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Diálogo

RBP50-2 PR-2 (LIVRO)_2016.indb 137 29/06/16 16:21


Fantasia e pornografia:
transformações do desejo em tempos atuais

Francesco Castellet y Ballarà

Revista Brasileira de Psicanálise Francesco Castellet y Ballarà é


volume 50, n.2, p. 139-153 · 2016 membro da Società Psicoanalitica
Italiana (SPI), em Roma, Itália.

Resumo
O autor abordará o fenômeno atual do sexo virtual,
que cada vez mais faz parte da nossa sexualidade,
em todas as idades, influenciando, moldando e sendo
moldado por nossas fantasias sexuais. Ser capaz de criar
uma relação analítica a dois em que esse tipo de estado
mental autoerótico, com frequência dissociado, pudesse
ser partilhado e colocado em palavras seria crucial para
personalidades inibidas, retraídas e autísticas, mas é também
importante como instrumento para investigar relações
internas de objeto de nossos pacientes em geral.
Palavras-chave
pornografia; masturbação; fantasia; desejo; neurociência
afetiva; teoria relacional e intersubjetivismo; trauma
relacional precoce e dissociação.

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Em última análise, o orgasmo exige também, bem como a possibilidade de


momentos de inconsciência, experiência criar avatares/bonecos sexuais de estrelas
extremamente ameaçadora para quem
pornô ou adaptados às nossas fantasias eró-
tem profunda desconfiança. Experiências
do início da vida […] serão evocadas ticas pessoais.
inevitavelmente durante a experiência Assim, o vício ou dependência ao mundo
sexual. virtual, no campo erótico/sensual/sexual,
(Andrea Celenza) já uma poderosa realidade econômica e
sociológica atual, ficará tão disseminado

P ietro Adamo (2004), reconhecido aca-


dêmico italiano em estudos de mídia sobre
que os termos vício ou dependência prova-
velmente serão inadequados.
Na realidade, as mídias sociais estão
pornografia, afirma: “A partir do momento mudando nosso mundo relacional tam-
da sua legitimação no mundo ocidental bém no que diz respeito a sexualidade e
[…] no final dos anos 1960, a pornografia intimidade.
de massa tornou-se um fenômeno cultural A masturbação é cada vez mais aceita
e econômico sem comparação na moder- como aspecto normal da sexualidade
nidade recente” (p. 95). humana, em todas as idades.
Hoje em dia, a pornografia, definida, em Colarusso (2012), em seu abrangente
termos gerais, como representação explícita artigo sobre a fantasia masturbatória cen-
de órgãos sexuais em estado de excitação, tral (CMF), atualiza e amplia sua defini-
atos sexuais e orgasmos, participa tanto da ção e uso a partir do conceito original de
nossa cultura popular que o termo voyeu- Laufer (1976), inicialmente limitado a
rismo está se tornando obsoleto, bem como adolescentes do sexo masculino e vincu-
sua contraparte, exibicionismo. Explorar a lado à resolução do complexo de Édipo
pornografia na Internet também faz parte na adolescência. Ao relatar seus estudos
da educação sexual de nossos adolescentes sobre CMF em pacientes do sexo masculino
e de autoentretenimento/diversão em todas de todas as idades e sua modificação no
as idades, seja sexo solitário, seja de casal. curso do tratamento analítico, esse autor
Além disso, os avanços técnicos em ciên- propõe que a fantasia masturbatória cen-
cia da computação e a difusão de mídia tral começa durante os anos pré-edípicos
social na Internet permitem que as fantasias e edípicos e se consolida na adolescência,
eróticas pessoais e privadas do indivíduo mas permanece em processo de evolução
sejam partilhadas com outros e/ou sejam contínua durante o ciclo vital. Além do
representadas em pornografia na Internet. mais, em nossa prática clínica, devemos
No momento, a virtualidade ­limita-se ape- considerá-la como conceito essencial para
nas aos canais perceptivos visuais e auditi- compreender processos psicodinâmicos
vos, mas, em futuro próximo, substitutos
digitais de outros canais (cheiro, gosto e
toque) provavelmente estarão disponíveis

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normais e patológicos em pacientes adul- para mencionar um deles, a inversão de


tos, do sexo masculino e feminino, inde- papéis é muito comum, como observamos
pendentemente de sua orientação sexual. frequentemente em devaneios. Segundo
Ele também ressalta que esse tema é Freud, tanto o devaneio quanto o sonho
pouco investigado e elaborado de forma noturno partilham a mesma natureza e
ativa durante a formação psicanalítica, em objetivo fundamental de representação de
primeiro lugar, e na prática analítica habi- desejo e realização por meio da alucinação
tual, depois, dentro da nossa comunidade, visual da experiência de satisfação.
apesar da sua utilidade. Assim, podemos considerar as fantasias
Especialmente em casos de transtornos masturbatórias, de modo semelhante ao
graves de personalidade, ele afirma que “a devaneio, como um tipo de pensamento
investigação das fantasias masturbatórias de (icônico) que, conforme a proposição de
indivíduos sujeitos a tais experiências é cru- Hartmann (1939), pode funcionar como
cial para compreender sua psicodinâmica “preparação para a realidade e pode con-
e possivelmente na prevenção de delitos duzir a um domínio melhor dela. Fanta-
sexuais” (Colarusso, 2012, p. 943). sia pode satisfazer uma função sintética ou
Portanto, a questão real sobre masturba- ligar provisoriamente nossas necessidades
ção tornou-se o nível/quantidade de imersão e objetivos com maneiras possíveis de rea-
e adição ao mundo virtual de pornografia lizá-los” (p. 18).
ou fantasias pornográficas vs. relações reais. A excitação sexual com certeza é gerada
Sigmund Freud (1900/1953a, 1908/1959, por fantasias (narrativas ou roteiros) que
1911/1958), no decorrer dos seus escritos,
continuou a indagar a respeito do status nascem e se cultivam em cada mente ima-
complexo de Phantasie, em alemão, ou tura durante o início e o meio da infância e
fantasy, em inglês. evolvem para fantasias masturbatórias singu-
Tendo em mente que, em alemão, esse lares na adolescência. Essas fantasias mas-
termo significa imaginar, Freud considera turbatórias, por sua vez, tornam-se a base
que a fantasia está estreitamente vinculada sobre a qual se encena a tarefa socialmente
a desejo, independentemente da sua natu- adaptativa da relação sexual. (Shapiro, 2008,
reza consciente ou inconsciente. Fantasia p. 123)
é uma narrativa visual ou roteiro em que o
sujeito está sempre presente, não só como Podemos definir o trauma relacional
observador, mas como participante ativo, inicial (ERT) como a não confirmação do
em que se ativam defesas e ocorrem dinâ- estado de self do bebê pela figura de apego,
micas complexas e transformações (Laplan- geralmente genitor ou cuidador, isto é, a
che & Pontalis, 1967). Por exemplo, apenas não confirmação do estado afetivo interno
do bebê em busca de validação na rela-
ção com um adulto significativo (Bara-
don, 2010). O trauma relacional inicial

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não recuperado de forma crônica pelos De acordo com a neurociência afetiva


cuidadores leva à dissociação crônica como contemporânea (Panksepp & Biven, 2012),
principal mecanismo de defesa e subse- o desejo sexual constitui um sistema afetivo
quentemente à tendência a desenvolver primário separado com seu circuito espe-
psicopatologias graves na adolescência ou cífico diferente em seres humanos do sexo
na vida adulta, que incluem transtornos masculino e feminino.
dissociativos de identidade, transtornos de No nível psicobiológico, há diferenças
estresse pós-traumático, transtornos psi- específicas e marcadas entre os dois sexos
cóticos, transtornos alimentares, abuso e é possível toda uma gama de variabili-
de substâncias e alcoolismo, transtornos dade que inclui transgêneros, homosse-
somatoformes e transtornos sociopáticos e xualidade, bissexualidade, mas também
borderline de personalidade (Schore, 2010). mente masculina em corpos femininos e
Essas consequências psicopatológicas indivíduos com cromossomos XY e carac-
do ERT explicam-se pelo fato de que, ao terísticas de corpo feminino e mentes mas-
final do primeiro ano de vida, o hemisfério culinas típicas.
direito do cérebro imprime, na memória Na realidade, mentes e corpos em uma
implícita processual inconsciente, expec- única pessoa podem ser incongruentes e
tativas processuais da disponibilidade dos dissonantes, o que surge plenamente à vista
outros durante o estresse, que são vivencia- com a puberdade na adolescência.
das de forma carregada afetivamente, cog- O problema é que, no nível corporal,
nição encarnada (“intuição”) que é muito o gênero sexual normalmente é evidente
potente em orientar o comportamento em si (pênis ou vulva), enquanto no nível
(Schore, 2010, p. 28). mental não o é, apesar de o aspecto crucial
As fantasias masturbatórias são uma estar na mente/cérebro.
das “narrativas” mais privadas, certamente Por exemplo, é bem conhecido que a
baseadas em “intuição”, que podemos exposição a extremo nível de estresse, a estro-
explorar, como psicanalistas, para com- gênio e a poluentes no ambiente durante o
preender experiências relacionais iniciais último trimestre de gestação pode produzir
e seus resultados com frequência traumáti- bebês com o sexo da mente e o do corpo
cos. A psicanálise, com seu método peculiar opostos, já que a sexualização como gênero
de investigação da mente humana em uma do cérebro ocorre durante esse período e
relação dual e emocionalmente íntima, tem segue um trajeto diferente com hormônios
uma longa tradição de pesquisa no campo diferentes comparado ao do corpo.
da fantasia erótica da mente humana, Contudo, a bissexualidade originária,
durante todo o ciclo vital, que é o motor da postulada por Sigmund Freud (1905/1953b)
excitação sexual por trás da masturbação e em seus Três ensaios sobre a teoria da
da sexualidade com um parceiro.
O que sabemos sobre as origens das fan-
tasias masturbatórias?

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sexualidade, está ganhando uma fundação Idealmente, no início das relações eró-
biológica que apoia uma visão muito mais ticas de adolescentes e de adultos, o fato
aberta sobre identidades e escolhas sexuais, de o casal partilhar fantasias conscientes
ao extremo de se considerar heterossexual permite excitação sexual e intimidade mais
ou homossexual apenas indivíduos que francas, ao reduzir a vergonha, a culpa e a
são mais exceção do que regra, e, o que é ansiedade vinculadas à manutenção secreta
mais importante, a identidade de gênero das próprias fantasias eróticas e as profun-
é determinada pela densidade de recepto- das necessidades emocionais por trás.
res cerebrais de testosterona que se fixa no Isso fica especialmente evidente no
recém-nascido e depois não é passível de caso de adolescentes gays que, como pri-
modificação pela educação ou psicoterapia. meiro passo, precisam aceitar suas fantasias
Assim, a identidade de gênero não é cul- homoeróticas como as condições dominan-
turalmente determinada, mas pode ser cul- tes para a excitação. Nesse caso, explorar
turalmente distorcida. pornografia gay pode ter um papel funda-
Na verdade, fatores culturais e históri- mental (Lemma, 2015).
cos influenciam as narrativas pessoais eró-
ticas ou fantasias masturbatórias que os
adolescentes e depois adultos criam para Psicanálise clínica de fantasias
dar apoio à excitação. A cultura muda masturbatórias
constantemente o que vivenciamos como
excitante, especialmente no nível da lin- Aprofundando o trajeto para as raízes das
guagem e da moda corporal. fantasias masturbatórias na prática clínica,
Todavia, alguns padrões constantes em estudiosos da psicanálise investigaram os
fantasias sexuais foram descritos por pes- vínculos entre as vicissitudes relacionais
quisadores (Masters & Schwartz, 1984), do bebê e o desenvolvimento do auto e do
tais como substituição do parceiro esta- heteroerotismo.
belecido, encontros sexuais forçados, sexo Segundo o psicanalista francês René
grupal, imagética sádica, mas também Roussillon, uma das questões mais proble-
memórias de experiências sexuais passa- máticas da adolescência é a integração de
das. Essas fantasias são comuns a homens Eros, desejo sexual (amor apaixonado) e
e mulheres hetero e homossexuais. orgasmo sexual na vida psíquica.
Na puberdade, as fantasias masturbató- A partir de um ponto de vista intrapsí-
rias sob a influência do aumento hormonal quico, ele propõe diferenciar duas modali-
tornam-se mais intensas e focadas em pene- dades eróticas que precisam ser integradas
tração e suas formas ativa e passiva para ao mínimo de conflitualidade.
ambos os sexos. A primeira dirige-se ao outro/objeto,
aceita a dependência e tenta reduzir seu
impacto por meio da posse, comunicação
e assim por diante.

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A outra desenvolve capacidades autoeró- No filme Ela (2013), comédia dramática


ticas por meio da representação interna do romântica norte-americana, escrita, dirigida
objeto e tenta recuperar as qualidades que e produzida por Spike Jonze, Theodore
a idealização heteroerótica precedente deu Twombly (Joaquin Phoenix) desenvolve
ao objeto desejado. uma relação amorosa apaixonada por
Na verdade, a dependência ao outro só Samantha (Scarlett Johansson), sistema ope-
é tolerável se não for forte demais; então o racional inteligente de computador perso-
sujeito desenvolverá o autoerotismo para nificado por uma sensual voz feminina. Na
lutar contra ela e para relativizá-la. verdade, Samantha seduz centenas de usuá-
A tolerância ao autoerotismo é essencial rios ao mesmo tempo, em uma espécie de
se presumirmos o equilíbrio conflituoso e romance virtual inteiramente baseado em
necessário entre amor e ódio (ambivalên- sua presença virtual sedutora, constante e
cia), heteroerotismo e autoerotismo e, final- cuidadosa de forma sobre-humana.
mente, entre autoerotismo e culpa, quando O cenário representado em Ela não está
consideramos que para os objetos primários muito distante do que tratamos em nossa
é inaceitável a paixão ou o ódio expresso em clínica, especialmente com nerds de com-
fantasias autoeróticas e ocorre a interioriza- putador, viciados em pornografia e mun-
ção deles como superego sádico. dos virtuais como forma de contornar suas
No campo teórico de pesquisa de bebês dificuldades relacionais.
e neurociência afetiva, essa situação de con- Ao mesmo tempo, em outras situações
flito com os objetos parentais é vista como clínicas e da vida cotidiana, a pornografia
secundária e descrita em termos de deficit/ como fantasia e sexo solitário é também
falta de sintonia na relação com o cuida- um jeito de lidar com frustrações relacio-
dor, que leva a conflitos internos (identi- nais e, com frequência, de se adaptar a rea-
ficação com o agressor e dinâmica de self lidades duras e, às vezes, imodificáveis, tais
falso-verdadeiro) e dificuldades relacionais como solidão, encarceramento, doenças,
com outros em um estágio subsequente. limitações físicas, incompreensões conju-
Em nossa população clínica, trabalha- gais, deficit, e assim por diante.
mos, com frequência, com personalidades Com certeza, “o estudo da cultura visual
narcísicas e borderline em que a mastur- permitiria que os psicanalistas reconsideras-
bação e a pornografia podem representar sem a importância do papel desempenhado
uma compensação parcial importante e pela visão, fantasia visual e representação
não enfrentamento das frustrações inevi- icônica nas primeiras fases da construção
táveis vinculadas ao encontro com o outro, do self e o significado mais amplo da ver-
outro que atua como limite para as fantasias gonha na vida cotidiana” (Pajaczkowska &
onipotentes estimuladas como compensa- Ward, 2008, p. 2).
ção para os sentimentos inconscientes de
impotência e desespero devido a traumas
relacionais iniciais.

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A masturbação e seus dissabores: que, com frequência, são elaborações em


“A pornografia diz respeito a fantasia” posição de inversão de papéis (Stoller,
1975) dos traumas relacionais iniciais.
Se navegarmos em um dos inúmeros sites Por exemplo, as fantasias sadomasoquis-
pornográficos da web, poderemos ter uma tas podem ser relativas ao poder de um
ideia geral ou explorar em detalhes como genitor rígido, ao passo que, em outros
que um imenso catálogo de fantasias casos, o medo de rejeição, de não ter apoio,
sexuais humanas divididas por todas as pos- está por trás do impulso de se masturbar
síveis variações legais ou quase ilegais, que vendo pornografia, “realizando” virtual-
também constitui uma atualização impres- mente a fantasia de entrar no corpo de uma
sionante da pesquisa sobre as fantasias eró- mulher, de que ela o sustente com prazer,
ticas antes citadas. deseje e não rejeite.
É passível ainda de se considerar como É possível argumentar (Stoller ensina)
uma espécie de descrição do que pode esti- que os traumas relacionais iniciais são
mular a excitação sexual de uma pessoa, sexualizados/erotizados, de forma secun-
desde “pornografia” suave e romântica a per- dária, a seguir e após o desenvolvimento
versões radicais/bizarras, ou seja, as muitas das gônadas na adolescência.
faces de Eros (McDougall, 1995), o alfabeto Consequentemente, os roteiros pornográ-
da paixão erótica, mas, em minha opinião, ficos que possamos encontrar, explorando
também uma espécie de mapeamento de fantasias masturbatórias e escolhas eletivas
nossos mundos internos relacionais. de material pornográfico, em nossos pacien-
Do ponto de vista clínico, sugiro que tes, poderiam revelar dificuldades relacio-
a sexualidade fantasiada e atuada na mas- nais iniciais reconhecíveis em seu íntimo.
turbação estaria em contato mais próximo Ao ficarmos excitados ou estimulados
e exprimiria claramente a maneira pela sexualmente por uma sequência particu-
qual nossos objetos internos/múltiplos sel- lar em um filme ou imagem pornográfica,
ves se relacionam uns com os outros. É o que se ativa dentro de nós? Por que esco-
uma espécie de compilação onírica (prin- lhemos aquele gesto corporal, posição, som
cipalmente por meio de roteiros visuais) de ou expressão mímica particular? Os órgãos
nossas memórias relacionais iniciais, espe- sexuais são sempre excitantes per se? Qual
cialmente as traumáticas. o papel da beleza em tudo isso?
Geralmente a masturbação ocorre em Com certeza, partilhamos com outros
estado mental de dissociação e equivale mamíferos uma linguagem corporal
a atuações [acting outs] em que os selves comum que expressa o desejo (tal como
dissociados, peculiares a cada indivíduo, o reflexo de lordose); mas também é
podem se expressar, em roteiros eróticos muito humano, e talvez especificamente
humano, que a excitação sexual esteja
ligada a fantasias cada vez mais complexas
com a idade, a experiência e a liberdade

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interna. No entanto, são muito comuns figuras parentais ou sua perversão (o bebê
fantasias de posse, de submissão e de poder: é meu, eu o crio para minhas necessida-
o assim chamado sadomasoquismo normal des e ele não pode se diferenciar de mim)
(Celenza, 2014). impede o desenvolvimento do self (self ver-
Por exemplo, o sexo oral pode concreti- dadeiro), que é deslocado a uma distância
zar a fantasia de tomar posse do corpo do sideral (siderado) do sistema solar da cons-
outro, em um rito canibalesco a ser com- ciência e do ego pela estratégia de sobrevi-
preendido como forma de se alimentar dos vência do falso self.
fluidos corporais mais preciosos do outro. Nesses casos, com frequência, o self ver-
O corpo do outro excitado por “mim” dadeiro é vivido como um estranho amea-
é o alimento narcísico mais precioso. Ali- çador, paradoxalmente, uma aproximação
mento-me dele; seu prazer me valoriza. semelhante a um cometa de tempos em
Talvez, a insistência em close-ups geni- tempos.
tais, ao limite do tédio, na pornografia seja Desejo sexual encarnado, Eros, é um
uma tentativa de evitar focar rostos, nossa modo de o self verdadeiro poder estar vivo,
mais sofisticada expressão emocional. expressando novamente suas necessidades
Emoções verdadeiras são tão temidas e contornando o falso self, cujo acesso à
quanto desejadas em indivíduos dissocia- sexualidade é rígido e superegoico, rara-
dos traumatizados, e o canal não verbal mente ou jamais orgástico.
de mímica é especialmente potente em Em Eros, sendo possuído por ele, o self
nós desde as primeiríssimas horas de vida verdadeiro floresce procurando o espelha-
extrauterina (Stern, 1985). mento libidinal, o desejo original do outro
A etimologia de desire (desejo) também que faltou no início da vida mental: o outro
é útil para compreender o vínculo possível me des-sidera, então renasço.
entre trauma relacional inicial e fantasias Podemos dizer que, no nível de coesão,
eróticas. estrutura e manutenção do self, a sensua-
lidade como contato/sustentação corporal
desire (desejo): vem do francês antigo desi- (ser sustentado nos braços dos pais) antes
rer, que veio do latim desiderare, “desejar”, da puberdade e a sensualidade/sexuali-
“querer”; o sentido original possivelmente dade após têm papel fundamental com
era “aguarde o que os astros trarão”; da frase respeito a autoestima e valor, empatia e
de sidere, “dos astros”; de sidus e sideris (geni- assertividade.
tivo), “corpo celeste”, “astro”, “constelação”. Esse papel do desenvolvimento poderia
siderado: atordoado, atônito, estupefato. ser mais bem compreendido se considerar-
sideração: estar siderado ou atordoado. mos que a sensualidade e a sexualidade são
(www.wordinfo.info/unit/3601/ip:6/il:S) como dois lados da mesma moeda, assim

Seguindo Winnicott (1969), a falta de


investimento narcísico no bebê pelas

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como apego e sexualidade não são dois sis- instrumentos de comunicação são pré-ver-
temas motivacionais separados (Panksepp bais e, portanto, aqui “superfície” corres-
& Biven, 2012; Ogden, Minton & Pain, ponde aos estágios iniciais mais profundos
2006), mas, ao contrário, ganham força e originários da nossa mente, pertencentes
um do outro e, no desenvolvimento, um realmente até mesmo ao estágio fetal do
segue o outro. desenvolvimento humano, tal como relata
Além do mais, sexualidade é um termo Panksepp (Panksepp & Biven, 2012).
recente, datando do início do positivismo Visto que “o sistema de ação de apego
no século XIX (Foucault, 1984), e dá a sen- parece ser o sistema fundante para o da
sação de classificação, escola de medicina, sexualidade” (Ogden et al., 2006, p. 120),
do corpo separado da mente. Lichten- tato e a seguir a pele são respectivamente
berg (2008) também separa sexualidade o canal perceptivo e o órgão sensorial por
de sensualidade, mas reserva o primeiro meio dos quais o corpo interage e final-
para comportamentos ligados a traumas mente “se funde” com o outro.
relacionais. Paladar, olfato e audição não são menos
Para nós, do ponto de vista clínico, é essenciais no apego bem como na sexuali-
mais proveitoso utilizar o termo “sensuali- dade/sensualidade e fusão, demonstrando
dade, que está mais próximo da intencio- ainda mais suas profundas interconexões
nalidade do erotismo e de suas radiações de acordo com a neurociência afetiva.
estéticas e encarnadas” (Sissa, 2003, p. 7).
A sensualidade, estreitamente ligada
às experiências de vida do indivíduo, tem Limites do ego/self e a necessidade
uma evolução, um desenvolvimento pecu- de preencher o vazio interno (com o
liar para cada pessoa e, portanto, muda com desejo do outro)
o tempo. Na antiga cultura greco-romana,
Giulia Sissa, professora de história dos clás- Sexo diz respeito à fusão com outro corpo-
sicos e ciências políticas da UCLA, escreve: -mente, e fusão sempre se refere ao desejo
“Eros não é um repertório de atos sexuais e medo de mudar o próprio self ilusoria-
possíveis, mas de desejo que se origina do mente autônomo, mas essencialmente rela-
corpo” (2003, p. 8). cional e construído a dois.
De acordo com Andrea Celenza (2014), Os limites entre eu e o outro ficam indis-
podemos considerar as fantasias sexuais tintos na sensualidade/sexualidade, o que
como área transicional do brincar e da atinge o ápice durante o orgasmo, mas o
experimentação do desejo do indivíduo. nível de indistinção depende das emoções
Sexualidade e sensualidade consistem vivenciadas e da qualidade e franqueza da
em relações íntimas em que os principais relação. Quanto mais íntima se tornar a
relação, mais indistintos os limites.
Na realidade, como o self é uma “fic-
ção” construída a dois, o outro sempre tem

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um papel crucial nisso. A começar com Pornografia é exibir desejo para acender
o famoso lema de Donald W. Winnicott o desejo do espectador. O rosto, os movi-
(1965): o bebê não existe sem mãe; nos pri- mentos corporais e gestos dos atores pornôs
meiros estágios da vida psíquica, essa depen- precisam expressar desejo ou paixão erótica
dência constitutiva da presença psíquica do (da ternura ao excesso de desejo).
outro no íntimo do nosso senso de estar vivo, É tudo falso? E/ou como em atuação: há
de existir, literalmente, pode explicar a fun- algo no meio: é preciso sentir para atuar? O
ção que o autoerotismo tem como atividade que poderíamos dizer ao ver a ereção do pênis
integradora do self, como atividade conti- ou a umidade vaginal nesses casos? Sabemos
nente do self diante da ausência externa (do que não podem ser fingidas, pois não estão
outro, o outro significativo). sob controle voluntário; assim, os atores pre-
A autocontinência por meio da mastur- cisam estar sexualmente excitados sempre, ao
bação (e as fantasias por detrás) começa, menos os homens, ou precisam usar drogas.
normalmente, no primeiro ano de vida, Mas por quem e por quais fantasias?
para enfrentar leves feridas narcísicas ini- Desejo é disponibilidade corporal como
ciais e/ou abandono relativo, e é fisiológica: continente e conteúdo: “Vou tomá-lo em
o objeto ausente é alucinado (transformado meus braços/dentro do meu corpo”, mas
virtualmente) em objeto desejante, e mais também: “Quero ser sustentado/possuído”.
tarde, na adolescência e na vida adulta, basi- O estímulo mais excitante é o orgasmo
camente os mesmos roteiros/fantasias se mostrado no rosto da atriz/ator (a ruboriza-
repetem em quase todas as variantes, com ção do prazer no rosto) e/ou a ejaculação
a inversão final comum da recusa à aceita- real de esperma, que não pode ser fingida
ção, da solidão para estar junto, da humi- por ser um reflexo do sistema nervoso autô-
lhação ao triunfo (Stoller, 1975). nomo, uma reação corporal involuntária:
Dessa maneira, as agonias primitivas verdadeira como o corpo é verdadeiro –
despertadas pela ausência/perda temida portanto, confiável!
do objeto são mantidas à distância. Voltamos, então, à necessidade mais
Em casos mais graves de rejeição e aban- básica de uma base segura, um porto
dono real, a masturbação pode estar total- seguro, alguém confiável por ter prazer de
mente ausente ou ser compulsiva. Nos meus me ter dentro de si.
casos clínicos de adultos, as frustrações e Resumindo, eu poderia propor o seguinte
medos de ser rejeitado e não sustentado, e esquema focado nos canais visual e acústico
então cair interminavelmente, estão por trás de percepção que a pornografia mais ativa
do impulso a se masturbar, “realizando” vir- no espectador.
tualmente, em estado de dissociação, a fan- O espectador está em estado mental
tasia de entrar no corpo de outro, o corpo da dissociado/regressivo e procura “consolo”
mãe, e ser sustentado com desejo: o outro
que (me) deseja é o continente bom de
quem é possível nascer de novo.

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para seu mal-estar interno. Mais exata- de vingança versus abandono, negligência,
mente, uma imagem ou fantasma, roteiro, ou humilhação, mortificação.
cenário a ser usado para regular seus esta- Na verdade, toda a gama de afetos
dos emocionais internos. Podemos dizer, humanos pode ser sexualizada/erotizada.
seguindo Bromberg (2008), que o espec-
tador excitado de pornografia “não tem A sexualização/erotização da vergonha, por
uma fantasia inconsciente, mas é a fanta- exemplo, transforma-a em exibicionismo,
sia inconsciente” (p. 169). com a sensação de triunfo sobre o agressor
Como a competência do recém-nascido (o cuidador sem sintonia), tal como Stoller
em linguagem não verbal e sua dependência ressaltou em trabalho seminal (1975, 1985,
da mímica do rosto do cuidador para regula- 1991).
ção a dois, recíproca, do mundo interno/fisio-
lógico, o adulto, ao desfrutar pornografia, É importante lembrar que, dos Três
escrutina a mímica e gestos dos modelos ensaios sobre a teoria da sexualidade
pornô em busca da exibição involuntária (Freud, 1905/1953b) até hoje, a definição de
do mundo interno deles, para autorregu- perversão mudou muito, com estreitamento
lação do seu estado emocional interno da sua aplicação – que, para Freud, incluía
por meio da exposição revelada de prazer até homossexualidade. Por exemplo, sexo
erótico/orgasmo. oral e anal hoje são considerados variantes
Testemunhar (e se identificar com o normais de sexualidade. Além disso, aqui,
agente e com quem sofre a ação) o orgasmo não abordo comportamentos perversos per
do outro é um mecanismo regulatório do se, mas fantasias, e gostaria de citar a defi-
senso interno de valor e mérito. nição esclarecedora e atualizada de perver-
A ereção do pênis e a ereção do clitóris/ são de Richards (2003), em que a agressão
mamilos ou a lubrificação da vagina são sexualizada é o tema central:
expressões involuntárias do estado interno
de excitação – prazer de se relacionar –, Os atributos definitórios de perversão são:
de desejo pelo outro, que o espectador (1) valorizar um cenário específico, animal,
necessita. objeto inanimado ou parte de uma pes-
A confiança ou melhor a desconfiança/ soa mais do que a felicidade ou aprovação
descrença no desejo/amor do outro é con- da outra pessoa; (2) compulsão; (3) prazer
sequentemente contradita e revertida. sexual e prazer na descarga de agressão; (4)
No cerne do mundo interno do usuário vergonha e grandiosidade concomitantes; e
de pornografia, encontram-se comumente (5) coerção disfarçada de amor. É possível
fantasias de ação e admiração/reconheci- atribuir quaisquer desses atributos a desejos
mento (o desejo do outro), mas também e proibições específicos tal como se podem
atribuir sintomas neuróticos a seus antece-
dentes em desejos e proibições da infân-
cia. Todos eles, combinados em um único

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150 Revista Brasileira de Psicanálise
volume 50, n.2 · 2016

comportamento valorizado então acima do reservatório interno de bondade confortante


sexo com uma pessoa amada, constituem (identificações de objeto bom), uma vez que
uma perversão. (p. 1201) o estado masturbatório dissociado, quase
alucinatório, não satisfaz nossa fome de
confirmações pré-verbais de corpo a corpo
Conclusões interpessoal, apenas a aumenta – como o
efeito da miragem num deserto relacional.
Pornografia e masturbação aproximam e Se o corpo é o veículo de nossas mais
tomam uma distância segura do desejado, profundas e originais emoções, o enfoque
ansiado, mas também temido, por ser no corpo, na escuta e no contato corporal
potencialmente traumático, outro. (comunicações não verbais, corpo a corpo)
Na realidade, apaixonar-se profunda- é um fator transformador fundamental em
mente poderia ser uma experiência de cada sessão analítica.
cunho psicótico de quase abolição dos O corpo, nesse tipo de contato com
limites self/outro; sexualidade/sensualidade o corpo do outro, torna-se novamente o
também podem expor a risco semelhante corpo do bebê em contato com o corpo
por ambas serem extroversões/exposições do cuidador: a fonte primária de confiança,
do núcleo frágil da nossa necessária, mas segurança e alimento narcísico, que pode
ilusória, identidade (Bromberg, 1998). se transformar em paixão erótica.
Momentos de união/fusão, poderíamos Quando a relação com o cuidador se
dizer. perverte no sentido de que a falta de sinto-
Consequentemente, o self em si é um nia com as necessidades básicas do bebê é
paradoxo, já que somos feitos por e de outros. regra e não exceção, o corpo do cuidador
A mãe1 de Dimen (2014) poderia ser torna-se a fonte primária de desconfiança/
reescrita “meu outro”, como o “outro” traição e de traumas relacionais iniciais
necessário que cria (encontra e forma) que permanecem criptografados no corpo
paradoxalmente meu “próprio” self. e encenados [enacted] também na mastur-
Ao usar pornografia, o processo de exte- bação – por meio do uso de roteiros por-
riorização, concretização do objeto dese- nográficos particulares característicos de
jado provoca o esgotamento ainda maior do cada indivíduo. “A partir dessa perspectiva,

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Fantasia e Pornografia: transformações do desejo em tempos atuais 151
Francesco Castellet y Ballarà

a sexualidade pode ser mais compreendida após anos, por algo que floresce a partir do
como reflexo da história inicial de apego do paciente, o analista precisa enfocar seu pró-
que simplesmente um conjunto de pulsões prio corpo que ecoa ao corpo do paciente.
instintivas” (Levy, 2008, p. 264). Feminilidade ou masculinidade (Desejo­-
Paradoxalmente, o setting analítico, com -Eros) brotam muitas vezes de formas sutis,
suas limitações reais de contato corporal, mas os corpos notam imediatamente e pre-
mas também com sua alta frequência de cisamos escutá-los para poder dar-lhes as
sessões e intimidade emocional (tal como boas-vindas e apoiar seu desenvolvimento
devanear juntos durante as sessões), é um em direção ao mundo dos outros por meio
amplificador poderoso de emoções expres- da linguagem falada, como sua própria lín-
sas no corpo. gua encarnada, ainda que falada.
Portanto, é crucial não só o que dize- As relações mais íntimas e transformado-
mos, mas como dizemos, com que emo- ras envolvem partilhar emoções iniciais da
ções corporais/encarnadas (Celenza, 2014). vida do tipo de apego bebê-cuidador (ter-
Refiro-me, por exemplo, aos silêncios nura, nostalgia etc.), que realiza o paradoxo
ruidosos, às vezes ensurdecedores, provo- do surgimento do corpo-mente de alguém
cados por fantasmas mudos ou ressonân- unido com outra mente encarnada. Para
cias internas em ambos os participantes do a sexualidade desabrochar totalmente,
encontro analítico. necessita sensualidade, como a flor neces-
Uma troca de olhar ao entrar e sair sita das suas raízes no solo.
da consulta, gestos que se assemelham a Um lema africano diz: É mais íntimo
dança ao entrar ou sair, visões, cheiros… dormir junto com uma mulher do que
tudo que perpassa os corpos, corpo a corpo, fazer amor com ela, pois, no primeiro caso,
pode aquecer ou esfriar a sessão. Basica- seus sonhos também serão fundidos.
mente, a transferência ali está, acima ou
abaixo das comunicações verbais e do já
conhecido.
Quando, na intimidade da relação ana- Nota
lítica construída a dois, o analista fica 1 NT: jogo de palavras difícil de traduzir – Dimen’s “(m)
sexualmente excitado, pela primeira vez, other” poderia ser reescrita “my other”.

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152 Revista Brasileira de Psicanálise
volume 50, n.2 · 2016

Fantasía y pornografía: transformaciones del deseo Phantasy and pornography: transformations of


en tiempos actuales desire in the present times

El autor abordará el fenómeno actual del sexo virtual The author will address the present day
que, cada vez más, forma parte de nuestra sexualidad, phenomena of virtual sex that is increasingly
en todas las edades, influyendo, moldeando y siendo part of our sexuality at all ages, influencing and
moldeado por nuestras fantasías sexuales. Ser capaz shaping and being shaped by our sexual fantasies.
de crear una relación analítica a dos en la que este Being able to co-create an analytic relation
tipo de estado mental autoerótico, con frecuencia where such an autoerotic often dissociated
disociado, pudiera ser compartido y expresado con mental state could be shared and worded
palabras sería crucial para personalidades inhibidas, could be crucial for inhibited, retired, autistic
retraídas y autísticas, pero es importante también personalities but it’s also important as a tool
como instrumento para investigar las relaciones to explore internal object relations of our
internas de objeto de nuestros pacientes en general. patients in general.
Palabras clave: pornografía; masturbación; fantasía; Keywords: pornography; masturbation; fantasy;
deseo; neurociencia afectiva; teoría relacional desire; affective neuroscience; relational theory
e intersubjetivismo; trauma relacional precoz y and intersubjectivism; early relational trauma and
disociación. dissociation.

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Tradução Tania Mara Zalcberg [Recebido em 28.04.2016, aceito em 12.05.2016]

Francesco Castellet y Ballarà


Via delle Fornaci, 48
00165 Roma, Itália
francesco.castelletyballara@fastwebnet.it

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