vaz Ti- Damião Dias I^icanço.
lfiIha6.'';_cafou com Bettencourt, ífiiha 7.»)-c.
mar da Cunha. giieiras.
Simão Fern::ndes Quadro.-;, Guilherme da Bettencourt, (filha 8.'')-e.
moradores na
Silveira, na- com Jorge de Lemos, o ve- oom João Gomes de
ilha de S. tural de S. Jorge. Le-
C. O. lho.
Jorge. Sem geração mos.
Sem geração CO.
i

Simão da Cunha Christovam da D. Cecília Belchior


d' Avilla (filho ].«)
Cunha Alanuel d'Avilla ^filho, Gaspar Gonçalves d'A-
d'Avilla. da Cuniia
— casou na ilha rniho 2.-)-c. com com
d* d'Avilla 1.°)— c. com D. Leonor de
J^lla, (filho 2.0)- c. com
D. Maria dAvilla, (íilhi
Graciosa com D.
.Avilla, c. da Cu- Miranda, filha de Amador 3.»)— casou com Gonçalo Bartholomeu d'Avina de
D. Catharina da Álvaro Bar-
Maria de Freitas, nha, Dias. Fernandes de Mendonça. Bettencourt,
Veiga de Espíno- boza de .Men- filha de Francisco Gonçal- c. com Dona
filha de João de morreu Margarida d'01iveira
la, de .Ma-
filha donça^ ves e de D. Maria Gonçal-
Freitas de Alen- noel Piz
de Fi- ves. .

donça e de D. gnsiredoe de Pau-


Violante da Fon- la de Espínola.
seca Barboza. C. G. S. G. C. O. Sem geração conhecida.
C. O.

rz
Vrd. Tit. Pereira § 2."
n." 7 da "Nnbiliarchia da
ilhi Terceira", do Dr. t-
duardo de Campos de Cas-
tro de Azevedo Soares(Car-
cavellos).

Ill
MACIOT DE BETTENCOURT, (Da TAB.l)
de b. João de
de Reynaldo de Bettencourt, cavalieiío na ordem
' Malta.
filho 1

Não teve filhos legítimos, mas só bastardos,


como segue:

João de Bettencourt— o velho da Ribeira Brava— c. com D.


D. Rodrigo de Bettencourt de quem se não conhece a des- Barbara Gomes Ferreira, filh." de João Gomes, o Trovador, e
cindencia, mai que, segundo diz o genealogista D. Diogo Lo-
de sua mulher D. Guiomar Ferreira filha de Gonçalo Ayres
bo, ficou nas ilhas Canárias.
Ferreira.

Francisco de Bettencourt Henrique de Bettencourt


Pedro de Bettencourt, f."
2." c. ."* com D. Joan- lilho 3.".
D. Maria de Frei-
'.
f.^
I.», c. c.
tas, fillia de João de Frei-
na de Vascoucellos, f." de
tas, vedor da fazenda na l?uy Mi,! de Vasconccllos,
ilha da Madeira, e de sua dos da Ilha, e de sua mu-
mulher D. Guiomar de lher U. Izabel Corrêa; c.
2." c. D. .^nd^ezaM. de V.
Lordello.
ji viuva de Hedru Alves da
F. da Camará, de quem
não iiouve getaç;1o e filha
de Sebasti.lo \'az da Costa
e de D. Iria .M. de VasC".

João de Betten- D. Ouicmar dt


court de Freitas, Freitas, c. c. Mm-
c. c. D. Htlena de do d'Oinell2S de
Vasconccllos, filha Moura. <l>

de António Wh
de V'asconcellos e
de sua muihir D. C. G.
Filippa de Moraes.
vjn.
TAB.
VI
wr
^Mt^
Francisca de Bettencourt e Sá ca-
na ilha de S. Miguel cim D. Maria
n;
Rliy de
noticia
Sá Bettencourt sem mais loão de Bettencourt e Sá
sem geração— filho 3/'
cleriíío-
I

Simão de Bettencourt e Sá, filho


primogénito;- casou em S. Miguel com
D. Margarida, ou D.
Bettencourt, casou
Guiomar de
com Gaspar do Rego
VID. TABOA IV

Costa Cogiimbrciro, filha de Diogo D. Margarida Gago, filha de Uiiz Gago, C. G.


ATfonso da Costa Cogunibreiro da mesma ilii.i.

André de [Jettencoiirt de Sá. casou Vários filhos e filhas religiosos I

Miguel com D. izabel dõrnellas António de Bettencourt e Sá, filho


em S. —sem geração—
í;lha de Ruy Dias de Aguiar e de D.
1." c.com D. [-"ilippa Pacheco, já viu-
va de Marcos f-ernandcs)
hrancisca de Abreu d'Ornellas filha de Pedro
Iachcco, da ilha de S. Miguel

Frandsco de Arruda de João de Beltencoiirt, clé- D. Maria de Bettencout, Gaspar de Bettencourt de D. Maria Pacheco de
I


Si, filho 1."— Sem geração — rigo— Sem geração— c. 1." com Francisco de Betten- morte de seus
Sá, filho 3.°, por Bettencourt, filha
D. Brites de Sá, de quem
D. Guiomar Nunes sem
l.«; c. com se no trabalho
falia «An- mais noticia.
court de Sá: c. 2." c. Manuel irmãos, herdou o morgado de Simão Lopes d' Andrade, fidal- drades, de S. .Miguel», n.» 17.
Alvares Homem. "Agua de Mel" e outros. go do Porto (irmão de Manuel
Com geração. Casou ria Madeira com D. d'Andrade)
Guiomar de Moura, filha de
João de Ornellas de Moura e
VID. TABOA IX de D. Guiomar do Canto.

Uma filha cujo nome se ignora l'ma filha, que foi freira Francisco de Bettencourt de D. joanna de Sá, batisada em
-foi freira Jia ilha da Madeira ilha da Madeira, mas CUJO nome D. Beatriz de Sá Bettencourt casada
Sá casado com D. Maria Pacheco 23-6-1601 cas. c. Valentim da Ca- I.» com
SC ignora de SampayiK entre outros houve Manuel d'Andrade, irmão de seu pae casada 2 »
mará e Sá de Bettencourt :

com Francisco de Souza Furtado, de ouem


houve

D. Victoria de Bettencourt foi D. Maria da Camará e Sá, pri- Francis-


a 2.» mulher do cap. Frc." Pereira meira mulher do capitão Manuel p. Felícia de Bettencourt e Sá, numero 17
do Amaral, fali. em 17-5-1653 de 'Andrades, da ilha de S. .Migueln,
Rebello do Canto, ou Furtado de co de casada
C. O. (Pereira)
com o capitão e n.orgado Jacintho d'Andrade
Mendonça e ho';ve' Sá Albuquerque, n.° 8, do referido trabalho, onde
c descripta toda a sua
descendência.
S. O.
CO.

D. Marianna da Camará que


casou com o capitão Alanuel Rapo-
so Bicudo e houve:

Manuel Raposo da Camará, ca-


pitão,casado com D. Maria Leonor
da Camará e Medeiros, filha de
Gaspar de Medeiros da Camará e
de sua mulher D. Anna Botelho
de
Gusmio —

Manuel Raposo da Camará Bi-


cudo casado com D. Marimna Má-
xima Leite Botelho d'Arruda Tava-
res Taveira e Brum da
Silveira e
Sa: tiveram a filha única

p. Mana Leonor da Camará e


Medeiros ). mulher do morgado
José Jacintho d'Andrade Albuquer-
que de Bettencourt.
Com geração, como se vê no
estudo "Andrades, da ilha de
S. Mi-
guel.»
CG.
IV
D. MARGARIDA DE BETTENCOURT (á-^ TAB. I), õ." filha de Gaspar de Bettencourt e de D. Guioi.,r de Sá,
HENRIQUE DE BETTENCOURT (Da TAB. Ill), filho 4.", c. c. D. Anna Cabral en. I7-6-I593
Pedro Rõiz da Caimra filho legitimado, em 1510, de Ruy Gonçalves Zarco da Camará, com quem pastou da illia
^^'' " "'""'• '"''° '""'"="' "^ ^''^"'" ^"""^ ^"' •""''^ ='" "^^' 1"^ ^«^^P'»" I doou ao
™nve,Me]etns '
João de Bettencourt de Henrique de Bettencourt D. Flelena de Bettencourt,
Freitas, f." l.o, viveu no filho 2." filha 3.° c.
c. António de
Campanário, c c. D. Bar- Jacques.
D. Margarida dí Sá, o. ^ ,,'^"""•1"^ de Bcltenconrl e Sá 4." filho' morador na Ribeira Grande, onde c. c S.G.
bara Telles filha de Diogo
c. Christovam Dias, insti- ^""™, d« Sousa, fallecida cm 5-1 1-1537 e filha de tSalthazar Vaz de Sousa c de D;
Y' Luiz Botelho e de D. Ma-
tiiidora de um viuculo Leonor Manuel.
ria Telles de Menezes.

S. O Henrique de Bettencourt, 2 senhoras que morreram


'" '•"
solteiras.
Gonçalves da Camará, filho 2.", natural da Ribeira Grande, c. c.
Riiy
O. Luiza de Viveiros, filha do Morgado Jeronynio Jorge c de D. Beatriz de
Viveiros

Simão da Camará de Bettencourt D. ,\laria de Beltencoiirl n. Catlniina de Abreu, i.' D. Isabel de Ctltenc(nirt
e Sá, capitão do Castcllo de S. Kilippc, na'c cm
li79 e fal. em Ponta Díljada Potelho, filha 1,", c. com Pedro de Bcllen-
2.', c. c.
a 14-2-1634; foi o I." adminÍ5'rad?r do vinculo inslilnido e .Menezes, t." 3.'', c. c. í^iiy
por sua tia D. .viargariJa de Sá. Gonçalo de Freitas de Bet- coiirtde Freitas. Míz de VasconccUos, f " 5
tencourt.
• c. c. de João de Bett. de Freitas
p. Cecília líainalho de Queiroz, fal. em 6-9-1U47 e filha de Francisco Ramalho de e de D. Flelena de Vascl "'
Queiroz c de D. Leonor Dias Nctto.
VID. TAB. X. VID. lAB. Vil). TAB. Ul

Manuel da Camará e Sá, Valentim da Camará e Sá Rodrigo D. Josnna da D. .Maria da Ca-


filho 1." administrador do filho 2.", c.
c. D. Joaima da Camará (Gamara e Sá c.
vinculo, sargenlo-mòr, ba-
mará e Sá, c. em
cieSá na Matriz de Ponta e Sá cm 1642 c. Jo.lo 15-12-1010 c. An-
pt. a lfe-2-1607 Delgada a 12-9-1630 Pimentel Pa- tónio Borges da
c. c. checo. Costa
D. Maria Coutinho, filha
João de Frias Pjnientel e C. O. CG. CG.
de D- Britei Pereira. VI

D. Margírida da Cama-
JOÃO DE BETTENCOURT DE VASCONCELLOS (Da TAB. Ill) c. c. D. Maria da
D. .Maria da Camará e
rá, fal. em 1633. Sá, c. em 1660 e capt. jMa-
Camará filhade Pedro Alvares da Fonseca da Camará e lierd. de sua ma-
c. c. nnel do Canto
Rebello drasta D. Andreza M. de Vascoiicellos, pela qual herdou o Morgado dos Fon-
capL João de Sousa Car- Furtado de Alendonça scas.
reiro em 19-I-1Ú63
Pedro Alvares da Fonseca da Camará era filho de Álvaro Lopes da Fonseca e de D.
CG. CG. Luiza de Ornellas, filha de Pedro Alvares da Camará e de D. Catharina de
casa de N.» S.'' da Saúde. Dornellas de Saavedra.

Vital de Bettencourt de Fiancisco de Bettencourt D. Joanna de Bettencourt


Vasconcellos, o Velho, de Vasconcellos, Padre de Vasconcellos, c. c.
fid. -cavai, e cavai de lesuita. Jor.ge de Bettencourt,
Xpto, cas. 4 vezes. 1." de S. Jorge, filho de
cas. c. D. Maria da Sil- Jorge de Lemos.
veira Barges, 2." c. D.
Igi!ez Ferreira de Mel-
lo; 3." c. D. Izeu Rodo-
Francisco de Vasconcel- Jorge de Lemos Betten-
valho e 4.' c. D. Águe-
los, c. c. n. Maria de court
da de Freitas de Oiia-
Mello, filha de Pedro
dros.
C.
Corrêa de Mello. S. O.
Cj.

Casa de N.* S." da Saúde


Lv Joanna de Bettencourt
c. c. seu tio João de
Bettencourt de Vascon-
cellos.
VII

L L BETTENCOURT^v(Da TAB. m. fid., f.« 3.» do Velho Ida Ribeira Brava, c c.


ncNKivuc DE
HENRIQUE DL-i iLiN Ill)
de Ruy Miz de Vasconcelios e de
^^^^^^ ^^ vasconcelios f.*

D. Isabel Corrêa

João de Bettencourt de Vasconcel- D. Catharina de Bettencourt, c. c.


Mendes de Vascortcellos, Francisco de Bettencourt c. c. D.
António
ios, f.° 3.", por alcunha o Leitão, Francisco do Canto, o Velho
moço-fid. c. c. D. Filippa de Mo- Marianna Botelho Ferreira, filha
D. Guiomar Ferreira, f.' de
raes, f."de Fernão de Moraes c de João Gomes, o Trovador. c. c.
Francisco Leitão e de D. Ignez (?)
de- D. Filippa Casco
Ferreira

D. Helena de Vasconcelios, c. c. Francisco de Bettencourt, c. c. D. D. Guiomar de Vasconcelios D. Helena de Vasconcelios Ferreira,


Isabel de Teive, filha de Diogo de casadacom Atartim Gon- António d' Andrade e Silva,
João de Bettencourt de Freitas, f." c. c.

de Pedro de Bettencourt e de D Teive e foram os Iiistifuidores do çalves d'Andrade f.°de Martim Gonçalves d'Andra-
Maria de Freitas morgado da Ribeira Brava de e de D. Maria Brito.
C^_0._
S. G. (?)
(VID. TAB. Ill)

D. Isabel de Bettencourt D. Ignez de M." Ant.' Marg.'


loão de Bettencourt de ei- 'I Dio.go de Bettenconrt de Tei- Henrique de Bettencourt, de D. Guiomar de Teive, c. c.

ve, cónego em Lx.' Teive, General do mar de Nicolau de Barros. de Teive, c. c. Francisco Al- Bett. c. c.
ve, c. c. sua prima D. An-
Malabar e estando na ín- vares de Athouguia. Ambrozio Freiras
na de Bettencourt de Brito
dia, foi chamado para fa-
zer parte da expedição a
Pestana
CG. S. O.
S. O. S. O. Alcacer-Kibir, mas perdeu- S. G. S. O.
se o navio em que regres-
sava.
S. G.
VIII
Martini Atfonso Kcanço, natural do Algarve.
(DaTAB. II) c. c.
D. Margarida Corria de Mello, dos Corrêas de Farelães

Diogo Affonso Picanço, creado do Infante D. Fernando


e. c.

D. Maria Affonso de Medeiros

D. Filippa Gonçalves d'Avilla, f.* 3.' de AntSo Gonçalves d'Avilla. Bartholomeu Dias Picanço, natural do Fayal e foi para a Graciosa
c. c. c. c.
João Vaz Nogueira, natural de Figueiró de Vinhos D. Margarida Affonso de Lira

Antão Vaz d'Avilla de Bettencourt D. Maria Corrêa, natural d& Graciosa


c. c. c. c.

D. Violante da Fonseca Pacheco João Affonso Viegas, natural de Barreiros

D. Ignez d'Avilla de Bettencourt Licenciado João Gonçalves Corrêa, Snr. t- herd. da casa pat., genealo-
foi 2.* mulher de gista, licenciado em Cânones

Licenciado António Corrêa da Fonseca e Avilla


,^ „ c. c.
D. Branca Vieira Machado

Francisco de Bettencourt Corrêa e Avilla, Fidalgo, procurador ás C6r-


tes, por Angra, em 1642

c. c.
D, Barbara de Vargas

D. Violante de Bettencourt Corrêa e Avilla, ou D. Violante de Braça-


monte
1.' mulher de
Vital de Bettencourt de Vasconcellos.
IX X
OONÇALO I)K hRtnASDE BETTENCOURT, (Da TAU. III) 1," i.',
c. c.D. Consfcnça Piíiiciilel. filha de Uas-
pnr Pimiíiilel Vasco e de D. Violante Ribeiro
da Fonseca.
D. MARIA DE BETTENCOURT, (Da TAB. D

c. 1.' c.

Francisco de Bettencourt e Sá o.^o de Freitas de Gonçalo de Frei- D. Maria Pimen- D. Liiiza de Frei-
Bettencoiirt, cléri- tasde Bettencourt, te!, f.» õ.», moneu Us.
go e cónego na f." 4.", c. c. D. moça.
Sé do Funciíal. Maria de Betleií-
Manuel Alvares Homem, vereador em P. Delgada em 1634 e filho de conrt, filha de JoJo
Ruy Ooníalves Homem, fallecido em 1021 c. c. D. Julianna Ro- de B. de Freitas, o
drigues Corrêa. do Campanário, e
S. O. de D. Barbara s. a S. O.
lelles. (TAB. V)
VID. TAB.V.

Francisco de Bettencourt e Sá, filho do 2.° casamento de sua mãe, vin-


culou em 1600 e casou e.:i 1623 c. D. Maria Borges Rebello, fi- Pedro de Belicn-
Guio- Gonçalo de Frei- José de Freita-^ D. Constança c D. D. Antónia de
lha de Francisco Rebello de Oandia e de sua mulher D. tas de Bettencourt Bettencouit, cone- court e Freitas, Maria, freiras em Vasconcellos, c. c.
mar Tavares Silva. c. c. D. Maria B. go da Sé do Fnn- lai. cm 11-7-1700, Santa Clara, do Matheus da Ca-
Botelho. chal. c. c. D. Isabel de Funchal. inara Bettencourt
Vasconcellos, f.» e q. fal. antes do
C. Q. S. U. de D. Joanna de S. G. marido, em 1705.
Manuel de Bettencourt e Sá, capitão, bpt. em 1030, morador nos Gi- Vasconcellos.

netes e

c. em IÓ63
D. Fillippa de Bettencourt c. c. losé de Eigiieiróa, filho de Pe-
de Mello de sua dro Andrade Berenger c de Isabel de Castro.
D. Barbara Tavares Silvt, filha de Diogo Ferreira e
C. O.
mulher D. Maria Pacheco da Silva.

D. Barbara de Bettencourt e Sá D. ApoJIonia de Bettencourt e Sá D. Anna de Bettencourt


•-: . c. c. c. c.
c. c.

João Borges é». Camará António de Bfum da Silveira Nicolau Pereira de Sousa Medeiros
c- g.

(casas de Santa Catharina e de N. S. da Saúde). D. Luzia josepha da Silveira Sargento-mór António Borges de Bettencourt, Governa-
c. c. dor de S. Miguel '

Francisco d'Arruda Leite c. c.


cg. D. Marianna Jacintha de Sampayo, filha de Manuel de
Sampayo Arruda e de D. Brizida de Bettencourt

(casas de Santa Catharina e de N.' S.* da Saúde)

Nicolau António de Sousa Pereira e Medeiros de Betten-


court
c. c.
D. Maria do Carmo Medeiros.

António Borges de Bettencourt, pae de Nicolau António


Borges de Bettencourt.
%Evisrr,A MICHAELENSE 1135

O PADRE JOAOUIWI SILVESTRE SERRÃO


E A SEMANA SANTA

NTio será exaogero affirmar-se que as honras da Semana Santa na Ilha cahem
ao F."Joaqnim Silvestre Serrão que viveu em Ponta Delgada 3() annos da sua car-
reira. Quasi toda a musica das .\\atinas da quarta, quinta, sexta e sabbado é ori-
ginal do velho organista da Matriz que morreu paralytico na sua casa da rua Nova
com quasi 77 annos de edade. E, se n'alguma terra por onde passou o génio musical
de meiados do século passado, existe uma eschola sua, é em Ponta Delgada, onde
os irmãos B.irbosas, o P. Francisco Horta, ignacio Augusto Cabral, P." Velozo, P/
'

Jacintho da Ponte desenvolveram as suas aptidões no convivio do mestre freire


de Palmella, da Ordem de Santiago da Espada, os quaes por seu turno deixaram
os discípulos dMioje que executam nas parochias da cidade e dos conceliios ruraes
as celebres composições sacras tão estimadas e apreciadas.
O P.' Jacintho da Ponte, que falleceu prior da Matriz e que substituiu o com-
positor paralytico nos últimos sete annos da sua vida nas suas funcções d'organista
d'aquella egreja, muitas vezes, á tarde, na sua casa da rua de SanfAnna, onde
morava ultimamente, com a janeila aberta se sentava ao pequeno melodio e tocava
trechos das composições do velho mestre. Elle ás vezes tinha a sua lagrima a bailar-
Ihe no olho, saudoso, o pobre e velho prior, no emtanto a composição que tocava
era bem viva e alegre na melodia e contrastava
inteiramente com os seus sentimentos Íntimos.
Nas passagens mais tétricas da vida de
Christo, o motivo plangente, o recitativo, o ex-
positi\o, era profusamente rodeado da mais
viva e animada liarmonia. Serrão dizia bem
claramente, talvez peia primeira vez na musi-
ca, que em volta das scenas bem lastimosas
que SC deram n'aquella cidade de Jerusalém
no anno de 38 da era de Cezar, a grande mas-
sa da população rejubilava nos seus lares e
nas festas publicas porque nada tinha de facto
ou deveria ter com o homem que pregava
moral e operava milagres tão desinteressada-
mente; os campos revestiam-se de hervas e
de flores, os rebanhos e as manadas pastavam
pelos arredores, e nas hordas romanas a ale-
gria dos occupantes do território conquistado
era bem natural e legitima. Christo pregando
a união e a fraternidade, vencido pelas corren-
tes impetuosas dos interesses justos das col-
apenas implantava doutrinas que
lectividades,
impregnariam o espirito das massas e que
mais tarde se generalisariam em todas as so-
ciedades e em todos os povos do occidente. E
é cnherente o Padre Serrão na sua concepção
O r Joaquim Silvestre Senão
'^

niusical e na interpretração dos acontecimen-


tos da epocha porque de facto Christo não deveria trazer com os conselhos que
dava nem com a moral que exprimia, tristeza ao meio que o escutava.
Por isso, a sua musica sacra, aquella que foi composta em louvor ou cm me-
moria dos santos, descreve o marivrologio d'elles n'um recitativo breve e sum-
1136 REVISTA Mi CHAELENSE

mario, entoando a--, harftibnícas composições, uns hymnos ás suas intenções, ávida
e ao meio ambiente em que elles viviam. As scenas pungentes de que elles fo-
ram victimas. pequenos nadas do mundo moral e cliristão, dizem que a perversidade
entristecia com os seus actos o gozo da liberdade dos povos e os direitos á pro-
cura da felicidade; Serrão não os escondeu e fei'iu as notas dolentes na resonan-
cia Iiarmonica da symphonia da vida quotidiana que é o lar, o trabalho, as lidas
publicas, os faustos, as riquezas. E talvez um dos grandes valores da sua musica
seja, entre todas as diificuidades e habilidades do contraponto, essa intensão pre-
dominante da representação da vida lembrando as doçuras da existência e ins-

pirando-a d'essa seiva nutritiva e vivificadora que é a alegria e a virtude os ele-
mentos mais fortes do bem social.
A cadencia d'essa musica é tão desprendida do canto-chão e das normas dos
velhos ritos da egreja que já a tenho ouvido comparar á musica de Verdi e de
Rossini. Ha um pouco de verdade n'esta apreciação e aquelle que se não com-
penetrar. bem da musica de Serrão e não lhe procurar as intenções musicaes dei-
xar-se-ha envolver por. essa generalisação. Não admira que haja muito profano
na eschola de Serrão como rrdeante se verá: a musica sacra decahiu com a extinc-
ção do Seminário í^alriarchai e a passagem da Corte para o Brazil, com a aber-
tura da eschoía de canto e conservatório de musica, com os successos na opera
de Miro e Marcos Portugal, e com os últimos 50 annos de vida lyrica nas operas
de Lisboa, que D. José e o povo da Capital apreciavam de preferencia á musicada
egreja. Se os grandes talentos assumem a missão de levantar a arte, dar-lhe uiua
feição, leval-a ao í;;osto da sociedade e formar uma eschola; não é menos uma
verdade difficilmcnte alterada, que as massas influem no estro e no temperamen-
to geral do individuo. Por isso não é d'extranhar a influencia '^e rhythmos e de
harmonias profanas na musica sacra de Serrão. D'ahi também o seu valor parti-
cular, a sua originalidade, n sua belleza própria.
Antes porem de entrar na vida de Serrão o que seiá o assumpto principal
d'este artigo, será bom, já que falíamos nas suas matinas célebres da Semana Santa,
dizer alguma coisa do que são essas matinas nos officios divinos da egreja.
O officio comprehende 7 partes entre Matinas, Laudes, as 4 horas de Pri-
mas, Tercia, Sexta e Nóa, Vésperas e Completas, e são de rito duplex ou semidu-
plex. As matinas da Semana Santa, que são officios de ritos duplex e que se re-
sam em nove lições e não são coinpreliendidas nas festividades entre as oitavas
da Paschoa e de I^entecostes resadas no officio de tiez lições e nas dos ritos sin-
gelos, começam pelas resas do est>'!o: Padre Nosso, Ave Maria, Credo, seguindo-se
o invitalorio e o psalmo, venite cxultemus, a seguir o hymno na quarta-feira e logo
depois o primeiro nocturno dos trez que os compõem formado por trez psalmos
e trez antiphonas, depois um versículo, um pater, uma absolvição, trez lições pre-
cedidas cada uma de trez responsorios. Findas as nove lições, seguidas dos nove
responsorios, começam-se as Laudes com 4 psalmos, e cântico com 5 antiphonas.
Foram para esses psalmos e antiphonas miserere mei Deus, Dominus regna-
vit, jubilate. Deus Deus meus ad té de luce vigilo. Deus miserere nostri,' laudate
Dominum de coelis, Haec dies, etc, etc, etc, que Serrão compoz esses lindíssimos
trechos descriptivos. Tocamos de leve na influencia que o meio musical de Lisboa
deveria ter tido em Serrão e vamos entrar agora na vida de Serrão para explicar-
mos as suas tendências profanas.
Um verdadeiro musico d'alma nunca pode ser um sincero ministro da egreja.
Não porque o contacto com os misteres divinos o não approxime dos preceitos
ecclesiasticos e portanto não o tornem assíduo observante dos mais puros c sagra-
dos costumes da egreja, mas porque a dedicação pela arte o absorve na arte e
pouco lhe deixa para cuidar do officio que lhe não pertence e no qual elle não
tem respon-abilidade alguma.
Mas Serrão poderia scr um apaí.xonado do rito musical di egreja e não era.
Não era porque a sua educação superior da musica fcz-se no maio profano sob
REVISTA MICHAELENSE 113t

a direcção deurncoiitrapontista que eraaomesmo tempo um tocador d'instrumentos


de corda, e porque a sua natural tendência e gosto inclinavam-se para a descri-
pção das scenas vividas, conliecidas, positivas; aquelias que poderiam offerecer
inspiração directa pelos ruidos que produzem, pela vividez ou scintillação ou ani-
mação da sua passagem ou evolução, e que está na presença de toda a gente e
por isso ao alcance da apreciação de todos.
As circumstancias levaram-no aos instrumentos sacros e portanto á musica
sacra, os estudos complementares fi7eram-se entre compositores sacros, porem a
sua musica foi profanisada e é talvez d'ahi que vem o sabor das suas composi-
ções, a particularidade da sua harmonia fugida do classissismo da egreja.
tintremos na explicação das tendências musicaes e influencia do meio que
formaram o caracter de Serrão.
A delicadeza das composições, a graça, a elevação assemelham-se ás melhores
peças doscompositores allemães de Bach e liaydn que os seus primeiros mestres em
Setúbal, o mestre de capella, o P." José Júlio d'Almeida, e Athanasio José da lonseca,
musico dinstrumentos de corda, possuíam no reportório escholastico; depois vem
o contacto com os grandes compositores do tempo, alguns dos quaes foram seus
professores em Lisboa, a musica c^a epocha ea pessoal preoccupação da originali-
dade que o notabilisaram como innovador.
As escholas de musica portu-
guezas do fim do século XVIII
estavam principiando a decahir
com a permanência da corte no
Rio de Janeiro. Desde o reinado
de D. -João V que a còrtc exercia
a mais benéfica influencia no gos-
to pela musica. D. Marianna Vi-
ctoria era uma eximia artista to-
cando e cantando com extrema
liabilidade; D. José trouxe a Por-
tugal artistas e I). João V refor-
mou a egreja e mandou vir d'I-
talia artistas celebres, composi-
tores, que chegaram a formar uma
eschola de 200 cantores, como Da-
vid Perez, e sustentou nada me-
nos de 4 theatrosd'opera lyrica, o
da Ajuda, o de Queluz, o de
Moiírirc de Palinclhi
Salvaterra e a opera Italiana do
Tejo onde os mais illustres cnnlores do tempo se fizeram ouvir como Elisi, Caf-
farelli, iWanzuali, CJiziclIo, \'eroli, Balbi, Luciani etc; e scenographos e machinistas
vieram a Lisboa pintar scenarios c pôr peças em execução. ,V\ilhões de cruzados
foram pelo Marquez de Pombal postos ao serviço do theatro lyrico e da musica.
D. João VI herdou uma triste situação reinante pois que a loucura beate-
ria de D. Maria I compromettia as menores manifestações d'actividade artística
reflectindo-se na vida social da nação. Marcos Portugal, deixando as regalias que lhe
offerecia o Rei em Lisboa para ir compor e executar as suas peças na Itália é
bem uma prova d'Í3so Portugal por fim fixou residência no Rio fundando escho-
;

las como mestre de capella ; mas á volta de D. João VI do Brazil a musica estava
manifestamente em decadência, tendo perdido gradualmente a pompa a que a ti-
nha elevado D. João V na egreja e o brilhantismo c o deslumbramento de que
D. José a tinha circumdado no theatro. De Passo Vedro e Xavier dos Santos, os
quaes se filiavam nos methodos de João Jorge, nada ficara, de José Joaquim dos
Santos e António da Silva, discípulos de David Perez, nem um musico se notabili-
sara Manuel Paixão Ribeiro foi um modesto professor de viola que desmereceu
:
1138 ???VÍ^STA MICHAELENSE

algum tnèrito que possuia o seu professor José Maurício, auctorde vários trabalhos
de nomeada e impulsionador da musica sacra. Miro. que apprendeu com Domin-
gos Bomtempo, só depois de 1830 se evidenciou dedicando-se a musica íyrica e
opera como Marcos Portugal mas o seu labor não fez carreira nem deixou disci-
pulos que levantassem a arte do mestre. Temos pois Leal A\oreira com quem An-
tónio José Soares apprendeu e a escliola de Baldi na qual se filiou o mesmo An-
tónio José Soares depois e Frei José de Santa Rita da Silva, a qual escliola se
desenvolvia com Francisco .Xavier Migone, Miro, Joaquim Casimiro, João Fradesso
Rello e Ricardo Porphirio da Fonseca.

Foi n'essa eschola de Baldi que Serrão se aperfeiçoou recebendo grande in-
fluencia dos seus processos e da inspiração dos mestres, não só d?ndo lições com
elles como frequentando-os na intimidada e formando o seu caracter musical na
sua convivência. A musica sacra que se tocava nas egrejas de S. Miguel antes de
Serrão entrar para Organista da Matriz de Ponta Delgada era de preferencia a de
António José Soares, n'um estylo arrastado e pesado, d'uma harmonia sombria
nos moldes clássicos. As preoccupações de contraponto e as difficuldades de har-
monia sacrificavam muitas vezes o livre exercício da inspiração e muitas das com-
posições d'essa eschola resentiam-se da falta de belleza e de gosto. Eram bellas
obras na sua estructura geral, apreciadas, cheias de qualidades, mas o rythmo
muito Conchegado ás tradições musicaes dos mestres das escholas florescentes
passadas, repetia-se assaz fora do colorido e do brilho devido a essa musica que
se ouviam nas egrejas nas festividades religiosas.

Serrão desprendeu-se dos velhos moldes, e usando da sciencia da sua escho-


la,transportou o seu estro musical a novas formas de composição, procurando
sentidos palpitantes, dando-lhe intensões superiores, imprimindo sentimentos me-
nos graves, em summa analysando os quadros a reproduzir na musica por uma
forma especial, particular, que deu aos seus trabalhos o valor que hoje lhes é
reconhecido.
A vida do Padre Serrão antes de vir pai-a os Açores é assaz conhecida para
se apreciar corno n'ella adquiriu os dotes artísticos com que os michaelenses o
receberam quando ele desembarcou em Ponta Delgada, na noite de 5 de março
de 1841, e os motivos que o trouxeram a estas venturosas terras insulares.
Desde muito novo se manifestaram as disposições musicaes do joven setuba-
lense, nascido a ló d'agostode 1801; seus pães, o cirurgião LeocadioA ntonio Se""-
rão e D. Anna Luiza da Conceição, entregaram-no ao mestre da capella José Júlio
d'Almeida para lhe ensinar musica; e mais tarde, quando começava a tocar, mette-
ram-no sob a direcção de Athanasio José da Fonseca que era um musico hábil
d'orchestra e que compunha, para d'elle i-eceber lições de contraponto e har-
monia. Aos 15 annos Joaquim Silvestre Serrão ora compositor e seu tio José
d'C)liveira Perdigão introduziu-o n'um meio que varias personalidades do mun-
do politico e social de Lisboa frequentavam com certa assiduidade. Os serões
de Joaquim 0'Neill eram conhecidos por isso; e o Conde de Sabugal e os
Marquezes de Castello Melhor c Valença iveram occasião de apreciar os méritos
do pequeno estudante e mesmo de influiretu para que as suas aspirações se fos-
sem transformando em prosperas realidades. O Conde de Sabugal encantava-se
com certas imitações e descrípções que Serrão fazia em musica de tempestades,
de caracteres d'individuos onde transpareciam génios brandos, alegres, impetuo-
sos, enfim todo um mechanismo d'uma arte pela qual se descreviam, se exprimiam
sentimentos, se figuravam scenas. O alcance da musica, as múltiplas utilisações
da arte, já Serrão as tinha num preciso grau e a sua convivên-
d'ella, as bellezas
cia era procurada com grande apreço, para ouvirem n'clla as producções tão deli-
cadas como fecundas em motivos e assumptos. As marchas, as valsas, os minue-
tes, as contradanças, tinham a graciosidade, a leveza, o floreado, a vivacidade;
umas sonatas para piano e flautas no género de musica de Steibelt, pequenas
REVISTA MICHAELENSE 1139

phantasias e preliidios assim como sonatinas a 4 mãos no gosto das composições-


de Clementi e de Pleyel deliciavam a sociedade de Setúbal.
]á também se tinliatn ouvido d'elle varias peças de musica sacra comCf !ím' Be
t1edictuo-e varias Jaculatórias para quinta-feira santa compostas para Bruno M?imiel
Monteiro e P.'' José Libanio da Cunba. e uns ResDonscrios de quinta-feira sáfsfrai
de cantoclião fisfurado com versos a duo de musica feitos para as festividades d»
Nrochial de S. Sebastião de Setúbal e archivados pelo P." José Miguel d'Azevedo'
Coutinho, nis collecçòes musicaes da sua egreja; —quando em 1S19 no Convento
dos freires da Ordem Militar de S. Thinyo da Espada, vagou o lugar d'orgànista.
O Convento situado na \'illa de Palmelia, compreliendida no Concelho de Setú-
bal desde 1855, dentro do velho castello medieval que data do berço da monar-
chia, edificado no cimo d'uma montaniia, dista apenas 5 kilometros da Cidade de
Setúbal para o norte.
OPrior D. José de .Mello, tio do Duque de Cadaval, conhecia já o nome do
jovem compositor e organista e dispensando amisade a Oliveira Perdigão, tomou
em sympathia o sobrinho que se ia apresentar ao concurso do logar cl'organista
do Convento. Com esta p*'otecção e influencia que o Prior tinha nos lentes e nos.
freires capitulares para a qual com-
munidadc enírarsa o organista ap-
provado em exame, não era difficil
presfar'Se aos méritos de
justiça
Serrão e de Sacto o triumpíio pare-
ce ter sido compkto nas provas que
prestou o jovem compositor, que
então teria 19 annos. na presença
de António Vssconcjflo-s e Almeida
(tio do Visconde da Lapa) de Ra-
pliael Limpo de L? Cerda, de José
Alberto de Oliveira (mestre de ca-
peila) do Dr. João Paes de Linja
Leal Castello Branco e ManoeJ A-
réas; c dos lentes e freires capittíHa-
res. (~> exame consistiu na execução
de um trecho de musica, á sonata,
por partitura; transportar e seguir
um passo fugado, explicando e res-
pondendo a varias perguntas sobre
o assumpto; depois entrou-se na
parte litteraria em que o rapaz se
tirou muito bem e com geral ap-
plauso approvado "uemine discre-
O Mosteiro dos Jeronymos para onde foi pante» sobre os outros concorren-
Serrão depois de salnr de Palmelia tes (lue eram numerosos.
Joaquim Silvestre Serr.to tinha
sido um bom estudante nas aulas d'irtstrucçáo secundaria das humanidades em
Setúbal e não era um ignorante, conjugando os estudos de clássicos latinos e gre-
gos com os elementos necessários á historia da musica e dos auctores e mestres
italianos, allemães e france/es da arte; emquanto esperava o despacho do Rio de
Janeiro para ingressar no Convento veiu para Lisboa frequentar o meio dos gran-
des organistas, António José Soares e Fr. José ,N'arques de Santa Rita e Silva, mes-
tresde capella e que concorriam ao professorado do Conservatório Patriarchal pe-
la morte de Baidie Leal Moreira, valendo-lhe muito a casa de JoséChrysostomo da Sil-
va, onde se reuniam muitos artistas e pessoasnota veis de Lisboa e das províncias.

O que acontecia com os seus professores que se governavam e esperavam in-


definidamente os seus provimentos para professores do Conservatório, onde os
; ;

1140 REVISTA M ICHAE LENSF.

regulamentos eram alterados e reduzidas as cadeiras a uma só por falta de alum-


nos, não se deu com o despacho de nomeação de Serrão e a 1 Je junin de 1S19
elle deu entrada no Convento de Palmella, sendo-lhe logo no anno seguinte pas-
sado decreto d'espectativa para Mestre de Capella com data do mesmo dia da sua
entrada, tomando ordens em 1S24 e elevado á dÍ54;nidade de capitular em lS2õ.
A vida corria-Ihe o mais agradavelmente possível prestando Serrão como mu-
sico e compositor os mais assignalados serviços á ordem, a pessoas cxtranhas que
a elle recorriam ás lições do seu fecundo engenho e compondo peças sacras e
profanas para a collectividade religiosa de que fazia parte e para fora. D. João VI,
visitando o Mosteiro, foi recebido aos sons d'um melodioso concerto organisado
pelo jovem mestre de capella e depois d:i cerimonia costumada do beija-mão
dizem os seus cronistas, pediu para lhe fallar e demonstrar-!he o seu apreço e ad-
miração— distincções que só eram em geral concedidas aos freires professos; e o
significado d'estO;s cumprimentos envolve tanto mais mérito e valor quanto se co-
nhece a intellectuuMdade musical que era o Rei.
Para os freires dà communidade compoz elle uma sonata dividida em duas
grandes partes e tocada em dr-is órgãos; escreveu vários solfejos para vozes de
tenor e soprano, um a grandes dimensões para todas as classes destinadas a exa-
mes e um para barytono em todos os tons e cantorias; dedicou a umas Senhoras
Carreiros de Alcácer do Sal varias valsas formadas por mais de trez partes, em
geral, sobre um motivo que lhe forneceu o seu discípulo Manuel José Júlio Guer-
ra, fez varias variações para flauta que dizem ser no estylo de Oelinek e Latour
(12 pelo menos e que ao que parece devem existir na familia Mattos d'Alcacer); c
a um collega d'Albufeira, .Mendonça, offereceu algumas valsas, modinhas e arietas.
As suas composições sacras conhecidas desse período de clausura são :

Uma continuação de Responsorios de canto-chão figurado com duetto nos


versos para trez dias da Semana Santa— 27 trechos cada jogo de responsorios ;

responsorios de Natal a trez vozes para o Convento cie S. João de Setúbal


—27 peças;

responsorios da Coiiceição a trez vozes para Palmella— 27 trechos;


pequenos psalmos de vésperas a trez vozes;
outros psalmos de N. S.* a trez vozes, depois arranjados para instrumental
de sopro;
psalmos— Ecce quam bonum— feitos para o Collegio de !". Thiago e Castro ;

vários hvmnos de vésperas, matinas e laudes de diversas festividades, a trez vozes;


Tantum ergo, a trez vozes para o Convento de S. João;
Te-deum a 4 vozes com acompanhamento obrigado, corrido pelo gosto de
1 ranclii, feito para o P.' José Júlio d'AImeida, seu antigo professor e para ser can-
tado antes de sahirem as procissões do Sacramento, como era uso em Setúbal ;

outro de grandes dimensões a 4 vozes com acompanhamento obrigado sobre


um motivo da epocha e no género de Marcos Portugal em 9 peças;
Psalmos de vésperas de grandes dimensões com motivos obrigados da epocha
também no gosto de Marcos;
Missa grande a 4 vozes com acompanhamento obrigado, feita também para o
P.- José Júlio de Setúbal e que foi das primei-ras composições do mestre ouvidas
na Ilha, cantada em S. José de Ponta Delgada ;

Missa a trez vozes de grandes dimensões com órgão obrigado no estylo de


Baldi, feita para a grande festividade de acção de graças pela Constituição de 1820,
arranjada depois para instrumenta! de sopro c executada varias vezes pela banda
d'infanteria 7 e infanteria 19;
credo correspondente á mesma rnissa c para a mesma festividade com os
mesmos arranjos
Responsorio a 4 vozes para S. António de Setúbal
Ladainha e antiphona— Tuam Ipsius— a 4 vozes para a Aíiscricordia de Setúbal;
e varias ladainhas para a Capella de Nossa Senhora de Setúbal.
REVISTA MICHAELENSE 1141

Avida nr^naclial do P/ Serrão não durou muito porque foram extinctas as or-
dens mas os freires de Paimelia conu-çarani a sofírer os effcitos da guer-
religipsiís,
ra civil e das opiniões iibcraes da gente de D. Pedro antes dos outros seus con-
frades quando as tropas de D. Pedro se lançaram na tomada de Lisboa, Palmei-
;

la foi e com a villa o mosteiro para serviço do exercito. Os pobres fra-


occupada
des vieram nara o mosteiro dos Jeronymos de Belem; mas a existência regular e
segura estiva-lhes pira sempre conde.nn;ida c as attribulaçõís d:i mudança eram
um começo dos fins das tradições da Ordem. Ainda tiveram uma esperança por-
que havia nos sentimentos de D. Pedro IV a conservação das ordens militares,
não as comprehcndendo nas ordens extin^-tas, cm 1834 (28 de Maio). N'essa oc-
cnsião os freires de Paimeiia sahiram de Belem e foram provisoriamente residir
para Rilhafolles, mas por um decreto foi abolida a lei dos dízimos, de cujo rendi-
mento eram extrahidos os dinheiros para susten':o dos freires das ordens militares
e os conventos d'elles foram cerrados per decreto de 4 de junho de 1835. Serrão
perdia nos Jeronymos um dos melhores órgãos onde por occasião da chegada
maravi" '
; '
t^.:
MHifono tomn.io á primeira vista uma beila sym-
phonia de Fr. José Maria Leal.
Agora a sua vida profanisada
pelas circumstancias ia ser a de
um professor particular. Ainda
tentaram npresenta!-o como can-
didato a professor do Conserva-
tório de Musica que succederia á
extincção do Seminário Patriar-
clial, mas declinou a honra com
que o queriam distinguir. A vida
nos institutos officiaes estava dif-
ficil, por um lado debatiam-se os

organisadores das Instituições nas-


centes na escolha do pessoal, par-
te dedicada a I). Miguel e parte
O harmónio de Debain em que tocava Serrão affeiçoada aos liberaes, pelo ou-
tro nos ministros de D. Pedro não liavia união nara se levar a cabo uma refor-
ma escholar musicni.
.Mn^eida Garrett dedicado ao theatro e que tomou com certa vontade a orga-
nização de arte dramática, acabou per fraquejar, em face das difriculdades que se
levantavam, no ensino da musica, tendo que manter o Conservatório com uma
dotação annuai pequena.
todos os seus professores affeiçoados a D. João VI eque tinham ainda vivido
na intimidade de [,). Miguel afastavam-se da corte de D. Pedro e o P." Serrão com
quasi todos os músicos de valor, evitava o contacto com os elementos officiaes
que constituíam o Governo e a administração de D. Pedro.
O meio de Lisboa mesmo desagradava-lhe e apezar das lições que tinha, dos
trabalhos de composições que fez, o ma! estar social influiu na sua natureza sensí-
vel e impressionavel, e elle pensou em breve em afastar-se do meio.
Durante a sua estada em Lisboa são conhecidas as seguintes composições :

PROFANAS
Grandes variações para piano sobre um motivo da Norma, para dedicar a
•Wanuel Innocencio dos Santos, mestre do infante I). Pedro (V.)

Pequenas variações a uma valsa, dedicadas a uma discípula l). Oestrude^


Magna.
1 142 REVISTA MICHAE LENSE

Vários exercidos para as Snr." Lacerdas, suas discipulas.

Principies e exercícios para os filhos da Condessa de AAurça.

Lições d'acompanhar, por espécies, para o discipulo de Setiibal, António do


Nascimento.

SACRAS.
Responsorios 1." e 1° da Quinta-feira Santa a 4 vozes e acompanhamento,
de grande dimensão— para o W
José Libanio da Cuniia, de Setúbal.

Lamentação 1.' da Quinta-feira Santa e solo d'aitu para l"r. António de Grân-
dola.

Lamentação 3." da Quinta-feira a duo de tenor e baixo — p.ira dois cantores,


Figueiredo e Rocha.

Lamentação 1.' da Sexta-feira, solo de barytono — para o cantor Figueiredo.

Um motetto a solo de soprano— para os freires d'Extremoz.


Não durou ô annos a sua permanência em Lisboa fora da Ordem. Conheceu
durante esse tempo muita gente de varias províncias de Portugal, entre ella Antó-
nio Borges de Medeiros (Visconde da Praia) Fr. Estevam de Jesus Maria que ha-
bitou com elle em Rilhafolle^, o prior da Matriz de Ponta Delgada Bernardo Ma-
chado de Faria e Maia e Alexandre .Madureira Cyrnc, íunccionario do (joverno
Civil e flautista de grande mérito, e pensou em vir estabelecer-se aqui em Ponta
Delgada; seus pães tinham já fallecido e .Weitola onde vivia seu irmão, não o pu-
nha á devida distancia que elle desejava dos conflictos políticos entre liberaes e
miguelistas. E' verdade que a tranquillidade social da capital da Ilha de S. Aliguel
não era de molde a garantir o bem estar do P.'' Serrão e Fr. Estevam de Jesus
Maria bem o elucidara a esse respeito, mas aqui o conflicto era menos pessoal, con-
centrado mais na questão religiosa, e isso contentava-o.
Fr. Estevaiti de Jesus Maria da ordem dos menores reformados da Província
da Arrábida, professor de Mafra, bispo de Meliapor e transfeiido para a Diocese
d'Angra a 3 de Agosto de 1827 não tinha vindo occupar o seu lugar apezar de
confirmada a nomeação pelo consistório de 28 de junho do anno seguinte e de ter
a 10 de março d'esse anno tomado posse por procuração dada ao dr. Fructuoso
José Ribeiro, Vigário Capitular;- a revolução liberal que se prolongava com a
passagem das tropas e do Governo de D. Pedro nos .açores e depois pela expedi-
ção dirigida sobre o Douro, movimentos políticos que duraram de junho de 1828
a 1834 tinham collocado n'uma posição duvidosa o Bispo que assignára a pasto-
ral de 7 de março de 1829 e additamento de 12 de julho seguinte que ordenavam
preces peia victoria da esquadra mandada por D. Miguel estabelecer a paz na Ter-
ceira e el!e viu-se obrigado a permanecer em Lisboa emquanto durasse a exalta-
;

ção dos espíritos. Alem d'isso o verdadeiro governador temporal do Bispado por
carta regia passada em Ponta Delgada a 30 de Maio de 1832 era o prior da Ma-
triz, o Doutor Bernardo do Canto ALichado de Faria e Maia, que o próprio Bispo
para regularizar a situação espiritual confirmou por pastoral de lU d'outubro de
1839 até que, restabelecida a ordem veiu tomar posse da Diocese, chegando a
Ponta Delgada no dia 2 de Dezembro de 1840; mas ainda assim permaneceu n'es-
ta cidade até 20 de setembro de 18õ9 onde exerceu os direitos do seu cargo.

A residência do Bispo em Ponta Delgada acabou de decidir o padre Serrão


a vlr-se estabelecer aqui ou pelo menos passar algum tempo, e embarcou no
navio que chegou a í de março de 1841 ao porto. Nunca mais voltaria ao conti-
nente do Reino o P.' Serrão, que se hospedou os primeiros mercês na casa do seu
REVISTA MICHAEI.ENSP 1143

amigo António Maria Kduardo F"iischini, cniquanto tomava conliecimento com a


terra e com
as pessoas, até que obteve residência sua, resolvido já a permanecer
entre os ilhéus.
Uma notabilidade musical como em Serrão e tendo amigos como elie ti-
nha entre gente que habitava Ponta Delgada, seria difficil não se terem tornado
im mediatamente conhecidas a sua chegada e o valor da sua personalidade artís-
tica, é porem um facto positivo que está nas tradições oraes e que se acha
citado pelos seus biograplios michaelenses, que a estreia em publico do orga-
nista na Ilha teve logar na Bretanha n'umas endocnças aonde o levaram, o Có-
nego José de Medeiros Sousa e, o Presidente da Relação dos Açores Luiz Almei-
da Menezes de Vasconcellos. Tem qualquer coisa de prophetico e de lendário
essa estreia na Bretanha, onde o mestre se sentou ao teclado d'um mau piano
e á priuieira vista tocou as peças que iria repetir na cerimonia religiosa do dia ;

e não será difficil evocar a scena de surpreza e d'admiração que se passou en-
tre os executantes que em breve entrariam como companheiros no concerto,
vendo a facilidade e a simplicidade com que Serrão se possuirá da musica que
em tantos serões lhes tinha preoccupado a imaginação, occupado a attenção e exi-
gido assiduo trabalho.
Depois foi ouvido na cidade, na egreja de S. José, onde o cónego Medei-
ros Sousa parochiava e presidia ás festividades e o chamava para o''ganizar os
trabalhos musicaes no choro até que, partiu o organista Caldeira para o Bra-
;

£il, a convite de D. f-r. Eãtevão, veiu occupar na Matriz esse lugar que exerceu
até morrer, ensinando, compondo e vendendo as suas producçõ:;s e occupan-
do-se da factura, da afinação e da construcção dos órgãos. Quem era o mestre da
arte anterior á vinda de Serrão para S. Miguel era o egresso de S. hrancisco, o
Rev." Amor Divino, mas o padre tinha fallecido e as reparações dos instrumentos
das egrejas estavam entregues a pessoas sem a devida competência e que precisa-
vam de uma direcção
technica para obrarem
com êxito seguro, tile
encontrou um não vul-
gar talento no artista
João Nicolau Pereira
com quem construiu o
órgão que foi colloca-
do" na Sé d'Angra em
1S50 e oito mais, com-
pletamente novos. Esse
órgão que é um dos
actuaes da Sé foi des-
cripto pelo Senhor An-
tónio Teixeira de Ma-
cedo, Governador Civil,
Miui Nova do na SUa breve «A\emorÍa
Fassal, vcndo-S'? a rnsi onde residiu e morreu Serrão,
a •/." ao partir de baixo com o «." 14 sobre O estado da Agri-
cultura, Commercio e Industria do Districto de Ponta Delgada», publicado em
1853, nos seguintes termos :

•'De calibre 12 é aberto com grande perspectiva em grupos, baterias dobra-


das, columnatas, ornatos etc, como se deparam em quasi todos os d'este calibre,
e d'ahi para cima.
Tem 22 registos de mão, onze para cada lado; porem como 3 servem a duas
vozes de timbre, devem reputar-se 25, os quaes, quasi todos, são de mechanismo
dobrado, porque vão lambem a pedaes geraes, contendo quasi mil vozes dis-
tribuidíts pelos jogos seguintes:
Quatro flautados na esquerda e trez na direita; trez jogos de palheterias na
:

1 1 44 REVISTA MICHAELENSB

esquerda e trez na direita; seis registos de cheios de cada lado cinco pedaes
;

geraes para diversos usos e um para tremulo.»


Havia innovações e particularidades que o Snr. Macedo descrevia assim na
sua «Memoria" :

1."— "Um registo que com summa facilidade transporta a musica meio ponto,
e um ponto para cima e o mesmo para baixo, podendo fazer differença de dois
pontos. F.sta notável invenção consiste em um jogo dobrado, c fixo, que prende
nas varetas da reducção, ficando o próprio teclado livre, para se mover por meio
de uma manivella.
Se outras bellezas não se admirassem no grandioso instrumento, de que nos
occunamos, bastaria só a invenção do transporte, para o tornar digno de sin-
gular menção, e para dar ao seu auctor a maior e mais bem merecida nomeada.
2.°— Um teclado de cinco oitavas completas, que á maneira dos pianos verti-
caes sae á frente, ficando assim mais elegante, e commodo para tocador e
vozes.
3.°— Doze pedaes para notas sustentadas que ferem a primeira oitava do órgão,
podendo o organista fazer o baixo fundamental com os pés, ficando d'cst'arte as
mãos livres para o resto do teclado, de que "^e pode tirar não pequeno partido.
4.°— Toda a canária de pau, contendo, como já asseveramos, perto de mil
canudos, ou vozes. Advirta-se porem que, costumando ter os órgãos alguns flauta-
dos de pau, especialmente na esquerda, pôde o '^nr. Serrão conseguir outro tan-
to emquanto á direita."
E outras innovações existiam ainda quaiito aos cheios e se o órgão, accres-
centava o auctor da"Memoria»,não excede os do seu calibre e melliores da Ilha,
em poder de canária, força de vozes metalicis, e em riqueza de ornatos, exce-
de-os sem duvida na doçura e sonoridade de suas vozes, nos recursos e inven-
ções designadas, e muito mais no diminuto do seu preço, estipulado em muito
menos de metade do valor em que teem importado os eguaes em calibre e ain-
da outros menores que existem n'esta ilha."
Para a collocação d'esse órgão na Sé d'Angra deslocou-se o P.' Serrão, acom-
panhando-o á Ilha Terceira e procedendo lá a todos os trabaT.-os de montagem
do instrumento. Esta viagem e outra em 1859 quando D. Fr. Estevão foi reassumir
as suas funcções episcopaes para a sede do Bispado, acompanhando-o, foram as
únicas digressões que fez o organista da Matriz emquanto desempenhou este
cargo os 36 annos que residiu em Ponta Delgada até ao fim da vida.
A obra de Serrão como professor perde-se no Continente entre tantos e tão
afamados mestres elle é frequentemente citado por críticos e historiadores, os
;

seus trabalhos constituem entre os archivos das egrejas de Setúbal c nas famí-
lias a quem foram offerecidos preciosas relíquias do egresso freire de Palmella,
mas a sua eschola de canto e de musica, o seu methodo, o seu estylo só aqui
tiveram continuidade, porque só em Ponta Delgada com frequência e regulari-
dade durante 36 annos agruoou bastantes discípulos que se desenvolveram, quer
nas audições de concertos clássicos, quer nas audições de concertos profanos,
e que se tornaram a seu turno distinctos professores e cultores da sua mu-ica.
Trabalhando sempre em composições originaes durante a permanência cm
Ponta Delgada e1le escreveu:
Musica profana
Vários prelúdios para discípulos e para as freiras da Esperança, algumas dos
quaes elle ensinava;
Exercícios de solfejo;
Exercícios d'acompanhamento por espécies:
Vários jogos de contradanças francezas arranjadas para piano e instrumen-
tal encoinmendados pelo .Worgado Laureano Francisco da Camará Falcão;
Outros jogos de contradanças para o P." Francisco Horta;
Uma phantasia dividida em trez grandes peças— introducçlo, andante e final
; ; ; ;

REVISTA
'*«id:
MICHAFLENSF. 1145

em forma de fuga compostas expressamente para a inauguração do órgão que


foi para a Sé d'Anííra;
L'ma grande peça cm forma d'abertura a dois pianos tocada a 4 mãos ca-
da um com o titulo Aos ;\i!iados da Criméa" única composição de Serrão que
foi impressa.
Musica sacra:
Três responsorios da 5." feira (dos feitos em Setúbal) arranjados para S. José;
Um nocturno das Matinas de S. Sebastião 1." e 3.* responsorios arranjados
de Pr. José .Warques c o segudo seu (á pressa para aquelle anno) ;

Matinas completas para S. Sebastião nas festividades de 1844;


Responsorios grandes da 5." feira, sendo o 1." e o 7." já referidos ampliados;
Responsorios de St." Philomena,de grandes dimensões, dedicados ao Vigário
Geral Ferreira e Sou'ía; (1)
iWoteto do Santíssimo Sacramento a solo de soprano e ciioros para o P.*
Raulino;
Moteto de Santa Cecília a duo de tenor e barytono com dois choros e ins-
trumental, composto para a festividade da Santa para S. José ;

Outros motetos de confessores e Santa [barbara, da Conceição etc


4." lição da 5.' feira a solo de soprano para a fisperança.a rogo do P.' Fran-

cisco Bulhões
Responsorio do Espirito Santo para a Esperança; (2)
Responsorios 2.", ò." e 8." dos Espinhos, grandes, também para a Esperança;
Outros solos para as referidas matinas;
Calenda do Natal a solo d'alto para a discípula A\aria Tliereza ;

Antiplioiia Tota Puiclira a grandes dimensões e apparntosa, para o Bispo, pa-


ra a proclamação do dogma da Conceçião (festa ordenada por Pio IX durante o
seu pontificado)
Mais um hyinno para a mesma festa ;

Responsorios das matinas da Transfiguração (2 choros e 2 órgãos) dedicados


ao Deão Narciso d'Angra. (A transfiguração e orago da Sé d'Angra)
Responsorios das Matinas d;». í." feira Santa ;

2 ver>icuIos do referido responsorio de grandes dimensões a duo de soprano


c alto para os P."' Francisco Florta c Ignacio Cabral e outro de soprano e tenor para
Rangel e Miranda.
lodos estes são apreciados e constituem por si só um vasto repertório escho-
d'uma eschola de musica; mas uma obra superior se levantava
lastico e as luzes
durante a estada de Serrão na Ilha— o núcleo de descipulos que elle agrupara in-
teressados em volta de si e que eram ou seriam mais tarde naturaes artistas e há-
beis professores. Existe impressa uma centena de hymnos de varias sociedades mu-
compostos em homenagem a varias personalidades politicas, con-
sicaes, cfírigidos e
sagrados a fr;slividades que são inspirados n'essa eschola de Serrão. ia entre cHes 1

mesmo dois que entraram na vida annual das festividades religiosas e que constituem
peças musicaes de tradição popular; refiro-me ao liymno do Espirito Santo que é
composição de Jacintho ignacio Cabral e ao hymno de Santo Christo de que foi
auctor o chefe da banda de caçadores 11 Manuel José Candeas. Ambas estas com-

(1) Estas festa.-> a Santa ta/iamst: com grande


Pliilomciia pompa em Saiiro André. A.s
freiras traziam a imagem do do convento aos tiombrob al<;
interior luirtaria da rna João Moreira, alii
.i

os padres tomavam-na e levavam- na cm procissão de roda, entrando pela porta principal na c^Meja e
collocando-a no altar-múr e seguindo-se a íesta, finda a qnal eram as flores da ornamentação distribuí-
das pela assistência, recolhendo com o mesmo crimonial a imagem ao Convento.
(2) Era egualmente de grande apparato esta festa do Espirito Santo na Esperança, descendo duran-
te a missa o capellão do altar e rindo junto á grade collocar pela aberlura a coroa na cabeça da i>ma-
gem de N. S.", levando-a depois as freiras em procissão pelo convento acompanhada de cant».
:

1140 REVISTA_MICHAELENSÍ|

posições serão sempre dois modelos da musica viva, impetuosa, jovial do cyclo dc||
Serrão, caracterisados por uma inspiração rápida c hrcvc sem complicações d'liar
monia, mas ornados de motivos vários que se entrelaçam n'uma pulyphonia cons-
tante, não muito rici, mas assaz variada e original para tirar o rythmo cadenciadol
da marcha da monotonia.
lornaram-se notáveis no grupo dos amigos e discípulos de Serrão, Francisco
B. Furtado, os irmãos Amaraes e A4onte Bastos, João Moniz, Francisco, Joaquim
e Annibal Barbosa. João Bernardo Rodrigues; e os chefes das numetosas batidas
que se constituíram pelas aldeias, muitos dos quaes são auctores de varias compO'
sições e não foram estranhos á eschola da cidade a que presidia Serrão. Essas mes^
mas bandas para as quaes contribuíam com imporlaiífes donativo^-, e patroclnâvàrtt
varias pessoas de representação eram aiiída manifestações e s:inti!l.i^les da activi
dade musical do Organista da Matriz. E o gosto que se diffundia pelos amadores |5f
de musica profana egualmente se repercutia pelos cultores do cautico religioso
das egrejas parochiaes em contacto com o P/ Januário Innocencio Velozo, Ignacio
Cabral, Francisco Pacheco Horta, Jacintlio da Ponte e outros.
Tenho entre os meus autographos uma carta de Serrão que põe a claro o seu
temperamento propagandista, N'ella, escripta ao Dr. André António Avelino por
occasião de uma abertura d'aulas em outubro de 185<-J no Lyceu de Ponta Delga-
da de que elle era reitor, o compositor não se cança de exaltar a arte que profes-
sava e de fazer a apologia da cultura musical na vida dos povos.
Farei a trauscrip;ão de quasi tociji cila porque é um documento em que se
aprecia, directamente das mãos do auctor, no seu estylo impregnado dos senti-
mentos da epocha, as suas considerações pessoaes sobre a musica.
Dizia elle depois de ter dirigido os seus agradecimentos ao Dr. .'Xveliiio e de
ilie fazer os elogios que merecia o discurso aos alumnos do Lyceil

Sim Senhor; li-a e reli-a mas desejando achar alli tambeiíi alguma cousa s(J-
:

bre certa matéria muito da nossa e-^timaçãc por mais que, Com esta vista iryopc,
tom eítes olhos nervosos, buscasse e revolvesse, nada aChei sobre o caso. Será
possível, dizia eu, que o digno auctor d'est3 óptima producção lhe esquecesse a
sua arte enthusiastica, a sua arte dilecta, a sua deliciosa e divinal musica? Não
pode ser; mas o facto realisoa-se e não está lá. Seria talvez porque cila não entra na
escala das aulas que se cursam no l.yccu? Então porque seria? já me parece estar
adivinhando: Foi talvez porque ella merece muito pouco conceito aos illustres scien-
tificos pelo lado litterario. Ora pois bem
: Se eu estivesse nos meus vinte a trinta an-
nos pequenino como sou mesmo, conhecendo o meu curto e apoucado talento, tra-
balharia por desenvolver e ordenar o que tenho em globo n'esta desconcertada ca-
beça e tomaria a dctei'a da pobrezita dizendo-lhc surge arte divinal, surge e assu-
:

me o teu império e mostra o que és, o que foste e o que podes ser aos que te me-
nosprezarem, mostra-lhe que entras em quasi todos os conhecimentos humanos,
com o teu contingente em grande escala e que imperas em grande parte d'elles.
E na verdade não me seria difficil mostrar que a musica não só é uma arte
recreativa que serve para dulcificar os costume-s dns povos, mas que também
c instructiva e scientifica, que pode servir de grande incentivo e como de lembran-
ça aos estudiosos em muitos e diversos ramos de conhecimentos humanos.
A musica tem uma linguagem sua que muito se assemelha á linguagem
litteraria, e por consequência uma grammatica, uma lógica e uma rhetorica. Nin-
5;uem ignora que a musica entra por semelhança em as outras artes liberaes, co-
mo pintura, poesia, architectura ctc. Pode entrar na metaphysica e ale na ctlnca,
entra na alta Philosoi^hia e bem assim nas divisões das mathematicas, como ari-
thmetica, álgebra, geometria, cálculos, pliysica e até na ?strononn'a, ccjmo disse cer-
to auctor, que os signos celestes estavam em suas proporções. Entra na historia:
e que duvida terá Uir. hábil engenho em fazel-a entrar nas sciencias governati-
vas dos povos? a jurisprudência, o divino, a politica, etc. cahiriam debaixo do
seu império; até a thcologia e as sagradas escripturas lá estariam.
1 KEVISTA MlCHAEL ENSE 1147

E cuidasua medicina se esquivaria ao seu poder? de certo


V, S." que a
que não: diversos ramos: oilie como anatomisa e põe em
lá está ella e em
^ijacção o aparelho do ouvido, como descortina o coração, como impera sobre o
ijSystema nervoso, e tudo isto porque é rainha e dominadora do ar atmospheri-
,.p, esse agente da vida e da morte, a quem impelie e manda para nos tocar os
sentidos externos e por estes os internos, causando-nos o prazer e o desprazer e
alvez a doença e a saúde e quem sabe se a musica constituirá parte da scien-
:

;ia medica (não c ideia nova) ? se ainda haverá uma medicina musical, como ha

ogica e uma rhetorica musica. Perdão, mil perdões, por metter fouce em ceara
p-jlliíeia. Aonde me levava o pensamento não foi este o fim d'esta carta, isto foi
!

\M\m excesso do amor musical; uma digressão desvairada que só a nossa amiza»
lie i)ode permittir. O
fim d'esta carta é agradecer a V. S." o i^recioso thezouro
;™lom que me enriqueceu, pôr á sua disposição os nieus inúteis serviços e protes-
n(,Jir-llie que com a maior consideração e subida estima sou de

\'. S." Att. \'en. e affectuosissimo am. obrg. e Crd.

I
/ S. Serrão

D'essas considerações de Serrão não resultou para a musica nenhuma iniciativa


ue conheça sob o ponto de vista educativo, sabido como é, que a musica entra na
f il«
jucação dos sentimentos com grandes resultados, quando a isso é adaptada, en-
tendo o caracter de esthetica e sensibilidade; muito mais tarde, n'oulro ramo de
lucação, na cultura physica das cre:inças, o professor de gymnastica João Maria
íqueira, tentou um methodo d'exercicios livres orienl:idos nos da eschola sueca
'•
rpsala. e acompanhados de canto, de bastante interesse, quer debaixo do
no que respeita ao desenvolvimento dos órgãos res-
)nto c'e vista recreativo, quer
\j„ Ira to rios, do
do systema nervoso e muscular.
tiiorax, e
itfjiijl
No Lyceu nunca a direcção d'aqueila casa estabeleceu qualquer aula d'çnsino
jf5„f l
m.usica, que ficasse introduzida nos regulamentos da instrucção secundaria
j5(j(5.
'icial apenas recente:'.iente as leis republicanas a applicaram á instrucção secan-
;

ria em canto chorai, mas ahi ficam as ideias de Serrão um tanto phantasistas e

ilD,trJ-
stante caracíerisadas por um estylo irónico por serem tomadas com as devi-
reserv.13, muito apreciáveis porem por serem raras as
j 'ettras conhecid.is do
ida ca-
íbre compositor.
e i»
'Mm-
A alegria que se nota no estylo d'essa carln harmonisa-se bem com o estylo mu-
1 do organista da Matriz, mas ambos contrastam com a sua personalidade amor-
ida, triste. Varias pessoas de 50 a 60 annos d'edade que viviam arredadas do
io musical conhecem o homem de o ver á janella da sua casa da Rua Nova de
imaartc
leça coberta pelo solidén, olhando pesadamente para a rua. Apparecia pouco,
lambem
archivo parochial de S. Pedro, apenas se encontra o seu nome mencionado no
lembrsn-
;nto dobito e entre os signatário*; d'uma petição ao Bispo para que a procissão
.Santissim.o passabse pela Rua Nova.
fZ' muito frequente nas

pessoas que atravessam cri-


ses e desgostos profundos,
serem na vida social de hu-
mor alegre. Actores ha do
mais irresistível cómico que
são profundamente tristes na
jtencia particular. Serrão era uma d'es5as creatu- ras tristes no intimo e no as-
lo, alegre em manifestações de caracter trascendente, e para rematar as im-
?sões que se traduzem das graphias de Serrão, chamando ainda a attenção dos
)res para esta carta, peço-lhe que observe a assignalura que é de uma fácil gra-
"ogia.
tsses dois SS elegantes na forma, ligados quasi nos extremoi e o rabisco con-
1148 REVISTA MICHAÉLE^4SE

fundido com o til, estão a accusar a individualidade do musico. Os SS teem har-


mónicas inspirações, quasi sem extremos, denunciam as ideias das tradições philo-
sophicas da divindade e mostram as preoccupações das composições das peças

/.-/<'' cer^Jíi^fo fij e--/Acf//f**s c/a y/////-^«f w/t^e^-fda <?rf/*rf/-^ Aprct- ti/u^rc, t^ -tétjrt s^f^i^tr/e r/e S.JhfA, ra-^

itiCQj(te/t^7'cr> i-otxíC-^i 7í c/tf -//^ej -c/^è s/e /^'^.Ar /nt/^ / jíi/e/^à ^'f*-}ti.^fj^s/i>u s^AsA-t /o t/t: ///»>, /^>^

í >-.fi 'C.'Jt V . V/'/v ,/oS.wi'^


.1^

Serrão e os promotores dos concertos para angariar subsídios para a erecção do


Monumento no cerni ferio de S, Joaquim
Caricatura ilo Sur. Atieriisto Cabral

íormadâs por si só um todo confundido pelo começo e pelo fim; o rabisco aprO'
veitado no til do ditono[o lembra os velhos crapliicos phromaticos da musica ín-
dia que ligavam as notas, e frisam os sentimentos de continuidade que animavam
REVISTA MICHAELENSR 1149

O caracter de Serrão e a sua feição moial, impulsiva, nervosa activa; o J. por si


só e em separado formando uma lettra lançada e ao mesmo tempo estreita e aper-
tada corrige a largueza e prodigalidade de espaço, envolve um certo espirito de
economia, de aproveitamento que é justificado pelas abreviaturas.
Em summa, resumindo as observações da assignatura, tem-se n'ella presente
um homem que nos seus actos, reflectia primeiro, e tendo por base o indispensá-
vel, traçava-os larga e rapidamente, procurando a belleza esthetiea.
A musica de Serrão é isso mesmo. Mas deixemos o domínio da phantasia para
proseguirmos nos acontecimentos que se ligam com a vida de Serrão na Ilha.
Áieni d'esses discípulos que se agrupavam em volta do Organi.çta da Matriz
em l'onta Pelgada muitos músicos vieram fertilizar o meio niusical da Ilha. Os
dois Cazellas, mulher e marido, com o professor de piano Guilherme Pereira Ran-
gel, Herculano Machado, António Francisco de Miranda, conseguem pôr em sce-
na a primeira vez que aqui vieram, uma tragedia lyrica a ^1 iayde" que Luiz í^hilippe
Leite, um professor, escrevera o libretto extrahido do Conde de Monte Christo de
Inumas e a Senhora Cazella a partitura. (1)
Cazella volta com uma companhia lyríca á Ilha em 1875-7() e com elle vem
como chefe d'orchestra um
allemão Martim Ra-der. Esteallemão representa na his-
toria da musica do P." Serrão um pape! muito importante porque foi creio que a
primeira pessoa que commentou e criticou as composições do mestre para o ex-
trangeiro.
Ouvindo as cerimonias religiosas das egrejas de Ponta Delgada, o allemão in-
teressou-se muito n'aquela musica cuja vivacidade e leveza lhe fez vibrar a sua sensi-
bilidade artística por uma forma nova e especial.
Decidiu entrevistar Serrão e escrever alguma coisa que esclarecesse os cen-
tros musicaes da notável harmonia das obras do organista de Ponta Delgada, cer-
tamente desconhecido e ignorado. Ignacio Cabral, mestre da capella da Matriz,
íoi quem introduziu Rtrder junto de Serrão que lhe fallou das suas composições,
da admiração que dedicava a Bacli, e fez considerações sobre a sua própria musi-
ca. Estava então muito cm voga na sociedade michaelense tocar-se os "Alliados da
Criméa,* escripta em homenagem á victoria das tropas alhadas na guerra do orien-
te, e que os Viscondes da Prai:i tinhrm mandado editar.
Serrão explicou que a sua composição destinada a dois pianos no mais fran-
co estylo moderno conservava as formas symphonicas antigas; os effeitos diversos
das duas peças que se tocavam n'elles tinham por fim desfizer n'uma o que a
outra fazia, com movimentos contrários, conservando comtudo um egual sentimen-
to deítruindo-se uma a outra na melodia mas conjugando-se a harmonia entre
;

ambas simultânea e divergente. Qualquer d'essas peças podia ser executada separa-
damente, completando-se por si só, mas os seus effeitos conjugados só juntos cor-
respondiam ás aspirações do auctor.
Rieder (2) não era qualquer pequeno maestro de companhia lyríca de tournées
era um musico hábil, um compositor distincio auctor de varias operas e de musi-
ca de camará. Tinha um conhecimento, technico profundo da sua arte e uin senso
esthetico muito educado; além d'isso, muito versado nos assumptos musicaes.
Durante 15 annos foi redactor da <Oazcta Musical" de Milão e mais tarde, depois
de aqui ter e>^tado, acceitou a direcção do Conservatório de Boston onde morreu
em 18Q5 no desempenho d'esse cargo.
Koeder ficou surprehesdido com a musica de Serrão e depois de a ouvir tal
sympathia elle lhe inspirou que elle não hesitou em tornar conhecida a sua obra.
Roeder lastimava que Serrão não e;tívesse n'um meio em que o estimulo na
lucta pela supremacia se torna um caudal da inspiração permanente alli o seu :

(1) Ver para mais amplos detalhes o artigo do Senhor Aniiibal niciido" Poeiras do Passado» pu«
blkado n'esta Revista, n." 2do anno 3.", illustrado com b-istante. retratos de discípulos do Serrão.
l-".''

(2) Mirtiiio Roeder era natural de Berlim onde nasceu a 7 d'Abril de 185i.
1150 REVISTA MICHAELENSE

génio musical encontraria mais amplos horizontes do que no meio michaelense


acanhado para o artista.
Roeder sentou-se ao harmónio de S°rrão que lhe tinha sido offeríado pelo
Visconde da Praia, de cuias filhas o mestre foi professor, toca n'elle uma d'essas
fu^as de Bach que iinmortalizaram o compositor d'Eixenach; o harmónio era um
d'ess.s instrumentos construídos por Alexandre Debain, de Paris e apezar de
velho e ferrugento, attestava superiores qualidades; Serrão commove-se e o
allemão também. A scena pathetica influe no animo do extrangeiro Serrão pa-
:

rece-lhe um Deus da musica aureolado pelo brihaníismo do clima meridio-


nal da Península, transcendendo a exhuberancia da luz solar, a impetuosidade
do caracter luso, os costumes vivos e suggesííonaveis da raça. A critica appa-
recida na Revista de Milão confirma as suas impressões. Na collecç<ão dos Res-
ponsorios das Matinas, os do Sabbado são os mais extraordinários da obra
de Serrão o alegreto mt vivificaret populum suum" é d'uma frescura admirá-
:

vel, semelhante a uma manhã de primavera, tornando-se característica a teina mu-


dança de tons entre a dominante e a tónica; o "verso a solo> — Tradidit in mor-
tem animam suam— é de uma complexidade surprehendente onde ha qualquer
coisa da paixão de S. João de Bach, do Stabat Mater de Rossini e da musica
dos velhos napolitanos Jamelli, Pergolesi e Durante; o "fugato» -«Quia in te occi-
sus est» mostra claramente os dotes superiores do contrapontísta de Serrão, trazen-
do o sentimento conimovente sem artificio, muito naturalmente, n'umafuga grandio-
sa; no solo para tenor -«Plange quasi virgo» elle desenrola um quadro intimo
de rara magnificência e na phrase "uhiiate" a musica torna-se dcscriptiva sem des-
truir a impressão geral, sem se afastar do
í- "
_ .
'
quadro;no'<fugatO'a duas vozes —
"Nam et ille
'
;

>
'
captuS" -a violência é de grande eífeito no ;

«sepulto domino-amarchafunebreé uma obra


prima; executada por toda a orchestra é de
sumptuoso effeito no pianíssimo, ouvindo-se
na trompa notas melancholicas e por entre
estas e o acompanhamento, a historia triste
da morte de Jesus cantada pelo choro em re-
citativo; o "volvente lapide» é surprehen-
dente, e a phrase das trompas em marcha
"Poneníes militcs" completa a obra que
para me servir das suas phrascs, <'era uma
das mais bellas coisas artísticas da arte mo-
derna.»
Quanto a outras composições, Roeder
insiste sobre a mesma obra das matinas, fa-
zendo especial menção do 2." responsorio
da quínta-feira, citando a introducção (choro
anima meav natural-
a 4 vozes) "Tristis est
mente sentimental muito puro, cheio de ide-
,

alismo, o que egualmente se nota no "Unus


ex díscipulis meís'>, traduzindo a divina pla-
cidez com que o Salvador, sabendo da sua
morte, falia da traição que reprehende, com
a máxima bondade, a seus discípulos. Roe-
der serve-se para exprimir a impressão que
Monumento de Senão, de Moreira Raio,
recebeu na audição d'esta peça d'estes lermos:
no Cemitério de S. Joaquim
a situação é traduzida aqui com tal colori-
do que parece estar-se vendo a aureola celestial sobre a fronte de Jesus. Sobre o
choro "venite mittamus" diz que é de grande êxito, não se afastando da cas-
tidade na expressão musical, constituindo um quadro vivo faliante, resolvendo o
REVISTA MlCHAELENSfe 1151

problema estlietico e teclinico na descri|x"io de unia sceHa agitada da Escriptura


pela reunião d'um complexo deslumbrante n'um estylo puro c vivo onde lia o
rythnio sacro. No duetto (soprano e baixo) -Onínes inimici mei" a belleza de
declamação musical é uma demonstração do talento do auctor; e o choro "Jesum
dolo tenerent" d'uma novidade musical extraordinária, mas contendo ciualquer coisa
dos flamengos antigos Joaqu-in de Prés c Viilaert, era uma das coisas mais im-
portantes da obra, d'um effeito surprehcndente a fusão dos dois estylos.
A descripção musical de Serrão é o que salta á primeira vista e é de todas
as qualidades a mais saliente. Depois será a inspiração e disse-me o Sr. Joaquim
Bettencourt Barbosa, que sobre um motivo que se llie dava, elle fazia infinitas
variações, era próprio do seu mister d'organista, mas elle tinha essa faculdade
d'imi rovização n'um grau excepcional saliindo-Ihe os trechos d'uma belleza in-
comparável.
Serrão teria na vida intima jxjucos amigos; trist»* habitualmente, vivia retra-
indo e absorvido na sua arte, porem os admiradores eram numerosos e esses
admiradores levavam inais longe a sua estima i^elo mestre do que propria-
mente a legitima consagração do seu talento musical. Haverá quem o duvide?
Não será o exemplo do Rcv. jacintho da Ponte um facto bem comprovativo d'es-
sa admiração pelo organista da Aiatriz ?
Serrão vendendo as suas composições e tocando nas festividades religiosas
da Matriz não tirava os proventos que lhe eram necessários para satisfazer as as-
pirações sociaes que o animavam, dava licções e tinha a capellania de Santa Bar-
bara; por occasião de ser acommettido pelo primeiro ataque de paralyzia viu-se
obrigado a renunciar ao seu mister dorganista, o que o ameaçava também de lhe
prejudicar a sua modesta existência, se lhe fossem tirados os ordenados inheren-
tes ao cargo; o Rev. Jacintho da Ponte tranquillizou o mestre e prometteu-lhe
que emquanto jiudesse elle receberia regularmente os seus honorários. Seria esta
a forma de retribuir para com Serrão as excellentes lições que d'elle tinha re-
cebido durante a sua estada na Matriz em commum procedendo aos trabalhos
niusicaes do choro. E assim foi durante os últimos 7 annos da vida de Serrão
em que o velho mestre nunca deixou de receber os honorários nem o Rev. Ja-
cintho da Ponte íaltou ás obrigações qu? lhe estavam pendentes.
Mas ha mais a accentuar em prol da veneração tributada ao mestre Serrão
foi a forma como prestaram as homenagens á sua grande obra de compositor
e ás suas qualidades de musico.
( seus discípulos e admiradores não se contentavam em tocar as deliciosas
)>

e inspiradas composições do seu saudoso professor, entenderam que a socieda-


de de Ponta Delgada lhe devia um mais lauto preito de gratidão e decidiram ele-
var-lhc um mausuleu memoria com a sua estatua erecta n'um modesto mas ele-
vante plintiio. Para esse fim formaram duas commissões, uma paia ang.'iriar sub-
sídios da qual fez parte o Sr. j-rancisco Peixoto da SiKeira, João Bernardo Ro-
drigues e Rcv. Jacintho da ['onte; a outra para tratar do monumento composta
pelos Srs. Vicente Cymbron Borges de Sousa, Erai>cisco Peixoto da Silveira, João
Bernardo Rodrigues, P.'' Francisco Horta, P.'' Januário Filomeno Velloza, João de
Moraes Pereira, José Duarte Horta Júnior, Francisco de Mello, Álvaro Pereira
Lopes de Bettenciurt Athayde, P.'' Jacintho da Ponte, Joaquim, Francisco e Anni-
bal Barbosa e promovendo concertos, dos quaes o primeiro teve lugar no dia
;

11 de março de 1882, e recebendo donativos directos, alcançou a importância in-


dispensável para a erecção do mausuleu que se vê reproduzido na pequena pho-
togravura que iilustra este artigo e que é uma das obras primas não só do escul-
ptor .Woreira Rato como dos jazigos do Cemitério Publi.-o de Ponta Delgada. A
firmeza do trabalho de cantaria, a elegância da estatua, a naturalidade na sua pose,
a semelhança das feições e expressão do rosto attestam a obra d'um grande ar-
tista do cinzel e do buril; e revivendo a personalidade physica de Serrão o mausu-
leu erecto pelos seus amigos á memoria do presado mestre, é ao mesmo tempo a
1 1 52 RWi^A MtCHÀElJEV>SE

representação dos sentimentos de grata saudade que estava no espirito e na alma


da população de Ponta Delgada para com o compositor que durante quasi 30 an-
nos da sua vida expandiu na sociedade micliadense as mais bellas coyiposições
da sua arte musical, até que sMccurabiu á fatal doença na madrugada de 20 de
fevereiro de 1877 pelas 4 horas na sua casa da Rua Nova n." 14, tendo recebido os
sacramentos da Egreja e feito as suas disposições testamentárias.
REVISTA MICHAELÉii^Ê 115*3

OS TOQUEí OE

EDQrlRD ALLEN POE


Acompanhada de uma photographia
de um quadro de Maignan sobre o ns-
sumpto d um retrato doauctor, damos

á publicidade uma das ultimas [)roduc-


ções de l:d.f;ard Allcii Poe. O iníeli? litte-
rato, que nasceu em Boston a ]<) de junho
de 180Q e morreu em Baltimore a 7 d'ou-
tubro de 1S4Q, escreveu "The Bells» no
máximo desenvolvimento da sua experiên-
cia, alguns me/es antes de morrer.
A experiência em Poe significa mui-
to porque toda a sua obra se avalia pelo
uiau de observação, pelrs effeitos que ex-
trahia dos assumptos que tratava, pelas
intenções que punha nos seus relates his-
tóricos, todos de grande alcance philoso-
phico e de elevado critério litterario. Po-
de-se dizer que foi o fundador d'esta es-
chola d'observação e investigação cr imi-
nal que tão brilhantes cscriptores encon-
trou na epocha contemporânea; mas a
alta posição em que se collocou para tra-
tar df) assumpto deu-lhe um caracteristi-
co na forma e uma tal orrginalidade na
escolha dos sujeitos que o tornou inegua-
lavel. Por isso talvez a iniciação da litte-
ratura policial caiba ao antigo chefe da
policia de segurança de Paris, Vidocq, ho-
mem do seu tempo; mas é certo que o
theatro terrorista e realista do Grand
Ouignol inaugurado ha uns 15 annos em
França filia-se na eschoia do grande ame-
ricano que foi ahi mesmo representado,
Edgard Allen Poe traduzido e posto em drama na sua his-
toria ú''(J Systema do Doutor Alcatrão e
do l'roíessor Pena» n'outra modalidade
do seu talento— na emoção, no pattietico,
em scenas empolgantes da vida imaginosa,
descriptas com o mais detalhado senti-
mento da realidade.
A imaginação, que desempenhou na
vida littcraria de Poe a parte mais impor-
tanteda trilogia artística da sua obra, -poe-
sia, contos maravilhosos, assumptos po-
liciaes--vem representada n'este poemeto
traduzido cuidadosamente e não será ne-
cessário accrescentar qualquer breve com-
mentario porque é o melhor documento
para se apreciar das faculdades e do va-
lor do auctor.
;

os TOQUES

.-1-

Ouves o guizalhar dos trenós— ia !

São guizos de prata.


Um niuado feliz! oh, que melodia!
Como elles soam, soam :que sonata
P'lo ar da noite frigia!
Emquanto as estrellas vão-se espalhar,
P'lo ceu scintillando,
Cheias de palpitações, a brilhar
Marcando tempo, tempo, tempo, e soando
runico rimar
N'um tlintar harmónico, a soar. a voar,
Dos guizos em tlinto,
Os guizos tlin, tlin, tlin, tlin, a toiítr
V3o tlin. em tininto,
Afagos a guizalhar, a tlintar.

--11—

Ouves repenicar os esponsaes,


São sinos d'oiro
P'lo ar da noite em harmonia, mais
E mais alegre ; é de bom agoiro
Sinos e signaes!
Notas doiradas, notas doçuradas,
Que em unisonia
E em liquidas canções fluctuadas
A rola em êxtase á lua ouvia.
De
cellas rythmadas
Sae grosso jorro d'euphonia grossa ;

Corre, vae inchando,


Balancea, em êxtase possa ;

Ella ir soando
Sinos, sonancia, badalar sem mossa
Arrastados n 'elles por attracção
Segue uma canção.
Toques, toques, sons a repenicar
Para o badalar
E resonancia do carrilhão.
: !

REVISTA MICHAEI.ENSÍ
1155

III

Ouves estes sinos d'alarme affiicto


Do brônzeo soar
Turbulência e terror, canto convicto
Oritani e tangem, vão a dernanar
O terror maldito.
ExaíiiÈíeradamente horrorisados
P'ra s'expriniircm
Só podem só gritar desesperados
Fora de tom, em
clamor, a pedirem
Dó p'ra os incendiados.
Doido protesto ao frenético fogo
Sobe sempre sobe ;

Fim desesperado t^esejo rogo ;

Decidido pede ;

Agora ou nunca terminar; logo


Est.á Á pálida face da lua.
Sinos a tocar
Sinos, toques, a badalar ; é tua
Lenda apavorar,
Desejo alarmante para a rua
Atirar; desesperos exprimir!
P-llcs tocaní, rugem,
rjerratuani llarfof e n'uni dòr sentir
;

Todo O /if ííffligem


.'

Agente conhece por 06 (»»ivif


Pelo badalar, pelo seu tang'et,
Que o perigo augmentá
Que o perigo baixa, vae a descer.
Agora sustenta
Distinctamente o perigo a abater;
A desafinar, a tagarelar.
Baixa já na ira
Tocando, clamando, a badalar
Em som que suspira,
:m toques affljçtos, sempre a tocar.

Ouves os sinos de ferro a dobrar


Que mundo ferem
D'ideias solemnes ;
que a derramar
Pelo silencio da noite; mugem
A ,af).a^yprar.
E á triste ameaçai dos seus bons
1150 «EVISTA MICHAELENSE

Trememos de medo,
Fluctuam todos os sinistros tons
Sahidos dos boccaes ferrugentos; cedo
Lançam tristes sons!
E a gente; ah! a gente solitária,
A
do campanário,
M que dobram, dobram- atribularia
Missão —o iotorio
Canto abafado, sente gloria
Deassim rolarem
Uma pedra no coração humano.
Essa gente não é fêmea nem macho —
Não é um tyrano
Quem assim procede o seu despacho;

Não é d'um insano.

"And who tolling, tolling, tolling,

They are ncitlicr mcn nor aomeii, Ihey are ghonte"

São os finespiritas que alli vivem,


E o imperador é o que toca.
E a dobrarem
Os sinos tocam e tocam retoca :

Um pean, revem
; :

»evisTA MicTuemiSE 1157

O pean, vae ; alegre invasão


Aos peitos afflue d'aquelle dobrar.
O seu coração,
Aqiielle som sineiro a badalar.
Em expiação,
Marcando tempo, tempo! dança e geme ;

Toca, retoca em
rhythmica harmonia
A runica rima
Ao pcan dos sinos em melodia.
Na torre era cima,
Battendo a hora, a hora que viria
Runica melopeia a soluçar
Sinos a dobrar
Sons a suspirar
Horas a passar
Ao gemer e badalar dos dobres
Vão eiles marcando as horas tu soffres ;

Runica alegria
(.^ue d'alli sahia
fcni dobresons dos sinos a tocar;
e
Aífiictos gemidos,
Suspiros sentidas
Em choros doridos;
São os sinos a dobrar os destinos:

r3os sinos, sinos, sinos, sincH, sinos


Nos toques e sons dos sinos tangidos.
1 1 58 ??y'Íj^ MICHAELENSE

CMROMlCfl MISTORICa
GASPAR FRUCTUOSO e ERNESTO DO CANTO •1

1590— 1590

Os cultores das iettras michaelenses estão reunidos e emprehendem a publi-


cação da obra de uaspar FructHOso "As Saudades da Terras commemorando em
1922 o 4." centenário do nascimento dn celebre historiador açoreano.
O Senhor Rodrigo Rodrigues, por assim dizer, a alma do movimento, é um
notável genealogista e as suas investigações historieis, ainda t\ut inéditas, sobre o
periodo quinhentista, são estudos preciosos que apenas podem attingir aquelles
que pjssuem os dons da paieographia e da critica, alliados a uma paciência fra-
desca e a um critério commentativo. Mas além do sr. Rodrigo Rodrigues tem o
auctor das -Saudades da Terra" a trabalhar na sua obra o sr. I)r. Luiz Bernardo
e o sr. Dr. Humberto de Bettencourt, o sr. Alexandre de Sousa Alvim e o sr. José
Simas, qualquer d'elles, investigadores conscienciosos e hábeis e conhecedores da
bibliograpliia açoreana e da historia michaelense. .

A publicação de que se trata é a que diz respeito á historia da Ilha de S. Miguel


c á historia da Ilha de Santa Maria, livros que estão inéditos ainda, existindo co-
pias deficientes e incompletas nas mãos de particulares e nas bibliothecas publi-
cas; e a impressão d'esses livros é a revelação d'um mvtfio, como os esclareci-
mentos que se prestarão á vida e ao nascimento do Vigário da Ribeira (irande,
será egualmente a descoberta sobre a personalidade de Fructuoso, aureolada por
uma espécie de mysterio pertinaz que todos os genealogistas e archeologos se
teem obstinado a deixar nas trevas da ignorância, satisfeitos os que viveram depois
de 1717 a conhecer os factos notáveis (íos Açores pela historia do P." Cordeiro
que foi integralmente compilada das "Saudades da Terra quando ella era proprie-
>

dade da Ordem da Companhia de Jesus e esteve patente aos curiosos na biblio-


theca dos padres no Collegio. V,' facto que Chaves e Mello escrevendo a sua
"Maigarida Animada^ trouxe valiosos subsídios epitomaticos para a historia mi-
chaelense, que a chronica de l'r. Agostinho de MonfAlverne esclarece muitos e
interessantes factos ecclesiasticos, económicos e soriaes do século XVII e que se
acham na bibliotheca de Ponta Delgada á mercê de qualquer leitor, e que Ferrei-
ra Drummond nos seus "Annaes da Ilha terceira", encheu os seus volumes de-1

documentos e annotações históricas que interessam os açoreanos c os michae-


lenses.
A historia de Fructuoso é interessante pela bellcza litteraria de que está or-
nada, impõe-se á leitura de toda a gente pela forma como foi composta, c, ao
mesmo tempo, por ser a mais rica em detalhes, anedocticos e históricos mas a ;

sua publicação torna-se um dever social porque é a melhor homenagem de reconhe-


cimento e admiração a prestar ao maior vulto do século X\ das Iettras michaelenses.
1

Ao mesmo tempo que a obra de Fructuoso respeitante ás Ilhas de Santa Ma-


ria e S. Miguel vae ser publicada, ir-se-ha esclarecer os factos tão importantes
da vida do auctor que se deixaram até hoje desconhecidos e que tão difficeis se
tornaram para os investigadores dos nossos dias? F' o que se espera do trabalho
da commissão formada para levar a effeito a commcmoração do nascimento do
primeiro historiador Açoreano.
O
Senhor Rodrigo Rodrigues tem feito varias investidab para encontrar a fa-
mília do Vigário da Ribeira (jrande e não nos consideramos indiscretos, affirman-
do que e!Ie deve estar na boa pista. O
mesmo não podemos affirmar para as ex-
plicações a dar ao silencio sobre a sua origem que toda a gente da epocha e os
seus successores propositadamente mantiveram para não descortinar os mysterios
que o auctor das "Saudades da Terra- foi o primeiro a impor.
REVISTA MICHAELCNSÍ \]^9

Fructuoso, que faila de todos os seus contemporâneos e antecessores, nâo tem


na sua obra uma plirase. uma palavra que deixe perceber relações de família, e.
no emtanto, elle era de uma família conhecida. (Cordeiro, que veiu á Ilha um sé-
culo depois, diz que elle é filho de abastadcs proprietários agricoíasda cidade, c
mais nada e este facto parece confirmar-se depois das investiiraçõcs do sr. Rodri.
;

go Rodrigues, das coinmunicaçõcs que cllc me fez a este respeito e de um encon

Hcgis/ns Jo Dr. Gaspar Fructuoso de 1558 de Sf." Cruz da Lagoa

tro meu procurando certas escripturas e contractos de venda e .:ompra dos


princípiosdo século XVII em livros de notas de tabeliães de Ponta Delgada.
Conhecendo que a família de Fructuoso era d'appellído Ribeiro e Carreiro, e
que o nome de Gaspar Fructuoso era conservado, encontrei que o P.' Oasfiar
Fructuoso, sobrinho presumível do auctor das "Saudades da Terra", era proprie-
1160 REVISTA _ MICHAELENSE

tario no Ramalho e arrendara um corpo de terra de 38 alqueires, (notas de Ote-


gório Sanches) por trez annos á raxão de 600 reis o alqueire os dois primeiros
íiimos e 550 reis durante o ultimo; este facto toriia-se iviais interessante se dermos
ao corihefimento do leitor que outro sobrinho d'este Gaspar rructuoso, Gaspar
Fructuoso Carreiro, eleito para o cargo d'Almotacó na abertura do pelouro de 3
d'Abril (as eleições dos almotacés eram trimestraes) teve que apresentar attestado
do parocho da freguczia onde nascera como documento comprovativo de que era
maior de 25 annos para servir o dito cargo.
Se de facto como parece crer o Snr. Rodrigo Rodrigues, este Gaspar Fructu-
oso Carreiro é parente do P." Gaspar Fructuoso c também de Gaspar Fructuoso his-
toriador nós tomos a afirmação do Padre Cordeiro como certa que a familia era
de agricultores da cidade e além d'isso que a freguezia da naturalidade da sua
familia era a de Sant" Clara.
As ligações que prendem o auctor das «Saudades da Terra» á agricultura estão
mais ou menos demonstradas nas preoccupaçõfs filhas de conhecimentos muito
e muito vastos que levaram Fructuoso a i^enetrar nas investirrações cuituraes e bo-
tânicas de Santa Maria e de S. Miguel, certamente as mais interessantes de toda
a obra conjugada com as genealógicas.
A analyse ao maçapez de St." Abaria é uma fina critica de geólogo e de lavra-
dor. Elle descreve no capitulo 10.° do livro sobre a Ilha a natureza da terra solta
absorvente das chuvas, fácil de trabalhar, quando molhada, em circumstancias
normaes mas soffrendo dos rigores meteorológicos, conveniente á lavoura, suscep-
tível ao arado e ás mondas, económica no amanho, dando mais lucro ao explora-
dor em terras de p'-oducção de 15 alqueires de trigo por alqueire de terra de que
os michnelenses produzindo 20. Descreve os contratempos que soffrem os cam-
ponezes com as chuvas excessivas que os impossibilitam do uzo do arado até que a
terra seque, do outro lado mostra os nrejuizos que causam as seccas quando as
cearas não nascem resume n'esta helh phrase toda a agricultura cerealífera de
;

St." Maria, dizendo que "o lavrador vive com o sol n'uma mão e a chuva na ou-
tra, esperando em suas sementeiras estas coisas da .mão de Deus que quando é
servido dá tudo a. seus tempos». Ref^^re-se largamente á natureza das pastagens
d'azevem, balanço, trevo, trevina, milha, panaíco, grama, pampilho e sagueiro, á
abundância e proporções de gados, á excellencia do leite. Descreve as fajãs e a
prosperidade dos vinhedos e faz uma descripção farta da bahia de S. Lourenço
que é um modelo de litteratura descriptiva em todos os sentidos não só pela mi-
nudência do detalhe como pelo sentido inspirativo da região.
E' facto que se preoccupa com a nomenclatura chorographica de todas as
freguezias, que entra na historia das regiões, que descreve os cabos e os ribeiros,
os montes, as fajãs que relata os pri'icipaes feitos dos colonos; que cita as insti-
;

tuições religiosas, que analsya a propriedade, que menciona os preços dos géneros
e das coisas d'uso, e que falia das famílias dos povoadores e suas ascendências,
das estirpes do Continente, que não descura da fundação de industrias manufactu-
reiras, mas na analyse e composição dos terrenos, na lavoura e na industria agrí-
cola, com uma imparcialidade ali->z natural, elle trata d'ellas conjunctamente com
a economia social da epocha, muito detalhadamente para não deixar uma impres-
são particular a quem o lê.
Quando Fructuoso falia S. .Miguel, espraia-se nos
das erupções vulcânicas de
horrores dos cataclismos, mas os seus effeitos é na parte agrícola e nos estragos
infligidos á terra por clles que elle mais nota e descreve o que foram essas terríveis
catastrophes que soffreram os primeiros povoadores michaelenses.
As terras a tanto custo analysadas, cubrem-se de cinzas e de lavas e com que
cuidado elie estuda a altura das camadas de matérias inúteis lançadas pelos vulcões
sobre a fecunda terr.i dos concelhos da RibeiraOrande, Povoção, Nordeste e Villa
Franca, e os trabalhos a que se tiveram de dar os camponczes para a restituírem
novamente á anterior productividade.
REVISTA MIClhIAELENSP 1161

O Padre Cordeiro deixou na sua Historia Insulana bellas paginas sobre o as-
sumpto que em f-"ructuoso está muito mais bem estudado c onde o leitor terá cm
breve uma pessoal constatação do facto; eu apenas chamo a sua attenção para
isso e volverei as minhas considerações sobre a historia michaelense que constam
da chronica d'hoje.
O Doutor Ernesto do Canto fez repctida^ dili.<>encias para entrar no conhe-
cimento da vija de Fnictuosc e encontrou vestígios da passageiu do historiador
pela Universidade de Salamanca, trabalhou nas copias existentes e mesmo no ori-
ginal de que esteve na posse, certamente que investigou a sua asc.mdencia genea-
lógica e encontrando sempre o mysterio em volta de si e luctando com difficul-
dades por serem raros os registos parochiaes á data do nascimento do homem,
deixou a resolução do problema de lado pelas múltiplas incognitis com que se
apresentava até que qualquer feliz acc^so o levasse a pista segura, c|ue ao que
penso também não encontrou, pois não se vê nos seus manuscriptos e notas qual-
quer indicio d'isso.
Se (iasn\r -'ructuoso escreveu uma historia açoreana muito do caracter social
como convinhi d sua orientação de chronista, noi moldes dos chronistas do tem-
po como Gaspar Corrêa, Diogo do Conto, João de Barros e tantos outros, regis-
tando os fa :i:5s ao meímo tempo que fixava 03 acontecimentos ligados com as
expedições marítimas e os inícios de colonisação o mesmo critério para a forma
;

não presidiu aos trabalhos do Doutor Ernesto do Canto que foi a pessoa que depois
de Fructuo.o cjm mais erudição e trabalho se dedicou á historia aç )reana. Já fal-
íamos de Er. Agostinho de MonfAlverne, de Chaves e Mello e de Cordeiro que
referindo-se a) século XVH em obra particularmente differentes escreveram sobre
factos e coins do s.ni (empo; Borges da Silva no principio do século XIX também
se dedicou a assumptos econoiuicos, demograpliicos e que se prendiam com a
sua carreira e mister d'engenharia em cuja missão viera aqui ter; depois de 1837
é na impreníi periódica que 03 investigadores terão que ir prociirar assumpto
para qualquer trabalho ou elucidação a qualquer esclarecimento; vêem os folhe-
tos, as put)!íca;:ões políticas, depois, com outras publicações, algumas revistas e
almanachs; até que Eranrisco .Maria Supíco funda a Persuasão' ou jornal d'in-
formação com secções históricas, redigido com um critério superior, [untára-se
elle a um grupo de litteratos novos de que fazia parte o Dr. Theophilo Braga, The-
ophilo Eerieira c José de Torres e que, cultivando as obras de ficção, no roman-
ce, na novolla e na poesia, conduzindo-as i.iela senda da historia quanto possível,
mais 011 menos na orientação do f^ead Cabral que fora o fundador da eschola e
o mais fecundo dos escriptores do seu tempo: oppunham-se a oulio movimento
dos economistis agrários agrupados em volta da Sociedade Propagadora de Agri-
cultura Michaelense, da qual sobresahia como mais activo trabaliiador José do
Canto
Esses grupos esmoreceram com a partida d'um para Coimbra, entre os gru-
pos de litteratos de fic;ão; nos economistas pela extincção do órgão da Socieda-
de que era o .Agricultor Micliaelense» e ficou Supico sósinho na imprensa periódi-
'•

ca a trabalhar na historia michaelense.


Ernesto do Canto, porem, era o homem que mais se dedicava e de que mais
tempo dispunha para investigações archeologicas alliando dotes que poucos reú-
nem no seu caracter e depois de profundos estudos, de ninnerosissimas notas, de
absorventes leituras em archivos religiosos e civis decidiu cm 1878 fundar uma
imprensa própria e imprimir uma publicação periódica do caracter da revista de
estudos históricos que se chamaria «Archivo dos Açores .

Se alguém estava nos casos de lançar uma empreza d'este vulto era Ernesto
do Canto, senhor de meios avultados e d'uma bibliotheca numerosa e rica em
obras raras, tendo-se dedicado ás questões politicas, administrativas e econoini-
cas desde muito novo, e com numerosas e dedicadas amizades nos meios de Lis-
11(32 ^f^VISTA MIÇHAELENSf

boa e Capitães das Províncias a quem seria necessário recorrer frequentemente


para buscas nos Archivos das Bibiiothecas locaes e nacionaes.
O "Arcliivo" foi de facto uma publicaçSo que de interesse sempre crescente
trouxe para a historia açoreana magníficos documentos.
José de Torres reuniu muitos elementos para uma erudita confecção de liis-
toria açoreana, mas não só os seus trabalhos são da muito menos valor histórico,
como a sua orientação era muito mais limitada e falta de grandeza.
Conheço certos planos e notas que identificam qualquer curioso sobre as in-
tenções do bibliophilo n'essa collecção de manuscríptos e livros chamada as Va-
riedades Açoreanas; o quanto esta é interessante e valiosa são fracas as tentativas
do auctor que se acham n'elles esparsas. Querendo fa/er a ch.onica das desco-
bertas cae em Fructuoso; emprehendendo a choroytaphía cnlcia-se e com muito
menos brilho nas descrípções outra vez do Vigário da Ribeira Granje; elle tem
muitas e detalhadas notas sobre as epochas posteriores ao 1." Iiistoriador das Ilhas
mas estão tão desligadas, a:ham-se escriptas por uma forma tão citativa ou des-
criptiva que pouco deixam transparecer uma coordenação dirigida n'um plano in-
teressante e de alto valor intellectual.
O mesmo não acontece no Dr. Ernesto do Canto que deixando uma obra
superior em repertório de documentos que foram os seus 12 volumes do «Archi-
vo dos Açores», reuniu nas suas notas, nos seus manuscriptos, nos seus aponta-
mentos e nos seus extractos, uma vastissi'iia collecção variada e desconnexa, mas
para aquelles que a compulsam restringida a um programma que se manifesta
constantementa nos mais pequenos incidentes que n'ella se encontram.
Vejamos o que se depara na obra do Dr. Ernesto do Canto :

F.stava perfeitamente assente na historia dos descobrimentos portuguezes que


das viagens para o novo mundo e regiões septentrionaes ficara a Portugal não só
o devido 'ugar glorioso que lhe cabia como o proveito c explorações das passa-
gens maritinv:!-. muito abundantes em bacalhau; os normandos, os bretões, os in-
gltzes e depois os hollanciezes, e mesmo os hespanhoes entraram n'essa aventura
com benéficos resultados para as industrias pesqueiras dos seus paizes; mas, se bem
que de toda a actividade expedicionária para as longiquas expedições nos ficasse a
nós portuguezes a memoria da designação dos principaes nomes por que eram conhe-
cidos as principaes partes chorographicas da Terra Nova, Costa do Lavrador, ilhas
e cabos, bahias e rios, ficaram aos povos do norte as tradições da exploração da
pesca e mesmo diga- se um pouco para vergonha dos nossos chronistas e dos nos-
sos historiadores a fama da descoberta da região do novo mundo ou terras novas.
A explicação d'estes factos talvez esteja na attenção muito viva que presta-
vam os portuguezes ás relações com a Ásia e communicações com o oriente pela
Africa, ao passo que as tradições dos povos do norte os impelliam para as regiões
septentrionaes cujos vestígios históricos se demonstravam não serem lendas na
lilteratura escandinavica. Parece que no século VIII depois de 770 a Oroelandia es-
teve já povoada de christãos e a chronica do pastor Cláudio Christophersen, assim
como um breve de Gregório i\' dirigido a Anscario, Arcebispo d'Ilamburgo sobre
Grandadou (Terra Verde) attestam as explorações dos Islandezes para os ma-
res austraes. A
historia da Groelandia por David Cranzo (Nurembergue 1782), as-
sim como a Descripção e Historia Natural da Groelandia por Eggede relatam que
um tal Snr. norueguez Farwil que se refugiara na Islândia perseguido p°Is justi-
ça do seu paiz deixara um filho Érico que navegara para essas terras avistando o
cabo de Heriolf, reconheceu a costa do sudoeste, invernou n'uma ilha junto a A-
bra, a que poz o nome de Hericsund. D'essas explorações resultou dois ânuos
depois seguirem 25 embarcações e começarem a colonização com certa actividade
até que por volta de 1406 nunca mais se fallou na colónia retirando-se a pouco e
pouco os colonos por causa dos gelos e dos intensos frios que tornavam a vida in-
supportavel. Snono Sturlesson que escrevia em 1215 foi oprimeiro que na chro-
nica Islandeza se refere largamente a essa colonização que teve a maior intensi-
Rg>/1STA_ MICHA EIEKSE 1163

dade nas terras da costa oriental— a mais perto da Metrópole,— onde ainda hoje se
verificam ruinas d'iima civilização em paite submergida pelos gelos. Ai tradições
porem estavam bem arreigadas á historia marítima dos Islandezes e dos Escandi-
navos e ainda em 1533 o bispo suffraganeo de Roschiid ainda se intitulava Bispo
da Groelandia.
A viagem dos irmãos Zenos, venezianos, sem resultados práticos nem econó-
micos, serviram talvez para explicar quão difficieis eram as viagens paia essas terr-
as e quão improfícuas se tornariam as repetições das explorações para ellas.
O silencio votado durante séculos a essas Terras Verdes, como lhe tinham
chamado os primeiros exploradores islandezes, se é que essas Terras Verdes fos-
sem a Groelandia, com as viagens dos Cortes Reaes, vieram outra vez para a pre-
occupação das Cortes que dos seus erários prestavam activos auxílios aos navega-
dore da epocha, aos industriaes e aos commercíantes, em execução de program-
mas políticos de progresso e dtsenvolvimento de riqueza publica. E ainda hoje
confusas ideias que existem na historia dos descobrimentos, conquistas e pescas
entregam aos inglezes e francves a exploração dos mares septeucrionaes e mesmo
as primeiras descobertas do fim do século XV; ao passo que deixam aos portu-
guezes o papel de nomencladores nas pessoas de Gaspar e Miguel Côrte-Rcal.
Existem, no emtanto, documentos portuguezes que demonstram que João Vaz
Corte- Real foi o primeiro que esteve no Novo Mundo antes de 1474, e outros que,
com testemunhas de inglezes e normandos provam que durante o século XVI os
portuguezes concorreram nas Terra; Novas conjunctamente com os pescadores dos
outros paizes que se aventuravam á industria do bacalhau.
Aveiro e Vianna do Castello eram portos armadores para essas pescas, e no
meiado do século a primeira dVstas cidades mandava para os bancos da Terra
Nova cerca de 150 caravelas, segundo António d'0!iveira Freire na Chorographia
Portugueza (tomo 11.") e o alvará rcgio citado pela primeira vez no tomo l\' das
Memorias Econouiicas da Academia Real das Sciencías por Constantino Botelho
de Lacerda (pag. 338), no qual se dizia que Diogo Brandão fizesse arrecadar pe-
los officiaes da Alfandega o dizimo do pescado da Terra Nova por estarem parti-
culares na posse d'um privilegio que a cóite não queria conservar, alvará que é
datado de Leiria aos 14 de outubro de 1506, são factos comprovativos de que os
portuguezes não tinham abandonado os mares septentrionaes nas explorações ma-
rítimas e commercíaes.
iWas entremos na explicação das razões que levaram os historiadores a excluí-
rem o? portuguezes da gloria que lhes cabia no descobrimento e na exploração da
pesca, quando as cartas geograptiicas e ptirtulanos do século XVI trazi?ni as lo^gi-
quas regiões novamente abordadas por europci.s, ch-ias de roni'^3 portur'iieze'?.
Excluo d'esse? documentos cartographicos o celebre mappa de La.Tarc Liiz
de 1563 (na Academia das Sciencías) por ser feito por um portuguez, n-asmo
porque outros extrangciros nos restam muito anteiiores a este: a e.liçãó de Ptolo-
meu por exemplo, impressa em Roma em 1508 traz o mappa d;. Terra N^^va com
o nome de lerra de Corte-Real e chama a varia; ilhas Os í)emonios O Theatrum
;

Orbis Tcrrarum de Abrahão Ortelius, impresso em Antuérpia em 1571 também lhe


chama Terra dos Corte-Reaes e traz o Rio Nevado, Bahia da Serra (Tirdson) Rio
das Tormentas, c, m.ais para o sul a 43 graus, a Ilha Redonda, a 47, a Ilha da A-
reia, e a Ilha dos Cysnes; em 1544 a chorographia de Sebastião de Munstor edita-
da na Basileia lá traz para a Terra Nova— Terra dos Cortcrrati (sic).
As primeiías informações d'esta natureza, creio, de que ha noticia são as do
embaixador de Veneza na cone de Portugal, Pedro Paschoal, de 20 de outubro
de 1501, publicadas em 1507 n'uma collecçâo de \'iagens por Francuzano Monta-
baldo, na qual se refere ao? pormenores da viagem dos Corte-Reaes percorrendo
a costa na extensão de 800 milhas, não proseguindo as investigações mais adean-
te por causa dos gelos, trazendo de iá 57 indígenas; e Ranumsio em varias par-
tes das suas obras cita os nomos deixados pelos Corte-Reaes transcrevendo egual-
1 1 64 REVISTA MlCHAEl ENSE

mente detallies da exploração e referindo-se ao cabo do Gado, Rio Nevado e mais


para o norte o porto de Walvas e no mappa da costa do Lavrador colloca-lhe o
nome dos Corte-Reaes, ao pé do qual põe a Illia da Boa Vista, a Ilha dos Bacalhaus
e o Monte do Trigo.
Alem d'isto é um facto averiguado que ao Canadá foi-lhe posto o nome pelas
expedições portuguesas que, como querem uns, subindo o rio S. Lourenço se acha-
ram em uma canada, ou como querem outros, procurando minas auriferas não
encontraram nada deixando portanto a um lugarejo habitado na margem erquer-
da do S. Lourenço na confluência do actual Sagusnay o nome de cá nada como
quem dizia que alli não havia nada de oiro: e outro facto não menos verdadeiro
que o actual cabo Raz, c uma corrupção de Cabo Raso e a hahia de St. John é
o nome inglez de S. João.
Quanto aos vestígios da pesca portugueza na Terra Nova testemunhos d'ex-
trangeiros affirmam aquiilo que os escriptores modernos parecem desconhecer. João
Rut encontra, segando o historiador Harrisse, a 3 de .Xbril de 1527 na baliia de
S. João, barcos portuguezes ; João Verazzani, florentino que servia Francisco 1 de
França, nas suas relações de viagem de 1525, diz que bretões e normandos che-
gados áquellas paragens em 1504 para pescarencontraram os portuguezes estabele-
cidos e o mesmo americano larrisse, que escrevia o seu livro das viagens dos
;
I

Corte-Reaes, quando o Dr. Ernesto do Canto escrevia a sua memoria sobre os


mesmos, trancreve o relato de Hakluyt sobre as brigas que tivera em 1581 a
equipagem de Roberval com as tripulações dos barcos portuguezes. Hakluyt que íoi
quem em Inglaterra, nos estudos universitários, iniciou o ensino orienta Jo de geo-
graphia theorica, traduziu do porfuguez o livro de Duarte Oalvão e esteve etn
França batendo os archivos e colleccionando elementos para fazer hi^toria das des-
cobertas para o Novo A\undo.
A historia de Harrisse, que por falta de documentos não reconhece a desco-
berta das terras septentrionaes a João Vaz Corte-Real, é comtudo pródiga nas ci-
tações demonstrativas que coivfirmam a mfluencia que tiveram os Ct)rte-Reaes fi-
lhos d'este e açoreanos representantes de seu pae na capitania da Terceira, r,a no-
menclatura chorograpliich das novas Terras, tendo lido ecompulsado os historiado-
res allemães, o que não fez o Va. Ernesto do Canto, como o mappa mundo de
Ruysch, a carta portugueza dos archivos militares de Munich, Endecking America's
(Munic'l85Q) de Kunstnian e tantas outras obras.
Ora, como já fic^ u dit", a influencia portugueza na nomenclatura chorogra-
phica d'áquellas terras, era deviíia ás viagens dos irmãos Gaspar e A\iguel Corte-
Real; (iaspar sahira a primeira vez de Lisboa com uma nau no verão de 15C0,
abordando á terra chamada Verde por se ter n'ella achado como nas tradicções
dos viajantes Escandinavos uma abundante vegetação e da qual existem documen-
tos da epocha sobre a vida dos indígenas e dos locaes principaes; c voltou
para o Reino onde se preparou para outra expedição que sahiu do lejo a 15 de
maio do anno seguinte e que foi a primeira das catastrophes mais notavelmente
impressionantes da epocha, pois que do navio em que ia nunca mais se soube nada;
Miguel sahiu em procura de seu irmão aos 10 de maio de 1502 e teve a mesma
sor'te, não voltando mais que uma das duas naus que
levara á empreza. D.Manuel,
que desde infante se afeiçoara muito aos dois fidalgos que eram da sua casa, sen-
tiu profundamente o desapparecimento dos infelizes exploradores e mandou em

sua procura 2 outras naus que os não encontraram, e seu irmão mais velho, Vas-
queanes, depois do insuccesso da expedição mandada por D. Manuel também quiz
abandonar as suas funcções de vedor da casa d'EI-Rei para ir procural-os, mas
D. Manuel oppoz-se a isso.
Estas explorações dos Corte-Reaes conhecidas e trazidas a lume por tantos es-
criptores não só entregaram as descobertas das regiões do Novo Mundo a Colom-
bo, a Américo Vespucio e João Cabot, como depois a dominação das pescarias
aos inglezes, normandos, bretões e mesmo biscainhos ás quaes os escriptores moder-
REVISTA MICHAELRMSE \\()0

nos extrangeiros não associam a actividade dos portuguezes, querendo ver mesmo
no com.nercio do bacalliau do norte de Portiio;al, os in.aíiezes, qn.' par.i alii o le-
vavam depois das viagens cahotinis emprehendidas pelos filhos de Sebastião Ca-
bot. Os franee/es com a expedição de Cartier ao Canadá tambeui marcavam a
posse da região abandonada com o insuccessso das explorações dos Corte-Reaes.
Parece um facto averiguado que a. salg:is eram urna industria dos pescadores
do norte e Guilherme Bucheloz flamengo da llollanda ten o seu lugar marcado
como o iniciador daexportação do arenque e mesmo a fnr-ma da conservação do
peixe nc norte da làiropa em MK). I:'i;iesmo citada a phrase de Cailos V quan
do visitou a sua sepultura dizendo que elle tinha sido mais útil á sua pátria pela
riqueza que lhe tinha trazido que se tivesse conquistado uma provmcia.
Mas a industiia exutia em I'ortugal e o commercio do peixe salgado fazia-se
por portuguezes, como deixamos dito aí;;iz. Não erai;i os irmáos Corte-Reaes que
a tinham á sua conta nem disso retiravam proveito ou beneficie pecuniário, leriam
talvez sido os iniciadores, descobrindo os bancos, mas a sua morte trágica não
lhes permittiu proseguirem nas cxiMorações. Para esclarecer pois e justificar o no-
me de Terra Nova e Costa do Lavrador á iniciativa dos Corte-Reaes faltava de-
monstrar que a descoberta dessas torras era' uma descoberta portugueza, o que
muito vagamente andava no es|">into dos nossos litteraíos e historiograplios.
O Padre Cordeiro, que public).! em Lisboa a sua iiistoria sobre os Açores,
em 1713, referia-se r'ella ás cartas da? di-as capitanias da ilha Terctira dadas a
João Vaz Corte-Real e Álvaro Martins Homem em Mbt (1) como recompensa de
terem os dois navegadores descobeito a terra do ba:alliau; esse facto que preoc-
cupou muitos escriptores postcrioií-s e entre elles nos princípios do século XIX ao
membro da Acadamia Real das bcieucias, Sebastião Francisco Mendo Irigoso que
se tornou notável pelo seu ensaio sobre os descobrimentos e comme?cio dos Por-
tuguezes em as terras síptentrionaes da America, lido n'uma sessão publica no
anno de lSi3, veiu mais ou menos obsc iro, até aos nossos dias, até que o Snr.
Dr. hsnesto do Ci.ito, que já desde a fundação do Archivo dos Açores» se vinha
<

occupando particularmente dos Cortes-Reacs, publicando documentos, se decidiu


a servil-os n'uma monograpiíii em que ficaram dem jnstraJas as explorações ma-
rítimas do pae dos infelizes irmãos Corte-Reaes antes da d.iti da concessão das
Capitanias da Terceira que não foi a de 14Ó4 como diz Cordeiro por erro de co-
pia ou impressão na sua histoiia, mas sim de 1474.
O D:. Ernesto do Canto, que tivera compulsado as "SiuJades da Terra» de
hructuoso, verificando que era verdade a transcripção de C^ordciro, e que, porian-
to, não era uma phantasia a tal recomoeisa de serviços peia descoberta da terra
do bacalhau, a concessão das duas Capitanias da lerceira, aos d,)is n.ivegadores,
remecheu archivos, leu manuscríptos, CuniegLii não só pôr a lume da publicida-
i

de a genealogia da íamilia dos Corte-Re.ies, ,nuito indecisa em 1-ructuoso, como


determinara personalidade apagad.i, como marinheiro, ao Capitão Donatário da
Tcceira cuja historia estava escripta quanto á sua vida como Seniior da Colo-
nização da Ilha. Um manuscripto da liibliotheca Naci tnal de Lisboa de jacintho
Manso de Lima pol-o em posse do primeiro testamento de João Vaz feito na Ma-
deira aos 17 dl- Setembro de 1494 e d) segundo datado de Angra de 3 de feve-
reiro de 14QÓ; João Vaz andava ainda em viagens apezar de não estar longe dos
seus últimos dias p jís que morreu n'es5e anno mesmo aos 2 de julho; eram seus
filhos Gaspar e Miguel que se occupavam então da coionisação e concediam ccs-
marias como capitães; outros docament )3 sobre coiicessões regias no Algar-
ve, onde Vasqueanes era Alcaide Mór de Tavira por direito de hercditari:ddde
auxiliaram-no n'outrdS invesligaçõ •; genealógicas. O Doutor Ernesto do Canto
remonta então as suas investigações genealógicas á fimilia que teve a sua origem

(I) l:' erro do Fadrc Cordeiro, como cIciiiMistrou o Dr. V.uk^U, d. Cjiuo hl. -XícWuj ^.j=
Açores».
\ 1 60 REViSTA MICHAELENSE

na Peninsuia n'utn Raymão da Costa, cruzado trance/, que ajudou Affonso Hen-
riques a conquistar Lisboa, segundo Fructuoso, e detalha a personalidade por
citações documentadas do esforçado cavalleiro Vasco Annes da Costa, companhei-
ro d'armas de D. ]oão I.", que foi o primeiro que usou do nome de Corte-Real.
hste Vasco Annes, segundo D. António de Lima e outros genealogistas, vivia com
grande fausto no Algarve, onde tinha os titulos de Fronteiro Mór e alcaide Mór
de Silves e Tavira e por isso se appellidou de Corte-Real. Foi um dos pri-
meiros a entrar em Ceuta cm 1415 com o infante D. Duarte e na assembleia dos
notáveis que prestaram juramento de fidelidade ao Mestre d'AviS: reu«ida em
Lisboa aos õ d'outubro de 1384 esteve presente, representando Tavira, o que ser-
viu de base ao auctor do "Archivo dos Açores^ para demonstrar que a essa data
elle teria 25 annos feitos. Sem querer entrar em mais detalhes sobre essa família
de guerreiros e depois navegadores, nem mesmo proseguir nas referencias que fez
o Dr. Ernesto do Canto sobre este ousado cavalleiro, que instituirá na família o
appellído de Corte-Real e que parece ter sido um dos 12 que foram ao torneio
d'lnglaterra ;
proseguiremos no nosso relato sobre historia açoreana e tratare-
mos de explicar eonio o Dr. Ernesto do Canto veiu a escrever a sua monogra-
phia dos Cortes-Reaes; elle que dedicava o melhor do seu tempo á leitura de
documentos e á annotação d.^ factos que formariam essas solidas bases da gran-
de obra da historia açoreana. Foi decerto ao Dr. Ernesto do Canto uma sortida
inexplicável para quem conheceu o seu caracter perseverante c methodico, e a re-
ctidão dos seus princípios fieis á missão que se impunha, apezar de elle o expli-
car na íntroducção do livro publicado em separata do ^Archivo- em 1883. Algu-
mas cartas publicadas no "Archivo dos Açores» (n." 76) de 1Q20 pelo Coronel
Francisco Affonso de Chaves e que datam de 1875 a 1877, dirigidas ao seu ami-
go e erudito investigador jorgense o Dr. João Teixeira Soares esclarecem o as-
sumpto.
Tratava-se da publicação do tratado das Ilhas Novas escripto por Francisco
de Sousa e que se julgava perdido no terremoto de Lisboa; existiam porem umas
copias dispersas pelas bibliothecas dos conventos que foram parar, i)or occasião
da extincção das Ordens, á bibliotheca de Coimbra, onde o Dr. Teixeira Soares,
tendo conhecimento d'e8se facto, as mandou copiar; o relato que consta d'uma
serie de descobertas d'iihas que nunca tinham existido, encerrava comtudo alguns
factos verdadeiros, depois demonstrados por achados de documentos nos
archivos de \ ianna do Castelio, que João Alvares Fagundes estivera na Terra
Nova em i520 e tantos; a descoberta do manuscripto não Xrnha. grande valor mas
as investigações que se seguiram genealógicas e que determinaram a famillia e
descendentes do naveg.idor ao mesrr.o tempo que se encontravam os documentos
que demonstravam ter-lhe si lo dada a Capitania da Terra Nova poderiam dar alguma
luz a investigações sobre as pescarias. Era um principio e nada sabemos do que o
Dr. joào Teixeira Soares tinha coordenado em notas para laboração de uma me-
moria sobre os Cortes-Reaes porque emquanto a preparava falleceu. Foi mais feliz
o americano Henry Harrisse com quem se correspondera algum tempo o Dr. Er-
nesto do Canto qur no anno precisamente em que sahia a Memoria Histórica em
Ponta Delgada publicava "Os Cortes-Reaes e as suas viagens ao Novo Mundo».
Não tendo o tratado esclarecido mais do que a genealogia dos Fagundes de
Vianna porque a tradição ainda conservava a passagem de João Alvares por aquel-
las paragens, como o demonstra o citado mappa de Lazaro Luiz de 1563 dando
como legenda á erra do Lavrador «descoberta por João Alvares» e ao largo, en-
I

tre 48 graus e 49, uma ilha com o mesmo nome que n'outros mappas apparece tam-
bém com a designação de Fagunda o Dr. Ernesto intentou ^tão escrever sobre
;

os Corte-Rraes para deixar reunidos os resultados das suas eruditas investigações


pelos archivos que fizera pessoalmente e nas também executadas pelo general Bri-
to Rebello a seu pedido nos archivos nacionaes em Lisboa.

Os resultados que se podiam esperar para a ampliação da historia das pesca-


tEVISTA MICHAfLENSC 1167

rias com a publicação do Tratado das Ilhas Novas, dariam egualmente aso, com a
edição da Memoria sobre os Corte-Reaea, para mais amplas investigaçães nos ar-
chivos de Portugal sobre a descoberta das terras septentrionaes que parecem te-
rem indiscutivelmente sido abordadas peia primeira vez por João Vaz Corte Real.
Mas a quest;lo interessava duplamente o Doutor Ernesto porque ella compre-
bendia a demonstração da velha theoria histórica que descobertos os Açores esta-
.* va não só estabele-
^S^- ^v vVki ^^^*vV o^^ <Wi_)|(v '

cida a base para as


ex^plorações mariti-
mas atravez o Atlân-
ticocomo depois de
descoberta a Terra
de Santa Cruz, o ca-
minho para a Índia
pelo Cabo da Boa
Esperança e a parte
norte do Novo Mun-
do, ás Ilhas estava
destinada a missão
de prover as arma-
das que se dirigiam
hf para o Ultramar ou
que vinham de volta
-A<-c para Portugal.
íílS?' Os Açores ti-
nham sido a guarda
avançada para as
vC descobertas da Ame-
rica e o Dr. Ernesto
quiz deixar n'esse
sentido um trabalho
que o demonstrasse
ajuntando a sua col-
laboração á de tan-
tos outros escripto-
res portuguezes que
jáo tinham tentado
em variados e repe-
tidos escriptos.
Se a viagem á
terra Alta em
1417,
como queria o Vis-
conde de Santarém,
era o inicio das ex-
plorações para alem
Pagina dos documentos em que se encontra a declaração de Chomarro
do Cabo Bojador e
sobre a sua viagem com João Fernandes o «Lavrador^
o caminho para o
Oriente, a descoberta dos Açores em 1432 também foi o iniaio de vastos empre-
hendimentos que depois occorreram; e a estada nos Açores de Vasco da Gama,
de Martim Affonso de Sousa, de Pedro Alvares Cabral, de Colombo, de Américo
Vespucio e de tantos outros, provam que raras eram as expedições em que nâo
tocassem as armadas em Angra ou em Ponta Delgada sobretudo na volta quando
as tripulações vinham sequiosas de terra e muitas vezes com escassez de provi-
sões e \iveres.
Quem lè as ''Lendasdalndia\ de Gaspar Corrêa, encontra frequentemente ves-
1

1 68 «r.yjsTA michaelense

tigios d'essas aguadas nos Açores. O "I ratado das Illias Novas« com a serie de
mentiras e citando ilhas que não existiam no Atlântico é talvez um documento
curioso para se avaliar das preoccupações de certos escriptores da epoclia que se
deixavam levar por correntes d'opinião que se formavam com o fim de incitar os
navegadores a proseguirem nas suas explorações pelos mares, e esses boatos cor-
reram até ao fim do século XVll e mesin.i no século XVlll, mais attenuados, é cer-
to, mas com a mesma insistência por certas pessoas fáceis de se suggestionarem e
de se arreigarem a uma crença.
Outra extravagância do l)r. Ernesto com a publicação da «.Memoria dos Cor-
te keaeS'' foi entrar na historia di familias, ou digamos melhor, deixar as investi-
gações da historia de ciracter gerai para entrar em detallus de historia genealó-
gica; aindi que uma importante parcella dos seus trabalhos fossem dedicados ao
estudo genealógico de que deixou com o Doutor Carlos Machado um manuscri-
pto imp^ortantissimo; estas sortidas eram fugazes na generalidade da sua obra con-
sagrada á sociedade e aos interesses administrativos.
Ernesto do Canto avaliava como ninguém do alcance do conhecimento dos
pequenos detalhes dos papeis judiciaes ou dos archivus de familia com o qual c!-
le esperava levantar o grande monumento á historia da ilha de S. Miguel; os co-
nhecimentos principaes que elle adquirira tinham vindo d'essa nascente abundan-
te em tão vasta quantidade como aquelles que elle bebera nos arcliivos públicos;
e um dos achados de que elle mais se regosija na sua vida d'investigadore historio-
grapho é uma declaração citada por um seu nono avô Pedro Annes do Canto da
Terceira n'um d'esses manuscriptos tabelianescos dos primeiros annos do século
XVI escripto n'uma horrível lettra gothica profusamente cortada de rabiscus e
complicada por abreviatura^ em que litigiosamente se reivindicam direit:>s a certas
propriedades na lliia Terceira.
Eram passados 10 annos sobre o apparecimento da Monographia sobre os
Corte Reaes, e elle achava outras provas de que não só os,açores tinham sido guar-
da avançada para as viagens para o Novo Mundo, como as Ilhas estavam ligadas
ainda mais com a empreza e que d'ellas, antes dos filhos de João Vaz Corte Real
se terem perdido nos mares septentrionaes, mais viagens se tinham emprehendido
para esses mares e essas longinquas regiões.
Pedro Annes do Canto tinha herdado no lugar das Quatro Ribeiras da Ilha
Terceira certas terras sobre as quaes tivera havido longos e morosos processos
entre varias partes que se disputavam as propriedades.
Certas sesmarias tinham sido concedidas pelo Ouvidor .\ffonso do Amaral cujo
cargo era o de promotor das justiças n'essa epocha e que foi conservado mesmo
depois de 1503 da nomeação do primeiro corregedor, com uma alçada do Juizo
geral ou de 2." instancia. Affonso do Amaral servira pois de Ouvidor e provisoria-
mente de Capitão em substituição de Diogo de Teive que Jacome Bruges levara
da Madeira comsigo como auxiliar e para na sua ausência servir de seu substituto
na Capitania; e dera certas sesmarias a mais pessoas no sitio das Quatro Ribeiras
e entre ellas umas roças de biscoito que levariam de 14 a 15 moios de semeadu-
ra de trigo a um tal Rodrigo Chamorro que egualmente obtivera outras sesmarias
de Antão Martins e Luiz Annes o grande».
A referida roça que era uma das propriedades das demandas que se tinliam
apresentado em 1508 com outras concedidas também por sesmarias entre 148Ó e
1488 e reivindicadas por Pedro de Barcellos estavam no processo com uma decla-
ração de Chamorro explicando como a tinha abandonado recebendo uma ordem
de João 11 para seguir em descobrimento de terras com um João Fernandes o La-
vrador, voltando 3 annos depois e encontrando os seus parentes fora da proprie-
dade e n'ella os filhos de João de Valadão.
D'este achado do Dr. Ernesto se conclue que continuavam as explorações
para regiões longinquas como provavelmente era João Vaz Corte Real quem as pro-
REVISTA MlCHAELENSE 1169

se.iíiiia dos Açores, como atraz ficou dito quando nos referimos ao seu testamento
feito na Madeira.
íí' que o "Arcliivo dos Açores está semeado de documen-
facto incontestável
tos particulares, masdocumentos representam recompensas de serviços e
esses
outras mercês e indirectamente se ligam ao programma de historia adoptado para
o Arcliivo e que tinha por base a reproducção de documentos.
As obras raras que fallavam nos Açores mereciam-lhe grande attenção e elle
publicou excerptos d'umas, traduziu capitules d'outras, e reproduziu na integra cer-
tos relatos cuja edição se achava completamente exgottida ou de manuscripto
único. Pequenas monographias foram também publicadas, por escriptores abalisa-
dos, mas a base e grande copia de trabalho inserto nos 12 volumes do Archivo
por elle editados são documentos dos archivos municipaes, das Alfandegas e dos
archivos nacionaes de Lisboa respeitantes aos Açores.
As investigações genealógicas eram guias para as identificações das indivi-
dualidades citadas em documentos, como são outros trabalhos inéditos e ainda
autographos e manuscriptos sobre índices de livros municipaes e da Alfandega,
copias de Fructuoso que se acham na Bibliotheca publica, extractos de documen-
tos, documentos authenticos, papeis avulsos, notas, c os catálogos que o historia-
dor publicou com o titulo de Bibliotheca Açoreana, onde vêem lançadas obras
referentes aos Açores e aos auctores que d'ellas se occuparam.
firnesto do Canto nunca coordenou os seus apontamentos nem iniciou a em-
preza de uma historia açoreana ou michaelense; quem comtudo tem compulsado os
seus trabalhos inéditos facilmente se esclarece e acha um filão a um tratado his-
tórico, senão dos Açores, da Ilha de S. Miguel, e encontra consubstanciosos as-
sumptos para elle. O que poderia ser uma historia michaelense tratada pelo Dou-
tor Ernesto do Canto? Uma minuciosa resenha commentada de factos em que des-
de o regimen da terra, ao systema dos impostos e contribuições, passando pela
acção administrativa dos org:Miismos municipaes nada escaparia para demonstrar
a orientação económica que sempre presidiu aos administradores públicos para
elevar a civilisação insular a um crescente progresso de costumes e de moral; e
como essa resenha seria rica em detalhe para demonstrar os processos honestos
e criteriosos dos nossos antepassados nos actos governativos e de execução fa-
zendaria; os zelos e previdências sociaes resaltariam da ordem que se mantinha
na vigilância do trabalho assim como nos faustos populares; e como força centrí-
fuga, os philosophico; e transcendentes sentimentos religiosos a consolidar as
crenças justiceiras nas relaçõ -s da collectividade, collaborando com as auctorida-
des civis na grande obra do trabalho e da expansão das riquezas.
Folheie o leitor esses volumes do archivo, procure no indice do X." volume os
assumptos tratados na obra e verá a multiplicidade dos documentos publicados e
a enorme diversidade d'clles; as obras nas egrejas durante o século XVIII, o pe-
ríodo florescente das artes; a fundação dos mosteiros, a creação básica da previ-
dência social e moral em fins do século XVI e príncipios do século XVII; as con-
cessões de sesmarias e seus processos judiciaes, a colonisação; as Cartas de Do-
natários, o governo; o estabelecimento dos dizimos, a organisação dos impostos e
contribuições; os regulamentos alfandegários, o systema fiscal e fazendario; a
transcripção d'estatisticas, a economia publica; os catálogos e notas das entidades
governativas e episcopaes, a biographia; os relatos sobre os acontecimentos mais
notáveis, a historia propriamente dita.
Em
todas essas publicações está a alma investigadora e erudita do sábio di-
rector do «Archivo e se traduza orientação judiciosa das tranícripções concre-
'

tizadas com a preoccupação de deixar um repositório completo que esclarecesse o


leitor sobre a historia da sua terra como o fez por uma forma tão hella Francisco
Ferreira Drummond nos «Annaes da Uiia Terceira". E positivamente quem lê os
"Annacs" e quem conhece o «Archivo dos Açores» possue noções mais positivas
— .

1170 REVISTA MICHA ELENSE

e verdadeiras sobre a historia da Terceira ou de S. Miguel, do que portuguezes


que lerem os dois volumes de historia de Oliveira Martins sobre Portugal.
N'aquelles ha a demonstração fria, imparcial, da vida da terra em qualquer
epocha; n'estes uma apreciação apaixonada por cyclos em que a admiração doau-
ctor pela expansão colonial é tão desmedida como é manifesto o seu desprezo pe-
la tendenciosa decadência que deu lugar á obra de civilisação e de progresso nos
tempos modernos e que positivamente é tão importante e admirável senão mais
do que as aventuras das descobertas e das cruzadas para o Oriente.
Todas as epochas teem as suas características impostas pelas circumstancias
em que vivem as gentes d'essas epociías; podem uns períodos entlnisiasmar mais
certos historiadores do que outros, mas é um erro e tem sido sempre nos liisto-
riadores portuguezes desfazer com a grandeza d'uns as bellezas dos outros não
menos importantes para as vidas dos povos.
E' sobretudo quanto a esta particularidade que se impõe a obra do Doutor
l->nesto e mesmo a de Ferreira Drummond, e a influencia d'essas publicações se-
rá eterna no espirito dos nossos historiadores futuros.
Não será nunca nas obras dos dois açoreanos um motivo de decadência o
florescimento das artes promovidas cm grande parte com as explorações no rei-
nado de D. João V e o desenvolvimento do Brazil com o progresso mineiro do
sul da Colónia; para Oliveira Martins esse mesmo periodo áureo das artes é uma
ruina económica nacional attendendo a que o emprego dos dinheiros do Erário
Régio eram lançados na immobiliração de capitães sem rendimento de juros, co-
mo se o defeito não proviesse dos economistas das epochas posteriores que não
souberam elevar o valor dos thesouros artísticos á altura de o tornar compensa-
dor á propriedade e portanto a um nivel equivalente a qualquer outro valor ca-
pitalisado.
Não será em Ernesto do Canto nem em Ferreira Drummond que se notarão
fraquezas de actividade nacional o facto de estabelecimento e concorrência de ele-
mentos estrangeiros collaborando na vida económica ou industrial do paiz; se el-
les não demonstram que es-
^^ ..^^
. /<-'. yuu/^g.
^
/'^'^^ í>i.-ííy ^ ,

éí.^^' .^^f.^^.^ sas concorrências eram fi-


-. eytt^ ^iír «..X,; ^«^yi^i, ~^4*-'.,-^ ^_^, ^ lhas bem naturaes e jwstifi-
A^ ,*»^ ^u^r ^^.-.^^^ ^^^ ^ *^i-„^ .X,- y.^, caveis das relações interna-
*^^^^A^,_^^^ -^^-, ^ ^^^,^-^/ cionaes não transparece ac-
'^. ,y ,
^ ,- ^ ^t^ cusação de importância aos

Yi^^-Aí^. A.,
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y^^^- ,_^ nossos compatriotas; no en-
.«i.
jjj^jQ Oliveira Martins é du-
/s^jr-i /.^ -.-.^~'A^ -*.*, ^/«f-, ? ».^>,-,u.«,. .-
ro para com D. João 111 que
.^A^»^-r ti, i^i^ -á- <^-r--.*^£i,- procurou introduzir e mis-
'
^--^^^^..^^^ >è--<^'>tf_ turar os processos escho-
,, ,,
Nota a
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mare^em do punho ao Dr. Emes to4 4
doivnc-
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Cantot
os lasticos extrangclros
,
" com
,

.
n j j A n I A nossos, chega a ser ,'"
r„ ,. grotesco
^ 9 dos doiíinientos de Pedro Annes ao Lauto
,I
sob a '^
pas. ... '
,

com as crihcas aos faustosos


costumes da Corte de D. Manuel que se rodeava de artistas de nacionalidades va-
rias, e é intencionalmente malévolo para com o Marquez de Pombal cujos senti-
mentos socialistas e de internacionalisação de trabalho foram bem marcados do
maior espirito d'economia publica de que resa a nossahistoria.
No
emtanto no commercio michaelense os elementos flamengos, inglezes e
italianosprestaram relevantes serviços á troca de relações com o extrangeiro e á
expansão económica insular e se nem Ernesto do Canto nem Drummond lhes fez
o elogio também não demonstram e«ses factos provando que aos nossos commer-
ciantes lhes faltava iniciativa c habilidade. Como acontecia com os continentaes
nos mercados da Hollanda, da Flandres e de Londres com quem não tínhamos
relações directas existiam portuguezes que mantinham agencias de commercio
çom os mais afamados commerciantes da nossa praça de Ponta Delgada.
Revista MiCH AfLRNSE 1171

O Doutor Ernesto do Canto foi um homem que esfriou o seu temperamento


litterario ao contacto dos documentos de diversas epoclias em que as exigências
da paleograpliii arrefecem os esthusiasmos das grandezas iiistoricas; seria muito
capaz de se deixar arrebatar por uma d'essas epoctias da historia michaelense e
cleval-a ao maior grau de estyio e de perfeição como Oliveira Martins o fez n'es-
sas grandiosas e épicas paginas sobre os filhos de D. José !. Não o seduziu o
modelo ou elle o encontrou já afíeito á orientação tomada da publicação de do-
cumentos, o seu estyio porem manifesta-se n'essas bellas cartas publicadas recen-
temente pelo Senhor Francisco Affonso de Chaves no "Archivo dos Açores», cer-
rado, minucioso, cheio d'eriidição, claramente demonstrativo, reunindo todos os
predicados para uma preciosa historiação de factos e calculamos o que poderia
ser uma historia michaelense tratada pelo Director do «Archivo dos Açores».
Continuador sobretudo dos assumptos postos de lado por Fructuoso, conser-
vando o mesmo caracter imparcial á otjra t;istorica que é muito particular no Vi-
gário da Ribeira Grande e mesmo no Padre Cordeiro e em Frei Agostinho de
Montalverne, o Doutor Ernesto transportou os seus trabalhos para a moderna
forma da publicação documentada e deu-lhe mesmo o caracter absoluto de do-
cumental.
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índice

PAO.
i'M EDUCADOR AUCHAELENSE -O Padre João José d'Amaral— pelo Padre
Ernesto Ferreira 1000

A Revolução na Rússia lOOó

Historia Documental da Revolução de 1821 na Ilha de San Miguel


para a separação do Governo da Capitania Geral da Ilha

Terceira por Ayres Jaconie Corrêa 1019

Memorias da freguezia de Nossa Senhora dos Prazeres— pelo Padre


António Furtado de Mendonça 1047

Bandeiras da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada— por


Luiz Bernardo L. d'AtIiayde 1071

Mobiliário— por Luiz Bernardo L. d'Athayde 1074


Estatísticas d'1nstrucção Primaria no Districto durante os annos de
1885-1889 1077

Bethencourt— por Jacintho d'Andrade Albuquerque de Bethencourt 1084

O Padre Joaquim Silvestre Serrão e a Semana Santa 1135

Os Toques de Edgard Allen Poe 1153

Chronica Histórica —Gaspar Fructuoso e Ernesto do canto— 15Q0-


1890 1158

NUMERO ANTECEDENTE
im«_iiv;e:ro c; o ivi ivi e ivi nt í» t i v^
DO
Movimento de I de março de 1821 no l." centenário — 1921

Historia Documental da Revolução de 1821 na Ilha de San Miguel para a


separação do Governo da Capitania Gerai da Ilha Terceira
POR

Ryres 'Jacome Corrêa


{

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