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FL7631909 Revistamichaelen0621pont
FL7631909 Revistamichaelen0621pont
Redacção e administração i
Composição e impressão
RUA 00 COLLtSiO »." 13 I
PREÇO RVULSO 2$50 Oliclni de Artes Graplilni
POMA llKLÍiADA. S. Ml(;rKI..A(,( "li i:S l' 1;| A .IciÃu tllAlíAS 1'. DKI.ÍfADA
Os direitos de propriedade são todos da Revista salvo para os artigos que trouxerem mençio especial
COPIA E TRADUCÇÃO INTERDICTAS
um EDucRDOR miCMneLEnsE
dre João José d'Amaral, que foi dos mais 'ervorosos após- •' '^j'
cessor como
chefe da Escola Esco:eza, tendo captivado tinto a estima do mestre
que dediccu uma das suas mais importantes obras— £5sai's on tiie hlií'l-
este lhe
lectual Powers.
Ora, entre Dugaid Stewart e o Padre João José d'Amaral ha um notável pon-
to de similhança. Stewart, que nasceu em 1751 e morieu em 1828, contem^ioraneo
ainda do Padre Amaral, foi professor de Philosophia Moral na Universidade de
Edimburgo e era muito querido dos seus discípulos, porque, preleccionando, tor-
nava agradável e interessante uma matéria árida por natureza. Na ohví— Hiiloso-
phy of the Human Mind — n^d^ de novo disse em philosophi;i o philosopho esco-
cez, mas soube tornar attrahente e impressivo o que já era conhecido.
O professor michaelense, dotado de indole jovial, era tambcm muito estimado
dos seus alumnos. Ao sentar-sc na cathedra, antes de '-omeçar a lição, contava
sempre uma historieta, que os puiíha em hilaridade, ami-nizando assim a aridez do
assumpto sobre que ia preleccionar. Dizia elle que a ancdocta era o melhor meio
de despertar o interesse c attrahir a attenção dos rapazes. Sabia milhares de aii?-
doctas que reproduzia com muita pillieria c com que deliciava a quantos o escu-
tava m
Quanto ao methodo de ensino do Padre Amaral, di-lo um seu admirador, Àti-
tonio Júlio de Mello, que fora seu discípulo c mais tarde professo»- da cadeira de
Philosophia na Ribeira Grande. Em um livro publicado t\\\ 1870 c intitulado Ele-
mentos de Étnica ou Philosophia Moral, affirma servir-se do systenia das perguntas
e respostas usado pelo seu querido mestre como o melhor processo de trauímittir
e fazer comprchendt |-
as definições e thet)riâs.
Se, ehi fate da mo-
dcrha pedagogia, deixa
tnuito a desejar, como
methodo, o livro feito
por perguntas e respos-
tas, devemos comtudo
aprecia-lo pelos seus ex-
cellentes resultados nos
tempos em que mais vi-
gorou.
Obras de ensino dei-
xou o Padre João José
d'Amaral apenas duas,
que foram publicadas
'A ,9lt2Mní?3 of.-?r.nn3?' pela •'Sociedade Auxilia-
Egreja de Nossa Senhora dos Anjos da Fajã de Baixo dora das l.cttras Açorea-
nas EAcmcntos ou Pri-
:
R reuolução na Rússia
Entre a politica russa da corte e a propaganda socialista e revolucionaria dos
anarchistas e democratas extremavam-se os campos. A politica dos Tzars tinha de
ha muito sido uma politica europeia pacifista, deixando a nação extender a sua ac-
ção commercial livremente para os paizes longínquos como para os paizes próxi-
mos. Os cereaes que a Rússia produz em cerca de 348 milhões de moios eram
exportados para os paizes do occidente como para a Ailemanha (15 milhões de
tonneladas) e os petróleos do Ural que na década anterior á guerra foram de me-
tade do consumo do mundo, do mesmo. Alem d'isso o commercio quasi interna-
cional comprava aos mercadores russos pelles em Frankfort e n'algumas cidades
Suissas.
Uma estreita amizade ligava os povos russos com os francezes por conveni-
ências financeiras, tendo estes-muito perto de 5 milhões de contos emprestados na
Rússia; e d'ahi resultava uma alliança que se consolidava d'anno para anno e que
foi mais tarde reforçada pela Inglaterra por conveniências d'equilibrio politico eu-
ropeu e que ficou chamando-se na historia tríplice entendimento em opposição da
tríplice alliança entre a Itália, a Ailemanha e a Áustria.
A acção revolucionaria russa deu lugar a enérgicas repressões policiaes e os
propagandistas da causa nihilista viram-se attacados nos seus preparativos unifica-
dores e obrigados a dispersar antes de poderem pôr em execução qualquer plano
social. Presos uns, obrigados a emigrar outros, foram estes juntando-se nos meios
de Londres e Paris e de algumas cidades allemãs, aos quaes os principaes depor-
tados depois de julgamento para a Sibéria se vinham também reunir depois d'eva-
didos dos presídios.
Mais tarde falaremos n'estes socialistas que assentaram os seus princípios so-
ciaes e políticos n'um comniunisnio marxista com os quaes fizeram a revolução
de 1917; mas por agora trataremos d'accentuar porque é que a politica Imperial
externa desagradava aos próprios moderados russos logo que a guerra actual lhes
mostrou os erros trazidos pelo novo estado de coisas no oriente. A própria revira-
volta politica dos revolucionários de outubro de 1917 quanto ás suas relações ex-
ternas nos demonstra o sentimento do democratismo russo, com a paz de Brest-
Litovsk concluída com os allemães e que deu lugar á retirada para França das suas
forças no Oriente avaliadas em cerca de 45 divisões; (1.200.000 homens) e com a
publicação dos papeis e tratado com a Allemaniia concluid) perto de Viburgo no
archipelago Finlandez no verão de 1905 pelo qual os dois paizes se compromettiam
adefender-se para o futuro mutuamente contra quahuer acto hostil inimigo.
Este tratado assignado em occasiões muito extraordinárias entre os dois Im-
peradores em Bjorkoe e que foi publicado na integra pelos jornaes russos e trans-
cripto pelos francezes e inglezes era uma prova de que os democratas agora no
governo queriam dar em como a politica externa do Imperialismo nem sempre
tivera sido fiel aos compromissos com a França.
clamam por pão; a greve geral estava decretada para 25 de íeveieiro e ha coiifli-
ctos pelas ruas sanguinolentos; no dia seguinte um ukase suspende a Douma a qual
não attende e resolve manter-se creando um conselho encarregado de restabele-
cer a ordem. Ós quartéis mexem-se: o primeiro acto de insubordinação dá-se no
regimento de Paulo, e segue-se logo o de Valliynia, o de Lithuania e o de Treo-
bajensky. Forma-se uma manifestação que se dirige á Douma e convida o Comité
ExeciUivo d'esta a tomar a direcção do movimento e no dia 13 de Março todcs os
ktrgimentos da guarnição de Retrogrado desfilam perante a Douma.
A revolução triumpha mas entre os revolucionários dois campos se disputam
a direcção, os liberaes e os socialistas d'um lado, o popuLir do outro, agrupado
nos Soviets. Estes ainda hesitam nu fusão mas em breve buscam nos seus deputa-
dos Avksentieff, Dane,
Tchornoff e Kerensky os
defensores da sua causa.
Kerensky como leaJer
dos trabalhistas e pelas
suas quaHdades d'intelli-
gencia vae ser o chefe.
Não passou d'um go-
verno provisório que em-
pregou os seus esforços
a manter a ordem e te
governo de Kerensky.
Quando elle preparava
com o Preparlamento.que
era uma assembléa cons-
tituída por membros de
todas as classes, a Assem-
bléa Constituinte que foi
votada por 123 votos con-
tra 103, a revolução bol-
chevista rebentou nos Esciiptorio do Palácio d' Inverno de Petrogrado que foi do
Imperador c usado por Kercrisliv, malbaratado pelos
quartéis e 4 dias depois Revolucionários
estava na rua cortando
os fios telegraphicos e telephonicos, occupando 05 bancos e os palácios.
O Congresso nacional dos Soviets reune-se para deliberar sobre a situação e
do outro lado a Douma Municipal também com o concurso dos Bolchevistas. L'
constituído na noite de 2ó (outubro) um Comité Nacional de defeza da Pátria e da
Revolução composto de representantes de todos os partidos socialistas, do Conse-
lho Provisório da Republica e da Douma Municipal e que se propõe tomar a ini-
ciativa da creação d'um novo governo Provisório, o qual apoiando-se nas forças
da democracia, conduzirá o paiz á Constituinte e salval-o-lia da anarchia e da
contra-revolução.
O Congresso dos Soviet-; estatue organisar para governar o paiz, n'Lniia outra
sessão tida no mesmo dia, um governo que terá por nome o Conselho dos Com-
missarios do Povo, cuja presidência era dada a Lenine e o das relações exteriores
a Trotzki.
REVISTA WIICHAELENSE 1011
1 01 REVISTA MlCHAELBNSE
cio de propaganda.
O Commissario do Povo nas I'inanças Svartxof foi profjssor formado pelo
Instituto dos professores das Escholas; suspeito de terrorista e fabricante d'explo-
sivos em 18Q5, fÍL'a debaixo da vigilância da policia trez annos e é preso em Toula
por propaganda junto dos operários. Depois é exilado para a Sibéria por trez an-
nos, é preso outra vez em Moscou em U)05, em U)OS e em H)ll em que foi exi-
lado para Astrakan.
Avilov, Commissario dos Correios e Telegraphos, era um antigo operário typo-
grrplio Ljue soffreu prisões por trez annos por propaguida re/olucionaria em
1Q07; membro depois da Sociedade Secreta de Moscou, sae da Rússia e alista-se
nos cursos d'uma eschola d'agitadores e propagandistas do partido.
Djougaciwili, Commissario das Nacionalidades, era empregado de banco e sof-
fre 4 prisões de que se evade.
Kicof era traductor de linguas e leve que saliir da Rússia pov intimação da
policia; de volta foi exilado para Arkangel d'onde foge, e foge depois de Maniski.
Alem d'estes ha ainda outros revolucionários que tiveram um passado conhe-
cido como ^verdlov, presidente do Comité Central executivo dos Soviets; Zinovief,
presidente do Soviet dos Commissarios do Povo do norte em Petrogrado c que
representou com Kamenev um papel importante durante o terrorismo; Ouritzki,
gerente dos negócios da Comniissão das eleições da Constituinte e depois presi-
dente do Comité da lucta contra a revoluçfio que occasionou o seu assassinato.
Petral e Tchitcherine, que subslituiram Trotzky no commissariado dos negó-
cios extrangeiros; Pakrovzki; membro da delegação de Brest-Litovsk; Boukharine,
que dirigiu o grupo Bolciíevista á Constituinte e que tinha uma grande auctoridade
nos Conselhos políticos; Ouritzki, israelista que foi engenheiro constructor e com-
missario da venda de florestas e um agitador; Petrov, que substituiu Trotzky no
(Commissario dos Negócios F.xtrangeiros,foi preso innumeras vezes por prop:igan-
da revolucionaria; Tchitcherine, conselheiro d'Estado e empregado do Ministério
dos Negócios extrangeiros, que teve que saliir da Rússia e só voltou em principio
de 1Q18 onde occupa o Commissariado dos Negócios Extrangeiros; Pekrovski, que
participou na Conferencia de Brest Litovsk, foi professor da faculdade de Moscou
e de varias escholas e preso varias vezes por participar nos movimentos socialis-
tas; Boukarine, propagandista e filho d'um antigo conselheiro da Corte.
Todos estes homens participaram das ideias socialistas mais ou menos na ori-
entação de todos os congressos.
Eram marxistas, porem a Internacional soffria com a adaptação ao movimen-
to interno russo características que é necessário distinguir porque ellas crearam
duas correntes de propaganda definidas, perfeitamente distinctas uma da outra.
Eoi no Congresso de Londres de 1903 que se deu o facto quando se discutia
a formação e a constituição do partido socialista russo. Morton, que era o leader do
movimento mais escutado, pretendia ramificar a aggremiação consideiando como
fazendo parte d'ella qualquer um individuo que adherisse ao seu programmaou lhe
((restasse auxilio sob a direcção de qualquer das suas organisações; Lenine mais
disciplinar e orientador exigia um pacto do alliciado e só o queria considerar par-
tidário por adhesão formal a uma das organizações partidárias. Da divisão dos
dois campos d'acção com características centralistas que se chamaram por ser eni
maior numero Bolchevistas (majoritaiios) e federalistas, nasceram lambem dois
programmas d'acção directa diversos. (3$ federalistas ou minchevistas (minoritá-
rios) prevendo a revolução eram d'opinião que o partido não devia tratar de occu-
par o poder eliminando os partidos de caracter liberal mas conservar-se sempre o
l^arlido d'extrema opposição revolucionaria creando finalmente, com o concurso
do povo revolucionário, uma Assemblea ( jiiislituinle; os bolchevislab congrassa-
vam os seus esforços para o combate de todas as forças que poderiam absorver a
'
serviam nas redes rtlssas ém 1*)12 para as quaes trabaiiiavatn 17 fabricas; a fUncii-
çâo e o carvão, perdida a região industrial da Pnlonia, só com a do Ddriets, tiãb
satisfaz ás cXifíchcias da guerra.
A .Rússia duiànlc a íiix-^rra dcbáieu-se na giierra civil que. iria cdntiniiar com
o restabelecimento da paz com a Allemanlia pelo tratado de Brest-l.itovsk. Ó Go-
verno derramou o teru r por todo o iiaix pela força das armas da guarda verme-
lha e n'cssa prolongada lucía saufíuinaria dia a dia as circumstancias de vida e
bem estar foram peiorando sempre. De todas as expropriat;ões c nacioiialisações
que apparentementc pareciam enriquecer o estado russo resultou aue o orçamen-
to para a primeira metade do anno de lOU) das des|)e7as publicas trazia uma des-
pe/a na impcutancia de ..'OO.OOO.OOO rublos ao passo que as receitas presentes eram
I
de 397 milhões
O que é que ficou do cruel e saufiuinolcnto conflicto ? Um regimen!
Mas um regimen que por não ser o resultado d'uma evolução lenta com a qual
se constitue uma educação solida baseada na experiência com solução de conti-
nuidade, não produziu fructos, mas aggravou situações, complicou a riqueza pu-
blica, talhou todas as liberdades As bellezas theoricas do communismo
sociaes.
bem moderna baseada no systema da hoterogeni-
aftingiveis pela scicncia politica
dade dos seus re.gimens, respeitando o listado a rodagem das forças vivas nacio-
nacs no pé em que estão e traiisforman Jo-as quanio se offercce vantagem para a
communidade, mais uma vez mostraram a inutilidade de_ serem estabelecidas por
meios violentos ou generalisados. A guerra impondo a necessidade de centralisar
as administrações do Estado debaixo da direcção do (joverno, certos ramos d'ac-
tividadc, como foram meios de transporte, fabricações d'expiosivos e armamento e
estaleiros para cons.rucção de navios, deu um melhor exemplo do que essas ex-
propriações bem remuneradas poderiam servir ein proveito da communidade.
Fim todo o caso esse regimen coinmunisti deve ser aqui relatado.
Imitando a Revolução Franceza de 178') os Bolchevistas proclamam os Direi-
tos dos Povos da Russi» n'estes termos {2 de novembro de 1917) (1) :
Toda a transacção ^ia proprieduie ficava por esse facto prohibida de se effe-
ctuar.
CAPITULO 111
O
Governo (ieral e Interino d'esta Ilha de S. Miguel tendo por uma parte ob-
servado o regosijo, que o Publico tem tomado no passo, qiie se deu na manhã
do primeiro do corrente prestando todos á porfia os seus assensos, e mostrando
de todas as formas a união de suas vontades ás nossas unicamente pelo conceito,
com que nos honra, e a persuasão, em quc está de que todas as nossas vistas não
tem outro fim mais do que o seu melhoramento politico; e não tendo nós por ou-
tra parte, occupados com as communicações, que nos foi preciso abrir com as au-
ctlioridades Militares, Eclesiásticas, e Civis, e moradores das villas de toda a Ilha
até aqui podido desenvolver, e fazer patentes ao mesmo publico os projectos, e
fins d'aquelle passo, e da Installação d'estc Governo; agora que, Louvores a Deus
Nosso Senhor, temos conseguido aquella uniformidade de vontades, que era indis-
pensável para se poder consolidar o estabelecimento d'esta natureza, não só vamos
dar ao publico os mais expressivos, c affectuosos agradecimentos pela Sua espon-
1 020 Revista Mi chaelense
tanea, e sincera adherencia á cansa commum, mas também lhe manifestamos que
os nos>os projectos, e intentos foram, c ?erão sempre primeiramente pela remessa
dos competentes deputados a nossa União politica com as (fortes de Portugal, e
Governo, que por ellas se estabelecer, como único meio de podermos ser con-
templados na reforma, que em todos os ramos procuram ás suas Calamidades, que
supposto sejam tão giandcs, quanto de seus Manifestos se deprelicnde, as nossas
tem sido muito maiores desde a saliida do Nosso Augusto Sc berano para o Rio
de Janeiro pela distancia, em que nos fica, e dilficulundcs, que se experimentam no
accesso ao seu Ministério; depois d'isto, á exccpi,ão unicamente da jurisdicção (Jrdi-
naria do nosso Fixcellentissimo, e R."'" 1'relado, com a totnl isenção, e absoluta se-
paração egualmente pclitica do Governo Geral, Juntas, e Auctoridades da Ilha
Terceira, que não tem procurado ma\i do que opprimir os habitantes d*esta Ilha de
S. Miguel já com recrutas atropelada e desordenndnmcnte feitas, com desamparo
de viuvas, e outras pessoas miseráveis, com manifesto prejui/o da Agricultura, a-
tropelação das leis que d'esta para aquella Ilha as prohibcm; já com a franqueza
da importação dos Vinhos das outras ilhas por meio do Alvará de 25 de Outubro
de 1810 que com falsos princípios extorquiram para revogar a Provisão de 15 de
Março de 1802 que prohibia a sua entrada, sem licença do Senado d'esti cidade;
e já com os descaminhos dos dinhcirc^s das rendas publicas, consumindo-os em
obras, e em outros objectos inte ramente alheios aos fins, a que estavam destina-
dos, e reduzindo-nos á necessidade de fazermos á nossa custa a maior parte das
obras, estradas, e caminhos que a não chegarem as rendas do Conselho, com
muito mais razão deveriam ser feitas pela mesma Real Fazenda, que n'aquellas o-
bras é tão interessada como os mesmos particulares, de sorte que os habitantes
da Ilha de S. Miguel não tem sido menos de uns Pscravos, que estão sustentan-
do aquelle foco e devorador vulcão dos seus trabalhos, e industria; são também
os nossos projectos, e intentos solicitar uma perpetua abolição dos novos 1 ribu-
tos, que ultimamente se impuseram, e com que a Ilha não pode já mais, a qual a-
bolição temos solidas razões, e esperanças de conseguir por meio dos r>eputa-
dos, que se elegerem, e desde já á imitação do Governador e Capitão General da
Ilha da Madeira passamos a suspender o Imposto di Decima das Casas e Heran-
ças, ficando ainda subsistindo os mais até ultima resolução do Supremo Governo
do Reino de Portugal, com que nos vimos incorporar e para cujas precisões e
felicidades devemos também correr e são finalmente não só queremos leis Mu-
nicipaes e privativas d'esta Ilha, e accommodadas aos diversos ramos, que não en-
trarem nas Leis Oeraes, ou exigem differentes por circumstancias particulares que
nunca deixam de occorrer, mas também as providencias, que parecerem necessá-
rias para umas, c outras exactamente se observarem, sobre o que, assim como
egualmente sobre tudo o mais que for conducente áquelles fins, e felicidades d'es-
ta Ilha, e estimaremos concorram todos com as suas insinuações. Estes em summa
os bens, que tiveram em vista áquelles, que deram o mencionado passo no primei-
ro do corrente, e com que installaram este governo, e nós egualmente como Depo-
sitários dos seus poderes, e seus Representantes, e que temos todas as Esperanças
de conseguir do Supremo Governo de Portugal, tanto por serem em beneficio dos
Mabitantes d'esta Ilha, e conformes á Santa Moral e Religião de Nosso Senhor Je-
sus Christo, como pela approvação, que cremos o mesmo Senhor ter dado áquelles
projectos na felicidade com que tudo se tem excnitado, e se tem unido as vonta-
des de todos os Habitantes da Ilha de S. Miguel, o que tudo fundamos na mesma
Santa Moral e Religião e attribuimos a Deus Nosso Senhor, sem cujas Graças na-
da se pode obrar do que é bom, e no mesmo Senhor confiamos nos ajude, c a-
bençoe no mais que é preciso proseguir, e a todos os nossos Amados Patrícios,
cujos sentimentos de Religião, e Politica são os mesmos. Dada na Sala do Gover-
no Geral e Interino d'estn lllia de S. Miguel aos 7 de Março de 1S21. Veríssimo
Vanoel d'Aguiar Secretario do Governo a fez escrever. António Praticisco Affonso
de Chaves de Mello Presidente, André da Ponte Quental da Camará e Souza Vice
REVISTA MICHAfcLENSh 1021
Conferido
A doutrina d.i Í4ei;ãj di deoi \\\ di qJ-- filivi a proílatrti;ii viiihi desde
a restauração e os niichaelenses explicavam os seus direitos ii'estcs termos:
Sendo decimal lançada i-»elas cortes de Lisboa em Março dé
a contribuição
1Ò4Ò com ofim d'obler mais receita para as despezas da guerra contra a Hespa-
nha e manter a indepen.lencia, foram ainda assim dispensados d'ella os archipe-
lagos da Madeira e dos Açores por serem achados pesados para as Ilhas. Foram
por essa occasião ouvidos os procuradores das Ilhas e foi endereçado o parecer á
Ornara de Ponta Delgidi (^1 de agosío di 1Ó4')J sobre a applicaçilo do imposto
de guerra por meio do Donativo fijanJj cst ih-jlecido que as Ilhas de S. Miguel e
Santa Maria juntas pagariam 10 mil crusados cobrados pela forma mais conveni-
ente e menos aggravante para os habitantes.
Na carta regia ao juiz de fora de 17 d'agosto de 164Ó se vê que a cobrança
d'este imposto é recomniendidi para ser feiti com toda a brevidadt; e por alvará
de 20 de juiiio de õõO foram estabele:idos os imp3.stos do Real d'Agua, quarto de
maquia nas moendas, direitos d'entrada e sahida de géneros, isto com o fim de
salvar a quota das ilhas para a guerra cujo re-
gimento foi estabelecido pelo Juiz de fora e offi-
ciaes da CamnrM ue i^onta Delgada em 14 de
novcinbio de Iò^jO. Mais tarde durante a Re-
gência da Rainha a 7 de Maio de ftõO, esta, ba-
seando-se na aucturi/.ação estabelecida nas cor-
tes de Lisboa e houiar de 16õi ao Snr. D.João
i
W
de se utili ar como entendesse dos beui dos
scus súbditos para evitar qualquer invasão ini-
miga, elevou a contribuição das Ilhas a mais um
quart> por cento do que ell era a que com ou-
i
1."
O
mesmo se observará nas Causas Crimes, que se acham pendentes nos Au-
ditórios d'esta Ilha, julgando-as os respectivos Juizes em primeira instancia, e ad-
mittindo e mandando expedir da forma exposta as Appellações, que as partes n'el-
ias interpuzerem, e appellando elles mesmos nos Casos, em que por parte da Jus-
tiça do Officio são obrigados a fazel-o, ou haja parte que accuse, ou seja a accusa-
dora a mesma Justiça.
REVISTA ttlCrtAELENSlÊ \ 0^3
4.'
E como também dos actuaes criminosos, se acham uns presos, e outros com
cartas de seguro, ficando salva ao Corregedor da Comarca a concessão d'estas
no casos, em que por seu fiegimento e pelas Leis lhe compete, as reformas d'estas
se pedirão a este Governo, assim como também os Alvarás de Fiança nos casos
em que por direito elles podem ter Lugar, e com as formalidades com que se cos-
tumam conceder.
0."
Ficando em todo o seu vigor as Jurisdicções ordinárias das justiças d'esta Ilha,
e reservado a este Governo o expediente dos Tribunaes Superiores, e em total des-
prezo e esquecimento as ultimas ordens do Governador e Capitão General, o Cor-
regedor da Comarca e Intendente Cieral da í^olicia não só coniínuará a dar os
Passaportes da mesma foima, e com a mesma franqueza, que o direito permite, e
antes se costumava, ficando o Passe do Porto reservaao ao Commandante das
Armas, qu.* por este Governo se acha constituído, mas lambem sem attenção á-
quellas ordens, deixará livre, e desembarassada a entrada das cartas, e mais pa-
peis, que do Reino de Portugal, ou de qualquer outra parte vierem, conduzindo-
sc directamente de bordo ao Correio o sacco das cartas, e entregando-se immedia-
mente a seus donos, tudo da tnesma forma que antes se priticava.
7.°
Supposto n'esta Ilha não possam ter maior applicação as providencias dadas
pelo Alv. da Criação da Junta do Melhoramento da Agricultura de 18 de Setem-
bro do 1811 nem tão pouco se siga prejuízo algum em quanto senão verifica a
nossa união politica com o Reino de Portugal, e do seu supremo Governo não
descem as ordens a este, bem como a todos os mais respeitos necessários, se com-
tudo occorrer urgente precisão sobre algum baldio, que se pretende, e deva eni-
prazar, poderão as partes seguir n'estes casos as formalidades que prescreve o Alv.
de 11 de Abril de 1815 que ainda são mais suaves do que as do referido Alv, da
criação da Junta do Melhoramento da Agricultura.
9.»
das Ilhas de baixo, e sendo isto próprio e privativamente da Inspecção das cama-
rás pelo que respeita ás vendas das fazendas dos Mouros eílas dêem as providen-
cias que julgarem necessárias, sendo em vista os artigos de 27 de Setembro de
1476 Cap. 4, § 5." e os Alvarás de 19 de Novembro de 1754, e de 15 de Novem-
bro de 1760, e quanto á venda dos vinhos das Ilhas de baixo, darão egualmente
precisas providencias conciliando o consumo dos Vinhos da terra como o Alv. de
25 de Outubro de 1810.
10."
Desejando também o mesmo Governo dar algum principio ao allivio dos no-
vos Impostos, com que se acham opprimidos os Habitantes da Ilha, e confiado em
que o Supremo Governo de Portugal não deixará de approvar esta Resolução de-
termina que d'aqui em diante senão prosiga na cobrança das Decimas das casas,
e heranças, impostas aquellas pelo Alv. com força de Lei de 27 de Junho de 1808
e estas pelo outro Alv. com força de Lei de 17 de junho de 1809, § § 8 e 9.
E assim o cumpram as Auctoridades a quem compete, tanto civis, como tam-
bém Ecclesiasticas, fazendo-o publicar em suas Audiências, e registar nos Cartó-
rios de suas repartições e as Camarás nos seus respectivos Livros. Dado na Sala
do Governo Geral Interino d'esta Ilha aos dez de Março de 1821. Veríssimo Ma-
noel de Aguiar Secretario do Governo a fez escrever. António Francisco Affonso
de Chaves e Mello Presidente, André da Ponte de Quental da Camará e Souza,
Vice Presidente, (António Francisco Botelho de São Payo Arruda,. O bacharel
João Bento de Medeiros Manta, Jacinto Içnacio Rodrigues Silveira).
Conferido
COPIA
CONSTANDO Á REGÊNCIA DO REINO EM REPRESENTAÇÃO, do Go-
verno Interino creado na Ilha de San Miguel que os seus Habitantes opprimidos
pelo Despotismo dos Antecedentes Governos, que mais se havia exacerbado no a-
ctual e vendo inutilizadas todas as providencias que em diversas épocas se desti-
naram ao melhoramento da Administração da Junta e Fazenda na mesma Ilha não
lhe restando outro recurso para saiiircm das difficeis e penosas circunstancias a
que as haviam reduzido as ultimas disposições do Capitão General dos Açores,
privando-os de toda a communicação d'cste Reino haviam proclamado com afirme
e louvável deliberação o systema Constitucional pelo mesmo modoe com as mes-
mas restricções com que n'estc Reino se proclamara: E mostrando-se por aquella
representação que os labitantes de São Miguel estão possuídos de Ardentes de-
I
çôres, as de São Miguel e Santa Maria, sua anexa constituindo assim um governo
independente, e com relações directas com as Auctoridades e Tribunaes do Rei-
no; Que o Governo Interino, que os Habitantes de Sani Miguel estabeleceram
composto de pessoas, que por merecerem a confiança publica foram para aquelle
Ministério escolhidas nos primeiros difíceis e perigosos momentos da sua decla-
ração pelo Systema Constitucional, fique subsistindo emquanto as Cortes (ieraes e
Extraordinárias não regulam outro que mais apropriado seja á localidade e Rela-
ções politicas. Mercantis, e Económicas da mesma Ilha; Que o Governo Interino
Jure e faça Jurar, a todas as auctoridades Ecclesiasticas, Civis e Militares as Bases
da Constituição que as Cortes tem decretado para se guardarem como constitui-
ção emquanto esta senão ultima, as quaes se devem fazer publicar em todos os
Povos e guardar por todas as Auctoridades, se lhe remettem exemplares arsigna-
dos pelo Secretario dos Negócios do Reino que o mesmo Governo Interino apres-
se quanto fôr possível a Eleição dos seus Deputados em numero proporcionado
á Sua Povoação segundo as Instruções de 22 de Novembro de 18^0 -para que
brevemente se incorporem no Augusto Congresso das Cortes com os mais repre-
sentantes da Nação e ahi entrem nas deliberações de reforma de abusos Geraes,
que tem precipitado a mesma Nação na ruina, e particulares que deprimiam a for-
tuna dos Habitantes d'aquella Ilha, e outro sim a Regência havendo respeito a se-
gurança do iinportante ponto da Ilha e mais que tudo das pessoas de seus bene-
méritos Habitantes tendo ordenado a remessa de quantos auxílios o Governo In-
terino solicita e que já em parte estarão próximos do seu destino, o segura de que
continua a remessa do resto, e que será tão efficaz em auxiliar os habitantes de
de São Miguel quanto elles resolutos foram para se incorporarem na causa com-
mum da Nação e quanto firmes permanecem em sustental-a.
O Governo Interino o tenha assim entendido, execute, e faça executar. Palá-
cio da Regência em 2 de Maio de 1821. Com quatro rubricas —
Veríssimo Manuel
de Aguiar a fez escrever — Cumpra-se e registe-se— Borges.
Concorda com a própria copia que tornei a entregir ao Rev.'"" Ouvidor n'e3-
ta Ponta Delgada aos 28 de Maio de 1821.
Conferida
Livro das Ordens dos Ex.'""' e Rev."'"^ Snrs. Bispos pag. 126 a 126 verso.
OFFlClO
Constarrdo á Regência do Reino em Representação do Cjoverno Interino crea-
do na Ilha de S- Miguel que os seus habitantes oppriniidos pelo despotismo dos
antecedentes Ciovernadores, que mais se havia exarcebado no actual, e vendo inuti-
lizadas todas as providencias que em diversas Épocas se destinaram ao melhoramen-
to da Administrai;ão da Justiça, e fazenda da mesma Ilha, não lhe restando outro
recurso para sahirem das difficeis e penosas circumstancias a que os haviam redu-
zido as ultimas disposições do Capitão General dos Açores, privando-os de toda a
Communicação com este Reino, haviam proclamado com firme e louvável delibe-
ração o systema Constitucional pelo mesmo modo, com as mesmas restricções com
que n'este Reino se proclamara, e mostrando-se por aquella representação, que os
habitantes da Ilha de S. Miguel estão possuídos de ardentes desejos de adherir á
causa commum da Nação, propondo-se a eleger e enviar Deputados, que nas Cor-
tes (leraes extraordinárias e Constituintes da Nação Portugueza representem aquel-
la porção de beneméritos filhos da Pátria e ficando separados do Governo Geral
dos Açores em que só haviam encontrado vexações e ruina. A regência do Reine
tendo em grande apreço os Patrióticos sentimentos de tão Illustres Portu^uezes e
desejando conforme os princípios Constitujionaes que a Nação tem adoptado con-
correr para alliviar males, e deprimir o despotismo onde quer que elle exista op
primindo Portuguezes ordena em nome de El Rei o Senhor D.João VI que fiquem
separadas da Capitania Geral das Ilhas dos Açores as de S. Miguel, Santa Maria
sua annexa constituindo assim um Governo independente, e com relações direitas
com as Auctoridades, e Tribunaes do Reino: que o Governo Interino que os ha-
bitantes de S. Miguel estabeleceram e com parte de pessoas, que por merecerem
a contiança Publica foram para aquelle Ministério escolhidos nos j^rimeiros, diffi-
ceis e perigosos momentos da sua declaração pelo Systema constitucional- fique
subsistindo eniquanto as Cortes Geraes e Extraordinárias não regulam outro que
mais apropriado seja á socialidade e relações politicas, mercantis e económicas da
mesma Ilha que o Governo Interino jure e faça jurar a todas as Aucthoridades Ec-
clcsiasticas. Civis e Militares, as Bases da Constituição que as Cortes tem Decreta-
do |)ara se guardarem como ConstituiçSo, eniquanto esta senão ultimar, as quaes
devem fazer publicar em todos os Povos, e guardar para todas as Auctoridades
para o que se lhe remettem Exemplares assignados pelo Secretario dos Negócios
do Reino: que o mesmo Governo Interino apresse quanto fôr possivel a Eleição
de seus [Reputados em numero proporcionado á sua povoação segundo as Instru-
cções de 22 de Novembro de 1820 para que brevemente se incorporem no Augusto
Congresso das Cortes com os mais representantes da Nação, e ahi entrem nas de-
liberações de rerorma de abusos geraes que tem precipitado a mesma Nação na
ruina e particulares que deprimiam a fortuna dos Habitantes d'aquella Ilha, e ou-
tro sim a Regência havendo respeito á segurança do Importante ponto da Ilha e
mais que tudo das pessoas de seus Beneméritos Habitantes, tendo ordenado a re-
messa de quantos auxílios o Governo Interino solícita; e que já uma parte estarão
próximos no seu destino o segura de que continua a remessa do resto; e que será
tão efficaz em auxiliar os Habitantes de S. Miguel quanto elles resolutos foram para
se incorporarem na Causa commum da Nação; e quanto firmes permanecem enj
sustenta-la. O Governo Interino o tenha assim entendido, execute, e faça executar.
Palácio da Regência, em 2 de Maio de 1821 com 4 rubricas— Kmss//«í7 Ma-
noel d' Aguiar.
Conferido com os próprios Officiaes da Regência do Reino e Cjoverno Inte-
rino d'esta, ce-tifico em meu nome se tiraram tantas copias, quantos os Lugares d'este
Districto, onde se deviam publicar, sendo tal o Enthusiasmo dos Povos que até
os Párochos das Egrejas se offereceram a apregoar dos púlpitos noticias tão gratas-
Ponta Delgada, 24 de Maio de 1821.
O escrivão da Camará
Manuel trancisco LuU Pereira
-
Em
consequência d'este Plano, e manifesto desprezo das desposticas Ordens
do Sobredito Governador, e Capitão General se admitiam recepção para a Casa
1028 rWisYX fti eftXgLffi'^^
O mesmo se observará nas causas crimes, que se acham pendentes nas Au-
ditorias d'esta Ilha julgando os Respectivos Juizes em primeira instancia e admit-
tindo, e mandando expedir da forma exposta as livres Appellações que as partes
n'ellas interpuzerem e appellando elles mesmos nos* casos, em que por parte da
Justiça do Officio são obrigados a íaze-lo, ou haja parte que accuse, ou seja accu-
sadora a mesma justiça.
4.°
E como também dos actuaes criminosos se acham uns presos outros com
cartas de seguro, ficando salvo ao Corregedor da Comarca a concessão d'estas
nos casos em que por seu Regimento e pelas Leis lhe compete, as reforma3 d'e3-
tas se poderão requerer a este Governo, assim como também os Alvarás de Fi-
ança nos casos em que por Direito elles podem ter lugar com as formalidades,
com que se costumam conceder.
6."
Ficando em todo o seu vigor as Jurisdicções ordinárias das Justiças desta ilha,
e reservado a este Governo o expediente dos Tribunaes Superiores, e em total des-
prezo e esquecimento as ultimas Ordens do Governo, e Capitão General, o Cor-
regedor da Comarca e Inteiid nte Geral da Policia não só continuará a dar oí
Passaportes da mesma, e com a mesma Franqueza que o direito permitte e antes
se costumavam ficando o Passe do Porte reservado ao Comniandante das Armas
que por este Governo se acha constituido; mas também sem attenção áquellas or-
dens deixará livre e desembaraçada a Entrada das Cartas e mais papeis que do
Reino de Portugal, ou de qualquer outra parte vierem conduzindo se direitamente
de bordo ao Correio, o sacco das Cartas, entregando-se immediatamente a síus
donos tudo da mesma forma que antes se praticava.
7."
Supposto n'esta Ilha não possam ter maior applicação as providencias dadas
pelo Alvará da Creação da Junta do Melhoramento da Agricultura de 18 de Se-
tembro de 1811, nem tão pouco se siga prejuízo algum emquanto senão verifica a
nossa União P( litica com o Reino de Portugal, e do seu supremo Goveru) não
descem as ordens a este, bem como a todos os mais respeitos, necessárias, hecom-
tudo occorrer urgente precisão sobre algum Baldio que se pretenda e deva em-
prazar poderão as partes seguir n'estes casos as formalidades que prescreve o Al-
vará de de Abril de 1815, que ainda são mais suaves do que as do referido
1 1
9.'
Conforme
Ponta Delgada, 9 de Maio de 1821.
estes cargos desde mil oito centos e trezC; átê rriil oitd ceritos e dezatiove, se por-
tou tamtíem do modo, qiie niostra ó Docurriento Nmrlero Segundo, e dando â
Càmára dà referida Cidade ao Nosso Augiisto Soberano de uiri e outro as dontas
de que são copias aqueiies Documentes, os resultados foram ir o primeiro des^
pachado Desembargador para a ivciação do Porto, e o segundo superintendente
das Alfandegas do Rio de Janeiro.
Pelo que toca ás Auctoridades que se acham constituídas na Ilha Terceira,
e consistem no Govírno, e Cipitania (i*ral das ilhas dos Açores, creada pelo Al-
vará com força de
ei, e regimínto de dois de Agosto de mil sete centos sessenta
1
e seis, na Junta da hazenda das mesmas Ilhas creada pelas cartas Regias de dois de
Agosto de mil sete centos sessenta e seis, e de vinte de Outubro de mil sete centos
c noventa e oito, na Junta da justiça Criminal creada pelo Alvará com força de Lei
de quinze de Nosembro de mil oito centos e dez, na Junta do F^esembargo do Paço
creada pelo Alvará com força de Lei de dez de Setembro de mil oito centos e onze,
c na junta do Atelhoramento da Agricultura creada peio Alvará com força de Lei de
dezoito de Setembro de mil oito centos e onze, todos estes Estabelecimentos, bem
longe de haverem promovido as utilidades, que tinham em vista as Leis das suas
creaçõcs, antes tem servido de prejuízo, especialmente á Ilha de San Miguel.
I'orquanto qual tenha sido a conducta dos Governadores, e Capitães Oene-
raes das lliias dos .\çores, e dos Governadores da Ilha de San Miguel, que lhes
são subordinados, e que utilidades se tenham seguido do seu estabelecimento com
especialidade depois da sahida do Nosso Augusto Soberano, assaz se deixam ver
do Documento Numero terceiro, que bem mostra que prezando elles em pouco
os verdadeiros objectos dos seus deveres, somente tem procurado consumir, e
exasperar os miseráveis Povos.
Qual tenha também sido a administração da Junta da Fazenda verá Vossa
Magestade da grande somma que mostra o Documento Numero Quarto tem pro-
duzido as rendas publicas na Ilha de San Miguel somente de mil oito centos e
dezaseis, até mil oito centos e vinte e da applicação que lhe tem dado a mesma
Junta e que supposto se não porsa agora desenvolver, não tem comtudo sido ou-
tra, senão o interesse dos Membros, que a compõem, e dos seus Propostos, de
sorte que de todo aquelle cabedal, podemos affirmar a Vossa Magestade que ne-
nhum proveito tem percebido o Estado, assim como das rendas dos annos ante-
cedentes de que por hora não damos conta por não caber na estreiteza do tempo.
Não tem sido mais úteis, nem menos prejudiciaes as outras Juntas nos seus
respectivos ramos de forma que na Junta Criminal se acham Reos a sentenciar ha
quatro e cinco annos, e das sentenças de morte, que n'ella se tem dado, somente
se executou as dos que assassinaram o Juiz de Eórada \'illa da Ribeira Grande, e
e os de mais Reos da mesma pena se acliam nas cadeias; a do Melhoramento da
Agricultura não podendo ter exercício na Ilha de San Miguel por não haver um
palmo de terreno, a que senão tenha dado a cultura, de que é susceptível, so-
mente tem servido para tirar alguns logradouros dos Povos, e até mesmo dos
Particulares, e para dar occasião a uma infinidade de demandas, que se acham
pendentes, e a Junta do Desembargo do Paço nunca teve também exercício, nem
tem dado expedição alguma, de maneira que os negócios, que lhe foram commet-
tidos, se tem sempre requerido e expedido por Lisboa.
Todas aquellas violências não só mostram a necessidade em que estavam os
Habitantes da Ilha de San Miguel de romper todas as difficuldadcs para se uni-
rem a Portugal, e solicitarem os seus males o mesmo remédio que os Povos d'este
Reino por uma Constituição procuravam ás suas calamidades, mas também assaz
deixam entrever os desejos, que teriam de se poderem declarar e de fazer com
clle causa commum por seus Deputados, logo que se installou o Governo do Por-
to, e este se uniu ao de Lisboa, e deram as Providencias para a convocação de
suas cortes, mas os Governos Militares, que era quem seguramente podia dar, ou
animar este passo, estavam tão aferrados aos seus despóticos sentimentos, que nem
1
a mais leve occasião, nem pelo menos esperanças davam de que elle algum dia
viesse a executar-se.
Estes desejos ainda mais se augmentavam com as benéficas intcriçòes, qiié
mostrou o Supremo Ooverno de Portugal para com os Habitantes dá llliá de San
Miguel dirigindo suas ordeils ao Corregedor da Coiriarca António Carlos Borges
Pereira Ferraz para que clle promovesse a eleição dos Deputados, como foi no-
tório tanto pelo Offi:io, que na mala do Correio de Lisboa lhe mandou o [)esem-
baigador AAanoel f-ernandes Thomaz, que já na mesma Ilha era conhecido por Se-
cretario da Junta destinada para a coiivocação e organisação das Cortes, como
pelo Doutor Corregedor mostrar aquelle Officio, e as Instruções, que o acompa-
nharam, a muitas pessoas em Vill;> Franca do Campo, onde se achava de Correi-
ção ao tempo, em que o recebeu; mas recolhendo-sc Cidade, bem longe de o
<á
dar á execução, antes passou a negar que taes ordens tivesse recebido, protestan-
do-as com outros papeis, que figurava, e somente agora se sabe que elle os re-
mettera ao Governador e Capitão General das Ilhas dos Açores Francisco de Bor-
la Garção Stokler pela resposta que este lhe dá áquella participação, e forma o
Documento Numero Quinto.
Restava ainda outro remédio que era a noticia, que na ilha havia corrido de
que aquelle novo Governador e Capitão General tinha jurado em Lisboa a Cons-
tituição de Portugal, e a esperança de que elle daria occasião, e franouearia os
meios dos Povos das Ilhas fazerem outro tanto; porem toda esta se desvaneceu
na primeira embarcação, que depois da sua chegada á Ilha Terceira veiu á de
San Miguel, e que foi a doze de Fevereiro próximo passado, em que elle não
só deu ordens para que se não expedissem recursos para os Tribunaes de Lis-
boa, nem se executassem as sentenças que d'elles emanassem; e para que da
ilha não embarcasse pessoa alguma, nem para Portugal, nem para outra qual-
quer parte, e para que senão entregassem Livros, ou Gazetas, ou alguns oiitros
papeis impressos, que do Reino viessem, nem tão pouco se falasse do que n'elle
se passava, de sorte que vinha a pôr um Interdicto Politico entre Portugal, e a
Ilha de San Miguel, como tudo se vê dos Documentos que correm desde o nu-
mero seis até"ao Numero doze, mas.timbem arrogando a si a jurisdicção das
Camarás, atropelou, e pisou aos pés as providencias, que a de Ponta Delgada havia
dado tanto a respeito do Commercio, que na Ilha faziam uns índios naturaes de
Marrocos, que a troco de trapos exportavam toda a moeda d'ouro e patacas, que
podiam haver a si, como sobre a cobrança da renda da Imposição, e combinação
do consumo dos vinhos da terra com os das oJtras Ilhas, como egualmente se vé
dos Documentos Numero treze até quinze tudo contra o Regimento dos Gover-
nadores das Armas das Províncias do primeiro de Junho de mil seis centos se-
tenta e oito, paragrapho vinte, que expressamente lhes prohibe intrometterem-se no
governo das Camarás, proposto como regra ao Governador, e Capitão General
dos Açores no Capitulo septimo, e doze do Alvará com força de Lei, c Regimento
de sua creação de dois de Agosto de mil sete centos sessenta e seis, e contra a politica
da Mesa do Desembargo do Paço, a quem as Camarás são immediatamente su-
jeitas, que nunca jamais alterou resolução alguma que ellas na sua repartição to-
massem, sem que primeiro as ouvisse, concluindo ultimamente o referido Gover-
nador, e Capitão fieneral com o novo tributo, que impôz aos Officiaes de Justiça,
e a que se refere o Documento Numero dezaseis.
Não sendo estes projectos compatíveis com o Cioverno Geral e Juntas consti-
tuídas na Ilha lerceíra, e muito menos com ordens do Governador
as despóticas
e Capitão General Francibco de Borja Garção Stockler, para regulamento, e direc-
tório das Justi;;as se deram interinameiUe as providencias, que constam do Docu-
mento Numero trinta e sete, e ao mesmo tempo se mandou suspender a cobrança
da Decima das casas, c do sello das heranças, e Legados, aquella por se achar
commutívda em outros Impostos, que se lhe substituíram para os mesmos fins, a
que ella se dirigia, -e este por ser um tributo, que para se liquidar invnlve mais des-
pesas do que a sua mesma imporíaiu-ia, e não poder em circunistancias tnes uma
o outra cousa ser da approvação de Vossa Magestade, como egualmente a seu tera-
po se fará ver, e representar.
Para tudo isto ficamos tratando das Lleições dos Deputados pelas novas Ins-
trucções de vinte e dois de Novembro de mil oito centos e vinte, que cassando as
de oito antecedente regulam a Lleição dos Compromissarios, Eleitores, e Deputa-
dos das presentes cortes, e ainda que ellas sup lonham diversas comarcas em uma
Província, e isto senão verifique na Ilha de San Miguel, que não contem mais do
que uma só comarca; seguindo comtudo o espirito d'aquellas novas Instrucções
procuraremos encher á letlra quanto nos permittirem as circumstancias politicas da
Ilha, e se para tirar toda a duvida Vossa .\\agestade houver por bem dar-nos uma
norma particular, e adequada a estas circumstancias com menos receio, e mais se-
gurança procederemos.
Heis, Senhor, os passos, que tem dado os Habitantes da Ilha de San Miguel
para seguirem a sorte do Reino de Portugal, e poderem entrar na sua reforma, e
com elle fazerem causa coinmuni; e as medidas, que tem tomado este Governo
para |>romovcr a hlleição de seus Deputados, e conservar a Ordem publica; mas
como tudo isto é interino da parte dos mesmos lUbitantes não só rogamos a Vos-
sa .Magestade queira recebe-los no S:u grémio, como parte integrante do mesmo
Reino, e dar as Providencias, que julgar a j^roposito a respeito do seu Governo
da mesma forma, que pratica com as Províncias de Portugal; mas também visto a
Ilha se não achar com a defeza, de que na rescnte conjuncção precisa, apesar das
|
grandes sommas, que se tem gasto nas chamadas fortificações, que não serviram
maií do que para arruinar essas poucas, que havia, e que se tem exportado para
a Ilha Terceira, sem attenção alguma á necessidade em que a este respeito se acha
a de San Miguel, rogamos outro sim a Vossa Magestade hajav por bem mandar-
nos prestar os Socorros, e munições que vão insinuadas no Documento Numero
trinta e nove; e Supposto por aquellas exportações das rendas publicas não haja
cabedal sufficiente para a sua importância, comtudo ficamos cuidando na cobran-
1034 ftfcVlS tA MIÇH AE lfeNSC
ça de algumas das gi'aíides sornmas, v^ue d'ellas se devem, para Vossa Mâgestâdè
\ht dar o destino, que fôr servido.
Deus fíuarde a Vossa Magestade por muitos e venturosos annos. Sala do (jo-
verno Interino da Ilha de San Miguel aos 22 de Março de 1821.
O
Coronel António Francisco de Chaves e Mello— Presidente— André da
Ponte de Quental da Camará Souza— Vice-Presidente— António Francisco Bo-
i
Conferido
Mas n'essa politica de Separação era a Camará de Ponta Delgada quem to-
mava a parte mais activa e importante c o Procurador do Cjncelho José eite de I
Chaves é quem é o relator dos principios a que devem ser sulimettidas as bases
administrativas da nova organisaçâo politica independente daslliias do grupo ori-
ental de S. Miguel e Santa AAaria.
A primeira peça é esta justificação para provar a necessidade da Ilha de S
Miguel ser separada do Governo d'Angra.
JUSTIFICAÇÃO
para provar a necessidade da Ilha de San Migdçl ser separada do
Governo de flngra; 1821
Diz o procurador do concelho d'esta Cidade que para bem de sua justiça e
para poder Representara Sua Magestade e ao Soberano Congresso das Cortes de
Portugal o que convém aos povos d'esta Ilha pretende justificar o seguinte :
1."— Item que esta ilha de San Miguel ficando no meio do Atlântico dista da
Ilha Terceira mais de quarenta léguas e ainda fica mais afastada das outras dos
Açores.
2.°— Que as correntes do mar que separam aquellas lllias são tão fortes no in-
verno que as fazem incommunicaveis por muitos mezes resultando desastrosos nau-
frágios a alguns Navios que pretendem abordal-as; e outrrs arribados a Por-
tos muito distantes da Europa, Africa e America, quando navegam d'umas para
outras pela dependência em que tem estado do Governo de Angra.
, 3."— Que sendo esta Ilha de San Miguel quasi egual em cxtensSo á de Angra
é dupla, ou tripla em intensão pela sua população, rendimentos c commercio.
4.°--Queesta Ilha de San Miguel tendo superabundantes géneros de suas ito-
ducções para o consumo da sua população nenhuma precisão tem das outras
Ilhas, nenhuma dependência d'ellas, c muito menos da Ilha Terceira, para por el-
las, ou por ella ser soccorrida, e quando chegasse á hypothese de precisar algum
soccorro mais fácil liie seria havcl-o de Portugal, ou d'outros Portos da Europa, até
porque para aili exporta os seus géneros sobejos e a troco d'clles poderia prover-
se do que precisasse.
5.°--Que pelos mesmos motivos da distancia em que se acha das outras Ilhas,
e bravura dos mares que as separam não pode jamais receber d'ellas algum soc-
corro no caso de ser acommettida por alguma força inimiga superioras suas forças
internas pela difficuldar^e de communicar esse ataque e collisão em que se vir aos
governos das outras Ilhas e maior difficuldade ainda em lhe vir de lá soccorro pois
que devendo este vir pelo Mar não ha Navios d'aquellas alturas que conduzam
Tropas, e os mais provimentos bellicos para sua defeza e quando viessem cahiriam
nas mãos do inimigo que com suas armadas bloqueassem a mesma Ilha.
b." — Que em taes circumstancias só pode a mesma ilha ser soccorrida pela
Mãe Pátria porque de Portugal pode esperar todos os soccorros assim de gente
como petrechos bellicos em embarcações foi-tes que resistam a uma tal invasão.
7."— Que egualmente lhe é inefficaz, e desproveitoso o governo Militar da dita
Ilha com dependência do Governo de Angra, porque devendo as providencias da
sua defeza ser promptamente dadas deve o Commandante Militar da mesma Ilha
resolver por si e com o conselho Militar n'ella estacionado os negócios occorrentes
sem estar esperando a resolução da lliia Terceira já pela difficuldade em conse-
guir esse Conselho que p.)de demorar-se mezes «em se obter e vir a tempo de es-
tar perdida a causa da mesma defeza, já porque não estando o Governador de
Angra ao facto do negocio que pode variar de circumstancias d'um para outro mo-
mento podem esses conselhos vir a tempo de serem mais prejudiciaes que provei-
tosos á dita defeza.
8."— Que á vista do exposto vem a ser inútil a esta ilha adependência do Qo-
verno Militar d'ella do Governo Militar de Angra, e muito mais conveniente útil e
proveitoso lhe é communicar se directamente com o governo de Portugal no que
respeita á sua defeza.
9."— Que pelo que toca ao Governo Civil e Criminal militam eguaes motivos, ou
ainda mais poderosos para deverem os cargos das magistraturas ser independen-
tes em suas deliberações d'algum m.igistrado ou corporação esticionada na cida-
de de Angra, e é mais commodo e proveitoso a todos os povos que alli se deci-
da.n todas as questões Civis e Criminaes na primeira instancia tendo por ultima
instancia as Relações estjbeleciJis e:n Lisboa tinto porque para alli teem mais fá-
cil correspondência já por paquetes e já por fimbarcações mercantis que todos os
mezes, ou variados em cada m.z saliem d'esta ilha para Portugal, já pela facilida-
de de pôr alli os seus fundos pelos géneros que se exportam para Portugal; ]á
porque em Lisboa tem mais doutos advogados que os defendam, e ministros mais
sábios e imparciaes que decidam as suas questões quando n'aquella Ilha Terceira
alem das ponderadas diffi:uldiJes dt cominunicação é preciso mandar moeda que
empobrece esta ilha; não ha lett.ados beneméritos, e os mesmos defeitos deo rdinario
concorrem nos Ministros que alli võo ad uinistrar Justiça, porque sendo nos pró-
prios lugares, e achando-'^e distantes da Corte e de, quem pode corrigir as suas ac-
ções é fácil a prevaricação quanto é diíicil os povos remediar os inales que
d'aqui lhe resultam.
10.°— Que .alem d'isto accresce o ódio, e rivalidade que tem ha muito a esta
parte os habitantes da Ilha Terceira aos povos d'esta tlha; ou seja por ver em a
sua maior populição, riqueza e commercio tudo devido á sua, actividade, e á sua
industria, e.não poderem competir com elles, d'aqui resulta procurarem todos os
meios de vexa-los e opprimi-los nas suas pessoas, na sua honra, e na sua fazen-
da, fazendo os esforços com todos os Mandantes que tem na mesma Ilha Ter-
ceira para macular os seus créditos e deprimi-los por todos os lados até com si-
nistras informações que fazem levar aos Iribumes Superiores e á Real Presença
íazendo-se por isso sempre suspeitos aos povos d'esta Ilha, para conhecer das
suas causas.
\\.° Que por esses motivos tem os povos d'esta Ilha soffrido ha muitos an-
nos a esta parte oppressões e vexaçõ-;s em suas pessoas e l^ens, e tem a fazenda
nacional experimentado as maiores extorsões e delapidações em consequência das
ordens emanadas d'aquelle Governo de Angra mancommunadas com a Junta da
Fazenda Nacional alli estabelecida.
—
12." Que antes mesmo de ser creado o batalhão da mesma Ilha Terceira es-
tabelecido por ordem Regia vinham a cada hora ordens expedidas aos Governa-
dores d'esta para procederem ao recrutamento, as mais rigorosas a titulo de se pro-
verem os logares vagos do pé do Castello que na mesma Ilha Tesceira existia.
13."- Que depois de erecto o Batalhão na Ilha Terceira cresceram or recru-
tamentos que n'esta Ilha se mandavam fazer; e sendo pelo ex-general 1'rancisco
1 036 ^VjSTA MlCHAt^VíSE
António d' Araújo erecto unri segundo batalhão na dita lllia Terceira foi este o no-
vo pretexto para novos recrutamentos.
14."— Que taes recrutamentos tinham só por objecto attrahir gente para aquei-
ia Ilha para depois serem vendidos os recrutados como escravos pois que eram
obrigados a comprar a sua liberdade aos (lom mandantes militares e a todos os
que influíam no Governo de Angra.
15.° —
Que sendo resgatados estes miseráveis recrutas com o seu próprio di-
nheiro immediatamente se procedia a novos recrutamentos que se iam pôr etn
venda na dita cidade de Angra ao que mais desse pela sua liberdade.
ló."— Que aquelles recrutas eram ordinariamente extrahidos da classe dos la-
vradores, e trabaliiadores do campo, e mais prédios rústicos e com elles não só
tem diminuído a Agricultma que hoje podia ter crescido e com ella as producções
d'esta Ilha, mas também diminuido muito com a sua População que podia ser do-
brada, tanto assim
Que achando-se mais de metade d'esta ilha sem cultura por falta de po-
17.°—
pulaçtão e de braçosque se emprtguem em rotear as terras maninhas, os povos
por si mesmo industriosos e laboriosos sem precisão de serem auxiliados e pro-
movidos por si mesmo tratariam de abrir essas terras incultas para d'ellas cxtrahir
fecundas producções.
18.°— Que com taes recrutamentos se multiplicaram as despezas da fazenda
Nacional por ser preciso e indispensável dispender muito em cada uma das novas
recrutas no seu transporte d'uma para outra ilha no seu sustento e fardamento
primeiro que chegasse a estado de fazer serviço, c todas essas despezas eram perdi-
das para a fazenda nacional pelas baixas que se dava em almoeda.
19." —
Que não contentes os ditos Mandantes da Terceira em assim persegui-
guirem os Povos d'esta Ilha por aquclle modo tratando-os como manadas de Ove-
lhas e Escravos da Quine e em delapidarem por aqueJle modo a Fazenda Nacio-
nal elles remettiam a cada passo ordens aos Governadores d'esta Ilha tendentes a
destrui-la, e a consunur os dinheiros da fazenda nacional.
20.° —
Que semelhantes ordens foram enviadas ao Governador Francisco de
Paula Cavalcanti, ao seu Successor Sebastião José de Arriaga Brum da Silveira,
para reparar as fortalezas da costa d'esta ilha debaixo da inspecção do Engenhei-
ro Francisco B )rges, e entend-endo-se elle em sua execução com o Governo de An-
gra fez demolir as principaes obras das fortalezas de San Braz, para sobre ellas cons-
truir outras, inutilizando as grandes despezas que se haviam feito coma sua cons-
trucção e accrcscentando despezas á fazenda nacional que exgotartam os seus the-
souros.
21."- Que alem d'esta
Fortaleza destruiu outras qu: existiam por toda a costa
da Ilha, bem construídas, em pontos salientes, e mais próprios para a sua de-
e
feza fazendo de novo outras obras no interior da Ilha que nenhuma defeza podem
produzir no caso de ser acommettida por força inimiga disi^endendo com isto som-
mas immensas ao thesouro Nacional, e vexando os povos sobre maneira.
22." "Que não contentes os ditos Mandantes de Angra com taes despotismos
mandaram outra ordem ao dito ex-governador Sebastião José d'Arriaga Brum da
Silveira para reparar as estradas de toda esta Ilha com o pretexto de ser preciso
haver n'ellas estradas militares para por ellas transitar artilheria no caso de algu-
ma invasão iiiiniiga quando taes estradas só iwdiam favorecer os aggressores e
quando toda a defeza d'esta ilha é exterior, e uma vez que uma força armada de
Tropa i)odesse assalta-la nenhuma resistência poderia oppor-se-lhe como é bem re-
conhecido por todos os intelligentes da matéria.
23.° —
Que este plano só teve por objecto exgotar o Thesouro Nacional com
despezas extraordinárias e inúteis, vexar e opprimir os Povos d'esta Ilha com pe-
didos enormes, e fachinas violentas, exigindo de cada um dos pobres miseráveis
Jez, doze, e mais dias de trabalho gratuito, as suas bestas, os seus carros, sem ne-
RlEyiSTA MICHAELENSIE 1 037
Aos sete de Dezembro do corrente anno de mil oito centos e vinte um, sendo
nas casas da Camará e J^aço do Concelho d'esta cidade de Ponta Delgada e ca-
beça da Comarca da Ilha de San Miguel e Santa Maria, achando-se congregados
os vereadores da mesma camará para deliberar sobre negócios importantes do in-
teresse geral dos povos da dita cidade e Comarca a instancia do í^rocurador do
Concelho José Leite de Chaves e Mello e do Syndico e Accessor da dita Camará
o Bacharel JV\atheus de Andra le Albuquerque Bettencourt em conformidade do
Alvará de ò de hevereiro de 1614, ahi compareceram egualmente os vereadores
das outras Camarás da mesma Ilha para requererem e accordarem sobre os di-
tos importantes negócios o que enten-
dessem ser mais proveitoso aos povos
que cada uma d'elles representa.
2."
Discorreram sobre este assumpto em nome dos povos d'esta Ilha que repre-
sentam todos os ditos vereadores, declararam que era o maior de toJos os bens
que podiam advir a estes povos com a regeneração politica de f^ortugal o ficar es-
ta ilha com a de Santa Maria para sempre independentes do Governo da Ilha Ter-
ceira constituindo uma só Província distincta com directa sujeição aos governos
B &VistÀ MICHAEL ENSE 1039
de Portugal estabelecidos em Lisboa, não só por terem com Portugal mais fácil
commuiiicação c correspondência c para aiii costumarem exportar os seus géneros
mas também porque dos mesmos tribunaes do Reino sempre teem recebido mais
prompta e recta administração de justiça quando ao contrario dos governos de
Angra só teem emanado ordens oppressivas para esta Ilha tendentes a escravisar e..-
tes povos e destruir os seus estabelecimentos agrários, commerciaes e económicos e
destruir a fazenda Nacional com extorsões, roubos e inúteis applicações quando os
mesmos governos de Angra nenhum proveito ou beneficio podem communicar a
estes povos com os quaes sempre tiveram uma declarada rivalidade.
4."
Lembraram os mesmos vereadores assim congregados que sendo descoberta
esta ilha no anno de mil quatro centos quarerita e quatro, foi sempre governada
com independência das outras pelos seus Capitães donatários que entretinham as
suas relações directas com I^ortugal sem que os senhores reis d'estes reinos se lem-
brassem de subordina-la ao governo de Angra até que no anno de 1643 foi pro-
posto em Cortes pelo Senhor D. João IV devet crear-se em Angra um Qoverno
para n'elle reunir a Bicha de tantas cabeças, quantas eram as ilhas dos Açores e
oppondo-se a isso um nobre fidalgo de Angra, Procurador e deputado na» mes-
mas Cortes disse: <-que a Bi.ha assim nascida e creada com muitas cabeças vivia;
e que cortando-se alguma d'ella3 ou morreria ou mudaria de vida-; então resol-
veu El-Rei que nunca lia^eria Qoverno Oeral nas mesmas Ilhas, o que foi depois
confirmado por alvará de 15 de Junho de 1654.
5."
Que por este modo se regeram todas as ilhas com Governos independentes
umas das outras e cresceu a sua população, a sua agricultura e o seu commercio
floresceu; quem hoje pisa os seus terrenos só pode ajuizar as grandes fadigas, pe-
nalidades, e dc5p?za5 a que se expuzeram os seus primeiros povoadores e os suc-
cessores d'estes para reduzirem á cultura montões de penhascos e escabrosas pe-
nedias, productos vulcânicos de que são pela maior parte compostas as ditas Ilhas
e o resto mattos bravios inaccessiveis reduzindo tudo a campos férteis e fecundos.
6."
Ponderaram que ainda mesmo pelo que pertence aos negócios ccciesiasticos se-
ria de grande importância para esta Ilha e a de Santa Maria desligal-a do Bispado
de Angra pelas difficuldades que ha nos recursos e communicações com a quella
Ilha Terceira creando-se um bispado na mesma Ilha com os rendimc-ntos quen'el-
la são applicados para sustentação do Bispo de Angra e superabundam para subsis-
tência do nosso episcopado ou assignando-lhe um certo rendimento de trez ou qua-
1 040 REVISTA MICHAELENSE
tro mil cruzados muito equivalente para sua decente sustentação e tratamento
maiormcnte accrescendo os emolumentos que lhe -provêm da Secretaria ficando
remanescendo outro tanto ou mais a beneficio da Fazenda Nacional.
9."
Lembraram que cidade bem podia ser a Sé da Diocese Mi-
a Matriz d'esta
cfiaeiense com os beneficiados d'elía sem necessidade de se crearem Conezias c
outras dignidades que só servem de luxo, e de augnicntar despezas sem que resul-
te beneficio á religião, ao bem espiritual das Almas; ou aliás se represente ao So-
berano e Augusto Congresso das cortes e a sua Magestade para que esta Ilha, e
a de Santa Maria fiquem em tudo subordinadas á Cúria fatriarchal de L.isboa.
10."
Ponderaram que cliegando iMoximamente de Lisboa uma embarcação de lá
zc annunciava estar quasi perdida a Causa da independência da nossa ilha e a
ponto de ser decidido no Soberano e Augusto Congresso das Cortes que devíamos
tornar a ser escravos e sujeitos ao detestável governo de Angra que uma pro-
;
verno representativo e constitucional, c onde ainda hoje domina uma anarcliia sem
limites bem que abafada peia Auetoridade que tantos ineommodos, despezas e
cuidados teem dado ao Soberano e Aujjusto Congressio das Cortes e ao Governo
de Portugal para subjuga-los e attrahi-los ao caminho da Virtude venha a ser a
nossa dominadora por determinada resolução do mesmo Soberano e Augusto Con-
gresso das Cortes aonde se acham reunidos os mais sábios e justos Varões da
Nação, e se tal acontece ver-sc-hia castigada a virtude e premiada a maldade.
1
õ."
"
10."
a Villa da Ribeira Grande 7.381 habitantes alem dos luiíares cir-
Que tendo
cumvisinhos, devem alli crear-se duas cadeiras de ler, escrever e contar com o or-
denado de 130.000 reis a 150.0(0 reis, uma de Grammatica Portugueza e Pranceza
uma de Grammatica Latina, uma de Rhetorica, uma de Lógica, Metaphysica ePhy-
sica com o ordenado de 150.000 a 200.000 reis.
20.°
Que tendo a Villa Franca do Campo com o lugar da Ponta Garça 5.òQ4 lhes
parece justo que alli se estabeleça uma escola Régia de ler, escrever e contar com
o ordenado de 120.000 reis a 140.000 reis, uma de Grammatica Latina e Portugue-
za e outra de Rhetorica com o ordenado de 130.000 a 100.000 mil reis, procuran-
do-se dignos mestres com conhecimentos que os habilitem para desempenharem
os mesmos empregos.
21."
Que reunidas todas estas e outras justas razões, moveram as Camarás d'esta
cidade e demais Ilha a supplicar a Sua Magestade pelo ^eu tribunal do Dezembar-
go do Paço a graça de lhe vedar a livre impoetação de vinhos das mais Ilhas para
n'esta serem consumidos ficando ao .nrbitrio das Camarás, quando se verificasse
em algum anno precisão d'aquelle género para o consumo dos Povos o mandar
vir de fora, permittindo as competentes licenças para sua impoi tacão sempre com
preferencia aos vinhos do Reino por ser mais fácil adquiri-los a troco de géneros,
que d'esta Ilha se exportam para Portugal; e conseguindo a referida provisão de
15 de Março de 1802 viram estes povos renascer os bens de que se achavam
até alli privados.
29."
Finalmente disseram que uma Mão sinistra e poderosa tomando a seu car-
go proteger a caura das outras ilhas conseguiu de Sua Magestade a expedição
do Alvará de 25 de Outubro de 1810, que cassou a sobredifa provisão, fazendo
livre a importação dos vinhos das outras ilhas a titulo de Commercio e para o
seu consumo n'esta como apparente protesto de ser a mesma provisão tendente
a proteger um monopólio, e a embaraçar o livre giro do Commercio das outras
Ilhas com esta quando sendo todas uma só Província, devia entre todas um li-
vre Commercio dos géneros de suas produções quando nem um nem outro fun-
damento se verifica, e os males que lhe advieram com a execução do mencio-
nado alvará abrepticia, e sobrepticiamente expedido sem audiência das Camarás
d'esta Ilha e só por informações ambicionadas do Governo d'Angra e pelas mal-
versações d'aqHelles que interessavam em fazer a ruina total d'estes Povos, são
a decadência absoluta da Agricultura das vinhas e outras ainda maiores que de-
vem expór-se ao soberanno Congaesso das Cortes na representação que muito
convém se lhe dirija a este assumpto.
30."
Foi finalmente proposto se é conveniente representar-se ao mesmo Soberan-
no e Augusto Congresso das Cortes, e a Sua Magestade a necessidade que têm
estes povos de exportar os seus géneros, trigo, fava, feijão, e principalmente o
milho para Reinos Estrangeiros, pedindo a graça de assim lhe ser facultado.
31."
Disseram os Congressos que nada podiam acrescentar sobre a justiça de sua
matéria alem do que foi sabiamente expendido pelos er.iditos e muito sábios.
Excsllentissimos Senhores Deputados do Augusto Congresso das Cortes de Portu-
gal sobre a questão da livre introdução dos Cereaes em Portugal conformando-
1 044 REVISTA MICHAELENSE
se com as melhores opiniões de todos os publicistas que fazem consistira felicidade dos
Estados augmentando a exportação dos seus proJuctos, e diminuindo a importação
dos extrangeirose esta regra que procede nos F.stadosCirandes não deve exceptu.ir-
se d'esta graça á Ilha de S. Miguel que hoje faz parte integrante da Nação Portugueza.
32.;'
E requereram mais alem do exposto ós Vereadores das Camarás do Nordeste
ficando as suas povoações m.ito mais distantes d'esta cidade do que as outras vil-
las tanto por isso como pelas mns entradas cortadas com ribeiras por muito tem-
po intransitáveis era impraticável mandarem os pacs de familiias seus filhos aedu-
car-se n'esta cidade e nas referidas Viilas onde se pede o estabelecimento de ca-
deiras de Rhetorica e Philosophii Racional e Moral requerendo que na represen-
tação que se fizesse ao Soberano e Augusto Congresso das Cortes se pedisse ef!^n-
almente para aquelia villa alem da cadeira de ler, escrever e contar, uma de
Orammatica Latina, uma de Rhetorica, e uma de Phiiosophia Racional e Moral.
33."
Coronel José Theresi Michelotti para desenhar o plano e calculara despeza neces-
sária com um tal estabelecimento ao qu; slle satisfez rcmettendo tudo para a Se-
cretiria de Estado dos Negócios d Reino de Portugal e Brazil, então estacionada
>
DA
FREGUE2IA DE NOSSA SENHORA DúS PRAZERES
DO
Logar do Pico da Pedra, colligidas de documentos e
tradições pelo Vigário da mesma íreguezia António
Furtado de Mendonça, no ai^no de 19 IJ
CONTRA FÉ
Ruy Teixeira Borges, Administrador do Concelho da Ribeira Grande et>".
Sabendo que parte do povo d'essa freguezia se apavora ao passar pela resi-
dência do Parodio d'essa mesma freguezia António Furtado de AAendonça devido
á côr com que ella está caiada, mando ao regedor de Parociíia do Pico da Petlra
intime aquelle Parocho a retiral-a o mais breve i^ossivel e a substituil-a por outra
qualquer côr, exceptuando a escura, sob pena de desobediência ás ordens termi-
nantes do Governo da Republica Portugue/a.
Cumpra-se:
Tem este nome o cruzeiro levantado em uma servidão do iado norte da ca-
nada da Giesta d'este freguezia. Originou-o o desastre de que foi victima um sym-
pathico cavaliíeiro d'esta terra Francisco loires do Couto, fillio de Francisco Pires
do Couto e de D. Isabel da Motta. Bastante vigoroso e muito novo, pois contava
apenas 32 annos, sahia d'uma terra de seu pae em um carro conduzido a bois,
quando estes instigados pelo conductor se lançaram em tamanha brida, que o dei-
taram fora do carro, com tal fatalidade, que ficou instantaneamente morto, sem a
minima lesão no corpo.
Produziu, como era natural este acontecimento a maior consternação em todo
o logar porque a victima era bastante sympathica pelo seu porte correcto c costu-
mes irreprehensiveis. Era filho único de seus pães, que deixou ainda vivos, para
carpirem até á morte uma fatalidade que liies roubou o melhor amparo da sua
velhice e o único herdeiro necessário dos seus bens. Deu-se este trágico aconteci-
mento na tarde do dia 13 de outubro de 1890.
Para o commemorar levantou o pae do deíuncto o cruzeiro, que a piedade
popular intitulou do desastre.
Alli vão em romaria por vezes, no cumprimento d'uin voto ou supplica, pes-
soas afflictas e piedosas, levando coroas de flores naturaes para ornar a cruz e
velas para a illuminar, seguidas d'um pobre, para isso prevenido, com o fim de
trazer as mesmas velas para" o serviço de sua casa.
Benernereneia social
Sendo pequena e de moderna fiuidação a freguezia do Pico da Pedra, fci tal-
vez a primeira d'esta ilha dotada com um albergue nocturno.
Existiu o primeiro na rua das almas, legado por José Alves do Couto, que a
uma antiga serventuaria de sua casa impoz a obrigação de abrir e fechar a porta.
L)o esquecimento em que cahiu o pequeno albergue, que representava uma
WfeviSTA MlCHÁliLKN^t lb4'0
lucrativa.
a instrucção secundaria em Ponta Delgada pode habilitar-se a me-
Cursando
recer cadeira effectiva de sciencias no nosso lyceu, que regeu até se jubilar,
uma
vivendo ainda por muito annos no goso da sua reforma.
Após a sua aposentação estabeleceu residência definitiva n'esta freguezia, on-
de nascera e se creara.
Vivendo n'uina freguezia rural, não perdeu nunca as maneiras aftaveis e trato
fino, que faziam d'elle um verdadeiro oentlenian mostrando-se
cortez para com
todos, ainda os mais pobres e pequeninos.
Presou sempre os livros, de que tinha bóa provisão e no amor das lettras
REVISTA MICHAELENSE 105]
creou os seus filhos, chegando a ter a fehcidade de ver formados pela Universi-
dade de Coimbra dos filhos do seu segundo matrimonio, os Drs. Aristides Morei-
ra da Motta e I^iniz Moreira da Motta, que ainda em tempo de seu pae occupa-
ram os elevados cargos de representantes d'este Districto em Cortes onde honra-
ram sobremodo o nome d'esta terra, onde se creou o primeiro e nasceu o se-
gundo.
Ao Dl. .Aristides Moreira da Motta se deve a iniciativa da autonomia admi-
nistrativa do Archipelago Açoriano, ideia, que soube defender na imprensa com
boas razões e reduziu a uma proposta de lei, que após tantos annos voltou agora
a ser discutida na imprensa local, com o applauso, que merece.
Ainda em tempo de seu pae occupou com honra para o seu nome e proveito
para os interesses locaes os mais eleVados cargos da administração districtal, sem
prejuízo dos seus deveres profissionaes de zeloso professor effectivo do Lyceu de
Ponta Delgada, e causidico de grande mérito.
Occupou o Dr. Diniz Moreira da Motta o logar de director technico das obras
publicas d'este Districto, herdando, como todos os seus irmãos, de seu pae, as qua-
lidades de honra e zelo profissional, que são o melhor apanágio de todos os ho-
mens de bem (a).
Alem dos serviços mencionados n'outro logar, prestados por António Augusto
da Motta Frazão á instrucção e ao abastecimento d'aguas. n'esta terra, deve-lhe esta
ainda a abertura d'uma rua que liga a rua dos Ledos com a dos Prazeres e por
pouco não conseguiu o prolongamento em linha recta da rua das Almas, em que
se empenhara promovendo uma subscripção, cujo producto foi applicado, al-
guns annos depois da sua morte, pela Camará Municipal ao alargamento do ce-
mitério d'esta parocliia.
A' bôa moral, de que deu sempre os melhores exemplos, juntou António Au-
gusto da Moita Frazão a fé christã, que herdara de seus pães, mostrando-se até á
morte zeloso observante dos seus deveres religiosos.
Succumbiu a um ataque cerebral, que o acommetteu no dia oito d'Abril de
18Q2 quando partia para Ponta Delgada na disposição de abraçar o seu filho Aris-
tides que regressava do continente portuguez, fallecendo no dia nove, tendo a tris-
te consolação de lhe fechar os olhos o mesmo filho, que seu pae já não consegui-
ra vêr.
No seu funeral recebeu as honras que a popularidade do seu nome re-
clamava.
E' d'uma provada salubridade o logar do I^ico da Pedra, embora pareça de-
prehender-se o contrario do seu obituário annual, que em uma epocha excepcio-
nal chegou a ascender ao numero 80, o que não é pouco para uma população de
1.500 almas.
A media regular de 40 óbitos podia ainda ser reduzida a um numero mais
restricto, se com as creanças, que offerecem maior contingente á estatística obi-
tuária d'esta freguezia, houvesse um tratamento mais humanitário, para não dizer
hygienico.
A sopa ministrada ás creanças na edade em que ellas se deviam alimentar
apenas dos peitos de suas mães é o virus principal da sua organisação débil, que
só por milagre as deixa escapar.
(a)— Por proposta do Sr. .\ugusto de Faria, nitiiibru da Gamara Municipal d'este Concelho, foi
trocado o nome da rua Direita d'esta freguezia no de rua do Dr. Diniz Moreira da Motta, por ter iicl-
ia nascido este illustre cavalheiro, na casa que c hoje residência do Parocho próprio. Foi tomada esta
deliberação na sessão de t d'Outiibro de 1^14. O homenageado falleceu a 24 d'Ago?to de 1^14, tendo
nascido a 2 d' Abril de ISOO.
A superstição com que a ignorância popular procura por vezes explicar à
morte inesperada das creanças tem aqui como n'outrcis partes, um esclarecimento
taci!, 'abia dal-o com a madureza de velho e a graça da sua puticuliir bonhoniii
António Taveira da Silva, bom homem d'esta terra.
Quando alguém se queixava d'uma crean::a haver moirido embruxada, cos-
tumava elle observar: diga enibucliada e não embruxada, attribuindo com razão a
mortandade das creanças ao excesso e impropriedade da sua alimentação.
A longevidade n'esta tcra é tão vulgar, uue a ninguém causa admiração, ain-
da mesmo nos casos em que ella attinge maior extensão. Falleceu n'esta freguezia
tstevão do Couto, de Q5 annos em 1SQ2, da mesma edade falleceu cm 18Q4 D.
Antónia Guilhermina Taveira, e ainda ha pouco falieceu no Ramalho uma filha
d'esta, de nome Marianna, con^. 84 annos, governando a sua casa até poucos dias
antes da morte, com a actividade e discreção de pessoa nova e b.istante saudável.
De 91 annos falleceu em Novembro do anno passado, com a mais completa luci-
dez de espirito. Francisco 1 homazio d'Almeida. Com 89 annos feitos, Manuel Ja-
cinttio do Couto, vae todos os dias á egreja ouvir missa a que assiste de joelhos,
sem grande incommodo,e com 84 seu irmão José ganha ainda no serviço do cam-
po o pão que come e sua esposa, tomando ás costas um barril d'agua sem grande
esforço.
De homens valentes ha memoria de bom numero. Para envergonhar a todos
bastará a recordação d'uma mulher, que sobraçava um sacco de trigo de seis al-
queires, sem que as faces se tornassem por isso vermelhas. Foi Rosa Clara do Co-
ração de Jesus, mãe de iVUrianno Pereira de Sousa Serpa. Soube este honrar a sua
mãe, contrapondo algumas vezes as suas forças ás de dois bois, ao puchar d'um
carro de lavoura com bom peso de carga.
De epidemias propriamente ditas não ha memoria senão d'uma. Foi a varíola,
que em 1873 fez duplicar o numero d'obitos d'esta freguezia elevando-o a 80. N'u-
ma casa da canada do Cumprido foi improvisado um hospital jiara onde foram
removidos os doentes, sendo-lhes a!li ministrados todos os soccorros de que ha-
viam mister, incluindo os sacramentos.
Posteriormente tornaram-se normaes n'esta freguezia i^or alguns annos no
outomno as febres infecciosas que em alguns casos se revelavam verdadeiras ty-
phoides fazendo victimas, em bôa edade, deixando por i^so profundo sentimento.
Extinguiu de todo este mal ha alguns annos a assistência medica nas condi
ções de maior proximidade e commodo eiu que a veiu estabelecer n'esta terra
um illustre clinico de saudosa memoria, o Dr. Fduino Rocha.
Por muitos annos esteve a saúde publica n'esta freguezia c<infiada aos cui-
dados d'um curioso de nome Joaquim Rodrigues da Pedr-, natural do conti-
nente portuguez, que em uma roça do Brazil fizera entre escravos o feu tirocí-
nio medico.
Com uns ligeiros medicamentos hnmeopatliios dií (luc tinha muito reduzida
IMovisão, e alguns xaropes caseiros contentou por muito tempo a credulidade po-
pular que lhe gratificava os préstimos com uns alqueires de milho annuaes com
a condição de se substituir por um medico nos casos de gravidade.
Eram porem estes muitos raros na opinião do dito curandeiro, que preferia
appellar para o coveiro, pago por conta dos interessados do defuncto.
Foi em 18Q9 que a iniciativa do Dr. Eduino Rocha, medico d'este concelho
poz termo á situação de relativo abandono, em que se encontrava esta freguezia.
Com o parocho actual da mesma veiu o mesmo distincto cavalheiro e illus-
trado clinico entender-se para a organisação d'um partido medi'?o n'este logar,
com a assistência de dois médicos e a obrigação d'uma visita semanal á freguezia
havendo banco no archivo parochial para todos os doentes, que pudessem pro-
curar o medico, e visitas domiciliirias a todos os que as requisitassem. Para maior
commodidade dos seus parochianos e do medico, que nem sempre poderia chegar
ás horas determinadas, lembrou o pnrocho a conveniência de um toque de sino,
REVISTA MICHAEIENSE 1053
p.ira advertir a chcí,'acla do medico, costume, que se ficou observando até ao pre-
sente.
Fira ainda do contracto, que fora da visita semanal, se poderiaiti requisitar as
que se julgassem precisas, com a condisão |iorem de facultar ao medico o meio
de transporte.
Eram diversas as taxas da quota, a principio semestral c mais ta -de trimensal
conforme os haveres de cada um, arliitradas pelo parocho, que fez o primeiro ar
rolamento pelas portas dos seus fregue/es, com agrado e satisfação de tod')s. O
calculo máximo do rendimento annual do partido não excedia 300S000, quando
se estabeleceu, e ainda hoje não deve ir alem d'esta cifra.
Começou o partido medico do Pico da Pedra em julho de 18QQ, fazendo o
serviço clinico com o l)r. F.duino Rocha n'esta mesma data o Dr. Nicolau Anas-
tácio de Bettencourt. Com a transferencia d'este para Lisboa veiu substituil-o o
Dr. João Pereira l"orjaz de Lacerda, que por sua vez e pela sua transferencia para
a cidade da Horta foi substituído pelo Dr. \'irginio Cabral de Lima, único encarre-
gado de presente, do partido medico d'esta íreguezia, que perdeu o seu fundador
a 10 de Setembro de 1010, dia infausto da sua morte, sentida por todo o Conce-
lho da Ribeira (jnnde e em particular pos esta freguezia, como uma das maiores
perdas sociacs, produzida n'um meio em que não abundam as dedicações e desin-
teresse, que constituíram as melhores qualidades de caracter do Dr Eduino Ro-
cha, benemérito fundador da caixa económica da villa da Ribeira Grande, e illus-
tre filho da cidade da Horta.
No concurso aberto pela Camará Muni:ipal d'este Concelho para a substitui-
ção do Dr. Lduíno Rocha foi apposti a clausula do serviço gratuito e uma vií-ita
semanal aos pobres do Pico da Pedra, com estabelecimento de banco, a similhan-
ça do que estabelecera por contracto particular o Dr. Eduino Rocha.
Foi provido n'estas condições o Dr. Manuel Telles Pinto de Leão, que para
este Concelho veiu transferido da Ilha de Santa Maria. Apresentou- se n'esta fre-
guezii pela primeira vez no dia 13 d'Abril de 1911, quinta-feira sancta, acomiia-
nhado de dois vereadores d'estc Concelho, solicitando do parocho o serviço do
sino, á similhança do partido já estabelecido, comprou. ettendo-se a gratificar o
sachristão, o que lhe foi concedido, escolliendo para banco um quarto da casa
fronteira á Egreja narochial, pertencente a José Cabral da Motta, que para tal fim
foi arrendado á (Jamara pelo inquilino que n'ella mora.
Astá servido pois o Pico da Pedra com. dois partidos c duas visitas seoia-
nacs dos m.-dicos que os servem, em dias differcníes.
Estação postal
Fui dotada esta freguezia com uma Estação postal de segunda classe por Por-
taria ministerialde 27 de Junho de 1896.
Não veiu cedo este beneficio para uma freguezia, que já a esse tempo pagava
um considerável tributo á emigração para os Estados Unidos da America, ten-
do de ir a Rabo de Peixe procurar a sua correspondência as muitas pessoas,
cjue a recebiam d'alli e d'outras partes.
Foi fundada primeiro a estação postal das Calhetas para onde passou o ser-
viço do Pico da \'cdva. e d'alli para esta íreguezia na data citada.
Em 18S8 ainda era feito na estação de Rabo de Peixe o serviço da 'reguc-
zia do Pico da Pedra.
Foi primeiro encarregado official d'este ser\iço n'esta freguezia João Aíoniz da
Couto, que ainda mantém esse cargo.
Viação
Com justiça deve ser contada esta conio um dos majs importantes melhora-!
1 054 REVISTA MICH AELENSE
mentos locats, c não ficaria completo este serviço histórico se á viação d'este Jo-
gar se não referissem estas memorias.
N'esta terra em que predomina o serviço da lavoura, honrado íempre pelas
pessoas maií abonadas que a elle se consagram de preferencia, foram por muito
tempo os carros de bois o meio de conducção, não só mais commodo para os ser-
viços do campo, mas ainda mais nobre para transporte de pessoas.
Ainda hoje é curioso ver no transporte do milho a ufania com que os lavra-
dores acompanliam o seu carro, de aguiiiiada ao hombro, deleitando-se visivel-
mente com o guincbo do eixo, musica desagradável, que nunca foi possível sup-
primir. A par dos carros de lavoura, foi sempre aproveitado o serviço dos jumen-
tos e muares, que até ha poucos annos mereciam a preferencia no transporte de
pessoas.
A introducção do primeiro char-a-bancs no Pico da Pedra deve-se a Joséd'A-
guiar que o adquiriu ha cerca de 30 annos para o seu serviço particular, e que
depois de haver pertencido por pouco tempo ao Padre José Lucindo da Graça foi
parar ás mãos de Manuel da Costa Pinheiro, que o poz a fretes, com que fi-
cou dotada e^ta freguezia pela primeira vez com um meio mais decente de
transporte.
Pouco depois, ha cerca de 2'3 annos, veiu juntar-se a este um novo melhora-
mento de verdadeira utilidade commum, com o estabelecimento diário d'uma car-
reira domnibus da villa da Ribeira Grande para a cidade com passagem pelas
freguezias de Rabo de Peixe, Calhetas e esta. Deve-se este emprehendimento a
Balthazir Muniz de Vasconcellos, da sobredicta villa, que teve logo um emulo no
negocio estabelecendo com a mesma procedência e destino nova carreira em dif-
ferentes horas de regresso. A primitiva taxa estabelecida para os passageiros do
Pico oa Pedra até á cidade foi de dois tostões; d'esta freguezia para a Ribeira
Grande cento e vinte reis (a).
Prezentemente está dotada esta freguezia com bom numero de char-a-bancs
de aluguer, havendo movimento sufficiente para os sustentar, a par de duas car-
reiras diárias d'omnibus quando ha 24 annos o char-a-bancs de Manuel da Costa
Pinheiro com difficuldade encontrava um passageiro de quinze em quinze dias. O
luxo introduzido, ainda nas classes mais pobres alterando os hábitos das vestes e
da comida, baniu também as viagens a pé.
(a)— í-"oi em Agosto de de ISOO que principiou a carreira d'oiiuiibiis eslabelecida por B. M. dç
Vasconcellos. Terminou no fim de março de 1914, continuando a outra.
REVISTA MICHAELENSE 1055
OS gosos jogo, a vista dos verdejantes milhciracs, que airciitidain esta frcyiie/ia
cio
e a fragancia por elles expandida ao anoitecer, não são coisas para dcspresar. tm
cada quinta! encontra-se aqui um jardim, tamanha ó a paixão dos liabitantes d'este
logar pelas flores.
Aqui encontram também os forasteiros, sem os reclames espaiiiafatosos das
padarias cidadãs, o melhor pão, fabricado nas melhores condições de limpeza c
bem cosido. A massa sovada, que d'csta freguesia é exportada em todas as sema-
nas para Ponta Delgada, continua a ser um producto typico do melhor gosto de
toda a ilha de San AAiguel, e a manteiga de vncca e o leite são ainda considera-
dos de especial gosto pela fertilidade dos seus prados em que se nutre o melhor
gado.
Nem o açougue falta a quem queira vir aqui fazer a sua residência de verão.
E para que nada falte, a quem se quer deleitar com boas vistas o pico da Cruz,
tão próximo d'esta freguezia, sendo um dos mais elevados de toda a ilha, propor-
ciona n'uma tarde de verão um dos mais agradáveis passeios pelas duas extensas
faixas do liltoral da ilha, que d'alli se desco-
brem, pelos lados norte e sul. "-W'
Soube aproveitar estes com modos e rega-
los que em seu tempo não eram tantos, Cae-
tano António de Mello, illustrado professor do
Lyceu de Ponta Delgada, mestre de latim d'u-
mas poucas de gerações académicas da nossa
terra, que teve pelo Pico da Pedra a sympa-
tliia de verdadeiro filho seu.
E nãoera por sovina, que assim procedia; porque raro era o mez, contam os
velhos, em que não tinha que pagar uma multa, por qualquc descuido, que o fe-
roz rendeiro sabia aproveitar.
Bom e caritativo para com os pobres sabia comtudo aproveitar os seus ser-
1056 REVISTA MICHAELFNSP
viços e dar-Ihcs boas lições de amor do trabalho, bcmprc que se lhe offerecia oc-
casião para isso.
Pobre, ainda valido, que lhe batia á porta, não lhe apanhava esmola sem que
primeiro lhe varresse a testada, dizendo-lhe no fim isto é só para que me não
:
Foi filho de António Caetano de Mello, natural do mesmo logar das Calhe-
tas e de Dona Francisca Euphrasia, natural d'este logar do Pico da Pedra, tendo
sido baptisado bem como seus pães na Parochial do Senhor Bom Jesus de Rabo
de Peixe.
Falleceu este egrégio varão, confortado com os sacramentos da Egreja, na
sua casa de residência da rua do Peru da freguezia de San Pedro de Ponta Del-
gada, a 8 de Maio de 1866 com a edade de cincoenta e nove annos, tendo hon-
rado a freguezia do Pico da Pedra com a sympathia d'um verdadeiro filho seu,
como muitos por engano ainda o reputam.
Ciuilisação e progresso
Por muitos annos se conservou esta^^ionaria a população do Pi':o da Pedra,
de portas fechadas á civilisação e progresso, que n'outros logares de egual ou
menor importância já tinham feito entrada.
A primeira machina de costura, que houve no Pico da Pedra, foi adquirida
por Francisco da Costa Amaral c-Tsado com sua sobrinha D. .V\aria Augusta A'
guiar, para uma sua filha d'este nome. A segunda por Jacintlio da Costa Amaral,
irmão d'aquelle e casado com D.Anna Emilia, para uma sua filha de nome D. Ma'
ria da Luz,
HgVISTA MICHAELCNSe 1057
viam subir os degraus do adro os mais resi^citavciá liabitantes d'este log;ar, tra-
jando a sua sobrecasaca com o respectivo caneco. Tudo mudou por completo.
Subiram uns e desceram outros, cumprindo-se n'este ponto um vaticinio do Ma'
gnificat: Deposuit potentes de sede et exaltavit liumiles.
Se já senão vC- no [-"ico da Pedra um caneco, também de balde e se procu-
raria em um domingo um casaco de estameniia.
Para a mudança de costumes n'esta parte muito influiram os recursos tra-
zidos da America pela emigração de muitos dos fillios d'csta terra, que o amor
por ella não deixa ficar por muit) tempo ausenlís.
Ainda ha 2'3 an'ias s.i nio via n'^ú\ ín-iwiódí uni u:ii:.i cisa CDtn cortinas.
Hoje são btm poucas aquellas que as não tem.
As construcções maii commodas do que symetri^as das antigis, com janelU
e meia, e porta mais abaixo ou aciuii tem soffrido notáveis aiteraçõis e lia já
hoje um bom numero de casas novas de boa e regular construcção com que se
vae embeliezando a freguezia.
Os hábitos de pouja limpeza e aceio de que se resentiim os antigos, talver
pela carência da agua com que houve de luctar por muitos annos este povoado
podem considerar-se banidos, sendo di.^ficil ao domingo, e sobretudo em dias d
festa, distinguir os pob.es
d'aquelles que o não são.
Na parte moral nãu
é menos sensível a mu-
dança.
P)e um século a esta
parte ha memoria de dois
assassinatos consumados
n'esta freguezia, e as sce-
nas repetidas de panca-
daria com que termina-
vam os folguedos no-
cturnos são apenas recor-
dadas com horror por
alguns que vivem e as
presencearam. . .,.,,, ;
Esçhola de repetição
Doçtirnçntos e reçíifiçações
Foi fundador da primeira ermida de Nossa Senhora dos Prazeres Manuel Mo-
niz,residente em Ponta Delgada, o qual em seu testamento deixou estabelecido a
seus herdeiros e successores o encargo perpetuo de uma capellania aos domingos
na dita ermida. Consta isto da seguinte /erba do seu testamento, devidamente re-
. gistada no livro do tom-
bo da egreja parochial
;^í%>^ do Senhor Bom Jesus, a
folhas 155 verso.
"Declaro que eu dei-
xo atraz, que meu admi-
nistrador me mandará
dizer um annual em ca-
da anno, e que hora é
minha vontade não me
dizerem mais que qua-
tro missas em cada se-
mana, a saber: trez aon-
de o meu corpo estiver
sepultado, e se dirão u-
ma á quarta-feira c ou-
tó.tWr>.' tra á sexta-feira e outra
ao sábado, e a outra
missa me a mandará di-
zer meu administrador
Os soldados da Eschola de Repetição no pateo da Casa em Nossa Senhora dos
Prazeres, na ermida que
temos no Pico da Pedra: a qual missa se dirá ao domingo com um responso,
feito
e estas se me dirão em cada semana emquanto o mundo durar, e as mais que
atraz deixara as hei por quebradas, e nas mais coisas que atraz ficam declaradas
se cumpriram -. (a)
O doutor Álvaro Lopes Moniz, irmão e successor do citado Manuel Moniz,
legou em seu testamento um encargo semelhante fazendo extensiva aos dias san-
tificados de preceito a capellania que seu irmão fundara só para os domingos.
(a) Tem o testamento de que foi cvtrnliida a presente verba, a data de 31 de Março de í^.04,
conforme a informação da not^ de pa^'. 842 d'estas Memorias, no 3,° n," do 3."^ anno t^a Revista Mi-
chaelcnse.
REVISTA^ .MICHÂELEN9H 1059
\
Por um
processo suscitado entre dois Padres que pretendiam a mesma ca-
pellania e se acha registado no livio do tombo citado, corrido e sentencia-
que
do em ambos os foros com data final de 17 de Julho de 1812 consta que aos
parochos da egreja parochial do Senhor Bom Jesus competia o direito da no-
meação do capellão da ermida de Nossa Senhora dos Prazeres, recahindo esta
por antigo e reconhecido costume nos padres thesoureiros da dita parochial,
sendo o ultimo que exerceu n'essa qualidade tal encargo o Padre Manuel Lo-
pes de Sousa, e só por excepção e na vaga por dois annos do logar de the-
soureiro, occupou o logar de capellão o Padre Agostinho de Sousa Botelho,
morador no logar das Calhetas, com quem o dito Padre Manuel Lopes de
Sousa, nomeado thcsoureiro, litigou a posse do cargo de capellão, obtendo sen-
tença favorável.
lO&O Rgyim MlCHAgL ENSE
O citado Dr. Alv:i:o Lopes A\oniz 'e^ou ainda em seu testamento uma ge-
nercsa verba dt at^ecio chriotão aos porrec da freguezir, do Senlior Bom Jesus,
em que se incluii tombem .ís.e Ingar, a quai se acha tambetn consignada no re-
gisto' do livro do tombo por vezes citado, a folhas 1&4 vc-so, nos termos se-
guintes :
Assento para constar á po:terinade a legitima auctoridade com que foi eri-
gida a Ermida de Nossa Senhor.i dos Prarere:^ do Pico da Pedra, limite d'esta fre-
guezia do Seniicr Bom Jesus, logar de Rabo de Peixe.
ÍJiz Francisco Ignacio Taveira, Vigário propr'o na Fgreja Parochial do Seniior
Bom Jesus uo logar de Rabo de Peixe e jjntament-í o Reverendo cura do Pico da
Pedra e todos Ob habitantes do refeildo logar, que a trmida intitulada Nossa Se-
niiora do; I^razeres, antigamente erigida, que de presente se acl a em tal demoli-
ção e ruina que o R-íverendo cura não pode alli Cdíbrar o augusto sacrifício da
Missa sem perturbaçdo, e sem susto, e ao mesino tem,io os freguezes não podem
satisfazer ao preceito sem manifesto risco, e peri™ de suas vidas; n'estes termos
tem intencionado crear uma nova Ermida com a .nesnia invocação prestanic para
ecíe fim, a titulo de doação, o Património, que o direito prcscr::ve Po"tanto— Pe-
:
a declarada pelo cura, visto como nas contas do Santíssimo do mesmo anuo e ou-
tras posteriores só figura como receita ordinária a quantia de 17$900, total de dif-
íerentcs foros annuaes.
Foi por isso que se alterou n'este ponto a transcripção do documento aCímà',
substituindo uma cifra por outra.
Por ser offerta valiosa feita á Egreja parochial de Nossa Senhora dos Praze-
res, e porque por ella ficou dotada a mesma egreja, pela primeira vez de um ob-
jecto de relativa necessidade para a completa execução dos actos do culto, tem lo-
gar, ainda qut- tarde, n'estas memorias, a merecida referencia ao harmónio offere-
cido pelo Padre José Duarte Nunes, quando cura da congregação portugueza dê
San João Baptista da cidade de Ne\x' Bedíord, Alass dos tstados Unidos da A-
merica.
Em IQOO foi em excursão recreativa áquella florescente Republica o Padre
Christiano de Jesus Borges, então cura da Matiúz de Nossa Senhora da Estrella da
Ribeira Grande.
Em conversação com o Padre José Duarte Nunes, pôde o Padre Christiano
perceber o desejo que aquelle generoso Padre tinha de fazer uma offerta á egreja
parochial d'esta freguezia pela qual mostrasse a sympathia, que nutria ainda pelo
seu parocbo, de quem fora antigo companheiro no seminário, e a quem já depois
de padre auxiliara no serviço da parochiação, vindo aqui pregar por algumas
vezes.
Desejava comtudo conhecer o objecto que mais apreciado seria, e foi o Pa-
dre Christiano quem lembrou a offerta de um harmónio, para uma egreja onde
se faziam frequentes festaí, custando j$(60, por cada vez a vinda d'aquelle ins-
trumento, sendo a metade d'aquella importância para o aluguel, e o resto para
o transpcrte.
Acceitou do melhor grado o alvitre o Padre Nunes, e quiz fazer do Padre
Christiano o portador da sua offerta, com o segredo d'uma surpreza, que se
não pôde manter até ao fim, como desejavam os dois.
Foi em Setembro do citado anno de 1900 que a San Miguel regressou o
Padre Christiano, fazendo ao Parocho do Pico da Pedra a entrega da valiosa
offerta do amigo commum.
Pela vontade expressa do offerente só a 19 de Março começou a fazer ser-
viço o harmónio, honrando o seu santo onomástico, o Glorioso Patriarcha San
José com as harmonias d'um instrumento próprio, que veiu eliminar do orça-
mento parochial uma importante verba de despesa annual.
Por indicação da capella presidida por Manuel José Tavares Canário, soffreu
o harmónio uma modificação ha alguns annos, com o fim de abater-lhe o som,
que se incompatibiiisavam em seu parecer com as vozes e temperatura da nos-
sa terra.
No
presente anno de 1913 foi restituído á sua antiga afinação pelo parecer e
do Padre José Cabral Lindo, digno capellão do exercito em Ponta Delgada,
pericia
concordando nisso o citado mestre de capella Manuel José Tavares Canário.
Centenário eaçharlsfiço
Correu esta d;ila a 2'5 de Julho do presente anuo de 1913, umn sexta-feira, dia
de Santliiago Apostolo. O facto de não ser dia feriado obrigou a transferir para o
domingo immediato 27 de Juliio a parte mais importante dos festejos, que em ho-
menagem ao dia próprio tiveram de começar na sexta-feira.
Fará facilitar a execução de festas tão apparatosas, que demandavam o e<^fôr-
ço de muitos e a bóa vontade de tòdrts, foi riomeada pelo parocho próprio Umà
commissão comporta dos seguintes cavalheiros d'es'é logar; Manuel da Costa A-
inaral, António Luciano do Rego Calisto, Anton-io Soaies de Souza, Lui-^ Francis-
co d'Aguiar e José Moniz do Couto.'
Percorrendo com o seu parocho â fregaezia, pôde a commissão artgariar do-
nativos para ns festas centenárias que despertaram logo o maior enthusiasino, na
importância de 122?i0U0.
A parte espiritual das festas, como a mais proveitosa, mereceu os melhores
Cuidados do Parocho, que como primeiro e mais importante numero d'um exten-
so e variado programma quiz se considerasse a communhão e a assistência á san-
eia missa em todo o mez de Julho, co.Tsagrado no presente anno n'esta terra ao
Santíssimo Sacramento.
Pretendia-se que para commemorar os cem annos de residência de Jesus Sa-
cramentado n'esta terra commungassem em todos os dias do m.v de Julho cem
pessoas; tão bem foi recebida esta ideia, que o numero dos commungantes ascen-
deu sempre a uma cifra superior a 150, em cada dia, e em todo o mez ao nume-
ro total de 5.887.
Arderam em todos os dias do mez de Julho de dia e de noite com o mesmo
propósito, trez lâmpadas diante do Santíssimo Sacramento, sendo a despeza d'uma
custeada pelo parocho, e a das outras duas pelo povo, que acudiu logo com do-
nativos especiaes para esse fim.
Começaram as festas do triduo eucharistico que terminou no domingo 26 por
uma missa solemne em que foi celebrante o Parocho próprio, tendo por acolythos
o Cura próprio Manuel Soares do Couto e o minnrista Francisco Xavier d'Aguiar
Vaz Paciíeco de Castro.
Prestou-se, com a espontaneidade de ardente devoto do Santíssimo Sacramen-
to, a auxiliar estas festas o Padre José Lucindo da Graça, antigo e zeloso parocho
da freguezia do Santíssimo Salvador do Mundo da Ribeirinha.
Foi elle o organista da primeira festa effectuada, como fica dicto, na sex-
ta-feira.
Foi orador na missa solemne, annunciando o inicio das festas eucharisticas
de tão festivo e solemne centenário, o Padre Ernesto Jacintho Raposo, parocho de
muito mérito da egreja Matriz da villa da Povoação, o qual se soube haver á al-
tura da sua missão, sem mais preparação do que a do seu talento e piedade des-
de muito cultivada no amor do Santíssimo Sacramento com que tem feito da sua
parochia um dos centros religiosos de mais intenso ardor euchari.stico.
Em todo o dia da sexta-feira, de hora a hora fazii ouvir-se no campanário
da egreja parochial um festival repique acompanhado do tstalejar de foguetes,
que lembrando aos fieis d'esta parochia a data centenária da instituição da sagrada
Eucharistia n'esta terra era correspondido por aquelles com a tríplice Jaculatória
Bemdito e louvado seja o Santíssimo Sacramento da Eucharistia etc.
A noite da sexta-feira foi destinada r uma illuminação geral em todas as ruas
e casas da freguezia, a qual foi de um bello effeito, tendo a abrilhantal-a uma or-
chestra da freguezia de Rabo de Peixe, e differentes grupos de tocadores de di-
v-ersos instrumentos d'este logar, que com os seus descantes populares tornaram
deveras interes.sante este ni:mero do programma das festas.
No sabbado cantaram-se ao anoitecer vésperas solemnes com o Santíssimo Sa-
cramento exposto no throno da capella-mór, sobresahindo por essa occasião a bo-
nita ornamentação da egreja com a variada disposição de lumes que em multipli-
cado numero ornavam a capclla e o templo em geral, em candelabros e lustres,
que produziram um deslumbrante effeito. f-oicelebrârtW o Padre Manuel Augusto
Pereira, vigário da Parochial de S. José de Ponta l»Rada e assistentes o Padre
Manuel de Medeiros Rey, parocho da fâj.ã de Baixo i* Francisco Xavier d'Aguiar
Vaz Pacheco de Castro clérigo /// '^^tiõnbas.
As oito horas da manhã do domingt) teve jogar a missa destinada á primeira
communhão das creânças em numero de setenta, sendo celebrante o parocho pró-
prio. f"Oi acompanhado este acto a harmónio e cânticos de bonito effeito peio Pa-
dre jOsé Lucíndo da (jraça e três cantores que trouxera comsigo da sui Pa-
rochiâ.
A's ottee horas principiou a festa acompanliada a instrumental com bom nu-
mero de vozes de Ponta Delgada, sendo celebrante o Padre i\'.anuel Augusto Pe-
reira citado Vigário da Parochial S. José de Ponta Delgada, natural da freguezia
Matriz de Santa Cruz da Viila da Lagoa, acolythado pelos Reverendos João Aloniz
de Mello, vigário da Parochial de Nossa Senhora dos Anjos de Agua de Pau, e
Padre Jacintho Raposo, já citado, loi orador o Padre João José Tavares, illustrado
Vigário da Matriz de Santa Cruz da villa da Lagoa, que confirmou mais uma vez
os seus créditos de ecclesiastico intelligente e hábil.
A' lavanda da missa serviram os Èxcellentissimos Senhores João Maria Ber-
quó d'Aguiar e Guilherme Fisher Berquó d'Aguiar, residentes em Ponta Delga-
da que com suas illustres famílias vieram assistir a estas, ministrando um.i bacia
e jarro de prata, propriedade do segundo d'aq:ielles dois cavalheiros, que por
serem filhos de Luiz Quintino d'Aguiar, a que estas Memorias prestaram já hon-
rosa homenagem, teem. por esta freguezia a maior sympathia.
Honraram os mesmos com a sua presença o cortejo processional de tarde,
conduzindo o primeiro uma vara de prata, própria dos Provedores da confraria
do Santíssimo Sacramento, e o segundo a umbella, após o pailio.
Foi a procissão um acto imponentissinio, para cujo effeito convergiu a vonta-
de de tantos, n'um esforço de preparação de muito trabalho, superior a todo o
louvor.
Foi numerosíssimo o cortejo de cerca de duzentas e cincoenta pessoas, in-
cluindo o clero numerosamente representado, conduzindo o Santíssimo Sacra-
mento debaixo de pailio os mesmos ecciesiastícos, que haviam officiado de ma-
nhã á festa.
As ruas ornadas a capricho offereciam um espectáculo poucas vezes obser-
vado, dando a nota d'um verdadeiro e completo triumpho preparado pela fé
do povo d'este logar a Nosso Senhor Jesus Christo Sacramentado. Frani nume-
rosos os arcos, bandeiras e colgaduras, com que se via decorado todo o itine-
rário do préstito religioso, e pendentes das casas viam-se, alem de muitas capei-
las de flores e festões de verdura, os emblemas da Sagrada Eucharistia represen-
tados por uma custodia pintada em escudos ou medalhõts feitos de papelão, e
circumdados de flores.
Terminaram as festas eucharisticas da freguezia do Pico da Pedra, destina-
das á commemoração soiemne do primeiro ceníenario do estabelecimento do ta-
bernáculo do Santíssimo Sacramento, com um Te-Deum cantado no dia ultimo
do mez de julho, após a missa conventual, havendo por esse motivo uma com-
munhão geral de mais numerosa concorrência, e sendo distribuídos por todos os
commungantes bonitos chromos de piedosa recordação de um mez de serviço re-
1
iigioso, que fez d'esta freguezia um ceo anticipado.
NOTAS:
Por ser contemporâneo da instituição da Sagrada Eucharistia u'esta freguezia
o estabelecimento do peditório feito com a alcofa em todos os domingos para o
azeite da lâmpada do Santíssimo Sacramento, esteve em exposição a mesma alco-
fa pendente do bordão em que costuma ser conduzida, n'uma parede lateral do
interior da egreja com algumas maçarocas de milho pendentes, ornadas de flores
c ramos de oliveiras, e a opa encarnada do seu serviço.
:
Na festa dò àòrhmgo
11, antes do sermão, subiu àò púlpito o parocho pró-
prio, fazendo a dos documentos allusivos ao estabelecimento da Sagrada
leitura
Cucharistia, transcriptos a paginas 845 e 84ô d'estas memorias no n.° de Novembro
de 1920.
A
concorrência dos forasteiros de diversos e distantes logires á procissão de
tarde maior que aqui se tem visto, podendo só a custo desfilar o préstito ao
foi a
sair da egreja não havendo comtudo a registar o menor conflicto ou desacato. Fo-
ram de Rabo de Peixe as duas bandas que acompanharam a procissão.
Coro
DOCE ESPERANÇA...
Embora a procella
Medonha, infernal.
Açoite o Fanal
—A Egreja de Deus,
Jamais colherá
Da guerra os tropheos;
Que poder não ha
Que eguale o dos Ceos.
Os torna athletas
—Aos filhos da Cruz.
lUt)8 WkViStX MífcrtXtlleVJslí
Erdup Sai d
d'esta Diocese a parte mais importante da sua reclamação, sem que cm taes do-
cumentos se faça a miiiinia referencia á representação que por esse motivo havia
sido pelos parodies da ilha de San Miguel.
feita
Foram os primeiros a gosar das prerogativas do novo direito creado pelas al-
judidas provisões, n'esta freguezia, José lavares f"ra/ão e D. Joanna do Santo
Cliristo Taveira, que sendo parentes em quarto grau de consanguinidade collate-
tal egual, tiveram o seu inquérito na sacristia da egreja parocliial d'esta freguezia
no dia 3 de Setembro de 1913, sem que para obterá dispensa matrimonial de que
careciam fosse mister ir com três testemunhas á viila da Ribeira Grande.
Seiia imperdoável injustiça omitir aqui o nome do Reverendo José l.ucindo
da Oriiça Souza, ilustrado e sympathico ouviJor da villa do Nordeste, que em for-
moce destaque, que tanto honra a sua mentalidade de reconhecida superioridade,
se solidarisou com os parochos, seus eolleg.is subscrevendo a representação destes.
For tudo isto
LAUS DEO
XIV
O*
.Em tempos idos, era costume a Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada
fazer quinta feira Santa uma procissão á qual dedicava particular attenção re-
em
vestindo-a de certo brilho e imponência.
Uma commissSo de irmãos era eleita pelo Provedor e mais conselheiros para
a realizar e na sua ordem e preparação ponha ella o seu cuidado, por forma a se-
rem integralmente cumpridas as indicações da mesa e attingido o fim que tinha em
vista, qual o de dar ao acto a maior solemnidade, não só para que com tal demons-
tração exterior se excitasse e exhortasse o povo christão ao devido sentimento da
Paixão de Cliristo Redemptor, como ainda para conduzir os fieis a satisfações pe-
nais penitenciando-se de seus peccados.
A mais afastada noticia que temos encontrado d'esta procissão vem de lò2l.
N'este anno realisou-se o cortejo processional com a auctoridade e a piedade
acostumadas, recommendando-se ainda que sahisse cuidadosamente ordenado a fim
de provocar a conversão dos extrangeiros faltos de fé, ou pelo menos o respeito
pelas cousas pertencentes á religião.
Como vamos vêr, a nota de maior destaque d'esse cortejo encontrava-se nas
bandeiras que pelo meio d'elle se erguiam pondo bem no alto os trechos doloro-
sos da Paixão de Christo em pinturas de desenho bárbaro e de coloridos crus,
emocionando fundamente o povo e commovendo-o até ás lagrimas.
Eram as bandeiras verdadeiros painéis duplos pintados de uma e outra ban-
da, devidamente encaixilhados e sustidos- por varas de madeira que se fixavam em
chapas de ferro a meio da moldura.
N'aquella procissão de ha justamente três séculos, coube a bandeira da Mise-
ricórdia ao Sargento-Mór João Velho Cabral, que a conduziu acompanhado por
dois tocheiros, pertencentes um a Manuel Cabral Botelho e o outro ao syndico
de St." André, Baltazar Gonçalves, sendo estes seguido* por padres cantando la-
dainhas e tomando depois logar aquellas pessoas que por sua devoção desejaram
acompanhar a procissão.
Apparecia então a primeira bandeira representando Christo orando no fio/to
levada por António Lourenço de menor condição e ladeada, como a bandeira da
Misericórdia, por deis tocheiros transportados por Melchior da Motta e por Fr;in-
cisco Fernandes de menor condição; um novo grupo de padres cantava ladainhas
rematando o acompanhamento d'esta bandeira, seguindo-se logo a turba dos dis-
ciplinantes, atropelando-se, gemendo, sangrando em violenta flagellação em volta
de mais cinco bandeiras que representavam respectivamente—/! Paixão de Christo
levada por Francisco Mendes Pereira e os tocheiros por Jorge da Costa Oliveira e
Francisco Gonçalves o moço Carpinteiro, A apresentação de Christo a Caifaz
levada por Simão Muniz, carpinteiro de carros, e os tocheiros por Gonçalo de Sou-
za Benevides e Aíanuel Fernandes, Sapateiro, A prisão de Christo d Columna leva-
da por Jeronymo de Castro e os tocheiros por Miguel Pereira Lopes e Miguel Muniz
—A do Ecce Homo levada por Diogo Fernandes e os tocheiros por Simão Tavares
e Bartholomeu Fernandes e finalmente a que representava Christo com a Cruz le-
vada pelo Capitão Francisco Tavares e os tocheiros por Miguel de Moraes e Do-
mingos Carvalho.
Como se nota, as pessoas de condição nobre alternavam-se com os plebeus:
(a) Ver artigos anteriores do mesmo aiictor sobre Arte nos n,"' 2, 3 e 4 do 2." anno da Revjsta e
n.»» I, 2 e 3 do 3.° anno.
1073 Utvmá MICHAEL EKSg
(1)— Livro (ias procissões do anno de 1 021 exibtente no Archivo da Santa Casa de Ponta Delgada,
REVISTA MICHAELENSe 1073
XV'
fetãtiftíi m njmmtm
Q«J^V0f90 rot.' i
QVFKDHO N. 2
e:scihoua.s f^a.r-tksuí-a.res
...
.. .
QUADRO N.' 5
Annos Concelhos
Lagoa 17 17 7 7 24 24$000
1888 Nordeste
Ponta Delgada 71 71 97 97 168 94$S00 18$000
Povoação ....
a Ribeira Grande 38 38 43 43 81 96S000
Villa Franca. 35 35 12 12 47 72$000
1880 \'illa do Porto
Lagoa 1 18 18 24$000
1887 Nordeste .....
Ponta Delgada 25 150 150175 94$800 181000
Povoação ....
a Ribeira Grande ló 16 36 36 52 968000
Villa Franca . 36 36 36 728000
1888 Villa do Porto
Lagoa 15 15 15 24$000
1886 Nordeste
Ponta Delgada 13 122 122 135 94$800 18g000
Povoação . . .
Lagoa
1885 Nordeste
Ponta Delgada 30 129 129 159 89$800 18$000
Povoação ....
a Ribeira Grande 65 6 Ó 71
Villa Franca . 30 30 30 72$000
1886 Villa do Porto
QUADRO N. 4
insi
REVISTA MICHAELENSE 1081
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10 82 Revista Michaelen sç
QUADRO M. 7
CNSIMO ELEMENTAR
iteVtSTX MICHAELENSE 1083
QUADRO M/ S
BETHEiSCOURT
o.olS^Í^;------^RAao-saB.,
..V .11111,0 iniiiliiiido íl p:i)t]ii,-|g <:)o
CAP. II
Uomes Ferreira
—
descendente dos Ferreiras
ao -Morgado de Cavaileiros
cas. c. D. Izabel Pereira de
Lacerda ,
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uonçaio Ayres Ferreira
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João de Bettencourt o Velho Ferreira, c.c. Francis-
da Ribeira Brava Bettencourt
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dos co'ínVall?oT'/e%^ro\5aíví
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do seu appellido que toi
desde a ribeira do se^u
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f^X AlcrtXltLENSE 1085
I Henrique, como consta do seu testamento de mâò commum com a mullier, feito
I ) dia em que casaram na Madeifa, aos 17 XI- 14Q3.
'
E. 14. Henrique de Bettencourt, 3." filho de João de Bettencourt, o Velho
da Ribeira Brava, foi Moço-Fidalgo e casou na Madeira, onde viveu,
com D. Helena de Vasconcelios, filha de Ruy Miz de Vasconcellos
e da sua mulher D. Isabel Corrêa.
Do seu casamento houve os 4 filhos seguintes:
F. 25. ^D. Catharina de Bettencourt, que foi casada com Francisco do Canto,
o Velho.
Tiveram Q filhos:
Bettencourt
CAP. Ill
MCMDES de V/ÍSCONCCLLOS
E. 12.--Francisco de Bettencourt, filho do Velho da Rilieira Brava, nasceu na Ma-
deira e falleceu na ilha ferceira. Açores, em t)-X-lW2; casou duas vezes,
sendo a 1." vez com [). Joanna Mendes de Vasconcellos (cuja ascendência
damos em schetna abaixo) e a 2.' vez, com a viuva I). Andreza Mendes
RJPVIjTA MlCM AELRNSe 1087
SCHF.MA II :
r^
—
iNíartim
CcIS. c.
D. Helena Oonçal-
c.
Rõ iz A. e Sá
i
\). jeronyma
Escobar
i
da Camará
12)
40. --Martim .Wendes de Vasconceilos foi um dos quatro fidalgos mandados por
D. .^ffonso \'. para a Madeira, afim de casarem com as filhas do 1." Ca-
pitão-donatario do Funchal, em cujo mosteiro de Santa Clara, o N." 40
foi sepultado. Fid. da C. R. e descendeste, dos Vasconceilos, da Torre de
Vasconceilos em Amares.
41. Diogo Pereira teve a alcunha de=o Bochim e foi Alcaidc-mór de Tavira.
F. 37.=D. Anna de Bettencourt, que casou a 1.* vez com seu primo João
de Bettencourt Telles e casou 2.* vez com Francisco Barreto de
Menezes, Governador de S. Thomé: de nenhum dos matrimonies
teve geração.
O. 43.=Manuel de Bettencourt )
[ fallecidos na índia e S. G.
O. 44.r=^Gonçalo de Bettencourt )
SC!ir..\\A 111:
João Pacheco
cas. c.
D. Br anca Gom es^_
I I i
—
cas. c.
n. Catharina Valladão
"
r " "
I 1
Cbristovam HorL^ cs da Costa
^-^„_.._^™.._^^™„-
D. Izeu Pacheco c. c.
^ _
1. 67-- I). Clara Maria da Silveira Belt-jncourí, casada com í-eu primo
Feliciano de Bettencourt de Vasconcellos (K. 175).
CAP. IV
D. 73. -^D. .Maria de Bettencourt, que casou na Madeira com Ruy Gonçal-
ves da Camará, 3.° capitão-Donatario de S. Miguel e que morreu
sem geração, tendo n'esta ultima ilha instituído um morgado, em
cuja administração encabeçou seu irmão Oaspar. S. O.
§ I
\'. 88.-*ílenrique de Bettencourt c Sá, foi o 4.° filho de Pedro Rõiz Gonçal-
ves Zarco da Camará e de D. Margarida de Bettencourt (E. 78); mo-
rou na Villa da Ribeira Grande, onde casou com IXSimòa de Souza
Manuel, f.tUecida em 5-XI-l 587,filhade Balthazar Vaz de Souza, fal-
lecido em Porto Seguro, do Brazil, e de sua mulher D. Leonor Ma-
noel, filha de Homingos Manuel; D. Simôa, era*néta paterna de
I). Isabel Alvares e de seu marido João de Souza, Armada Cavallei-
CO.
(S." 95) Aifonso A. de Benevides
c. c.
D. Beatriz Amado
I I
D. Guiomar A. de Benevides
c. c.
Bartholomeu Rodrigues
I I
D. Isabel Castanha
c. c.
Gaspar de Viveiros (N.° 94J
í." de Simão de Viveiros
l'rancisco d'Arruda
da Costa
I
D. Luisa de Viveiros
c. c.
N." Q0.--=Oonçalo Annes era, eomo sen pae Simão de Sá, natural do Porto, da
familiâ dos Alcaides-iTii')res, que vieram a ser Condes de Penaguião. Diz
o [)r. Kructuoso, nas "Saudades d:i lerra,» L* IV, cap. 8.", que este
Gonçalo Annes, i')or ser homem nobre e iwderoso, se ausentou do l^ortu
por ter affrontado um prelado.
Foi o 1.° marido de D. Catharina Affonso, que casou 2:" vez com
Pedro \'ellio de Travissos.
N.° Oi.-Jorííc Velho foi dos I.'" povoadores de S. Miguel e era Fidalgo da Casa
do Infante [). Henrique; foi armado cavalleiro em Africa, onde serviu.
Casou em S. Miguei com D. Africa Annes, natural de St.' Maria.
N." Q2. -Pedro Jorge era Cavalleiro de Malta e foi morador em Ponta Delgada,
quando ainda era villa, além do mosteiro de S. Francisco.
Casou a 1.' vez com sua tia materna D. Anna Gonçalves e com ella
fezo seu l.° testamento, em 4-1-1525, estando fora de Ponta Delgada
poY causa da peste.
N.* 93.— João Jorge era o filho primogénito e morou em Agua de Pau, de S. Mi-
guei; casou duas vezes, sendo o 1." casamento com D. Catharina Martins,
de quem teve vários filhos e filhas; casou 2." vez com D. Beatriz Vicente,
natural do Algarve, da qual houve 3 fillios e 4 filhas. (VIDE— "Saudades
da Terra", L. IV, cap. S.")
N:» 94.^Gaspar de Viveiros fez varias assignaturas no L.° 4." do Registo da Ca-
mará Municipal de Ponta Delgada, nos annos de 1525 a 1535.
N.' 95. Affonso Alvares de Benevides era natural do Continente d'onde passou
para S. iWiguel entre 14Q7 e 1502; foi armado Cavalleiro em Africa, onde
serviu. O Dr. Fructuoso, nas "Saudades da Terra-', L.° IV, cap. 27.", chaina-
Ihe indifferentemcnte Álvaro Rodrigues ou Affonso Alvares de Benevides.
b. 4.—D. Cecilia Ramalho de Queiroz que casou com Simão da Camará de Bet-
tencourt e Sá (li. Qfi.lC. G.
b. 5.^^D. Leonor Ramalho de Queiroz que casou com Gaspar Coutinho da Costa
e foram pães, pelo menos, de :
§11
F. 86.=^--Francisco de Bettencourt e Sá f." 1." do Morgado João de Bettencourt e Sá
(E. 77.) e d-e D. Guiomar Rodrigues Vaz Botelho (M. 27, § "BolelhosiO,
I,
'
REVISTA MICHAELENSE 1 009
Houve:
li. 112. D. Maria d'Aguiar de Bettencourt nasceu na Madeira e estando em S.
Miguel, ahi casou na freguezia Matriz, de Ponta Delgada, em 1-XI-15Q1
com Manuel Alvares Homem, fallecido em Ponta Delgada, sendo vereador
da Camará A\unicipal, aos 4-V-1634. EUa morreu na freguezia Matriz de
Ponta Delgada a 16-3-iry20 e. de seu marido Manuel Alvares Homem, hou-
ve, pelo menos:
1. 113 A. Francisco de Bettencourt e Sá, capitão e cabo das companliias da cos-
ta, vinculou por testamento approvado a 28-6-1 õftO, tendo casado na
freguezia de S. Pedro, de Ponta Delgada, a 10-12-1023, com D. Maria
Borges Rebello, filha de Francisco Borges Rebello e de D. Guiomar
Tavares da Silva.
0.119 —Nicolau António Borges de Bettencourt, etc. etc, por demais conheci-
do na historia michaclense.
^
1100 ftpVhTA MICIUÈ» ENSE
II
SCtIEMA \-
—
Brites de Castro, irmã de Dcni
r\'dro de Castro, 3.° Conde de
Monsanto e filhos de D. Joanna
de Castro (P. 2t do e^tudo
Castros).
I I I
D. Brites Pereira,
c. c.
CAP. V
CO RRÊ?SS
§ IV
foro de Fidalgo, em 1509; sei viu muitas vezes em Africa, gastando n'es-
sas expedições mais de 20.000 cruzados, segundo consta de memorias-
coevas; fez doaçfm dos seus serviçoí,a seu filho, em 25-ili-15ò9, que nada
pediu por clles; morreu em !57Q e jaz sepultado, com sua mulher, na ca-
peiia-mór da egreja de S. Sebastião da villa de Camará de Lobos, na Ma-
deira. Augmenlou o vinculo de que foi o 1.° Senhor, instituído por seu
pae João Afíonso Corrêa (N." 121).
N." 121- João Affonso Corrêa foi um dos companheiros do Zarco, quando pela
1." vez desembarcaram na Madeira, de que foi um dos l."~ povoadores;
teve muitas terras de sesmaria, em Camará de Lobos, onde construiu um
dos 1."° engenhos d'assucar. Éra casado com D. Ignez Lopes, natural de
Lisboa, como se vê no testamento com que falleceu em 1522. instituíram
vinculo ao qual annexaram a capella do Espirito Santo, que João Affonso
Corrêa mandou construir na egreja de Santa Maria do Calhau, no Fun-
chal: veia a fallecer em 14'j0 e jaz sepultado, bem como sua mulher, na
Capella do seu morgado.
I). Isabel de Bettencourt (E, ló) e seu marido António Corrêa, foram pães,
pelo menos, de:
SCHEMA VI:
1:1 1
(127)
Rodrigo
).
D. Leonor
Ruy
Annes
Isabel R. d'.\ndr:'.de
c. c.
Pires da
c.
Rodrigues
Cunha
c.
P).
Pedro .Amaes
c.
habel Gonçalves
c.
i
\'asco Affonso do
(^anto
Manuel do Canto
c.
I
T. Isabel \'ieira
c.
i
,
\ W 11
'
I I
I
(l25) I). Brites Annes, ou Gonçalves, foi a 1.* mulher de (126) e falleceu a 10-VI-
1540, estando sepultada na Sé, do Funchal.
(!_'()) Prancisco Vieira do Canto, era natural de CJuiniarâes, d'onde fui para a Ma»
deira com seu primo Pedro Annes do Canto (N.° 38 do cap. I, do estudo
• Castros que passou pouco depois á ilha Terceira. Francisco Veira do
)
Canto falleceu em 25-V-1544 e casou a 1,' vez com D. Brites Annes (125)
e a 2," vez com D. Margarida Ferreira, de quem nio teve geração.
0. 128.— Francisco de Bettencourt t^orrêa, que nasceu em 1577 e foi o \.' Senho
do vinculo instituído por sua mãe; casou com D. Maria da Camará e
falleceu em 13-V-1654.
í>. Maria da Camará falleceu em 2Q-11I-H)4') e era filha de Fernão Moraes
N.' 129.— André d'Aguiar da Camará casou duas vezes, sendo a 1." vez no Con-
tinente e a 2." vez, na Madeira, com D. Leonor Leme, atraz mencionada;
falleceu em 30-XII-1551 c era filho de Diogo Affonso d'Aguiar que casou
na Madeira, e era filho de outro Diogo Affonso d'Aguiar
onde nasceu
de sua mulher D. Isabel Gonçalves da Camará, filha
(N." 130, adeante) e
de João Gonçalves Zarco da Camará (N." 39 do SCFIENA II) e de sua
mulher D. Constança Rõiz d'Almeida e Sá.
1. 132— D. Leonor Esmeraldo que casou com Braz de Freitas da Silva de quem
houve geração que se descreverá em outro estudo.
REVISTA J.1ICHAELENSR 1103
CAP. VI
0|-artde aiUizâde nasceu entre hospede e hospedeiro, tão grarlde qtJe indo
o Antona para a .Madeira, onde lhe tinham sido feitas grandes doações, foi
com elie, o Antão Oonçalves d'Avilla (E. 134.), que lá casou com a filha do
amigo, de nome D. ignez Oonçalves d'Antona, que, pelo pae, foi dotada com
parte das terras que lhe haviam sido dadas.
Do casamento de Antão Oonçalves d'AvilIa (E. l34) e de sua mulher D*
Ignez Oonçalves d'Antona, temos noticia dos seguintes 7 filhos;
F. 142. — D. Catharina Oonçalves d'Avilla, 5.' filha, casou com .Martim Go-
mes da Abelheira, com geração.
r. 143.— D. Maria Gonçalves d'AvilIa, 6." filha, casou com Antão Fernande-s
Leal, morador nas Fontainhas, com descendencja.
1 1 04 RPVIST A MICHAFLENSF
I'. M4. -D. Ouioinar Oonçalves d'Avilla, 7." filha, casou com Francisco
Alves Diniz, de quem houve filhos.
F. 135.— Belchior Oonçalves d'Avilia, Snr. e herdeiro do vinculo dado, por seu
avô Affoso Gonçalves d'Antona, em dote a sua mãe, casou na ilha Gracio-
sa (dos Açores) com D. ignez Gomes Freire, filha de Gomes Lourenço de
Sieuve e de sua mulher I). Iria \'az Freire.
G. 147.— Fernão d'Avilla, 3." filho, casou com uma filha de António Vaz
f'igueiras e d'ella teve:
J.
158.- Bartholomeu d'Avilla de Bettencourt,
vereador em 1060, casado com D. Aba-
ria ie Quadros: (vide "Nobiliário da
Ilha Terceira,» Tit." Pereiras, §. 2.°,
N.° 7). C. O.
G. 140— Belchior Gonçalves d'Aviila, filho 2.^ casou na ilha Graciosa, dos
Açores, com PX Guiomar da Cunha, de quem houve :
J.
t63. Christovain da (^unha d'Avilla, som mais
noticia.
§ VI
C. G. .
§ VII
H. 185.=Jorge de Lemos de Bettencourt casou com sua prima L~>. Joanna de Bet'
tencourt de Vasconcellos (G. 40, cap. Ill), da quem houve:
J. 187.-^D. Maria Joanna de Bettencourt de Vasconcellos aue casou com seu pri-
mo João de Bettencourt de Vasconcellos (H. 50, cap. Ill), Fidalgo-Caval-
leiro, por alvaná de
20-\'-l(í24, registado no L.° de vários Reis, fl." 441,
na T. Cavalleiro de Christo e Commendador de .Santa Maria de Ton-
T.;
della, na mesma ordem, por mercê de 12-l\'-164ó; Senhor e herdeiro da
casa e morgados paternos e f^llecido em lõ70.
CAP. Vil
§ Vlil
Nasceram:
J.
201.- Luiz Gonçalves da Camará, que viveu
no Funchal e de quem não temos mais
noticia.
1 1 08 REVISTA MICHAELEN SE
G. 1Q4.— Pedro de fjettencourt de Freitas, filho primogénito, casou com I). Beatriz
d'Abreu, filha de Ruy Vaz e de sua mulher D. Filippa Rebello.
Houve
H. 214. -João de Bettencouií de Freitas, que segue.
li. 216.= D. Maria de Freitas, 3." filha, císou com Jordão de Frei-
tas da Silva, filho de Gonçalo de Freitas da Silva. C. G.
Foram pães de :
1.
21 '/.--Pedro de Bettencourt de Freitas. S. (i.
§ IX
Freitas (F. 192.), casou coni D. Constança Pimentel, filiia de Gaspar Pi-
mentel Vasco e de D. Violante Ribeiro dá Fonseca-.
Houvie:
li. 224.- -Gonçalo de Freitas de Bettencourt, 4." fillio, casou com D. Maria... de
quem houve:
§X
G. 205.;-- Menrique de Bettencourt, quarto filho de João de Bettencourt de
Freitas, (F. 194.) casou em 17 de Junho de 1503 com D. Anna Ca-
bral, de quem houve:
U ] o ^^ÍL, MimÀfelJENSE
H, 230.-1). Helena de Bettencourt, casad.a na Madeira com Antó-
nio de Jacques. de quem houve:
i. 237.^=Henrique de líettencourt.
1. 2'38. [\ f. .
1. 23Q. D. F...
CAP XI
243.— Pedro Vaz Pacheco, pae de D. Filtppa Pacheco Botelho, mulher de António
de Bettencourt e Sá (G. 87, cap. IV) teve carta de Brazão em 22 de maio de
1535 e era filho de Antão Pacheco (filho de Pedro Pacheco) e de sua mu-
lher D. Fiiippa Martins, filha de Martim Annes Furtado.
Fez testamento de mão co.timum com a mulher, approvado em 2 de maio
de 15Ó3 em que instituíram vinculo na sua propriedade de Santo António :
J. 67.==Francisco de Sá.
J.
68.- D. Felicia de Bettencourt e Sá, N." 17 no trabalho «Andrades da ilha
de S. M\guel", casada com o capitão e morgado Jacintho d'Andrade
Albuquerque, N." 8 do referido trabalho, onde é descripta toda a sua
descendência.
REVISTA MICHAELENSE
ni2
firvorc de costado I
16 - Riiv Mar- ,
si-M-Tiim -\t,n«
tins rurtadd. i
Rodrigues Bo- ^
,.„ |,„„.,h„ _ „
telho. to>(iiii.i<io.
de Sousa Fm- i
\ Uotelhu.
- II. Ciii.iiiKir
IQ - D. Isabel \
'^^""••"
5 - D. Beatriz
Peldigão.
II -D. Marga-
rida Alvares.
1 — D. Felícia
de Bettencourt
e Sá, herdeira
do morgado 12 -Álvaro Lo-
de Andrades e pes d'Andrade.
do que foi ins-
tituído por sua 6 — Simão Lc-
tia-avó D. Bri- pes d'Andrade.
tes de Sá Bet-
tencourt.
3 - D. Beatriz
de Sá Betten-
13- D. F
; — .)o;in <lo
|n-.)n.-in
iiti (lo not-
court. 28 — Simão de \
ii-m..uri f sá.
de Sá Betten-
/ fio—
fio Aiiião r.i.-he-
court.
30- Pedro Vaz
15 -D. Filippa l
Pacheco(n." 36, /
'' — l>. Kili|ipa
' :irliii-s.
Pacheco Bote- )
acima). ^
IMOTAS
N. •
ij..Q_ pelicia de Bettencourt e Sá, N/'
-...p). Margarida Alvares, na
II
fre-
n."17 do titulo "Andrades,» da ilIiadeS. guczia Matriz de Ponta Delgada, onde
Miguel, foi, como se viu, casada com o baptisaram os Ires filhos, todos do ap-
morgado Jacintiio d'A!idradt; Albuquer- peliido Perdigão.
que, n." 8 do referido titulo. N^I2 ;-Alvaro Lopes d'Andrade, ou
N-"_^_:-Francisco de Sousa Furtado, Annes, era como seu filho, natural do
de quem falámos, bem cotao de sua Porto, onde era casado.
i4
;— António de Sà Bettencourt era
N.'^
mulher a
N.» 3 :..D. cavaileiro do habito de Christo.
Beatriz de Sá Bettencourt,
no «Andrades," da ilha de S. Mi-
titulo
^"J^ -D. Filippa Pacheco Botelho,
guel, quando tratámos de sua filha, a
quando casou com o numero antece-
dente, já era viuva de Marcos Fernan-
n." 17 d'aquelle trabaliio. Esta Snr.° era,
des, de quem teve Miguel Pacheco e
em lo55, fregueza de St." Clara, de Pon-
ta Delgada, data do casamento do filho
João Pacheco.
N.'; 16 :..Ruy Martins Furtado foi mo-
Francisco,e já era viuva. Falleceu em 24
de agosto de lò57. Quando casou com
rador em Rosto de Cão, S. Migue!, em
Francisco de Sousa f'urtado (n.° 2 d'es-
uma quinta que alli tinha; era muito ri-
ta arvore) já era viuva de seu tio Ala-
nuel dAndrade, irmão de seu pae Si-
mão Lopes d'Andrade (n.° () d'esta ar-
vore.
N" -^^-Leonardo de Sousa Furtado,
casou antes de 1576, por ser esta a da-
ta do nascimento de um filho. Foi pa-
drinho de um casamento na Matriz de
\'iila Franca do Campo, na ilha de S.
Miguel, em 1 de outubro de IftOõ.
!*•"
Ai"D. Beatriz Perdigão, que como
se vê em seu marido, casou antes de
1570, foi madrinha de um baptisado na
Matriz de Villa Franca do Campo, na
ilha de S. Miguel, no dia 30 de março
de 1592.
ÇL".^'-Sinião Lopes d'Andrade era
natural da cidade do Porto e casou em
S. Miguel.
N-°
Jj-D. Maria Pacheco de Sà Bet-
tencourt era irmã de [X Brites de Sá,
de quem tratamos, no titulo "Andra-
des," da ilha de S. Miguel, no n.° 17.
N.° 8:.. Leonardo de Sou.sa Furtado (Figiii-a 1}
era commendador do iiabito de Chris-
to e morava em uma propriedade a les- CO, geníilhomem, grande musico e to-
te do Areal Cirande de de Cão,
F^osto cador de viola.
S. Miguel. Instituiu vinculo por testa- M." 18 :--Fernão Vaz Pacheco foi mo-
mento approvado em Villa Franca do rador no logar do Porto Formoso, S.
Campo a 12 de fevereiro de 1581. Ca- Miguel, e testamenteiro de seu pae.
sou duas vezes, tendo sido o primeiro **" 3° :-Pedro Vaz Pacheco e
sua mu-
casamento com a lher foram moradores na freguezia de
N-^ 9j-D. Catharina Nunes
Velho. S. Pedro de Ponta Delgada, onde fize-
N." lOj-Belcliior
Gonçalves era natu- ram testamento de mão commum ap-
ral e foi morador, com sua mulher a provado a 2 de maio de 1563, em que
:
8 de julho de 1548.
N.'\33:..D. Solanda Lopes era proce-
dente de flamengos estabelecidos na Ma-
deira, d'onde era natural.
'*'".?5j-JoâoOonçalves Botelho, o
Tosquiado, por alcunha, era Escudei-
ro-Fidalgo e foi morador em Rosto de
Cão, S. Miguel. Vinculou por testamen-
to approvado em 2 de julho de 1513 e
feito a 30 de junho do mesmo anno ;
arvore de costado lã
i çalves Homem.
de Rcttciiconrt»'
f Sú. ''r;i»f"ísro cio
j
BetUncniiit e .
:.- - I). M:ili.- C.
\
^íiiiiili." 4la Cuftla.
'O-D. Maiia de '
Sá.
/
?. — Manuel de 20 -
Balthazar
l'cltenconrt e l Rebello.
Sá.
10 —
l-iriui-i.scc
i-D. Barbara \
de Hcítencourt
e Sá ,/ 22 - Herculano
Barbosa.
c. c.
5 -L>. Maria/ D. Oiiio-
11 - l
Joiio Borges da
Camará Borges Rebello' niar Tavares
1 23 - D. Isabel
irmã de
e f Feruandes Fer-
1 A- D. Apol- reira.
lonia de 15ct-
fencoint e Sá
21— Diogo Fcr-
c. c.
l
reira Privado,
Antrum de B.
12 -Manuel F.
da Silveira '
6 - Diogo Fer- 25 - D. Maria
e ainda irmã de de Mcllò.
reira de Mello, P. de Mello (ir- I ."lO — í;.'.lev:im Alvr>
1 B-D. Anna mã do n." 29, \
íír. n-*sot!(lí's.
1
.'•,'
lo.
(1.1 Poií-
ra da Ponte.
i .'.I — Pr<lro de P.nl-
3 -D.
Barbara It.
27 — D. Maria 1 v.l.
.'»."> — n, Frflncisi'.-!
I
Tavares Silva. Ferreira. l'"orrcir.l.
l .Ví--Antoiiio T.iv.i-
28 — Gonçalo
!•> - i iiUHÍMMI Tavares Silva. J
."iZ- n, Kraiifa d;:
Pacheco da Sil-
va.
15 -D. Catha-
rina d'Araiijo.
REVISTA MICHAELENSE 1117
MOTAS
N:"!:— D. Barbara de Bettencourt e Sá, N.'M6: _Ruy Gonçalvcs Homem, foi
foicasada com João Borges da Camará citado, em para dar contas dos
lb')5,
e ambos pacs de João Leito Corre:!, que legados pios do. testamento de seu avó
failcceu a f)-Vl-1787. paterno, João Alvares— o do ôlhd~(n.*'
fira irmã de 60 adeantc).
Ni"i_?— LX Apollonia de Bettencourt H-;'J7j— D. Julianna Rodrigues Corrêa
e Sá, casada com António de Brmn da falleceu na freguezia Matriz de Ponta
Silveira e ambos pães de D. Luzia Jo- Delgada, a 20-111-1 608.
Sepiui da Silveira, casada com Francis- ":_"_' ^_i— André de Bettencourt eSá foi
60 adeante) e de sua 2." mulher D. Bea- Ribeira Grande, dí S. Miguel, erá filHd
triz Vaz Alvares, (n." 61 adeante). de João I-ernandes de Paiva e de sua
A^^i-Francisco de Bettencourt e Sá,
!*•'' 2.° mulher D. Francisca Pires; neto pa-
(F. 86-) foi Moço Fidalgo e, tendo nas- terno de Fernão Affonso de Paiva e
cido e casado em S. Miguel, foi com de sua mulher D. Beatriz Pires Delga-
sua mulher, para a ilha da Madeira, on- do, ambos estes mencionados pelo Dr.
de falleceu em 1577. Foi el!e o herdei- Gaspar Fructuoso, nas «Saudades da
ro do grande Morgado do pae e tam- Terra-, L." I\' cap." 25.
bém do de sua mãe. N." 56:.-Antoiiio Tavares, licenciado
1" ?7j--D. Maria Cogumbreiro da em cânones e sua mulher D. Branca
Costa, cisada com o n." 36 acima, ins-
tituiu um vinculo importante, para seu
filho André (n." IS) por testamento de
18-IV-1565.
Era filha de Diogo Affonso da Costa
Cogumbreiro e de sua mulher D. Bran-
ca Roiz de Medeiros, filha de F<uy Vaz
de Medeiros e de D. Anna Gonçalves;
neta, por seu pae, de Affonso Annes da
Costa Cogumbreiro, rico e nobre, da
casa do Infante D. Henrique e natural
do Algarve, onde era morador na Ra-
pozeira.
Os seus filhos
foram para a AAadeira,
onde viveram no Caniço e, de lá, foram
para S. Miguel, indo fixar-se na Ponta
Garça.
N." 38_:. .Ruy pjas de Aguiar era natu-
VaSCOnCellOS Vasroln-i.'ll..s
/ \
2 —Francisco
do Canto
de
Vasconcellos.
10 -IVdro Ser-
rão (licenciado)
5 - D. Maria i
Serrão (
" mu- /
Iher). '
11-D. Catha-
1 - I). Maria rina Pereira,
do Canio da
Silveira. 24 — Francisco
'2.» mulher de Dias do Carva-
Vital de Bet- Ihiil
tencoíirtdeVas- -
12 João Dias
coneelios ('54).
do Carvalhal 2b- D. Catha- y:.W-tt.i
, SO -.1..
:()— Estevani da I
[ (moríiadtt) '
rina Alvares -..^i..!). lc
Silveira Borge
^^l .v„,.i,i
V NeltO. f
rcl»;o l'\i(;"iirti-s
'
2G — tstcvsm
Cerveira Bor-
13 - D. Maria ges
Borjíes Abarca.
,
j
27 — D. Ainia _. , ^
3 -
D. Clara / da Silveira A- h VcMiu
.Maria da Sii- barca (2
'
— I». liiiioinar
/ lior
veiía iiorties. Iher).
'
28- Domingos
l Vi.'i'';i, o Rico
1.4 -~ Chrií.to- 1
£s - Álvaro I>i: s
7 — 0. Barbara
;0 -Manuel de *'
""'"'i'"', ,\'
Machado Viei-
"^
Ma-
, ,
' J , ,,.«,• i
cellos
liarcel ; ,,,,>. Lui/.a ti.
I
FaiTM.dC!, (I.° ! .
Cotta de Ma- 1
V lha \
I iVi- l*oilro Colt.a il«
o.
jl - r-,
D. Mana
m ' Malha
Calhanna
u:i_i).
\ ("otia de Mallia 1 uia> vícíi-u
RtVISTA MICHAELENSE. 1121
IM
N.» 13:- Foi mulher do n." 12. "luarte de prata lavrado de preto e
N-'' 14:— Foi instituidor de um vin- quatro bombardas da sua côr
'<n'elle
culo na ilha Terceira, onde casou com «com o pé do escudo de pratu, com
a n," 15. «um elmo...» (Fig. 5).
1122 REVISTA MICHAELIENÇ!
Este Pedro Aiines do Canto foi Mo- juiz ordinário e vereador da Camará
ço-Fidalgo, nomeado primeiro prove- de Angra, tendo ctmio tal, assignado
dor das armadas e íortificagões na iliia uma carta que foi dirigida a Henrique
Terceira, por carta regia de 27 de ju- Hl, de França, datada de 6 de junho
llio de 1532 e prestou muitos e relevan- de 15S1, agradecendo-lhe o bom aco-
tes serviços, todos com attestados pu- lhimento que deu ao prior do Crato,
blicados no "Archivo dos Açores», do D. António, e pedindo-lhe também que
failecido, saudoco e incansável investi-
gador Dr. Ernesto do Canto, seu des-
cendente. Eez cinco testamentos appro-
vados, o 1/' em 18 d'abrilde 1540, o 2."
em 1 de junho, de 1543, em Lisboa, o
3." em 23 d'nbril de 1544, o 4/ em 15
de maio de 154Q e o 5." em 3 d'outu-
bro de 1553, estes trts últimos em An-
gra: n'estes testamentos instituiu três
importantes morgados. Nasceu em Gui-
marães e falleceu na ierceira em 155Ó,
tendo casado duas vezes, a 1." foi em
Angra aos 8 de setembio de 1510 coin
D. Joana Abarca, de qtiem teve o filho
único António Pires do Canto (n." 32
da arvoíe de costado ) o 2." casa-
1 ;
era conhecido por— Cavalleiro— por te- morgado por sru tio mate;-
instituído
rem ambos condecorações militares. no Pedro Gonçalves d'Antona, e casou
Este Francisco Dias do Carvalhal foi com a n.>' 31.
:
"PECIíSS'-
(I-ig. 7)
37 C— .Álvaro
0'»rn;.nlvus
Zarco
/ 37 A-1'eilro Al-
í Tart^y U.iCamaru
f
:)7 ; - O. Lui
d'Ornollas ria
Cumor.1 B-D. Cillha-; '" t>' Alvari»
/37
rina dè Ornollas l "•« Orueltas
"
f
Saavcdra i
f
vira ^'eriían
\ <lo9 Saavo(li'a
1124 itfeVISTA MICHACLENSE'
SCHEMA VII
I'edro Annes do Canto, n." 10 da arvore de costado III, casou com D. Joaii-
na Abarca e houve em Francisca Soares, n." 17 da arvore de costado III:
I I
I I
I I
J. loa— D.
Úrsula Izabel de Castro do Canto nasceu na ilha! erceirae casou com
o Capitão Manuel Rebello Borges da Camará, de quem trataremos n'um trabalho
que temos em preparação sobre a casa "St.* Catharina».
]. lô b— D. Benedicta Paula de Castro do Canto que casou com Bernardo Homem
arvore de costado IV
'
de Bettencourt ' "'o 'econlieci-
e Si (io)
8-Qaspai de
.!•-
^'
«Ri
^°'
y-D. Marg.ori-
líeltcncourt
1 „,„e,„.„.^,' ic.
i--i.^r..i.-.
«,
cu.-ir-
•
/ H, ,\J ftltt»,, l
.i..
'
coiirl ^
19 - D. Guio- i -^tr'"'"
""^ "'
mar de Sú ,
)
'
2 — Ruy Gon- '20- " - "• ''-'' O'
loão de \
çalves da Ca-
l Sousa
'
mara
(G 89.)
/
10- Balthazar /21 - D. Isabel
. Vaz de Sonsa Alvares
Manuel
1 -- Simão íla
Camará de Bet-
tencourt e Sá
(H. 96)
24 — Jorge Ve-
12 -Pedro \"'°
Jor-
t;e
: 6 —Jeroiiyiuo l
fiO^ floiicali) An
'.''
I
Jorge \ f25-- D. Africa *
„ ^ ,
.
Annes
•
/ .v„„„,„
13 - D. Anua 26 — Gonçalo \
'2-^'"''''> <i^ s,-,
Gonçalves l Annes /
!
3— D. Luiza de 27 -D. Catha-
Viveiros lina Afíonso
/28 —Sinino de
l Viveiros
'
14— Gaspar de
i Viveiros , \
7 - D. Beatriz t
i
de Viveiros
Isabel 30 - Bartliolo-
'
ha
Casta nh, imcu Rodrigues
\3l - D. Guio- l
f'2-Afi;"»»o Al'''"
IMOT-JílS»
PHILIPE DE BETHENCOURT
cavalleiro de I.uíz VIII, de França, Senhor de Bethencourt e de Saint Vincciít
de Rouvray; vivia em 1223 e fallcceu cm 1282.
Foi seu filho
jean de Bethencourt, filho primogénito, herdou todos os (ialien de Bethencourt — filho 3." — viveu em Reynaldo de Bethencourt- filho 2.'' — casou em França 2
lítulos paternos c foi o 1.° Vice Rei e Sr. das ilhas Canárias, França, onde casou e tem geração. vezes; 1.*^ casamento com Marie de Brante, Sr." de Rovay Ner-
para onde partiu em 1402, voltando a França, onde morreu neville; S. geração: 2." casamento em Paris
em 1425 — sem geração. com
Fillippine Froyos, natural de Paris.
Maria de Bethencourt, casou na Madeira com Ruv Gon- Ga^pa^ de Bttliencouri, liiho 3.", ca;-ou em Lisboa com U. Guio- André de Bethencourt, foi para Hespanha,
çalves da Camará, 3.'^ donatário da ilha de S. Miguel —
"Pornão mar de Sá. dama do Paço, filha de João Rôiz de Sá e irniã de Fernão onde casou e teve geração.
ter filhos, instituiu Morgado que legou a seu irmão Gaspar de Sá, alc;iide-m6r do Porto e caniaicÍro-uu'ir dos Reis D Duarte e D.
de Bethencourt, na ilha de S. Miguel, nos Açores. Affonso S.*^: - como herdasse o Morgado, instituído pela irmã D. Maria
de Bettencourt, foi para S Miguel. Foi-lhe concedido braz^o d'arnias
dos Bethencourt, por D. Manuel em l-4-f50-\ sendo a esse tempo resi-
dente na ilha da Aladeira, (vem transcripto no «Archivo dos Açores"
vol. 10.'' pag. 453.)
r
João de Bctlcncoiirt e Sá, filho Henrique de Bettencourt, (ilho D. Quioniir de Sá, dama da D. Izabel de ?á, ta-rhem dama D. l^ealriz de Bettencourt, tam- D. Margarida de Bettencourt,
2.», herdeiro do morgado, por mor- l.» c. com D. Maria de Azevedo Infante D. Izabel mulher do Impe- da mesma Infante: c. com Dom Co- bem dama da mesma Infante e por 6." filha, c. com Pedro Rõiz da Ca-
tede seu irmão; casou em S Miguel filha de Antãode Oliveira de A- rador Carlos 5." -c. cora D. Pedro lona, fidalgo Castelhano. esta casada em Portugal cora o íi- mara, filho do j.i donatário da ilha
com D. Guiomar de Sampaio, [ilha zevedo m. sem o,T:ir5í< i .,,. j„ i. ir.„„ \ „„<.„,£ c^ai.
.. TniM cjer;ioãíi pm í^istelLji .
cia|po António luzacfe. _ ,1,. Q m;«..^i /* '
.
II
JORGE DE BETHENCOURT, (Da TAB. I) casou cm Castella com D. Elvira d'Avilla, filha de I
Belchior Gonçalves d'Avilla João d'Avilla de Bettencourt D. Filippa Gonçalves d'.Avilla D. Joanna Gonçalves dAvil-
filho1.»— casou na ilha Gracio- filho 2,''-casou com D. Maria D. Catharina Gonçalves d'A-
sa com D. fgncz Gomes Frei
filha3.»-casou cora João Vaz la, filha 4.» — c. com João Gon- °°"í=,'^" ''AviIla, D. Guiomar Gonçalves d'A-
Paes e houve: Nogueira, natural de Figueiró
villa, 5.» filha, c. com .Martim h .. filha
0." flltl com Antão Fernan-
c.
re, de Gomes Lourenço
filha çalves Machado, filho de Gon- Gomes da Abelheira. villa, 7.» filha,
casou com Fraii.
dos Vinhos, que, indo i ilha çalo Goines da Fonseca, e de des Leal, morador nas Fontai- cisco Alva es D?n'z
de Sieuve e de D, Beatriz Var
Freire.
Graciosa, lá casou e fi.xou resi- D. Maria Gomes d'.Andrade.
dência.
Clij-islo 1>. Isabel 11. Igiieí C. G.
I
vão a'Avil C. G. C. G.
C. G.
lu do Boi
(r.Vviíla lio
ilotoiíoourt
'l'/\vilíi
lloteii i-ourt
.le
CG.
1 o ji lí oiirl !. o. m.-,. 0. ooin Mn-
nuol Pjiiin
(lul'aiilat':i.
Uieus
i o 10
(I'A-
(j II e r,
Vid. tab. Vm
ooin neru- ooiu geru
rz
Vrd. Tit. Pereira § 2."
n." 7 da "Nnbiliarchia da
ilhi Terceira", do Dr. t-
duardo de Campos de Cas-
tro de Azevedo Soares(Car-
cavellos).
Ill
MACIOT DE BETTENCOURT, (Da TAB.l)
de b. João de
de Reynaldo de Bettencourt, cavalieiío na ordem
' Malta.
filho 1
de António Wh
de V'asconcellos e
de sua muihir D. C. G.
Filippa de Moraes.
vjn.
TAB.
VI
wr
^Mt^
Francisca de Bettencourt e Sá ca-
na ilha de S. Miguel cim D. Maria
n;
Rliy de
noticia
Sá Bettencourt sem mais loão de Bettencourt e Sá
sem geração— filho 3/'
cleriíío-
I
Frandsco de Arruda de João de Beltencoiirt, clé- D. Maria de Bettencout, Gaspar de Bettencourt de D. Maria Pacheco de
I
Sá
Si, filho 1."— Sem geração — rigo— Sem geração— c. 1." com Francisco de Betten- morte de seus
Sá, filho 3.°, por Bettencourt, filha
D. Brites de Sá, de quem
D. Guiomar Nunes sem
l.«; c. com se no trabalho
falia «An- mais noticia.
court de Sá: c. 2." c. Manuel irmãos, herdou o morgado de Simão Lopes d' Andrade, fidal- drades, de S. .Miguel», n.» 17.
Alvares Homem. "Agua de Mel" e outros. go do Porto (irmão de Manuel
Com geração. Casou ria Madeira com D. d'Andrade)
Guiomar de Moura, filha de
João de Ornellas de Moura e
VID. TABOA IX de D. Guiomar do Canto.
Uma filha cujo nome se ignora l'ma filha, que foi freira Francisco de Bettencourt de D. joanna de Sá, batisada em
-foi freira Jia ilha da Madeira ilha da Madeira, mas CUJO nome D. Beatriz de Sá Bettencourt casada
Sá casado com D. Maria Pacheco 23-6-1601 cas. c. Valentim da Ca- I.» com
SC ignora de SampayiK entre outros houve Manuel d'Andrade, irmão de seu pae casada 2 »
mará e Sá de Bettencourt :
Simão da Camará de Bettencourt D. ,\laria de Beltencoiirl n. Catlniina de Abreu, i.' D. Isabel de Ctltenc(nirt
e Sá, capitão do Castcllo de S. Kilippc, na'c cm
li79 e fal. em Ponta Díljada Potelho, filha 1,", c. com Pedro de Bcllen-
2.', c. c.
a 14-2-1634; foi o I." adminÍ5'rad?r do vinculo inslilnido e .Menezes, t." 3.'', c. c. í^iiy
por sua tia D. .viargariJa de Sá. Gonçalo de Freitas de Bet- coiirtde Freitas. Míz de VasconccUos, f " 5
tencourt.
• c. c. de João de Bett. de Freitas
p. Cecília líainalho de Queiroz, fal. em 6-9-1U47 e filha de Francisco Ramalho de e de D. Flelena de Vascl "'
Queiroz c de D. Leonor Dias Nctto.
VID. TAB. X. VID. lAB. Vil). TAB. Ul
D. Margírida da Cama-
JOÃO DE BETTENCOURT DE VASCONCELLOS (Da TAB. Ill) c. c. D. Maria da
D. .Maria da Camará e
rá, fal. em 1633. Sá, c. em 1660 e capt. jMa-
Camará filhade Pedro Alvares da Fonseca da Camará e lierd. de sua ma-
c. c. nnel do Canto
Rebello drasta D. Andreza M. de Vascoiicellos, pela qual herdou o Morgado dos Fon-
capL João de Sousa Car- Furtado de Alendonça scas.
reiro em 19-I-1Ú63
Pedro Alvares da Fonseca da Camará era filho de Álvaro Lopes da Fonseca e de D.
CG. CG. Luiza de Ornellas, filha de Pedro Alvares da Camará e de D. Catharina de
casa de N.» S.'' da Saúde. Dornellas de Saavedra.
D. Isabel Corrêa
de Pedro de Bettencourt e de D Teive e foram os Iiistifuidores do çalves d'Andrade f.°de Martim Gonçalves d'Andra-
Maria de Freitas morgado da Ribeira Brava de e de D. Maria Brito.
C^_0._
S. G. (?)
(VID. TAB. Ill)
ve, cónego em Lx.' Teive, General do mar de Nicolau de Barros. de Teive, c. c. Francisco Al- Bett. c. c.
ve, c. c. sua prima D. An-
Malabar e estando na ín- vares de Athouguia. Ambrozio Freiras
na de Bettencourt de Brito
dia, foi chamado para fa-
zer parte da expedição a
Pestana
CG. S. O.
S. O. S. O. Alcacer-Kibir, mas perdeu- S. G. S. O.
se o navio em que regres-
sava.
S. G.
VIII
Martini Atfonso Kcanço, natural do Algarve.
(DaTAB. II) c. c.
D. Margarida Corria de Mello, dos Corrêas de Farelães
D. Filippa Gonçalves d'Avilla, f.* 3.' de AntSo Gonçalves d'Avilla. Bartholomeu Dias Picanço, natural do Fayal e foi para a Graciosa
c. c. c. c.
João Vaz Nogueira, natural de Figueiró de Vinhos D. Margarida Affonso de Lira
D. Ignez d'Avilla de Bettencourt Licenciado João Gonçalves Corrêa, Snr. t- herd. da casa pat., genealo-
foi 2.* mulher de gista, licenciado em Cânones
c. c.
D, Barbara de Vargas
c. 1.' c.
Francisco de Bettencourt e Sá o.^o de Freitas de Gonçalo de Frei- D. Maria Pimen- D. Liiiza de Frei-
Bettencoiirt, cléri- tasde Bettencourt, te!, f.» õ.», moneu Us.
go e cónego na f." 4.", c. c. D. moça.
Sé do Funciíal. Maria de Betleií-
Manuel Alvares Homem, vereador em P. Delgada em 1634 e filho de conrt, filha de JoJo
Ruy Ooníalves Homem, fallecido em 1021 c. c. D. Julianna Ro- de B. de Freitas, o
drigues Corrêa. do Campanário, e
S. O. de D. Barbara s. a S. O.
lelles. (TAB. V)
VID. TAB.V.
netes e
c. em IÓ63
D. Fillippa de Bettencourt c. c. losé de Eigiieiróa, filho de Pe-
de Mello de sua dro Andrade Berenger c de Isabel de Castro.
D. Barbara Tavares Silvt, filha de Diogo Ferreira e
C. O.
mulher D. Maria Pacheco da Silva.
João Borges é». Camará António de Bfum da Silveira Nicolau Pereira de Sousa Medeiros
c- g.
(casas de Santa Catharina e de N. S. da Saúde). D. Luzia josepha da Silveira Sargento-mór António Borges de Bettencourt, Governa-
c. c. dor de S. Miguel '
NTio será exaogero affirmar-se que as honras da Semana Santa na Ilha cahem
ao F."Joaqnim Silvestre Serrão que viveu em Ponta Delgada 3() annos da sua car-
reira. Quasi toda a musica das .\\atinas da quarta, quinta, sexta e sabbado é ori-
ginal do velho organista da Matriz que morreu paralytico na sua casa da rua Nova
com quasi 77 annos de edade. E, se n'alguma terra por onde passou o génio musical
de meiados do século passado, existe uma eschola sua, é em Ponta Delgada, onde
os irmãos B.irbosas, o P. Francisco Horta, ignacio Augusto Cabral, P." Velozo, P/
'
mario, entoando a--, harftibnícas composições, uns hymnos ás suas intenções, ávida
e ao meio ambiente em que elles viviam. As scenas pungentes de que elles fo-
ram victimas. pequenos nadas do mundo moral e cliristão, dizem que a perversidade
entristecia com os seus actos o gozo da liberdade dos povos e os direitos á pro-
cura da felicidade; Serrão não os escondeu e fei'iu as notas dolentes na resonan-
cia Iiarmonica da symphonia da vida quotidiana que é o lar, o trabalho, as lidas
publicas, os faustos, as riquezas. E talvez um dos grandes valores da sua musica
seja, entre todas as diificuidades e habilidades do contraponto, essa intensão pre-
dominante da representação da vida lembrando as doçuras da existência e ins-
—
pirando-a d'essa seiva nutritiva e vivificadora que é a alegria e a virtude os ele-
mentos mais fortes do bem social.
A cadencia d'essa musica é tão desprendida do canto-chão e das normas dos
velhos ritos da egreja que já a tenho ouvido comparar á musica de Verdi e de
Rossini. Ha um pouco de verdade n'esta apreciação e aquelle que se não com-
penetrar. bem da musica de Serrão e não lhe procurar as intenções musicaes dei-
xar-se-ha envolver por. essa generalisação. Não admira que haja muito profano
na eschola de Serrão como rrdeante se verá: a musica sacra decahiu com a extinc-
ção do Seminário í^alriarchai e a passagem da Corte para o Brazil, com a aber-
tura da eschoía de canto e conservatório de musica, com os successos na opera
de Miro e Marcos Portugal, e com os últimos 50 annos de vida lyrica nas operas
de Lisboa, que D. José e o povo da Capital apreciavam de preferencia á musicada
egreja. Se os grandes talentos assumem a missão de levantar a arte, dar-lhe uiua
feição, leval-a ao í;;osto da sociedade e formar uma eschola; não é menos uma
verdade difficilmcnte alterada, que as massas influem no estro e no temperamen-
to geral do individuo. Por isso não é d'extranhar a influencia '^e rhythmos e de
harmonias profanas na musica sacra de Serrão. D'ahi também o seu valor parti-
cular, a sua originalidade, n sua belleza própria.
Antes porem de entrar na vida de Serrão o que seiá o assumpto principal
d'este artigo, será bom, já que falíamos nas suas matinas célebres da Semana Santa,
dizer alguma coisa do que são essas matinas nos officios divinos da egreja.
O officio comprehende 7 partes entre Matinas, Laudes, as 4 horas de Pri-
mas, Tercia, Sexta e Nóa, Vésperas e Completas, e são de rito duplex ou semidu-
plex. As matinas da Semana Santa, que são officios de ritos duplex e que se re-
sam em nove lições e não são coinpreliendidas nas festividades entre as oitavas
da Paschoa e de I^entecostes resadas no officio de tiez lições e nas dos ritos sin-
gelos, começam pelas resas do est>'!o: Padre Nosso, Ave Maria, Credo, seguindo-se
o invitalorio e o psalmo, venite cxultemus, a seguir o hymno na quarta-feira e logo
depois o primeiro nocturno dos trez que os compõem formado por trez psalmos
e trez antiphonas, depois um versículo, um pater, uma absolvição, trez lições pre-
cedidas cada uma de trez responsorios. Findas as nove lições, seguidas dos nove
responsorios, começam-se as Laudes com 4 psalmos, e cântico com 5 antiphonas.
Foram para esses psalmos e antiphonas miserere mei Deus, Dominus regna-
vit, jubilate. Deus Deus meus ad té de luce vigilo. Deus miserere nostri,' laudate
Dominum de coelis, Haec dies, etc, etc, etc, que Serrão compoz esses lindíssimos
trechos descriptivos. Tocamos de leve na influencia que o meio musical de Lisboa
deveria ter tido em Serrão e vamos entrar agora na vida de Serrão para explicar-
mos as suas tendências profanas.
Um verdadeiro musico d'alma nunca pode ser um sincero ministro da egreja.
Não porque o contacto com os misteres divinos o não approxime dos preceitos
ecclesiasticos e portanto não o tornem assíduo observante dos mais puros c sagra-
dos costumes da egreja, mas porque a dedicação pela arte o absorve na arte e
pouco lhe deixa para cuidar do officio que lhe não pertence e no qual elle não
tem respon-abilidade alguma.
Mas Serrão poderia scr um apaí.xonado do rito musical di egreja e não era.
Não era porque a sua educação superior da musica fcz-se no maio profano sob
REVISTA MICHAELENSE 113t
las como mestre de capella ; mas á volta de D. João VI do Brazil a musica estava
manifestamente em decadência, tendo perdido gradualmente a pompa a que a ti-
nha elevado D. João V na egreja e o brilhantismo c o deslumbramento de que
D. José a tinha circumdado no theatro. De Passo Vedro e Xavier dos Santos, os
quaes se filiavam nos methodos de João Jorge, nada ficara, de José Joaquim dos
Santos e António da Silva, discípulos de David Perez, nem um musico se notabili-
sara Manuel Paixão Ribeiro foi um modesto professor de viola que desmereceu
:
1138 ???VÍ^STA MICHAELENSE
algum tnèrito que possuia o seu professor José Maurício, auctorde vários trabalhos
de nomeada e impulsionador da musica sacra. Miro. que apprendeu com Domin-
gos Bomtempo, só depois de 1830 se evidenciou dedicando-se a musica íyrica e
opera como Marcos Portugal mas o seu labor não fez carreira nem deixou disci-
pulos que levantassem a arte do mestre. Temos pois Leal A\oreira com quem An-
tónio José Soares apprendeu e a escliola de Baldi na qual se filiou o mesmo An-
tónio José Soares depois e Frei José de Santa Rita da Silva, a qual escliola se
desenvolvia com Francisco .Xavier Migone, Miro, Joaquim Casimiro, João Fradesso
Rello e Ricardo Porphirio da Fonseca.
Foi n'essa eschola de Baldi que Serrão se aperfeiçoou recebendo grande in-
fluencia dos seus processos e da inspiração dos mestres, não só d?ndo lições com
elles como frequentando-os na intimidada e formando o seu caracter musical na
sua convivência. A musica sacra que se tocava nas egrejas de S. Miguel antes de
Serrão entrar para Organista da Matriz de Ponta Delgada era de preferencia a de
António José Soares, n'um estylo arrastado e pesado, d'uma harmonia sombria
nos moldes clássicos. As preoccupações de contraponto e as difficuldades de har-
monia sacrificavam muitas vezes o livre exercício da inspiração e muitas das com-
posições d'essa eschola resentiam-se da falta de belleza e de gosto. Eram bellas
obras na sua estructura geral, apreciadas, cheias de qualidades, mas o rythmo
muito Conchegado ás tradições musicaes dos mestres das escholas florescentes
passadas, repetia-se assaz fora do colorido e do brilho devido a essa musica que
se ouviam nas egrejas nas festividades religiosas.
Avida nr^naclial do P/ Serrão não durou muito porque foram extinctas as or-
dens mas os freires de Paimelia conu-çarani a sofírer os effcitos da guer-
religipsiís,
ra civil e das opiniões iibcraes da gente de D. Pedro antes dos outros seus con-
frades quando as tropas de D. Pedro se lançaram na tomada de Lisboa, Palmei-
;
PROFANAS
Grandes variações para piano sobre um motivo da Norma, para dedicar a
•Wanuel Innocencio dos Santos, mestre do infante I). Pedro (V.)
SACRAS.
Responsorios 1." e 1° da Quinta-feira Santa a 4 vozes e acompanhamento,
de grande dimensão— para o W
José Libanio da Cuniia, de Setúbal.
Lamentação 1.' da Quinta-feira Santa e solo d'aitu para l"r. António de Grân-
dola.
ção dos espíritos. Alem d'isso o verdadeiro governador temporal do Bispado por
carta regia passada em Ponta Delgada a 30 de Maio de 1832 era o prior da Ma-
triz, o Doutor Bernardo do Canto ALichado de Faria e Maia, que o próprio Bispo
para regularizar a situação espiritual confirmou por pastoral de lU d'outubro de
1839 até que, restabelecida a ordem veiu tomar posse da Diocese, chegando a
Ponta Delgada no dia 2 de Dezembro de 1840; mas ainda assim permaneceu n'es-
ta cidade até 20 de setembro de 18õ9 onde exerceu os direitos do seu cargo.
e não será difficil evocar a scena de surpreza e d'admiração que se passou en-
tre os executantes que em breve entrariam como companheiros no concerto,
vendo a facilidade e a simplicidade com que Serrão se possuirá da musica que
em tantos serões lhes tinha preoccupado a imaginação, occupado a attenção e exi-
gido assiduo trabalho.
Depois foi ouvido na cidade, na egreja de S. José, onde o cónego Medei-
ros Sousa parochiava e presidia ás festividades e o chamava para o''ganizar os
trabalhos musicaes no choro até que, partiu o organista Caldeira para o Bra-
;
£il, a convite de D. f-r. Eãtevão, veiu occupar na Matriz esse lugar que exerceu
até morrer, ensinando, compondo e vendendo as suas producçõ:;s e occupan-
do-se da factura, da afinação e da construcção dos órgãos. Quem era o mestre da
arte anterior á vinda de Serrão para S. Miguel era o egresso de S. hrancisco, o
Rev." Amor Divino, mas o padre tinha fallecido e as reparações dos instrumentos
das egrejas estavam entregues a pessoas sem a devida competência e que precisa-
vam de uma direcção
technica para obrarem
com êxito seguro, tile
encontrou um não vul-
gar talento no artista
João Nicolau Pereira
com quem construiu o
órgão que foi colloca-
do" na Sé d'Angra em
1S50 e oito mais, com-
pletamente novos. Esse
órgão que é um dos
actuaes da Sé foi des-
cripto pelo Senhor An-
tónio Teixeira de Ma-
cedo, Governador Civil,
Miui Nova do na SUa breve «A\emorÍa
Fassal, vcndo-S'? a rnsi onde residiu e morreu Serrão,
a •/." ao partir de baixo com o «." 14 sobre O estado da Agri-
cultura, Commercio e Industria do Districto de Ponta Delgada», publicado em
1853, nos seguintes termos :
1 1 44 REVISTA MICHAELENSB
esquerda e trez na direita; seis registos de cheios de cada lado cinco pedaes
;
1."— "Um registo que com summa facilidade transporta a musica meio ponto,
e um ponto para cima e o mesmo para baixo, podendo fazer differença de dois
pontos. F.sta notável invenção consiste em um jogo dobrado, c fixo, que prende
nas varetas da reducção, ficando o próprio teclado livre, para se mover por meio
de uma manivella.
Se outras bellezas não se admirassem no grandioso instrumento, de que nos
occunamos, bastaria só a invenção do transporte, para o tornar digno de sin-
gular menção, e para dar ao seu auctor a maior e mais bem merecida nomeada.
2.°— Um teclado de cinco oitavas completas, que á maneira dos pianos verti-
caes sae á frente, ficando assim mais elegante, e commodo para tocador e
vozes.
3.°— Doze pedaes para notas sustentadas que ferem a primeira oitava do órgão,
podendo o organista fazer o baixo fundamental com os pés, ficando d'cst'arte as
mãos livres para o resto do teclado, de que "^e pode tirar não pequeno partido.
4.°— Toda a canária de pau, contendo, como já asseveramos, perto de mil
canudos, ou vozes. Advirta-se porem que, costumando ter os órgãos alguns flauta-
dos de pau, especialmente na esquerda, pôde o '^nr. Serrão conseguir outro tan-
to emquanto á direita."
E outras innovações existiam ainda quaiito aos cheios e se o órgão, accres-
centava o auctor da"Memoria»,não excede os do seu calibre e melliores da Ilha,
em poder de canária, força de vozes metalicis, e em riqueza de ornatos, exce-
de-os sem duvida na doçura e sonoridade de suas vozes, nos recursos e inven-
ções designadas, e muito mais no diminuto do seu preço, estipulado em muito
menos de metade do valor em que teem importado os eguaes em calibre e ain-
da outros menores que existem n'esta ilha."
Para a collocação d'esse órgão na Sé d'Angra deslocou-se o P.' Serrão, acom-
panhando-o á Ilha Terceira e procedendo lá a todos os trabaT.-os de montagem
do instrumento. Esta viagem e outra em 1859 quando D. Fr. Estevão foi reassumir
as suas funcções episcopaes para a sede do Bispado, acompanhando-o, foram as
únicas digressões que fez o organista da Matriz emquanto desempenhou este
cargo os 36 annos que residiu em Ponta Delgada até ao fim da vida.
A obra de Serrão como professor perde-se no Continente entre tantos e tão
afamados mestres elle é frequentemente citado por críticos e historiadores, os
;
seus trabalhos constituem entre os archivos das egrejas de Setúbal c nas famí-
lias a quem foram offerecidos preciosas relíquias do egresso freire de Palmella,
mas a sua eschola de canto e de musica, o seu methodo, o seu estylo só aqui
tiveram continuidade, porque só em Ponta Delgada com frequência e regulari-
dade durante 36 annos agruoou bastantes discípulos que se desenvolveram, quer
nas audições de concertos clássicos, quer nas audições de concertos profanos,
e que se tornaram a seu turno distinctos professores e cultores da sua mu-ica.
Trabalhando sempre em composições originaes durante a permanência cm
Ponta Delgada e1le escreveu:
Musica profana
Vários prelúdios para discípulos e para as freiras da Esperança, algumas dos
quaes elle ensinava;
Exercícios de solfejo;
Exercícios d'acompanhamento por espécies:
Vários jogos de contradanças francezas arranjadas para piano e instrumen-
tal encoinmendados pelo .Worgado Laureano Francisco da Camará Falcão;
Outros jogos de contradanças para o P." Francisco Horta;
Uma phantasia dividida em trez grandes peças— introducçlo, andante e final
; ; ; ;
REVISTA
'*«id:
MICHAFLENSF. 1145
cisco Bulhões
Responsorio do Espirito Santo para a Esperança; (2)
Responsorios 2.", ò." e 8." dos Espinhos, grandes, também para a Esperança;
Outros solos para as referidas matinas;
Calenda do Natal a solo d'alto para a discípula A\aria Tliereza ;
mesmo dois que entraram na vida annual das festividades religiosas e que constituem
peças musicaes de tradição popular; refiro-me ao liymno do Espirito Santo que é
composição de Jacintho ignacio Cabral e ao hymno de Santo Christo de que foi
auctor o chefe da banda de caçadores 11 Manuel José Candeas. Ambas estas com-
os padres tomavam-na e levavam- na cm procissão de roda, entrando pela porta principal na c^Meja e
collocando-a no altar-múr e seguindo-se a íesta, finda a qnal eram as flores da ornamentação distribuí-
das pela assistência, recolhendo com o mesmo crimonial a imagem ao Convento.
(2) Era egualmente de grande apparato esta festa do Espirito Santo na Esperança, descendo duran-
te a missa o capellão do altar e rindo junto á grade collocar pela aberlura a coroa na cabeça da i>ma-
gem de N. S.", levando-a depois as freiras em procissão pelo convento acompanhada de cant».
:
1140 REVISTA_MICHAELENSÍ|
posições serão sempre dois modelos da musica viva, impetuosa, jovial do cyclo dc||
Serrão, caracterisados por uma inspiração rápida c hrcvc sem complicações d'liar
monia, mas ornados de motivos vários que se entrelaçam n'uma pulyphonia cons-
tante, não muito rici, mas assaz variada e original para tirar o rythmo cadenciadol
da marcha da monotonia.
lornaram-se notáveis no grupo dos amigos e discípulos de Serrão, Francisco
B. Furtado, os irmãos Amaraes e A4onte Bastos, João Moniz, Francisco, Joaquim
e Annibal Barbosa. João Bernardo Rodrigues; e os chefes das numetosas batidas
que se constituíram pelas aldeias, muitos dos quaes são auctores de varias compO'
sições e não foram estranhos á eschola da cidade a que presidia Serrão. Essas mes^
mas bandas para as quaes contribuíam com imporlaiífes donativo^-, e patroclnâvàrtt
varias pessoas de representação eram aiiída manifestações e s:inti!l.i^les da activi
dade musical do Organista da Matriz. E o gosto que se diffundia pelos amadores |5f
de musica profana egualmente se repercutia pelos cultores do cautico religioso
das egrejas parochiaes em contacto com o P/ Januário Innocencio Velozo, Ignacio
Cabral, Francisco Pacheco Horta, Jacintlio da Ponte e outros.
Tenho entre os meus autographos uma carta de Serrão que põe a claro o seu
temperamento propagandista, N'ella, escripta ao Dr. André António Avelino por
occasião de uma abertura d'aulas em outubro de 185<-J no Lyceu de Ponta Delga-
da de que elle era reitor, o compositor não se cança de exaltar a arte que profes-
sava e de fazer a apologia da cultura musical na vida dos povos.
Farei a trauscrip;ão de quasi tociji cila porque é um documento em que se
aprecia, directamente das mãos do auctor, no seu estylo impregnado dos senti-
mentos da epocha, as suas considerações pessoaes sobre a musica.
Dizia elle depois de ter dirigido os seus agradecimentos ao Dr. .'Xveliiio e de
ilie fazer os elogios que merecia o discurso aos alumnos do Lyceil
Sim Senhor; li-a e reli-a mas desejando achar alli tambeiíi alguma cousa s(J-
:
bre certa matéria muito da nossa e-^timaçãc por mais que, Com esta vista iryopc,
tom eítes olhos nervosos, buscasse e revolvesse, nada aChei sobre o caso. Será
possível, dizia eu, que o digno auctor d'est3 óptima producção lhe esquecesse a
sua arte enthusiastica, a sua arte dilecta, a sua deliciosa e divinal musica? Não
pode ser; mas o facto realisoa-se e não está lá. Seria talvez porque cila não entra na
escala das aulas que se cursam no l.yccu? Então porque seria? já me parece estar
adivinhando: Foi talvez porque ella merece muito pouco conceito aos illustres scien-
tificos pelo lado litterario. Ora pois bem
: Se eu estivesse nos meus vinte a trinta an-
nos pequenino como sou mesmo, conhecendo o meu curto e apoucado talento, tra-
balharia por desenvolver e ordenar o que tenho em globo n'esta desconcertada ca-
beça e tomaria a dctei'a da pobrezita dizendo-lhc surge arte divinal, surge e assu-
:
me o teu império e mostra o que és, o que foste e o que podes ser aos que te me-
nosprezarem, mostra-lhe que entras em quasi todos os conhecimentos humanos,
com o teu contingente em grande escala e que imperas em grande parte d'elles.
E na verdade não me seria difficil mostrar que a musica não só é uma arte
recreativa que serve para dulcificar os costume-s dns povos, mas que também
c instructiva e scientifica, que pode servir de grande incentivo e como de lembran-
ça aos estudiosos em muitos e diversos ramos de conhecimentos humanos.
A musica tem uma linguagem sua que muito se assemelha á linguagem
litteraria, e por consequência uma grammatica, uma lógica e uma rhetorica. Nin-
5;uem ignora que a musica entra por semelhança em as outras artes liberaes, co-
mo pintura, poesia, architectura ctc. Pode entrar na metaphysica e ale na ctlnca,
entra na alta Philosoi^hia e bem assim nas divisões das mathematicas, como ari-
thmetica, álgebra, geometria, cálculos, pliysica e até na ?strononn'a, ccjmo disse cer-
to auctor, que os signos celestes estavam em suas proporções. Entra na historia:
e que duvida terá Uir. hábil engenho em fazel-a entrar nas sciencias governati-
vas dos povos? a jurisprudência, o divino, a politica, etc. cahiriam debaixo do
seu império; até a thcologia e as sagradas escripturas lá estariam.
1 KEVISTA MlCHAEL ENSE 1147
;ia medica (não c ideia nova) ? se ainda haverá uma medicina musical, como ha
ogica e uma rhetorica musica. Perdão, mil perdões, por metter fouce em ceara
p-jlliíeia. Aonde me levava o pensamento não foi este o fim d'esta carta, isto foi
!
\M\m excesso do amor musical; uma digressão desvairada que só a nossa amiza»
lie i)ode permittir. O
fim d'esta carta é agradecer a V. S." o i^recioso thezouro
;™lom que me enriqueceu, pôr á sua disposição os nieus inúteis serviços e protes-
n(,Jir-llie que com a maior consideração e subida estima sou de
I
/ S. Serrão
ria em canto chorai, mas ahi ficam as ideias de Serrão um tanto phantasistas e
ilD,trJ-
stante caracíerisadas por um estylo irónico por serem tomadas com as devi-
reserv.13, muito apreciáveis porem por serem raras as
j 'ettras conhecid.is do
ida ca-
íbre compositor.
e i»
'Mm-
A alegria que se nota no estylo d'essa carln harmonisa-se bem com o estylo mu-
1 do organista da Matriz, mas ambos contrastam com a sua personalidade amor-
ida, triste. Varias pessoas de 50 a 60 annos d'edade que viviam arredadas do
io musical conhecem o homem de o ver á janella da sua casa da Rua Nova de
imaartc
leça coberta pelo solidén, olhando pesadamente para a rua. Apparecia pouco,
lambem
archivo parochial de S. Pedro, apenas se encontra o seu nome mencionado no
lembrsn-
;nto dobito e entre os signatário*; d'uma petição ao Bispo para que a procissão
.Santissim.o passabse pela Rua Nova.
fZ' muito frequente nas
/.-/<'' cer^Jíi^fo fij e--/Acf//f**s c/a y/////-^«f w/t^e^-fda <?rf/*rf/-^ Aprct- ti/u^rc, t^ -tétjrt s^f^i^tr/e r/e S.JhfA, ra-^
itiCQj(te/t^7'cr> i-otxíC-^i 7í c/tf -//^ej -c/^è s/e /^'^.Ar /nt/^ / jíi/e/^à ^'f*-}ti.^fj^s/i>u s^AsA-t /o t/t: ///»>, /^>^
íormadâs por si só um todo confundido pelo começo e pelo fim; o rabisco aprO'
veitado no til do ditono[o lembra os velhos crapliicos phromaticos da musica ín-
dia que ligavam as notas, e frisam os sentimentos de continuidade que animavam
REVISTA MICHAELENSR 1149
ambas simultânea e divergente. Qualquer d'essas peças podia ser executada separa-
damente, completando-se por si só, mas os seus effeitos conjugados só juntos cor-
respondiam ás aspirações do auctor.
Rieder (2) não era qualquer pequeno maestro de companhia lyríca de tournées
era um musico hábil, um compositor distincio auctor de varias operas e de musi-
ca de camará. Tinha um conhecimento, technico profundo da sua arte e uin senso
esthetico muito educado; além d'isso, muito versado nos assumptos musicaes.
Durante 15 annos foi redactor da <Oazcta Musical" de Milão e mais tarde, depois
de aqui ter e>^tado, acceitou a direcção do Conservatório de Boston onde morreu
em 18Q5 no desempenho d'esse cargo.
Koeder ficou surprehesdido com a musica de Serrão e depois de a ouvir tal
sympathia elle lhe inspirou que elle não hesitou em tornar conhecida a sua obra.
Roeder lastimava que Serrão não e;tívesse n'um meio em que o estimulo na
lucta pela supremacia se torna um caudal da inspiração permanente alli o seu :
(1) Ver para mais amplos detalhes o artigo do Senhor Aniiibal niciido" Poeiras do Passado» pu«
blkado n'esta Revista, n." 2do anno 3.", illustrado com b-istante. retratos de discípulos do Serrão.
l-".''
(2) Mirtiiio Roeder era natural de Berlim onde nasceu a 7 d'Abril de 185i.
1150 REVISTA MICHAELENSE
>
'
captuS" -a violência é de grande eífeito no ;
OS TOQUEí OE
os TOQUES
.-1-
--11—
Ella ir soando
Sinos, sonancia, badalar sem mossa
Arrastados n 'elles por attracção
Segue uma canção.
Toques, toques, sons a repenicar
Para o badalar
E resonancia do carrilhão.
: !
REVISTA MICHAEI.ENSÍ
1155
III
Decidido pede ;
Trememos de medo,
Fluctuam todos os sinistros tons
Sahidos dos boccaes ferrugentos; cedo
Lançam tristes sons!
E a gente; ah! a gente solitária,
A
do campanário,
M que dobram, dobram- atribularia
Missão —o iotorio
Canto abafado, sente gloria
Deassim rolarem
Uma pedra no coração humano.
Essa gente não é fêmea nem macho —
Não é um tyrano
Quem assim procede o seu despacho;
Um pean, revem
; :
Toca, retoca em
rhythmica harmonia
A runica rima
Ao pcan dos sinos em melodia.
Na torre era cima,
Battendo a hora, a hora que viria
Runica melopeia a soluçar
Sinos a dobrar
Sons a suspirar
Horas a passar
Ao gemer e badalar dos dobres
Vão eiles marcando as horas tu soffres ;
Runica alegria
(.^ue d'alli sahia
fcni dobresons dos sinos a tocar;
e
Aífiictos gemidos,
Suspiros sentidas
Em choros doridos;
São os sinos a dobrar os destinos:
CMROMlCfl MISTORICa
GASPAR FRUCTUOSO e ERNESTO DO CANTO •1
1590— 1590
St." Maria, dizendo que "o lavrador vive com o sol n'uma mão e a chuva na ou-
tra, esperando em suas sementeiras estas coisas da .mão de Deus que quando é
servido dá tudo a. seus tempos». Ref^^re-se largamente á natureza das pastagens
d'azevem, balanço, trevo, trevina, milha, panaíco, grama, pampilho e sagueiro, á
abundância e proporções de gados, á excellencia do leite. Descreve as fajãs e a
prosperidade dos vinhedos e faz uma descripção farta da bahia de S. Lourenço
que é um modelo de litteratura descriptiva em todos os sentidos não só pela mi-
nudência do detalhe como pelo sentido inspirativo da região.
E' facto que se preoccupa com a nomenclatura chorographica de todas as
freguezias, que entra na historia das regiões, que descreve os cabos e os ribeiros,
os montes, as fajãs que relata os pri'icipaes feitos dos colonos; que cita as insti-
;
tuições religiosas, que analsya a propriedade, que menciona os preços dos géneros
e das coisas d'uso, e que falia das famílias dos povoadores e suas ascendências,
das estirpes do Continente, que não descura da fundação de industrias manufactu-
reiras, mas na analyse e composição dos terrenos, na lavoura e na industria agrí-
cola, com uma imparcialidade ali->z natural, elle trata d'ellas conjunctamente com
a economia social da epocha, muito detalhadamente para não deixar uma impres-
são particular a quem o lê.
Quando Fructuoso falia S. .Miguel, espraia-se nos
das erupções vulcânicas de
horrores dos cataclismos, mas os seus effeitos é na parte agrícola e nos estragos
infligidos á terra por clles que elle mais nota e descreve o que foram essas terríveis
catastrophes que soffreram os primeiros povoadores michaelenses.
As terras a tanto custo analysadas, cubrem-se de cinzas e de lavas e com que
cuidado elie estuda a altura das camadas de matérias inúteis lançadas pelos vulcões
sobre a fecunda terr.i dos concelhos da RibeiraOrande, Povoção, Nordeste e Villa
Franca, e os trabalhos a que se tiveram de dar os camponczes para a restituírem
novamente á anterior productividade.
REVISTA MIClhIAELENSP 1161
O Padre Cordeiro deixou na sua Historia Insulana bellas paginas sobre o as-
sumpto que em f-"ructuoso está muito mais bem estudado c onde o leitor terá cm
breve uma pessoal constatação do facto; eu apenas chamo a sua attenção para
isso e volverei as minhas considerações sobre a historia michaelense que constam
da chronica d'hoje.
O Doutor Ernesto do Canto fez repctida^ dili.<>encias para entrar no conhe-
cimento da vija de Fnictuosc e encontrou vestígios da passageiu do historiador
pela Universidade de Salamanca, trabalhou nas copias existentes e mesmo no ori-
ginal de que esteve na posse, certamente que investigou a sua asc.mdencia genea-
lógica e encontrando sempre o mysterio em volta de si e luctando com difficul-
dades por serem raros os registos parochiaes á data do nascimento do homem,
deixou a resolução do problema de lado pelas múltiplas incognitis com que se
apresentava até que qualquer feliz acc^so o levasse a pista segura, c|ue ao que
penso também não encontrou, pois não se vê nos seus manuscriptos e notas qual-
quer indicio d'isso.
Se (iasn\r -'ructuoso escreveu uma historia açoreana muito do caracter social
como convinhi d sua orientação de chronista, noi moldes dos chronistas do tem-
po como Gaspar Corrêa, Diogo do Conto, João de Barros e tantos outros, regis-
tando os fa :i:5s ao meímo tempo que fixava 03 acontecimentos ligados com as
expedições marítimas e os inícios de colonisação o mesmo critério para a forma
;
não presidiu aos trabalhos do Doutor Ernesto do Canto que foi a pessoa que depois
de Fructuo.o cjm mais erudição e trabalho se dedicou á historia aç )reana. Já fal-
íamos de Er. Agostinho de MonfAlverne, de Chaves e Mello e de Cordeiro que
referindo-se a) século XVH em obra particularmente differentes escreveram sobre
factos e coins do s.ni (empo; Borges da Silva no principio do século XIX também
se dedicou a assumptos econoiuicos, demograpliicos e que se prendiam com a
sua carreira e mister d'engenharia em cuja missão viera aqui ter; depois de 1837
é na impreníi periódica que 03 investigadores terão que ir prociirar assumpto
para qualquer trabalho ou elucidação a qualquer esclarecimento; vêem os folhe-
tos, as put)!íca;:ões políticas, depois, com outras publicações, algumas revistas e
almanachs; até que Eranrisco .Maria Supíco funda a Persuasão' ou jornal d'in-
formação com secções históricas, redigido com um critério superior, [untára-se
elle a um grupo de litteratos novos de que fazia parte o Dr. Theophilo Braga, The-
ophilo Eerieira c José de Torres e que, cultivando as obras de ficção, no roman-
ce, na novolla e na poesia, conduzindo-as i.iela senda da historia quanto possível,
mais 011 menos na orientação do f^ead Cabral que fora o fundador da eschola e
o mais fecundo dos escriptores do seu tempo: oppunham-se a oulio movimento
dos economistis agrários agrupados em volta da Sociedade Propagadora de Agri-
cultura Michaelense, da qual sobresahia como mais activo trabaliiador José do
Canto
Esses grupos esmoreceram com a partida d'um para Coimbra, entre os gru-
pos de litteratos de fic;ão; nos economistas pela extincção do órgão da Socieda-
de que era o .Agricultor Micliaelense» e ficou Supico sósinho na imprensa periódi-
'•
Se alguém estava nos casos de lançar uma empreza d'este vulto era Ernesto
do Canto, senhor de meios avultados e d'uma bibliotheca numerosa e rica em
obras raras, tendo-se dedicado ás questões politicas, administrativas e econoini-
cas desde muito novo, e com numerosas e dedicadas amizades nos meios de Lis-
11(32 ^f^VISTA MIÇHAELENSf
dade nas terras da costa oriental— a mais perto da Metrópole,— onde ainda hoje se
verificam ruinas d'iima civilização em paite submergida pelos gelos. Ai tradições
porem estavam bem arreigadas á historia marítima dos Islandezes e dos Escandi-
navos e ainda em 1533 o bispo suffraganeo de Roschiid ainda se intitulava Bispo
da Groelandia.
A viagem dos irmãos Zenos, venezianos, sem resultados práticos nem econó-
micos, serviram talvez para explicar quão difficieis eram as viagens paia essas terr-
as e quão improfícuas se tornariam as repetições das explorações para ellas.
O silencio votado durante séculos a essas Terras Verdes, como lhe tinham
chamado os primeiros exploradores islandezes, se é que essas Terras Verdes fos-
sem a Groelandia, com as viagens dos Cortes Reaes, vieram outra vez para a pre-
occupação das Cortes que dos seus erários prestavam activos auxílios aos navega-
dore da epocha, aos industriaes e aos commercíantes, em execução de program-
mas políticos de progresso e dtsenvolvimento de riqueza publica. E ainda hoje
confusas ideias que existem na historia dos descobrimentos, conquistas e pescas
entregam aos inglezes e francves a exploração dos mares septeucrionaes e mesmo
as primeiras descobertas do fim do século XV; ao passo que deixam aos portu-
guezes o papel de nomencladores nas pessoas de Gaspar e Miguel Côrte-Rcal.
Existem, no emtanto, documentos portuguezes que demonstram que João Vaz
Corte- Real foi o primeiro que esteve no Novo Mundo antes de 1474, e outros que,
com testemunhas de inglezes e normandos provam que durante o século XVI os
portuguezes concorreram nas Terra; Novas conjunctamente com os pescadores dos
outros paizes que se aventuravam á industria do bacalhau.
Aveiro e Vianna do Castello eram portos armadores para essas pescas, e no
meiado do século a primeira dVstas cidades mandava para os bancos da Terra
Nova cerca de 150 caravelas, segundo António d'0!iveira Freire na Chorographia
Portugueza (tomo 11.") e o alvará rcgio citado pela primeira vez no tomo l\' das
Memorias Econouiicas da Academia Real das Sciencías por Constantino Botelho
de Lacerda (pag. 338), no qual se dizia que Diogo Brandão fizesse arrecadar pe-
los officiaes da Alfandega o dizimo do pescado da Terra Nova por estarem parti-
culares na posse d'um privilegio que a cóite não queria conservar, alvará que é
datado de Leiria aos 14 de outubro de 1506, são factos comprovativos de que os
portuguezes não tinham abandonado os mares septentrionaes nas explorações ma-
rítimas e commercíaes.
iWas entremos na explicação das razões que levaram os historiadores a excluí-
rem o? portuguezes da gloria que lhes cabia no descobrimento e na exploração da
pesca, quando as cartas geograptiicas e ptirtulanos do século XVI trazi?ni as lo^gi-
quas regiões novamente abordadas por europci.s, ch-ias de roni'^3 portur'iieze'?.
Excluo d'esse? documentos cartographicos o celebre mappa de La.Tarc Liiz
de 1563 (na Academia das Sciencías) por ser feito por um portuguez, n-asmo
porque outros extrangciros nos restam muito anteiiores a este: a e.liçãó de Ptolo-
meu por exemplo, impressa em Roma em 1508 traz o mappa d;. Terra N^^va com
o nome de lerra de Corte-Real e chama a varia; ilhas Os í)emonios O Theatrum
;
sua procura 2 outras naus que os não encontraram, e seu irmão mais velho, Vas-
queanes, depois do insuccesso da expedição mandada por D. Manuel também quiz
abandonar as suas funcções de vedor da casa d'EI-Rei para ir procural-os, mas
D. Manuel oppoz-se a isso.
Estas explorações dos Corte-Reaes conhecidas e trazidas a lume por tantos es-
criptores não só entregaram as descobertas das regiões do Novo Mundo a Colom-
bo, a Américo Vespucio e João Cabot, como depois a dominação das pescarias
aos inglezes, normandos, bretões e mesmo biscainhos ás quaes os escriptores moder-
REVISTA MICHAELRMSE \\()0
nos extrangeiros não associam a actividade dos portuguezes, querendo ver mesmo
no com.nercio do bacalliau do norte de Portiio;al, os in.aíiezes, qn.' par.i alii o le-
vavam depois das viagens cahotinis emprehendidas pelos filhos de Sebastião Ca-
bot. Os franee/es com a expedição de Cartier ao Canadá tambeui marcavam a
posse da região abandonada com o insuccessso das explorações dos Corte-Reaes.
Parece um facto averiguado que a. salg:is eram urna industria dos pescadores
do norte e Guilherme Bucheloz flamengo da llollanda ten o seu lugar marcado
como o iniciador daexportação do arenque e mesmo a fnr-ma da conservação do
peixe nc norte da làiropa em MK). I:'i;iesmo citada a phrase de Cailos V quan
do visitou a sua sepultura dizendo que elle tinha sido mais útil á sua pátria pela
riqueza que lhe tinha trazido que se tivesse conquistado uma provmcia.
Mas a industiia exutia em I'ortugal e o commercio do peixe salgado fazia-se
por portuguezes, como deixamos dito aí;;iz. Não erai;i os irmáos Corte-Reaes que
a tinham á sua conta nem disso retiravam proveito ou beneficie pecuniário, leriam
talvez sido os iniciadores, descobrindo os bancos, mas a sua morte trágica não
lhes permittiu proseguirem nas cxiMorações. Para esclarecer pois e justificar o no-
me de Terra Nova e Costa do Lavrador á iniciativa dos Corte-Reaes faltava de-
monstrar que a descoberta dessas torras era' uma descoberta portugueza, o que
muito vagamente andava no es|">into dos nossos litteraíos e historiograplios.
O Padre Cordeiro, que public).! em Lisboa a sua iiistoria sobre os Açores,
em 1713, referia-se r'ella ás cartas da? di-as capitanias da ilha Terctira dadas a
João Vaz Corte-Real e Álvaro Martins Homem em Mbt (1) como recompensa de
terem os dois navegadores descobeito a terra do ba:alliau; esse facto que preoc-
cupou muitos escriptores postcrioií-s e entre elles nos princípios do século XIX ao
membro da Acadamia Real das bcieucias, Sebastião Francisco Mendo Irigoso que
se tornou notável pelo seu ensaio sobre os descobrimentos e comme?cio dos Por-
tuguezes em as terras síptentrionaes da America, lido n'uma sessão publica no
anno de lSi3, veiu mais ou menos obsc iro, até aos nossos dias, até que o Snr.
Dr. hsnesto do Ci.ito, que já desde a fundação do Archivo dos Açores» se vinha
<
(I) l:' erro do Fadrc Cordeiro, como cIciiiMistrou o Dr. V.uk^U, d. Cjiuo hl. -XícWuj ^.j=
Açores».
\ 1 60 REViSTA MICHAELENSE
na Peninsuia n'utn Raymão da Costa, cruzado trance/, que ajudou Affonso Hen-
riques a conquistar Lisboa, segundo Fructuoso, e detalha a personalidade por
citações documentadas do esforçado cavalleiro Vasco Annes da Costa, companhei-
ro d'armas de D. ]oão I.", que foi o primeiro que usou do nome de Corte-Real.
hste Vasco Annes, segundo D. António de Lima e outros genealogistas, vivia com
grande fausto no Algarve, onde tinha os titulos de Fronteiro Mór e alcaide Mór
de Silves e Tavira e por isso se appellidou de Corte-Real. Foi um dos pri-
meiros a entrar em Ceuta cm 1415 com o infante D. Duarte e na assembleia dos
notáveis que prestaram juramento de fidelidade ao Mestre d'AviS: reu«ida em
Lisboa aos õ d'outubro de 1384 esteve presente, representando Tavira, o que ser-
viu de base ao auctor do "Archivo dos Açores^ para demonstrar que a essa data
elle teria 25 annos feitos. Sem querer entrar em mais detalhes sobre essa família
de guerreiros e depois navegadores, nem mesmo proseguir nas referencias que fez
o Dr. Ernesto do Canto sobre este ousado cavalleiro, que instituirá na família o
appellído de Corte-Real e que parece ter sido um dos 12 que foram ao torneio
d'lnglaterra ;
proseguiremos no nosso relato sobre historia açoreana e tratare-
mos de explicar eonio o Dr. Ernesto do Canto veiu a escrever a sua monogra-
phia dos Cortes-Reaes; elle que dedicava o melhor do seu tempo á leitura de
documentos e á annotação d.^ factos que formariam essas solidas bases da gran-
de obra da historia açoreana. Foi decerto ao Dr. Ernesto do Canto uma sortida
inexplicável para quem conheceu o seu caracter perseverante c methodico, e a re-
ctidão dos seus princípios fieis á missão que se impunha, apezar de elle o expli-
car na íntroducção do livro publicado em separata do ^Archivo- em 1883. Algu-
mas cartas publicadas no "Archivo dos Açores» (n." 76) de 1Q20 pelo Coronel
Francisco Affonso de Chaves e que datam de 1875 a 1877, dirigidas ao seu ami-
go e erudito investigador jorgense o Dr. João Teixeira Soares esclarecem o as-
sumpto.
Tratava-se da publicação do tratado das Ilhas Novas escripto por Francisco
de Sousa e que se julgava perdido no terremoto de Lisboa; existiam porem umas
copias dispersas pelas bibliothecas dos conventos que foram parar, i)or occasião
da extincção das Ordens, á bibliotheca de Coimbra, onde o Dr. Teixeira Soares,
tendo conhecimento d'e8se facto, as mandou copiar; o relato que consta d'uma
serie de descobertas d'iihas que nunca tinham existido, encerrava comtudo alguns
factos verdadeiros, depois demonstrados por achados de documentos nos
archivos de \ ianna do Castelio, que João Alvares Fagundes estivera na Terra
Nova em i520 e tantos; a descoberta do manuscripto não Xrnha. grande valor mas
as investigações que se seguiram genealógicas e que determinaram a famillia e
descendentes do naveg.idor ao mesrr.o tempo que se encontravam os documentos
que demonstravam ter-lhe si lo dada a Capitania da Terra Nova poderiam dar alguma
luz a investigações sobre as pescarias. Era um principio e nada sabemos do que o
Dr. joào Teixeira Soares tinha coordenado em notas para laboração de uma me-
moria sobre os Cortes-Reaes porque emquanto a preparava falleceu. Foi mais feliz
o americano Henry Harrisse com quem se correspondera algum tempo o Dr. Er-
nesto do Canto qur no anno precisamente em que sahia a Memoria Histórica em
Ponta Delgada publicava "Os Cortes-Reaes e as suas viagens ao Novo Mundo».
Não tendo o tratado esclarecido mais do que a genealogia dos Fagundes de
Vianna porque a tradição ainda conservava a passagem de João Alvares por aquel-
las paragens, como o demonstra o citado mappa de Lazaro Luiz de 1563 dando
como legenda á erra do Lavrador «descoberta por João Alvares» e ao largo, en-
I
tre 48 graus e 49, uma ilha com o mesmo nome que n'outros mappas apparece tam-
bém com a designação de Fagunda o Dr. Ernesto intentou ^tão escrever sobre
;
rias com a publicação do Tratado das Ilhas Novas, dariam egualmente aso, com a
edição da Memoria sobre os Corte-Reaea, para mais amplas investigaçães nos ar-
chivos de Portugal sobre a descoberta das terras septentrionaes que parecem te-
rem indiscutivelmente sido abordadas peia primeira vez por João Vaz Corte Real.
Mas a quest;lo interessava duplamente o Doutor Ernesto porque ella compre-
bendia a demonstração da velha theoria histórica que descobertos os Açores esta-
.* va não só estabele-
^S^- ^v vVki ^^^*vV o^^ <Wi_)|(v '
1 68 «r.yjsTA michaelense
tigios d'essas aguadas nos Açores. O "I ratado das Illias Novas« com a serie de
mentiras e citando ilhas que não existiam no Atlântico é talvez um documento
curioso para se avaliar das preoccupações de certos escriptores da epoclia que se
deixavam levar por correntes d'opinião que se formavam com o fim de incitar os
navegadores a proseguirem nas suas explorações pelos mares, e esses boatos cor-
reram até ao fim do século XVll e mesin.i no século XVlll, mais attenuados, é cer-
to, mas com a mesma insistência por certas pessoas fáceis de se suggestionarem e
de se arreigarem a uma crença.
Outra extravagância do l)r. Ernesto com a publicação da «.Memoria dos Cor-
te keaeS'' foi entrar na historia di familias, ou digamos melhor, deixar as investi-
gações da historia de ciracter gerai para entrar em detallus de historia genealó-
gica; aindi que uma importante parcella dos seus trabalhos fossem dedicados ao
estudo genealógico de que deixou com o Doutor Carlos Machado um manuscri-
pto imp^ortantissimo; estas sortidas eram fugazes na generalidade da sua obra con-
sagrada á sociedade e aos interesses administrativos.
Ernesto do Canto avaliava como ninguém do alcance do conhecimento dos
pequenos detalhes dos papeis judiciaes ou dos archivus de familia com o qual c!-
le esperava levantar o grande monumento á historia da ilha de S. Miguel; os co-
nhecimentos principaes que elle adquirira tinham vindo d'essa nascente abundan-
te em tão vasta quantidade como aquelles que elle bebera nos arcliivos públicos;
e um dos achados de que elle mais se regosija na sua vida d'investigadore historio-
grapho é uma declaração citada por um seu nono avô Pedro Annes do Canto da
Terceira n'um d'esses manuscriptos tabelianescos dos primeiros annos do século
XVI escripto n'uma horrível lettra gothica profusamente cortada de rabiscus e
complicada por abreviatura^ em que litigiosamente se reivindicam direit:>s a certas
propriedades na lliia Terceira.
Eram passados 10 annos sobre o apparecimento da Monographia sobre os
Corte Reaes, e elle achava outras provas de que não só os,açores tinham sido guar-
da avançada para as viagens para o Novo Mundo, como as Ilhas estavam ligadas
ainda mais com a empreza e que d'ellas, antes dos filhos de João Vaz Corte Real
se terem perdido nos mares septentrionaes, mais viagens se tinham emprehendido
para esses mares e essas longinquas regiões.
Pedro Annes do Canto tinha herdado no lugar das Quatro Ribeiras da Ilha
Terceira certas terras sobre as quaes tivera havido longos e morosos processos
entre varias partes que se disputavam as propriedades.
Certas sesmarias tinham sido concedidas pelo Ouvidor .\ffonso do Amaral cujo
cargo era o de promotor das justiças n'essa epocha e que foi conservado mesmo
depois de 1503 da nomeação do primeiro corregedor, com uma alçada do Juizo
geral ou de 2." instancia. Affonso do Amaral servira pois de Ouvidor e provisoria-
mente de Capitão em substituição de Diogo de Teive que Jacome Bruges levara
da Madeira comsigo como auxiliar e para na sua ausência servir de seu substituto
na Capitania; e dera certas sesmarias a mais pessoas no sitio das Quatro Ribeiras
e entre ellas umas roças de biscoito que levariam de 14 a 15 moios de semeadu-
ra de trigo a um tal Rodrigo Chamorro que egualmente obtivera outras sesmarias
de Antão Martins e Luiz Annes o grande».
A referida roça que era uma das propriedades das demandas que se tinliam
apresentado em 1508 com outras concedidas também por sesmarias entre 148Ó e
1488 e reivindicadas por Pedro de Barcellos estavam no processo com uma decla-
ração de Chamorro explicando como a tinha abandonado recebendo uma ordem
de João 11 para seguir em descobrimento de terras com um João Fernandes o La-
vrador, voltando 3 annos depois e encontrando os seus parentes fora da proprie-
dade e n'ella os filhos de João de Valadão.
D'este achado do Dr. Ernesto se conclue que continuavam as explorações
para regiões longinquas como provavelmente era João Vaz Corte Real quem as pro-
REVISTA MlCHAELENSE 1169
se.iíiiia dos Açores, como atraz ficou dito quando nos referimos ao seu testamento
feito na Madeira.
íí' que o "Arcliivo dos Açores está semeado de documen-
facto incontestável
tos particulares, masdocumentos representam recompensas de serviços e
esses
outras mercês e indirectamente se ligam ao programma de historia adoptado para
o Arcliivo e que tinha por base a reproducção de documentos.
As obras raras que fallavam nos Açores mereciam-lhe grande attenção e elle
publicou excerptos d'umas, traduziu capitules d'outras, e reproduziu na integra cer-
tos relatos cuja edição se achava completamente exgottida ou de manuscripto
único. Pequenas monographias foram também publicadas, por escriptores abalisa-
dos, mas a base e grande copia de trabalho inserto nos 12 volumes do Archivo
por elle editados são documentos dos archivos municipaes, das Alfandegas e dos
archivos nacionaes de Lisboa respeitantes aos Açores.
As investigações genealógicas eram guias para as identificações das indivi-
dualidades citadas em documentos, como são outros trabalhos inéditos e ainda
autographos e manuscriptos sobre índices de livros municipaes e da Alfandega,
copias de Fructuoso que se acham na Bibliotheca publica, extractos de documen-
tos, documentos authenticos, papeis avulsos, notas, c os catálogos que o historia-
dor publicou com o titulo de Bibliotheca Açoreana, onde vêem lançadas obras
referentes aos Açores e aos auctores que d'ellas se occuparam.
firnesto do Canto nunca coordenou os seus apontamentos nem iniciou a em-
preza de uma historia açoreana ou michaelense; quem comtudo tem compulsado os
seus trabalhos inéditos facilmente se esclarece e acha um filão a um tratado his-
tórico, senão dos Açores, da Ilha de S. Miguel, e encontra consubstanciosos as-
sumptos para elle. O que poderia ser uma historia michaelense tratada pelo Dou-
tor Ernesto do Canto? Uma minuciosa resenha commentada de factos em que des-
de o regimen da terra, ao systema dos impostos e contribuições, passando pela
acção administrativa dos org:Miismos municipaes nada escaparia para demonstrar
a orientação económica que sempre presidiu aos administradores públicos para
elevar a civilisação insular a um crescente progresso de costumes e de moral; e
como essa resenha seria rica em detalhe para demonstrar os processos honestos
e criteriosos dos nossos antepassados nos actos governativos e de execução fa-
zendaria; os zelos e previdências sociaes resaltariam da ordem que se mantinha
na vigilância do trabalho assim como nos faustos populares; e como força centrí-
fuga, os philosophico; e transcendentes sentimentos religiosos a consolidar as
crenças justiceiras nas relaçõ -s da collectividade, collaborando com as auctorida-
des civis na grande obra do trabalho e da expansão das riquezas.
Folheie o leitor esses volumes do archivo, procure no indice do X." volume os
assumptos tratados na obra e verá a multiplicidade dos documentos publicados e
a enorme diversidade d'clles; as obras nas egrejas durante o século XVIII, o pe-
ríodo florescente das artes; a fundação dos mosteiros, a creação básica da previ-
dência social e moral em fins do século XVI e príncipios do século XVII; as con-
cessões de sesmarias e seus processos judiciaes, a colonisação; as Cartas de Do-
natários, o governo; o estabelecimento dos dizimos, a organisação dos impostos e
contribuições; os regulamentos alfandegários, o systema fiscal e fazendario; a
transcripção d'estatisticas, a economia publica; os catálogos e notas das entidades
governativas e episcopaes, a biographia; os relatos sobre os acontecimentos mais
notáveis, a historia propriamente dita.
Em
todas essas publicações está a alma investigadora e erudita do sábio di-
rector do «Archivo e se traduza orientação judiciosa das tranícripções concre-
'
Yi^^-Aí^. A.,
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..^ ^^ ^'^ «4...„.>í.
y^^^- ,_^ nossos compatriotas; no en-
.«i.
jjj^jQ Oliveira Martins é du-
/s^jr-i /.^ -.-.^~'A^ -*.*, ^/«f-, ? ».^>,-,u.«,. .-
ro para com D. João 111 que
.^A^»^-r ti, i^i^ -á- <^-r--.*^£i,- procurou introduzir e mis-
'
^--^^^^..^^^ >è--<^'>tf_ turar os processos escho-
,, ,,
Nota a
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mare^em do punho ao Dr. Emes to4 4
doivnc-
r-
Cantot
os lasticos extrangclros
,
" com
,
.
n j j A n I A nossos, chega a ser ,'"
r„ ,. grotesco
^ 9 dos doiíinientos de Pedro Annes ao Lauto
,I
sob a '^
pas. ... '
,
_.*r
o o
índice
PAO.
i'M EDUCADOR AUCHAELENSE -O Padre João José d'Amaral— pelo Padre
Ernesto Ferreira 1000
NUMERO ANTECEDENTE
im«_iiv;e:ro c; o ivi ivi e ivi nt í» t i v^
DO
Movimento de I de março de 1821 no l." centenário — 1921