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Para dar a resposta a esta questão estará a referir-se a um padrão mais ou menos estável de
princípios e crenças que são seus, relacionados com sua maneira típica de pensar, sentir, e agir em
função dos mesmos. Este conjunto de características a que nos referimos denominamos estilo de
personalidade.
Os estilos de personalidade, por sua vez, podem ser vistos como um conjunto de traços que se
organizam de determinadas formas. Uma parte significativa do estudo da psicologia incide sobre a
forma como estes traços de personalidade e as situações diárias se influenciam.
Como simplificação absoluta vamos considerar que não existem determinados estilos de
personalidade (nem traços…) melhores que os outros, assumindo que cada um deles tem as suas
vantagens e desvantagens!
Assim, todos nós nos poderemos rever mais ou menos num estilo de personalidade… Será que eu
gosto de estar isolado das outras pessoas? Ou tenho medo que me rejeitem e por isso evito contactos
sociais? Sou muito indeciso e prefiro que outros escolham por mim? Ou acho que só as minhas
decisões é que contam?…. Todos os traços de personalidade se organizam para constituírem a nossa
estrutura ao longo da vida e nós vamos conseguindo ter as nossas relações íntimas, os nossos
estudos, os nossos trabalhos, as nossas conquistas.
Existe, naturalmente, uma dúvida que se impõe neste contexto: se todos temos estilos de
personalidade, então o que são perturbações de personalidade?
É importante perceber que uma pessoa pode apresentar traços de Personalidade Dependente, por
exemplo, mas isso não constituir uma perturbação de personalidade. Tal só acontece, quando esses
traços ocasionam que a mesma pessoa deixe de conseguir funcionar adequadamente, e sinta que é
tão desajustada que não consegue realizar nada comparando com o que os outros realizam.
Na comunidade clínica existe alguma controvérsia sobre o que é uma estrutura de personalidade
funcional ou disfuncional, mas a questão mais consensual resume-se ao conceito de flexibilidade
adaptativa.
No fundo, uma perturbação de personalidade pressupõe que os traços que a pessoa apresenta
tiveram boas razões para se irem estruturando ao longo da vida… mas, quando num dado momento
se exige que essa estrutura se adapte aos outros e ao mundo, ela não apresenta a flexibilidade
necessária para o fazer. Igualmente, a regulação da satisfação das necessidades psicológicas
constitui um ponto fulcral na organização da nossa personalidade. Se a nossa personalidade não nos
permite agir para uma eficaz regulação, então algumas necessidades começarão a ficar insatisfeitas.
Repare na necessidade que todos temos de estima… a verdade é que todos também temos
necessidade de crítica. Se não satisfizermos esta necessidade de crítica e a única satisfação obtida
for de estima, acaba por ser natural que nos comecemos a achar acima de tudo e todos!… Já ouviu
falar em personalidades narcísicas?
Posto isto, pedimos-lhe que se detenha alguns instantes sobre este pequeno teste de perturbações de
personalidade. Não constitui um instrumento clínico de diagnóstico, mas sim um instrumento que
lhe permita aferir sobre a possibilidade de ter uma potencial perturbação que possa estar a ter um
impacto negativo na sua vida.
Já sabe que a perturbação de personalidade se baseia num conjunto de traços que, combinados entre
si, estão a afectar negativamente a sua vida. Têm um largo conjunto de causas e algumas
perturbações têm tratamento mais fácil do que outras. Este teste diferencia dez tipos de Perturbação
de Personalidade: Paranóide, Esquizóide, Esquizotípica, Anti-Social, Estado-Limite, Histriónico,
Narcísico, Evitante, Dependente, Obsessivo-Compulsivo.
PERSONALIDADE PARANÓIDE
A existência de traços paranóides na sua personalidade indica que provavelmente a desconfiança e
suspeição face aos outros são características centrais que interferem no seu modo de pensar, sentir,
e naturalmente de agir. Por conseguinte, de forma persistente tende a interpretar as intenções e
ações dos outros como ameaçadoras, sendo difícil adoptar outras explicações alternativas para os
seus comportamentos.
Convidamo-lo(a), por isso, a ver por si mesmo se parte dos sinais descritos se assemelham à
experiência subjetiva vivenciada por si.
Sente-se constantemente vigilante. Confiar nos outros é uma tarefa muito difícil. Há que questionar
acerca dos motivos que levam os outros a aproximarem-se de si. Afinal, pode acreditar que as
pessoas sendo maldosas e enganadoras, atacarão se tiverem oportunidade, e nesse sentido, há que
estar sempre “de guarda”. Ao suspeitar com frequência que os outros o(a) exploram, prejudicam e
enganam, esquecer ou aceitar de ânimo leve uma traição é particularmente raro.
Curiosamente, fica tão espantado com demonstrações de lealdade por parte dos familiares, amigos e
conhecidos que não consegue confiar e acreditar nesses. Tenderá assim a preocupar-se com dúvidas
injustificadas quanto à lealdade e confiança nas outras pessoas, cujas ações são cuidadosamente
averiguadas para desvendar intenções de hostilidade. Isto porque confiar nos outros é tão difícil…
mesmo até naquelas pessoas mais chegadas.
À primeira vista esta desconfiança sentida pode confundir-se com a tendência ao isolamento. Ao
sentir-se desconfortável com a proximidade, por recear que o envolvimento e abertura emocional
das relações íntimas aumentem a sua vulnerabilidade, geralmente será reservado(a) e defensivo(a)
ao interagir com as outras pessoas. Tenderá a estar constantemente disposto(a) de forma defensiva
ao contra-ataque, sendo dificilmente capaz de reconhecer alguma hostilidade ou agressividade no
seu comportamento. Talvez nem acredite que é suficientemente capaz para lidar eficazmente com
os problemas ou perceber os esquemas alheios. Assim, face a pequenos deslizes, provavelmente
reage muito intensamente ao sentir-se maltratado(a), atacado(a) ou enganado(a). Uma vez que
acredita que foi maltratado(a) e o será igualmente no futuro, provavelmente agirá no mesmo modo –
hostil, enganador e maldoso – que espera que as outras pessoas atuem.
Se está constantemente vigilante para potenciais sinais de perigo, nomeadamente aqueles que se
relacionam com as outras pessoas, age cautelosa e intencionalmente, evitando descuidos e riscos
desnecessários. Mostrar qualquer fraqueza, é como pedir para ser atacado. Sente a necessidade de
esconder cuidadosamente as suas inseguranças, dificuldades e problemas por meio de enganos,
negação, desculpas ou responsabilizando os outros. Por isso, tem tanta dificuldade em falar da sua
vida, raramente revelando os seus problemas e nunca exprimindo os seus desejos mais íntimos.
Privilegia o mundo cognitivo e intelectual em prejuízo do mundo das emoções. É um verdadeiro
desafio reconhecer a presença de emoções e permitir a exploração dessas. Por outras palavras,
manifesta uma certa resistência em confidenciar ou se aproximar dos outros, porque teme que a
informação partilhada possa ser usada para o(a) prejudicar. Deste modo, o estabelecimento de
relações próximas ou de maior intimidade é algo especialmente difícil.
Por um lado, é possível que se confunda as manifestações de traços evitantes e traços paranóides na
personalidade. Certamente, em qualquer um dos casos, a pessoa tem medo de ser magoado(a) e é
desconfiado(a) como consequência disso. Ainda assim, o medo é uma emoção reconhecida e
consciente no primeiro, e inconsciente no segundo. Face a uma ameaça, alguém tendencialmente
mais evitante foge, enquanto alguém mais próximo de um quadro paranóide defende-se atacando.
Em última análise, a pessoa com traços paranóides tendencialmente desconfia, suspeita, é sensível à
crítica, argumenta e pode ser teimosa. Necessita de ser auto -suficiente e independente, assim como
exercer controlo sobre o ambiente. Retrata-se como alguém sensível, ciumento, que se ofende e se
irrita com facilidade. Talvez se sinta ainda como “vítima da injustiça”, crente de que a sua
percepção pessoal tem significado especial, levando sempre a sério tudo o que acontece e que é dito
ou feito.
A personalidade com traços paranóides encontra-se em cerca de 0,5 a 2,5 % da população em geral,
sendo mais frequente nos homens do que nas mulheres. Há alguma evidência para um aumento da
sua prevalência em familiares de pessoas com esquizofrenia crónica ou perturbação delirante.
Outros teóricos comentam que a pessoa poderá tender a atribuir aos outros o que existe
verdadeiramente em si, de modo a experienciar menos sofrimento, o qual seria resultado de adoptar
uma visão mais realista das suas fragilidades e conflitos internos. Além disso, questiona-se que os
traços tipicamente paranóides constituam um conjunto de estratégias que visam minimizar ou
impedir a vergonha e humilhação. Talvez a pessoa se sinta inadequada, imperfeita e insuficiente.
Compreensivelmente, é demasiado intolerável aceitar, tolerar e conseguir gerir tais emoções e
crenças. Assim, a pessoa procura evitar a culpa e consequentes sentimentos de vergonha e
humilhação ao culpabilizar as outras pessoas pelos acontecimentos, afirmando ser maltratado(a).
Face a este padrão de comportamentos, emoções e cognições, é provável que dê por si a reconhecer
pelo menos alguns destes sinais em si próprio, ou até mesmo em alguém que lhe é muito querido.
Se assim for, é possível, com ajuda especializada, cuidar da forma mais adequada destes
comportamentos que tanto sofrimento lhe podem estar a causar, ou ter vindo a causar ao longo da
sua vida. A psicoterapia pode ser uma fonte de ajuda particularmente enriquecedora e útil.
Ainda assim, reconhecemos que face a estas características pode apresentar dificuldade em solicitar
voluntariamente ajuda terapêutica. Inicialmente provavelmente manifestará pouca confiança e terá
tendência a interpretar o mínimo gesto do terapeuta como uma manobra estratégica. Com o decorrer
do processo terapêutico e o estabelecimento da relação terapêutica, será capaz de relaxar e
lentamente aprender a confiar na relação apoiante, securizante e transparente construída.
Como intervir?
O acompanhamento individual é a melhor forma de criarmos um espaço em que se possa sentir
seguro, compreendido e ajudado na procura de um maior alívio para as suas dificuldades. Tudo isto
para que possa adquirir maiores graus de liberdade e bem-estar na sua vida ao mesmo tempo que
aprende a gerir, reduzir ou estabilizar as suas vulnerabilidades e fragilidades. Nesse espaço,
pretende-se:
Este é um trabalho prático, que poderá nalguns momentos envolver familiares e amigos se isso for
vantajoso. Os objectivos enunciados são apenas orientadores, dado que todo o processo de ajuda é
centrado em si, nas suas características e na sua forma de ver o mundo e pretende-se que tenha
impacto não só no seu presente, como também no seu futuro.
PERSONALIDADE ESQUIZÓIDE
A Perturbação da Personalidade Esquizóide expressa-se, essencialmente, por três características:
O termo “esquizóide” foi criado por Eugen Bleuer, no início do século XX, para definir uma
tendência da pessoa para dirigir a sua atenção para o mundo interior, fechando-se ao exterior.
Os indivíduos com esta perturbação parecem não ter um desejo de intimidade, preferindo passar o
tempo sozinhos em detrimento de estar com outras pessoas (mesmo no contexto familiar). As
actividades escolhidas são predominantemente solitárias. Mesmo quando se tratam de momentos
com outras pessoas, a interacção é diminuta.
Deste modo, identifica-se uma preferência por tarefas mecânicas ou abstractas, assim como uma
satisfação reduzida em experiências sensoriais.
Esta perturbação da personalidade pode aparecer pela primeira vez na infância ou adolescência sob
a forma de solidão, fraco relacionamento com os pares e baixo rendimento escolar, podendo criar
situações em que estas crianças e adolescentes sejam vistas como diferentes e como alvos de
bullying.
A Perturbação da Personalidade Esquizóide é diagnosticada com uma frequência levemente
superior em sujeitos do sexo masculino. Pode, ainda, ter uma prevalência maior entre os parentes de
indivíduos com Esquizofrenia ou Perturbação da Personalidade Esquizotípica.
Sugestões Terapêuticas
Como a psicoterapia tem uma forte natureza interpessoal, as pessoas com perturbação da
personalidade esquizóide terão algumas dificuldades em se “encaixar” na colaboração e relação
terapêutica.
A psicoterapia trará sentimentos ambíguos, havendo o receio por parte do cliente que a mesma o
faça descobrir mais falhas na sua personalidade e aumentar o seu sentido de ser desadequado.
Com validação por parte do terapeuta, será importante o foco da atenção na idiossincrasia do
problema, isto é, naquilo que preocupa o cliente num determinado tema. Será relevante clarificá-lo,
evitando o desfasamento com as expectativas do terapeuta.
Será difícil para o terapeuta, por exemplo, aceitar objectivos terapêuticos que não incluam
integração social e que não vão de encontro com estas crenças.
Por exemplo, quanto à temática de “não ter amigos”, o terapeuta poderá considerar que seria
importante para o cliente ter um amigo ou dois, quando para este o importante, neste tema, poderia
ser que a família não estivesse sempre a dizer-lhe que deveria ter amigos.
Trabalhar com clientes cujas crenças e percepções contrastam significativamente com o terapeuta
poderá trazer dificuldades. O cliente poderá ter crenças como: “as pessoas são cruéis”; “as pessoas
são frias”; “as pessoas apenas deverão falar se houver alguma coisa para falar”.
1. não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família
2. quase sempre opta por actividades solitárias
3. manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa
4. tem prazer em poucas actividades, ou em nenhuma
5. não tem amigos íntimos ou confidentes, sem ser parentes em primeiro grau
6. mostra-se indiferente a elogios ou críticas dos outros
7. demonstra frieza emocional, distanciamento ou afectividade embotada.
Os outros são vistos como uma ameaça. Os outros são olhados com desconfiança e afastamento.
Muitas vezes sofre de ideias paranóicas ligadas à perseguição, ou seja, sente que os outros o querem
perseguir e que estão envolvidos em esquemas e teias para lhe fazer mal.
Esta desconfiança leva a que desenvolva relações de amizade muito superficiais, sem laços
emocionais. Tenderá a ser muito solitário, preferirá objectos a pessoas e, geralmente apenas terá
relações com a família nuclear.
Quem apresenta estes traços sente que não tem necessidade de relacionamento com os outros, em
interacções sociais geralmente é discreto, apagado, algo apático, distante, desligado, funcionando
mais como observador passivo. Este desligamento exterior é totalmente diferente da ansiedade que
vive interiormente perante situações sociais. Ansiedade essa que não diminui mesmo com o
desenvolvimento de relações de maior proximidade.
Apresenta portanto muita dificuldade no relacionamento social, que naturalmente lhe provoca
sofrimento e mal estar.
A sua apatia leva quase a pensar que não tem emoções, uma vez que não manifesta flutuações
emocionais, quer as coisas corram bem ou mal.
Resumindo: Divisão é mesmo a palavra chave para compreender a Esquizotipia. Divisão entre si,
que se vê como diferente, e os outros vistos como ameaçadores e alvos permanentes de
desconfiança.
Para arrumar melhor as ideias segue-se um quadro resumo com os principais traços de uma
personalidade esquizotípica:
Qual a evolução?
Raramente dá-se uma evolução para quadros de esquizofrenia ou psicose.
Infelizmente existe pouca investigação sobre o que poderá estar na base deste tipo de perturbação.
De qualquer modo, existem alguns estudos que apontam para a causa estar relacionada com
problemas na relação primária, ou seja na relação entre o sujeito esquizotípico e os cuidadores
primários, que geralmente são os pais.
Estes pais são negligentes em relação ao cuidado e promovem vinculações inseguras. A pessoa
esquizotípica não sente segurança nem conforto na relação com os pais e começa a desenvolver
estados de ansiedade.
Pode apresentar abuso físico ou sexual, o que o pode levar a ver-se como mau, indigno de amor e de
cuidado e a desenvolver ideias persecutórias. Como defesa utiliza pensamentos mágicos, suspeitas e
ideias de referência ou alucinações visuais ou auditivas. Geralmente usa estratégias de
hipervigilância e desconfiança contínua.
Por norma, enquanto criança foi mais desinteressado, passivo e hipersensível à crítica.
É comum existirem quadros de bullying e rejeição por parte dos outros.
Portanto, na origem estará uma relação aversiva, negativa com o outro, seja os pais, ou mais tarde
os colegas de escola. A relação aversiva leva ao desenvolvimento de uma desconfiança continua,
traço característico desta perturbação.
Intervenção
Geralmente, se apresentar estes traços procurará a psicoterapia com queixas ligadas à ansiedade
social ou a episódios depressivos.
PERSONALIDADE ANTI-SOCIAL
Ao falarmos de Perturbação Anti-social da Personalidade, para a maioria das pessoas, estamos a
falar de uma condição médica, de foro psíquico, que não vai além de uma designação clínica que
lhes é pouco familiar. Talvez, para muitos, os termos Psicopatia ou Sociopatia sejam mais comuns,
devido à sua ampla utilização e divulgação a nível literário e cinematográfico, mas assumem-se
igualmente distantes quanto ao seu significado real.
Nesse sentido, procurámos reunir toda a informação que dispomos sobre a Perturbação Anti-social
da Personalidade e partilhá-la consigo.
Este tipo de Personalidade, tal como o próprio nome indica, caracteriza-se por um padrão de
comportamento anti-social, de desrespeito e desconsideração pelas regras sociais e pelos direitos
dos outros, bem como pela sua transgressão. E embora tal descrição nos possa levar a pensar que
estamos perante pessoas com capacidades sociais deficitárias, verificamos frequentemente que tal
não acontece, estando antes estas capacidades orientadas para a satisfação pessoal.
Desta forma, as estratégias de manipulação tendem a ser frequentemente utilizadas e têm como
principal objectivo a obtenção de benefício próprio e prazer, mesmo que para isso os direitos dos
outros não sejam tidos em conta. No que respeita ao estabelecimento de relações afectivas ou
sociais, têm grandes dificuldades, e mesmo que o desejem, são incapazes de estabelecer ligações
profundas e estáveis com os outros.
Normalmente são pessoas muito centradas em si, com uma grande incapacidade de atender aos
sentimentos dos outros ou de entender a sua perspectiva, relacionando-se esta postura com a
ausência de sentimentos de culpa. E isto, em conjunção com a necessidade de satisfação pessoal
imediata que possuem, pode leva-los a reagirem de forma impulsiva e muitas vezes violenta às
situações que não vão ao encontro do que desejam. E assim, sem atenderem às possíveis
consequências negativas dos seus actos, podem mesmo pôr a sua vida em risco, bem como a dos
outros.
A desconsideração, o desrespeito e a violação das regras sociais e dos direitos dos outros tende a ter
as suas primeiras manifestações ainda na infância ou início da adolescência e a persistir na idade
adulta. E esse desrespeito pelas regras e pelas leis sociais pode ir ao ponto de originar
comportamentos agressivos e criminosos como roubos, destruição de bens ou outras actividades
ilegais. Adicionalmente, se estão também presentes problemas de abuso de álcool ou drogas,
verifica-se um acentuar destes comportamentos.
- Manipulação;
- Impulsividade;
O caso do Rui
O Rui tem 30 anos e queixa-se de ter uma vida instável. Está permanentemente a mudar de casa e
de emprego, e não consegue manter qualquer tipo de relacionamento, seja ele familiar, de amizade
ou profissional. É educado e sabe como actuar nos vários contextos sociais, mas fá-lo apenas
tentando atingir os seus objectivos. Sempre que algo lhe é negado não se inibe de reagir contra
alguém, chegando mesmo a ser violento, ainda que saiba que não o deveria fazer, uma vez que esses
actos são condenados socialmente. No entanto, não se contém e nem sente grandes remorsos
quando vê que magoou alguém, seja ele um estranho ou um amigo.
Está por isso convidado a continuar atento e a perceber por si mesmo se os exemplos partilhados se
aproximam da experiência subjetiva vivenciada nos últimos tempos.
Se por um lado talvez se sinta frágil e vulnerável, por outro lado, talvez creia que o mundo parece
ser um local mau, perigoso e as pessoas não são de confiança. Por vezes, chega mesmo a questionar
a utilidade de confiar em si próprio(a), em atender ao que sente que precisa ou quer e em que é
capaz de cuidar sozinho(a) de si.
As relações estabelecidas com os outros, apesar de muito intensas, poderão ser particularmente
instáveis, marcadas por desapontamentos. Poderá criar, com as pessoas de quem se aproxima, laços
de uma dependência muito forte, pois deseja ser cuidado(a), amado(a) e confiar nesses. A pessoa a
quem se liga torna-se uma figura sem defeitos, que se reveste de uma grande importância, que se
torna o seu apoio emocional. Esta relação de dependência dará origem a uma necessidade de
atenção e cuidado permanente, a qual é particularmente intensa. Porém, receia paralelamente essa
dependência, teme confiar nessa pessoa que tanto ama, pois sente um medo terrível de ser
abandonado(a). Tudo isto porque é particularmente doloroso e difícil lidar com a perda ou
abandono de pessoas significativas (por exemplo, término de relação amorosa, morte, ausência
temporária de pessoa importante). Assim, quando sente que há um afastamento, por mais pequeno
que seja, este amor transforma-se numa zanga profunda, em ressentimento.
Encontra-se bastante sensível a qualquer comportamento que possa ser percebido como rejeitante:
um atraso a um encontro, um esquecimento de telefonar, uma desmarcação ou até uma ausência por
doença ou férias de uma pessoa importante, mudando rapidamente de opinião acerca daqueles que
ama. Como se em determinados momentos essas pessoas significativas pudessem ser vistas como
sensíveis, cuidadores e protetoras, merecendo ser intensamente amadas, mas noutros momentos, o
fizessem sentir negligenciado e traído, o que desperta em si um ódio ou zanga profunda. Isso é
compreensível pois, provavelmente, antecipa que a tão indesejável e insuportável rejeição se venha
a concretizar. Há por isso que evitá-la a todo o custo. Nesses momentos, podem surgir explosões de
raiva e violência difíceis de controlar, com exigência de melhor cuidado e dedicação que o outro
sente como exagerado e raramente compreende, ao mesmo tempo que expressa uma intensa
frustração.
Manter um estado de humor estável é particularmente difícil. É frequente que, de forma repentina e
sem explicação, dê por si a sentir-se angustiado(a), irritado(a) ou apático e noutros momentos cheio
de energia e eufórico.
As relações com o sexo oposto podem ser provavelmente numerosas e breves. Deseja
incessantemente relações românticas significativas e próximas. Quando deixado(a) sozinho(a),
sente um vazio profundo e uma solidão intolerável. Provavelmente, será difícil para si encontrar
estabilidade interior, pois parece sentir tédio sempre que a sua vida encontra maior serenidade ou
tranquilidade. Numa procura incessante de emoções e agitação, talvez de uma forma impulsiva se
envolva em consumos excessivos de substâncias, atividade sexual arriscada e com múltiplos
parceiros, condução imprudente, ou até gastos financeiros excessivos.
Em certos momentos poderá sentir culpa, vivenciando episódios de ansiedade e depressão, o que
talvez leve a que se envolva noutro tipo de comportamentos auto – destrutivos. Incapaz de lidar
com a dor sentida na sequência de situações que percepciona como formas de abandono, rejeição ou
de retirada de investimento emocional, debaixo de um profundo desespero, poderá apresentar gestos
de violência direcionada contra si próprio(a). Esses comportamentos podem envolver a auto –
mutilação do seu corpo, por corte ou queimadura, e, em casos limite, tentativas de suicídio.
A sua identidade, a imagem ou sentimento que possui de si próprio(a), parece ser marcada por uma
instabilidade e indefinição persistente. Talvez por momentos não saiba quem é, deseje ser diferente
de quem é, ou não queira estar como e onde está. Os seus objectivos de vida e valores são
frequentemente variáveis, o que pode por exemplo conduzir a alterações repetidas nas preferências
vocacionais ou até no emprego.
Durante períodos de stress, esta desagregação interna e externa sentida torna mais propícia uma
alteração plena e realista da consciência no aqui e agora. Talvez tenha a sensação de que, por
momentos, é um simplesmente um observador que assiste do exterior aos eventos e acontecimentos
da sua própria vida.
O ambiente no qual a criança cresceu, a forma como se relacionou e foi cuidada pelas suas figuras
significativas, vai em parte modelar a forma como o futuro adulto pensa acerca de si, do mundo e
acerca dos outros, bem como as estratégias adoptadas para lidar com as adversidades e regular de
uma forma satisfatória as suas necessidades psicológicas vitais. De certa forma, quando somos
pequenos, aprendemos quem somos, quem são os outros e o que é o mundo, a partir daquilo que o
mundo nos mostra e como somos cuidados.
Parece haver consenso de que histórias de vida marcadas por uma grande confusão e instabilidade,
especialmente se houver presença de violência sexual por parte de membros da família. O ambiente
familiar, provavelmente, terá sido marcado pela alternância entre carinho e manifestações de afecto
e momentos de violência e abandono. Poderá ter sido negligente ou promotor de abusos emocionais
e verbais. Esta instabilidade externa, esta confusão e ambivalência não permitem que a criança dê
sentido ao mundo, o que leva a que possa ter mais dificuldade em criar um mundo interior estável.
Outra característica presente é a dificuldade em regular de uma forma funcional as suas emoções,
que embora associada a predisposições biológicas, poderá também ser exacerbada por um ambiente
familiar invalidante, em que a sua vivência emocional era ignorada, punida ou inaceitável. Isto é,
talvez desde bem pequenino(a) tenha aprendido a desvalorizar, evitar ou inibir as suas emoções,
interesses e necessidades, pois aprendeu que esses frequentemente não eram atendidos, cuidados e
valorizados por parte daqueles de quem esperava cuidado, proteção e amor incondicional.
Poderemos falar de famílias com ambiente caótico – em que existem problemas relacionados com o
abuso de substâncias, problemas financeiros ou pais pouco presentes, em que pouco tempo e
atenção é dada à criança. Também famílias perfeccionistas – em que os pais devido a inúmeros
factores não conseguem tolerar a reação emocional negativa (por exemplo, tristeza, zanga) por parte
dos seus filhos. Ou até em ambientes típicos das sociedades modernas – em que é dada uma ênfase
exagerada e rígida no controlo de emoções, foco na realização e mestria como critério de sucesso.
Por isso, agora enquanto adulto, é particularmente difícil reconhecer, expressar e regular as
emoções sentidas, validar e “dar colo” às suas necessidades de uma forma satisfatória, tolerante e
aceitante.
Face a este padrão de comportamentos, emoções e cognições, é provável que dê por si a reconhecer
pelo menos alguns destes sinais em si próprio, ou até mesmo em alguém que lhe é muito querido.
Se assim for, procure ajuda quanto antes. É possível, com ajuda especializada, cuidar da forma mais
adequada destas fragilidades que tanto sofrimento lhe podem estar a causar ou ter vindo a causar ao
longo da sua vida. A psicoterapia pode ser uma fonte de ajuda particularmente enriquecedora e útil.
Como intervir?
O acompanhamento individual é a melhor forma de criarmos um espaço em que se possa sentir
seguro, compreendido e ajudado na procura de um maior alívio para as suas dificuldades. Tudo isto
para que possa adquirir maiores graus de liberdade e bem-estar na sua vida ao mesmo tempo que
aprende a gerir, reduzir ou estabilizar as suas vulnerabilidades e fragilidades. Nesse espaço,
pretende-se:
Este é um trabalho prático, que poderá nalguns momentos envolver familiares e amigos se isso for
vantajoso. Os objectivos enunciados são apenas orientadores, dado que todo o processo de ajuda é
centrado em si, nas suas características e na sua forma de ver o mundo e pretende-se que tenha
impacto não só no seu presente, como também no seu futuro.
No começo do século XX este distúrbio era conhecido por histeria e especialmente identificado
entre a população feminina. Contudo, actualmente é reconhecida a sua prevalência quer em homens
como em mulheres, e ambos partilham a necessidade de atenção e o protesto excessivo quando não
se sentem o centro das atenções. Indivíduos com este distúrbio são ingénuos, crédulos, têm um
baixo limiar de frustração, e forte dependência emocional.
O seu estilo cognitivo pode ser definido como superficial carecendo de detalhes. Nas suas relações
interpessoais, estes indivíduos usam a dramatização com o objectivo de impressionar os outros. O
padrão persistente dos seus relacionamentos é marcado pela falta de sinceridade e intempestividade
levando a um comprometimento das suas competências social e ocupacional.
Causas
Embora as causas para esta perturbação não serem completamente conhecidas, acredita-se poder ser
consequência de factores biológicos, de desenvolvimento cognitivo e social.
Nas causas fisiológicas, estudos mostram que pacientes com PHP tem alta capacidade de resposta
dos sistemas noradrenérgico, os mecanismos envolvendo a libertação da noradrenalina.
A tendência para uma reacção excessivamente emocional à rejeição, comum entre estes pacientes,
pode ser atribuída a um defeito num grupo de neurotransmissores chamados catecolaminas.
(Noradrenalina pertence a este grupo de neurotransmissores).
Do ponto de vista do desenvolvimento a Teoria Psicanalítica, desenvolvida por Freud, foi a que
apresentou um dos corpos teóricos mais desenvolvidos baseado nas fases psicossexuais de
desenvolvimento pelo qual passa cada indivíduo. Estes estágios determinam o desenvolvimento
psicológico posterior de um indivíduo, como um adulto. Inicialmente os psicanalistas propuseram
que a fase genital, quinta etapa ou a última do desenvolvimento psicossexual, como um
determinante da PHP. Mais tarde, consideraram a fase oral, primeira etapa de Freud do
desenvolvimento psicossexual, como o determinante mais importante da PHP. A maioria dos
psicanalistas concordam que uma infância traumática, contribui para o desenvolvimento de tais
distúrbios Alguns teóricos sugerem que as formas mais graves de PHP podem derivar da reprovação
sistemática na relação precoce mãe-criança .
A repressão é o mecanismo de defesa mais básico. Quando os pensamentos dos pacientes produzem
ansiedade ou são inaceitáveis para eles, usam a repressão para impedir os pensamentos inaceitáveis
ou impulsos da aparecer à consciência.
Pacientes que usam a negação podem dizer que um problema anterior já não existe, sugerindo que a
sua competência tem vindo a aumentar, no entanto, os outros podem notar que não há nenhuma
mudança no comportamento dos pacientes.
Quando os pacientes com PHP usam o mecanismo de defesa de dissociação, podem apresentar duas
ou mais personalidades. Essas duas ou mais personalidades coexistem num indivíduo sem
integração. Pacientes com casos menos graves de PHP tendem a empregar o deslocamento e a
racionalização como defesa.
O deslocamento ocorre quando o paciente muda um efeito de uma ideia para outra. Por exemplo,
um homem com PHP pode sentir raiva no trabalho porque o patrão não o considera o centro das
atenções. O paciente pode deslocar sua raiva para a sua esposa em vez de ficar com raiva do seu
chefe.
O diagnóstico da PHP é complicado porque pode parecer-se como muitas outras doenças, e porque
normalmente ocorre em simultâneo com outros transtornos de personalidade.
O inicio dos sintomas começa na idade adulta. Podem durar uma vida, mas podem diminuir ou
alterar a sua forma com a idade.
1. O centro das atenções: Pacientes com PHP experimentam desconforto quando não são o centro
das atenções.
2. Sexualmente sedutores: Pacientes com PHP apresentam comportamentos sexualmente
inadequados provocantes ou sedutores para com os outros.
3. Emoções inconstantes: A expressão das emoções de pacientes com PHP tende a ser superficial e a
mudar rapidamente.
4. A aparência física: Indivíduos com PHP consistentemente empregam a aparência física para chamar
a atenção sobre si próprios.
5. Estilo do Discurso : O estilo de discurso destes pacientes é pobre em detalhes. Indivíduos com PHP
tendem a generalizar, e quando estas pessoas falam, procuram agradar e impressionar.
6. Comportamentos Dramáticos: Pacientes com PHP usam a auto dramatização e exageram suas
emoções.
7. Sugestibilidade: São facilmente influenciáveis por outras pessoas ou circunstâncias .
8. A sobrevalorização da intimidade: Pacientes com PHP sobrevalorizam o nível de intimidade num
relacionamento.
Tratamentos
Para a Terapia Psicodinâmica a PHP, como outros transtornos de personalidade, pode exigir vários
anos de terapia e pode acompanhar os indivíduos ao longo da sua vida. Alguns profissionais
acreditam que a terapia psicanalítica é um tratamento de escolha para PHP pois auxilia o paciente a
tomar consciência dos seus próprios sentimentos. A terapia psicodinâmica de longo prazo visa os
conflitos latentes dos indivíduos e pretende ajudar os pacientes a diminuir sua reactividade
emocional. Os terapeutas trabalham com material de sonhos temáticos relacionados com a
intimidade e memórias.
A terapia familiar serve para treinar a afirmação ao invés do evitamento de conflitos. Os terapeutas
familiares precisam ajudas as pessoas com PHP a falar directamente com outros membros da
família. A terapia familiar pode apoiar os membros da família para atender às suas próprias
necessidades sem compactuar com o comportamento histriónico do indivíduo com PHP que usa a
crise dramática para manter a família estreitamente ligada.
A Farmacoterapia não é um tratamento de escolha para os indivíduos com PHP a menos que este
ocorra em simultâneo com outra perturbação. Por exemplo, se PHP ocorre com a depressão, os
antidepressivos podem ser prescritos.
Prognóstico
As características de personalidade dos indivíduos com PHP são de longa duração. As pessoas com
este distúrbio utilizam os serviços médicos com frequência, mas geralmente não permanecem em
tratamento psicoterapêutico tempo suficiente para produzir alterações.
PERSONALIDADE NARCÍSICA
O termo narcisismo tem as suas origens no clássico mito grego de Narciso, um jovem belo,
confinado pelos deuses a nunca se conhecer a si mesmo e condenado a um amor impossível de
consumar. Despertava o amor das jovens gregas e das ninfas, mas era arrogante e desprezava-as,
tratando-as com indiferença. Um dia, Narciso aproximou-se de um lago e apaixonou-se pela sua
própria imagem ao vê-la reflectida na água, lançando-se ao lago para se unir aquele por quem se
apaixonara – ele próprio.
Daqui surge o termo de “personalidade narcísica”, a qual tentaremos explicar de acordo com o
ponto de vista de um leitor com esta personalidade.
Provavelmente sente, muitas vezes, que as pessoas que o(a) rodeiam têm vários defeitos. Parece que
na maioria das vezes, essas não estão comparativamente à sua altura. Como se não compreendessem
as suas qualidades, fossem incapazes de as reconhecer e validar de acordo com aquele que acredita
ser o seu verdadeiro valor. Tendencialmente sente que só as pessoas de elevado estatuto, valor e
importância é que conseguem estar ao seu nível, sendo naturalmente a essas que procura recorrer.
Sentir que não é suficientemente reconhecido pela maioria das pessoas é realmente intolerável. Por
isso, tenta ainda mais explicitamente demonstrar ou tornar claro aos outros aquele que acredita ser o
seu real valor. Procura sistematicamente que as pessoas o reconheçam, apreciem e valorizem. Ao
mesmo tempo, é como se a sua auto-estima fosse muito frágil, o que faz com que tenha medo que
os outros o(a) avaliem de forma negativa. E por vezes este medo é tão grande, que mesmo antes que
eles o(a) possam rejeitar, torna-se imperativo desvalorizá-los.
Parece surgir um padrão de relações instável, uma vez que torna-se impossível manter relações
estáveis e seguras com as pessoas que o(a) rodeiam já que estas parecem nunca o(a) compreender
ou valorizar como desejaria. Há um desejo de ser o centro das atenções, mas as pessoas com quem
interage acusam-no constantemente de se gabar e de ser pretensioso(a). Ao ouvir isto pode sentir o
despertar de uma grande fúria.
As suas relações amorosas também parecem falhar sucessivamente e provavelmente sente que a
maior parte das pessoas acabou por se afastar de si. Se por um lado não compreende o porquê disso
acontecer, por outro lado não atribui muita importância a esses afastamentos. Como se existisse um
lado de si com medo de continuar a ser desvalorizado pelas pessoas que o rodeiam e por isso
também não precisasse delas por perto.
Uma vez que existe a expectativa de que os outros não irão gostar de si, então exige muito desses ao
mesmo tempo que dá-lhes pouco de si, não os deixando aproximar-se em demasia. É como se
existisse um lado seu que procurasse intimidade nas relações com os outros, e outro lado que se
sentisse extremamente inconfortável quando esta intimidade se gera. Afinal, acredita que se a outra
pessoa descobrisse uma falha sua, poderia rejeitá-lo(a) e humilhá-lo(a). Porém, se isto
eventualmente acontecesse, rapidamente encontraria uma forma de evitar isso, demonstrando a
forma como acredita ser superior a essa pessoa.
(1) sentimento grandioso da própria importância (por ex., exagera realizações e talentos, espera ser
reconhecido como superior sem realizações comensuráveis);
(2) preocupação com fantasias de ilimitado sucesso, poder, inteligência, beleza ou amor ideal;
(3) crença de ser “especial” e único e de que somente pode ser compreendido ou deve associar-se a
outras pessoas (ou instituições) especiais ou de condição elevada;
(4) exigência de admiração excessiva;
(5) sentimento de intitulação, ou seja, possui expectativas irracionais de receber um tratamento
especialmente favorável ou obediência automática às suas expectativas;
(6) é explorador em relacionamentos interpessoais, isto é, tira vantagem de outros para atingir seus
próprios objetivos;
(7) ausência de empatia: relutante em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e
necessidades alheias;
(8) frequentemente sente inveja de outras pessoas ou acredita ser alvo da inveja alheia;
(9) comportamentos e atitudes arrogantes e insolentes.
Face a este padrão de comportamentos, emoções e cognições, é provável que dê por si a reconhecer
pelo menos alguns destes sinais em si próprio, ou até mesmo em alguém que lhe é muito querido.
Se assim for, a Oficina de Psicologia dispõe de profissionais que o poderão ajudar. A psicoterapia
pode ser uma fonte de ajuda e desenvolvimento pessoal particularmente enriquecedora e útil.
Como intervir?
O acompanhamento individual é a melhor forma de criarmos um espaço em que se possa sentir
seguro, compreendido e ajudado. Neste espaço, pretende-se:
• Criar um clima de segurança em que se sinta compreendido e cuidado;
• Aumentar a tendência para agir com sucesso, estabelecendo objectivos alcançáveis;
• Compreender a ligação entre forma como age e a forma como isso o torna mais vulnerável à
crítica dos outros;
• Diminuir as interacções potencialmente arrogantes para com os outros;
• Ajudá-lo a lidar com imperfeições e as suas vulnerabilidades;
• Aumentar a consciência das suas emoções e auto-controlo;
• Diminuir possíveis explosões de fúria;
• Melhorar as relações com os outros.
Este é um trabalho prático e os objectivos enunciados são apenas orientadores, dado que todo o
processo de ajuda é centrado em si, nas suas características e na sua forma de ver o mundo e
pretende-se que tenha impacto não só no seu presente, como também no seu futuro.
PERSONALIDADE EVITANTE
Já imaginou como seria sentir-se permanentemente inibido quando está com outras pessoas? Como
seria difícil sentir que não se consegue integrar, porque não é como os outros? E se, para além do
referido, sentisse cada pequeno comentário negativo como uma grande ofensa, que confirma cada
vez mais a sua postura de afastamento em relação ao contacto com os outros?
Isto é o que sente na pele quem sofre de Perturbação Evitante da Personalidade. Ocorre-lhe alguém
que conheça? O que está a ler encaixa com o que sente e para o qual nunca encontrou explicação?
Espero que a seguinte descrição o possa ajudar a compreender melhor esta perturbação e, porque
não, o motive a procurar ajuda, no sentido de obter uma maior qualidade de vida. Afinal, sofrer em
silêncio não só agrava a situação, como em nada contribui para uma evolução positiva.
Apesar de ter inicio na idade adulta, alguns autores defendem que, já na infância, é possível
encontrarmos alguns padrões de comportamento que podem ser indicadores do desenvolvimento
futuro de uma Perturbação Evitante da Personalidade. Referimo-nos a timidez, isolamento
(particularmente visível no recreio) e medo de estranhos e de situações novas, desconhecidas. No
entanto, tal não se constitui como uma obrigatoriedade, sendo que a timidez pode não evoluir para
este quadro na vida adulta, mas antes dissipar-se gradualmente. Se existir um agravamento desta
timidez ao longo da adolescência, podemos estar perante um futuro caso de Perturbação Evitante da
Personalidade.
Já pensou nas consequências negativas que isto implica? Durante a adolescência e início da idade
adulta as relações sociais com novas pessoas são particularmente importantes. Quanto pode ser
doloroso sentir que não conseguimos ter relação com as pessoas que nos rodeiam por medo? Medo
de falar, de ter um comportamento que possa ser considerado como desadequado, desadaptado, de
dizer algum disparate, de não ser aceite, de ser criticado ou humilhado pelos outros… Em suma,
estar fechado dentro de uma redoma, com a porta aberta, mas sem conseguir sair, poder vislumbrar
como é o mundo lá fora, mas não conseguir partilhá-lo com os outros. É muito limitativo, não é?
Já na vida adulta e em contexto profissional, é frequente que rejeitem ofertas de promoção, pelo
receio de que as novas responsabilidades se possam reflectir em críticas por parte dos colegas. O
trabalho em grupo só é aceite após uma série de propostas generosas, baseadas em promessas de
apoio e compreensão. Ao nível das relações com os outros, estas são evitadas até ao momento em
que sejam vistas como seguras, ou seja, ausentes de crítica e desaprovação. O mesmo se passa no
estabelecimento de relações íntimas, que se revela como uma tarefa muito penosa para quem sofre
desta perturbação, apenas superadas quando existe uma garantia de aceitação incondicional.
- As pessoas com esta perturbação não se agregam em actividades de grupo, a menos que surjam
propostas repetidas e generosas de apoio e protecção;
- A intimidade interpessoal é habitualmente difícil para estas pessoas, apesar de serem capazes de
estabelecer relações íntimas quando está assegurada uma aceitação sem crítica;
- Podem actuar com reservas, terem dificuldade em falar de si e recusarem a intimidade por medo
de serem expostas, ridicularizadas ou envergonhadas;
- Tendem a ser tímidos, calados, inibidos e «invisíveis», com medo de que com qualquer chamada
de atenção possam ser rejeitados ou rebaixados;
- Podem até surgir sintomas físicos, quando confrontadas com situações que não lhes é possível
evitar – ruborização das faces, boca seca, sudação exagerada, entre outras.
Quando surge
Inicia-se habitualmente na infância com timidez, isolamento e medo de situações desconhecidas, em
que, em vez de se assistir a uma diminuição progressiva das reacções referidas, se observa uma
evolução durante a adolescência.
Prevalência
A prevalência da Perturbação Evitante da Personalidade na população em geral situa-se entre 0,5%
e 1,0%. No entanto, fica a ressalva para os casos que sofrem em silêncio ou são mal diagnosticados.
PERSONALIDADE DEPENDENTE
A personalidade dependente caracteriza-se por uma forte necessidade em se sentir cuidado,
protegido e próximo dos outros. Há uma grande dificuldade em sentir-se autónomo, só e vulnerável.
Quando se sente desta forma, surge um caos interior e uma enorme angústia. Torna-se difícil levar a
sua vida para a frente e cuidar de si próprio(a) sozinho(a). Por isso, rapidamente tende a procurar
alguém que o possa apoiar e proteger. É como se não fosse possível viver na solidão, como se as
coisas não fizessem sentido sem alguém que possa cuidar de si, garantir-lhe segurança.
Assim nasce o desejo e a procura constante de um companheiro(a) que saiba lidar melhor com a
vida e que o(a) possa proteger. Quando esta pessoa surge, ela é tão importante para si que não se
importa de abdicar dos seus sonhos, desejos e necessidades para que ela goste de si e fique por
perto. Esta pessoa é, geralmente, idealizada, reveste-se de uma enorme importância e praticamente
não tem defeitos – é a pessoa ideal.
Deste modo, tende a criar fortes laços com as pessoas de quem é próximo(a). Se por um lado pensa
que seria saudável ser mais independente, ao mesmo tempo pode recear que quanto mais
autónomo(a) se tornar, maior seja a probabilidade de ser abandonado. Porém, isto aumenta o risco
de se envolver em relações que acabam por lhe trazer sofrimento, já que é como se tentasse
sistematicamente apagar-se a si mesmo para agradar ao outro. Poderá inclusive acabar por se
envolver em situações que podem ser muito incongruentes com os seus próprios valores.
Quando uma destas relações termina, é como se a sua vida desabasse, deixasse de ter sentido, ou já
não existissem mais motivos para viver sem a presença do outro. Apesar do enorme desgosto,
frequentemente tende a procurar uma nova relação ao fim de algum tempo, acabando por passar por
períodos de grande instabilidade relacional. Essas relações parecem começar e terminar
rapidamente, o que contribui para que se sinta ainda mais triste, desolado e pouco confiante/seguro
face a si próprio. Tem uma grande dificuldade em tomar decisões por si só, procurando
constantemente segundas opiniões e conselhos das pessoas que o rodeiam. Quando surgem
divergências de opiniões com as outras pessoas, é tendencialmente difícil expressar o seu
desacordo, acabando muitas vezes por aceitar a visão do outro ou fazer coisas com as quais muitas
vezes não concorda.
A sua auto-estima é provavelmente baixa. Imagina que as outras pessoas são melhores e as suas
ideias não têm valor e deverão estar erradas. Quando alguém o corrige ou repreende, sente que
perde totalmente o seu valor e submete-se rapidamente às ordens que os outros estabelecem, numa
tentativa de ser aceite e tornar a ser protegido. Este padrão começa por norma, no início da idade
adulta e está presente numa variedade de contextos. Apesar de ser diagnosticado com maior
frequência em mulheres, as diferenças entre género não são significativas. A sua prevalência entre
homens e mulheres é semelhante, sendo inclusive um dos tipos de personalidade mais comuns em
contexto clínico.
Uma necessidade invasiva e excessiva de ser cuidado, que leva a um comportamento submisso e
aderente e a temores de separação, que começa no início da idade adulta e está presente numa
variedade de contextos, indicado por pelo menos cinco dos seguintes critérios:
1) Dificuldade em tomar decisões sem um excessivo aconselhamento e tranquilização pelos outros;
2) Necessidade de transferir as responsabilidades para os outros na maior parte das áreas
importantes da sua vida;
3) Dificuldade em discordar dos outros por medo de perder suporte ou aprovação;
4) Dificuldade em iniciar projectos ou fazer coisas por sua conta (pela ausência de confiança nas
suas capacidades, em vez de ausências de motivação ou energia);
5) Entrega-se a excessos para obter cuidados e apoios dos outros, ao ponto de se oferecer como
voluntário para tarefas desagradáveis;
6) Sentimentos de desconforto e desamparo quando sozinho, por medo exagerado de ser incapazes
de cuidar de si próprio;
7) Procura urgente de outras relações, em substituição de alguma relação íntima terminada;
8) Preocupações irreais com o medo de ficar entregue a si próprio.
A origem destes traços de personalidade tende a situar-se nas relações precoces que a criança
estabelece com o mundo desde pequena. É muito provável que em criança tenha desenvolvido a
crença de que não conseguiria sobreviver sem a proteção dos outros e a procura constante de ajuda.
Talvez tenha aprendido que o mundo era um lugar mau onde poderia ser facilmente magoado sem
alguém ao seu lado que o(a) possa proteger.
Face a este padrão de comportamentos, emoções e cognições, é provável que dê por si a reconhecer
pelo menos alguns destes sinais em si próprio, ou até mesmo em alguém que lhe é muito querido.
Se assim for, procure ajuda. É possível, com ajuda especializada, cuidar da forma mais adequada
destas fragilidades que tanto sofrimento lhe podem estar a causar ou ter vindo a causar ao longo da
sua vida. A psicoterapia pode ser uma fonte de ajuda particularmente enriquecedora e útil.
Como intervir?
Este é um trabalho prático e os objectivos enunciados são apenas orientadores, dado que todo o
processo de ajuda é centrado em si, nas suas características e na sua forma de ver o mundo e
pretende-se que tenha impacto não só no seu presente, como também no seu futuro.
PERSONALIDADE OBSESSIVO-COMPULVIVA
Ao longo deste texto vão sendo apresentadas especificidades que caracterizam esta forma de pensar
e de fazer. Antes de lhe dar início coloque-se as seguintes perguntas: sente uma atenção extrema
com organização, controlo e perfeccionismo? Tem dificuldade em ser flexível, em se adaptar a
mudanças ou aprendizagens? Pois bem, se estes comportamentos estão a tomar conta de si, a
dominá-lo e a condicioná-lo, este texto pode bem ser o impulsionador para a resposta que procura.
Continue atento e perceba se se revê nos exemplos que vão sendo enunciados e se estes o
descrevem de forma permanente, acabando por o prejudicar nas suas funções, papeis e actividades
no dia-a-dia, nas esferas social, profissional e familiar. Concretizando, perceba se se preocupa
excessivamente com pormenores triviais, regras, listas, ordens, organizações ou esquemas ao ponto
de perder a própria finalidade da actividade que está a realizar, ou seja, como se o essencial das
tarefas que realiza acabasse por ser: cumprir de forma criteriosa as regras por si definidas. (por
exemplo, não completa um projecto porque este não segue a 100% a estrutura ou os pormenores
que decidiu que a ele se adequam).
Pode também ser tão perfeccionista que procura continuamente a perfeição em tudo o que faz,
revendo as tarefas vezes sem fim, com a sensação de que há sempre mais correcções a fazer. Estas
duas características contribuem para uma grande limitação em definir prioridades (por exemplo, em
escolher o que é urgente – prazos – e o que é importante – objectivos).
Devido a este excesso de zelo pode acontecer que se dedique tanto ao trabalho, à responsabilidade e
à produtividade que se afaste totalmente dos seus amigos, hobbies e lazer. Acredita que “não pode
perder tempo”, o que o impede de relaxar e aproveitar os bons momentos, levando consigo tarefas
de trabalho para “aproveitar bem o tempo” e assim sentir menos desconforto mesmo quando vai de
férias. Até os momentos de humor e diversão são para si momentos de responsabilidade, o que
deixa frustradas as pessoas que o rodeiam. Existe também a possibilidade de se focar imensamente
em tarefas domésticas ou de higiene, repetindo muitas acções como forma de “garantir” que tudo
está organizado e limpo.
Uma outra característica que o pode dominar é estar hiper-consciente da moral, regras, ética ou
valores ao ponto em que são elas que decidem o seu dia-a-dia, havendo grande ansiedade sempre
que alguma é desrespeitada. O seu lado crítico está desenvolvido de tal forma que qualquer falha
que possa cometer, em relação a estes “imperativos” o leva a sentir-se terrivelmente culpado e
incapaz, procurando rapidamente a correcção meticulosa da situação (o que também é válido para
as pessoas que o rodeiam, podendo criticá-las frequentemente).
Observe agora a sua casa, o seu automóvel e o seu local de trabalho. Pode sentir-se incapaz de se
libertar de objectos sem utilidade, mesmo que não tenham qualquer valor sentimental, por pensar
que nunca se sabe quando serão úteis, mesmo que quem o rodeie reclame com a quantidade de
“tralha” acumulada.
Observe-se agora no seu local de trabalho, e repare como lhe é difícil delegar tarefas. Parece-lhe
imprudente visto que desconfia que alguém possa realizar as tarefas que tem em mente, a não ser
que siga detalhadamente o seu procedimento. É que para si, existe um modo único e rígido de
realizar uma tarefa como pintar uma parede, cozinhar um bife ou enviar um email. Na verdade, é-
lhe muito difícil trabalhar em equipa dado que cada pessoa tem o seu modo próprio de trabalhar.
A nível financeiro, existe a possibilidade de você viver abaixo das suas reais possibilidades visto lhe
parecer que tem de estar preparado para qualquer eventualidade, imprevisto ou catástrofe acabando
por controlar rigidamente as suas despesas, verificando constantemente o orçamento, para que não
haja “derrapagens”.
Está tão preocupado com o modo “correcto” das tarefas serem realizadas, que não está receptivo a
sugestões vindas de outros, pois é-lhe extremamente difícil ver a vida pela perspectiva deles. Para
si, tudo tem de estar bem planeado e estruturado. Nada pode falhar! Pode também perceber que não
lhe parece natural a expressão dos afectos visto que o faz de uma forma controlada e rígida,
valorizando a lógica e o intelecto em detrimento da expressão da afectividade.
Por fim, gostaríamos de lhe dizer que estas características presentes de forma moderada podem ser
adaptativas e a verdade é que vivemos numa sociedade que valoriza e premeia algumas destas,
como: a atenção ao detalhe, disciplina, controlo emocional e perseverança. No entanto, se perceber
que estas características são persistentes, rígidas e desadaptativas e afectam o seu desempenho e
relacionamentos, acabando por prejudicar de forma decisiva o seu bem-estar, lembre-se que
estamos aqui para o ajudar a começar a libertar-se destas amarras e a encontrar novos rumos para o
bem-estar!