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OFICINA DE

TRADUÇÃO, VERSÃO
E INTERPRETAÇÃO
EM INGLÊS

Elisa Lima Abrantes


UNIDADE 1
Traduzir e interpretar:
conceitos e diferenças
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer as diferenças entre traduzir e interpretar.


 Identificar conceitos básicos de cada uma das áreas.
 Analisar diferenças entre a prática tradutória e a interpretação.

Introdução
Tradução e interpretação são atividades muito requisitadas na contem-
poraneidade, principalmente por conta da globalização e da necessidade
de comunicação entre povos de línguas e culturas diferentes. Essas ativi-
dades têm características diferentes entre si e, do mesmo modo, exigem
habilidades e rotinas distintas por parte de seus profissionais.
Neste capítulo, você vai estudar essas diferenças entre a tradução e
a interpretação. Embora ambas as atividades se refiram à transposição
de informações de uma determinada língua, chamada língua-fonte, para
outra, chamada língua-alvo, a forma pela qual essa transposição se dá é
diferente. Na tradução, usa-se a forma escrita e transforma-se um texto
escrito em determinada língua-fonte em outro texto na língua-alvo; na
interpretação, expressa-se oralmente na língua-alvo uma fala originada
na língua-fonte.
Como os meios são diferentes, bem como as condições e circunstân-
cias de trabalho de cada área, os conceitos básicos de cada uma também
serão tema deste capítulo. Finalmente, você poderá analisar as diferenças
dessas duas atividades, a prática tradutória e a interpretação.
2 Traduzir e interpretar: conceitos e diferenças

Diferenças entre traduzir e interpretar


Tanto o tradutor quanto o intérprete precisam dominar muito bem as línguas
envolvidas no processo de transposição da língua-fonte para a língua-alvo,
mas não é suficiente apenas ser bilíngue. Ambas as atividades exigem outros
conhecimentos, como os aspectos culturais pertinentes às duas línguas e a
terminologia adequada dos textos e falas que precisam ser traduzidos ou in-
terpretados. É o que chamamos competência tradutória, que envolve aspectos
extralinguísticos, tais como domínios cognitivo, biológico e sociointerativo.
Segundo a pesquisadora espanhola Amparo Hurtado Albir, do grupo de estudos
PACTE (Processo de Aquisição da Competência Tradutória e Avaliação) da
Universidade Autônoma de Barcelona,

[...] considera-se que a competência tradutória é um conhecimento especiali-


zado que consiste em um sistema subjacente de conhecimentos declarativos
(saber que) e, em sua maior proporção, operacionais (saber como), necessários
para saber traduzir, que está composto de cinco subcompetências (bilíngue,
extralinguística, conhecimentos sobre tradução, instrumental e estratégica) e
de componentes psicofisiológicos (HURTADO ALBIR, 2005, p. 28).

Essas subcompetências se referem: à questão linguística, isto é, ao co-


nhecimento lexical, gramatical, textual e a como evitar a transferência de
uma língua pra outra, ou seja, que uma língua não influencie a outra durante
a tradução; ao conhecimento de mundo e enciclopédico, conhecimento dos
processos e métodos tradutórios, do mercado de trabalho; e ao conhecimento
sobre os meios necessários para a produção da tradução e, com papel deter-
minante, o planejamento estratégico das traduções. Mas será que esse modelo
de competência tradutória também poderia ser aplicado à interpretação ou
haveria outras subcompetências a serem incluídas em um possível modelo para
interpretação? Quais seriam as competências requeridas de um intérprete?
Para que possa interpretar, o intérprete precisa entender a mensagem
na língua-fonte, ou seja, processá-la e reformulá-la na língua-alvo. E como
funciona essa capacidade de processamento? O pesquisador e tradutor francês
Daniel Gile, nascido em 1948, desenvolveu, na década de 1980, o Modelo dos
Esforços, que contribuiu para o melhor entendimento da função do intérprete
e das competências necessárias ao exercício dessa atividade. Gile percebeu
que mesmo intérpretes experientes cometiam erros básicos, típicos de novatos.
Utilizando estudos da psicologia cognitiva e experiências de laboratório, o
pesquisador chegou à conclusão de que a interpretação é uma atividade alta-
mente complexa, porque exige processos cognitivos não automatizados, que
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requerem atenção extrema e capacidade de processamento de vários esforços


concomitantes, como os de audição e análise, de produção de discurso oral e
memória de curto prazo (GILE, 1995, p.162).
Além disso, o pesquisador postula que a energia mental empregada na
interpretação existe em quantidade limitada e que, às vezes, determinado
trabalho requer mais do que a energia disponível, o que resulta em deteriora-
ções do desempenho. Portanto, para um bom desempenho durante a atividade
interpretativa, os esforços exigidos precisam estar aquém da capacidade de
processamento total disponível. Assim, para que o intérprete consiga realizar
a interpretação com qualidade, ele precisa equilibrar sua energia e coordenar
o esforço necessário para cada tarefa, não privilegiando uma em detrimento
de outra.
Uma diferença básica entre interpretação e tradução é que a primeira é
feita face a face ou em tempo real, enquanto a segunda é editada, analisada e
revisada ao longo de um período. O tradutor pode fazer o uso de ferramentas
de tradução, como glossários especializados e memórias de tradução, além
de consultar fóruns de tradução ou até mesmo colegas mais experientes; já o
intérprete não dispõe de tempo para isso. Seu domínio do idioma precisa ser
proficiente e possuir vasto conhecimento cultural das línguas que interpreta,
além de raciocínio muito rápido, já que algumas palavras de um idioma não
existem em outro. Muitas vezes, uma gíria ou expressão de uma língua é de
difícil tradução para outra, e o intérprete precisa substituir instantaneamente
a palavra por outra correspondente sem alterar o sentido da comunicação.
Entre as práticas de interpretação e tradução uma diferença fundamental
reside no fator tempo: enquanto o intérprete recebe o texto de partida na
velocidade que o orador determina, o tradutor tem a possibilidade de fazer
intervalos e de voltar ao texto em outro momento se precisar rever seu enten-
dimento sobre algum trecho.
A tradução envolve o texto na íntegra; nesse processo, busca-se a precisão
e fidelidade ao texto original. Já a interpretação, por depender da fala de outra
pessoa e do ritmo dela, pressupõe omissão de certas partes devido ao tempo;
o intérprete julga a relevância do que é dito pelo orador e, para isso, tem a seu
dispor elementos extralinguísticos, como o público e a pessoa que fala, que
ajudam na construção de sentido do discurso.
Além disso, outra diferença fundamental no trabalho desses profissionais
é o ritmo que caracteriza sua prática. A interpretação tem uma característica
específica, que é o fato de ser realizada em tempo real, de modo que é impres-
cindível rapidez no processamento das línguas envolvidas (a fonte e a alvo).
Dificilmente o intérprete tem como expressar algo “perdido” do discurso
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original, embora, em alguns casos, haja a possibilidade de emendar algum


sentido expresso de modo equivocado ou confuso instantes depois. Contudo,
é importante frisar que essas correções só devem ser aplicadas em situações
totalmente necessárias, porque podem tanto distrair e atrapalhar o público
quanto prejudicar o processamento mental do intérprete. Os tradutores, por
outro lado, embora possam lidar com trabalhos em que os clientes exijam
urgência e prazos apertados, têm a oportunidade de revisar suas traduções
antes de entregar o produto final. Em alguns casos, podem passar o texto
traduzido para que outro leitor o leia e aponte correções, algo impossível na
prática do intérprete.
Outra diferença em relação às atividades de traduzir e de interpretar é que o
intérprete trabalha no mundo da comunicação oral, em conferências, congressos,
seminários, treinamentos, reuniões de negócios, em qualquer lugar onde haja
pessoas que precisem se comunicar sem que um entenda o idioma do outro. O
tradutor, por sua vez, normalmente trabalha sozinho na frente do seu computador,
em ambiente silencioso, traduzindo um conteúdo escrito. Essas diferenças devem
ser levadas em consideração quando o profissional faz a escolha por uma ou outra
carreira, já que o estilo de vida daqueles que desempenham essas atividades é
muito diferente e, para que se trabalhe de forma produtiva, é necessário estar
bem adaptado às particularidades de cada ofício.

Para amenizar o problema da grande energia dispendida para a interpretação, no


caso da interpretação simultânea, que exige grande esforço do intérprete, e evitar a
saturação, que resulta em queda da qualidade, o trabalho é realizado em duplas, com
a alternância dos intérpretes a cada 20 ou 30 minutos. Também por isso, a jornada de
trabalho desses profissionais é de 6 horas, podendo chegar a 8 em casos excepcionais.

Conceitos básicos de tradução e de


interpretação
Existem alguns conceitos básicos para a tradução e a interpretação e outros
específicos de cada área. Vamos começar falando de tipos de tradução. Até
agora, quando falamos em tradução, pensamos na transposição entre diferentes
idiomas, a tradução interlingual, isto é, tradução entre línguas, Mas há outros
tipos de tradução: dentro da mesma língua, a chamada tradução intralingual,
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como, por exemplo, adaptações de obras literárias para o público infantil,


paráfrases, ou seja, a substituição de signos (unidade de linguagem que pode
ser verbal ou não verbal) verbais por outros da mesma língua. Temos, ainda,
a tradução entre sistemas diferenciados de signos, a tradução intersemiótica,
como, por exemplo, a passagem de um poema (sistema verbal) para uma pintura
(não verbal) ou a adaptação de um romance para o cinema.
Em relação à tradução interlingual, considera-se tradução, propriamente
dita, aquela realizada na direção da língua estrangeira para a língua materna, e
versão aquela realizada na direção da língua materna para a língua estrangeira.
A tradução pode, ainda, ser humana ou automática. A humana é capaz
de analisar, interpretar e construir o texto traduzido de forma coesa, coerente,
correta em nível semântico e gramatical e estilisticamente fiel ao original,
resultando em um texto de chegada fluído, natural, como se tivesse sido escrito
no idioma para o qual está sendo vertido. Já a tradução automática, ou seja,
efetuada por meio de programas de computador, não é capaz de obter tais
resultados, pois não basta combinar itens lexicais previamente associados a
um dicionário bilíngue, mas também escolher entre os possíveis significados
para o mesmo item. Quanto mais subjetivo é um texto, e quanto mais figuras
de linguagem e palavras com sentido conotativo estiverem presentes, menos
bem-sucedida será a tradução automática. Algumas vezes, o tradutor recorre
à tradução automática para agilizar o trabalho, principalmente em textos
técnicos, e depois revisa o texto traduzido, alterando o que for necessário.
Em relação à interpretação, há três tipos: consecutiva, simultânea e inter-
mitente. Na consecutiva, o intérprete fala na língua-alvo após o palestrante
ter concluído um trecho de sua fala, com a ajuda das notas tomadas enquanto
apenas ouvia e esperava o momento de falar; na simultânea, a fala do intérprete
é quase concomitante à do orador, com mínima diferença de tempo entre uma
e outra relativa ao processamento das línguas – essa pequena diferença de
tempo é chamada décalage, termo emprestado do francês; na intermitente,
há uma intercalação entre as falas do orador e do intérprete – o primeiro faz
uma pausa para que o segundo as interprete.
Na interpretação consecutiva, o intérprete faz anotações para ajudar que a
reorganização e a transmissão da mensagem sejam as mais fiéis possíveis ao
original. As anotações auxiliam muito na qualidade do trabalho do intérprete,
pois são feitas conforme a fala do orador; embora a memória de longo prazo
seja bastante exigida nessa modalidade, o intérprete não precisa depender
apenas dela para lembrar as informações e a sequência em que elas foram
ditas. Nessa modalidade, o intérprete faz o seu trabalho diante do público, e
não na cabine, como na interpretação simultânea.
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Na interpretação simultânea, o intérprete realiza seu trabalho em uma


cabine de vidro isolada acusticamente, que se localiza, na maioria das vezes,
atrás da plateia. O intérprete vê o orador e ouve o seu discurso por meio de
fones de ouvido; processa e transmite o discurso na língua-alvo por meio de
um microfone ligado a um sistema de som, que leva a sua fala aos ouvintes por
meio dos fones. Não há tempo para a tomada de notas, apenas números, nomes
ou algum termo, e a memória de curto prazo é requerida nessa modalidade. Há
uma forma de interpretação simultânea sem cabine, chamada de interpretação
cochichada, para poucas pessoas, já que o intérprete sussurra a fala do orador.
O termo chuchotage, também empréstimo do francês, é usado por intérpretes
de todo o mundo para se referir a esse tipo de tradução simultânea.
Na interpretação intermitente, normalmente utilizada em reuniões pequenas
ou conversas informais, o orador fala algumas frases e faz uma pausa para que
o intérprete as traduza. Chama-se também ping-pong, quando o intérprete troca
de idiomas constantemente, permitindo a comunicação entre pessoas de línguas
diferentes em uma situação em que precisem dialogar. De um modo geral, é
menos formal, marcada pela espontaneidade. Nesse tipo de interpretação, o
foco é a tradução das palavras que são ditas, não se levando em conta outros
fatores importantes no processo interpretativo, como a transmissão das ideias,
o modo de falar e adaptações culturais, que fazem com que a fala recebida na
língua-alvo pareça ter sido produzida diretamente naquela língua. Também usa-se
essa modalidade na realização de visitas in loco, quando o intérprete acompanha
o cliente ou uma pequena delegação a diversos tipos de eventos, como uma
feira, jantares de negócios, entrevistas e reuniões. Esse tipo de interpretação é
considerado por muitas pessoas da área como interpretação consecutiva.
Tanto na tradução quanto na interpretação, existe uma mensagem original
que, para ser compreendida pelo receptor, precisa ser transmitida segundo
critérios de equivalência. Isso quer dizer que o profissional de tradução ou
interpretação não irá trabalhar com a ideia de ser ‘idêntico’, a ‘mesma coisa’,
mas com o conceito de equivalência. A mensagem de um livro, por exemplo,
é a mesma, ainda que seja contada de forma diferente para crianças, jovens
e adultos, com a intenção de fazer com que cada grupo de receptores possa
compreendê-la da melhor forma possível. O mesmo se dá com uma conferência,
em que o intérprete capta o sentido do que está sendo falado e transmite na
língua-alvo, não se detendo em usar as mesmas palavras que o orador utilizou.
Nessa perspectiva de teóricos da tradução, a equivalência está no plano do
discurso, refere-se à significação e é fruto da interação entre o tradutor ou
intérprete e o texto escrito ou oral, em que se busca transmitir o pensamento
original. Dessa maneira, a operação tradutória é considerada um processo
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dinâmico de produção, e não um simples processo de substituição de estruturas


ou de unidades preexistentes em uma língua por aquelas de outra língua.

 Língua-fonte ou língua de partida: língua original.


 Língua-alvo ou língua de chegada: língua para a qual se traduz ou interpreta.
 Texto-fonte ou texto de partida: texto original (escrito ou oral).
 Texto-alvo ou texto de chegada: texto (escrito ou oral) para o qual se traduz ou interpreta.

Diferenças entre a prática tradutória e a


interpretação
Tanto o tradutor quanto o intérprete precisam ter domínio dos idiomas e do
assunto a ser transposto para a outra língua, embora as condições de trabalho
de um e de outro profissional sejam diferentes. O tradutor pode interromper seu
trabalho e consultar dicionários, enciclopédias, sites da internet e uma infinidade
de obras de referência. Pode, ainda, consultar colegas tradutores e especialistas
da área de conhecimento com a qual esteja trabalhando. Além disso, produz o
texto de chegada em seu próprio ritmo, podendo – e devendo — revisá-lo diversas
vezes, até encontrar a melhor forma de expressão ou ainda fazer mudanças se,
mais adiante, descobrir um termo mais preciso para determinado conceito.
Tradutores usam ferramentas de auxílio à tradução em seu trabalho. Além
de dicionários bilíngues e glossários, as memórias de tradução e os corpora
fazem parte de seu dia a dia. O que são essas ferramentas? Bem, memória
de tradução é o armazenamento de traduções passadas em um programa. Ou
seja, no início da utilização de um programa desse tipo, é preciso alimentar a
sua base de dados. O tradutor ou as agências de tradução mantêm arquivos de
traduções anteriores registradas no sistema. A ferramenta armazena todas as
suas traduções, segmento por segmento, junto ao original. Em novas traduções,
o arquivo é consultado e, se a frase traduzida estiver lá ou se for parecida com
a que está lá, a tradução é sugerida. O tradutor, então, revisa e complementa,
se necessário, e não precisa traduzir de novo. Em relação aos corpora, trata-se
de bases de dados que abrangem coletâneas de textos autênticos e oferecem
a possibilidade de analisar dados empíricos, já que mostram a frequência de
ocorrência de cada termo. Auxiliam na escolha lexical para que se obtenha
uma tradução mais natural, mais próxima ao público que terá acesso a ela.
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O intérprete, por outro lado, deve ter adquirido todo o conhecimento ne-
cessário e o vocabulário específico antes do ato tradutório em si. Durante o
processo de interpretação simultânea, fechado em sua cabine e tendo de tomar
decisões em questão de três a cinco segundos, não há tempo para consulta a
quaisquer obras de referência, especialistas ou sites de busca na internet. No
máximo, poderá ter a ajuda do companheiro de cabine em alguma expressão
recorrente no discurso que não lhe tenha vindo à mente de imediato. É claro que
o intérprete com boa formação sabe absorver conhecimento da área no decorrer
da própria palestra ou do evento em que esteja atuando, mas as bases sobre as
quais tal conhecimento será construído têm de ser estabelecidas antes, em sua
preparação para o trabalho em questão. Seu conhecimento enciclopédico tem de
ser grande, pois é impossível prever quais exemplos ou histórias serão utilizados
por um palestrante para ilustrar um determinado assunto. Deve, ainda, transmitir,
além das ideias do orador, o mesmo registro de fala, com o mesmo nível de
entusiasmo, seja um chefe de Estado ou um mestre zen budista, por exemplo.
No processo de tradução escrita, o texto-fonte está à disposição do tradutor
para ser consultado tantas vezes quantas forem necessárias e pode ser lido in-
teiramente antes de se iniciar a tradução. Os parágrafos podem ser relidos, e sua
tradução, confirmada ou alterada. A forma de expressão poderá ser trabalhada até
se chegar à melhor escolha possível de palavras ou frases. O trabalho do tradutor
busca a precisão, a correção e a elegância, já que tem caráter permanente; além
disso, muitas vezes, esse profissional traduz documentos legais, contratos, acor-
dos comerciais, de forma que um equívoco pode trazer consequências sérias para
o cliente. No caso do intérprete, embora erros possam comprometer o resultado
de seu trabalho, o objetivo é a comunicação imediata de uma mensagem; sua
fala não permanece no tempo. O importante é a compreensão dos ouvintes, e
não a forma ou as palavras usadas para que o sentido fosse comunicado.

Neste link, confira um intérprete falando das diferenças


entre interpretar e traduzir a partir de exemplos.

https://goo.gl/cg8RCK
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Em relação à diferença entre traduzir e interpretar, podemos pensar em uma empresa


estrangeira que se estabeleça no Brasil. Tradutores serão contratados para traduzir
manuais de treinamento e materiais de divulgação, por exemplo. Já em eventos
internos, em que a empresa apresente seus palestrantes internacionais para motivar
os funcionários, intérpretes serão contratados para que o público possa compreender
as falas em sua totalidade.

1. Como você viu, a transposição de escrita; interpretação é essa


um texto de um idioma para outro passagem na forma falada.
recebe os nomes de tradução e de 2. Não é suficiente apenas conhecer
interpretação. Qual é a diferença bem as duas línguas para que se
entre tradução e interpretação? tenha a competência necessária
a) Tradução é a passagem de um para se traduzir. Qual é o significado
texto original de uma língua de competência tradutória?
para outra; interpretação a) Conjunto de conhecimentos
é a passagem de um texto integrados compostos por
original para várias línguas. cinco subcompetências:
b) Tradução é a passagem de bilíngue, extralinguística,
um texto original de uma conhecimentos sobre tradução,
língua para outra na forma instrumental e estratégica.
escrita; interpretação é essa b) Experiência do tradutor em lidar
passagem na forma falada. com textos de diversas áreas
c) Tradução é a passagem de conhecimento, fazendo o
de um texto falado para a melhor uso das ferramentas
forma escrita; interpretação de auxílio à tradução e de
é a passagem de um texto seu conhecimento de mundo
escrito para a forma falada. para aprimorar seu trabalho.
d) Tradução é a simplificação c) Característica de pessoas com
de um texto complexo na talento natural e sensibilidade
forma escrita; interpretação é para a tradução. Esse potencial
a simplificação de um texto deve ser explorado com
complexo na forma falada. estudos de tradução.
e) Tradução é a passagem de d) Esforço dispendido pelo
um texto científico para tradutor para produzir textos
o público leigo na forma
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de qualidade a partir da leitura b) Porque, enquanto um


exaustiva de glossários e corpora. intérprete fala, o outro toma
e) Uma das competências exigidas notas para registros futuros.
do tradutor e do intérprete e c) Porque a alternância de
que consiste na habilidade de vozes aumenta a atenção e
memorizar uma mensagem e o interesse dos ouvintes.
transmiti-la imediatamente. d) Para trabalharem juntos nas
3. Você percebeu que o texto dificuldades de terminologia.
traduzido não precisa ser idêntico, e) Para que o cansaço
mas equivalente ao texto mental não interfira na
original. O que é equivalência, qualidade da tradução.
quando se fala de tradução? 5. Existem diversos tipos de tradução.
a) A transposição de um texto- O que caracteriza a tradução
-fonte palavra por palavra interlingual e a intralingual?
para outro idioma. a) A interlingual se dá entre
b) A criação de um novo texto diferentes meios (livro e cinema,
na língua-alvo, ampliando os por exemplo); a intralingual,
sentidos do texto original. entre linguagem verbal.
c) A transmissão do pensamento b) A interlingual se dá entre
expressado em um texto-fonte, duas línguas; a intralingual,
com a utilização, ou não, das dentro da mesma língua.
mesmas palavras do original. c) A interlingual é produzida
d) O mapeamento de um sistema manualmente; a intralingual, por
de escrita em outro, com programas de computador.
a transcrição de ortografia d) A interlingual ocorre da
e alfabeto originais. língua estrangeira para a
e) A representação por escrito língua materna; a intralingual,
de sons de uma língua. da língua materna para
4. A interpretação tem características a língua estrangeira.
diferentes da tradução em e) A interlingual ocorre entre
relação à rotina de trabalho. Por duas línguas estrangeiras; a
que os intérpretes simultâneos intralingual, da língua materna
sempre trabalham em dupla? para a língua estrangeira.
a) Porque, caso um incidente
ocorra com um intérprete,
o outro pode substitui-lo.
Traduzir e interpretar: conceitos e diferenças 11

GILE, D. Basic concepts and models for interpreter and translator training. Amsterdam:
John Benjamins, 2009.
HURTADO ALBIR, A. A aquisição da competência tradutória: aspectos teóricos e didáticos.
In: PAGANO, A.; MAGALHÃES, C.; ALVES, F. (Org.). Competência em tradução: cognição e
discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2005. p.19-57.

Leituras recomendadas
ALVES, F.; MAGALHÃES, C.; PAGANO, A. (Ed.) Traduzir com autonomia: estratégias para
o tradutor em formação. São Paulo: Contexto, 2000.
ARROJO, R. Oficina de tradução: a teoria na prática. São Paulo: Ática, 2000.
MRHAMPSHIRESTEPHEN. Translation vs. Interpreting. 2010. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=dPF-iNmbxC8>. Acesso em: 03 ago. 2018.
PAGURA, R. J. Tradução e Interpretação. In: AMORIM, L. M.; RODRIGUES, C. C.; STUPIELLO,
E. N. A, (Org.). Tradução e perspectivas teóricas e práticas. São Paulo: UNESP/Cultura
Acadêmica, 2015. p. 183-207. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/6vkk8/pdf/
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TAGNIN, S. Os Corpora: instrumentos de auto-ajuda para o tradutor. Cadernos de Tra-
dução, v. 1, n. 9, p. 191-219, jan. 2002. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.
php/traducao/article/view/5986/5690>. Acesso em: 03 ago. 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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