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Caso Prático:

O Decreto-Lei n.º 322/2007, de 27 de setembro, fixa o limite máximo de idade para o exercício
das funções de piloto comandante e de co-piloto de aeronaves operadas em serviços de
transporte público comercial de passageiros, carga ou correio.

Tal diploma prevê o seguinte nos seus artigos 2.º a 4.º:

“Artigo 2.º Limite de idade


1 — Sem prejuízo do disposto no número seguinte, os pilotos comandantes e co-pilotos podem
exercer as suas funções em transporte público comercial de passageiros, carga ou correio até
atingirem os 65 anos de idade.
2 — Os pilotos comandantes ou os co-pilotos que tenham atingido os 60 anos de idade, apenas
podem exercer as suas funções em transporte público comercial de passageiros, carga ou correio
se preencherem, cumulativamente, as condições operacionais e de certificação médica previstas
nos artigos 3.º e 4.º do presente decreto-lei.

Artigo 3.º Condições operacionais


As condições operacionais a que se refere o n.º 2 do artigo anterior são as seguintes:
a) O piloto comandante ou o co-piloto apenas deve exercer as suas funções como membro de
uma tripulação múltipla;
b) O piloto comandante ou o co-piloto deve ser o único membro da tripulação técnica de voo,
piloto comandante ou co-piloto, que tenha atingido os 60 anos de idade.”

Artigo 4.º Certificação médica


1 — A manutenção ou emissão da licença dos pilotos comandantes e dos co-pilotos que já
tenham atingido os 60 anos de idade, encontra- se ainda sujeita a certificação médica, a realizar
nos termos do disposto no Decreto-Lei n.º 250/2003, de 11 de outubro1.
2 — A entidade responsável pela certificação médica pode, tendo em vista a fundamentação da
emissão do certificado de aptidão, solicitar a realização de exames médicos adicionais que
considere necessários para garantir uma decisão médica baseada na inexistência de doença que
possa pôr em causa a segurança de voo.
3 — A certificação emitida nos termos do número anterior tem a validade máxima de seis meses,
sem prejuízo do cumprimento de prazos de verificação médica inferiores que venham a ser
fixados administrativamente pela entidade competente em matéria de certificação médica.”

Por sua vez, também o Regulamento (UE) N.º 1178/2011 da Comissão, de 3 de novembro de
2011, que estabelece os requisitos técnicos e os procedimentos administrativos para as
tripulações da aviação civil, dispõe o seguinte sobre esta matéria, nas normas seguintes:

“FCL.065 Redução dos privilégios dos titulares de licenças com 60 anos de idade ou mais no
transporte aéreo comercial

1 Atualmente os certificados médicos dos Pilotos são


emitidos em conformidade com a Parte MED do REGULAMENTO
(UE) N.º 1178/2011 da Comissão, de 3 de novembro de 2011, que estabelece os requisitos técnicos e os
procedimentos administrativos para as tripulações da aviação civil, em conformidade com o Regulamento (CE) n.º
216/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho (Tal Regulamento já foi objeto de várias alterações).
a) Idades entre os 60 e os 64 anos. Aviões e helicópteros. O titular de uma licença de piloto que
tenha atingido os 60 anos de idade não pode desempenhar funções de piloto numa aeronave
que efetue transporte aéreo comercial, exceto como membro de uma tripulação multipiloto.
b) 65 anos de idade. Exceto no caso de um titular de uma licença de piloto de balão ou de
planador, o titular de uma licença de piloto que tenha atingido os 65 anos não pode
desempenhar funções de piloto numa aeronave que efetue transporte aéreo comercial.
c) 70 anos de idade. O titular de uma licença de piloto de balão ou de planador que tenha atingido
os 70 anos não pode desempenhar funções de piloto num balão ou num planador que efetue
transporte aéreo comercial.

MED.B.001Limitações aos certificados médicos

[…]

d) Códigos de limitação operacional

1. Limitação operacional multipiloto (OML – Só classe 1)

i) […],

ii) o titular de um certificado médico com uma OML só deve pilotar uma aeronave em
operações multipiloto, quando o outro piloto for plenamente qualificado para o tipo de
aeronave em causa, não estiver sujeito a uma OML e não tiver completado 60 anos de idade,

[…]”

Suponha que o Conselho da Organização da Aviação Civil Internacional aprovou uma emenda
ao Anexo 1 à Convenção sobre Aviação Civil Internacional. Essa mesma emenda contém uma
alteração à norma 2.1.10.1, referindo que um Estado Contratante, emissor de uma licença de
piloto, não deve permitir que o seu titular atue como piloto aos comandos de uma aeronave,
utilizada em operações de transporte aéreo comercial internacional, se o mesmo tiver atingido
62 anos de idade, ou, nas situações de tripulação múltipla, se tiver atingido 67 anos de idade e,
neste caso, desde que o outro piloto tenha menos de 62 anos de idade.

Tal emenda entrou em vigor e é aplicável a partir do dia 25 de janeiro de 2021.

Manuel Araújo, Piloto Comandante de linha aérea perfaz 65 anos de idade no dia 27 de janeiro
de 2021 e pretende continuar a voar até aos 67 anos de idade (em transporte aéreo comercial
internacional, em tripulação múltipla).

Pode ou não continuar a voar a partir do dia 27 de janeiro de 2021 nas referidas condições?
Justifique a sua resposta.

Tópicos de resposta ao caso:

Abordar o artigo 8.º, n.ºs 2 e 3, da Constituição da República Portuguesa e aplicar os mesmos à


Convenção de Chicago.

Referir que a Convenção não prevê, em lado algum, a aplicabilidade direta na ordem jurídica
interna dos Estados das normas e práticas recomendadas constantes dos 19 Anexos à
Convenção de Chicago.
Abordar artigos da Convenção de Chicago que falam nos anexos, para demonstrar e explicar,
com especial incidência nos artigos 37.º, 38.º e 90.º.

Referir o que é então necessário fazer para que esta emenda fosse aplicável na Ordem Jurídica
Interna Portuguesa, e, consequentemente, para que fosse diretamente aplicável ao Manuel
Araújo. Necessidade de alterar o Decreto-Lei n.º 322/2007 para transpor e implementar a nova
norma da ICAO na legislação nacional.

Contudo, no caso concreto, como existe o Regulamento (UE) n.º 1178/2011, da Comissão
Europeia, em obediência ao princípio do primado do Direito da União Europeia, não é possível
aprovar e/ou aplicar legislação nacional contrária à da União Europeia. Assim, para que Manuel
continuasse a voar até aos 67 anos teria de esperar pela alteração do Regulamento (UE) n.º
1178/2011.

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