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O presente objeto justifica-se importante por conter relações de poder que pautam uma das
principais funções de nossa república. Os gabinetes dos subprocuradores interagem fortemente
entre si, criando uma rede de influencia interessante. Todavia, o foco de observação será
somente um deles, no qual realizo estágio, e portanto, facilita sobremaneira a observação do
ambiente descrito. Ao ter começado a estagiar na procuradoria geral da república, comecei a
me perguntar: quais as principais relações existentes no gabinete? Para tanto, procuro: relatar
as principais atividades realizadas, observar o contexto no qual os indivíduos se inserem,
descrever as particularidades dos indivíduos dentro do ambiente no qual se inserem.
A análise foi realizada por meio de uma observação participativa com vistas à identificar da
melhor forma o dia-a-dia dos funcionários do gabinete. A obervação foi descritiva no intuito de
propor uma melhor explicação acerca do contexto, pelos olhos de alguém que convive
diariamente com os participantes.

Incursão
A Procuradoria Geral da República é um órgão pertencente ao Ministério Público Federal, com
competência de ação em todo o país e que visa a proteção dos direitos da população brasileira
contra abusos cometidos pelo Estado. Dentro dessa definição, percebe-se a importância e
abrangência que a procuradoria possui perante os entes estatais. Dentro da Procuradoria,
existem 4 blocos de prédios: um reservado à atendimento ao público externo, um com
restaurante e auditório, um dedicado a pequenas secretarias e departamentos e por último, o
que contém os gabinetes dos subprocuradores gerais da república. Neste bloco, existem 5
andares e uma cobertura. Os gabinetes encontram-se espalhados ordenadamente pelos
andares e na cobertura existe o gabinete da Procuradora Geral da República e de seu Vice. O
acesso à procuradoria é constantemente vigiado e possui uma vigilância pesada; qualquer
pessoa que deseje entrar necessita, previamente, apresentar documentos e ser identificada por
quem a irá receber, após a identificação, o indivíduo externo recebe um crachá com o andar
específico no qual realizará sua atividade, ou seja, se alguém que necessitava comparecer ao
2º andar for visto no 4º, será automaticamente questionado a respeito do que faz no lugar
errado. Minha forma de entrar é diferente, já que, consigo pegar a van que passa na rodoviária,
de 15 em 15 minutos, para levar, de forma ecológica, servidores e estagiários da PGR. Por
possuir um crachá específico de estagiário, posso transitar por todos os blocos (exceto pela
cobertura, sobre o qual falarei mais a frente). A van adentra o subsolo (no qual se encontra a
garagem principal) e os transportados descem em direção aos seus setores. O trânsito das
autoridades (procuradores, subprocuradores e procuradora geral) acontece no subsolo, às
vezes ocorrendo certos encontros. É interessante salientar que, apesar do ambiente do subsolo
ser comum a qualquer tipo de funcionário, muitas dessas autoridades as quais me referi,
simplesmente não atentam para o fato de que os outros existem e logo se dirigem para seus
carros oficiais – que diga-se de passagem, são tudo menos discretos, a começar pela placa
que indica, inclusive, o cargo que ocupam -. Apesar da atitude sisuda e arrogante da maioria
das autoridades do local, alguns deles sempre cumprimentam os funcionários, que fora dos
gabinetes são, em grande parte, terceirizados, demonstrando um afeto, aparentemente,
genuíno. A respeito da ligeira segregação já indicada pela diferença entre os transportes, existe
outra forma de diferenciação de importâncias dentro do bloco. Existem 6 elevadores, 3 sociais
(servidores, terceirizados de segurança e estagiários), 2 de serviço, para transporte de cargas
mais pesadas e de funcionários da limpeza; e 1 exclusivo para subprocuradores e autoridades
afins. É interessante notar que quando um subprocurador necessita transitar de um andar, ou
bloco, para o outro, ele nunca pega qualquer tipo de elevador que não seja o seu privativo,
mesmo que todos os outros se encontrem disponíveis no andar onde estejam. De início, já se
nota a forma como tais autoridades se percebem dentro do ambiente. Separados dos
subprocuradores e procuradores, existem os analistas e técnicos administrativos, que
compõem a maior parte da estrutura organizacional da PGR. Analistas sendo de nível superior,
e técnicos de nível médio. Observa-se uma nova camada de relações, os analistas possuem o
direito de estacionar no subterrâneo, enquanto os técnicos (quando tem carro) estacionam no
exterior dos blocos, necessitando caminhar uns bons metros até seus carros. A relação
existente entre estes servidores citados é, no mínimo, cômica, já que executam basicamente as
mesmas funções, com uma diferença salarial gritante (por gritante eu digo o dobro). E tal
relação, é evidenciada, principalmente, dentro dos gabinetes.

Gab

Por motivos de segurança das identidades, irei modificar os nomes dos integrantes do
gabinete. Dentro do gabinete existem 5 analistas formados em Direito, dos quais uma realiza
teletrabalho por morar nos EUA; existem 2 técnicos, uma senhora de 57 anos formada em
secretariado e um rapaz de 32 anos formado em Direito, e eu como estagiário. A estrutura física
é subdividida em: 2 banheiros (um feminino e um masculino), 2 salas para os analistas (cada
sala possui 2 analistas), uma secretaria ( na qual eu e a técnica em secretariado trabalhamos),
uma antessala ao gabinete da subprocuradora, contendo o técnico administrativo e uma mesa
vaga e a sala da subprocuradora, que possui, basicamente, o tamanho do gabinete inteiro. Já
na estrutura percebe-se uma diferença visível no que o próprio ambiente proporciona para os
funcionários – a subprocuradora possui banheiro exclusivo -. O fato do banheiro localizar-se
dentro do gabinete produz fatos interessantes, já que, qualquer barulho produzido
corporalmente, faz-se ouvido do lado de fora se for levemente mais alto do que o barulho do
exaustor, deixando os funcionários por muitas vezes, constrangidos de utilizarem o sanitário.
Analisando esse fato, entendo que se, já nas necessidades fisiológicas, as pessoas já são
constrangidas, quem dirá no resto. Tal situação já garante ao local uma restrição física muito
grande. Logo ao ter iniciado o estágio no gabinete, fui informado de que a subprocuradora
costumava não passar toda a semana no gabinete, ou seja, não seria algo tão rigoroso assim.
Mas, apesar disso, o fluxo de processos dentro do gabinete é um dos mais altos da PGR. A
função dos analistas assessores é de formular o conteúdo dos diversos processos recebidos no
gabinete, enquanto a da secretaria (composta por mim, a técnica de secretariado e o técnico
administrativo) cabe à função de distribuir os processos que são encaminhados ao gabinete.
Portanto, controlamos o fluxo e selecionamos, com base em uma planilha preestabelecida, qual
processo vai pra qual assessor. A partir daí, os assessores passam a montar os conteúdos e
em seguida repassam à subprocuradora para uma revisão, que caso realizada, encontre erros,
volta-se o processo para a técnica de secretariado para correção de possíveis erros de
português ou na formatação do documento digital. Os processos chegam ao gabinete em
blocos, 3 vezes ao dia. Um bloco pela manhã, um pela tarde (o que eu recebo) e um às 18
horas. Às 17 horas, grande parte do gabinete já foi embora, restando somente a técnica de
secretariado, que devo lembrar, é uma senhora. Portanto, ela acaba frequentemente indo
embora pelas 19:30, já que a subprocuradora costuma dar despacho nos processos que estão
em suas mãos após as 17:30, sobrecarregando, assim, a secretaria. Coisa que não incomoda,
de maneira alguma, nem a secretaria e nem a subprocuradora, que em muitas situações já
pediu para que a secretaria permanecesse além do necessário no gabinete, para desafogar o
número de processos do gabinete. Tal situação, em diversas vezes, já fez com que a secretaria
não tivesse mais acesso às vans que levam os servidores até a rodoviária, pois a última sai da
PGR às 19:30. Quando isso ocorre, a secretaria é obrigada a ir andando até a rodoviária – para
critérios de entendimento, seria de uma distância de aproximadamente 4 km, de noite -.
Salienta-se o fato de que ninguém dos servidores sequer sugere auxiliá-la.

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