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Resumo Introdução ao Daltonismo Jurídico - Antônio Bogo Chies

Clarissa Ferreira de Castro – Direito Noturno

Autores

Antônio Bogo Chies é graduado em Direito e possui especialização em Ciência


Política pela Universidade Federal de Pelotas, seu Doutorado na área de Direito
Penal foi realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Marcelo Oliveira de Moura realizou sua graduação em Direito na Universidade


Católica de Pelotas, seu mestrado sobre Pena e Estado Democrático de Direito e
seu Doutorado na área de Juizados Criminais foram feitos pela Universidade do Vale
do Rio dos sinos.

Parte I – Introdução ao daltonismo jurídico: por uma postura contra-mitológica


de cognição e operacionalidade do fenômeno jurídico

Na obra em questão, os autores se propõem a demonstrar uma visão diferente de


operacionalidade e cognição do fenômeno jurídico, ou seja, como compreender e
operar o Direito.

Segundo os autores, após a busca pela retirada do mito das sociedades para
explicação do mundo natural, o Direito, visto como uma forma racionalizada de
perceber a realidade, acabar por tomar e lugar do mito, servindo de “símbolo” para
as sociedades. Desse modo, constituindo aquilo que chama de “mitologia jurídica”,
que de certa maneira esconde o uso privilegiado do poder fazendo com que se
acredite que o fenômeno jurídico se pauta na Razão Humana, sendo esta o maior
dos mitos, de acordo com os autores.

Nesse sentido, são diferenciados os conceitos de “dogma” e “enigma” e, assim,


aquilo que se propõe no livro é classificado como enigma, pois “um enigma pode ser
resolvido”, diferentemente do dogma, que é aceito quase que por uma motivação de
fé ou crença.

Assim, a obra explora a instigação, percepção, inflexão e problematização das


questões nela abordadas com o objetivo de vencer os obstáculos cognitivos e
operacionais para então compreender os fenômenos, as realidade e as dinâmicas
do fenômeno jurídico na sociedade.

Dentre as instigações para a escrita acerca do tema abordado, os autores citam o


reconhecimento da condição apática da sociedade atual, à postura cognitiva
necessária para uma nova abordagem operacional do Direito e a ruptura
paradigmática da modernidade. A fim de explicar tais instigações, iniciam
referindo-se a Boaventura de Souza Santos, considerando as transformações
sociais ocorrendo de maneira muito rápida em seus processos de criação e
destruição, fazendo com que aqueles que sofrem seus efeitos fiquem indispostos
para buscar soluções ou motivos sobre aquilo que fazem. Além disso, citando
Nobert Elias, defendem a posição de que, para se construir um processo cognitivo, é
preciso distanciamento, que implica um controle de emoções. Por fim, uma posição
inflexiva é levantada como essencial, pois ela pode romper coma chamada
“linearidade”.

Dentre as percepções, é pontuado o fato de que o Direito, estando fechado em si


mesmo e separando aqueles conhecidos como “profanos”- pessoas fora do Campo
Jurídico- e os “não profanos”-pessoas que estão dentro do Campo- acaba por ter
prejuízos, pois na consegue analisar a sociedade como um todo e, evidentemente, o
Direito caracteriza-se como um fenômeno social e necessita de uma relação
profunda com esta para que possa compreendê-la.

Já no ponto de inflexão é explicado o motivo do título da obra, utilizando a forma


como o daltônico vê o mundo para ilustrar como deve ser realizada a cognição do
fenômeno jurídico, não de maneira puramente dogmática mas sim por estratégias de
percepção.

Parte II – Os Enigmas e a Prisão

Ainda para dar bases á Episteme Contra-Mitológica trazida no livro, Chies realiza
considerações sobre a privação de liberdade enquanto modalidade jurídico-punitiva.
Baseando-se em Foucault, o autor afirma que a pena de prisão, ao longo da história
e do pensamento dos juristas reformadores, não era considerada da maneira que é
hoje, como base do sistema de punições, e nem mesmo foi planejada de maneira
racional e esquematizada.
Além do mais, a penalidade de prisão hoje é vista com naturalidade. Esse modo
natural de vê-la demonstra a incapacidade humana de encontrar respostas aos
paradoxos causados por tal punição - do mesmo modo que propõe meios de
dignificação do preso e seu retorno à sociedade, não apresenta estes resultados.

Ademais, o sistema prisional é colocado como “cúmplice” da sociedades moderna


capitalista, pois reafirma a visão que esta traz sobre o trabalho, a ideia de que ele
teria como fim a dignificação do homem e o reconhecimento de um valor inerente ao
ato de trabalhar. Por conseguinte, em ambos os sistemas, cria-se uma esfera de
poder e dominação dos mais vulneráveis por aqueles que desejam excluí-los da
sociedade.

Parte III – Em Busca o Conflito Perdido

Ao concluir o livro, o autor busca encontrar uma proposta de estratégias recriadoras


dos Juizados Especiais Criminais. Deixando clara sua oposição à noção de litígio na
percepção jurídica tradicional de conflito, que busca evitar este, considerando-o algo
negativo. Para o autor, a resolução de um conflito envolve uma busca pela
transformação da realidade. Ele afirma que o Sistema de Justiça Criminal está
comprometido com os interesses estatais e, por isso, falha no que tange a resolução
de conflitos.

Para apoiar sua tese de que o Sistema falha ao resolver conflitos, Chies baseia-se
no fato já citado anteriormente de que o Direito trabalha como um sistema fechado,
deixando de lado os considerados “profanos”, o que dificulta a cognição e
operacionalização jurídicas, por não permitir uma visão total das situações.

Portanto, ao “buscar o conflito perdido”, procura-se retornar ao indivíduo social sua


posição de sujeito que foi retirada pelo Estado, promovendo assim seu acesso à
Justiça para que, então, a dominação social seja amenizada e, futuramente,
extinguida.

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