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AULA 2

TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL –
ANSIEDADE SOCIAL,
ANSIEDADE GENERALIZADA
E FOBIAS

Profª Michelle L. Correia da Silva


TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL NO TRANSTORNO DE ANSIEDADE
SOCIAL (TAS) OU FOBIA SOCIAL

TEMA 1 – CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E SINTOMAS NA FOBIA SOCIAL

Neste estudo abordaremos os aspectos psicoterapêuticos do Transtorno


de Ansiedade Social – TAS, também conhecido como Fobia Social, termo que se
se refere à evitação de situações provocadoras de ansiedade, marca registrada
do transtorno. Analisaremos inicialmente os critérios diagnósticos e sintomas,
algumas das características do desenvolvimento do TAS, o modelo cognitivo
comportamental para o TAS, além das principais técnicas empregadas pela
Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento do TAS. Analisaremos técnicas
específicas do modelo de tratamento por meio de estudo de caso em TAS.
Para iniciar nosso estudo, observe o termo “medo de avaliação negativa1”
– ele resume o principal conceito do TAS. É o medo que o sujeito sente de ser
avaliado de forma negativa nos seus comportamentos quando exposto às
situações sociais. Estudaremos os elementos-base que compõem as
características desse e de outros componentes do TAS. Vamos então definir os
critérios diagnósticos e os sintomas do quadro clínico segundo o DSM-5.
A ansiedade social pode ser definida como um medo persistente de
desempenho social, de interação verbal ou potencial de avaliação negativa que o
indivíduo teme enfrentar. Analisaremos no quadro a seguir os critérios
diagnósticos para o TAS segundo DSM-5 (2014, p. 203-204) e Clark e Beck (2012,
p. 339):

Quadro 1 – Critérios diagnósticos para o TAS

A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais em que o


indivíduo é exposto à possível avaliação por outras pessoas, em interações sociais: p. ex:
iniciar ou manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares, ser observado (p.
ex. comendo ou bebendo); iniciar um namoro ou compromisso; expressar sua opinião a
terceiros; expressar insatisfação com a comida de um restaurante. Em situações de
desempenho diante de outros: p. ex., proferir palestras; falar em aula; fazer um brinde ou
discurso; praticar esportes diante de uma plateia; cometer um erro em público (p. ex.
pronunciar errado uma palavra); fazer compras em uma loja movimentada.
B. O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de ansiedade que serão avaliados
negativamente: p. ex; ruborizar, tremer, transpirar, tropeçar nas palavras; ele tem a
preocupação de ser julgado como ansioso, débil, maluco, estúpido, enfadonho, amedrontado,
sujo ou desagradável; será humilhante ou constrangedor; provocará a rejeição ou ofenderá
outros por seu comportamento.

1
Barlow (2016, p. 118).

2
C. As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade. O medo de ofender os
outros – p. ex: por meio de um olhar ou demonstrando sintomas de ansiedade, ou de ser
rejeitado como consequência. Nota: em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso
chorando, com ataques de raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolhendo-se
ou fracassando ao falar em situações sociais.
D. As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou ansiedade. Um
indivíduo com medo de tremer as mãos pode evitar beber, comer, escrever ou apontar em
público; um com medo de transpirar pode evitar apertar mãos ou comer alimentos picantes; e
um com medo de ruborizar pode evitar desempenho em público, luzes brilhantes ou discussão
sobre tópicos íntimos. Alguns têm medo e evitam urinar em banheiros públicos quando outras
pessoas estão presentes.
E. O medo ou a ansiedade são desproporcionais à ameaça real apresentada pela situação
social e o contexto sociocultural; desproporcionais ao risco real de ser avaliado negativamente
ou às consequências dessa avaliação negativa. Às vezes, a ansiedade pode não ser julgada
excessiva porque está relacionada a um perigo real (p. ex., ser alvo de bullying ou ser
atormentado pelos outros). No entanto, os indivíduos com TAS com frequência superestimam
as consequências negativas das situações sociais e, assim, o julgamento quanto a ser
desproporcional é feito pelo clínico.
G. Medo, ansiedade ou esquiva causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. A
ansiedade antecipatória pode ocorrer às vezes muito antes das próximas situações (p. ex.,
preocupar-se todos os dias durante semanas antes de participar de um evento social, repetir
antecipadamente um discurso por dia). Os indivíduos com frequência evitarão as situações
sociais temidas ou então as suportarão com intenso medo ou ansiedade [...]. Por exemplo,
alguém que tem medo de falar em público não receberia um diagnóstico de TAS se essa
atividade não é rotineiramente encontrada no trabalho ou nas tarefas de classe e se o
indivíduo não tem um sofrimento significativo a respeito disso. Entretanto, se evita ou ignora o
trabalho ou educação que realmente deseja ter devido aos sintomas de ansiedade social, tem-
se o diagnóstico [...] A esquiva pode ser abrangente (p. ex., não ir a festas, recusar ir à escola)
ou sutil (p. ex., preparando excessivamente o texto de um discurso, desviando a atenção para
os outros, limitando o contato visual).

Para concluir os critérios diagnósticos baseados no DMS-5, devemos


considerar alguns apontamentos importantes: deve-se especificar se o medo está
restrito à fala ou ao desempenhar em público, como ansiedade social de
desempenho; o medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando
mais de seis meses; o medo, ansiedade ou esquiva não é consequência dos
efeitos fisiológicos de uma substância (Ex.: droga de abuso, medicamento) ou de
outra condição médica2; o medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado
pelos sintomas de outro transtorno mental, como transtorno de pânico, transtorno
dismórfico corporal ou transtorno do espectro autista; o indivíduo que fica ansioso
apenas ocasionalmente em situações ou situação social não seria diagnosticado
com TAS; o contexto sociocultural do indivíduo, ou seja, no qual ele está inserido,
deve ser considerado e precisa ser levado em conta quando está sendo feito esse
julgamento. Por último, “O medo, a ansiedade e a esquiva devem interferir
significativamente na rotina normal do indivíduo [...] e/ou relacionamentos [...]”
(DSM-5, 2014, p. 204). A ansiedade só se torna ansiedade social quando impede

2 DSM-5 (2014, p. 204).


3
que o sujeito participe de atividades que deseja ou quando causa um grande
sofrimento durante sua realização (Sadock, 2017).

1.1 Comorbidades comuns no TAS

É consenso na literatura que os casos de fobia social se apresentam


frequentes quando associados a outros transtornos mentais. Portanto, é
importante relacionar algumas das comorbidades mais comuns entre os
diagnósticos comórbidos para facilitar a exclusão de outros transtornos mentais.
As comorbidades mais comuns no TAS são: transtorno de ansiedade
generalizada, transtorno de ansiedade de separação, fobias específicas. A
literatura também resume algumas comorbidades, conforme Sadock (2017, p.
406): “agorafobia, transtorno do pânico, transtorno de personalidade esquiva,
transtorno depressivo maior e transtorno de personalidade esquizoide”. A
observação clínica nos mostra que o abuso de álcool e a depressão são condições
comuns nos quadros de ansiedade social.
Hope, Heimberg e Turk (2012, p. 22) dizem que “infelizmente, a maioria dos
indivíduos com TAS não procura tratamento, a menos que desenvolva um
transtorno adicional”, justificando porque muitas vezes os indivíduos que são
acometidos pela ansiedade social demoram a buscar ajuda especializada. Uma
última categoria relacionada é a timidez, e essa característica não deve ser
considerada uma comorbidade. É possível ver essas diferenciações no Quadro 2:

Quadro 2 – Diferenças entre timidez e fobia social

TIMIDEZ FOBIA SOCIAL


 Transtorno psiquiátrico
 Traço de personalidade  Presença de acentuada ansiedade, e até
 Inibição e discrição social mesmo pânico em situações de avaliação
 Pode se envolver socialmente quando social
necessário  Tem maior probabilidade de um
 Menor probabilidade de evitar situações desempenho social deficiente
sociais  Esquiva de situações sociais de forma
frequente e difusa

No próximo tema vamos analisar as possíveis causas e os principais pontos


do desenvolvimento desse quadro clínico.

4
TEMA 2 – POSSÍVEIS CAUSAS DO DESENVOLVIMENTO DA FOBIA SOCIAL

Os pontos importantes relacionados na literatura3 sobre as principais


causas e características envolvidas no desenvolvimento do quadro do TAS estão
resumidos no quadro 3.

Quadro 3 – Principais causas e características envolvidas no desenvolvimento do


quadro do TAS

POSSÍVEIS CAUSAS
 Multifatores;
 Carga genética;
 Problemas de desenvolvimento psicológico precoce;
 Fatores ambientais;
 Crenças negativas sobre si mesmo, os outros e o mundo;
 Carência de habilidades sociais importantes;
 Crenças de que seu comportamento social será inadequado ou inapropriado;
 Viés atencional para consequências negativas;
 Hipervigilância para ameaças sociais;
 Fator familiar: ansiedade social é mais comum em familiares de fóbicos sociais;
 Modelação do comportamento de abordagem: relacionada ao aumento de atividade
dopaminérgica na fobia social.
CARACTERÍSTICAS MAIS COMUNS
 Acomete indivíduos jovens;
 Alguns quadros iniciam-se acima dos 10 anos de forma súbita;
 50% dos casos acontecem na adolescência;
 Alta comorbidade (vide tema 1.1) e morbidade (conjunto de causas capazes de produzir
uma doença);
 Grande potencial de mudanças nas áreas de vida dos portadores;
 Reduz a qualidade de vida;
 Prejuízo acadêmico, profissional e social por causas dos medos;
 Mais comum em mulheres;
 No caso dos homens, o início é mais comum na infância, quando relacionado a iniciar e
manter conversas; manter-se próximo de alguém; falar com pessoas de autoridade;
participar de festas etc.

Um último dado relacionando ao quadro de fobia social refere-se ao fato de


que o surgimento do transtorno social na vida de um indivíduo está provavelmente
mais voltado às causas diferentes e multifatoriais entre seus portadores do que a
um modelo etológico único. Outros componentes podem ser considerados nas
causas, como “inibição comportamental em bebês e crianças pequenas; baixos
escores de introversão; experiências traumáticas condicionadoras; pais com
transtorno evitativo de personalidade; familiares com Transtorno de Ansiedade,
com taxas estimadas em 30%” (Kanapp, 2004, p. 226-227).

3Andretta; Oliveira (2011. p. 329-330); Hope; Heimberg; Turk (2012, p. 24-26); Barlow (2016, p.
114); Kanapp (2004, p. 22-228).
5
Algumas dessas causas, quando combinadas, resultariam provavelmente
num modelo etiológico individual.

TEMA 3 – MODELO COGNITIVO COMPORTAMENTAL DO TAS

Vamos retomar o conceito-base da fobia social: quando o indivíduo se


expõe a qualquer situação na qual possa “passar” por possibilidade de avaliação
negativa, gerando medo e ansiedade, e isso gera prejuízos, limitando ou até
reduzindo a qualidade de vida, ele é potencialmente um fóbico social.
Alguns conceitos nos ajudam a completar nosso raciocínio sobre outras
características do TAS: estados de ansiedade desencadeados por expectativas,
por possibilidade de avaliação interpessoal em situações imaginárias;
sensibilidade a críticas; sentimentos de rejeição; medo de avaliação interpessoal
em situações sociais imaginárias; excesso de preocupação com a opinião dos
outros e com a aparência pessoal; dificuldades de ser assertivo, autoestima baixa
e sentimentos de inferioridade (Andretta; Oliveira, 2011). Tudo isso deve ser
organizado e somado aos conceitos vistos, ao diagnóstico, aos sintomas, às
características e ao modelo cognitivo comportamental do TAS.
Os tópicos a seguir se referem ao modelo cognitivo comportamental
integrado para o TAS proposto por Rapee e Heimberg em 1997 (citados por
Barlow, 2016, p. 117) para esclarecer “como os indivíduos com transtorno social
processam a informação ao se deparar com uma situação com potencial para
avaliação negativa”. A descrição completa do modelo está em Hope, Heimberg e
Turk 4 e Barlow5, e pode ser consultada para aprofundamento dos conceitos que
vamos descrever:
O modelo integrado refere-se ao processo que se inicia quando o
indivíduo com ansiedade social está na presença do público (Barlow, 2016). O
termo “público” significa estar sendo observado por outras pessoas. Os demais
processos relacionados ao modelo e ao que se desencadeia na sequência estão
relacionados abaixo:

4
Hope, Heimberg e Turk, 2012, p. 27.
5
Barlow, 2016, p. 119.
6
3.1 Principais tópicos do modelo

 Público percebido (estar sendo observado): é característica do ansioso na


fobia social ter o público como crítico.
 Representação mental de si mesmo, de como é visto pelo público.
(Reapresentações mentais negativas, distorcidas de si podem ser
acessadas de vivências traumáticas de outras situações sociais). Por
exemplo: imagem negativa de si, de como era (desajeitado, feio, esquisito),
entendendo que é percebido assim pelos outros.
 Sinais internos percebidos.
 Alocação preferencial de recursos de atenção (o que veem, ouvem,
sentem).
 Observação/imagem de si mesmo e comportamento do público.
 Indicadores externos de avaliação (comportamento do público).
 Sinais internos percebidos.
 Comparação entre a representação mental de si mesmo e a forma como é
visto pelo público, com a avaliação dos padrões esperados do público.
 Julgamento de probabilidade e consequência da avaliação por parte do
público (estar de acordo com expectativas, se o público vai dar importância
ou não, p. ex.).

Indicadores negativos resultam nos sintomas abaixo:

 Sintomas comportamentais de ansiedade.


 Sintomas físicos de ansiedade.
 Sintomas cognitivos de ansiedade (pensamentos e crenças negativos, por
exemplo).

Nesse processo, os pensamentos negativos mal adaptativos revelam as


crenças (a respeito de si, dos outros e do mundo) e são um dos resultados do
julgamento de probabilidades, tendendo a dominar os pensamentos do indivíduo
com ansiedade social (aspectos cognitivos). Vejamos, no Quadro 4, alguns
exemplos de crenças comuns na fobia social.

7
Quadro 4 – Crenças comuns na fobia social

Crenças sobre ser “Eu sou chato.”


socialmente fraco “Eu não sou uma pessoa amigável.”
ou inferior “Eu não me entroso.”
“As pessoas criticam os outros.”
Crenças sobre os
“Em situações sociais as pessoas.”
outros
estão sempre fazendo avaliações umas das outras.”
“É horrível quando os outros o desaprovam. ”
Crenças sobre “Seria horrível se os outros pensassem que sou fraco ou incompetente.”
desaprovação “Ficar constrangido na frente dos outros seria insuportável,
uma catástrofe pessoal.”
Crenças sobre “Ansiedade é sinal de fraqueza emocional e de perda de controle”
ansiedade e seus “Se as pessoas virem que estou ruborizando, transpirando, com as
efeitos mãos trêmulas etc., elas se perguntarão o que há de errado comigo.”
Fonte: Clark; Beck, 2012.

Há outras crenças, como “previsões negativas sobre resultados de


situações sociais; hesitação associada a essas previsões; foco da atenção em
pistas de ameaças sociais quando está na situação social; avaliação negativa do
desempenho após a situação ter passado” etc. (Hope; Heimberg; Turk, 2012, p.
28).
Notem que durante todo o processo do modelo da ansiedade social o
indivíduo alterna entre a observação de si e do outro, na tentativa de, do ponto de
vista cognitivo, tentar avaliar todos esses dados para validar suas percepções e
crenças.

TEMA 4 – PRINCIPAIS INTERVENÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO-


COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DO TAS

A principal abordagem de tratamento da fobia social no modelo da Terapia


Cognitivo-Comportamental está na integração da exposição com a reestruturação
cognitiva. Nessa abordagem não se busca livrar totalmente o paciente da
ansiedade; entende-se que o objetivo do tratamento é reduzir a ansiedade e o
sofrimento emocional dos comportamentos de evitação para níveis mais
aceitáveis.
O Quadro 56 tem o objetivo de expor os principais conceitos do modelo de
tratamento cognitivo-comportamental propostos para o transtorno de ansiedade
social e as 16 sessões de tratamento individual (visão geral).

6 Barlow (2016, p. 122-125; 134); Hope, Heimberg e Turk (2012, p. 44).


8
Quadro 5 – Visão geral do tratamento individual em 16 sessões

Semana Atividade
Pré- Entrevista e avaliação diagnóstica para determinar o tratamento apropriado.
tratamento
Uso de escalas de avaliação pelo terapeuta:
LSAS
Escala de Ansiedade Social de Liebowitz (1987)
Escala Breve de Fobia Social
BSPS (1997).
ADIS-5-L (entrevista estruturada para TAS para o DSM-5 (2013)

Autoavaliação/pacientes:
SIAS (1998)
SPAI (1989)
SPS (1998)
SPIN (2000)
FNE (1983)
Sasci (2008)
Beck BDI II (1996 *conferir uso favorável)
1 Material de psicoeducação
Estabelecimento de rapport (boa relação para boa aliança de trabalho)
Fundamentação do tratamento
2 Material de psicoeducação sobre ansiedade, como, p. ex, os três componentes
da ansiedade (componente fisiológico/reações corporais; componente
cognitivo/o que uma pessoa pensa [p.ex. “eu me sinto com cara de bobo”];
componente comportamental/ o que faz [p. ex: evitar olhar nos olhos])
3 Hierarquia de medo e evitação com a Escala Suds (1996)
4 Concluir hierarquia de situações
Psicoeducação sobre etiologia da ansiedade social x origens dos pensamentos
automáticos (negativos, distorcidos e irracionais x de si, do mundo, do futuro)
5e6 Aprender habilidades de reestruturação cognitiva
Relação pensamento/sentimento/comportamento
Principais distorções cognitivas do paciente (p. ex.: ler pensamentos, prever a
sorte, desqualificar o positivo)
Formulário BYOCT (seja seu próprio terapeuta cognitivo)
7 Primeira exposição na sessão
8 Segunda exposição na sessão
9 a 11 Continuar exposições na sessão
Reestruturação cognitiva e planejamento mais elaborado de exposições in vivo
como tarefa de casa
Sem exposição na sessão
12 Reestruturação cognitiva avançada e crenças nucleares. Ex.: para a crença “eu
tenho de ser perfeito para ser aceito pelos outros”, usa-se exposição in vivo
“comentando erros intencionais”; notar se os outros continuam aceitando-o
Uso da seta descendente
Pode ser ampliada para uma segunda sessão se necessário (para pacientes
mais graves)
13 a 15 Exposições adicionais na sessão com planejamento cognitivo aprofundado
(criando exposições na sessão usando a Suds)
Planejamento de exposições in vivo
16 Avaliação do progresso, prevenção de recaídas (evitar a evitação)
Término sem exposição na sessão
20 Permite-se levar até 20 semanas para finalizar o tratamento
Pós- Avaliação de pós-tratamento
tratamento Planejamento para tratamento de outros problemas que não tenham sido
resolvidos, se necessário
As sessões de avaliação, pós-tratamento e feedback
não são contadas dentro das 16 sessões)8

9
A fase inicial, definida como “pré-tratamento”, propõe o uso de entrevista
clínica. O modelo pode ser baseado na conceitualização cognitiva ou numa que
abranja todas as áreas de vida do paciente. Na fase inicial também são utilizadas
escalas para complementar a avaliação diagnóstica, além do DSM-5. Algumas
dessas escalas estão padronizadas e validadas para o português, outras estão
publicadas apenas em inglês. Na fase de psicoeducação são utilizados materiais
sobre a ansiedade na fobia social, abordando como a ansiedade pode ser normal
ou problemática e como ela pode afetar os pensamentos (parte cognitiva), as
emoções (componentes fisiológicos) e os comportamentos (o que o paciente faz
“quando”). A fase seguinte (da 3ª à 6ª sessão) do protocolo tem como objetivo a
construção da hierarquia de situações de medo e evitação (Suds), como uma fase
de preparação para as exposições comportamentais de situações de ansiedade.
Nessa fase também são usadas as técnicas de reestruturação cognitiva,
estabelecendo para o paciente a relação de seus pensamentos com as
consequências dos comportamentos. A parte das exposições começa na fase
intermediária (7ª à 8ª sessão) e vai até o fim do processo, quando são
coordenados os trabalhos de reestruturação cognitiva (contestação das crenças,
pensamentos disfuncionais) e a exposição (miniexperimento), que permite, para
provocar ansiedade, ativar pensamentos automáticos e testá-los. As sessões
finais (16ª, ou até a 20ª) estão direcionadas à avaliação do progresso e à
prevenção de recaídas, ou seja, ensinar o paciente com ansiedade social a “evitar”
a evitação de situações provocadoras de ansiedade.

Dica
Se após a visão geral do tratamento da fobia social for necessário
aprofundar os conteúdos das sessões de tratamento passo a passo, sugiro
consultar os protocolos de tratamento nas bibliografias recomendadas.

4.2 Outras modalidades no tratamento na fobia social

Além da opção de tratamento individual para a fobia social, é possível o


tratamento na modalidade de grupo, pois os pacientes têm a oportunidade de viver
novas aprendizagens e ter apoio de outras pessoas com problemas semelhantes.
O paciente também tem disponibilidade de múltiplos parceiros para dramatização
das técnicas e exposição informal gerada pela participação em grupo, além de
várias pessoas para oferecer evidências que contrariem o pensamento distorcido

10
(Barlow, 2016). Há disponível também o protocolo de tratamento específico para
a modalidade de grupo.

4.3 O Treinamento de Habilidades Sociais (THS)

O Treinamento de Habilidades Sociais (THS) está descrito em vários


protocolos de tratamento da ansiedade social como um modelo de tratamento
para intervenções e modificação dos aspectos comportamentais. O THS visa
desenvolver habilidades que permitam um convívio social mais adaptativo,
diminuindo a ansiedade de desempenho e promovendo uma interação verbal
efetiva, pois a ansiedade de desempenho é uma das formas vivenciadas pelos
indivíduos acometidos pela fobia social. Os protocolos mais estudados foram
desenvolvidos por Vicente Caballo. Segundo Andretta e Oliveira (2011, p. 347),
os aspectos abordados no THS são:

psicoeducação, exposição gradual e sistemática imaginária e ao vivo,


[...] manutenção de conversações, atenção e capacidade de recordar as
intervenções verbais e mudanças de temas de conversação, o
estabelecimento e manutenção de amizades [...], habilidades assertivas
[...], estratégias para evitar que o público se distraia [...], elementos não
verbais, discussões e conversas informais, participação seminários,
jornadas ou congressos.

TEMA 5 – ESTUDO DE CASO

Neste tema, vamos abordar a reestruturação cognitiva e a exposição


comportamental, técnicas específicas usadas no tratamento da fobia social
(descritas no Quadro 4). Os exemplos a seguir foram retirados de um estudo de
caso7 sobre a combinação da reestruturação cognitiva com a exposição.

5.1 Exemplo de reestruração e exposição juntas

Seguem alguns dados do caso para contextualizar:

Josie, 22 anos [...], ansiedade significativa em relação à interação social


e a situações que envolvessem desempenho. [...] Josie se descreveu
como tímida e com problemas para se conectar com os outros. [...]
costumava recusar oportunidades de conviver com amigos em função
da ansiedade. Dizia não ter amigos íntimos [...] e que sua ansiedade
impedia que ela estabelecesse amizades próximas. (Barlow, 2016, p.
135)

7 Barlow (2006, p. 132-140).


11
Confira o que ocorreu com Josie e o que foi feito durante a sessão 9, que
tem como segmento a exposição em sessão com reestruturação cognitiva. Veja o
o contexto:

A exposição na sessão foi um seguimento da recente interação que


Josie havia tido com sua colega Anne, que lhe mencionou que algumas
pessoas da turma se encontrariam em um fim de semana para passear.
[...] Anne não ligou para Josie para fazer planos [...] nem Josie fez planos
de participar do evento e acabou perdendo. Josie pensou que Anne não
ligou porque pode ter interpretado os sintomas de ansiedade de Josie
(p. ex., timidez, silêncio, não olhar nos olhos) como uma falta de
interesse de socializar. (Barlow, 2016, p. 139)

Reestruturação:

Terapeuta: Certo. Então, identificamos alguns pensamentos


automáticos8 e você disse que eles lhe faziam se sentir triste e frustrada.
Então, nós os questionamos e geramos alguns pensamentos de
enfrentamento10. Como você se sente com esses pensamentos? Josie:
Melhor, me sinto muito melhor. Terapeuta: Como poderíamos sintetizar
isso numa resposta racional?[...] Josie: “dizer alguma coisa pode ter um
resultado positivo” me parece bom. [...]. Vai me ajudar a questionar o
pensamento de que vou me engasgar ou ficar sem ter o que dizer.
(Barlow, 2016, p. 139)

A exposição:

O próximo passo era estabelecer objetivos para a exposição. Josie


decidiu que seus objetivos viáveis para essa exposição seriam dizer à
Anne que estava interessada no último evento social, dizer-lhe que
estaria interessada em sair com ela algum dia e dar a Anne seu número
de telefone. “A exposição começa com Josie e a terapeuta levantando-
se para simular de forma mais real a interação que poderia acontecer
quando elas se encontrassem no corredor da escola”. Terapeuta: Josie,
qual é a sua classificação Suds9 inicial? Josie: uns 45. Terapeuta: certo,
qual é a sua resposta racional? Josie: dizer alguma coisa pode ter um
resultado positivo. Josie começa a conversar sobre a aula com a
terapeuta e em seguida mencionou o evento social que acabara de
acontecer. A terapeuta deixa que a exposição ocorra por mais 5
minutos [...] Josie deu classificações da Suds em intervalos de um
minuto e leu a sua resposta racional em voz alta. Após a exposição
terminar, começou o processamento posterior. (Barlow, 2016, p. 140,
grifo nosso)

O processamento seguinte à exposição tem como objetivo revisar quais


“objetivos da exposição e reestruturação cognitiva” foram alcançados. Por
exemplo: revisar a ocorrência de pensamentos automáticos; revisar o uso de

8Barlow (2016, p. 140). Pensamentos: “Não vou falar com ela, porque não tenho nada a dizer”; ”Eu
não devo dizer nada sobre ela me ligar, porque ficaria estranho”. Sentimentos: “Eu me sinto triste”;
“[...] também fico com um pouco de raiva e frustração [...]”. Pensamentos de enfrentamento:
“Vamos pensar em formas de transmitir a mensagem sem se sentir agressiva ou direta: perguntar
se podemos sair algum dia”; “Ela pode me pedir desculpas e perguntar se quero ir”; “Afinal, ela me
convidou antes de tudo, só não me chegou a ligar para confirmar, porque achava que eu não
queria ir”.
9
Suds: escala de hierarquia de medo e evitação (avaliação de 0 a 100%).
12
resposta(s) racional(is); discutir quaisquer pensamentos automáticos inesperados
ou novos. Aqui, paciente e terapeuta e/ou participantes da cena da exposição
reagem ao desempenho do paciente; outro objetivo é colocar em forma gráfica e
interpretar os padrões de classificação da Suds (escala de medo e evitação),
examinando as evidências relacionadas aos pensamentos automáticos e as
respostas emocionais do paciente. Num último momento, o paciente requantifica
a crença nos pensamentos automáticos, as respostas racionais e resume o que
foi aprendido com a exposição (Barlow, 2016).

5.2 Resumo dos conceitos

Vamos conferir o resumo dos principais conceitos com intuito de fixar os


temas centrais do modelo cognitivo comportamental do TAS:

 O tema central no TAS é o “medo de avaliação negativa”: o paciente, diante


de outras pessoas, teme que seu desempenho seja avaliado de forma
negativa. O medo ou ansiedade acentuados são experienciados em uma
ou mais dessas situações.
 O medo ou ansiedade sentidos pelo indivíduo só se tornam um TAS quando
o impedem de participar de atividades desejadas ou causam sofrimento
acentuado durante a sua realização.
 As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou
ansiedade. O medo, a ansiedade e a esquiva devem interferir
significativamente na rotina normal do indivíduo.
 O indivíduo que fica ansioso apenas não seria diagnosticado com TAS.
 Os prejuízos de ter ansiedade social devem causar sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras
áreas importantes da vida do sujeito.
 A timidez não deve ser considerada uma comorbidade.
 O modelo cognitivo-comportamental integrado para o TAS foi proposto por
Rapee e Heimberg em 1997, e propõe basicamente que os indivíduos com
transtorno social fazem um processamento de avaliação negativa das
situações.
 As crenças negativas sobre si mesmo, os outros e sobre as situações
sociais têm um papel ativo no TAS.

13
 A principal abordagem sugerida para o modelo de tratamento do TAS é a
integração da exposição e a reestruturação cognitiva.
 Modelos de treinamento de habilidades sociais e tratamento em grupo são
utilizados pela Terapia Cognitivo-Comportamental.

14
REFERÊNCIAS

ANDRETTA, I.; OLIVEIRA, M. DA S. (Org.). Manual prático de terapia cognitivo-


comportamental. São Paulo: Casa do psicólogo, 2011.

BARLOW, D. H. (Org.). Manual clínico dos transtornos psicológicos:


tratamento passo a passo. Tradução: Roberto Cataldo Costa. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2016.

CLARK, D. A.; BECK, A. T. Terapia cognitiva para os transtornos de


ansiedade: ciência e prática. Porto Alegre: Artmed, 2012.

DSM-5. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento et. al. Porto Alegre: Artmed,
2014.

HOPE, D. A.; HEIMBERG, R. G.; TURK, C. L. Terapia cognitivo-


comportamental para ansiedade social: guia do terapeuta. Tradução: Ronaldo
Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2012.

KANAPP, P. Terapia cognitivo-comportamental na pratica psiquiátrica. Porto


Alegre: Artmed, 2004.

SADOCK, B. J.; SADOCK, V. A. Compêndio de psiquiatria: ciência do


comportamento e psiquiatria clínica. Tradução: Marcelo de Abreu Almeida et al.
11. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

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