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Universidade de Évora – Escola de Artes – Departamento de Música

Mestrado em Ensino de Música – UC de Educação para a Cidadania


Docente: Prof. Dr. Luís Sebastião
Pedro Manuel Serra e Silva – m47679

Síntese crítica ao Artigo:

Barreto, A. (16 de Janeiro de 2021). Cidadão do mundo não é cidadão. Público. Obtido em 23
de Março de 2021, de https://www.publico.pt/2021/01/16/opiniao/opiniao/cidadao-mundo-nao-
cidadao-1946555

Na sua habitual coluna de opinião no jornal Público, António Barreto confronta o leitor
com um artigo provocador. Provocador por colocar em causa uma espécie de frase-feita
ou chavão dos nossos tempos - o de alguém afirmar-se como um «cidadão do mundo».
É curiosa a importância desta afirmação nos dias de hoje, sabendo que a mesma tem
origem na boca de Sócrates, algures entre 469 a.C. e 399 a.C.: «Não sou nem ateniense
nem grego, mas um cidadão do Mundo».

António Barreto confronta o leitor desta sua crónica de opinião com uma tese que pode
ser sintetizada do seguinte modo: a problemas globais pode e deve corresponder uma
partilha de responsabilidades entre os vários actores em cena sem que, apesar disso, se
esqueça que a entidade basilar conferidora de cidadania é o Estado ao qual cada cidadão
pertence. Em bom Português: isto da cidadania global, e mesmo Europeia, é, na opinião
de Barreto, uma mão cheia de nada.

Reflectindo sobre a conclusão do cronista, atrevo-me a concordar com a mesma. A


cidadania faz-se no empenho do tempo e esforço do cidadão na melhoria do espaço
onde exerce os seus deveres e colhe as suas regalias. Pensemos no Cidadão do mundo,
no Cidadão global: que direitos e deveres tem? A quem pode recorrer caso veja os seus
direitos atingidos? A quem pede contas? Vemos que estas perguntas não são de resposta
fácil e que mesmo a ONU não está preparada para ser o veículo deste tipo de exercício
de cidadania.

Porém, creio que quando António Barreto afirma que «Sempre na História a Justiça foi
feita e defendida por instituições com identidade autárquica ou nacional.», olvida que o
processo de génese das Nações ou Estados não aconteceu por revolução, mas por
evolução incremental. Olvida ainda as experiências dos modernos estados federados.
Pela sua linha de raciocínio, as federações de estados como a Alemanha, EUA, Brasil
ou Austrália, muitas vezes com matrizes culturais bastante dispares. seriam estados aos
quais não se poderia pertencer, dado existir uma esfera de poder delegado num estado
federal. Olhemos para os Estados alemães antes de 1871 ou para as 13 Colónias em
1776. No caso alemão nem podemos usar como defesa o facto de falarem a mesma
língua como medida da unidade nacional.

Talvez António Barreto prefira a sua hipérbole e o seu discurso de «tudo ou nada» do
que a um âmbito de análise mais abrangente. É, aliás, compreensível que assim o seja.
A mensagem que pretende veicular ao leitor é demasiado importante para que a sua
análise seja «morna», central, «on the fence» como a minha seria, caso fosse eu o
cronista.

Até certo ponto, a experiência europeia o que pretende fazer é, ao mesmo tempo, algo
que já foi feito e algo de novo. O que começou como uma união de Nações quer ser
uma união de cidadãos e um verdadeiro projecto de cidadania europeia, construindo, à
semelhança de outras experiências federais, uma união política que sirva os seus
cidadãos.

Atendendo ao último parágrafo da crónica, especificamente na relação dos cidadãos


europeus com a União Europeia, diria que, nos dias de hoje, garante e protege as minhas
liberdades e garantias tão bem o Estado Português quanto a União Europeia. Esta é,
aliás, uma falsa dicotomia: tribunais europeus versus tribunais portugueses, polícia
portuguesa versus um suposto órgão de polícia europeu. O que a União Europeia
acrescenta é mais uma instância aos órgãos judiciais nacionais e não uma escolha entre
instituições nacionais ou europeias. Pode-se até dizer que essa escolha nem existe.

Mais uma vez, a hipérbole ganhou.

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