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LEONARDO SILVA SILVEIRA

RA: 8106594

BIOÉTICA
PORTFÓLIO – CICLO DE APRENDIZAGEM 2

CURITIBA – PR
2023
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PORTFÓLIO DO CICLO DE APRENDIZAGEM 2


REPRODUÇÃO ASSISTIDA E ABORDAGEM PRINCIPIALISTA

A abordagem principialista da bioética alicerça-se sobre os três princípios


supostamente universais para a ética na pesquisa científica, propostos pelo Relatório de
Belmont, em 1978, a saber, os princípios do respeito à pessoa humana, da beneficência
e da justiça (SEHNEM, 2013, pp. 55-56), acrescidos de um quarto princípio, o da não
maleficência, por outros teóricos da área que publicaram seus trabalhos também na
década de 1970 (SEHNEM, 2013, p. 58). Passemos a um breve resumo sobre o que diz
cada um desses princípios:
a) Princípio da autonomia: é aquele que força o profissional a “favorecer e a
promover o exercício da autonomia pessoal” (SEHNEM, 2013, p. 59),
protegendo o direito de todo indivíduo a um consentimento livre e esclarecido
diante de qualquer procedimento a que seja submetido.
b) Princípio da beneficência: em sentido positivo é aquele que “obriga a agir
beneficamente em favor dos demais” (SEHNEM, 2013, p. 60) e, em sentido
de utilidade, é aquele que “obriga-nos a pesar os benefícios e os
inconvenientes, estabelecendo uma análise crítica que seja a mais favorável
possível” (SEHNEM, 2013, p. 60).
c) Princípio da justiça: esse pressupõe o direito de cada indivíduo e “tem a ver
com o que é devido às pessoas, com aquilo que, de alguma maneira, lhes
pertence ou corresponde” (SEHNEM, 2013, p. 60).
d) Princípio da não maleficência: consiste na “obrigação de não causar
prejuízo intencionalmente” (SEHNEM, 2013, p. 59), seja através de dor,
moléstia ou menosprezo, com dano físico ou moral ao indivíduo.
Os avanços tecnológicos na medicina fomentam sempre a reflexão bioética
porque, ao se alterar o cenário estabelecido, visita-se quase sempre a fronteira
desenhada pela ética humana a respeito da dignidade, da liberdade e do bem-estar das
pessoas. Nesse sentido, gostaríamos de lançar o nosso olhar sobre a questão da
reprodução assistida, a fim de avaliar, como exercício de pensamento, a maneira pela
qual esses princípios se refeririam a essa problemática. Se no passado a reprodução
humana acontecia num contexto puramente natural e a decisão sobre a geração de uma
nova criança se dava em ambiente prioritariamente familiar, com os desenvolvimentos
de novas tecnologias para a reprodução assistida, “o local da decisão sobre ter ou não ter
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filhos passa a ser a clínica; a efetivação desse desejo, ou as tentativas de sua realização,
inicia-se no consultório; e o encontro dos gametas fecundantes ocorre às claras,
monitorado no laboratório” (SANCHES, 2013, p. 8). Essa mudança de cenário interessa
à bioética não só porque envolve a geração da vida em si mesma num ambiente artificial
em relação àquele natural que gozava de exclusividade no passado, mas também porque
implica o envolvimento de muitas outras personagens no processo de decisão e geração
de um filho.

[A reprodução] sai da esfera privada e coloca em cena uma grande


quantidade de profissionais – médicos, enfermeiros, bioquímicos,
embriólogos, psicólogos; propicia o surgimento de novas estruturas – clínicas
com vários laboratórios; traz para a tomada de decisão – em alguns casos –
conselheiros, advogados e juízes; torna-se objeto de declarações de líderes
religiosos; provoca intensos debates internacionais; faz surgir novas
legislações; agita a imprensa, mobiliza as opiniões e torna-se [assim] um dos
assuntos mais complexos no que diz respeito à bioética. (SANCHES, 2013,
p. 8)

Sehnem (2013, p. 107) apresenta a reprodução assistida como aquele conjunto


de “técnicas de reprodução humana pelas intervenções médicas voltadas para a solução
de problemas de esterilidade e [que], assim, favorece a reprodução da vida humana”. De
fato, estamos diante da abertura de um grande número de possibilidades para se driblar
as dificuldades não só relacionadas à capacidade de reprodução como à saúde dos seres
humanos, pois há casos em que essas técnicas mantêm vivas as esperanças de
tratamentos com células tronco para doenças graves (MOZER, 2019) ou mesmo de
criação de filhos perfeitos, livres de enfermidades de cunho genético (SANCHES,
2013). Não obstante a isso, duas técnicas são especialmente polêmicas por seus
conflitos bioéticos: “a escolha do sexo e a clonagem de embriões, as quais enfrentam
posturas bastante negativas e questionadoras dentro da comunidade médica e científica”
(SEHNEM, 2013, p. 108).
Por outro lado, a reprodução assistida em laboratório pode acabar se tornando,
além da desconfiguração do ato naturalmente gerador da vida, uma oportunidade de
seleção e descarte de embriões, o que talvez seja o principal motivo pelo qual o
Magistério católico tenha sido tão contrário a ela (MOZER, 2019). O Papa João Paulo II
(1995, n. 14), por exemplo, alerta que “as várias técnicas de reprodução artificial, que
pareceriam estar ao serviço da vida e que, não raro, são praticadas com essa intenção, na
realidade abrem a porta a novos atentados contra a vida”, o que feriria, quando elas são
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mal usadas, o princípio da não maleficência, considerando, por exemplo, que os


embriões muitas vezes são descartados quando produzidos em excesso ou quando se
obtém informações sobre características indesejáveis (SANCHES, 2013); também se
fere os princípios da autonomia, ao negar a individualidade da vida gestada naqueles
embriões, da beneficência, ao torná-los apenas meio de cultura de células necessárias a
um terceiro, e da justiça ao não garantir a eles o mesmo direito à vida que todo homem e
toda mulher gozam.

De fato, se por um lado ela [a reprodução assistida] nos oferece fundadas


esperanças numa linha verdadeiramente terapêutica, por outro ela nos revela
uma série de ameaças justamente no sentido da dominação. E é, em primeiro
lugar, nesse sentido que devem ser lidos os tantos, tão detalhados e tão
categóricos “nãos” por parte do Magistério da Igreja no que se refere à
transmissão da vida em laboratório: trata-se de preservar a dignidade e a
liberdade de todos os seres humanos num contexto em que os mais fortes
alimentam a pretensão de determinar não só o presente, mas também o futuro
de toda a humanidade. (MOZER, 2019, p. 32)

Finalmente, destacamos, então, a síntese feita por Shenem (2013) a respeito da


reflexão que o uso desses quatro princípios traz à ética das técnicas de reprodução
assistida. Se, por um lado, há a postura utilitarista e pragmática de quem não enxerga o
embrião humano como entidade de direitos a serem protegidos e garantidos, por outro,
há o extremo oposto de quem nega a possibilidade de que, respeitados os princípios
supracitados, um casal possa recorrer legitimamente ao auxílio da biotecnologia a fim
de superar dificuldades de reprodução. Entre esses dois polos, situa-se a posição
intermediária daqueles que “consideram válido o uso do recurso de técnicas de
reprodução para resolver o problema da esterilidade, desde que sejam acompanhadas as
implicações sociais e psicológicas no casal e nos indivíduos” (SEHNEM, 2013, p. 112).
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BIBLIOGRAFIA

MOZER, A. Teologia Moral: questões vitais. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2019.


SANCHES, M. A. Reprodução assistida e bioética: metaparentalidade. São Paulo: Ave Maria, 2013.
SEHNEM, M. A. Bioética. Batatais: Claretiano, 2013.

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