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Neoclassicismo 2
Neoclassicismo 2
Contextualização histórica e cultural da segunda metade do século XVIII. Características do estilo neoclássico. Temáticas, estética e obras-primas do Neoclássico.
PROPÓSITO
Compreender o conceito de Neoclassicismo, gerando capacidade de reconhecer suas características e relacionar texto e contexto.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar o contexto histórico que propiciou o surgimento do Neoclassicismo como estética ideal da cultura do Iluminismo
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
O Iluminismo foi um movimento cultural que se desenvolveu principalmente na Inglaterra, França e Holanda, desde meados do século XVII e durante todo o século XVIII. Alicerçada
no humanismo, antropocentrismo e na defesa da razão, indo ao encontro da comunidade científica que começava a se destacar nas fileiras das sociedades liberais europeias, esta
corrente se relacionava naturalmente com o legado do pensamento clássico, impondo um rompimento na tradição e nos ideais românticos em ebulição naquele tempo.
Os intelectuais franceses foram os primeiros a promover os valores iluministas, e os que mais se destacaram foram Voltaire, Rousseau, Diderot e Montesquieu. A mesma geração
colaborou decisivamente para a publicação da primeira Enciclopédia – trabalho emblemático numa época de defesa e propagação da razão e do conhecimento.
Somado a isso, a Europa setecentista viu surgir o esforço de dois alemães arautos da cultura clássica – Johann Joachim Winckelmann (1717-1768), considerado um dos pais da
História da Arte, e o pintor Anton Raphael Mengs (1728-1779), um dos precursores da pintura neoclássica. Ambos contribuíram para o conhecimento da cultura material greco-
romana, diagnosticando – de maneira inédita até aqueles tempos – o pioneirismo dos gregos e a influência que eles exerciam sobre Roma.
Para este último, a observação continuada da natureza, retirando o que havia de mais
sublime em diversos modelos diferentes, permitiu aos artistas gregos a criação de
conceitos universais – tanto a partir de partes isoladas do corpo quanto das proporções
dos conjuntos –, que se erguiam acima da própria natureza. Winckelmann considerava que
o único caminho para se tornar inimitável seria a imitação dos gregos. Com imitação, ele
não se referia à cópia servil, mas ao tratamento da forma com o intelecto, a razão,
transformando-a em algo singular, assumindo uma natureza própria.
Fonte: Everett-Art/Shutterstock
A cultura iluminista e o rompimento com a tradição impõem uma relação dialética nas respostas dadas pelos românticos e clássicos às demandas de uma sociedade moderna em
plena ebulição. O movimento de características intelectuais não pode ser entendido como uma tendência única, mas, sim, como um movimento intelectual. Isso significa que autores
diversos apresentaram proposições diversas, enfrentando suas visões que, muitas vezes, manifestavam-se de forma antagônica.
Ainda que o movimento seja europeu, em virtude da educação e da tradição de todo o mundo colonialista olhar para a Europa como algo ideal, estes valores acabam sendo
entendidos como universal.
RESUMINDO
Vamos buscar uma simplificação: o Neoclássico representa as tensões do novo, de uma burguesia que, apesar de ascendente no século XVIII, é urbana e tributária de
reconhecimento de valores vinculados a tradições das cortes e do pensamento ocidental. Resistente às grandes formas enevoadas de Barroco e Rococó, entendidas como
imposição, uma vez mais usa a velha fórmula, e o caminho correto estava no equilíbrio estético, na beleza, na razão que marcaria os europeus: o mundo idealizado de Grécia e
Roma.
O Neoclassicismo é um retorno, como o próprio nome já diz. De fato, podemos pensar que,
intelectualmente, temos um grande movimento em curso na Europa. Como um movimento,
ele não deve ser entendido sem um processo. A retomada renascentista tem sentido
diante do crescimento urbano e da idealização do urbanismo, que remete ao mundo grego
e à idealização políade. A reação, que não é sucessora, é concomitante, vem do
movimento como contradição – o valor das tradições anteriores e a crítica ao novo. No
entanto, o pensamento, uma vez em processo, é estruturado em contínuo. Critica-se o
modelo social e a exaltação da razão como forma de solução e explicitação do mundo.
Fonte: Shutterstock
Seria um exercício de Razão pura, de Immanuel Kant, em que todos, de alguma maneira, saberiam reconhecer o que é belo, o que é sublime. Ou, então, a razão se materializa na
técnica, no homem, dominando-a de forma precisa e conseguindo produzir algo que é peculiar. O movimento iluminista não é uma linha reta, um conjunto de entendimentos que
apontam para a mesma direção, mas, sim, um exercício constante de reflexão e crítica, que tem como elemento de proximidade central a razão – sendo um dos maiores nomes
justamente Immanuel Kant
Identificando a distinção entre um belo pitoresco e um belo sublime, Kant aponta dois juízos que dependem de posturas diferentes do homem frente à realidade. Sob este prisma,
nada é belo em si, mas se torna belo a partir de um julgamento que qualifica a obra como tal.
Fonte: Nicku/Shutterstock
Immanuel Kant - Imagem de Meyers Lexicon.
Fonte: Irina Borsunshenko/Shutterstock
Monumento ao filósofo Immanuel Kant.
As duas categorias vistas nas sobreditas considerações – o belo pitoresco e o belo sublime – já possuíam, à época, precedentes na História da Arte.
Figura 1
Nesta categoria, à época, o belo pitoresco é considerado precedente na História da Arte e se alicerça na escola holandesa, repercutindo, no século XVIII, nos paisagistas ingleses,
como Constable (Figura 2) e Turner (Figura 3). O pitoresco é uma qualidade que repercute na natureza pelo gosto dos pintores.
Figura 2: Exemplo de paisagem pitoresca – Estudo das nuvens. John Constable. Séc.
Figura 3: Calais, Willian Turner, 1803. Fonte: Wikipédia
XVIII. Fonte: Wikipédia
Figura 3
Figura 2
Já nessa categoria, também à época, o belo sublime é considerado precedente na História da Arte e procede de Rafael e Michelangelo, por exemplo. Em Michelangelo, admira-se o
“gênio”, a inspiração que consegue captar e transmitir mensagens ultraterrenas. Solitário, sublime, artífice e operário que viabiliza a comunicação entre o céu e a terra (Figura 4). Por
sua vez, a obra de Rafael – notório pesquisador da Antiguidade Clássica e pintor mais celebrado do Alto Renascimento – alcançou grande profundidade filosófica, rendendo-lhe
enorme prestígio e reputação de eminente humanista.
Figura 4
Segundo Edmund Burke (1729-1797), filósofo irlandês, o belo e o sublime surgem como frutos do trabalho da imaginação sobre os sentidos, composto de metáforas e universalmente
compreensível, permitindo ao homem a chance de comunicar sobre as paixões.
Ainda segundo o autor, o sublime se manifesta quando o homem se depara com sensações fortes, como a dor e o perigo. Ele acredita que sentimos prazer no sofrimento do outro e
que o sublime é despertado por situações reais ou que sejam representadas com extrema realidade. O sentimento é forte demais, a ponto de nos impedir de raciocinar.
Tais colocações nos remetem de imediato aos temas cristãos, com diversas representações da morte, da piedade, da dor e da abnegação.
Fonte: Shutterstock
Figura 5
As poéticas – pitoresca e sublime – se completam, e seu antagonismo dialético reflete o grande dilema da época: a relação turbulenta entre indivíduo e coletividade. Praticadas
concomitantemente, essas poéticas servem de pilar para o Neoclassicismo, instituído enquanto um universal abstrato, que busca no sublime da arte clássica a expressão nevrálgica
da existência. Não obstante, o fato de se recorrer a uma arte já perdida, pertencente aos antigos, revivescida por um apelo humanístico de expediente efêmero, denota que a mesma
só pode ser reevocada, ato este eminentemente romântico.
Essa estética é poderosa; repare como ela é a iconografia de poder pelo mundo. Veja os prédios históricos das grandes cidades do Brasil – São Paulo, Recife e Rio de Janeiro
possuem ícones neoclássicos que foram reproduzidos até o século XX - e do mundo, que transformam a sóbria estética do Neoclássico em um símbolo de algo belo, turístico até os
dias de hoje.
Fonte: Orhan Cam/Shutterstock
(Fonte: Koslik/Shutterstock
A razão passa a ser o processo central na modernidade. Trata-se de um valor que se manifesta na política, na religião e, principalmente, nos intelectuais urbanos, que circulavam e
influenciavam aqueles que produziam. A razão se manifesta no pitoresco e no sublime, mas o modelo mais forte na tradição neoclássica é a construção do ideal, de uma beleza que
pode ser reconhecida – pela técnica ou pela “razão pura, imanente” –; como seria indiscutível a beleza do que fora construído pelas sociedades gregas e romanas. A arte
arquitetônica predominante passa a ser tratada como uma arte não intelectualizada, grotesca, bárbara.
ARQUITETURA NEOCLÁSSICA
A consolidação da arquitetura neoclássica, primeira manifestação robusta do
Neoclassicismo Histórico, é convencionalmente situada em meados do século XVIII; não
obstante, as aspirações classicizantes já estavam em voga desde o século XVII, numa
tendência estilística que ficou conhecida como Palladianismo. Fonte: Shutterstock
Neste novo cenário, a razão deveria ser ordenadora da vida prática, demandando às cidades o papel de local e instrumento da vida social. Novos tipos de edifícios foram inventados
de acordo com suas funções: escolas, hospitais, cemitérios, mercados, portos, quartéis, pontes, ruas, praças, asilos, hotéis etc.
Com esses imperativos, formava-se, portanto, a nova ciência da cidade: o urbanismo. Tal
disciplina, não ligada de maneira exclusiva à França revolucionária e/ou napoleônica –
ainda que as grandiosas transformações de Paris sob o comando de Napoleão tenham
sido objeto de estudo para tantas outras civilizações –, redundou numa verdadeira febre
neoclássica que alcançou quase todas as cidades europeias, manifestando uma
Fonte: Wikipedia adequação racional ao expediente da sociedade em plena transformação.
Église Saint-Vincent-de-Paul, Paris. Fonte: Wikipedia
Há também a adoção de colunas – gregas e romanas –, dispostas de forma ordenada e sempre imponentes, para dar uma visão de diferenciação.
Capitéis – as cabeças das colunas ornamentadas com motivos gregos. Fonte: Kitty Vector/ Frontões – estruturas triangulares centrais – muitas vezes, contam uma história. Fonte:
Shutterstock Mount Elbrus/ Shutterstock
Formas geométricas claras: na planta baixa, na disposição das janelas, no interior. Esses elementos são sempre sóbrios, geométricos.
Uma das cidades em que podemos perceber essas tradições é Paris. Constituída no Antigo Regime, valeu-se da família real para demonstrar toda a sua imponência.
Fonte: Wikipédia
Planta baixa do projeto de igreja metropolitana (Paris), Étienne-Louis Boullée (c. 1780).
Fonte: Wikipédia
Projeto de biblioteca pública (Paris), Étienne-Louis Boullée (c. 1785).
Fonte: Wikipédia
Projeto para disposição do Foro Bonaparte em Milão (1806), Giovanni Antonio Antolini.
Neste período, começa a se disseminar a compreensão de que a cidade não é mais patrimônio de famílias abastadas e do clero, mas um verdadeiro instrumento de progresso para a
sociedade. Por este motivo, o trabalho de engenheiros e arquitetos deveria estar direcionado para a população, promovendo grandes obras de interesse público.
Com a estruturação do meio urbano, a criação da imagem de cidade é acompanhada dos processos de profissionalização – a imagem dos trabalhadores em diversos segmentos.
Assim, ocorre a disseminação de escolas, das leituras, e há também o fortalecimento das posições sociais. Quer dizer, o meio urbano passa a ser o espaço dos prédios neoclássicos,
mas também dos homens do Antigo Regime, das academias de formação intelectual.
A formação intelectual do artista é amplamente aprimorada com a abertura das academias, escolas públicas especiais onde eles poderiam desenvolver técnicas e aprofundar seus
estudos em diversas disciplinas pertinentes, passando a não depender exclusivamente de um mestre. Elas nasceram para suplantar o sistema corporativo e artesanal das guildas
medievais, tendo como pressuposto básico a ideia de que a arte pode ser ensinada através da sua sistematização em um corpo de teoria e prática integralmente comunicável,
minimizando a importância da criatividade como contribuição original e individual. Valorizavam, corroboradas pelos arautos dos antigos, como Winckelmann, a emulação de mestres
consagrados, venerando a tradição clássica, e adotavam conceitos estéticos e éticos formulados coletivamente.
Canapé em madeira. Séc. XIX. Exemplo de mobiliário feito em série a partir do século XIX.
Fonte: Foto do autor
ROMANTISMO
O Romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa. Concomitante, caracterizou-se como uma visão de mundo
contrária ao Racionalismo e ao Iluminismo e robusteceu um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa. Os autores românticos voltaram-se para si
mesmos, retratando o drama humano, os amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo.
EBULIÇÃO
"A cesura na tradição se define com a cultura do Iluminismo. A natureza não é mais a ordem revelada e imutável da criação, mas o ambiente da existência humana; não é mais
o modelo universal, mas um estímulo a que cada um reage de modo diferente; não é mais a fonte de todo saber, mas o objeto da pesquisa cognitiva. [...] O fato de o móvel
ideológico, que tantas vezes se transforma em explicitamente político, ocupar o lugar do princípio metafísico da natureza-revelação, tanto na arte neoclássica como na
romântica, mostra que ambas, apesar de aparente divergência, pertencem ao mesmo ciclo de pensamento. A diferença consiste sobretudo no tipo de postura
(predominantemente racional ou passional) que o artista assume em relação à história e à realidade natural e social".
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 12
KANT
Immanuel Kant (1724 - 1804) foi um filósofo prussiano. Seu tratado filosófico está sistematizado nas três críticas publicadas em vida: Crítica da razão pura (1771), considerada
uma das obras mais importantes de seu tempo; a Crítica da razão prática (1788) e a Crítica da faculdade de juízo, de 1790. A filosofia crítica de Kant se tornou a orientação de
pensamento dominante na Alemanha. Nos anos subsequentes, sua influência se estendeu para a França, Inglaterra e outros países. Na Crítica da faculdade de juízo, Kant
investiga os limites daquilo que podemos conhecer pela nossa faculdade de julgar, que leva em consideração não apenas a razão, mas também a memória e os sentimentos. O
autor analisa o juízo do belo através das categorias qualidade, quantidade, finalismo e modo, do sublime, e introduz a noção de “gênio” à questão do labor artístico.
PALLADIANISMO
A arquitetura dita palladiana é um estilo arquitetônico europeu derivado e inspirado nos projetos do arquiteto veneziano Andrea Palladio (1508-1580). O que hoje é reconhecido
como arquitetura palladiana é uma evolução de seus conceitos originais. O trabalho de Palladio foi mormente baseado na simetria, na perspectiva e nos valores da arquitetura
formal dos templos gregos e romanos. A partir do século XVII, a interpretação de Palladio dessa arquitetura clássica foi adaptada como o estilo conhecido como "Palladianismo",
que continuou a se desenvolver até o final do século XVIII.
Esses dois dirigiram ateliês robustos, encarregando-se de grandes encomendas de toda a Europa. Trabalhando preferencialmente no mármore, designaram parcela
considerável dos seus trabalhos aos seus assistentes, denotando uma nova relação do artista com seu objeto, alinhados às demandas de aumento da produção.
É a denominação dada ao regime político que vigorou na França entre 20 de setembro de 1792 e 26 de outubro de 1795, no processo da Revolução Francesa. Sucedeu o
regime da Assembleia Nacional Legislativa instituído pela Constituição de 1791 e que fundou a Primeira República Francesa.
ACANTO
É o nome de uma planta espinhosa originária da Itália e da Grécia, cuja folha é muito usada como motivo decorativo, tendo sido base para diversos ornatos desde o
Renascimento. O exemplo mais difundido é o relevo de acanto das colunas de capitel coríntio.
ESTOICISMO
O estoicismo é uma escola da filosofia grega fundada em Atenas por Zenão de Cítio (335-264 a.C.). Tendo exercido grande influência nos valores cristãos, é uma doutrina
desenvolvida por várias gerações de filósofos que se caracteriza por uma ética que defende a felicidade através da extirpação das paixões e aceitação resiliente do destino. Por
extensão, o termo se aplica ao modo de vida em que se preza pela rigidez dos princípios morais.
ESTEREOTOMIA
A arquitetura dita palladiana é um estilo arquitetônico europeu derivado e inspirado nos projetos do arquiteto veneziano Andrea Palladio (1508-1580). O que hoje é reconhecido
como arquitetura palladiana é uma evolução de seus conceitos originais. O trabalho de Palladio foi mormente baseado na simetria, na perspectiva e nos valores da arquitetura
formal dos templos gregos e romanos. A partir do século XVII, a interpretação de Palladio dessa arquitetura clássica foi adaptada como o estilo conhecido como "Palladianismo",
que continuou a se desenvolver até o final do século XVIII.
ESTEREOTOMIA
Técnica científica para dividir os materiais de construção (pedras, madeiras, cantarias, argamassas etc.).
1820
Sua obra no Brasil revela duas vertentes distintas: a primeira como pintor viajante, registrando a fauna, a flora e os costumes de diversos pontos do país, com destaque para o
Rio de Janeiro. Seu interesse pelo pitoresco e exótico, presente nestas obras, já denotam uma motivação romântica, que se acentuará nas gerações posteriores; suas
pinceladas são breves e há pouca presença das linhas dos contornos, terminando por não delinear completamente as figuras ou as fisionomias.
Este trabalho, não obstante, foi de suma importância para se revelar a realidade sociocultural brasileira da época, o sistema patriarcal e os antagonismos e as contradições de
uma sociedade escravista.
Fonte: Wikipédia.
Capataz punindo escravo, Jean-Baptiste Debret, 1834.
Sua segunda vertente se refere à atuação como pintor de corte e professor, abordando temas históricos e retratos oficiais. Nesta categoria, Debret apresenta suas qualidades de
pintor neoclássico, seguindo os parâmetros iconográficos e plásticos da pintura histórica acadêmica.
Fonte: Wikipédia.
Sagração de Dom Pedro I. Jean-Baptiste Debret, 1828.
Considerado um dos pais da História da Arte, pela forma e pelo modelo de proposição de perceber o papel intrínseco entre texto e contexto.
Figura 1: Retrato de Johann Joachim Winckelmann. Angelika Kauffmann, 1764. Fonte: Wikipédia
Estudioso de civilizações antigas que buscava, pela História, encontrar a verdadeira arte, a perfeita.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (UNESP SP/2017 – ADAPTADA) O ALVO DOS ATAQUES EXTREMISTAS É O ILUMINISMO, E A MELHOR DEFESA É O PRÓPRIO ILUMINISMO.
“POR MAIS QUE SEUS VALORES ESTEJAM SENDO ATACADOS POR ELEMENTOS COMO OS FUNDAMENTALISTAS AMERICANOS E O
ISLAMISMO RADICAL, ISTO É, PELA RELIGIÃO ORGANIZADA, O ILUMINISMO CONTINUA SENDO A FORÇA INTELECTUAL E CULTURAL
DOMINANTE NO OCIDENTE. O ILUMINISMO CONTINUA OFERECENDO UMA ARMA CONTRA O FANATISMO”. ESTAS PALAVRAS DO
HISTORIADOR BRITÂNICO ANTHONY PAGDEN CHEGAM EM UM MOMENTO NO QUAL ALGUMAS FORÇAS INSISTEM EM DINAMITAR A
HERANÇA DO SÉCULO DAS LUZES. “O ILUMINISMO É UM PROJETO IMPORTANTE E EM INCESSANTE EVOLUÇÃO. PROPORCIONA UMA
IMAGEM DE UM MUNDO CAPAZ TANTO DE ALCANÇAR CERTO GRAU DE UNIVERSALIDADE QUANTO DE LIBERTAR-SE DAS RESTRIÇÕES
DO TIPO DE NORMAS MORAIS OFERECIDAS PELAS COMUNIDADES RELIGIOSAS E SUAS ANÁLOGAS IDEOLOGIAS LAICAS: O
COMUNISMO, O FASCISMO E, AGORA, INCLUSIVE, O COMUNITARISMO”, AFIRMA PAGDEN. (WINSTON MANRIQUE SABOGAL. “‘O
ILUMINISMO CONTINUA OFERECENDO UMA ARMA CONTRA O FANATISMO’”. ADAPTADO.) O NEOCLÁSSICO SE ESTRUTURA EM UM
CONTEXTO EM QUE É IMPOSSÍVEL NÃO RELACIONÁ-LO AOS MOVIMENTOS ILUMINISTAS. SOBRE ESSE MOVIMENTO, PODEMOS
APRESENTÁ-LO COMO:
A) Uma tendência de pensamento legitimadora do domínio colonialista e imperialista exercido pelas nações europeias.
D) Uma experiência intelectual racional e emancipadora, de origem europeia, porém passível de universalização.
2. O NEOCLASSICISMO FOI UM MOVIMENTO ARTÍSTICO QUE SURGIU NA EUROPA, POR VOLTA DE 1750, DURANDO ATÉ MEADOS DO
SÉCULO XIX. ESTE MOVIMENTO TEVE COMO OBJETIVO PRINCIPAL RESGATAR OS VALORES ESTÉTICOS E CULTURAIS DAS
CIVILIZAÇÕES DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA (GRÉCIA E ROMA). A ARTE NEOCLÁSSICA ERA:
B) Voltada para a população pobre, excluída das manifestações artísticas elitistas em vigor durante o Rococó.
C) Um movimento estético que despontou como resposta às transformações sociais do século XVIII e à ascensão da burguesia como classe social dominante.
D) Uma arte assistemática, isto é, que buscava o afrouxamento das regras dos tratadistas e das academias.
GABARITO
1. (UNESP SP/2017 – adaptada) O alvo dos ataques extremistas é o Iluminismo, e a melhor defesa é o próprio Iluminismo. “Por mais que seus valores estejam sendo
atacados por elementos como os fundamentalistas americanos e o islamismo radical, isto é, pela religião organizada, o Iluminismo continua sendo a força intelectual e
cultural dominante no Ocidente. O Iluminismo continua oferecendo uma arma contra o fanatismo”. Estas palavras do historiador britânico Anthony Pagden chegam em
um momento no qual algumas forças insistem em dinamitar a herança do Século das Luzes. “O Iluminismo é um projeto importante e em incessante evolução.
Proporciona uma imagem de um mundo capaz tanto de alcançar certo grau de universalidade quanto de libertar-se das restrições do tipo de normas morais oferecidas
pelas comunidades religiosas e suas análogas ideologias laicas: o comunismo, o fascismo e, agora, inclusive, o comunitarismo”, afirma Pagden. (Winston Manrique
Sabogal. “‘O Iluminismo continua oferecendo uma arma contra o fanatismo’”. Adaptado.) O Neoclássico se estrutura em um contexto em que é impossível não relacioná-
lo aos movimentos iluministas. Sobre esse movimento, podemos apresentá-lo como:
Como vimos, uma das características mais importantes do Iluminismo é seu aspecto emancipador e racional, estabelecendo uma conexão imediata com a ciência e rompendo com
qualquer senso comum e com o fundamentalismo. Tais características conferem ao Iluminismo o poder de universalização, pois seus princípios eram perfeitamente replicáveis às
sociedades industriais que se estabeleciam. Neste ensejo, o Neoclassicismo se prestou a fornecer as bases visuais e estéticas a este anseio universalista, pois estava calcado em
valores universais, como o ideal de belo, o sublime, o equilíbrio, a proporção, a simetria etc.
2. O Neoclassicismo foi um movimento artístico que surgiu na Europa, por volta de 1750, durando até meados do século XIX. Este movimento teve como objetivo
principal resgatar os valores estéticos e culturais das civilizações da Antiguidade Clássica (Grécia e Roma). A arte neoclássica era:
O Neoclassicismo despontou como alternativa para aproximação do ideal estético moderno com o “antigo”, idealizado como modelo universal para a construção iconológica das
nações industriais. Sua função, portanto, era estar a serviço da sociedade e de suas demandas. O papel do arquiteto para o progresso das cidades passava a ser cada vez mais
decisivo, determinando o uso adequado do espaço público.
Fonte: S-F/Shutterstock
Vamos explicar melhor: o Renascimento já havia sido marcado no século XVI pelo retorno da iconografia greco-romana; essa estética, que era pautada na busca de um retorno
idealizado do clássico, era predominante em algumas cidades italianas e francesas. No entanto, a contradição entre o belo pelo exagero e a iconografia sóbria da antiguidade
idealizada permaneceu viva.
O que temos no século XVIII é um retorno com toda a força da valorização neoclássica. Porém, não com a busca da perfeição; era a liberdade associada à tradição, a ruptura com
uma ordem diante das influências do que era entendido como caos. É o pensamento sendo ordenado, racional, e, por isso, livre, mas fundamentado nos anos de aprendizado. Porém,
qual a razão para retornar ao neoclássico: a descoberta das obras de Pompeia gera uma admiração renovada, recriada, reinventada; é o passado que volta para exaltar a capacidade
e a tradição europeias.
Dessa forma, são recuperados as formas e o detalhamento humano. Os animais, reais ou mitológicos, voltam com força. Um dos encantamentos importantes são os mobiliários de
casa, em especial os vasos, que retratavam as cenas do cotidiano. Um modismo associado a uma valorização que passa a marcar os espaços da decoração dos novos centros
urbanos.
SOBRE GRUTESCO
Depois do que foi encontrado em Pompeia, surge um novo movimento de busca de artefatos. Vale ressaltar que a Arqueologia ganhou um novo impulso nos século XVIII e XIX. Tudo
o que foi encontrado, de mosaicos a prédios, foi explorado pelo público, que podia passear pelas grutas – chamamos isso de grutesco. Foi aberto um conjunto de formas e modismos
que se multiplicaram nas manifestações neoclássicas.
O grutesco também é conhecido como grotesco, a palavra indica elementos provenientes das grutas. O termo é designado para indicar certos ornamentos derivados daqueles
encontrados nos aposentos subterrâneos das ruínas romanas. São compostos por figuras humanas, vasos, hastes vegetais espiraladas ou helicoidais, pássaros, mascarões
(máscaras humanas, muitas vezes deformadas e caricatas). Foram revivescidos pelo pintor Rafael (1483-1520) e por seus discípulos para ornamentar as loggias (varandas abertas
ao exterior por arcada) do Vaticano.
O Neoclassicismo se manifesta nas artes decorativas pelas soluções lineares e simétricas, recorrendo aos consagrados elementos ornamentais clássicos, como o uso da folha de
acanto para preenchimento de relevos e o emprego de ornatos típicos da herança grutesca em substituição às rocalhas do Rococó.
Os principais exemplares da decoração neoclássica estão presentes no mobiliário , na talha e na pintura ornamental. No mobiliário, o Neoclassicismo introduziu diversos móveis
chamados “de coluna”, como cômodas, mesas, bancas, espelhos, quadros e outros móveis de linhas retas e de estrutura mais delicada.
No Brasil, após a Revolução Industrial, há uma maciça chegada dos modelos franceses. A vinda da corte para o Brasil intensificou o seu uso.
Na talha, há a valorização dos elementos constituintes das ordens arquitetônicas clássicas, como as colunas com fuste reto, os capitéis compósitos, a presença do entablamento, com
tímpano e frontão no coroamento.
II - FRONTÃO
Elemento construtivo em forma triangular, delineando o telhado de duas águas. A origem desse elemento remete aos templos gregos, aparecendo posteriormente também como
III - TÍMPANO
Nas ordens arquitetônicas clássicas, é a parte situada acima das colunas ou fenestras (aberturas, i.e.: portas, janelas etc.), e abaixo dos frontões.
IV - ENTABLAMENTO
Ordem arquitetônica romana, constituída pela justaposição entre as volutas (ornato em forma helicoidal, curva) jônicas e as folhas de acanto da ordem coríntia. In: Id. Ibd. p. 44.
V - CAPITÉIS COMPÓSITOS
Parte superior de um suporte vertical (p. ex., uma coluna), decorativo e funcional, que trabalha como elemento terminal entre o fuste e a arquitrave.
Partiremos para a análise de três exemplares de obras neoclássicas que apresentam as características sobreditas a fim de identificarmos, na prática, a recorrência dos elementos
decorativos supracitados.
CREDÊNCIA
Credência é uma mesinha colocada junto ao altar, com a função de servir de apoio para os objetos utilizados numa missa.
No exemplo em questão, podemos reparar o formato do fuste dos pés – estriados e canelados, com o terço superior em forma de pétalas de flor estilizadas e a parte inferior
semelhante a um coruchéu invertido. No friso, há uma sóbria ornamentação tipicamente neoclássica, com estrias em baixo relevo, formando uma sequência geométrica de formas
lineares terminadas com florões em alto relevo.
O conjunto prima pelo equilíbrio e pela moderação da ornamentação, com contornos retos e/ou geometrizados, preceitos típicos do Neoclassicismo.
ILUSTRAÇÃO DE RETÁBULO
Retábulos são os elementos escultóricos que ocupam a parede atrás das mesas de altar – retro tábula. Surgidos no gótico medieval, eles adquirem aspecto monumental a partir dos
séculos XVII e XVIII na Península Ibérica e em suas colônias latino-americanas.
Podemos observar, na ilustração, algumas daquelas características principais já colocadas anteriormente: colunas e pilastras com capitéis compósitos; fustes estriados, de contornos
retos; coroamentos com cartelas (área lisa delimitada por moldura, onde há uma inscrição (por exemplo, um monograma), folhas de acanto e outros elementos fitomorfos, guirlandas
e medalhões com florões em relevo preenchendo os espaços não estruturantes ou ainda rematando os frisos dos entablamentos. A mesa do altar, por sua vez, vai ganhando formas
mais geométricas, com contornos trapezoides.
É o caso do nosso exemplo: os elementos florais de inspiração grutesca servem de ornamentos para os vazios do oratório.
As características plásticas, técnicas, iconográficas e, sobretudo, éticas, iconológicas e ideológicas dos dois principais pintores do gênero na França revolucionária e pós-revolução –
são a base para o entendimento da manifestação da pintura neoclássica francesa. Através da analogia da obra de ambos e de suas contradições, lançaremos luz sobre todo o
período de permanência do estilo Neoclássico na pintura francesa e sua difusão na arte ocidental.
JACQUES-LOUIS DAVID
A obra de David estava engajada com o fervor republicano que dominava o país, alavancando seu prestígio nas fileiras artísticas e intelectuais. Durante a revolução, aderiu à
Convenção Nacional e atacou a Academia. Permaneceu preso durante um curto período, após a queda da República e, logo após – quando Napoleão ascendeu ao poder –,
trabalhou a serviço do imperador.
David trata o ideal clássico como modelo ético. Transcendendo as aspirações do sublime,
ilustra a crua realidade com firme e controlada paixão. Professando um estoicismo moral,
sua obra vai ao encontro dos arquitetos neoclássicos, procurando adequá-la às exigências
sociais, por meio de uma abordagem sempre lúcida e adequada aos fatos.
Fonte: Shutterstock
A morte de Sócrates, Jacques Louis David, 1787.
Em termos formais, a representação também se adequa ao que fora destacado anteriormente: ainda que o tema representasse o prenúncio de uma tragédia, os irmãos só denotam
sua convicção e concentração.
O pai, mirando as espadas e ao mesmo tempo o firmamento, apresenta uma contida aflição, resignada e carregada de contentamento. No segundo plano, uma das jovens se apoia
no ombro de outra familiar, manifestando um lamento silencioso e contido.
Não obstante, essa rígida moderação das paixões, o elogio ao dever e o sacrifício para o bem – valores translúcidos na obra – denotam um verdadeiro chamado para a revolução
que viria poucos anos depois.
JEAN-AUGUSTE-DOMINIQUE INGRES
Ingres, foi aluno de David e passou boa parte de sua vida em Roma, como pensionista
(1806-1820) e, diretor da academia francesa em Florença (1820-1824) e em Vila Medici
(1835-1841). Ao contrário de seu mestre, não estava engajado no Neoclassicismo
revolucionário, nem na sua vertente mais moderada, protagonizada pelos escultores
italianos. Sem interesses políticos ou ideológicos, notabilizou-se inicialmente pelos
retratos, demonstrando grande aptidão para a técnica do desenho.
Concebendo a arte como pura forma, não tentou imprimir demasiados sentimentos ou
dramas dos personagens representados. Para ele, a pintura não tinha funções
cognitivas ou morais, não deveria servir nem ao Estado nem à Igreja, nem à revolução
nem à reação, trazendo em si mesma sua razão intelectual e moral. Assim, para Ingres,
o belo era alcançado na relação entre os componentes da forma – linha, claro-escuro, cor,
luz etc. –, que compõem um todo singular.
Fonte: Shutterstock
Papa Pio VII na Capela Sistina, Jean-Auguste-Dominique Ingres, 1814.
Uma de suas obras mais consagradas retrata significativamente seus esforços e suas convicções. Em A banhista de Valpinçon, pintada em 1808, em Roma, a nudez pálida da
pessoa representada se completa numa ambiência apática e remota, restando ao espectador se apegar aos movimentos rítmicos dos drapeados e das pregas de lençóis e
cortinados, ratificando sua intenção de alcançar uma composição única e equilibrada na justaposição dos elementos da forma.
COMENTÁRIO
O que podemos traçar em paralelo entre a obra dos dois artistas abordados é que, para ambos, havia uma busca moral a ser atingida através da arte. Se, para David, essa busca era
imanente aos sentimentos revolucionários de seus patrícios – dos quais ele partilhava e difundia –, para Ingres, o objeto de valor maior estava na própria arte, na possibilidade de se
atingir um ideal de beleza na reunião sóbria e tênue dos elementos que compõem a forma – legado da arte clássica.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. UMA DAS PRINCIPAIS REFERÊNCIAS ANTIGAS QUE SERVIRAM DE MODELO PARA A ORNAMENTAÇÃO NO RENASCIMENTO ITALIANO E,
POSTERIORMENTE, NA DECORAÇÃO PRESENTE NAS PINTURAS E TALHAS DO NEOCLASSICISMO FORAM AS REPRESENTAÇÕES
GRUTESCAS, ENCONTRADAS NOS APOSENTOS SUBTERRÂNEOS DE ALGUMAS RUÍNAS ROMANAS. PODEMOS IDENTIFICÁ-LAS PELOS
SEGUINTES ELEMENTOS:.
2. A FOLHA DE ACANTO ESTILIZADA, MUITO PRESENTE NA REPRESENTAÇÃO ORNAMENTAL DA ANTIGUIDADE, FOI REVIVESCIDA NA
RENASCENÇA, APRESENTANDO, AINDA, GRANDE DESTAQUE NA DECORAÇÃO NEOCLÁSSICA. SUA FORMA MAIS DIFUNDIDA DESDE OS
TEMPOS ANTIGOS FOI...
GABARITO
1. Uma das principais referências antigas que serviram de modelo para a ornamentação no Renascimento italiano e, posteriormente, na decoração presente nas pinturas
e talhas do Neoclassicismo foram as representações grutescas, encontradas nos aposentos subterrâneos de algumas ruínas romanas. Podemos identificá-las pelos
seguintes elementos:.
O grutesco – também enunciado como “grotesco” – é um padrão de representação ornamental herdado das grutas (aposentos subterrâneos) das ruínas romanas. Suas
características soturnas, quando não assustadoras, devido à presença de mascarões (máscaras de figuras humanas distorcidas), além do preenchimento desordenado com outros
elementos desconexos, como pássaros, hastes vegetais, vasos etc., acabou conferindo uma mudança no sentido da palavra “grotesca”, passando também a significar coisa estranha
que suscita riso ou escárnio.
2. A folha de acanto estilizada, muito presente na representação ornamental da Antiguidade, foi revivescida na Renascença, apresentando, ainda, grande destaque na
decoração neoclássica. Sua forma mais difundida desde os tempos antigos foi...
Os capitéis da ordem arquitetônica coríntia foram o principal veículo de difusão da folha de acanto estilizada como elemento ornamental, presente a partir de então em relevos e
talhas para preenchimento de superfícies com motivos decorativos.
identidade que mostrasse o seu poder e a sua ideia de continuidade do próprio reino
português.
Embarque da família real portuguesa em 1807. Pintura de Nicolas Louis Albert Delerive. Fonte: Wikipeedia
Joachim Lebreton chegou no Rio de Janeiro em 1816, como encarregado de chefiar a Missão Artística Francesa. Pintura de Adelaide Labille-Guiard, 1795. Fonte: Wikipeedia
Fonte: Wikipedia
A abertura dos portos praticamente encerrou o pacto colonial, deixando nossas fronteiras disponíveis às influências de outros países, inserindo o Brasil na expansão do capitalismo
ocidental.
Para adaptar a capital ao status de sede do Império Português, Dom João VI implementou uma série de medidas visando a modernização do Rio de Janeiro, dentre elas a instituição
de uma Academia Imperial de Belas Artes, que pretendia dar ao Brasil um perfil atualizado, alçando os parâmetros culturais brasileiros ao modelo de pensamento iluminista difundido
na Europa.
Fonte: Wikipedia
Com essas demandas provocadas por um novo paradigma político e econômico, houve profunda modificação no contexto artístico brasileiro da época. A prática artística do período
colonial estava praticamente restrita às encomendas religiosas, com poucas exceções protagonizadas pela engenharia militar nas fortificações e no ordenamento de arruamentos e
vilas.
O processo de mudança de gosto e propósitos do fazer artístico e arquitetônico seria radicalmente transformado com a contratação da Missão Artística Francesa, em 1816, chefiada
pelo Professor Joachim Lebreton. Além deste, o grupo era constituído por Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny, arquiteto – com os discípulos Charles de Lavasseur e Louis
Ueier:Auguste Marie Taunay, escultor, e seu filho, Félix Taunay, ainda jovem aprendiz; Charles-Simon Pradier, gravador; François Ovide, mecânico; Jean Baptiste Leve, ferreiro;
Nicolas Magliori Enout, serralheiro; Pelite e Fabre, peleteiros; Louis Jean Roy e seu filho, Hypolite, carpinteiros; François Bonrepos, auxiliar de escultura; Zéphyrin Ferrez, gravador de
medalhas e os artistas abaixo apresentados.
Fonte: Wikipedia
No mesmo ano, Lebreton elaborou uma proposta de nova metodologia do ensino através da criação de uma escola superior de Belas Artes, com disciplinas sistematizadas. O ensino
seria oferecido em três etapas: desenho geral e cópia de Modelos dos grandes mestres, para todos os alunos; desenho de corpos em vulto completo e das formas naturais, além de
elementos da modelagem tridimensional, para escultores; pintura e escultura seguindo os cânones acadêmicos clássicos, utilizando modelo vivo, para pintores e escultores,
respectivamente.
Para os arquitetos, havia também uma sistematização dividida em três módulos teóricos e outros três práticos. Na teoria, eram: História da Arquitetura com estudo das obras dos
antigos; Construção e Perspectiva; Estereotomia. Na prática: Desenho; Cópia de Modelos e Estudo de Dimensões; Composição de Elementos.
Um dos mais importantes membros da Missão foi o arquiteto Grandjean de Montigny, que
permaneceu no Brasil até sua morte, em 1850. Profissional gabaritado, com enorme
bagagem profissional, ele realizou grandes projetos de arquitetura e urbanismo, dos quais
infelizmente poucos foram postos em prática, muito em função das condições econômicas
e políticas do Brasil na primeira metade do século XIX.
Quase 200 de seus projetos estão arquivados na Escola de Belas Artes da UFRJ, no
Museu Nacional de Belas Artes, na Biblioteca Nacional e no Museu Dom João VI,
atestando sua ampla produção em diversas frentes de trabalho, desde a ampliação de
praças, construção de chafarizes, projetos urbanísticos e construção de edifícios com
funções determinadas, como palácios, escolas, teatros, mercados, alfândegas etc. Seu
projeto para o prédio da Academia Imperial de Belas Artes foi iniciado em 1816 e concluído
em 1826, constituindo num dos principais exemplares do Neoclássico no Rio de Janeiro.
Demolido em 1937, o pórtico principal hoje se encontra reerguido no Jardim Botânico do
Rio de Janeiro.
Outro projeto ainda existente é o edifício da antiga Praça do Comércio, atual Casa França-
Brasil, que apresenta planta em cruz grega, com duas naves cobertas por abóbadas. Sua
ornamentação é bastante discreta, restringindo-se à observação dos parâmetros das
ordens arquitetônicas clássicas, com colunas monumentais, e a sucessão dos
componentes, como o entablamento típico da ordem toscana e o frontão triangular.
Fonte: Wikipédia.
Outra figura proeminente da Missão Artística Francesa foi o pintor Jean Baptiste Debret,
ex-aluno da Academia de Belas Artes de Paris e primo de Jacques-Louis David.
Permaneceu no Brasil desde a chegada da Missão até 1831, quando retornou a Paris. Sua
atuação como professor no Brasil foi muito importante, trabalhando com a cadeira de
Pintura Histórica desde 1820.
Algumas das obras mais consagradas nesta vertente são a pintura da chegada da
Imperatriz Leopoldina, em 1817, e a ornamentação de grandes festas públicas, com a
ajuda do escultor Auguste-Marie Taunay, como Retrato de Dom João VI, 1817.
Fonte: Wikipédia.
Princesa Leopoldina no Brasil, Jean-Baptiste Debret ,1817.
Com maior ou menor participação na construção de um novo ambiente artístico no Brasil do século XIX, os artistas da Missão Francesa ajudaram a elevar o estatuto da profissão a
outro patamar, formando alguns dos principais intelectuais do universo cultural brasileiro do século XIX, como Manuel de Araújo Porto-Alegre.
Fonte: Wikipédia.
Fonte: Wikipédia.
Dom Pedro I. Manuel de Araújo Porto-Alegre, 1826.
Manuel de Araújo Porto-Alegre., Ferdinand Frumholz, 1848.
A Academia foi responsável pela primeira exposição de arte realizada no país: a exposição
de pintura histórica, de 1829. Convocada pelo Imperador por meio de decreto, com
participação e mobilização efetiva de Araújo Porto-Alegre e Debret, a mostra apresentou
47 trabalhos de pintura histórica e 106 estudos de arquitetura, realizados por Debret,
Montigny e seus alunos, respectivamente. Além disso, foram expostos quatro obras
paisagísticas e quatro bustos elaborados pelo escultor Marc Ferrez.
Considerada um sucesso, foi visitada por mais de duas mil pessoas, sendo amplamente
coberta pela imprensa da época. Entre as obras de cunho histórico, destacaram-se as
pinturas de Debret: Desembarque da Imperatriz Leopoldina e Retrato de Dom João VI.
Fonte: Wikipédia.
A IMPORTÂNCIA DE DEBRET
Durante os quinze anos em que esteve no Brasil, Debret coletou farto material para sua
emblemática obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, amplamente ilustrada, onde o
artista registrou, em aquarelas, hábitos e profissões, costumes e detalhes do cotidiano do
Rio de Janeiro de seu tempo.
Arco de alongamento brasileiro nativo com pés, Debret, 1844. Fonte: Shutterstock.
Arco de alongamento brasileiro nativo com pés, Debret, 1844.
O reinado de Dom Pedro II foi bastante importante para a constituição da identidade do Brasil enquanto nação. O desenvolvimento da economia cafeeira ajudou a fortalecer uma elite
enraizada na tradição aristocrática e patriarcal da colônia, mas também identificada com os ideais, costumes liberais e os novos padrões de consumo procedentes do Velho
Continente. O gosto pelo colecionismo de eminentes personalidades da sociedade permitiu a entrada no país de um repertório da arte europeia através de encomendas ou viagens ao
exterior.
Em 1830, aconteceria a segunda exposição, novamente com a participação e o empenho de Araújo Porto-Alegre. Contando com os mesmos artistas do ano anterior, a mostra reuniu
52 pinturas, 13 paisagens, 11 esculturas e 82 projetos arquitetônicos.
Ambas as exposições, de 1829 e 1830, eram exclusivas de alunos e professores da AIBA, não permitindo a inscrição de artistas externos.
SAIBA MAIS
Henrique José da Silva impunha sua autoridade em episódios de franco antagonismo, como quando recusara a mudança do horário das aulas de Grandjean de Montigny, demanda
solicitada por este último pelo fato de residir na Gávea, tendo de viajar a cavalo para o Centro do Rio de Janeiro.
A mesma querela se comprovou pela falta de interesse do português com as exposições, que não atraíram seu interesse apesar do sucesso de público e crítica. Em 1831, com o
retorno de Debret e a ida de Araújo Porto-Alegre para a França, as mostras deixaram de ser realizadas periodicamente, além de passarem a ser mais restritas.
ANO 1840
Em 1840, no âmbito da Academia, uma das principais ações do seu diretor geral – Félix-Émile Taunay – foi solicitar ao imperador D. Pedro II que as exposições fossem abertas aos
artistas externos, tornando-se, a partir de então, exposições gerais.
O diretor acreditava que a rivalidade entre artistas acadêmicos e não acadêmicos poderia estimular o desenvolvimento das artes e o interesse da crítica e do público. D. Pedro II
acatou o pedido, desde que as obras expostas fossem consideradas merecedoras de estarem nas mostras. Assim, em dezembro de 1840, é realizada a primeira Exposição Geral no
Brasil, prestigiada pela presença do Imperador e da aristocracia brasileira, aclamada pela crítica e pela imprensa nacional, transformando-se numa agenda oficial do Império nos
meses de dezembro.
Apesar de não ter sido elaborado um catálogo oficial, a imprensa da época começava a exercer um trabalho de crítica, alinhando-se ao que já vinha ocorrendo na cobertura dos
salões europeus, atendo-se às questões plásticas, materiais e técnicas das principais obras.
As premiações outorgadas eram indicadas pela Congregação, pelo colegiado designado para realizar tal avaliação. Félix Émile Taunay encaminhava as decisões diretamente ao
Imperador, que as concedia. A aquisição de obras para a Pinacoteca também era sinalizada, contribuindo para o crescimento da coleção, atendendo a um dos maiores objetivos de
seu diretor.
Havia a premiação da medalha de ouro e de prata, além da condecoração de diversas ordens e menções honrosas. Configurando uma nova motivação aos artistas, as mostras
suscitavam diversas discussões durante todo o ano, até a chegada de uma nova exposição.
Ainda em 1840, é inventada a fotografia, técnica que revolucionaria os padrões de representação da realidade. Isto porque, por mais que os artistas buscassem a total isenção, era
impossível não imprimir nas suas obras alguns traços de suas ideologias e personalidades. D. Pedro II, grande incentivador e entusiasta das artes e ciências, teria sido um dos
primeiros proprietários de um daguerreótipo nas Américas, demonstrando uma rápida penetração das descobertas científicas no território brasileiro, fato incomum na história do país
até então.
As exposições gerais seguem ocorrendo ano a ano, quando, em 1845 Félix Émile Taunay recomenda à Congregação que solicite a instituição dos Prêmios de Viagem ao Exterior.
O PRÊMIO
Os contemplados deveriam passar os dois primeiros anos na Academia da França em Roma, onde o aluno praticaria seu aperfeiçoamento em contato com os grandes mestres
europeus. O terceiro ano seria transcorrido nas principais cidades históricas e artísticas na Itália e na França.
PRIMEIRO GANHADOR
Em outubro de 1845, com rápida aceitação do imperador, é concedido o primeiro Prêmio de Viagem ao Exterior a Antonio Batista da Rocha, discípulo de Grandjean de Montigny.
PARTICIPANTES
Poderiam participar do concurso, ex-alunos graduados e estudantes já premiados em exposições anteriores. O prêmio não seria, portanto, concedido aos ganhadores das Exposições
Gerais, mas a alunos e egressos da AIBA.
OS GANHADORES E A ACADEMIA
Os ganhadores do Prêmio de Viagem tornavam-se pensionistas da Academia e deveriam frequentar os ateliês dos grandes mestres europeus, além de seguir rigorosas orientações
do seu programa de aperfeiçoamento, o que não impediu o insucesso e/ou a desobediência de alguns artistas. Era muito comum que estes alunos tivessem de executar cópias de
obras consagradas, algumas na sua totalidade, outras para reforçar detalhes mais preciosos da sua composição. Muitos destes trabalhos compõem hoje o acervo do Museu Nacional
de Belas Artes e do Museu Dom João VI.
Amparada pelo Estado, a arte neoclássica teve naturalmente maior destaque no contexto artístico brasileiro do século XIX. Não obstante, tal constatação não significa que o modo de
produção e o espectro formal da produção artística dos tempos de colônia tenham desaparecido.
Na capital e nas províncias, igrejas e demais fundações clericais, com sua imaginária, suas talhas e pinturas, prolongaram por um longo período as formas e a iconografia colonial,
aclimatada ao seu tempo pela conotação classicizante.
No Rio de Janeiro, por exemplo, muitos monumentos foram construídos no século XIX, em que os elementos do Pombalino, Barroco tardio, presente nas fachadas, convivem com
uma talha de fatura neoclássica, ainda que não constituída sob os rígidos preceitos da ornamentação sóbria deste estilo, possibilitando certos exageros decorativos.
Fonte Wikipedia
Ainda há de se destacar a produção anônima de uma grande quantidade de mestres de obras e artífices, que dão conta de projetos arquitetônicos e ornamentação de uma série de
solares, capelas, sedes de fazenda e residências pelos sertões do país, num momento de expansão da economia cafeeira e interiorização.
Essa arquitetura vernacular, espalhada por todo o Brasil, demonstra que o Neoclassicismo, ao contrário do que afirmava a historiografia ligada ao Modernismo, não representou um
corte violento na tradição arquitetônica do povo brasileiro, graças à imposição alienada de padrões europeus.
Ao contrário, os valores de contenção e harmonia clássicas estavam em plena sintonia com a simplicidade da arquitetura civil colonial de raiz portuguesa.
Durante os quinze anos em que esteve no Brasil, Debret coletou farto material para sua
emblemática obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, amplamente ilustrada, onde o
artista registrou, em aquarelas, hábitos e profissões, costumes e detalhes do cotidiano do
Rio de Janeiro de seu tempo.
O segundo exemplo é a obra do escultor e aluno da AIBA Antônio de Pádua e Castro. Como toreuta, integrou a geração de 1840 a 1860. Seu nome se encontra ligado a vários
contratos de obras para as principais igrejas do Rio de Janeiro, na sua maioria pertencentes a Ordens Terceiras ou Irmandades.
No período em questão, vários desses monumentos foram construídos (Igreja do Santíssimo Sacramento), reformados ou ampliados (Igreja da Ordem Terceira do Carmo, que teve a
sua talha completada; Igreja São Francisco Xavier do Engenho Velho; Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Paula etc.).
A produção de Pádua e Castro é vasta e se concentra, principalmente, nos decênios de 1860 a 1870, identificada em registros que se referem ao artista como toreuta, administrador
de obras, desenhista, arquiteto, matemático, além de professor da disciplina de escultura de ornatos na Academia Imperial de Belas Artes. Especialista em torêutica, isto é, arte de
trabalhar o metal por moldagem, cinzeladura, tauxia e marchetaria.
Para a ilustração da justaposição do estilo neoclássico com as formas tradicionais oriundas do Barroco e Rococó produzidos nos tempos coloniais, vamos nos ater a duas das suas
principais obras:
TOREUTA
Interior da Igreja Ordem Terceira do Carmo do Rio de Janeiro e suas talhas. Fonte: Wikipédia.
No primeiro exemplo, podemos observar o esforço de Pádua e Castro em absorver e amalgamar as formas originais do Rococó reproduzido na talha original da Igreja da Ordem
Terceira do Carmo. Seu trabalho consistiu basicamente em preencher as lacunas nas quais não havia preenchimento (o estilo Rococó pressupõe a existência de retábulos e relevos
intercalados por espaços vazios de parede nua (só no reboco caiado para respiração), conferindo um aspecto mais pesado ao conjunto, semelhante à talha barroca. Neste sentido,
poderíamos dizer que o escultor imitou as formas rococós, já totalmente em desuso na ornamentação do século XIX, a fim de imprimir uma coesão estilística ao conjunto.
No segundo caso, Pádua e Castro preencheu a Igreja do Santíssimo Sacramento com uma talha que reproduz as formas e composições decorativas do Neoclassicismo (guirlandas,
florões, folhas de acanto, baldaquino com colunas compósitas etc.), ainda que a madeira dourada e o excesso de elementos nos remetam invariavelmente ao tipo de ornamentação
praticada nos tempos coloniais.
Para além do requinte e da qualidade da fatura da obra de Pádua e Castro, os dois exemplares escolhidos ratificam nossa observação da coexistência de um Neoclassicismo
adaptado à realidade e ao legado das artes visuais produzidas no Brasil ao longo dos séculos anteriores, manifestando sua sobrevida no gosto de muitos dos encomendantes de
obras durante todo o século XIX – sobretudo no gênero da arte sacra – e pavimentando o caminho para o desenvolvimento do Ecletismo nas últimas décadas do século XIX.
Vamos exercitar?
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (MACKENZIE 2010)
NESTE ANO [DE 2010], EM QUE COMEMORAMOS AS RELAÇÕES BRASIL-FRANÇA, VERIFICAMOS QUE AS INTERFACES QUE LIGAM AS
DUAS NAÇÕES SÃO MARCANTES AO LONGO DE TODA A NOSSA HISTÓRIA. A PRESENÇA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA NO BRASIL,
EM 1808, MOTIVOU, ENTRE OUTROS EVENTOS, A VINDA DA MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA, EM 1816, PORQUE...
A) O estilo neoclássico trazido pelos artistas franceses traduzia o modelo ideal de civilização, de acordo com os padrões da classe dominante europeia, sendo essa a imagem que o
governo português desejava transmitir, naquele momento, do Brasil.
B) A arte acadêmica, afastando-se dos motivos religiosos e exaltando o poder civil, as datas e os personagens históricos, agradava mais às classes populares nacionais, ansiosas por
imitarem os padrões europeus.
C) Somente artistas franceses poderiam retratar, com exatidão e competência, a paisagem e os costumes brasileiros, modificados com a vinda da família real para a colônia.
D) Era necessário criar, na colônia, uma Academia Real de Belas Artes, a fim de cultivar e estimular, nos trópicos, a admiração pelos padrões intelectuais e estéticos portugueses,
reconhecidamente superiores.
2. (UEL 2016)
A IMAGEM ACIMA FOI PRODUZIDA POR DEBRET. SOBRE A RELAÇÃO DO NEOCLASSICISMO E A HISTÓRIA DO BRASIL, PODEMOS
AFIRMAR QUE: I) DEBRET FAZIA PARTE DA MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA QUE CHEGOU AO BRASIL EM 1816. II) A IMAGEM FOI FEITA
COM BASE NAS OBSERVAÇÕES DO ARTISTA DA VIDA COTIDIANA DO RIO DE JANEIRO. NO ENTANTO, GRAÇAS À CARACTERÍSTICA
MUITO INVENTIVA DE DEBRET, NÃO É POSSÍVEL CONSIDERÁ-LA PARA ENTENDER A REALIDADE BRASILEIRA DA ÉPOCA. III) PODEMOS
OBSERVAR ELEMENTOS DE UMA SOCIEDADE HIERARQUIZADA, PATRIARCAL E ESCRAVISTA NA IMAGEM. IV) A ESTÉTICA DA IMAGEM, O
EQUILÍBRIO DA GRAVURA, REMETE À TRADIÇÃO NEOCLÁSSICA NO BRASIL, EMBORA HAJA ADAPTAÇÕES.
GABARITO
1. (MACKENZIE 2010)
Neste ano [de 2010], em que comemoramos as relações Brasil-França, verificamos que as interfaces que ligam as duas nações são marcantes ao longo de toda a nossa
história. A presença da família real portuguesa no Brasil, em 1808, motivou, entre outros eventos, a vinda da Missão Artística Francesa, em 1816, porque...
Como apresentado nos parágrafos quarto a sexto desta aula, para adaptar o Rio de Janeiro ao status de sede do Império Português, Dom João VI implementa uma série de medidas
visando a modernização da cidade e do país, dentre elas a instituição de uma Academia Imperial de Belas Artes. Procurando dar ao Brasil um perfil atualizado, alçando os parâmetros
culturais brasileiros ao modelo de pensamento iluminista difundido na Europa, é realizada a contratação da Missão Artística Francesa, em 1816, chefiada pelo Professor Joachim
Lebreton.
2. (UEL 2016)
A imagem acima foi produzida por Debret. Sobre a relação do Neoclassicismo e a história do Brasil, podemos afirmar que: I) Debret fazia parte da Missão Artística
Francesa que chegou ao Brasil em 1816. II) A imagem foi feita com base nas observações do artista da vida cotidiana do Rio de Janeiro. No entanto, graças à
característica muito inventiva de Debret, não é possível considerá-la para entender a realidade brasileira da época. III) Podemos observar elementos de uma sociedade
hierarquizada, patriarcal e escravista na imagem. IV) A estética da imagem, o equilíbrio da gravura, remete à tradição neoclássica no Brasil, embora haja adaptações.
Quando falamos da obra de Debret, ressaltamos que ela revela duas vertentes distintas: a primeira como pintor viajante, registrando a fauna, a flora e os costumes de diversos pontos
do país, com destaque para o Rio de Janeiro. A segunda como pintor histórico, a serviço da corte. A respeito da primeira vertente, seu interesse pelo pitoresco e exótico, presente
nestas obras, já denotam uma motivação romântica, que se acentuará nas gerações posteriores; suas pinceladas são breves e há pouca presença das linhas dos contornos,
terminando por não delinear completamente as figuras ou as fisionomias. Esse trabalho foi de suma importância para se revelar a realidade sociocultural brasileira da época, sem
deixar de reproduzir elementos da estética adaptados à realidade brasileira, ao sistema patriarcal e aos antagonismos e às contradições de uma sociedade escravista.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neoclassicismo é um movimento artístico herdeiro de uma longa tradição europeia que reconhece o valor de seu passado na Antiguidade e no redimensionamento desta. No século
XVIII, a burguesia já era uma força poderosa, mas a tradição nobiliárquica era uma realidade, e isso era a base do Neoclassicismo. Some-se a esse contexto as descobertas da
Arqueologia, que fazem emergir das grutas e das cinzas mais resquícios vivos de Roma.
Ícone da urbanidade, o Neoclassicismo torna-se marca dos prédios públicos, das decorações e de poder a partir da segunda metade do século XIX. É um sinal de bom gosto,
equilíbrio, em uma sociedade que buscava se estruturar pelo princípio da razão, no qual a busca do belo passava a ser significativo e se manifestou dessa forma desde a Arquitetura
até a pintura europeia.
Nos trópicos, uma nova corte emerge, e a capital transplantada do Império Português será reestruturada, remodelada, revalorizada; para tal, artistas franceses serão contratados,
prédios públicos e academias, construídos, consolidando, assim, a primeira geração de artistas locais ícones da relação, algo até hoje vivo entre o Brasil e o Neoclássico.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
EXPLORE+
Sobre os 200 anos de chegada da Missão Artística ao Brasil, comemorados em 2016, recomendamos o vídeo da TV PUC-Rio.
Para conhecer um pouco mais sobre a obra de Grandjean de Montigny e Jean-Baptiste Debret, integrantes da Missão Artística Francesa, recomendamos a visita ao portal Itaú
Cultural com os projetos deixados pelo primeiro e o acesso à íntegra da publicação “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, publicada pelo último em 1834.
Para conhecer com mais profundidade a história dos salões no Brasil, recomendamos a publicação da Profa. Dra. Angela Ancora da Luz Uma Breve História dos Salões de
Arte, e sua entrevista concedida pela autora sobre a referida obra.
Para conhecer outras informações da biografia de Manuel de Araújo Porto-Alegre, recomendamos a leitura de seu perfil no Portal do Instituto Histórico e Geográfico
brasileiros;
REFERÊNCIAS
ARGAN, G. Co. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
BURKE, E. Indagación filosófica sobre el origen de nuestras ideas acerca de lo sublime y de ló bello. Espanha: Editorial Tecnos S.A., 1987.
CUNHA, A. P. Dicionário de artes plásticas: guia para o estudo da História da Arte. Rio de Janeiro: Rio Books, 2019.
FERNANDES, C. V. N. A talha religiosa da segunda metade do século XIX no Rio de Janeiro através do seu artista maior: Antônio de Pádua e Castro. Dissertação: Mestre em
Artes Visuais (História e Crítica da Arte). Universidade Federal do Rio de Janeiro – EBA, 1991.
KNAUSS, P. O cavalete e a paleta: arte e prática de colecionar no Brasil. In: ANAIS do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro: MHN, 2001.
LUZ, A. A.. Uma breve história dos salões de arte: da Europa ao Brasil. Rio de Janeiro: Caligrama, 2005.
OLIVEIRA, M. A. R.; PEREIRA, S. G.; LUZ, A. A. História da Arte no Brasil: textos em síntese. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.
PANOFSKY, E. Estudos de Iconologia: temas humanísticos na arte do Renascimento. Lisboa: Editorial Estampa, 1982.
CONTEUDISTA
CURRÍCULO LATTES